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OS INCRÍVEIS VIVENDO NESTE MUNDO LOUCO! por Roberto Iwai Na metade da década de 60 Os Incríveis tinham acabado de passar por um episódio polêmico na sua carreira: rompiam com seu empresário e mentor Antonio Aguillar. Aguillar, também conhecido radialista em São Paulo, detinha os direitos do nome The Clevers, até então como era conhecida a banda. A trupe de Netinho (bateria), Manito (saxofone), Nenê (vocal e baixo), Risonho (guitarra) e Mingo (vocal e guitarra) até tentou negociar a compra dos direitos do nome, mas foi em vão. Adotaram então o adjetivo no qual eram mais conhecidos e apresentados via discos (Os Incríveis The Clevers, de 1964, e Dançando com The Clevers Incríveis, de 1965), e se apresentavam como Os Incríveis desde então. Lançando o primeiro disco com o novo nome em 1965, Os Incríveis iam abrindo cada vez mais espaço para as canções vocais dentro de seu repertório. Simbolicamente, a adoção de um novo nome deu um outro rumo à banda. Uma trajetória que, proposital ou não, seguia-se em Page 1 of 3 the freakium! . revista virtual 27/8/2010 http://www.freakium.com/edicao5_incriveis.htm

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Page 1: Os incríveis revista

OS INCRÍVEIS

VIVENDO NESTE MUNDO LOUCO!

por Roberto Iwai

Na metade da década de 60 Os Incríveis tinham acabado de passar por um episódio polêmico na sua carreira: rompiam com seu empresário e mentor Antonio Aguillar. Aguillar, também conhecido radialista em São Paulo, detinha os direitos do nome The Clevers, até então como era conhecida a banda.

A trupe de Netinho (bateria), Manito (saxofone), Nenê (vocal e baixo), Risonho (guitarra) e Mingo (vocal e guitarra) até tentou negociar a compra dos direitos do nome, mas foi em vão. Adotaram então o adjetivo no qual eram mais conhecidos e apresentados via discos (Os Incríveis The Clevers, de 1964, e Dançando com The Clevers Incríveis, de 1965), e se apresentavam como Os Incríveis desde então.

Lançando o primeiro disco com o novo nome em 1965, Os Incríveis iam abrindo cada vez mais espaço para as canções vocais dentro de seu repertório. Simbolicamente, a adoção de um novo nome deu um outro rumo à banda. Uma trajetória que, proposital ou não, seguia-se em

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mutação.

Mutação essa que em 1967 culminaria no segundo disco sob o nome Os Incríveis, e obra-prima dentro da obra do grupo. Os Incríveis Neste Mundo Louco trazia uma banda que literalmente renascia e se reinventava no estilo que ela mesma ajudara a firmar.

Como dando um passo à frente de tudo que ocorria no momento, Os Incríveis fizeram uso do que havia de mais moderno nos estúdios da época para registrar este que é seu disco mais expressivo e mais explosivo. Permeando o som garage como nunca, a banda joga todas as músicas em um mar fuzz e capta uma sonoridade que faz cada música, seja ela versão ou não, soar autenticamente como se tivesse sido composta no frescor do momento pelo próprio grupo.

Manito abre esplendorosamente o álbum com uma versão instrumental de “With a Girl Like You” do The Troggs, tendo o sax suprindo os vocais, e em versão mais acelerada. Tudo como uma grande farra, com o grupo acompanhando vocalmente Manito com divertidas onomatopéias, como que indicando que o passado instrumental, twist e atado às tendências da época, ficaria dessa vez um pouco de lado, dando espaço para um novo panorama musical.

E “Renascerá”, original da banda Los Brincos, prossegue com o disco. Surgindo mais agitada que a original, traz uma selvagem linha de guitarra e uma bateria seca e precisa, além de barulhos que se assemelham a sinos e xilofone e ao belo e criativo baixo de Nenê. Tudo em uma roupagem inédita para a banda (Os Incríveis inclusive chegariam a regravar “Renascerá” em 69, com uma sonoridade mais branda).

Algumas canções do disco surgem como sendo de autoria de outras bandas, tendo Os Incríveis interpretado na língua que foram criadas. Caso de “Hi-Lili-Hi-Lo”, música da trilha sonora do filme musical Lili de 1953, e “Piangi Con Me”, do The Rokes, que carrega uma primorosa guitarra fuzz, simples e eficaz, se mesclando e contrastando com a singela interpretação em original italiano.

Mas fuzz simples, beirando ao neurótico e primitivo, é o usado em “Hold Tight” (dos britânicos do Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich). Resfolegando a sonoridade para todos os lados de modo totalmente bruto, dá simplesmente uma inédita cara à original. Assim como “Giulieta”, novamente dos Los Brincos, mas dessa vez cantada na língua original e mergulhada em fuzz, dando o som e tom ofensivo que o disco todo possui.

Mesmo os romantismos e padrões fonográficos soavam originais e incomuns. Com tantas versões compondo o disco, a banda fez a própria, de autoria de Mingo, para o hit “Mamãe Passou Açúcar Em Mim” de Carlos Imperial, vertendo-a para uma bizarra versão em inglês. Bonitas canções como “Um Sorriso Champagne” e a italianíssima “La Fisarmonica” compõe a base romântica do disco.

Um dos momentos altos do disco, contudo, é uma totalmente original da banda. Composta por Mingo, “Don Pepe Legal” é uma inspirada música instrumental que mescla jazz e trilha sonora de espionagem em um total

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clima de jam session e improvisos.

“Que Sera Sera (Whatever Will Be Will Be)”, de Jay Livingston, aparece com novamente o sax de Manito suprindo os vocais, e fecha o disco.

Totalmente inesperado, Os Incríveis Neste Mundo Louco é o trabalho mais ousado da banda, digna de integrar qualquer coletânea do gênero garage/Nuggets mundo afora.

Muitas décadas depois, a polêmica em torno de direitos sobre a banda continua a assombrar a obra, o que impossibilita o relançamento de Neste Mundo Louco em formato digital. Uma tímida tentativa foi o lançamento da coletânea Vitrola Digital em 2001, que incluía quatro faixas do disco, mas que após o lançamento logo foi recolhida das lojas pelo motivo citado.

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