os kyriakós: apolo - cap. i e ii

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Que destino as Moiras tramaram para você? Apolo nunca imaginou conhecer sua futura esposa, Laura, num dia sufocante de trabalho. Muito menos imaginou o que o destino lhe traria após unir sua vida a dela. A descoberta de um antigo diagnóstico desestabiliza seu conceito de ordem, principalmente quando traz à tona o gosto amargo da traição. Em quem confiar? Sombras se movem. Há aqueles que não querem essa união. O egoísmo e a obsessão se unem, almejando apenas que os seus desejos se cumpram. Mesmo que isso signifique enfrentar a fúria das Deusas do destino. Uma história sobre amor, medo, mentira e traição. Mas também sobre esperança e redenção. Para comprar o livro acesse: http://tinyurl.com/65gokbe

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Page 1: Os Kyriakós: Apolo - Cap. I e II
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Os Kyriakós

Livro 1 ― Apolo

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© 2010 by Anne Marie Scoss

Capa: Anne Marie Scoss

Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, sem a autorização por escrito da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança

com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

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Marie Scoss

Os Kyriakós

Livro 1 ― Apolo

1ª Edição (2010)

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Para os @migos e amigos; acreditaram mais em mim do que eu mesma. Esse livro é para vocês!

Agradeço também a minha família, por aturar minha

compulsão em escrever, a querida Bianca, pelo trabalho de revisão e as sugestões, às “vozes”, pela inspiração, e aos

grandes sucessos musicais (nacionais ou internacionais); trilha sonora perfeita

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Enquanto dormimos a dor que não se dissimula

caia gota a gota sobre nosso coração até que, em meio ao nosso desespero

e contra nossa vontade apenas pela graça divina

vem a sabedoria

- Ésquilo, poeta grego

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Capítulo Um aura Kyriakós olhou as explicações contidas na bula do teste de gravidez vendido nas farmácias. Leu

atentamente as informações e analisou o resultado do teste.

Positivo. Estava grávida! Há cerca de dois meses ficara muito doente, devido

a uma virose. Seu médico prescrevera um tratamento a base de antibióticos, alertando para o fato de que alguns deles poderiam comprometer o efeito da pílula anticoncepcional, já ciente de que este era seu método contraceptivo. Recomendara inclusive que, caso não desejasse ainda iniciar uma família, adotasse outras opções contraceptivas.

Apesar de sempre desejar uma família grande, nunca chegara a conversar com Apolo, seu marido, sobre o assunto. E, por fim, juntando esse oculto desejo ao fato

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de estar doente demais para pensar em trazer à baila esse tema, acabara esquecendo-o completamente.

Após o período crítico da doença, no qual seu esposo esteve mais do que carinhoso e atencioso ― chegando até a cancelar várias viagens agendadas, puderam retornar lentamente o convívio amoroso. Como ainda estava na última etapa do tratamento ... voilá!

Bebê a bordo! Mas lembrar do marido e nas viagens de negócio

que ele realizava também trouxe um laivo de tristeza em seus olhos castanhos. As ausências dele estavam cada vez mais freqüentes. Mesmo depois de um ano casados, após um início tão idílico, nunca imaginou sentir tamanha solidão.

Tentava justificá-lo, pensando que, aos 35 anos, Apolo Kyriakós conduzia com pulso firme os negócios do Grupo Kyriakós em vários países. Pertenciam ao grupo, desde indústrias têxteis, canais de TV e rádio até bancos, entre outros negócios que Laura nem imaginava. E quando precisou assumir todos os negócios da família, devido ao falecimento inesperado do pai, Apolo contava com 25 anos e era recém formado em Administração.

Nas raríssimas vezes em que seu marido tocou no assunto, deixou entrever que fora extremamente difícil para ele enfrentar a perda do pai naquela idade. Entretanto, como precisou também assumir a responsabilidade pela mãe e seus irmãos gêmeos, que na época estavam com 16 anos, bem como dos negócios, tivera que relegar o sofrimento a um canto obscuro, pois

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somente assim poderia sobreviver em meio a tantas mudanças e obrigações.

Laura conheceu Apolo quando sua turma da faculdade de Letras visitava a Editora Minerva, outra empresa pertencente ao Grupo Kyriakós. Seu curso estava nas fases finais, faltando apenas dois semestres e naquele mês a visita fazia parte da grade curricular.

Qual não foi a surpresa da professora e dos acadêmicos ao serem recebidos pelo próprio magnata, que por encontrar-se na empresa decidira conduzir pessoalmente a visita.

Apolo havia sido maravilhoso. Encantou a todos, mostrando o processo para editar e publicar os livros e revistas sob o encargo da Editora Minerva... e não havia tirado os olhos de cima de Laura durante a visita inteira, o que a deixou muito constrangida.

Apesar de sua compleição grande e robusta, Apolo movia-se com agilidade e elegância. Com seus 1,90 de altura, era extremamente forte. Mas tarde, quando se conheceram melhor, descobrira que ele mantinha sua musculatura invejável nadando diariamente na piscina de sua mansão, no Brasil. Além disso, seus cabelos negros e olhos azuis era um complemento maravilhoso para o conjunto harmonioso de sua face belamente cinzelada.

Laura era uma jovem de 24 anos, e considerava-se simples e sem grandes atrativos. De tez clara, olhos castanhos e longos cabelos castanho- claros, media 1,60 de altura e vivia lutando contra a balança.

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Seu guarda roupa consistia em calças jeans e camisetas de algodão coloridas. Afinal, além de ser um traje básico e relativamente barato, ninguém reparava que ia as aulas utilizando a mesma calça durante a semana toda!

Órfã de pai e mãe, fora criada por uma tia viúva e sem filhos, irmã de sua mãe, que não ficara nada feliz em assumir os cuidados por uma garotinha de 5 anos. Na frente de todos, era a mãe ideal, mas, na intimidade da casa simples que moravam, tratava Laura com desprezo e indiferença.

Desse modo, somente anos depois, sem o auxilio ou apoio da tia, Laura começara a faculdade devido as dificuldades que tinha para pagar as mensalidades. Em função disso precisara trancar o curso várias vezes para poder trabalhar também no horário do curso e juntar o valor para concluir mais alguns meses dele. Durante o dia trabalhava em uma pequena livraria e a noite, como babá.

Voltando ao presente, Laura jogou no lixo do banheiro os materiais descartáveis do teste de gravidez e rapidamente terminou de arrumar-se. Ia oferecer um jantar para seus cunhados Ártemis e Perseu e precisava verificar o andamento dos preparativos.

Tinha um carinho muito especial pelos cunhados, que retribuíam tratando-a como a uma irmã. Por esse motivo queria que o jantar fosse especial, pois seria uma singela homenagem a Ártemis, que estava retornando de um curso de especialização que realizara por dois meses em Londres, e a Perseu, que fora até a Grécia vistoriar as

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plantações de oliveiras da família. Além disso, seria, também, uma ótima oportunidade para participar a todos à novidade! ― pensou ansiosa pelo momento.

Enquanto descia a escadaria, anotou mentalmente um lembrete para mais tarde conversar em particular com Ártemis. Sendo médica, poderia lhe orientar quais cuidados precisaria tomar de agora em diante, para que sua gravidez fosse a mais saudável possível.

Quando chegou ao térreo, tomou o corredor e foi em direção ao salão principal da mansão, onde sabia que os convidados seriam conduzidos quando chegassem. Caminhando calmamente pelo salão, verificou que estava tudo organizado, bem como a sala de jantar. Arina, a governanta, como sempre fora a eficiência e discrição em pessoa. Era muito feliz por contar com seu apoio.

Trocando um dos vasos de flores de lugar, arranjando-o em uma posição melhor, Laura pensou, com certo peso na consciência, que estava feliz com a ausência da sogra, Atena. Ela estava na Grécia, em visita aos parentes.

Atena Kyriakós nunca aprovou a escolha de Laura como companheira de seu filho mais velho e, em cada oportunidade que teve, seja entre o seio da família, seja entre amigos próximos, fez questão de deixar isso bem claro. O resultado era sempre um ambiente pesado e hostil, quando estava presente.

Isto entristecia muito Laura. Antes de conhecê-la, cultivara o sonho secreto de que ela seria a mãe que não tivera. Fizera vários esforços para agradar Atena,

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buscando desenvolver uma relação afável e cheia de cumplicidade. Entretanto fora sistemática e dolorosamente rechaçada em cada tentativa, até que entendeu que só faria a sogra feliz no dia em Apolo se divorciasse dela.

E isso Laura não permitiria. Outro aspecto que a deixava sem chão, era o fato de

Apolo não apoiá-la nesses momentos de tensão e confronto. Ele alegava que não podia tomar partido, pois era apenas ciúme e insegurança por parte de ambas. Ora, não se tratava disso apenas, mas também da falta de respeito e de consideração da sogra para com ela! E essa atitude de Apolo, ou falta dela, machucava Laura.

Machucava muito. Respirando fundo, tentou afastar essas lembranças

desagradáveis de sua mente. Afinal hoje era um dia especial e havia muito a se comemorar!

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Capítulo Dois jantar fora um sucesso! Ártemis e Perseu se alfinetando o tempo inteiro ―

como de costume por sinal, fizeram da noite uma gostosa confraternização.

No final, após apreciarem a sobremesa de ambrosia, Apolo convidou-os para uma taça de porto na biblioteca, que foi aceito num clima de festividade.

A biblioteca era um ambiente muito agradável. Geralmente, nas noites em que não tinham compromisso social ou Apolo não estava viajando, Laura e o marido se reuniam lá para conversarem um pouco ou apenas apreciar a companhia um do outro por alguns momentos. Claro que isso acontecia com mais freqüência no inicio do casamento, pois atualmente Apolo parecia evitar a companhia da esposa.

Quando chegaram à biblioteca, Cirilo, o mordomo, já servia o saboroso e encorpado líquido em pequenas taças para todos.

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― Cirilo, por favor, você poderia me servir um suco de maçã? Vou dispensar o porto. ― pediu Laura, ao mesmo tempo em que todos se acomodavam nas poltronas confortáveis, colocadas em frente a uma lareira de pedra, muito aconchegantes.

― Pois não kyría. ― atendeu o criado com todo o respeito. Em seguida, serviu um copo longo para Laura, contendo o saboroso sumo.

― Por que você não quer uma taça de porto, agápi mou? Você sempre adorou! ― estranhou Apolo.

― Eu sei, querido, mas de agora em diante devo evitar ― falou Laura em tom misterioso ao mesmo tempo em que recebia o suco do mordomo e agradecia.

Os olhos de Perseu e Ártemis brilharam quando disseram juntos:

― O que você está escondendo? ― indagaram, caindo na risada.

Apolo, que não estava entendendo nada, ficou logo preocupado e disse:

― Você está novamente doente? Por que não me falou? ― continuou nervoso ― Eu sabia! Você levantou muito rápido do repouso que o médico recomendou, quando pegou aquela virose forte!

― Acalme-se, Apolo. ― tranqüilizou Laura ― Não é nada relacionado com a virose. E seria impossível ela ter retornado, pois você e Arina fizeram um bom trabalho. Faltou apenas me amarrarem na cama, enquanto convalescia! ― exclamou rindo muito ao se lembrar dos cuidados exagerados do marido.

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Depois de uma pausa, quando tentou fazer um certo suspense, sem muito sucesso, uma vez que o sorriso brincava em seus lábios. Finalmente Laura confessou, animada:

― Eu estou grávida! Apolo, nós vamos ter um bebê! ― falou muito emocionada.

Enquanto Perseu e Ártemis deram vivas de alegria e apressaram-se a cumprimentar o casal pelo momento jubiloso, Apolo permanecia sentado, estático, na poltrona, olhando Laura fixamente.

Tentando compreender a reação que a noticia originou, Laura continuou rapidamente:

― Eu sei que nunca conversamos sobre o assunto. Até imaginei que você não falaria nada enquanto eu não me formasse, mas está etapa já concluí. Estou trabalhando na Editora e, apesar de você não gostar de me ver em um cargo mais simples, estou gostando muito. ― falou ansiosa e continuou toda atrapalhada ― Bom, eu estava tomando pílula anticoncepcional, mas pelo que o médico me avisou, os antibióticos podem ter anulado o efeito dela.

Apolo não dizia nada. Isto estava deixando Laura agoniada, principalmente ao ver a expressão do marido, cuja fisionomia estava transtornada. Ele aparentava não escutar nem enxergar a alegria dos irmãos frente a chegada do primeiro sobrinho.

― Gostaria que vocês me deixassem sozinho com Laura. ― falou Apolo em tom baixo.

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Percebendo que os irmãos não ouviram seu comando devido a algazarra, repetiu a sentença entre dentes, subindo o tom.

O comando silenciou todos. Mesmo não compreendendo a atitude atípica de Apolo, Ártemis e Perseu se afastaram de Laura, preparando-se para deixarem a biblioteca.

Enquanto esperava os irmãos saírem da sala, Apolo se dirigiu silenciosamente à grande janela que ficava no lado oposto de onde estavam acomodados. Ficou lá, de costas para Laura, com o corpo um pouco inclinado, as mãos segurando o parapeito da janela.

A primeira pessoa que saíra da paralisia que acometera a todos, para atender ao pedido do irmão mais velho, fora Ártemis. Ela se aproximou mais de Laura, abraçando-a forte. Considerava Laura muito mais do que uma cunhada. Encontrara nela uma amiga muito querida, uma irmã. E em nome de todos esses sentimentos falou junto ao seu ouvido, tentando animá-la ao mesmo tempo em que procurava tranqüilizar o próprio coração:

― Ele deve estar assustado com a novidade. Logo ele cairá em si e verá a confusão tola que está armando.

― Espero que sim, querida! Mas algo em meu íntimo me diz que esta situação está apenas começando! ― estabeleceu Laura com voz enfraquecida, retribuindo o abraço forte.

Assim que a irmã se afastou, Perseu, que aguardava ao lado sua vez de despedir-se de Laura, abraçou-a também.

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― Calma, Laura. Nós vamos dormir essa noite aqui na mansão. Se você precisar de nós, por favor nos chame, ok?

― Obrigada, meus queridos. ― respondeu Laura muito agradecida pelo apoio de ambos.

Apolo escutou o murmúrio da despedida, mas não respondeu aos cumprimentos dos irmãos.

Estava perplexo. Estarrecido. Angustiado. Quando ouviu o ruído da porta fechando,

endireitou o corpo. Virou lentamente em direção a Laura e perguntou, tentando se controlar:

― De quem é esse filho, Laura? Laura, concentrada em analisar a linguagem

corporal de Apolo, cada vez mais preocupada com sua atitude, quase não escutou a pergunta. E quando escutou, não acreditou no que ouviu.

― O quê? ― exclamou aparvalhada. ― Você ouviu muito bem o que eu perguntei. ―

disse Apolo com os lábios crispados de raiva, caminhando em direção de Laura. ― Quem é o pai dessa criança? ― gritou exaltado.

― Apolo, por Deus! Que tipo de pergunta é essa? É claro que você é o pai dessa criança! O que está acontecendo com você? ― questionou Laura, sem entender nada.

― Então me esclareça uma coisa, cara esposa. ― ironizou Apolo ― Como um homem estéril pode ter um filho?

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Laura ficou atordoada, para não dizer chocada, com o que Apolo estava dizendo.

Estéril? Como? ― Que história é essa, Apolo? Como você pode ser

estéril, quando estou grávida? E por que você nunca me contou sobre essa suposta suspeita?

― Infelizmente para você, não é uma suspeita. Alguns meses após nosso casamento, precisei de um documento que estava armazenado no cofre da biblioteca, atrás do Monet que você tanto ama. Ao tentar localizá-lo me deparei com um papel relativamente antigo, cujo timbre pertencia a um laboratório de exames clínicos.

Percebi nele meu nome e dados técnicos, mas nunca o havia visto antes. Como Ártemis estava viajando em um dos seus cursos de estudo, não pude mostrar para ela que leria tranqüilamente aquele resultado médico. Assim, marquei uma consulta com Dr. Aleixo, o médico da família, e apresentei o papel pedindo esclarecimentos. ― Apolo fez uma pausa, respirando fundo, depois continuou com os olhos parecendo dois profundos lagos gelados ― Dr Aleixo tentou me explicar da forma mais delicada que pode, mas penso que seja um pouco complicado, quando se informa alguém que é estéril. ― ironizou.

Fez mais uma pausa, como se estivesse ordenando seus pensamentos. Em seguida continuou, praticamente cuspindo as palavras. ― Dr Aleixo disse que, quando pequeno, contrai caxumba. Como ela não foi devidamente cuidada, ocorreu o que chamam de caxumba recolhida.

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Isso para meninos é muito perigoso, segundo o doutor. Exames foram feitos embora eu nunca soubesse do resultado até aquele momento. ― finalizou ― E o fato de você estar grávida, nessa situação, minha cara, para mim é muito clara. ― voltou a falar. A raiva impregnando cada palavra.

― Apolo, isso só pode ser um mal entendido... ― tentou falar Laura, sendo bruscamente interrompida.

― Sim. Um enorme mal entendido que você cometeu ao me trair e achar que eu nunca saberia, assumindo assim o seu bastardo como se fosse meu filho! ― gritou enfurecido.

Laura sentiu como se houvesse levado uma bofetada. Nunca imaginara que um momento que deveria ser alegre e auspicioso se transformaria num pesadelo.

― Apolo ― Laura tentou chamar a razão ― precisamos conversar com calma. Só pode ser um engano. Alguém está mentindo para você!

– É claro que há engano e mentira no meio disso tudo! ― Apolo interrompeu novamente Laura, agarrando-lhe os braços com força, ignorando a expressão angustiada que lia em sua fisionomia. ― Você cometeu o engano de tentar me enganar, mentir para mim. Mas chega! Você vai embora desta casa, da minha vida! Vá para quinto dos infernos, mas eu quero você fora daqui, está me ouvindo? ― sentenciou Apolo entre dentes, dando um chacoalhão em Laura para reforçar a ordem, sem nenhuma compaixão.

Laura, trêmula com toda a situação, sentiu uma onda de náusea e alguns pontos pretos na vista. Respirou

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fundo, rezando para que o mal-estar passasse. Sentia-se em meio a um pesadelo interminável.

Percebendo que Apolo estava completamente transtornado e não lhe daria ouvidos, nem voltaria atrás em sua decisão, decidiu não levar adiante a discussão. Sua náusea parecia aumentar a cada momento, além de sentir-se sem forças para fazê-lo voltar a razão.

― Muito bem. Eu vou embora. Mas você está contribuindo para aumentar esse terrível erro, Apolo. E quem está fazendo essa brincadeira cruel será descoberto, mais cedo ou mais tarde e pagará muito caro!

Apolo, que voltara a ficar de costas para Laura como se a simples visão dela o ofendesse, não seu deu ao trabalho de responder.

Laura ergueu-se lentamente da poltrona. Sem notar, colocou sobre a mesa de canto o copo com o suco esquecido e caminhou um tanto trôpega em direção a porta. Colocara as mãos sobre o próprio ventre, numa tentativa inconsciente de proteger seu bebê.

Não se lembrava exatamente de como chegara até a escada, mas mesmo assim subiu por ela. Cada passada era extremamente penosa, sentindo como se seu corpo pesasse uma tonelada.

Já no alto da escadaria, caminhou em direção dos quartos.

Ao entrar na suíte que ocupava com o marido, uma onda de emoção a envolveu.

Podia vê-los recém-casados adentrando no quarto pela primeira vez, com ela no colo de Apolo ralhando e rindo, pedindo para descer, pois era muito pesada.

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Escutar a forte risada dele em resposta a esse comentário, dizendo para não se preocupar, uma vez que casara com um homem forte.

Podia enxergá-los deitados na cama, fazendo amor. Apolo acordando-a com um delicioso beijo, para depois lhe apresentar uma bandeja delicadamente preparada para que os dois tomassem café na cama. E outras tantas lembranças desse ano que viveram juntos!

Não podia acreditar. Não podia estar tudo acabado! Sentiu que a náusea aumentava, obrigando-a a

correr para o banheiro da suíte. Apenas teve tempo de erguer a tampa do bacio sanitário e cair de ajoelhar, antes de vomitar todo o jantar. Quando não tinha mais o que por para fora puxou a descarga, levantou-se e, com as pernas sem muita firmeza, foi até a pia para lavar o rosto várias vezes com a água fria da torneira. Alcançou a toalha pendurada ao lado e enxugou o rosto e as mãos.

Ao abaixar a toalha, viu o próprio reflexo no espelho colocado na parede, acima da pia. Quem era aquela mulher pálida e de olhos vazios?

Sacudindo a cabeça, tentando não pensar em mais nada que não fosse sair daquela casa, Laura soltou a toalha sobre a pia e voltou ao quarto. Lá, interfonou para Cirilo, pedindo que providenciasse um táxi. Depois encontrou sua velha bolsa de náilon guardada no fundo do guarda-roupa. Pegou-a e deixou-a sobre a cama, enquanto separava algumas peças de roupas para levar.

Apesar de não ter ouvido nenhum ruído, sentiu que não estava mais sozinha no quarto. Virando-se, encontrou Apolo com as mãos apoiadas em cada lado do marco da

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porta ― como quem precisa de apoio para manter-se em pé ― pálido ao extremo, olhando fixamente para a bolsa velha e desbotada.

― Laura ― fez uma pausa tentando encontrar as palavras certas. Por fim, olhando-a nos olhos, continuou ― se você disser a verdade, se você disser o nome do homem com que me traiu, eu prometo que vou lutar para perdoá-la. ― começou a falar Apolo, em um tom moderadamente controlado.

― Como posso fazer isso? Não posso lhe dar algo que não existe! ― exaltou-se Laura. ― Ora, você é um imbecil que não veria a verdade nem que ela estivesse na sua frente e contivesse uma placa em letras de néon laranja fosforescente escrito “VERDADE”! ― gritou.

― Cuidado com o que você fala ― ameaçou Apolo. ― Não, Apolo, cuidado você com o que fala. Eu

estou cansada, com náuseas, magoada, ferida! Nunca pensei que isso um dia aconteceria comigo. O homem com quem casei, que prometeu me amar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e todo o blábláblá que acompanha, é uma verdadeira fraude, pois no primeiro obstáculo me chuta, sem me ouvir!

― Penso que você está invertendo os papeis, minha cara. Não esqueça que você está grávida, mas eu sou estéril!

― Não há a menor possibilidade de você ser estéril Apolo, por dois motivos muito simples. Estou grávida e nunca estive com outro homem em toda a minha vida além de você! ― parou de falar, tentando se acalmar. Olhando para o rosto do marido, Laura compreendeu que

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não chegara nem perto de convencê-lo quanto sua inocência. Respirando fundo, resolveu encerrar logo a discussão: ― Vejo que apesar de tudo o que falei, você não mudou de opinião. Muito bem. Chega! Já estou saindo.

Pegando a bolsa de náilon, jogou as roupas que separara de qualquer jeito. Com o canto dos olhos notou que Apolo se afastou da porta, posicionando-se do outro lado da cama de casal.

Parecia ironia ter aquele móvel agora os separando ― pensou Laura. Um local que simbolizou não apenas a união dos seus corpos, mas também alguns dos momentos mais ternos de seu casamento.

Decidida a tentar, por hora, bloquear um pouquinho só que fosse do sofrimento que sentia, colocou a alça da bolsa no ombro e se dirigiu à porta da suíte. Quando saía do quarto, ainda escutou Apolo dizer, em tom cruel e cortante:

― Deixe seu endereço com Kostopoulos, o advogado. Nosso contato será todo por intermédio dele, que providenciara o encaminhamento e a papelada para dar entrada com o processo de divórcio. Quero me ver livre de você o mais rápido possível, para esquecer tudo isso o quanto antes.

E tencionando feri-la tanto quanto se sentia ferido, continuou:

― E depois vou procurar junto à comunidade grega uma esbelta e elegante mulher para ser minha companheira de verdade, como minha mãe sempre me aconselhou a fazer. Uma grega que não atribui a cada comentário feito, o peso da perseguição e conspiração.

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Nem fique se lamuriando, insegura, a cada divergência que ocorre ou tendo chiliques de ciúmes. E, claro, ela entenderá valor da honra e da fidelidade. ― desfechou, sem piedade, Apolo.

Laura sentiu que seu coração parou uma batida. Uma dor profunda corroeu-lhe a alma e depois a partiu ao meio. Seus olhos encheram-se de um imenso pesar ao assimilar tudo o que perdiam e nunca mais poderiam resgatar. Infelizmente, neste momento, não havia mais nada que Laura pudesse fazer. Precisava pensar em seu bebê. ― raciocinou em meio às ondas de dor e amargura.

Então, sem dizer uma só palavra nem olhar para trás, continuou caminhando até a saída... a saída do quarto...da casa...de uma vida.