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VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 Os impactos econômicos do turismo e sua implicação nas políticas públicas: o caso do município de Macaé-RJ, Brasil Luiz Gustavo M. Barbosa 1. INTRODUÇÃO Nos últimos 50 anos, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001), o turismo internacional mostrou um crescimento sustentável a uma taxa média anual de 6,8 %, passando de 25 milhões de chegadas, em 1950, para 697,8 milhões em 2000, resistindo a condições políticas e econômicas adversas, e se tornando uma das maiores indústrias do mundo, com um faturamento de U$ 477,9 bilhões No Brasil, jamais se falou tanto da “indústria do turismo”. Em 2001, segundo dados da EMBRATUR, o país recebeu cerca de 4,6 milhões de turistas estrangeiros e cerca de 40 milhões de brasileiros viajaram internamente. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central e pela EMBRATUR, a Conta Turismo do Brasil totalizou, em 2000, uma receita de US$ 4.227.606 (gastos de turistas estrangeiros no Brasil), enquanto que a despesa somou US$ 3.893.000 (gastos de turistas brasileiros no exterior), o que gerou um saldo positivo de US$ 334.606. No entanto, apesar dos números expressivos, existe uma tendência dos órgãos públicos responsáveis pelo desenvolvimento do setor de turismo no Brasil de não utilizar pesquisas e estudos técnicos para balizar suas ações, de forma a entender melhor esta complexa atividade, minimizando, assim, os possíveis erros. O Estado do Rio de Janeiro, segundo a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo), recebeu cerca de 817.000 turistas estrangeiros em 2000, sendo que deste total, 61,13% assinalaram turismo como o principal motivo da viagem; 18,37% viajaram a negócios; 8,75% vieram com o intuito de participar de congressos e convenções; 8,25% para visitar familiares e amigos; e 3,50%, por outros motivos. De acordo com a TURISRIO (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro), o número de hóspedes nacionais nos hotéis do estado, a negócios, é superior ao daqueles motivados simplesmente pelo “turismo de lazer”. A relevância da participação do segmento de negócios na demanda turística do Estado do Rio de Janeiro comprova a retomada do crescimento econômico fluminense, sinalizando para a região da Bacia de Campos e particularmente o município de Macaé. Após a instalação da Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A), em 1978, o município de Macaé passou a constituir-se em um dos mais importantes do Estado. Com a chegada de empresas prestadoras de serviços do setor petrolífero, as oportunidades de trabalho ampliaram-se consideravelmente, já que outras organizações estão procurando se instalar em Macaé. Tal fato tende a aumentar a demanda por infra-estrutura turística para acomodar os viajantes de negócios para a cidade. Neste contexto, vale ressaltar que o petróleo é um recurso natural esgotável e que desta forma o desenvolvimento de Macaé baseado nesta indústria tem prazo limitado. No entanto, este tempo está se prolongando com o crescente número de pesquisas realizadas pela Petrobras, que vem estudando a viabilidade técnica de explorar a extração do petróleo em águas cada vez mais profundas. Desta forma, Macaé precisa criar bases para a construção de seu futuro, visualizando o dia em que os seus poços de petróleo começarão a se esgotar, podendo ocasionar diversos distúrbios econômicos e sociais. Um dos setores considerados potenciais para o município de Macaé é o setor de turismo de lazer, aproveitando suas prodigalidades de natureza e cultura e utilizando a infra-estrutura local que

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VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002

Os impactos econômicos do turismo e sua implicação nas políticas públicas: o caso do município de Macaé-RJ, Brasil

Luiz Gustavo M. Barbosa 1. INTRODUÇÃO

Nos últimos 50 anos, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001), o turismo internacional mostrou um crescimento sustentável a uma taxa média anual de 6,8 %, passando de 25 milhões de chegadas, em 1950, para 697,8 milhões em 2000, resistindo a condições políticas e econômicas adversas, e se tornando uma das maiores indústrias do mundo, com um faturamento de U$ 477,9 bilhões

No Brasil, jamais se falou tanto da “indústria do turismo”. Em 2001, segundo dados da EMBRATUR, o país recebeu cerca de 4,6 milhões de turistas estrangeiros e cerca de 40 milhões de brasileiros viajaram internamente. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central e pela EMBRATUR, a Conta Turismo do Brasil totalizou, em 2000, uma receita de US$ 4.227.606 (gastos de turistas estrangeiros no Brasil), enquanto que a despesa somou US$ 3.893.000 (gastos de turistas brasileiros no exterior), o que gerou um saldo positivo de US$ 334.606.

No entanto, apesar dos números expressivos, existe uma tendência dos órgãos públicos responsáveis pelo desenvolvimento do setor de turismo no Brasil de não utilizar pesquisas e estudos técnicos para balizar suas ações, de forma a entender melhor esta complexa atividade, minimizando, assim, os possíveis erros.

O Estado do Rio de Janeiro, segundo a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo), recebeu cerca de 817.000 turistas estrangeiros em 2000, sendo que deste total, 61,13% assinalaram turismo como o principal motivo da viagem; 18,37% viajaram a negócios; 8,75% vieram com o intuito de participar de congressos e convenções; 8,25% para visitar familiares e amigos; e 3,50%, por outros motivos. De acordo com a TURISRIO (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro), o número de hóspedes nacionais nos hotéis do estado, a negócios, é superior ao daqueles motivados simplesmente pelo “turismo de lazer”. A relevância da participação do segmento de negócios na demanda turística do Estado do Rio de Janeiro comprova a retomada do crescimento econômico fluminense, sinalizando para a região da Bacia de Campos e particularmente o município de Macaé.

Após a instalação da Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A), em 1978, o município de Macaé passou a constituir-se em um dos mais importantes do Estado. Com a chegada de empresas prestadoras de serviços do setor petrolífero, as oportunidades de trabalho ampliaram-se consideravelmente, já que outras organizações estão procurando se instalar em Macaé. Tal fato tende a aumentar a demanda por infra-estrutura turística para acomodar os viajantes de negócios para a cidade.

Neste contexto, vale ressaltar que o petróleo é um recurso natural esgotável e que desta forma o desenvolvimento de Macaé baseado nesta indústria tem prazo limitado. No entanto, este tempo está se prolongando com o crescente número de pesquisas realizadas pela Petrobras, que vem estudando a viabilidade técnica de explorar a extração do petróleo em águas cada vez mais profundas.

Desta forma, Macaé precisa criar bases para a construção de seu futuro, visualizando o dia em que os seus poços de petróleo começarão a se esgotar, podendo ocasionar diversos distúrbios econômicos e sociais. Um dos setores considerados potenciais para o município de Macaé é o setor de turismo de lazer, aproveitando suas prodigalidades de natureza e cultura e utilizando a infra-estrutura local que

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está sendo construída e desenvolvida para o turismo de negócios. Para tal, faz-se necessário o conhecimento da atividade turística, principalmente no que tange aos aspectos econômicos e os possíveis impactos que seu desenvolvimento pode causar.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O TURISMO COMO FENÔMENO ECONÔMICO

Segundo Barbosa (1998), do ponto de vista econômico, a atividade turística se torna importante não pelo fato da “viagem a trabalho ou lazer”, mas, sim, pelas conseqüências não-intencionadas deste ato. Quando o turista viaja a lazer, ele não trabalha, o que afeta diretamente a oferta de mão-de-obra, pois possibilita a abertura de novas vagas no mercado. Para viajar a lazer, o turista tem de trabalhar e poupar. Isso significa que, numa sociedade onde existe a cultura do turismo, há permanentemente oferta de recursos derivados da poupança dos que estão esperando o momento de transformá-los em dispêndio de viagem, e uma intensa movimentação das atividades produtivas derivadas do turismo. Quando o turista viaja para o exterior, participa de um amplo movimento internacional de capital, gerando demanda adicional e transferindo divisas para o país escolhido.

No entanto, o adequado tratamento econômico do turismo exige conhecer detalhadamente os impactos econômicos derivados desta atividade, uma vez que os turistas gastam o seu dinheiro numa ampla variedade de mercadorias e serviços, tais como: transporte, acomodação, alimentos, bebidas, comunicação, entretenimento, artigos em geral. Este dinheiro é visto como uma injeção de recursos, via aumento da demanda na economia local, que não existiria sem esta atividade.

Cooper (2001) ressalta que o valor dos gastos realizados pelos turistas representa somente parte dos impactos econômicos. Para uma análise completa, outros aspectos devem ser levados em consideração, como por exemplo:

• Efeitos indiretos e induzidos, como compra de fornecedores e novos negócios abertos em função da renda do turismo;

• “Vazamento” dos gastos locais, como a compra de produtos importados para suprir a necessidade dos turistas;

• Deslocamento de mão-de-obra e custos de oportunidade, como a atração de empregados de outros setores para trabalhar com o turismo.

O “efeito multiplicador” é citado freqüentemente como forma de capturar efeitos secundários do gasto turístico e prova do grande alcance dos seus benefícios em diferentes setores da economia.

As análises econômicas, por si só, tendem a analisar o turismo por uma perspectiva unilateral, ressaltando o lado positivo dos impactos econômicos do turismo, mesmo sabendo que há diversos impactos econômicos negativos como: sazonalidade, trabalhos temporários, falsa sensação de empregabilidade, inflação, importações (vazamentos). Por outro lado os estudos de impactos ambientais, sociais e culturais tendem a enfocar mais os custos inerentes ao desenvolvimento turístico, mesmo sabendo que existem impactos positivos como: proteção de sítios naturais e recursos culturais, educação ambiental, elevação da auto-estima local etc. (Stynes, 1999; Sinclair, 1997; Cooper et al, 2001).

Stynes (1999) ressalta a existência de uma grande variedade de métodos utilizados para o cálculo dos impactos econômicos de turismo. Estes vão desde as análises conjunturais, até a utilização de modelos matemáticos complexos. Estas análises são utilizadas como instrumentos de apoio a decisões relativas ao turismo, sejam referentes ao setor público, privado ou à comunidade. No entanto, esta diversidade

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de análises pode confundir os tomadores de decisão sobre as políticas públicas a serem adotadas para o turismo.

2.2 ANÁLISE DO IMPACTO ECONÔMICO

A análise de impacto econômico verifica os fluxos de gastos associados com atividade turística, identificando as mudanças no comércio, pagamento de impostos, renda e geração de trabalhos devidos à atividade de turismo. Embora cada tipo de análise econômica possua características que as distinguem umas das outras, elas são, muitas vezes, confundidas, já que um problema a ser analisado geralmente exige diferentes tipos de análises a serem feitas.

Em geral, o estudo mais utilizado para avaliar a contribuição da atividade turística para a economia de uma região é o estudo de impacto econômico do turismo (Stynes, 1999). Este estudo revelará as relações entre os setores da economia e o turismo, assim como proverá estimativas sobre as mudanças que poderão ocorrer na economia após uma ação.

As implicações mais comuns de uma análise do impacto econômico do turismo são:

- Mudanças na oferta do setor poderão envolver mudanças quantitativas (abertura ou fechamento de hotéis e atrativos) - acarretando uma expansão ou contração da capacidade, ou mudanças qualitativas (melhora na qualidade ambiental, infra-estrutura local, natureza dos produtos e serviços disponíveis na região). Estas mudanças provavelmente resultarão em diversos impactos que precisam ser analisados cuidadosamente.

- A avaliação dos impactos econômicos devido a mudança na demanda turística, mudança na população, na posição competitiva da região, promoções, modismo, mudanças nas variáveis econômicas. Tudo isso provavelmente resultará em alterações na quantidade de turistas para a região e nos gastos turísticos. Uma análise de impacto econômico pode calcular a magnitude e a natureza destes impactos.

- A avaliação dos efeitos de ações e políticas que afetem a atividade turística de forma direta ou indireta. Desta forma os tomadores de decisão poderão ter informações e subsídios para analisar e entender as conseqüências das ações a serem realizadas e escolher a melhor alternativa.

- Entender a estrutura econômica e as interdependências entre os diferentes setores na economia local. Os estudos econômicos ajudam a mensurar o tamanho e a estrutura do setor de turismo em determinada região, e sua ligação com os demais setores econômicos.

- Comparar os impactos econômicos em diferentes alternativas de alocação de recursos para o desenvolvimento local. Este estudo poderá servir para incentivar o gasto público no setor de turismo, ou mesmo a obtenção de tratamento diferenciado relativo a outros setores da economia.

2.3 O EFEITO MULTIPLICADOR DA ATIVIDADE TURÍSTICA

Os gastos turísticos têm um efeito cascata sobre a economia. Este começa com os turistas gastando nos serviços chamados “front line”, como transporte, hotéis e restaurantes, que são drenados para o resto da economia.

De acordo com Cooper (2001) os efeitos diretos das atividades são os gastos feitos pelos turistas nos estabelecimentos que fornecem os bens e os serviços turísticos. Parte deste valor sairá imediatamente da economia para cobrir os gastos com as importações necessárias para cobrir a oferta desses produtos

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e serviços do “front line”. Desta forma, os impactos diretos dos gastos tendem a ser menores que o próprio gasto, a não ser num raro caso em que a economia local consegue produzir e satisfazer todas as necessidades dos turistas.

FIGURA 1 : - EFEITO MULTIPLICADOR DO TURISMO A figura 1 demonstra que os estabelecimentos comerciais que recebem os gastos diretos dos turistas precisam de fornecedores, ou seja, precisam comprar bens e/ou serviços de outros setores dentro da economia local. Por exemplo: hotéis contratarão serviços como os de construção civil, bancos, contadores, alimentação e bebidas. Parte destes gastos sairá de circulação, pois os fornecedores precisarão comprar produtos importados para cobrir suas necessidades. Ou seja, estes fornecedores precisarão comprar bens e serviços de outros fornecedores, e assim por diante. A atividade econômica gerada em conseqüência das rodadas de compras e gastos é conhecida como efeito indireto.

O efeito induzido é aquele gerado através dos salários, aluguéis e juros recebidos da atividade turística que resultam em outras atividades econômicas. Por exemplo, os juros pagos ao banco por um empréstimo gerarão mais recursos para futuros empréstimos e, conseqüentemente, ocorrerá um aumento da atividade econômica.

Assim, o cálculo dos impactos econômicos do turismo é uma tarefa muito mais complicada do que simplesmente calcular os níveis de gastos dos turistas. A estimativa do impacto econômico do turismo, quando baseado apenas nos gastos, tende a ser impreciso. Somente quando todos os três níveis de impactos são estimados é que se pode chegar aos reais impactos dos gastos turísticos.

2.4. MULTIPLICADORES DOS GASTOS TURÍSTICOS

Para traduzir os gastos dos turistas em impactos econômicos, é necessário calcular os “multiplicadores” de cada economia. O “multiplicador” é um dos conceitos econômicos mais utilizados para a tomada de decisão no desenvolvimento do setor.

Fletcher (1991) ressalta que o conceito do “multiplicador” é baseado no reconhecimento de que as vendas de uma firma levam-na a comprar produtos e serviços de outras, dentro da economia local, ou seja, os setores econômicos são interdependentes. Assim sendo, uma mudança na demanda final de determinado setor afetará não somente o setor em questão, mas também os setores onde estão os fornecedores de bens e serviços para este. No caso do turismo, qualquer mudança nos gastos afetará o nível de produção da economia, a taxa de desemprego, a renda média familiar, a receita do governo e a balança comercial. Porém, a magnitude de tal mudança nos fornecedores poderá ser maior, igual ou menor do que nos gastos turísticos.

Ainda segundo Fletcher, o termo “tourism multiplier” (multiplicador turístico) refere-se à taxa calculada através de duas mudanças: nas variáveis chaves de produção (renda, emprego, receitas de governo) e nos gastos turísticos.

Esse conceito comprova a alta dependência das empresas prestadoras de serviços turísticos. Isso pode significar que, além dos impactos econômicos do turismo, uma falha na prestação dos serviços, em qualquer momento, pode gerar uma frustração não apenas com o serviço mal realizado, mas, sim, com a experiência da viagem como um todo. Desta forma, os benefícios e os custos econômicos do turismo atingem virtualmente toda a região.

No entanto, segundo Wanhill (1997), a atividade turística também envolve custos econômicos: custos

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diretos, incorridos em qualquer negócio turístico; custos governamentais, na provisão de infra-estrutura para melhor servir aos turistas; e os custos pagos pela comunidade, representados pela inflação local, que o turismo pode gerar.

Ressalte-se que, de acordo com Oliveira (2001), entender os impactos da atividade turística e a relação do turismo com outras atividades econômicas é fundamental para a busca de soluções. Dessa forma, este estudo avaliará a contribuição da atividade turística para a economia de Macaé, levando em conta as relações entre os setores da economia e o turismo, assim como prover as estimativas sobre as mudanças que poderão ocorrer na economia, após uma ação no setor. Desta maneira, a elaboração de planejamentos nacionais, estaduais e municipais para o desenvolvimento do turismo precisa de estudos de impactos econômicos, já que este pode servir como principal instrumento para a tomada de decisões, contribuindo para a maximização dos impactos positivos e minimização dos impactos negativos.

2.5 CONSTRUÇÃO DO MODELO PARA MENSURAR O IMPACTO ECONÔMICO DO TURISMO EM MACAÉ

O modelo que será utilizado para estimar o impacto dos gastos do setor turismo na economia de Macaé é uma extensão do modelo “input-output model” elaborado por Stynes (1999) e Fletcher (1991), amplamente aplicado em estudos internacionais para mensurar o impacto econômico do setor de turismo.

É importante estabelecer a diferença entre o impacto econômico associado com as despesas turísticas (que está sendo aqui abordado), e o que é associado ao desenvolvimento do turismo. O primeiro faz referência aos efeitos permanentes e às mudanças nas despesas, enquanto o segundo está relacionado ao impacto da construção e financiamento de instalações relacionadas ao setor. A diferença entre estes dois aspectos é significativa, já que eles exigem distintas abordagens metodológicas. No entanto, o cálculo de ambos é feito através da análise e do cálculo de multiplicadores, sendo que diferentes multiplicadores para cada análise.

Na abordagem metodológica associada ao impacto dos gastos do setor turístico sobre a economia, é fundamental conhecer e definir as variáveis e os multiplicadores do modelo para um melhor entendimento dos resultados, provenientes de sua aplicação. Nessas condições, primeiro se definem as variáveis e os multiplicadores; em seguida, aplica-se o modelo.

2.6 AS VARIÁVEIS E OS MULTIPLICADORES

Os dados da pesquisa permitem a estimativa de alguns dos mais importantes parâmetros do turismo no município de Macaé. A amostra apresenta altos níveis de confiabilidade, que suportam inferências nos agregados do trabalho, particularmente no que tange a mensuração do impacto econômico do turismo.

Essas informações são apresentadas com vistas a fornecer um balizamento das inferências possíveis e de seus níveis de confiabilidade. Assim, sem incorrer em viés de estimativa, pode-se expandir o número de turistas, em nível da população pesquisada, para o restante da população de interesse, ficando essas estimativas subordinadas às hipóteses ou a cenários estabelecidos.

PREMISSAS

(1) Admitir que, dentre a população pesquisada, todos que responderam que estavam em hotéis representam a porcentagem total de viajantes que utilizam meios de hospedagem na cidade

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de Macaé.

(2) Admitir que a taxa de ocupação média pesquisada pode ser considerada uma taxa média anual para o setor hoteleiro de Macaé, uma vez que a sazonalidade da cidade é semanal e não anual.

(3) Admitir que pessoas nas diferentes categorias (casas alugadas, de amigos ou parentes e viajantes de um dia) também compõem o público alvo da pesquisa.

ESTIMATIVAS

Admitidas as premissas (1, 2 e 3), ter-se-ia o número médio de não-residentes por dia em Macaé, extrapolando para a população flutuante a seguinte equação: taxa de ocupação média da cidade no período pesquisado, multiplicado pelo número médio de pessoas por unidade habitacional (UH) e o número médio de UH’s.

Os dados de entrada do modelo são: número de visitantes ou turistas, estadia média para cada categoria, taxa de ocupação e número total de leitos, gasto médio de cada categoria, margens (comercial, produção local, importação e impostos) e os multiplicadores (renda, emprego e vendas).

Já os dados referentes às variáveis independentes são: número de visitantes, e estadia média para cada segmento de acomodação, determinados a partir de uma pesquisa de campo.

Em relação às margens e aos multiplicadores, a questão é mais complexa e exige uma análise detalhada dos setores da economia, a participação de cada uma delas na economia de Macaé e ainda, sua inter-relação.

Para a determinação desses multiplicadores também foram utilizados, como parâmetro, os multiplicadores dos gastos do setor de turismo brasileiro produzidos pela FIPE/USP (1998) além da Matriz Insumo e Produto da Fundação CIDE (2001), e da análise do comportamento do modelo proposto por Stynes (1999) e Fletcher (1991), aplicado em outros países. O modelo que sustenta este trabalho se destaca três tipos de multiplicadores: produto, renda e emprego.

O multiplicador de produto ou venda mede a quantidade de produto adicional gerada na economia de Macaé, como resultado do aumento nas despesas turísticas. Este conceito é semelhante ao multiplicador de transações (ou vendas), que mede a quantidade de receita empresarial criada na economia, como resultado do aumento da receita turística. Neste trabalho, utilizaremos este conceito de multiplicador, aliado ao conceito de margem para medir o impacto dos gastos turísticos nas vendas do comércio da cidade. Um multiplicador de vendas deve levar em conta as mudanças na demanda final dentro da região, incorporando as modificações no total de vendas direta, indireta e induzida.

É bom salientar que, para produtos fabricados fora de Macaé, só a margem de varejo, alguma porção do atacadista, e as margens de passagem, aparecem como demanda final para a região. O custo (preço de produtor) para o varejista ou atacadista do próprio bem, vaza, imediatamente, da economia da cidade. Dessa forma, a margem do comércio é determinada pela porção de gastos dos visitantes que representa alguma parcela da demanda final da cidade.

O multiplicador de renda mede a renda adicional (honorários e salários, aluguel, juros e lucros) criada na economia, derivada das despesas turísticas. É importante destacar que, para uma melhor quantificação deste multiplicador, excluímos a parcela da renda que vai para os não-residentes (ex.: produtos importados).

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O multiplicador de emprego mede a quantidade total de emprego gerado na economia macaense, a partir do aumento de uma unidade de despesa turística.

Existem várias abordagens metodológicas que podem ser utilizadas para medir o valor dos multiplicadores. A seguir, passa-se a apresentar a metodologia adotada para construir os multiplicadores.

2.7. OS MULTIPLICADORES E O EFEITO MULTIPLICADOR DO TURISMO

Os multiplicadores capturam os efeitos econômicos secundários (indireto e induzido) da atividade de turismo, e representam as interdependências econômicas entre setores dentro da economia de uma região particular (no caso, a cidade de Macaé). Eles variam, consideravelmente, de região para região e de setor para setor. Uma vez definidos os multiplicadores de vendas, renda e emprego, precisamos definir as fórmulas utilizadas para construir cada um deles.

Por exemplo, o multiplicador de vendas (Mv) é calculado da seguinte forma:

Mv = (Vendas diretas + Vendas indiretas) / Vendas diretas

O multiplicador de vendas do setor de turismo serve para medir o volume (em reais ou dólares) provocado pela venda de uma unidade adicional no produto turístico.

Os multiplicadores de renda (Mr) e de emprego (Me) são calculados da mesma forma que o de vendas, ou seja:

Mr = (Renda Direta + Rendas Indiretas) / Renda Direta

Me = (Emprego Direto + Emprego Indireto) / Emprego Direto

Na apresentação do modelo para avaliar o desempenho da atividade turística no município de Macaé, as vendas diretas e indiretas foram caracterizadas como vendas dos tipos I e II, respectivamente.

Para calcular os multiplicadores, informações detalhadas da economia local são necessárias, para que seja levantada a matriz insumo-produto do município. Neste trabalho, devido à carência de recursos financeiros, foi utilizada a matriz de insumo-produto do Estado de Rio de Janeiro, elaborada pela Fundação CIDE (2001) para construir os multiplicadores. Dessa forma, a análise poderá ser comprometida caso a dinâmica econômica de Macaé seja muito diferente da dinâmica do Estado do Rio de Janeiro.

A construção de multiplicadores, a partir da matriz de insumo-produto, é a forma mais usada e a mais recomendada, uma vez que, através da análise dos coeficientes técnicos, possibilita avaliar as correlações e a interdependência entre o turismo e os demais setores da economia.

Nessas condições, para facilitar o entendimento da metodologia utilizada na construção dos multiplicadores, passa-se a apresentar, de forma sucinta, o formato de uma matriz de insumo-produto; interpretam-se os resultados desta matriz do Estado de Rio de Janeiro e, por fim, mostram-se como os multiplicadores são construídos a partir dos coeficientes técnicos.

Matriz Insumo-Produto (Matriz Leontief)

A matriz insumo-produto elaborada por Leontief em 1936, estabelece que existe uma interdependência

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entre os diferentes setores da economia.

A análise insumo-produto foi muito utilizada nas décadas de 50, 60 e 70 e representa, ainda hoje, um instrumento importante para medir a correlação entre os setores da economia. Na seqüência, será apresentado, de forma simplificada, o modelo insumo-produto - “input-output model” - proposto em Stynes (1999), Cooper (2001) e Fletcher (1991).

2.8 ESTRUTURA DO MODELO

O modelo insumo-produto representa o fluxo monetário correspondente ao fluxo de bens e serviços entre os diferentes setores de uma economia. Supondo que a economia de Macaé possua n setores, cuja interdependência seja representada pela matriz de insumo-produto da seguinte forma:

(setores) S1 S2 S3 ... Sn Y X

S1 Z11 Z12 Z13 ... Z1n Y1 X1

S2 Z21 Z22 Z23 ... Z2n Y2 X2 S3 Z31 Z32 Z33 ... Z3n + Y3 = X3

...... ... ... ... ... ... ... ...

Sn Zn1 Zn2 Zn3 ... Znn Yn Xn

A matriz de consumo intermediário é constituída pelos coeficientes técnicos Zij, que representam o grau de dependência do setor j em relação ao setor i. Ou seja, para produzir, o setor j necessita de algum valor do insumo i, dado pelo coeficiente Zij.

Por outro lado, o vetor de demanda final (Yi) representa o valor da produção do setor i não consumida pelos outros setores. O vetor do valor agregado (VAi) representa o valor adicionado do setor i. Desta forma, o valor da produção (Xi) do setor i é igual a soma das parcelas direcionadas para o consumo intermediário do restante dos setores da economia, mais a parcela que vai para a demanda final.

Xi = ∑∑∑∑Zij + Yi

Da mesma maneira, podemos calcular a produção do setor j, que corresponde às colunas, substituindo, na equação anterior, o termo Yi pelo valor agregado (VAj).

Consumo Intermediário Demanda Final

DemandaTotal

Valor agregado (VA) VA1 VA2 VA3 ... VAn

Valor da produção (VP) VP1 VP2 VP3 ... V Pn

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∑∑∑∑Xi = ∑∑∑∑ (∑∑∑∑ Zij + Yi) ∑∑∑∑Xi = ∑∑∑∑ (CIi + Yi) X = CI - Y

Assim, a produção total é igual ao consumo intermediário (CI) mais a demanda final (Y), que, por sua vez, é constituída pelo consumo das famílias, investimento, gastos do governo, e as exportações líquidas.

A apresentação do modelo de matriz insumo-produto teve como finalidade única sustentar a abordagem teórica e metodológica adotada na construção dos multiplicadores da atividade turística da cidade de Macaé.

A partir do modelo apresentado, podemos determinar os coeficientes técnicos que serão utilizados para calcular os multiplicadores do setor de turismo. O coeficiente técnico é dado por:

aij = Zij / Xj

que expressa o valor dos insumos i utilizados na produção ao valor da produção j. Deve-se salientar que, na teoria de Leontief, os coeficientes técnicos são fixos, o que vai ao encontro à metodologia utilizada para calcular os multiplicadores.

Como já tivemos oportunidade de verificar, a demanda total é igual à demanda dos setores mais a demanda final das famílias. Utilizando os coeficientes técnicos, a matriz Leontief pode ser construída da seguinte forma:

a11 a12 a13 ... a1n X1 Y1 X1 a11 a12 a13 ... a1n X1 Y1 X2 = a21 a22 a23 a2n * X2 + Y2 ... ... ... ... ... ... ...

Xn an1 an2 an3 ann Xn Yn

A matriz X representa a produção de cada setor da economia, a matriz A mostra a relação técnica entre os setores e a Y, a demanda final das famílias. Rearrumando estas matrizes, em função da demanda final (y), temos:

Y1 a11 a12 a13 ... a1n X1 X1 Y2 a21 a22 a23 ... an X2 X2 Y3 = a31 a32 a33 a3n * X3 + X3 ... ... ... ... ... ... ...

Yn an1 an2 an3 ann Xn Xn

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Colocando a matriz X em evidência, o sistema matricial acima pode ser rescrito como:

Y= (-A+1) X ou Y = (1-A)X

Da mesma forma temos:

X = (1-A)-1 Y

A matriz (1-A)-1 representa a relação entre a demanda final (Y) e o valor da produção (X) e é conhecido como a matriz Leontief. Ela nos permite calcular o impacto direto e indireto de uma variação da demanda final nos diferentes setores da economia.

Neste trabalho, os multiplicadores do turismo da cidade de Macaé foram construídos a partir da matriz de Leontief do Estado do Rio de Janeiro, calculada pela Fundação CIDE (2001). Para além dos multiplicadores, o modelo utilizado para medir o impacto do setor precisa ser abastecido pelos dados do setor no município, como o número de turistas e os gastos destes. É neste contexto que,nos itens 3 e 4, apresentamos o planejamento e os resultados da pesquisa realizada em Macaé, para avaliar o perfil do turista e seu impacto na economia local.

2.9. DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE TURISMO

Qualquer forma de desenvolvimento econômico requer um planejamento cuidadoso, para que possa atingir o objetivo responsável por esta opção de desenvolvimento. Segundo Oliveira (2001) o turismo pode gerar uma série de impactos negativos no meio ambiente e cultura local ameaçando o desenvolvimento do setor a médio e longo prazo.

Segundo Cooper (1993) o desenvolvimento do turismo não atingirá seu ponto ótimo caso seja deixado inteiramente nas mãos do setor público ou do privado, já que o setor público teoricamente voltará seus objetivos para maximizar os benefícios sociais e o setor privado maximizará os lucros.

A essência do desenvolvimento do turismo bem sucedido é uma parceria entre os diversos interessados na atividade do turismo (stakeholders). Uma lista dos participantes é mostrada na tabela 1.

TABELA 1 – PARTES INTERESSADAS NO TURISMO

Com relação ao governo central e local, o significado global do turismo como mecanismo para o desenvolvimento econômico tem representado uma oportunidade de investimento que poucos podem se dar ao luxo de ignorar. De uma perspectiva ampla, o que se requer é o desenvolvimento equilibrado das muitas facilidades necessárias para satisfazer as exigências dos visitantes.

Paralelamente, hoje se dá maior ênfase a sustentabilidade deste desenvolvimento, para que o turismo não esgote os recursos naturais e culturais de um país de uma geração para outra, bem como possa gerir benefícios econômicos no curto, médio e longo prazo. No entanto, Oliveira (2001) ressalta que o gerenciamento dos impactos negativos não é uma atividade simples por que o turismo não é uma atividade pontual e bem definida, mas sim uma série de atividades interdependentes.

No passado a maioria das facilidades oferecidas aos turistas era subsidiada pelos governos e o sucesso de um país no setor de turismo era medido através do número de visitantes. Atualmente isto está mudando, o número de turistas não é mais a variável de sucesso do setor e sim a receita obtida pelo

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influxo de turistas e também pela qualidade dos turistas recebidos.

Como a indústria do turismo não controla todos os fatores que constituem o atrativo de um destino, e o impacto sobre a população anfitriã pode ser substancial, é necessário que as opções relativas ao desenvolvimento do turismo devam ser consideradas nos escalões mais altos do governo, e que a estrutura administrativa pública adequada seja definida para assegurar o desenvolvimento sustentável. Como regra geral, quanto maior for a importância do turismo para a economia de um país, tanto maior será o envolvimento do setor público, a ponto de existir um ministério governamental com responsabilidade única pelo turismo. Sucede freqüentemente que o poder de planejamento com relação ao turismo seja delegado ao governo local, enquanto o braço executivo do governo é transferido a um órgão quase público. Este planejamento tem sempre que envolver todos os interessados para que a decisão conjunta de planejamento possa enfim virar ações concretas de melhoria do produto turístico conforme figura 2.

FIGURA 2 - DINÂMICA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO

2.10 A SUSTENTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento sustentável é reconhecido como um método imprescindível para atingir objetivos de desenvolvimento, sem deteriorar os recursos naturais e culturais, nem degradar o ambiente.

Apesar de existir um grande número de interpretações do que realmente é o desenvolvimento sustentável, a Organização Mundial do Turismo define o termo como um modelo de desenvolvimento econômico que é elaborado levando em conta os seguintes objetivos:

a) Melhorar a qualidade de vida da comunidade receptora; b) Prover uma experiência de alta qualidade para o visitante; e c) Manter a qualidade ambiental tanto para a comunidade quanto para o visitante.

O desenvolvimento do turismo sustentável pode satisfazer as necessidades econômicas, sociais e estéticas mantendo, simultaneamente, a integridade cultural e ecológica. Este desenvolvimento deve levar em consideração os benefícios para anfitriões e visitantes, enquanto protege e melhora os recursos disponíveis para o futuro.

No entanto, o desenvolvimento sustentável para o turismo exige uma série de medidas políticas vigorosas baseadas em trocas complexas em nível social, econômico e ambiental. De acordo com McIyntyre (1993) o desenvolvimento sustentável para o turismo engloba, basicamente, três áreas: econômica, social / cultural e ambiental.

A sustentabilidade econômica se dá quando o desenvolvimento econômico é realizando, utilizando os recursos de forma eficiente para que eles possam ser aproveitados não somente na atual geração, mas também para as gerações futuras.

A sustentabilidade social e cultural garante a preservação da identidade cultural e social da comunidade, apesar do aumento do fluxo de visitantes e a exposição a outras culturas. Para tal é necessário que o visitante respeite a cultura do local visitado.

A sustentabilidade ambiental dependerá de um manejo adequado dos recursos naturais visando a conservação e a preservação para as gerações futuras. Para tal, é necessário que o governo tome

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iniciativas para a preservação ambiental e cultural.

Com a introdução desta perspectiva, o conceito de desenvolvimento turístico passou a sofrer um intenso processo de revisão, mais ou menos crítico, mais ou menos cauteloso conforme o ambiente intelectual e profissional. Percebeu-se, sobretudo, a dimensão fortemente política e ética nele inscrita, o que tinha sido totalmente ignorado pela teoria econômica anterior. O que produzir, como produzir, para quem produzir, tornam-se questões-chave que devem fazer parte de todo processo de gestação de projetos econômicos. Deixamos um ambiente gerido pelo conceito estreito de "desenvolvimento turístico” para iniciar a exploração do conceito mais amplo de "desenvolvimento sustentável".(Caporali, 1995)

2.11 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

Conforme exposto anteriormente, a atividade turística é extremamente complexa, envolvendo diversos setores da economia e impactando diretamente no modo de vida da comunidade anfitriã.

De acordo com Wanhill (1997), a natureza exata da atitude de um município quanto ao investimento em turismo é determinada pelo rumo da ênfase dada pelo governo e o papel por ele atribuído ao setor privado.

A Tabela 2 apresenta vários objetivos de política de turismo estratégico que podem ser encontrados em planos de desenvolvimento do setor de turismo (Gunn, 1989). Na maioria dos casos, a economia está na base dos planos de desenvolvimento, o que faz necessário uma compreensão dos aspectos econômicos envolvidos num planejamento turístico.

TABELA 2 – OBJETIVOS POLÍTICA DE TURISMO ESTRATÉGICO

É importante que os governos não fixem objetivos que possam conflitar seriamente entre si. Os governos falam com demasiada freqüência em qualidade de turismo, no entanto medem o desempenho em termos numéricos. Exemplos comuns de objetivos de política que mais tendem a estarem em conflito entre si são:

- Atraindo o mercado de turistas de elevado nível de gastos em contraposição à expansão contínua do número de visitantes;

- Maximizando a criação de empregos pela geração de fluxos do volume de turistas em contraposição à conservação do meio ambiente e do legado tradicional;

- Desenvolvimento do turismo comunitário em contraposição ao turismo de massa.

Todavia, deve-se apontar que não é mais considerado aceitável que esses objetivos sejam às custas do meio ambiente, ou que afetem adversamente a comunidade anfitriã. A implementação da política torna-se, portanto, um processo de se manter o equilíbrio entre os vários objetivos, e não o de tentar maximizar qualquer um deles, isoladamente. (Lickorish, 1991).

3. MÉTODOS DA PESQUISA

Este artigo tem como objetivo analisar a importância econômica da atividade turística no Município de Macaé, bem como identificar a relevância deste setor como ferramenta para o desenvolvimento econômico. Para tal utilizou-se dois métodos para obtenção de dados: Pesquisa Documental nos arquivos da Fundação CIDE-RJ para verificar os multiplicadores econômicos dos setores relativos ao turismo no Estado do Rio de Janeiro, assim como outras informações técnicas sobre a economia

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fluminense e a economia Macaense e, a pesquisa de campo, através do levantamento de dados primários, de entrevistas diretas, com aplicação de questionário estruturado. Para os trabalhos de campo, foram selecionadas três estudantes do curso de graduação em turismo. Esses entrevistadores foram orientados, treinados e participaram de pesquisa simulada situacional.

Para seleção da amostra, foi definido que o entrevistado não deveria ser morador da cidade, já que o conceito de turista utilizado foi o do indivíduo que está presente na cidade, mas não é residente de Macaé. Além disso, a pesquisa foi aplicada em diferentes pontos do município, como aeroporto, rodoviária, hotéis, pousadas, bares, restaurantes e pontos turísticos (praias), nos períodos: matutino, vespertino e noturno, de forma que a amostra se apresentasse a mais aleatória possível. Também é importante destacar que a pesquisa foi realizada tanto no meio da semana como nos finais de semana, já que a sazonalidade no município tem sua maior variação nesse período, e não mensalmente.

A preocupação com a definição do período da pesquisa foi importante para chegarmos a resultados mais precisos quanto ao perfil do turista da cidade. A primeira etapa do trabalho foi realizada entre 12 e 15 de dezembro de 2001, e a segunda, entre 16 e 19 de janeiro de 2002. Desta forma, foi realizada pesquisa de campo durante oito dias, na qual foram entrevistados 652 não-residentes da cidade, uma vez que o conceito de turismo foi estendido para toda a população flutuante (não-residente).

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO

O modelo utilizado para estimar o impacto dos gastos do setor turismo na economia de Macaé foi construído a partir do elaborado por Stynes (1999) e Fletcher (1991), que possibilita os especialistas a alcançarem resultados satisfatórios em relação à quantificação e qualificação dos efeitos do setor sobre uma economia de um país, região ou cidade.

Utilizando os dados da pesquisa realizada na cidade de Macaé, foi traçado um perfil dos visitantes da cidade. A primeira preocupação que surgiu, na análise dos dados, foi a de classificar os visitantes por categorias, segundo o tipo de hospedagem. Chegamos a quatro tipos: Categoria I (de hotéis ou pousadas), Categoria II (em casa ou apartamento alugado), Categoria III (em casa de amigos ou parentes) e Categoria IV (visitantes de um dia).

Através dessa estrutura de análise, chegamos aos gastos dos diversos tipos de turistas, o que é uma necessidade para a elaboração do modelo. Então, pode-se dizer que o modelo começa a ser estruturado a partir das informações apresentadas na tabela 3.

TABELA 3. GASTOS TURÍSTICOS POR DIA

A primeira tabela do modelo é constituída pelo total do gasto médio diário dos turistas que visitam a cidade de Macaé, e sua composição foi dividida em: aluguéis, hospedagem, restaurante/lanchonete, transporte e combustível e outros.

Uma outra importante informação extraída da pesquisa de campo, e utilizada na construção do modelo, foi o dado referente à quantidade de visitantes da cidade. Esse número foi derivado do cruzamento dos dados da pesquisa com os da ocupação da rede hoteleira. Assim, a composição dos visitantes foi dividida conforme tabela 4.

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TABELA 4 – TURISTAS POR TIPO DE HOSPEDAGEM

Somente com os resultados da tabela anterior, não conseguiríamos chegar ao total de turistas ou da população flutuante. Para chegar a este resultado, recorremos aos dados fornecidos pela MACAETUR e que são: taxa de ocupação, número de hospedes por UH (unidade habitacional) e número de UH`s referentes ao ano de 2001, juntamente com o cruzamento de informações pesquisadas que estão apresentadas na tabela 5.

TABELA 5: DADOS SOBRE A OCUPAÇÃO

Desta forma, utilizando as informações das tabelas 4 e 5, podemos estimar a população flutuante da cidade de Macaé pelo número de pessoas que ficam em meios de hospedagem (hotéis, pousadas, flats) através do produto:

Total( Categoria I / dia) = N° de UH´s X N° de hóspedes por UH X Taxa de ocupação.

Assim, chegamos a conclusão que o total da população flutuante enquadrada na Categoria I, é de aproximadamente, 1900 pessoas por dia. A partir deste resultado, calculamos a população flutuante para as outras categorias de turistas, utilizando a seguinte fórmula:

onde Xi = (Turistas da Categoria II, Categoria III, Categoria IV)

Como resultado final, podemos verificar a população flutuante na tabela 6.

TABELA 6: POPULAÇÃO FLUTUANTE

Diante dos resultados demonstrados na Tabela 6, concluímos que a população flutuante da cidade é de 5.674 pessoas por dia, o que representa 2.071.078 pessoas, se considerarmos uma população anual com base em um dia. É importante assinalar que o dado anual não representa o número de visitantes porque não leva em conta a permanência média de cada categoria. Para chegar a este resultado, precisamos dividir a população flutuante de cada categoria pela sua permanência média na cidade. Assim, na última linha da Tabela 4, temos em média o número de pessoas que visitam Macaé por ano.

Outra análise efetuada levou em consideração os gastos dos visitantes de cada Categoria (Tabela 3) com o número de visitantes dos grupos (Tabela 6), chegando ao resultado do total dos gastos diários por Categoria, conforme demonstrado na Tabela 7.

TABELA 7 : TOTAL DIÁRIO DOS GASTOS DOS TURISTAS

Com aproximadamente 57% dos gastos de toda a população flutuante, a contribuição diária para a

(%) de turistas da Categoria I pesquisada

Total de população da Categoria IXi (Total) = X (% de Xi da pesquisa)

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economia local da Categoria I é superior a dos outros grupos somados. No entanto, os visitantes de um dia (Categoria IV), mesmo tendo um número maior de visitantes do que os das demais categorias, contribuem menos para a economia local.

Na seqüência, entramos na outra parte do Modelo que está relacionado com a análise quantitativa dos efeitos dos gastos já determinados, sobre as variáveis da economia da cidade de Macaé.

Para isso, utilizamos as margens derivadas da matriz insumo-produto da Fundação CIDE (2001), o que possibilita identificar a taxa de captura do gastos turísticos na economia macaense, ou seja, a parcela dos gastos que permanecem na economia local e as importações, que podem ser definidas como a parcela dos gastos que “vazam” da economia de Macaé. A Tabela 8, desta forma, apresenta as margens utilizadas nesse estudo.

TABELA 8: MARGENS

Multiplicando os dados da Tabela 7, a qual computa o total diário dos gastos por categoria, e da Tabela 8, que demonstra a taxa de captura da economia macaense, podemos calcular os efeitos diretos por dia dos gastos do setor sobre a produção local, conforme demonstrado na Tabela 9.

TABELA 9 : COMPUTAÇÃO DOS EFEITOS DIRETOS

Conforme abordado no item 2.3, o valor dos gastos realizados pelos turistas representa somente parte dos impactos econômicos. Para uma análise completa é necessário levar em consideração os efeitos indiretos causados por esses gastos. Desta forma, os multiplicadores de renda e emprego fornecidos pela Fundação CIDE (2001), permitem calcular os efeitos totais dos gastos sobre a economia, computando também os efeitos indiretos dos gastos do setor de turismo na economia de Macaé.

A Tabela 10, desta forma, computa os multiplicadores que expressam os efeitos diretos e indiretos dos gastos do setor sobre a renda e o emprego.

TABELA 10 : COMPUTAÇÃO DAS TAXAS DE EFEITOS DIRETOS E INDIRETOS

Para chegar aos multiplicadores, precisamos saber os coeficientes técnicos dos setores apresentados na matriz insumo-produto da Fundação CIDE de 2001. Desta forma, passamos a apresentar as taxas dos efeitos diretos e indiretos dos gastos do setor de turismo sobre os níveis de venda, renda e empregos na cidade. Sendo assim, podemos finalmente calcular os multiplicadores que consolidam os efeitos diretos, indiretos e induzidos dos gastos do setor de turismo.

Utilizando as fórmulas definidas na parte metodológica, os multiplicadores de Vendas (Mv), de Renda (Mr) e de Emprego (Me) são dados, respectivamente, por:

Mv = (Vendas diretas + Vendas indiretas)/ Vendas diretas Mr = (Renda Direta + Rendas Indireta) / Renda Direta Me = (Emprego Direto + Emprego Indireto) / Emprego Direto

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TABELA 11: COMPUTAÇÃO DOS MULTIPLICADORES

Aplicando os multiplicadores da Tabela 11 e as taxas de efeitos diretos e indiretos da Tabela 10 nos resultados da produção local determinado na Tabela 9, podemos computar os resultados absolutos dos efeitos dos gastos sobre as variáveis vendas, renda e emprego da economia da cidade de Macaé. Assim, podemos estimar os efeitos diretos dos gastos turísticos anualizados, incidentes sobre a economia de Macaé, ou seja, o turismo gerou um efeito direto sobre as vendas de R$ 90.692.642, o que derivou em uma renda de R$ 49.111.398, e na geração de 2.649 postos de trabalho diretos, conforme Tabela 12.

TABELA 12 : IMPACTO DOS GASTOS - EFEITOS DIRETOS

Levando em consideração o último dado disponível do PIB do Município de Macaé - R$ 1.105.096.000,00 - ano referência de 1999 (CIDE 2001), se adicionados os efeitos diretos e indiretos, o setor de turismo é capaz de gerar R$ 147.613.299,00 anuais, o que representa 13,36 % do PIB. Vale ressaltar que esta participação tende a ser menor que a estimada acima, uma vez que a pesquisa foi realizada nos anos de 2001 e 2002, e o último dado disponível para o PIB do Município de Macaé é de 1999, sendo Macaé uma das economias que mais cresceram no Estado.

TABELA 13 : IMPACTO DOS GASTOS – EFEITOS DIRETOS, INDIRETOS E INDUZIDOS

Desta forma, com os efeitos diretos e indiretos adicionados, a renda gerada é ampliada para R$ 69.764.755 anuais e o número de postos de trabalho sobe para 4.009. Estes resultados, representados na Tabela 13 revelam a importância do setor de turismo para a cidade de Macaé.

5. CONCLUSÃO

A importância do turismo numa economia depende, basicamente, de suas pré-condições naturais e econômicas: existência do atrativo turístico, infra-estrutura urbana, equipamentos turísticos e acessibilidade ao mercado consumidor, característica do município emissor / receptor, etc., e, em função das alternativas possíveis, o papel reservado a esse setor em sua estratégia de desenvolvimento econômico.

As análises efetuadas revelam que o turismo em Macaé já pode ser considerado um setor de fundamental importância para a dinâmica econômica do município. No entanto, sua demanda é altamente dependente do segmento de negócios, especificamente de negócios ligados à extração de petróleo de gás natural.

De modo geral, a concentração da demanda em um único segmento de mercado, apresenta um elevado risco para a atividade turística, uma vez que, em mais de um momento, variáveis exógenas podem afetar o segmento em questão, reduzindo drasticamente a demanda e gerando problemas de ordem econômica, social, política e ambiental.

Outro fator a ser destacado, sugerido no capítulo II, é quanto à formulação de políticas públicas voltadas para a obtenção de desenvolvimento sustentável da atividade turística. No entanto, para se conseguir esse objetivo faz-se necessário a adoção de uma filosofia que leve em consideração, principalmente, a necessidade de preparar o município para um futuro sem a indústria do petróleo. Para isso, é necessária especial preocupação, além das questões econômicas com os problemas sociais, culturais e ambientais que a exploração do petróleo pode causar hoje, inviabilizando a indústria de

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turismo no futuro.

Dessa forma, baseado nos resultados deste estudo algumas recomendações são sugeridas para o desenvolvimento do turismo no município de Macaé.

• A elaboração de um plano de ação para o desenvolvimento turístico, plano esse que leve em consideração a cooperação entre os setores público e privado, além do envolvimento da comunidade.

• Criação de produtos turísticos que possam ampliar para os finais de semana a permanência dos hóspedes a trabalho e atrair turistas a lazer para a cidade.

• Incentivo a criação de Hotéis-Residência, diminuindo a utilização de residências como meio de hospedagem para turistas de negócio.

• Utilização do modelo proposto neste trabalho para realização de eventos, justificando ou não a inversão pública, para atração destes.

• Sensibilização dos proprietários de empreendimentos turísticos da importância da gestão pela qualidade.

• Realização de treinamento profissional que vise aumentar a qualidade dos serviços prestados em Macaé.

• E, finalmente, o desenvolvimento integrado de toda região da Costa do Sol, criando dessa forma um destino turístico capaz de competir com grandes destinos nacionais e até mesmo internacionais.

Pode-se resumir que o Município de Macaé possui uma elevada demanda por prestação de serviços turísticos destinada ao público que se desloca para a cidade a negócios. Tal demanda contribui de forma representativa para a economia local, fazendo com que o município tenha uma certa dependência do setor de turismo. Neste sentindo, lembrando que o principal motivador de viagens de negócios a Macaé possui vida útil limitada, faz-se necessário preparar o município para um futuro sem o Petróleo.

O setor de turismo de lazer apresenta-se como uma alternativa para o desenvolvimento futuro do município. No entanto, conforme abordado no trabalho, este desenvolvimento não é simples, precisa de trabalhos de planejamento que visem a maximização dos impactos positivos que o turismo pode gerar e minimização dos negativos.

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SINTESE BIOGRÁFICA

Luiz Gustavo M Barbosa é Coordenador da Pós-Graduação em Turismo, Hotelaria e Entretenimento da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas – EBAPE/FGV. Graduado em Economia, possui os título de Mestre em Gestão e Planejamento Turístico pela Bournemouth University – UK e Mestre em Administração de Empresas – EBAPE-FGV. Seu interesse em pesquisa inclui assuntos como impactos econômicos do turismo, desenvolvimento de destinos turísticos, viabilidade de projetos turísticos e desenvolvimento de organizações turísticas. Possui experiência nas áreas de ensino, pesquisa e consultoria para o setor de turismo; Prestou consultoria para diversas empresas relacionadas diretamente e indiretamente como a atividade turística.

Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - EBAPE Fundação Getúlio Vargas - FGV Praia de Botafogo 190 – 4 andar CEP: 22253-900 Rio de Janeiro – RJ Brasil Email: [email protected] Site: www.fgv.br

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FIGURA 1 : - EFEITO MULTIPLICADOR DO TURISMO

FIGURA 2 - DINÂMICA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO

GASTOS TURÍSTICOS

RENDA FAMILIAR NEGÓCIOS LOCAIS GOVERNO

GASTOS SECUNDÁRIOS

RENDA FAMILIAR NEGÓCIOS LOCAIS GOVERNO

GASTOS SECUNDÁRIOS

RENDA FAMILIAR NEGÓCIOS LOCAIS GOVERNO

IMPORTAÇÃO

IMPORTAÇÃO

IMPORTAÇÃO

Setor Público Setor Privado

Comunidade

Turista

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TABELA 1 – PARTES INTERESSADAS NO TURISMO

PARTES INTERESSADAS NO TURISMO Governos central e local Órgãos para estatais Organizações voluntárias e sem fins lucrativos Setor privado Comunidade anfitriã Visitantes Fonte: Wanhill (1997)

TABELA 2 - OBJETIVOS DA POLÍTICA DE TURISMO ESTRATÉGICO OBJETIVOS DA POLÍTICA DE TURISMO ESTRATÉGICO - Desenvolver um setor de turismo que seja, por todos os aspectos e em todos os níveis, de

alta qualidade, embora não necessariamente de alto custo; - Encorajar o uso do turismo para intercâmbio tanto cultural Quanto econômico; - Distribuir os benefícios econômicos do turismo, diretos e indiretos, da forma mais ampla

e para a maior parcela de comunidade anfitriã, quando viável; - Preservar os recursos culturais e naturais como parte do desenvolvimento do turismo,

facilitar isto por meio de desenhos de arquitetura e de paisagismo que reflitam astradições locais;

- Atrair um largo segmento de turistas internacionais e domésticos, através de políticas e programas de desenvolvimento de locais e de instalações;

- Atrair turistas de alto nível de gastos; - Aumentar o nível de emprego; - Auxiliar regiões periféricas, pelo aumento de renda e emprego, deste modo reduzindo ou

coibindo a emigração. Fonte: Wanhill (1997)

TABELA 3. GASTOS TURÍSTICOS POR DIA Gastos Turísticos - Por Dia (Em R$)Gastos por categoria do Turista

Categoria I Categoria II Categoria III Categoria IV

Aluguéis 0,00 25,66 0,00 0,00 Hospedagem 77,62 0,00 0,00 0,00 Restaurante/Lanchonetes 35,38 31,10 27,76 18,04 Transporte/Combustível 13,62 8,56 7,18 6,29 Outros 5,68 7,79 18,16 5,40 Total 132,30 73,11 53,10 29,73

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TABELA 4 – TURISTAS POR TIPO DE HOSPEDAGEM Turistas por tipo de hospedagem

Categoria I Categoria II Categoria III Categoria IVNúmero de pessoas (pesquisadas) 220 111 156 165 Permanência Média 9,81 51,88 17,25 1,00

TABELA 5: DADOS SOBRE A OCUPAÇÃO

Dados sobre Ocupação Número de UH´s 1180 Número de Hospedes por UH 2,18 Taxa de ocupação pesquisada 73,88% Percentual de Turistas - Categoria I 33,49% Percentual de Turistas - Categoria II 17,47% Percentual de Turistas - Categoria III 23,56% Percentual de Turistas - Categoria IV 25,48%

TABELA 6 : POPULAÇÃO FLUTUANTE

População Flutuante Categoria I Categoria II Categoria III Categoria IV TOTAL

População Flutuante (base dia) 1.900 991 1.337 1.446 5.674 População Flutuante (anualizada) 693.679 361.775 487.898 527.727 2.071.078

Número de Turistas (ano) 70.711 6.973 28.281 527.727 633.693

TABELA 7 : TOTAL DOS GASTOS TURÍSTICOS

Total diário dos gastos turísticos (Em R$)Gastos por categoria Categoria I Categoria II Categoria III Categoria IVAluguel de Imóvel 0 25.433 0 0 Hospedagem 147.516 0 0 0 Restaurante/Lanchonetes 67.239 30.825 37.107 26.083 Transporte/Combustível 25.885 8.484 9.598 9.094 Outros 10.795 7.721 24.275 7.807 Total 251.435 72.464 70.979 42.984

VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002

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TABELA 8: MARGENS

Margens Gastos por categoria Produção Local Importação Aluguéis 85,5% 14,5% Hospedagem 63,4% 36,6% Restaurante/Lanchonetes 57,3% 42,7% Transporte/Combustível 31,7% 68,3% Outros 47,4% 52,6%

Fonte: Fundação CIDE 2001. TABELA 9 : COMPUTAÇÃO DOS EFEITOS DIRETOS Computação dos efeitos diretos (Em R$/dia) Setor Produção Local Importação Total Aluguéis 21.745 3.688 25.433 Hospedagem 93.525 53.991 147.516 Restaurante/Lanchonetes 92.399 68.856 161.254 Transporte/Combustível 16.820 36.241 53.061 Outros 23.983 26.615 50.598 Total 248.473 185.702 437.862

TABELA 10 : COMPUTAÇÃO DAS TAXAS DE EFEITOS DIRETOS E INDIRETOS

Computação das Taxas de Efeitos Diretos e Indiretos Setor Renda /

Vendas Empregos / MM Vendas

Renda II / Vendas

Emprego II / Vendas

Aluguéis 0,96 10,21 0,99 12,00 Hospedagem 0,29 46,9 0,71 75,28 Restaurante/Lanchonetes 0,29 46,9 0,71 75,28 Transporte/Combustível 0,55 49,3 0,87 68,32 Outros 0,87 39,0 0,97 43,34 Multiplicador Turístico (Calculado) 0,59 44 0,85 72

Fonte: Fundação CIDE 2001. TABELA 11: COMPUTAÇÃO DOS MULTIPLICADORES

Computação dos multiplicadores Setor Multiplicador de

Renda Multiplicador de

emprego Multiplicador de

vendas Aluguéis 1,03 1,18 1,05 Hospedagem 2,48 1,61 1,77 Restaurante/Lanchonetes 2,48 1,61 1,77 Transporte/Combustível 1,59 1,39 1,54 Outros 1,11 1,11 1,15 Multiplicador Turístico (Calculado) 1,42 1,51 1,63

Fonte: Fundação CIDE 2001.

VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002

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TABELA 12: IMPACTO DOS GASTOS : EFEITOS DIRETOS

Impacto dos Gastos Efeitos Diretos Setor Vendas I Renda I Empregos/Trabalho Aluguéis 7.937.089 7.655.322 81 Hospedagem 34.136.670 32.924.818 349 Restaurante/Lanchonetes (A e B) 33.725.516 9.635.380 1.581 Transporte/Combustível 6.139.404 1.754.028 288 Outros 8.753.964 4.797.172 431 Total 90.692.642 49.111.398 2.649

TABELA 13: IMPACTO DOS GASTOS : EFEITOS DIRETOS, INDIRETOS E INDUZIDOS.

Impacto dos Gastos Efeitos diretos, indiretos e induzidos Setor Vendas II Renda II Empregos/Trabalho Aluguéis 8.349.817 7.887.879 95 Hospedagem 60.251.222 33.925.022 410 Restaurante/Lanchonetes (A e B) 59.525.535 23.867.547 2.539 Transporte/Combustível 9.454.683 4.344.856 462 Outros 10.032.043 7.627.329 598 Total 147.613.299 69.764.755 4.009