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Titulo: Os impactos dos estilos de liderança no comportamento dos membros de grupos identificados no filme Avatar. Autoria: Gracielle de Almeida Campos, Thalita Fonseca, Tereza Nobuko Belmonte e Wilson Roberto Palermos Ortega Coordenação: Samara Maria M. F. Costa e Silva e Carmem Maria Sant'Anna

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Page 1: Os impactos dos estilos de liderança no comportamento dos membros de grupos identificados no filme Avatar

SBDG – Caderno 134 Os impactos dos estilos de liderança... 1

Curso de Pós-Graduação em Dinâmica dos Grupos desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos – SBDG

em parceria com as Faculdades Monteiro Lobato – FATO Coordenação: Samara Maria M. F. Costa e Silva

e Carmem Maria Sant’Anna

Os impactos dos estilos de liderança no comportamento dos membros de grupo

identificados no filme Avatar

Gracielle de Almeida Campos Thalita Fonseca

Tereza Nobuko Belmonte Wilson Roberto Palermo Ortega

Resumo – O objetivo deste trabalho é a análise dos impactos dos estilos de liderança no comportamento dos membros dos grupos identificados no filme Avatar. Através de cenas do filme, observou-se o comportamento dos personagens coronel Quaritch e Jake Sully, com destaque nas situações em que os mesmos exercem o papel de líder, cada qual com sua forma de liderar. A análise está baseada principalmente no estilo de liderança autocrática e democrática, assim, vinculou-se cenas que evidenciam como o comportamento do líder impactou no processo grupal ao exercer a liderança. Para fundamentação teórica desta abordagem, utilizou-se os conceitos de Kurt Lewin e Fela Moscovici. Palavras chave – Estilos de liderança. Motivação. Abstract – The aim of this study is analyze the impact of leadership styles on the behavior of members of groups identified in Avatar. Through the scenes of the film, was observed the characters Colonel Quaritch and Jake Sully, especially in situatios where they exert a lidership role, each with it’s way of leading. The analysis is based primarily on leadership style autocratic and democratic, so scenes that show how to tie the leader's behavior may impact the group process by exercising their leadership style. Theoretical basis for this approach, we use the concepts of Kurt Lewin and Fela Moscovici. Keywords – Leadership styles. Motivation.

INTRODUÇÃO

Para o propósito deste trabalho serão analisados os aspectos dos estilos de

liderança e a sua influência no processo grupal observados nas cenas do filme Avatar.

Neste sentido, o objetivo deste artigo é mostrar cenas em que o coronel Quaritch e Jake

Sully evidenciam suas formas de liderar ao exercer o seu papel de líder, bem como

demonstrar as hipóteses que estimularam as pessoas dos grupos de relacionamento

(soldados e os Omaticaya) para mudanças de comportamento. Destacamos que para

ocorrer essa mudança pressupõe-se que as atitudes do líder influenciam diretamente na

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capacidade de mudança, principalmente quando conhece as necessidades do grupo e

assim pode estimular as pessoas para o atingimento de objetivos comuns. Na posição de

líder, os personagens coronel Quaritch e Jake Sully desempenham a liderança autocrática

e democrática, respectivamente, e a partir desses comportamentos as pessoas de seus

grupos de relacionamento foram estimuladas a mudarem seus objetivos, a exemplo da

piloto Trudy, que pertencia ao grupo de soldados liderados pelo coronel Quaritch e

depois se voltou contra o próprio exército passando a lutar junto com Jake Sully em

defesa dos Na'vi, chegando a morrer pela causa. No caso de Jake, após conviver com os

Navi, conhecer a cultura e costumes e ser aceito como um deles, Jake se afastou dos

humanos e passou a liderar os Omaticaya e lutar em defesa de Pandora. Assim, ficou

evidenciado como uma pessoa numa posição de líder pode influenciar as demais pessoas

a partir de sua forma de liderar.

A análise do material baseou-se nos conceitos de estilos de liderança, utilizando-

se os fundamentos de Lewin e Moscovici para vinculação da teoria com os aspectos de

liderança autocrática e democrática observados no filme Avatar.

1 O FILME AVATAR

Título Original: Avatar. Gênero: ação/ficção. Tempo de duração: 161 minutos.

Ano de lançamento: 2009 (EUA). Direção: James Cameron. Roteiro: James Cameron.

Produção: Jon Landau e James Cameron. Música: James Horner. Mauro Fiore. Elenco):

Sigourney Weaver (Dr. Grace Augustine), Sam Worthington (Jake Sully), Stephen Lang

(Cel. Quaritch) Michelle Rodriguez (Trudy Chacon), Zoe Saldana (Neytiri), Laz Alonso

(Tsu'Tey), Joel David Moore (Norm Spellman), Dileep Rao (Dr. Max Patel), Giovanni

Ribisi (Selfridge).

2 RESUMO DO FILME AVATAR

A história de Avatar se passa no futuro, no ano 2154 d.C. A ação ocorre em

Pandora, uma lua que está na órbita de Poliphemus, um planeta gasoso que fica em Alfa

Centauro. Em Pandora vivem os Na’vi, uma raça humanoide bastante primitiva e muito

sábia. O Planeta Pandora tem uma riqueza de biodiversidade e os Na'vi, com língua e

cultura própria, que entra em choque com os humanos vindos da Terra. Como forma de

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inserir os humanos entre o povo Na’vi e aprender sobre seu mundo e sua cultura, os

pesquisadores criaram em laboratório, híbridos humanos, através da manipulação

genética, fundindo DNA humano com os do povo Na’vi, os avatares. O projeto é

coordenado pela Dra. Grace Augustine e esses híbridos humanos são controlados por

meio de projeção e consciência e desta forma possibilitam os humanos a viverem entre os

Na’vi.

O filme tem a trama centrada em Jake Sully, ex-fuzileiro paraplégico que vai a

Pandora interessado no dinheiro para uma operação que possibilitaria a cura da sua

paralisia. Ele foi escolhido porque o seu irmão gêmeo era um cientista que foi treinado

por muitos anos para participar do programa Avatar em Pandora. Dra. Grace ficou

insatisfeita com o envio de Jake, pois não lhe interessava um ex-fuzileiro que não tinha

nenhum conhecimento da cultura Navi, mas a equipe de pesquisadores recebe Jake no

programa, por falta de alternativa.

Os humanos têm o objetivo de explorar um precioso minério existente em

Pandora (Unobtainium) que seria a solução para resolver a crise energética da Terra.

Parker Silfridge, chefe da operação mineradora, emprega ex-soldados como mercenários,

liderados pelo coronel Quaritch. Como os Na'vi se tornaram um grande obstáculo para a

exploração do minério, Jake Sully é designado para se infiltrar entre os Na'vi e sob a

forma de avatar ele volta a andar. A Dra. Grace, Norm Spellman (biólogo) e Jake estão

na floresta de Pandora e Jake se separa do grupo após ser atacado por uma criatura do

local. Depois é salvo por uma Na'vi fêmea chamada Neytiri, que a princípio queria deixá-

lo, mas depois decide levá-lo para a Árvore Lar, onde mora o seu clã, os Omaticaya, após

um sinal de Eywa.

O coronel Quaritch fica sabendo da ligação de Jake com Neytiri; conversa com

Jake e promete dar-lhe pernas funcionais em troca de trazer informações do inimigo, que

fica em cima de uma reserva de Unobtainium. Após a convivência com os Omaticaya,

Jake passa por vários testes e aventuras, é aceito pelo clã de Neytiri e passa a respeitar a

cultura dos Na'vi tornando-se um deles.

Começa então o conflito de Jake – lutar ao lado de sua raça, mantendo lealdade

com os humanos, ou defender os Na'vi porque passou a entender e respeitar a cultura e

assumiu um lugar entre eles. Os humanos atacam a floresta de Pandora e Jake ataca uma

das máquinas da RDA (empresa mineradora). Ao ver essa mudança de Jake, o Cel

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Quaritch desliga Jake de seu avatar e descobre um vídeo-diário onde Jake diz que os

Na’vi não deixarão a região. Quaritch ordena a destruição da Árvore Lar e Jake é

considerado como traidor pelos Omaticaya ao mesmo tempo em que é aprisionado junto

com a Dra. Grace e Norm pelos humanos. Revoltada com os acontecimentos, a piloto

Trudy liberta os prisioneiros e a Dra. Grace é baleada por Quaritch. Para reconquistar a

confiança dos Na’vi, Jake doma Toruk (uma besta que somente cinco Na’vy conseguiram

montar). Jake voa até a Árvore das Almas e pede ajuda deles para salvar Grace.

Infelizmente os ferimentos são graves e a cientista acaba morrendo. Jake se junta ao novo

líder Omaticaya (Tsu’Tey) e mobilizam os diferentes clãs dos Na’vi em Pandora a se

juntar em sua luta. Jake se conecta na Árvore das Almas e pede ajuda para Eywa, no

confronto que acontecerá com os humanos. Nesse interim as tropas de Quaritch planejam

destruir a Árvore das Almas.

Na batalha, muitos Na’vi morrem, inclusive Tsu’Tey e a piloto Trudy. Quando a

batalha parecia perdida para os Na’vi, a fauna de Pandora contra-ataca os humanos. O

coronel Quaritch, vendo que não conseguiria vencer os Na’vi, foge de sua nave com um

de seus robôs e passa a atacar a estação onde está o controle dos avatares com o corpo de

Jake para destruí-lo. Durante este confronto Jake é salvo por Neytiri, que luta com o

coronel e acaba matando-o.

O chefe da mineradora (Selfridge) e os militares são expulsos de Pandora e os

cientistas são autorizados pelos Na’vi a ficar no local. Jake se torna líder dos Omaticaya e

tem sua consciência transferida permanentemente para seu Avatar por meio da Árvore

das Almas.

3 OS ESTILOS DE LIDERANÇA E SUA INFLUÊNCIA NO GRUPO

No filme Avatar foram observados os comportamentos do coronel Quaritch e Jake

Sully e ficaram evidenciadas atitudes que demonstram o estilo de liderança exercido por

esses personagens: autocrática e democrática.

Inicialmente, faz-se necessário traçar uma distinção entre líder e estilo de

liderança:

Um líder é a pessoa no grupo à qual foi atribuída, formal ou informalmente, uma posição de responsabilidade para dirigir e coordenar as atividades relacionadas à tarefa, tendo como maior

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preocupação a consecução de algum objetivo específico do grupo. Já a maneira pela qual uma pessoa numa posição de líder influencia as demais pessoas no grupo é chamada de “estilo de liderança (MOSCOVICI, 2009, p. 187-188).

A liderança autocrática para Fela Moscovici (2009, p. 189) é voltada para o

controle/tarefa. No filme é possível observar esse modelo no personagem do coronel

Quaritch, que fala de regras e está sempre dando ordens aos seus liderados com o

objetivo de obter êxito em sua missão. Exemplificamos com a seguinte cena:

Cena: no início do filme, quando Jake chega a Pandora, vê o coronel Quaritch

conversando com os soldados recém-chegados sobre o respeito que devem ter em relação

à Pandora e faz comparação com o inferno. A forma de se expressar por Pandora parece

querer convencer os recém-chegados que tudo lá fora é visto como inimigo, que quer

matar os humanos e se refere aos Na’vi, como seres que usam flechas que paralisam o

coração e são difíceis de matar. Como chefe da segurança o coronel diz que o seu

trabalho é manter os soldados vivos e para isso, eles devem obedecer as regras de

Pandora.

Acerca dos estilos de liderança há várias abordagens. Moscovici (2009, p. 189)

preceitua que existem dois níveis de atividades de interação no grupo: o nível da tarefa e

o nível socioemocional. A liderança se exerce nos dois níveis, com predominância de um

deles para definição do estilo manifesto de liderança. Este admite duas dimensões

distintas de necessidade do líder: de controle e de participação, que corresponderiam aos

dois níveis de atividade do funcionamento grupal. Os dois estilos de liderança são:

orientado para controle/tarefa e orientado para participação/manutenção e fortalecimento

do próprio grupo. FELA cita também que Kurt Lewin foi um dos precursores a mostrar a

dicotomia entre os estilos autocrático e democrático de liderança.

Por sua vez, Tanenbaum e Schimidt (apud MOSCOVICI, 2009, p. 189) “indicam

a existência de um contínuo de liderança entre um extremo e outro, do autocrático

(voltado para a tarefa) ao democrático (voltado para as relações), com posições

intermediárias de graus de liberdade do grupo (de liderados) e do líder

(autoridade/poder)”. Para abordagem de poder e autoridade observados em cenas do

filme Avatar:

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O poder legítimo é chamado autoridade e é atribuído pela organização formal, constituindo-se em elemento da estrutura hierárquica dos grupos sociais formais”. A relação chefe-subordinado é uma relação de poder legítimo inquestionável. O que se pode questionar, eventualmente, é a modalidade do exercício desse poder, de forma mais ou menos autoritária (MOSCOVICI, 2009, p. 200).

A cena abaixo descrita parece evidenciar que o coronel, exercendo a sua

autoridade formal, ordenou a destruição de Pandora mostrando que estava no controle e

no poder para cumprir sua missão e a seus liderados cabia somente o cumprimento das

ordens determinadas.

Cena: Os soldados atacam com bombas de fumaça para os Na’vi saírem das árvores, e o

coronel Quaritch, vendo o contra-ataque, autoriza o lançamento de bombas incendiárias e

manda utilizar mísseis e usar os explosivos mais potentes para derrubar a Árvore das

Almas.

Após conhecer a cultura e os costumes dos Omaticaya notou-se que o personagem

Jake Sully passou a questionar a lealdade para com o coronel Quaritch, já que ele era

fuzileiro e não concordava com as formas que o coronel utilizava para conseguir seus

objetivos, então passou a lutar em favor dos Na’vi.

Cena: Os soldados atacam Pandora e Jake, na forma de avatar, estava junto com Neytiri e

ao ver as máquinas abrindo caminho e deixando um rastro de destruição, sobe em um dos

canhões e grita para os soldados pararem, pega uma pedra e começa a quebrar as câmeras

na tentativa de evitar mais destruição. Vendo a reação de Jake, o coronel vai no

laboratório e contra a vontade dos cientistas, desliga o avatar de Jake, que fica furioso

com a atitude do coronel. Mais tarde, na presença de Jake, da Dra. Grace e o chefe da

mineradora, o coronel mostra um vídeo-diário onde o ex-fuzileiro relata que os Na’vi não

irão sair de Pandora. O coronel Quaritch nota o posicionamento de Jake em relação à

ordem dada ao ex-fuzileiro (infiltrar entre os Na’vi) e diz a ele que “você me

decepcionou, filho”.

Neste contexto, fica evidenciado que o estilo de liderança do líder autocrático

pode influenciar no comportamento do liderado. Segundo Ziemerman (2000, p.141), “a

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liderança autocrática habitualmente é exercida por pessoas de característica obssessivo-

narcisísticos, sendo própria de grupos compostos por pessoas inseguras e que não sabem

fazer um pleno uso de sua liberdade”. No filme, podemos fazer uma analogia dessas

pessoas inseguras, como sendo os soldados que tinha obediência total ao seu comandante,

o coronel Quaritch e Jake, por conhecer e respeitar os costumes e valores dos Na’vi não

mais se identificava com as regras e o modo de pensar de seu líder formal, demostrando

que tinha opinião própria e não se sujeitava às ordens do seu líder. Conflito semelhante

em relação às atitudes do coronel pode ser observado com a reação piloto Trudy,

conforme abaixo:

Cena: O coronel Quaritch chama todos os fuzileiros e ordena para usarem missel,

explosivos potentes. A piloto Trudy prepara para atirar assim como os demais fuzileiros e

o coronel dá a ordem de fogo liberado. Devastação e mortes se seguem, fogo queimando

tudo e mísseis sendo atirados seguidamente. A piloto Trudy não atira, desliga o

interruptor e diz “dane-se tudo isso” e dá meia-volta e o atirador pergunta o que ela está

fazendo. Trudy respondeu que “não foi para isso que me alistei”, dá meia-volta com sua

máquina e sai da área de fogo. Quaritch continua ordenando para atirar e está calmamente

bebendo e olhando a destruição se alastrar. Ao ver a casa da Árvore totalmente destruída,

cumprimenta o pessoal e diz que paga a primeira rodada à noite.

Nessa cena fica evidenciado o quanto a relação de poder e autoridade do líder

influencia o comportamento dos liderados. Mais uma vez a atitude do coronel entra em

choque com os valores de um de seus liderados. Neste caso, a piloto Trudy, que deixa de

cumprir a ordem dada.

O propósito de citar as cenas acima é ressaltar que o indivíduo reagirá em função

de suas necessidades motivacionais, sentimentos, crenças e valores e desta forma, Jake

Sully e Trudy, que a princípio eram liderados pelo coronel Quaritch, passaram a lutar

contra o mesmo porque não concordavam com os métodos e estilo de liderança do seu

superior e acreditavam na cultura e crença dos Omaticaya.

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4 INFLUÊNCIAS DO ESTILO DE LIDERANÇA NO PROCESSO GRUPAL

A liderança tem a ver com a relação interpessoal e está implícito nessa relação, os

conceitos de poder e autoridade. O poder pessoal para Fela Moscovici (2009, p. 203), é

exercido sob forma de influência social, a partir de características pessoais carismáticas,

de referência, de conhecimento, de apoio/afeto e de competência interpessoal:

O poder consiste na capacidade de uma pessoa conseguir que outra pessoa ou grupo aja da forma desejada pela primeira. A pessoa com poder modifica o comportamento dos outros, manipula-os à sua vonta- de. A autoridade é o poder legitimado socialmente. Uma pessoa recebe a incumbência formal/legal de manipular os outros, tem o direito reco- nhecido de exigir do outros certas formas de conduta por ela propostas (MOSCOVICI, 2009, p. 200)

Quanto ao poder legítimo ou autoridade, a autora explica:

O poder de coerção e o de recompensa, em geral, estão associados ao poder legítimo ou autoridade. O ocupante desta posição tem o pleno direito de punir e/ou recompensar os outros no grupo por ações devidas ou indevidas a seu critério. Entretanto, ameaças de retirada de afeto, censuras, redução de atenção, afastamento e menor comunicação funcionam como poder de coerção nas relações informais. Igualmente, as promessas de recompensa afetiva, verbais e não verbais, represen- tadas por elogios, olhares, sorrisos, abraços, maior atenção e comuni- cação constituem exercício do poder de recompensa sem ligação com a autoridade formal (MOSCOVICI, 2010, p. 45).

Para os autores deste artigo, o conceito acima está se referindo ao líder formal

onde instituição decide colocá-lo nesta posição o que não garante que desempenhe o

papel de liderança efetivamente. Nosso entendimento, é que a real autoridade é

legitimada pelo conhecimento, relações interpessoais, mais do que a cargos/posições. A

autoridade da posição é efêmera, pode ser um diretor e não ser reconhecido pelo grupo a

sua autoridade. A verdadeira autoridade leva a equipe seguir seu líder de forma

espontânea e motivada, sem coerção, ou seja, sem autoritarismo. Segundo, Le Bon, citado

por Freud (1920-1922), “é uma forma de contágio, de fascinação que desperta nos

membros do grupo”.

Quando se trata de estilos de liderança é preciso considerar que cada estilo será

utilizado de acordo com os membros do grupo, levando em consideração o conhecimento

e comprometimento de cada um no grupo.

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Cena: O coronel Quaritch conversa com Jake dizendo que é uma mistura potente um de

seus liderados num corpo de Avatar e que esse fuzileiro (Jake) poderia dar informações

direto do território inimigo. Pede para Sully estudar os selvagens (Na’vi) de perto para

ganhar sua confiança. O interesse do coronel é saber como forçar os Na’vis para

cooperarem ou como abatê-los e Jake confirma que fará o que o coronel pede. Assim, o

coronel Quaritch diz a Jake que ele cuida dos seus liderados e promete dar pernas

verdadeiras para Jake.

A cena acima demonstra que o coronel utilizava-se do poder de coerção e o de

recompensa para manipular o Jake, com a promessa de dar-lhe “pernas verdadeiras”, com

o objetivo de mantê-lo infiltrado junto ao povo Omaticaya obtendo informações, que

facilitassem o atingimento de seus interesses. Nesse sentido, estava exercendo o seu

poder legítimo pela autoridade que lhe foi conferida por ocupar o cargo de chefe dos

fuzileiros, isto é, exercendo a autoridade inerente do seu papel de líder formal.

Analisando as cenas descritas anteriormente, os autores deste artigo entendem que

o líder não deve manipular e sim manejar os membros do grupo:

A palavra manipulação tem conotação desagradável em ciência social e, por isso mesmo, costuma provocar reações predominantemente emo- cionais. No entanto, o fato é que o coordenador pode manipular as situações do grupo para alcançar resultados momentâneos de impacto, embora muitas vezes inconsequentes, como fogos de artifício. Há muitas formas de manipulação nos processos interativos em grupo. Pode até haver agrado e satisfação por parte dos “manipulados”, porém se o ganho psicológico e social é unilateral, do coordenador apenas, a hipótese de manipulação confirma-se. Quão válida é a utilização dos artifícios sutis ou de sedução psicológica para provocar admiração, prazer e sensação de sucesso, em vez de percorrer o caminho mais árduo e trabalhoso de enfrentar as dificuldades naturais de aprendi- zagem e convivência com os outros? (MOSCOVICI, 2009, p. 283).

Diante da hipótese de manipulação com ganho psicológico e social de forma

unilateral, surge o dilema ético: até que ponto o líder pode sobrepor-se as necessidades

emergentes do grupo?

Os grupos não funcionam no vácuo. Todo grupo humano possui componentes culturais do sistema maior do qual faz parte. Esse contexto varia em cada segmento da comunidade, da sociedade, do país, não pode jamais ser ignorado na condução de qualquer programa educacional.

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Atitudes e valores, crenças e ideologias predispõem as pessoas a perceber e interpretar as situações; a criar, analisar e avaliar possíveis linhas de ação e soluções; a fazer suas opções com tranquilidade e segurança no respaldo moral da escolha, ou, em caso contrário, a sofrer conflitos intra e interpessoais, sentimentos de culpa, rejeição e isolamento (MOSCOVICI, 2009, p. 280).

5 MOTIVAÇÃO COMO ELEMENTO PARA ANÁLISE DO PROCESSO GRUPAL

Segundo Ervilha (2003, p. 114), cada pessoa tem a sua própria motivação. Por

isso é que não se consegue substituir as pessoas, e sim mostrar a elas como podem

conseguir o que querem e desta forma, se auto-motivar para atingir o seu objetivo. A

diferença é esta: a motivação vem de dentro e o incentivo vem de fora. A motivação é o

desejo de obter ou evitar algo. É também incentivo e a premiação por fazer algo que

queremos. Conhecer seu liderado permite encontrar fontes de incentivos, estímulos para

serem trabalhados. Saber o que a pessoa faria para conseguir algo ou evitar algo.

O complexo processo de interação humana exige de cada participante um determinado desempenho, o qual variará em função da dinâmica de sua personalidade e da dinâmica grupal na situação-momento, ou contexto-tempo. Assim, no plano intrapessoal, o individuo reagirá em função de suas necessidades motivacionais, sentimentos, crenças e valores, normas interiorizadas, atitudes, habilidades específicas e capacidade de julgamento realístico; no plano interpessoal influirão as emoções grupais, o sistema de interação, o sistema normativo e a cultura do grupo: no plano situacional, exercerão influência o contexto físico e social imediato, o contexto cultural, o sistema contratado de relações e a dimensão temporal (MOSCOVICI, 2009, p. 186).

Seguindo a abordagem do estilo de liderança democrática serão exemplificados

nas cenas do filme Avatar, onde o personagem Jake Sully evidencia comportamentos do

seu estilo voltado para o nível socioemocional (voltado para relações) e desta forma

passou a exercer a liderança com a autoridade legitimada pelos Omaticaya de forma

espontânea, motivados pelo comprometimento de Jake para salvar Pandora. Nesse

contexto, Moscovici (2009, p. 203) diz que “o poder pessoal é exercido sob forma de

influência social, a partir de características carismáticas, de referência, de conhecimento,

de apoio/afeto e de competência interpessoal.”

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Cena: Jake vai conversar com os Na’vi para avisar que um grande mal se aproxima, que

o Povo do Céu vem para destruir a Casa da Árvore e que logo os soldados estarão

chegando. Avisa que eles devem sair ou irão morrer e que sabe disso porque foi enviado

para aprender os costumes e para que desse a mensagem e os Navi acreditassem nele.

Cena: Jake aparece montado em Toruk e se coloca em frente de Tsu’Tey, líder dos

Omaticaya e diz que está pronto para servir o povo e não conseguiria sem a ajuda de

Tsu’Tey e este, vendo Toruk, uma besta que apenas cinco Na’vi conseguiram domar, não

tem dúvidas quanto à lealdade de Jake com os Omaticaya. Jake pede para Tsu’tey

traduzir o que ele tem a dizer para os Na’vi e Jake fala que o Povo do Céu poderá tomar o

que eles quiserem e ninguém poderá impedi-los. Jake fala para o povo “voar mais rápido

que o vento permitir e peçam para os outros clãs que venham, digam que Toruk Macto os

chama. Voem agora, comigo!” O chamado de Jake tem a força e o entusiasmo para

substituir os Na’vi na luta contra os humanos.

Cena: Jake conecta com a Árvore da Vida e ora para Eywa para que veja o mundo de

onde ele veio, não há mais verde lá e farão o mesmo em Pandora e pede ajuda para lutar

contra o Povo do Céu. Neytiri diz que a Grande Mãe (Eywa) não toma partido, ela só

protege o equilíbrio da vida. Mais tarde, a própria Neytiri confirma que Eywa enviou

ajuda quando os animais vêm em auxílio dos Na’vy e enfrentam as máquinas e os solda-

dos comandados por Quaritch. As atitudes de Jake evidenciam a liderança democrática,

quando busca ajuda de todos os membros do grupo e também da Grande Mãe e depois

incentiva os liderados a lutarem por um objetivo comum, lutar contra os militares para

salvar Pandora. O líder clamou pelo envolvimento e participação de todos e assim conse-

guiu uma adesão de forma espontânea. O comprometimento de Jake com a cultura e os

valores do povo Navi fez com que o legitimassem como líder dos Omaticaya e Jake teve

sua alma transferida permanentemente para seu Avatar por meio da Arvore das Almas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do filme Avatar possibilitou-nos identificar os estilos de liderança

autocrática e democrática e os impactos no comportamento dos membros do grupo

identificados nas cenas que foram destacadas do filme. O aspecto que mais chamou a

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atenção foi a influência do coronel Quaritch no comportamento de Jake Sully e a piloto

Trudy, que por não concordarem com o estilo de liderança do coronel passaram a lutar

contra ele defendendo os Navi. Nesse contexto, percebemos o conflito dos personagens

Jake e Trudy a partir do momento em que os interesses do grupo passaram a ser

diferentes: o coronel tinha o objetivo de destruir Pandora para conseguir o minério a

qualquer custo e por outro lado, Jake e Trudy queriam salvar Pandora porque acreditavam

na cultura, crenças e valores dos Omaticaya e também porque os humanos já tinham

destruído a Terra e não queriam que Pandora passasse pelo mesmo processo.

O papel do líder autocrático, estilo observado no personagem do coronel Quaritch,

mostrou-nos como uma pessoa que está em uma posição de líder pode ter influência em

outras pessoas a partir do estilo de liderança: totalmente voltado para a tarefa para

cumprimento de sua missão. Por outro lado, no personagem de Jake Sully mostrou que o

estilo de liderança democrática é voltado para a relação com as pessoas, é participativa.

Ao mobilizar os Omaticaya para a luta contra o Povo do Céu, Jake mostrou que a

responsabilidade era de todos e não apenas dele ou Tsu’Tey (líder formal) e assim

mobilizou os Omaticaya para chamar todos os clãs dos Na’vi para a luta contra os

humanos e passou a ser o líder informal na luta contra o Povo do Céu.

Acreditamos que a análise do filme Avatar sob a ótica da liderança autocrática e

democrática possibilitou-nos comparar as diferenças dessas formas de liderar e como os

líderes podem ter impactos e influências no comportamento do indivíduo e grupo. Neste

trabalho tivemos a oportunidade de fazer a vinculação da teoria com as cenas que

caracterizaram os estilos de liderança.

REFERÊNCIAS

ERVILHA, A. J. Limão. Liderando equipes para otimizar resultados. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2003.

FREUD, Sigmund. Psicologia de grupo e análise do ego. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 18.

LEWIN, Kurt. Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Cultrix, 1970.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 17. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

______. Equipes dão certo. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos básicos das grupoterapias. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.