os jardins da psicologia comunitária

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MÉTODO DE AçÃo MUNICIPAL: ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA A IMPLANTAÇÃO DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL Cezar Wagnerde Lima Góis 151 VISÃO DE MUNDO E METODOLOGIA DO TRABALHO COMUNITÁRIO Ana Luísa Teixeira de Menezes 173 PREFÁCIO CONSIDERAÇÕES SOBRE PRÁXISEPRÁTICACOMUNITÁRIA PARTE lU - APRESENTANDO EXPERIÊNCIAS DO CAMPO CAPS: RECONSTRUÇÃO DEIDENTIDADESFRAGMENTADASNA LOUCURA MariaAparecidaAlvesSobreiraCarvalho n 181 O CONHECIMENTOCOLETIVO DO COTIDIANO DA CIDADE DE FORTALEZA Zulmira Áurea Cruz Bomfim 191 PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NA RECICLAGEM DE LIXO: AS ENTRELINHAS DE UM PROCESSO GRUPAL Ana Luísa Teixeira de Menezes n n 201 Prol Leoncio Camino Coordenador do Mestrado em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba Quando os membros do NUCOM (NÚcleo de Psicologia Co- munitária da Universidade Federal do Ceará) me solicitaram fazer a apresentação de sua primeira obra coletiva, acredito que estavam pensando em mim como um vizinho, como um parente, enfim, como alguém próximo a eles. E de fato, se tratando de uma obra de psico- logia comunitária que não duvida em acentuar, sem temor, suas rela- ções íntimas com o local de moradia e as vivências quotidianas que nele se desenvolvem, pode-se afirmar que a relação que possuo com o NUCOM se expressa muito adequadamente nesses termos regio- nais e comunitários. É, portanto, a partir das imagens concretas que surgem (~enossa convivência na comunidade nordestina que gostaria de apresentar as reflexões e emoções que a leitura deste livro tem me produzido. O primeiro marco que moldura as vivências entre eu, um paraibano de adoção, e meus amigos cearenses é precisamente o contraste entre proximidade e distância. Vivemos em estados vizinhos da região do Nordeste, mas de fato, praticamente mil quilômetros (l0 horas de ôni- bus) nos separam. Conforme avançava meu passeio nestes jardins da psicologia comunitária (o meu por que não quintal, mata, roçado, termos co- muns no nordeste) mais me tomava, por um lado, a sensação de pro- ximidade, de identidade, de experiência comum, de intimidade mesmo. Mas, por outro lado, crescia em mim o sentimento de dis- PARTE IV - REFLETINDO SOBRE A CONSTRUÇÃO DO FUTURO PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA SOCIAL E COMUNITÁRIA Israel Rocha Brandão 213 MEMORIAL DOS AUTORES DESTE LIVRO 231 SIGLAS UTILIZADAS NESTA OBRA 237

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Page 1: Os Jardins da Psicologia Comunitária

MÉTODO DE AçÃo MUNICIPAL: ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA A

IMPLANTAÇÃO DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL NO ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL

Cezar Wagnerde Lima Góis 151VISÃO DE MUNDO E METODOLOGIA DO TRABALHO COMUNITÁRIO

Ana Luísa Teixeirade Menezes 173PREFÁCIO

CONSIDERAÇÕES SOBRE PRÁXISE PRÁTICACOMUNITÁRIA

PARTE lU -APRESENTANDO EXPERIÊNCIAS DO CAMPOCAPS: RECONSTRUÇÃODE IDENTIDADESFRAGMENTADASNA LOUCURA

MariaAparecidaAlvesSobreiraCarvalhon 181O CONHECIMENTOCOLETIVO DO COTIDIANO DA CIDADE DE FORTALEZA

Zulmira Áurea Cruz Bomfim 191PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NA RECICLAGEM DE LIXO: AS ENTRELINHAS

DE UM PROCESSO GRUPAL

Ana Luísa Teixeirade Menezes n n 201

Prol Leoncio Camino

Coordenador do Mestrado em Psicologia Social

da Universidade Federal da Paraíba

Quando os membros do NUCOM (NÚcleo de Psicologia Co-munitária da Universidade Federal do Ceará) me solicitaram fazer a

apresentação de sua primeira obra coletiva, acredito que estavampensando em mim como um vizinho, como um parente, enfim, comoalguém próximo a eles. E de fato, se tratando de uma obra de psico-logia comunitária que não duvida em acentuar, sem temor, suas rela-ções íntimas com o local de moradia e as vivências quotidianas quenele se desenvolvem, pode-se afirmar que a relação que possuo como NUCOM se expressa muito adequadamente nesses termos regio-nais e comunitários.

É, portanto, a partir das imagens concretas que surgem (~enossaconvivência na comunidade nordestina que gostaria de apresentar asreflexões e emoções que a leitura deste livro tem me produzido. Oprimeiro marco que moldura as vivências entre eu, um paraibano deadoção, e meus amigos cearenses é precisamente o contraste entreproximidade e distância. Vivemos em estados vizinhos da região doNordeste, mas de fato, praticamente mil quilômetros (l0 horas de ôni-bus) nos separam.

Conforme avançava meu passeio nestes jardins da psicologiacomunitária (o meu por que não quintal, mata, roçado, termos co-muns no nordeste) mais me tomava, por um lado, a sensação de pro-ximidade, de identidade, de experiência comum, de intimidademesmo. Mas, por outro lado, crescia em mim o sentimento de dis-

PARTE IV -REFLETINDO SOBRE A CONSTRUÇÃODO FUTUROPERSPECTIVASEM PSICOLOGIA SOCIAL E COMUNITÁRIA

Israel Rocha Brandão 213

MEMORIAL DOS AUTORES DESTE LIVRO 231

SIGLAS UTILIZADAS NESTA OBRA 237

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tância, de estranheza, de diferenciação, mesmo no interior de uma

grande sel!1elhança.Do lado da vizinhança, do parentesco, uma primeira característi-

ca comum me chamava a atenção: o acento na aprendizagem e não noensino. O NUCOM foi constituído inicialmente como um núcleo de

estágio supervisionado de psicologia comunitária da UniversidadeFe-deral do Ceará. Mas quem, como eu, vem acompanhando há um bomtempo a prática deste grupo, constata que não se trata, de maneira ne-nhuma, de uma experiência acadêmica clássica. Trata-se de uma expe-riência que se afasta radicalmente da noção de ensino que permeia todonosso sistema universitário. Basta observar tanto os nossos campi, onde

praticamente 2/3 da área construída é dedicada às salas de aula, quantoà maneira como se distribuem as tarefas dos professores, na qual asatividades em sala de aula representam a base da remuneração, sendoas outras atividades consideradas freqüentemente como justificativasdo regime da dedicação exclusiva.

Pelo contrário, o NUCOM, desde o seu início, criou condiçõesefetivas para que os participantes (não mais alunos, mas colegas) seengajassem na obtenção dos objetivos comuns do Núcleo. Aliás, nosprimeiros contatos com o grupo do Professor Cezar Wagner, surpreen-deu-me muito agradavelmente ver um conjunto de jovens alunos preo-cupados não com as mazelas acadêmicas de carga horária, relatórios,etc, mas com o destino do NUCOM e as tarefas concretas impostas pelodesenvolvimento dos objetivos deste.

Alias, é através desta participação ativa e engajada que osjovensestagiários vão construindo, conjuntamente com seus colegas, os valo-res e normas que formam a sua identida~e social. Mas estes jo\'ens nãose adaptam a um grupo ou instituiçãojá existente, mas na sua participa-ção ativa ajudam o NUCOM a construir suas normas e a sua identidadesocial. Fica evidente, na leitura deste livro que o NUCOM por sua vez,foi se socializando na dinâmica das relações que manteve com as diver-sas comunidades com as quais colaborou. Assim a prática no interiordo NUCOM tem constituído não só fonte de desenvolvimento profissi-

onal dos estagiários participantes, mas também, fonte do desenvolvi-mento do NUCOM e das comunidades em que ele tem colaborado.

Na medida em que o NUCOM se colocou, como primeiro obje-tivo, a construção da psicologia comunitária no Ceará, tem colocadoa prática comunitária como o núcleo central de sua existência. E éesta pratica, verdadeiramente dialética, que tem permitido o formi-dável acúmulo teórico do NUCOM que se manifesta neste livro. Éevidente, que o objetivo último desta prática, anunciado já na pri-meira página, não poderia ser outro que "a busca de colocar a ciên-cia psicológica a serviço das classes oprimidas, subtraídas do acessoa esse saber".

Este objetivo fundamental desdobra-se tanto na necessidade decompreender os moradores e suas práticas enquanto pessoas e cida-dãos como na vontade de facilitar processos de mudança social nacomunidade. Neste sentido, o NUCOM construiu um espaço muitorico de aprendizagem. Esta aprendizagem apoia-se tanto na práticados estagiários com os comunitários quanto na prática destes (~omsuaprópria comunidade.

Mas no caso do NUCOM pensamos que a transformação destaprática em verdadeira praxis pressupõe a combinação mágica da con-cepção de uma realidade social concreta, totalmente contextualizada eem contínuo movimento, não redutível, portanto, a explicaçõespsicologizantes e de uma profunda sensibilidade a este devenir dialéticoda realidade social ou que pressupõe, sim, a priorização de uma inter-venção psicológica sobre uma intervenção sócio-política.

Não me perguntem como os meus amigos do Ceará fizeram estaalquimia. Não saberia responder. É esta ignorância que me leva a incor-rer, neste momento, numa heresia científica. De fato, no meu ponto de

vista, o enorme acúmulo teóric9 que o NUCOM tem elaborado na suatrajetória, não decorre dos fundamentos teóricos que são expostos nestaobra coletiva. Refiro-me tanto aos pressupostos apresentados no 2QCa-pítulo, concernentes a perspectiva materiéilistae crítica utili~adana aná-lise da realidade como a visão cósmica e biocêntrica proposta no 3Qcapítulo como base epistemológica. Não é que os ache mal elaboradosou pouco interessantes. Nada disso. São ücis capítulos enriquecedores,onde são descritos dois pólos ou duas categorias, relativamente contra-ditórios, entre os quais situa-se a vontade da razão prática. Masnãosão

I(

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estas categorias que, ao meu entender, explicam a fertilidade da práticaconcreta do NUCOM.

Talvez no caso do NUCOM não se aplique o famoso enuncia-do: não existe nada mais prático que uma boa teoria. Diria, nestecaso, que nada é mais prático que uma boa praxis. Finalmente, po-demos nos perguntar qual é este acumulo teórico. Por um lado acre-dito que ele seja bastante rico e diversificado. Por outro lado, dadoao seu caráter vivencial pressupõe-se que ele adquirirá facetas dife-rentes para cada leitor. Seria portanto justo deixar a cada leitor fazersuas próprias descobertas.

APRESENTAÇÃO

A idéia de um jardim é recorrente na história dos que fazem efizeram o NUCOM. Primeiro porque praticamente toda a trajetória dosatores que passaram pelo movimento de psicologia comunitária fevecomo cenário dos encontros e reuniões do grupojustamente os jardinsdo Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará, pois aatual sede do Núcleo é recente.

Além disso, jardim dá a impressão de início: as crianças come-çam a sua incursão pelo mundo da educação formal, pelas aulas no;ardim da infância. O NUCOM tem sido o jardim da infância dos estu-dantes de psicologia. É o lugar onde'se aprende a prática da psicologiacomunitária e prepara-se o caminho para a profissionalização. É umespaço onde se pode aprender um ofício.

O Jardim era também um local na antigüidade clássica onde mu-lheres, crianças, escravos e cidadãos se encontravam para procurar afelicidade. Os psicólogos também procuram a felicidade e o Núcleosempre foi um espaço de encontro festivo de todas as pessoas. Por lá jápassaram artistas, educadores, políticos, professores e estudantes, alémde lideranças comunitárias.

Entretanto, talvez o que mais assemelhe o NUCOM e a históriada psicologia comunitária cearense a um jardim é que este define-secomo um local repleto das mais variadas espécies de flores, portanto,um ambiente perfumado, agradável e propício às paixões e à poesia.Ora o segredo da longevidade do NUCOM, ao longo destes 18 anos,tem sido o cuidado que cada um sempre teve com o companheiro, aafetividade vivenciada, os abraços dados com vontade e com carinho,o prazer de estar junto com o grupo e a crença coletiva na proposta detrabalho. Sempre chamou a atenção de todos no Departamento de Psi-cologia da UFC como aqueles jovens se abraçavam e sorriam e como

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voltavam felizes das viagens ao campo, à zona rural e à periferia dacidade. O perfume fica por conta da satisfação de estabelecer umarelação de ajuda com quem carece dela: a mulher trabalhadora, o ho-mem do campo, a criança sonhadora, enfim, as pessoas simples dascomunidades.

Os ORGANIZADORES

PARTE I

ASPECTOSHISTÓRICOSEBASESTEÓRICAS

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o NÚCLEODE PSICOLOGIACOMUNITÁRIAÀGUISA DE UM BREVEHISTÓRICO

Ana Roberta Matos Mendes

Silvia Barbosa Correia

---

A compreensão da trajetória do Núcleo de Psicologia Comunitá-

ria (NUCOM) é extremamente relevante para o entendimento da cons-trução da psicologia comunitária no Ceará, uma vez que a partir de suainstituição, passou a ser uma das principais instâncias de referência paraa construção desse novo enfoque da psicologia e para a formação depsicólogos comunitários.

Nessa perspectiva, este artigo pretende resgatar a trajetória do, NUCOM desde sua origem, considerando a construção de sua orga-

nização interna, bem como o processo de crescimento de sua atua-ção junto'à comunidade rumo a transformação da realidade social ehumana.

O NUCOM é fruto do processo de constr-ução da psicologia co-

munitária no Ceará, que nasceu da busca de colocar a ciência psicológi-ca a serviço das classes oprimidas, subtraídas do acesso a esse saber.

Seus primórdios são vislumbrados no ano de 1982, quando o ter-mo psicologia comunitária ainda não era muito empregado no Ceará.Utilizou-se, então, o nome de psicologia popular para um projeto que o

Professor César Wagner de Lima Góis cadastrou no Departamento dePsicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Este projeto deatendimento psicossocial, que vinha sendo desenvolvido no Bairro NossaSenhora das Graças do Pirambu desde 1980, tinha o objetivo de com-

preender os moradores e suas práticas enquanto pessoas e cidadãos, emseu lugar de moradia e convivência, além de facilitar processos de mu- '

dança social no bairro. (GÓIS, 1996).

Os JARDINS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: ESCRITOS SOBRE A TRAJETÓRIA DE UM MODELO TEÓRlCO-VIVENCIAL

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Em 1988,acompanhando o processo de constituição da psicolo-gia comunitária - que nessa época caminhava decisivamente rumo àespecificidade, com método e campo próprios, demarcando, enfim, umcorpo de atuação e um saber específico -o projeto passa a ser identifi-cado como Projeto de Psicologia Comunitária.

Os trabalhos iniciados no Pirambu, foram ampliando-se para ou-tros bairros de Fortaleza e para o interior do Ceará, através dos municí-pios de Beberibe e Pedra Branca. Neste último, iniciou-se a elaboraçãodo Método de Ação Municipal (MAM) que se consolidaria mais tardenos municípios de Quixadá (1992 e 1993) e Icapuí (1993 e 1994).

Como fruto do aprofundamento da experiência, aliado ao esfor-ço contínuo de sistematização teórica e de organização, numa perma-nente busca de construção da psicologia comunitária, emjulho de 1992,com lugar fixo e próprio, o projeto de extensão transforma-se no Nú-cleo de Psicologia Comunitária (NUCOM). A partir daí, ganha umanova dimensão, sendo reconhecido como um espaço de crescimentoacadêmico e de grande importância para a comunidade.

Ao final deste ano, o NUCOM apresenta às pessoas interessa-das em integrá-Io, a sua primeira forma de organização interna, a Es-trutura de Coordenações (ARAÚJO, 1996). Nesta, os membros donúcleo agrupavam-se em equipes, ficando a responsabilidade por cada

atividade diluída entre seus integrantes. Assim, em 1992, o Núcleoconstituía-se pela Coordenação geral e definanças, com a missão decuidar do seu funcionamento geral; Coordenação de divulgação e

eventos, engajada na promoção e participação em eventos locais, na-cionais e internacionais; Coordenação de acompanhamento e

integração de campos, objetivando a avaliação e o intercâmbio entre'as equipes dos campos; Coordenação de treinamento e desenvolvi-mento, que visava a capacitação dos estagiários e, finalmente, umaSecretaria, responsável pelas atividades administrativas. A supervi-são e assessoria ao núcleo eram desenvolvidas por César Wagner deLima Góis.

Nesse período, o trabalho estava mais centralizado no processode estruturação interna do núcleo, bem como na capacitação dos novosintegrantes para posterior inserção nos campos de trabalho. As ativida-

des regularmente desenvolvidas eram coral, grupos de estudo, divulga-ção e trabalhos de campo.

No início de 1993, são selecionados novos estagiários para o Nú-cleo, tornando-se evidente o crescente número de interessados pela psi-cologia comunitária entre os estudantes da UFC. Tal fato devia-sesobretudo a uma curiosidade em conhecer essa nova área da psicologiasocial, aliada à necessidade de uma atuação junto à sociedade, rompendocom a estrutura eminentemente teórica do Curso de Psicologia da UFC.

Com a realização do I Seminário de Planejamento do NUCOM,

em abril de 1993, na Praia da Taíba, em São Gonçalo do Amarante(CE), institui-se uma nova forma de estruturação interna, a Gerência deAtividades, com uma pessoa responsável pelo desenvolvimento de cadaatividade, gerenciando uma equipe de realização. Essa estrutura repre-sentou um salto qualitativo em termos de engajamento dos estagiáriosno desenvolvimento das atividades, assumindo uma postura de deter-

minar e alcançar metas. Nessa época, o núcleo estruturava-se em tornode atividades administrativas internas, que cuidavam da infra-estrutu-ra e atividades gerenciais, direcionadas principalmente a atuação noscampos, participação e promoção de eventos e capacitação profissional.

A atuação nos campos estava desenvolvendo-se, nesse período (1992a 1993), de forma mais estruturada, havendo uma maior sistematização dotrabalho a ser realizado, com supervisões regulares aos estagiários.

Desde então, o trabalho comunitário desenvolvido objetivava aconstrução da identidade comunitária, a integração dos membros dacomunidade, a melhoria das condições de vida, o fortalecimento dos

laços afetivos, a politização e a formação da consciência crítica. Ametodologia baseava-se já na análise e na vivência da atividade comu-nitária, utilizando-se de instrumentos, tais como: dinâmica de grupo,círculo de cultura, oficinas de criatividade e biodança, além da inserçãona vida cotidiana da comunidade (GÓIS, 1994).

Os campos de atuação incluíam o município de Quixadá, ondeera desenvolvido um trabalho junto à Secretaria Municipal de AçãoSocial, com atividades para o crescimento e fortalecimento individual e

das relações humanas de grupos específicos; o município de São Gon-çalo do Amarante, através de atividades com grupos de jovens, conse-

ISRAEL ROCHA BRANDÃO. ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM (ORGANIZA DORES)Os JARDINS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: ESCRITOS SOBRE A TRAJETÓRIA DE UM MODELO TEÓRlCO.VIVENCIAL

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lho pastoral e associação comunitária e a Favela do Dendê, em Fortale-za, onde o trabalho buscava o fortalecimento da identidade dos mem-

bros do grupo de jovens, favorecendo a autonomia e autogestão.O NUCOM transformava-se num espaço de formação de profis-

sionais da psicologia comunitária, solidificando seu êxito nos trabalhosdesenvolvidos.

Contribuindo para esse crescimento do trabalho, em agosto de1993, a professora Zulmira Áurea Cruz Bomfim - que quando estudan-te havia sido extensionista do Projeto de Psicologia Popular - retomouao Núcleo na condição de supervisora.

O II Seminário de Planejamento, realizado em Morro Branco, no

município de Beberibe, em novembro de 1993, representou um marco parao NUCOM, consolidando-o enquanto espaço de profissionalização da psi-

cologia comunitária. Nesse encontro foi definida a missão do núcleo: "Fa-ciUtar a construção da identidade humana como expressão da vida social

e comunitária". Foi instituído o modelo administrativo da Gerência por

Objetivos, estrutura mais complexa e melhor definida que as anteriores. Asatividades passaram a estruturar-se em tomo de cinco objetivos estratégi-

cos: I - Divulgar a produção teórica e artística do núcleo para um maiorintercâmbio e integração no âmbito da psicologia comunitária; 11-Efetivar,sistematizar e avaliar os trabalhos de campo; III -Ocupar uma parcela no

mercado de trabalho da área social e do desenvolvimento humano, visando

à profissionalização de seus estagiários; IV - Racionalizar e otimizar osprocedimentos administrativos do núcleo e; V -Integrar e cooperar com os

movimentos progressistas da sociedade (BRANDÃO et aI., 1995).Na busca dessas metas, os estagiários organizavam-se em equi-

pes, considerando sua afinidade e disponibilidade para atingir cada ob-jetivo. A equipe, como na estrutura anterior era coordenada por umgerente, que fazia parte do Conselho gerencial, composto pelos cinco

gerentes e três coordenadores gerais do núcleo, objetivando o estabele-cimento da troca de informações e experiências entre os gerentes deatividades. Desta forma, estabelecia-se uma comunicação mais efetiva

a respeito do funcionamento do Núcleo.

Essa nova estrutura caracterizava-se por uma melhor definição dasmetas a serem afcançadas, dando um maior direcionamento aos trabalhos

desenvolvidos. Novamente o Núcleo buscava um aperfeiçoamento de suaestrutura, procurando atender à realidade que ora se apresentava.

Nesse planejamento, o grupo ampliou a sua estratégia de ação.Além da inserção comunitária, surgia um outro nível: a ação municipal,pois compreendia-se que a psicologia comunitária deveria preocupar-se tanto com processo interno de uma comunidade, como com o proces-so entre as várias comunidades de um município

Os trabalhos do Núcleo vinham se expandindo consideravelmen-

te, conquistando novos espaços de atuação no Estado. Os extensionistasatuavam nos municípios de São Gonçalo do Amarante, Quixeramobim,Itaitinga, Canindé, Jucás, Icapuí e Beberibe, na Favela do Dendê e Bairrodo Itaperi, em Fortaleza. Atuavam, também fora do âmbito do Estado,desenvolvendo um trabalho junto ao Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST), no Estado do Maranhão. Este trabalho de-

monstrava o reconhecimento do NUCOM enquanto referência de tra-balho social e comunitário dentro e fora do Estado.

Ao final de 1993, foi criado um espaço de assessoria profissional

para os récem-formados que estavam trabalhando na área de psicologiacomunitária, considerando a necessidade de um constante aprimora-mento da prática exercida.

No primeiro semestre de 1994, a profissionalização passou a ser o

interesse central dos integrantes do núcleo. Dois aspectos principais con-tribuíram para esse novo enfoque, a saber: a preocupação com os estu-dantes que estavam se graduando e pretendiam continuar a atuação nessaárea e a crescente demanda de trabalhos na área de psicologia social ecomunitária. A idéia era, pois, a criação de um espaço favorável à inser-ção desses futuros profissionais no mercado de trabalho. Foi criado, en-tão, o NUCOM-Consultoria que, no ano seguinte, resultaria na instituiçãode uma ONG, o Instituto Participação, cuja meta era dar continuidade ao

compromisso social, científico e profissional, objetivados pelo Núcleo.Do NUCOM-Consultoria participavam os extensionistas que es-

tavam no período de conclusão do curso de psicologia. Os trabalhosdesenvolvidos consistiam basicamente em 'assessoria às prefeiturasmunicipais do Estado do Ceará, legitimando a necessidade de psicólo-

gos comunitários para o des~volvimento social dos municípios.

ISRAEL ROCHA BRANDÃO .ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM (ORGANIZADORES) Os JARDINS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: ESCRITOS SOBRE A TRAJETÓRIA DE UM MODELO TEÓRlCO-VIVENCIAL

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No segundosemestre de 1994, atendendo à realidade vigente, oNUCOM cria um espaço de discussão e construção teórica da psicolo-gia comunitária, fortalecendo os grupos de estudo em temas específi-cos, propiciando um trabalho de sistematização teórica.

Ao final de 1994 e início do ano seguinte, o NUCOM participou

da implantação do "Conselho Popular de Planejamento e Desenvolvi-mento", referente ao "Projeto Icapuí rumo ao Ano 2010", promovidopela Prefeitura Municipal de Icapuí (CE). Este projeto propunha a cons-trução democrática de uma visão de futuro para o município, buscandofortalecer e desenvolver formas de participação popular junto à gestãomunicipal, além de implementar uma mentalidade de planejamento es-tratégico participativo na administração e na população.

O engajamento neste trabalho representou um enriquecimentoteórico-prático para os integrantesdo Núcleo, porque possibilitou o ama-durecimento do Método de Ação Municipal, alicerçado na construçãoda identidade comunitária, e iniciado no município de Pedra Branca

(GÓIS, 1990). Significou ainda, a continuidade da construção de umnovo modelo de gestão municipal, baseado na parceria entre governo epopulação, visando garantir a participação da comunidade na definiçãodas metas prioritárias para o desenvolvimento do município.

Isso tudo, reflete a amplitude da atuação do NUCOM, que partiude trabalhos pontuais com as comunidades locais e do interior para oestabelecimento de parcerias com o governo estadual e municipal.

Mais tarde, o Método de Ação Municipal (MAM) foi aperfeiço-ado, sendo utilizado na implantação dos Conselhos Municipais de De-senvolvimentoSustentável(CMDS), promovidapeloGovernodo Estado

em parceria com as prefeituras municipais, o Instituto Participação e auniversidade, através do NUCOM.

Nesse ano foi lançada a segunda edição do livro Noções de Psi-

cologia Comunitária, de Cezar Wagnerde Lima Góis, publicado inici-almente em 1993.

Em 1995, o NUCOM esteve juntamente com o Instituto Partici-

pação, particularmente envolvido com a implantação dos CMDS. portodo o interior do Estado, além de estar mobilizado com a organizaçãodo VIIIEncontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia 80-

cial (ABRAPSO), realizado em julho, em Fortaleza (CE). O CMDS.constitui uma proposta de gestão participativa do Governo do Estadodo Ceará, cujo objetivo é promover a cidadania e o fortalecimento dosentimento de municipalidade, destacando a importância da organiza-ção e da participação do povo nas decisões político-administrativas doseu município, gerando autonomia na busca do desenvolvimento dosmunicípios do Estado. Neste sentido, esta proposta, que tem o exercícioda cidadania como seu eixo de sustentação, apresenta-se como uma ricapossibilidade de contribuir para o fortalecimento da identidade dos su-jeitos envolvidos.

Em 1996, destaca-se dentre as atividades realizadas pelo núcleo,a inserção no município de Beberibe, com o Projeto Infância Feliz,vinculado à Secretaria Estadual de Saúde (SESA), objetivando o forta-lecimento da auto-estima infantil de crianças de Oa 7 anos de idade."Um conceito básico deste trabalho é o de resiliência que designa a

capacidade de umapessoa, apesar das condições de vida adversas derealizações bem sucedidas e de forma socialmente aceitáveis"(MOURA, 1996).O trabalho era pautado neste conceito e nos princípi-os da psicologia comunitária, tais como, reforço da identidade, do valorpessoal, das potencialidades latentes e da auto-estima, sendo realizadocom as crianças e suas respectivas mães. Foi realizado também, nomesmo município, um trabalho junto a uma ONG local, o Conselho deDesenvolvimento Escola de Vida,buscando facilitar o desenvolvimen-

to da municipalidade a partir da proposta de organização comunitária.Outros gruposdesenvolveramtrabalhos na área da saúde, assesso-

rando atividades de prevenção a partir dos pressupostos da psicologiacomunitária. O trabalho enfocava à saúde, cidadania e integração, com opropósito de trabalhar a consciência crítica, motivação e a identidade.

Ainda nesse ano, um grande passo é conquistado na consolida-ção da profissionalização do psicólogo comunitário com a implantaçãodo estágio regular em psicologia comunitária na Universidade Federaldo Ceará, como fruto sobretudodo trabalho realizado pela supervisora doNúcleo.

O ano de 1997 iniciou-se com a reestruturação da organizaçãointerna. Com a seleção de extensionistas, foi realizado um novo treina-

ISRAEL ROCHA BRANDÃO .ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM (ORGANIZADORES) Os JARDINS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: ESCRITOSSOBREA TRAJETÓRIADEUMMODELOTEÓRICO-VIVENCIAL

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mento, retomando-se o Conselho gerencial, estrutura que melhor res-pondia à realidade daquele momento. As atividades comunitárias de-senvolviam-se principalmente no Bairro do Pirambu, em Fortaleza e nomunicípio de Guaramiranga (CE) Também realizou-se assessoria àsONG's, a exemplo do trabalho desenvolvido junto à Federação dasEntidades Comunitárias do Est~dodo Ceará (FECECE) durante os anosde 1994 e 1995.

No período de 1997a 1998destacaram-se, principalmente os tra-balhos feitos em parceria com outras entidades. Foi estabelecida umaparceria com a Associação Comunitária de Ajuda Mútua do Pirambu-ACAMP, através do assessoramento ao Projeto Jardim da Adolescên-cia. Os extensionistas desenvolveram um trabalho de reeducação eressocialização com adolescentes do sexo feminino em situação de ris-co, na tentativa de fortalecer a identidade e a auto-estima das mesmas,através do resgate do Valor e do Poder Pessoal (GÓIS, 1994).

Também esteve atuando junto a Associação Comunitária doPirambu, que criou a Sociedade de Reciclagem do Lixo do Pirambu(SOCRELP), onde o Núcleo desenvolve um trabalho de organizaçãocomunitária, enfatizando a importância da reciclagem para o meio-am-biente e facilitando a atividade dos membros do grupo rumo ao fortale-cimento da identidade e a conquista da cidadania.

Os extensionistas desenvolveram atividades no Programa de De-senvolvimento de Área - PDA, projeto financiado pela Visão Mundial,uma ONG, que tem como objetivo a mudança do quadro de pobreza emiséria social do Nordeste. O projeto escolhe áreas a serem desenvol-vidas na perspectiva do desenvolvimento auto-sustentável. O Núcleoesteve atuando nos municípios de Coreaú e Caucaia, com um trabalhopautado na mobilização dos moradores para a conscientização da res-ponsabilidade pela mudança do quadro de miséria social no qual estãoinseridos, para caminharem rumo à autogestão e auto-sustentabilidade.

Na parceria com a Associação Curumins, instituição de Forta-leza que tem como finalidade encontrar alternativas duráveis de vidapara crianças e adolescentes em situação de risco e exploração social,o trabalho concretizou-se na busca do fortale'cimento do grupo, conta-to com as famílias e construção de um suporte para a formação de

uma rede comunitária de apoio ao trabalho da associação, via de aces-so às comunidades.

Nesses últimos seis anos, o Núcleo tem promovido e participadode cursos, simpósios, palestras e encontros envolvendo temas ligados àpsicologia comunitária e social, destacando-se os Encontros Nordesti-nos de Psicologia Comunitária, por possibilitarem o envolvimento deum número maior de interessados na área e por oportunizarem a trocade experiências com outros estados do Nordeste. Especificamente naUFC, o NUCOM vem assessorando regularmente a disciplina de Psico-logia Comunitária, enriquecendo o programa a partir de sua experiên-cia nessa área.

A promoção do NUCOM-Arte, momento em que os membrosdo Núcleo divulgam seus trabalhos artísticos para a comunidade aca-dêmica, também tem se tornado um prática recorrente. A participaçãodo Núcleo nesses eventos tem contribuído para a divulgação do traba-lho dos extensionistas e da psicologia comunitária, fomentando o in-teresse das pessoas, no sentido de estimular a construção doconhecimento nessa área.

Ao longo desses anos, o Núcleo consolidou-se enquanto exten-são, ensino e pesquisa. Sua trajetória marcada por constantes transfor-mações, indica91o seu constante movimento na busca do crescimentogrupal, a fim de construir uma psicologia transformadora da realidadesocial. As mudanças ocorridas representam o árduo, mas satisfatórioprocesso de fortalecimento do estudo e da prática em psicologia, desen-volvendo uma inserção social concreta e cotidiana que caracteriza apsicologia comunitária do NUCOM, repleta de novos conceitos e ins-trumentais de ação, gestados ao longo de dezoito anos de inserção nascamadas populares.

O NUCOM é hoje uma referência na construção teórico-práticada psicologia comunitária em todo o Brasil.

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ISRAEL ROCHA BRANDÃO .ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM (ORGANIZADÓRES)

Os JARDINS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: ESCRITOS SOBRE A TRAJETÓRIA DE UM MODELO TEÓRICO-VIVENCIAL

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AS BASES EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOLOGIACOMUNITÁRIA

Israel Rocha Brandão

Desde suas origens, no início da década passada, quando CezarGóis iniciou os primeiros trabalhos de intervenção no Bairro Nossa Se-nhora das Graças do Pirambu, a psicologia comunitária no Ceará tem

apresentado uma forte dimensão pragmática. Isto quer dizer que o movi-mento de transposição da ciência psicológica para as comunidades ruraise para os bairros periféricos não ocorreu apenas como uma aplicação dosconhecimentos previamente elaborados na academia. Inversamente, o

caminho percorrido pelos construtores da experiência cearense não foi oda teoria à prática, mas o da prática à teoria. No princípio essa inserção

esteve ligada à alfabetização de adultos e, ao longo dos anos, foi gradual-mente evoluindo até as suas formas atuais, a saber: uma abordagém que

se pretende dialética e biocêntrica. Embora carecendo de consistênciateórica, as primeiras inserções representavam a ousadia de ir a campo econstruir com os sujeitos comunitários um conhecimento novo, que valo-rizasse o saber científico produzido na academia e que, por outro lado,

tivesse impacto na vida concreta dos moradores das comunidades.A construção da abordagem que orienta as intervenções em psi-

cologia comunitária pelos psicólogos do Núcleo de Psicologia Comu-nitária (NUCOM) e do Instituto Participação (IP) só se consolidou como

um modelo novo porque nasceu de um mergulhar profundo no mundovivido (lebenswelt) dos sujeitos comunitários. O espírito que norteou otrabalho dessas intervenções foi, portanto, duplo: na atuação em cam-

po, colher material teórico para o desenvolvimento da psicologia comociência e como profissão; no estudo e na atividade teórica, procurardescobrir um modus operandi que se traduzisse na melhoria da qual ida-

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de de vida dos moradores das comunidades. As duas orientações secomplementaram de forma dialética, sendo que cada construção teóri-ca, oriunda das experiências de campo, resultava em novos processosna atividade prática e esta, por sua vez, enriquecia um modelo que secriava paulatinamente e engendrava novos constructos teóricos. Acircularidade dialética que se dá entre o real e o conceitual cada vezmais se fazia presente nos trabalhos em psicologia comunitária.

a contribuição de Paulo Freire. Embora os trabalhos deste autor tenhamsido realizados no âmbito da pedagogia, o impacto da sua obra sobre apsicologia comunitária tem se mostrado como de grande relevância. Naexperiência da Escola do Ceará, os primeiros trabalhos utilizavam ométodo que ele criou. Cezar Góis e Ruth Cavalcante se apropriaram doMétodo Paulo Freire porque ele transcendia a preocupação puramentetécnica de ensinar a ler e escrever os adultos da periferia. A questão dacidadania e da transformação social já era tematizada nos círculos decultura daquela época. As fichas de cultura atendiam também aoirresistível apelo de discutir o cotidiano aprisionador e perverso quemarcava o ambiente na comunidade periférica. O método emergia comoimportante instrumento de tomada de consciência -conforme fora pro-posto pelo próprio Freire -mas também era utilizado para buscar a co-esão grupal e o clima de crescimento, além de atender à imediaticidadeda aprendizagem da leitur!ie da escrita.

Os círculos de cultura, propostos à época, resistiram aos anos econtinuam como importante instrumento da ação comunitária. O aspec-to da reunião, com as pessoas dispostas em círculo e discutindo algumtema gerador de uma tomada de consciência e, mais profundamente,problematizando a necessidade de uma ação transformadora coletiva,ainda hoje é o ponto de partida de quaisquer trabalhos em psicologiacomunitária.

Outra consideração, que é imanente à obra de Paulo Freire, e quefoi bem incorporada à intervenção em psicologia comunitária, é a im-portância do diálogo no desenvolvimento da comunidade. A relaçãodialógica que, segundo Freire (1980), se contrapõe à pedagogia tradici-onal, autoritária e bancária', é aquela que se dá - utilizando aqui umaterminologia buberiana -em uma relação eu-tu, simétrica, de um para o

As quatro fontes da psicologia comunitária do Ceará

Nesse processo de formação do conhecimento é preciso falar dasquatro fontes inspiradoras da abordagem da Escola do Ceará, pois apsicologiacomunitárianão se desenvolveuaqui de umaposturasolipsistae auto-suficiente. Ao contrário, este desenvolvimento só foi possívelmediante o contato com outras disciplinas e o estudo sobre outrosparadigmas, que vieram a influenciar sobremaneira o modelo teóricoda psicologia comunitária. Dentre as muitas experiências de diálogoepistemológico construídas, é preciso salientar pelo menos quatrointerlocutores, que funcionaram como bases para a emergência e a con-solidação desta forma de fazer psicologia. A educação popular, a psico-logia social crítica, o materialismo histórico e dialético e a biodançaapareceram, portanto, para o delineamento dos principais pressupostosdesta abordagem. Estes constructos teóricos funcionaram comobackground para a organização do método e das principais categoriasutilizadas hoje pelos psicólogos em campo. Evidentemente, a teoria nãose construiu como uma forma eclética das quatro fontes, mas na síntesedialética dos seus estudos, e no confronto destes estudos com a inter-venção prática na vida dos moradores das comunidades.

A educação popular de Paulo Freire e apossibilidade do diálogo

I o termo educação bancária foi cunhado por Paulo Freire para definir a pedagogiatradicional. Conforme ele, nesta estratégia, o professor aparece sempre como o proprie-tário do conhecimento e como sujeito que deposita um arcabouço de verdades no alu-no, entendido como um mero receptor. Para superar esta relação vertical e autoritária,Freire propõe um modelo horizontal, marcado pelo respeito ao outro e pelocompanheirismo. A Pedagogia do Oprimido estaria, portanto, calcada na esperança deum mundo maisjusto, através da construção coletiva e companheira do conhecimento.

Não há como falar de intervenção na comunidade, seja em psico-logia, ou em qualquer outro ramo do saber científico, desconsiderando

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outro, em que cada um dos participantes enxerga o outro como compa-nheirona construçãode ummundonovo. .

Posto desta forma, o diálogo aparece como condição de possibi-lidade de qualquer crescimento pessoal e comunitário. A ação dialógicaé o primeiro passo para a autonomia da comunidade, pois é a palavra,enquanto célula do processo dialógico, que traduz o mundo e é a lin-guagem, entendida habermasianamente como ação comunicativa, umpressuposto da igualdade original entre todos os seres humanos (Oli-veira, 1993). Ao se colocarem em uma postura dialógica, osinterlocutores o fazem como sujeitos de uma mesma ação comunicati-va, na qual cada um tem a capacidade de argumentar suas proposiçõesdiante do outro. Esta argumentação, própria da dialogicidade, permiteque cada um dos interlocutores veja no outro alguém que é capaz deentender as suas idéias, de aceitá-Ias ou de refutá-Ias. Portanto, o diálo-go, por natureza, contradiz performativamente quaisquer formas deopressão e dominação existentes entre os seres humanos.

por Antônio Ciampa (1994a, 1994b) e também por Sílvia Lane. Esteconceito,que vemsubstituindoa categoriapersonalidadehá algumtempoem psicologia social, é a marca da especificidade do papel dos psicólo-gos em campo. Ou seja, os psicólogos, como os outros profissionais deserviço social, pedagogia, sociologia e antropologia, que estão atuandono desenvolvimento da comunidade, muitas vezes utilizam instrumen-tos de pesquisa e intervenção similares. Enquanto profissionais, todosestamos, independentemente da categoria, abordando os sujeitos co-munitários, mergulhando na sua realidade e procurando com eles solu-ção para sua problemática. Entretanto, o que garante a especificidadenossa é que enquanto os outros estão enxergando uma mudança que seconcretize como conscientização, educação libertadora, ou a formaçãode uma consciência de classe; os psicólogos comunitários estão inves-tindo na identidade daqueles sujeitos. O objetivo da intervenção psico-lógica na comunidade é facilitar o processo de desenvolvimento daidentidade dos sujeitos comunitários em todos os seus aspectos.

O que nos interessa, portanto, enquanto estudiosos da subjetivi-dade, não é o enfoque sobre a consciência, mas sobre a identidade. Eisaqui uma diferença profunda dos trabalhos desenvolvidos aqui no Cea-rá para muitos outros trabalhos de psicologia comunitária realizados naAmérica Latina. Enquanto muitos psicólogos vão a campo, como ossociólogos por exemplo, interessados em desenvolver no oprimido umatomada de consciência da sua realidade e o despertar de uma atitudecrítica com relação à sua situação, o propósito nosso é o de tocar aidentidade desses sujeitos, porquanto o despertar da consciência sejaentendido apenas como um momentono processo de construção da iden-tidade humana.

Dito de outra forma, o que aparece como evidência no trabalhocomunitário, é que a tomada de consciência da sua situação pelo opri-mido, como quer Paulo Freire (1979), constitui umaexigência para qual-quer processo de transformação do cotidiano, mas este processo não seesgota no âmbito da conscientização. Urge trabalhar os mecanismos decoesão grupal e as possibilidades de construção do futuro. Isso só épossível quando se toca nos processos de vinculação grupais, nos senti-mentos, na aceitação do outro, no valor de cada membro da comunida-

A psicologia social problematizadora2 e areviravolta da identidade

A psicologia comunitária do Ceará insere-se na mesma linha dapsicologia social crítica que deu origem à Associação Brasileira de Psi-cologia Social (ABRAPSO). A grande influência de autores que estãona vanguarda deste movimento sobre a Escola do Ceará se deu desde oinício dos trabalhos na década passada. O conceito fundamental da abor-dagem é o de identidade, cujos aspectos são tratados principalmente

2 Estou chamando de psicologia social problematizadora sobretud.oestes dois grandesmovimentos em psicologia social que, embora distintos no tempo e no espaço, se apro-ximam bastante no plano teórico: a psicologia social crítica da ABRAPSO, iniciadapor Sílvia Lane e outros fundadores do movimento em 1979, e a psicologia sócio-histórica soviética de Vigotski e seus continuadores (Leontiev, Luria, etc.). ° adjetivo

problematizadora é posto aqui pelo fato de os pesquisadores das duas correntes traba-lharem com um enfoque dialético, historicista e com a preocupação com uma socieda-de transformada

ISRAELROCHA BRANDÃO.ZULMIRA ÁUREA CIiN. BOMFIM (ORGANIZA DORES) (I~ .JAIUlINSDAPSICOLOGIA COMUNITÁRIA: ESCRITOSSOBREA TRAJETÓRIADEUMMODELOTEÓRICO-VIVENCIAL

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de [valor pessoal (Góis, 1994)] e no seu poder de transformar e modifi-car o mundo [poder pessoal (Rogers, 1989)]. Quando se trabalha nestenível, o que aparece como alvo não é meramente o desenvolvimento daconsciência crítico-transformadora, mas o contato com aquela estrutu-

ra de representações que as pessoas fazem de si mesmas e do mundo. Oque emerge daí é o material histórico cultural, que se assenta sobre umsuporte biológico (Sêve, 1989) que, por um lado, diferencia as pessoasentre si, e, por outro, caracteriza-as como pertencentes a um mesmogrupo social. Estou me referindo ao tema da identidade, entendida comoprocesso, ou metamorfose (Ciampa, 1994a, 1994b).

Portanto, a questão fundamental de todo trabalho em campo rea-lizado até agora pela Escola do Ceará é a construção da identidade hu-mana, entendida como um processo complexo que só é possível com odesenvolvimento das três esferas indissolúveis e constitutivas da iden-

tidade humana: atividade, afetividade e consciência (Lane, 1996).

Por isso, em determinados momentos do trabalho de campo, a

vinculação afetiva dos sujeitos entre si e com a comunidade que fazemparte torna-se muito mais importante que o dar-se conta da realidadeperversa. Não raramente, ao tomar consciência da situação de opressãosocial que o envolve, o homem do campo e da periferia assume umsentimento de inconformismo que, ao invés de gerar compromisso com

a mudança, gera ódio, revolta ou indignação, que ele manifestará mui-tas vezes em direção aos seus próprios companheiros. A afetividade eas emoções são o cimento da identidade. São as relações construídas à

base do afeto que garantem a vinculação do indivíduo com o grupo. Asolidariedade é muito mais a expressão de um gesto de amor enraizado

do que a exteriorização da idéia de libertação. É por este motivo que aafetividade é tão enfatizada nos nossos trabalhos, porquanto evidencie

a impossibilidade de os sujeitos emergirem apenas da construção deuma gélida racional idade.

Neste sentido, o método da análise e da vivência da atividade

comunitária (Góis, 1994) é para nós o mais adequado, pois a atividadedos sujeitos comunitários, repleta de ações instrumentais e comunicati-vas (Leontiev, 1978), funciona como acesso material à identidade. Estaatividade, todavia, não aparece aos psicólogos em campo como mero

objeto de análise, isto é, tal qual um objeto visto na vitrine, admirado edissecado por alguém que está lá fora, mas também como vivência des-ta atividade. Mergulhar com os sujeitos comunitários nos seus proces-sos concretos de trabalho e de prazer, de festa e de reflexão, constituium momento crucial na metodologia aqui referida.

Complementarmente,o método,enquanto acesso à identidade dossujeitos comunitários, é também acesso á própria identidade do psicó-logo. Em umtrabalho realizado com lideranças do Movimento dos Tra-balhadores Rurais Sem Terra (MST) no Maranhão compreendi o efeitodialético que o método engendra: á medida que mergulhava no mundovivido daqueles sujeitos, procurando facilitar a sua apropriação de simesmo e do seu espaço psicossocial, encontrava-me comigo mesmo,com o meu potencial e com uma vontade irresistível de viver e de traba-lhar pelo desenvolvimento daquele grupo, que naquele momento eratambém o meu desenvolvimento.Após horas de trabalho em um mutirãona granja comunitária, uma das muitas tarefas coletivas que envolvia ogrupo e que eu vislumbrava como atividade comunitária, escrevi nomeu diário de campo:

Enquanto depenava aquelas aves, retirava também toda

pena (piedade) que um dia senti por eles. Sentia-me como

um companheiro, diferente deles pela minha história epela

minha inequívoca formação acadêmica, mas me aproxi-

mava deles por estar ali, naquele. momento, participando

daquele ritual. A minha presença era a certeza da minha

cumplicidade para com eles.

Atividade,afetividadee consciênciaprecisamser entendidas comomomentos inequívocos e indissociáveis no acesso à identidade. Estaconvicção não veio apenas da prática comunitária, mas sobretudo daleitura dos trabalhos desenvolvidos por estudiosos do assunto, comoSílvia Lane, Antônio Ciampa e outros pesquisadores da vertente críticaem psicologia social. Do mesmo modo, a compreensão da atividadecomunitária como método do nosso trabalho não seria possível sem aspesquisas de Leontiev e sua Teoria da Atividade (1979). O mesmo pode

ISRAEL ROCHA BRANDÃO .ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM (ORGANIZA DORES)

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ser dito a respeito de Vigostki e seus estudos sobre a linguagem, ouRubinstein e o problema da consciência.

A psicologia comunitária situa-se na trajetória dessa psicologiasocial crítica e problematizadora, realizada por profissionais que de-fendem a construção de uma ciência comprometida com um mundomais justo e mais solidário, como nos fala por exemplo Martín-Baró(1990) com sua psicologia da libertação. "A psicologia comunitáriasurge daí, de umapsicologia social que tenta se contrapor a essa situ-ação (de desigualdades sociais)" (Góis, 1988: 27).

real, mas uma atitude transformadora que permita intervir neste real emodificá-Io de forma radical.

É por isso que ele examina o capitalismo de sua época, tomandocomo base a economia política, e refaz o caminho da aparência à essên-cia proposto por Platão. Com este método, que visa sempre a complexi-dade a partir do simples, a essência a partir do aparente, o pensadoralemão disseca e analisa os principais momentos da sociedade capita-lista de seu tempo. Em que pesem as diferenças entre os métodos deinvestigação e exposição por ele utilizados, há sempre a mesma postu-ra, a saber: a construção de um conhecimento que seja capaz de trans-formar o mundo pela ação coletiva dos homens. É esta postura deconstruçãodosujeitohistóricocapazde mudaro seucotidianopelasuainserção coletiva que a psicologia comunitária persegue.

A dialética que se apresenta como substrato do modelo hegelo-marxiano, para nós, psicólogos comunitários, não é meramente ummétodo de apreensão do real, e, portanto, um método científico. Adialética é a própria lógica de expressão da realidade e da vida. A natu-reza da dialética não é epistemológica, mas ontológica. A realidade, naqual se inserem as nossas comunidades, é dialética enquantoconcretização das suas várias dimensões constitutivas, sobretudo en-quanto totalidade, contradição e movimento (Chepitulin, 1982).O teci-do comunitário apresenta-se como uma totalidade na medida em que ossujeitos estão em contínua interação. Este mesmo tecido comunitárioestá em interação com outros espaços sociais, como outras comunida-des, ou simbólicos, como a cultura do lugar e a religiosidade. A idéia detotalidade remete à compreensão do mundo como uma grande rede emque tudo se relaciona com tudo. Estas interações reticulares, todavia, seconstituem de forma contraditória. Não são, portanto, pré-determina-das e estão sempre situadas em um contexto. O real é sobretudo movi-mento e devenir.

No processo de transformação da realidade, em qualquer nível,inclusive no comunitário, há que existir os sujeitos que são os agentesdesta transformação. Para os psicólogos comunitários estes agentes datransformação não são exclusivamente o proletariado, conforme pres-crevia o marxismo ortodoxo. Primeiro, porque as relações de domina-

o materialismo histórico e dialético e a crença nopotencial do oprimido

Embora não seja regra geral, alguns dos profissionais e estudan-tes que fazem a psicologia comunitária vieram dos movimentos sociais,políticos, eclesiais de base, ou dos partidos de esquerda. Há casos depsicólogos que vieram, inclusive, do seio da própria comunidade ruralou periférica e, portanto, compreendem por vivência o que ela signifi-ca. Para todos estes, o marxismo sempre foi visto como a fonte

inspiradora de todas as lutas sociais no continente latino-americano.Particularmente, na psicologiacomunitária ele se tornou um interlocutorconstante, poiso desejo de construir uma abordagemde base materialistasempre moveu todos os que estiveram em campo ao longo dos anos.

A dialética, como modelo de compreensão teórica do mundo, éanterior a Marx e aos modernos. Os primeiros pressupostos remontam à

época pré-socrática, pois foi Heráclito de Éfeso umdos primeiros pensa-dores a sistematizar um pensamento dialético (Mondin, 1986; Reale &Antiseri, 1990).Entretanto, deve-se a Hegel o mérito de haver elabora-do um sistema calcado em uma visão dialética do mundo e do cotífieci-mento. Se a dialética hegeliana, aprofundando os trabalhos de Kant eFichte, desembocou em um sistema capaz de procurar uma fundamen-tação para o saber e o agir humanos, foi Marx quem deu chão à preten-são hegel,iana.A idéia que move a compreensão marxiana do mundonão é apenas o desejo de manifestar uma postura crítica para com o

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ção e opressão não se dão apenas no nível econômico para se eleger oproletariado como única classe oprimida. Segundo, porque a opressãonão é algo inerte que se possa definir estes como oprimidos e aquelescomo opressores. Os papéis de oprimido e opressor são mutáveis, poisestão sempre inseridos em uma relaçã03.Na comunidade uma mesmapessoa pode ser oprimido socialmente pela miséria e pelo poder econô-mico e, por outro lado, em casa, reproduzir estas mesmas relaçõesassimétricas com os seus familiares, por exemplo. O compromisso dapsicologia comunitária é com o oprimido em qualquer circunstância.Este compromisso não ocorre apenas por solidariedade com a condiçãodo que padece, mas pela crença de que enquanto há oprimidos e opres-sores não há seres humanos.Esta é uma evidência apresentada por Hegelna sua Dialética do senhor e do escravo. Se há o senhor e se existe o

escravo,entãonão há ali o homem,mas duas deformaçõesde sua humani-dade em direções diametralmente opostas e absurdas (Oliveira, 1993).

Diante da situação inumana de opressão, se a possibilidade delibertação coubesse ao senhor, os trabalho de psicologia comunitáriaseriam feitos com os grandes gerentes do poder econômico. Mas, dizHegel, é o escravo quem se liberta e não o senhor que o faz. Por isso otrabalho é realizado com as comunidades e com o oprimido, porquantosobreviva a crença de que somente o oprimido pode se libertar de qual-quer situação de exclusão ou opressã04.

A biodança e a vida como princípio

A biodança constitui hoje um movimento mundial em favor davida, envolvendo pessoas das mais variadas culturas e nações. É umaabordagem que enfatiza o encontro humano, a partir do trabalho grupal

Para Góis (1991) ela é um "sistema de desenvolvimento humano

que visa o estudo e ofortalecimento da expressão dos potenciais huma-

nos através da música, exercicios de comunicação em grupo e vivênciasintegradoras". Para Toro, constitui "um sistema de integração afetiva.renovação orgânica e reaprendizagem dasfunçães originárias da vida"(Tora, 1991). E Roberto Crema (1992) diz que é uma poética do encon-tro, centrada na vida, buscando um ser integrado e plenamente humano.

Todos estão de acordo que a biodança pretende ser não uma abor-dagem psicológica, mas uma pedagogia do encontro humano, cujo ce-nário é o transe musical e cujo pressuposto básico é a crença na existênciade um movimento primordial que pulsa e impulsiona o ser humano àvida. É o princípio da "autopoyesis" de Humberto Maturana (apud Toro,1992), segundo o qual o ser humano é capaz de criar, auto-gerir-se e,em última análise, de realizar os seus potenciais bloqueados, negadosou reprimidos pela culturas.

Os primeiros trabalhos com biodança começaram em 1965, quan-

do Rolando Toro trabalhava no Hospital Psiquiátrico de Santiago noChile e era membro docente do Centro de Estudos de Antropologia

Médica da Escola de Medicina da Universidade do Chile. Naquela épo-ca, a sua preocupação era descobrir novas técnicas de humanização da3 Atualmente há uma compreensão mais ampla das relações de dominação e opressão.

Se na época de Marx, estas relações se manifestavam sobretudo na dimensão econômi-ca, hoje em dia, numa sociedade muito mais complexa, as relações de opressão estãoem todos os lugares e não apenas na dominação de uma classe sobre as outras. Estefenômeno é também algo que se dá no nível micro, conforme observa Foucault, está nafamília, na comunidade e na escola. Está, inclusive dentro de muitos movimentospretensamente revolucionários. A dominação deixou de ser encarada como algo que sedá apenas no nível sistêmico e estrutural (Habermas, 1990), para ser entendida, por-tanto como uma prática onipresente nos dias de hoje, cujas formas mais profundasnem sempre se dão pela via material, mas muitas vezes pela via espiritual (Feuerbach,1988), como expressão de uma violência simbólica ou como controle da subjetividadepela criação de falsas necessidades humanas (Marcuse, 1979; Severiano, 1992).4 PauloFreiretambémfoiumdosprimeirosa utilizaro termooprimidonestaacepção.Como substituição à idéia do proletariado como única categoria emancipadora.

5 Este processo de repressão dos potenciais naturais humanos é simbolizado no mitodo minotauro (Toro, 1988): a morte do minotauro, por Teseu, simboliza, do ponto devista do fundador da biodança, a vitória da razão iluminista sobre o desejo e o instinto.A aniquilação do minotauro representa simbolicamente a aniquilação da vida na suainteireza. Para Toro, o medo do minotauro interior é o medo de si mesmo, ou da pró-pria identidade. Neste contexto, a tarefa que a biodança assume é, através da vivência,resgatar a dimensão auto-criadora do homem. É retomar os processos de nutrição econexão com a vida pela expressão da identidade. Na vivência procura-se reconciliar olagos e o instinto,medianteo desafio de assumiros próprios medos. Abraçar o minotaurointerior significa inaugurar um estilo de vida em que os referenciais sejam cenestésicos,estéticos e transcendentais (Toro,1988).

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ciência médica e da psiquiatria. As intuições deste modelo alternativosurgiram quando observou os efeitos positivos que as festas tinham nodesenvolvimento dos pacientes. Era o ponto de partida para a evidênciade que estes efeitos seriam potencializados se associados a determina-do tipo de música (integradoras) e aos movimentos corporais6.

Foi, entretanto, em Buenos Aires, em 197], que Toro aprofundouos seus primeiros trabalhos com psicodança e já em 1976 começa adifundí-Ianas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Em 1978,substituiu o termo psicodança por biodança, pois percebera que aquelemovimento não poderia reduzir-se ao recinto psicológico e que o mode-lo teórico evoluíra, segundo ele, de uma postura antropocêntrica paraum horizonte biocêntrico. Toro treinou profissionais, formandofacilitadores e consolidando o movimento com trabalhos no Brasil, Ar-

gentina, Peru, Colômbia, Venezuela e Chile. Surgiram então as primei-ras associações nacionais, as escolas de biodança e, a partir daí, começao processo de expansão dos grupos regulares de biodança pelo conti-nente europeu, inicialmente, com a fundação da Escola de Milão e, pos-teriormente, com inúmeros seminários e cursos ministrados por Toro epor seus colaboradores através do mundo inteiro.

Ainda na década de oitenta, a biodança chega ao Nordeste doBrasil com criação da primeira escola de biodança da história. A EscolaNordestina foi organizada sob a liderança de Cezar Wagner Góis em1982na cidade de Fortaleza. Como Cezar Góis acumulava o papel deprincipal liderançatanto no movimentode psicologiacomunitária, comono movimento biodança, a partir de então as duas abordagens forma-ram um binômio indissociável na prática daqueles que adentravam osbairros periféricos, as localidades rurais e as favelas com o intuito de

construir uma psicologia problematizadora e crítica e, por outro lado,desejosos de contribuir efetivamente para a mudança social em um es-tado que sempre fora marcado pela pobreza e pelo c1ientelismo.

Nessa relação dialógica que se estabeleceu entre as aborda-gens, a influência da biodança sobre a psicologia comunitária emer-giria em dois níveis: ela apareceria como instrumento de trabalho nocampo e também como base teórica da ação prática em psicologiacomun itária.

Pode se falar da biodança como instrumento em duas situaçõesdistintas: há aqueles casos em que aparece a demanda por um gruporegular de biodança durante o trabalho comunitário. Nestas circunstân-cias o grupo regularcontribui para o desenvolvimentocomunitáriocomoumaatividade complementare inseridonas outras estratégiasde vivênciada atividade comunitária. Em outras situações, não surge a demandapor um grupo de biodança, mas, durante o trabalho comunitário, Opsi-cólogo utiliza várias técnicas oriundas daquela abordagem na tentativade potencializar os processos de mudança. .

Na experiência na favela do Dendê, por exemplo, além dos traba-lhos envolvendo grupos de jovens, que se mobilizaram em torno deuma estratégia de prevenção e combate aos entorpecentes, havia tam-bém um trabalho de vinculação entre aqueles jovens e a sua comunida-de mediada pelo grupo de biodança. Este trabalho foi realizado porZulmira Bomfim. Góis (] 994) fala deste tipo de estratégia, quando des-creve o processo de um grupo regular, como sendo composto de umaparte mais verbal e outra mais vivencia!.

Em um outro trabalho, realizado por Altamir Aguiar e por mim,comjovens lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST), na fazenda Diamante Negro, em Imperatriz, noMaranhão, utilizamos também a biodança como instrumento. Elaemergia, ao lado do círculo de cultura, para aprofundar a vinculaçãodaquele grupo consigo mesmo e com as suas potencial idades. A di-ferença é que, neste caso, não havia um grupo de biodança comoatividade paralela ao círculo de cultura, mas inserido neste, ou seja,à medida que o grupo caminhava em um sentido - mais de vinculaçãoafetiva e consolidação coletiva ou mais de compreensão crítica e

r. Para verificar a eficácia da biodança neste tipo de trabalho, os psiquiatras TarcísioDiniz (1986) e Severo Júnior (1990) realizaram experiências distintas com psicóticosem dois importantes hospitais psiquiátricos de Fortaleza. Ambos constataram que abiodança ajudava significativamente no trabalho com os pacientes. Diniz constatouque pacientes submetidos ao tratamento utilizando biodança apresentavam desenvol-vimento mais rápido do que aqueles que passavam apenas pelas técnicas usuais. Seve-ro Júnior pôde, em alguns casos, substituir o uso de determinados psicofármacos pelassessões de biodança.

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desejo de transformar a realidade - colocávamos como instrumentoum ou outro tipo de estratégia: se o momento era mais para o desper-tar da consciência crítica, mergulhávamos com eles nos círculos deencontro ou nos círculos de cultura, ou ainda nas oficinas de poesiacoletiva ou colagem. Por outro lado, se o que estava em jogo era odesejo de naquele instante reforçar os vínculos de companheirismoe identificação com o outro e com a categoria social, era o momentode trabalhar utilizando técnicas oriundas da biodança e que tinhamcomo tema as linhas fundamentais daquela abordagem: vitalidade,sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência (Toro, 1991;Góis, 1995).

O outro nível no qual a biodança sempre apareceu no trabalhoremete não exatamente ao posto em discussão, mas aos pressupostos dotrabalho comunitário. Estou falando dos princípios do profissionalfacilitador. Conforme dissera anteriormente, a grande maioria dos psi-cólogos que passaram pelo NUCOM foi profundamente influenciadapela biodança, pois havia um ambiente favorecedor ao contato com estaabordagem. O clima de vinculação afetiva entre os participantes, o es-tudo do princípio biocêntrico e o compromisso com a transformaçãosocial, faziam do materialismo e da biodança presenças inconfundíveisno colocar-se frente aos problemas nas comunidades. Ambos serviamcomo óculos que permitiam compreender a sociedade. O materialismopermitia apreender teoricamente a tecitura daquela realidade perversapresente e, por outro lado, com a biodança, surgia a possibilidade deenxergar os potenciais daqueles sujeitos imersos naquele mundo gélidoe desencantado. Emergiam as condições de cultivar o material saudávele o potencial criativo em uma estratégia concreta e até mesmo lúdica,para não dizer prazerosa.

Neste nível de influência da biodança sobre a psicologia comuni-tária é que surge a discussão sobre o princípio biocêntrico (Toro, 1992;1995;Góis, 1992;Brandão, 1996).A compreensão de que o universo seorganiza teleonomicamente para a vida é um dos pressupostos funda-mentais da biodança (Toro, 1995,p. 06). Isto quer dizer que, em desafioàs compreensões positivistas e mecanicistas da ciência moderna, o uni-verso, para os facilitadores de biodança, não é visto apenas como uma

engrenagem gigantesca a ser manipulada pelo homem, mas como a ex-pressão de um grande sistema vivente7.

A reposição da idéia do universo como sistema vivo significanão um retorno ao naturalismo grego ou ao animismo pré-sumeriano,mas a evidência de que os seres vivos, o planeta e o universo estão emuma interação profunda e em constante movimento. A idéia de vidaaqui é sinônimo de transformação e mudança. Apenas o que não estávivo está inerte. Vida é o mesmo que auto-regulação. Dizer que o uni-verso está vivo não significa dizer que ele imita a vida humana, mas queconstitui um grande sistema auto-regulado e em constante movimento.

Essa visão biocêntrica do mundo tem marcado profundamente a

psicologia comunitária da Escola do Ceará. Isto quer dizer que os profis-sionais que estão em campo não mais estão mo\i4dos apenas pela buscapolítica do socialismo, mas pela realização da vida na sua plenitude. Subs-tituiu-se a preocupação meramente política por uma outra, ecológica, muitomais ampla. A vida é entendida como té/os da intervenção comunitária ea identidade só pode ser pensada como pulsação do sentir-se vivo. Amiséria, a fome, as desigualdades sócio-econômicas e a opressão em to-dos os níveis são vetores que obliteram a identidade e que funcionamcomo expressão da antivida. O trabalho em psicologia comunitária pro-cura tematizar a compreensão de uma ecologia integral que respeite avida em todas as possibilidades que ela se apresente.

Em última análise, a caminhada companheira da psicologia comu-

nitária com a biodança garantiu à primeira a possibilidade de eficácia econcretude e à segunda criticidade e inserção na problemática da miséria,da opressão e da fome que obliteram a expressão da identidade humanana sua forma mais radical.

7 A idéia do universo como algo vivo é antiquíssima e sempre esteve presente na histó-ria do conhecimento. Nas civilizações pré-sumerianas havia o pensamento animista deum universo em movimento, mas dentro de uma concepção antropomórfica. Mesmo acomplexa religião popular grega também se enquadrava nessa forma de entender ouniverso. Com o advento da filosofia, a idéia de um universo regulado, organizadoracionalmentecomokosrnos, garantea continuidadedo universovivo. O homemdomundoantigocontemplao kosrnoscomadmiração.Esse paradigmasobreviverádu-rante a idade média e só será superado com o surgimento da ciência moderna, para aqual o universo não é algo sagrado (Hoykaas, 1989), mas uma máquina que os homenspodem manipular e transformar segundo as suas necessidades.

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