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SIMONE DE JESUS PADILHA OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ABORDAGEM ENUNCIATIVO-DISCURSIVA Doutorado Programa de Estudos Pós-Graduados em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SÃO PAULO 2005

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SIMONE DE JESUS PADILHA

OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA

ABORDAGEM ENUNCIATIVO-DISCURSIVA

Doutorado

Programa de Estudos Pós-Graduados em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SÃO PAULO

2005

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SIMONE DE JESUS PADILHA

OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA

ABORDAGEM ENUNCIATIVO-DISCURSIVA

Tese apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, como exigência parcial para a

obtenção do título de Doutor em

Lingüística Aplicada e Estudos da

Linguagem, sob a orientação da Profª Drª

Roxane Helena Rodrigues Rojo.

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BANCA EXAMINADORA

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese por meios fotocopiadores ou eletrônicos.

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AGRADECIMENTOS

A Jesus e Maria, por nunca me abandonarem;

A minha orientadora, Professora Dra. Roxane Rojo, que muito me motivou nos caminhos

da pesquisa, obrigada pelo respeito pelas minhas idéias e pelo meu trabalho;

Ao Prof. Dr. Antônio Gomes Batista, a Luíza e ao Itamar, que sempre nos receberam no

CEALE/UFMG com carinho, disponibilizando o acervo de livros didáticos para pesquisa;

Ao Projeto de Pesquisa Integrada Livro Didático de Língua Portuguesa: Produção, Perfil e

Circulação (CNPq/IEL-UNICAMP/CEALE-UFMG), cujo banco de dados nos permitiu realizar

grande parte de nossa pesquisa;

Aos professores Doutores Beth Brait (PUC-SP), Luiz Tatit (USP), Jacqueline Barbosa

(PUC-SP), Maria Inês Batista Campos (PUC-SP) e Geraldo Tadeu Souza pela leitura de

meu trabalho e sugestões valiosas nos exames de qualificação;

A Maria Lúcia, Márcia, Paulo e Rosângeles, funcionários do LAEL/PUC-SP;

À Universidade Federal de Mato Grosso, pela concessão do afastamento e pela confiança

em meu trabalho;

A CAPES, pela bolsa PICDT que permitiu custear estes anos de estudo;

Aos meus colegas de pós-graduação: Laura, Andréa, Shirley, Ana Cláudia, Lucinha, Sueli,

obrigado pelo companheirismo e por trilharem juntos este caminho de crescimento

intelectual;

A Cláudia Graziano, por ter resgatado nossa amizade, pelo imenso apoio nestes anos, que

Deus a proteja e abençoe sempre;

A Adelma, minha irmã, amiga e companheira maravilhosa, sem palavras para dizer o

quanto devo a você este trabalho;

A Adail, sempre à disposição quando precisei, principalmente na leitura final do meu

trabalho. Obrigada pelas discussões bakhtinianas e que Deus o conserve teoricamente

didático!

Aos meus amigos de Cuiabá, Ângela e Sérgio que estiveram torcendo e orando por mim

todos estes anos;

A minha tia Marta e meu Tio Lelo, que muito me ajudaram nestes anos de estudo em São

Paulo, obrigado por me socorrer nas horas difíceis;

A minha mãe e minhas irmãs Lili e Piti, por acreditarem em mim e me apoiarem sempre;

Ao meu filho Lucas, pelo apoio e amor;

Ao meu padrasto, José Carlos, pelo incentivo nos estudos, devo a você este grau;

Ao Fi, amor da minha vida, pelo encontro mágico, pela admiração e pelo amor. Obrigada

por acreditar e torcer por mim;

A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

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Este trabalho é para vocês, Vó e José, que, de algum lugar, continuam a torcer por mim...

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O teu começo vem de muito longe.

O teu fim termina no teu começo.

Contempla-te em redor.

Compara.

Tudo é o mesmo.

Tudo é sem mudança.

Só as cores e as linhas mudaram.

Que importa as cores, para o Senhor da Luz?

Dentro das cores a luz é a mesma.

Que importa as linhas, para o Senhor do Ritmo?

Dentro das linhas o ritmo é igual.

Os outros vêem com os olhos ensombrados.

Que o mundo perturbou,

Com as novas formas.

Com as novas tintas.

Tu verás com os teus olhos.

Em Sabedoria.

E verás muito além

Cecília Meireles

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Resumo __________________________ Este estudo discute a questão da formação do leitor literário nas aulas do ensino

fundamental da escola pública brasileira através de uma análise do tratamento

dispensado aos textos em gêneros poéticos nos livros didáticos que circulam nas

aulas de Língua Portuguesa. Sua base são as considerações do Círculo de Bakhtin

a respeito do discurso poético, sobretudo as críticas tecidas à estética material e ao

Formalismo Russo. A noção bakhtiniana de gênero do discurso foi o guia das

reflexões sobre os gêneros poéticos, com destaque para as questões relativas à

forma composicional, ao estilo e ao tema, tomando o texto poético como objeto

estético. Examinamos os gêneros teóricos investigados, a saber, poemas, letras de

canção e gêneros da tradição oral, quanto à sua escolarização nos livros didáticos.

Defendemos, pautados pelos conceitos bakhtinianos de cronotopo e memória de

gênero, a consideração desses gêneros como um possível agrupamento, visando

repensar sua didatização. A metodologia de pesquisa buscou selecionar as coleções

que melhor apresentariam um espaço para investigação do trabalho com os gêneros

poéticos aqui visados, tomando como fonte as bases documentais oriundas do

Projeto Integrado de Pesquisa O livro didático de Língua Portuguesa no ensino

fundamental: produção, Perfil e Circulação, CNPq/IEL-UNICAMP/CEALE-UFMG,

pesquisa que analisa os dados provenientes das avaliações do Programa Nacional

do Livro Didático, elaborando diversas bases de dados. Procedemos a uma análise

quantitativa e qualitativa de quatro coleções de língua portuguesa de 1ª a 4ª séries e

três coleções de 5ª a 8ª séries. A análise quantitativa explorou os dados de

incidência, posição e autoria dos textos em gêneros poéticos e a análise qualitativa

apresentou as atividades que os livros dedicaram aos textos em gêneros poéticos,

depreendendo diferentes modos de abordagem do literário. A análise de dados

mostra que as coleções não favorecem a formação do leitor literário no ensino

fundamental, pois não tomam os gêneros poéticos como objetos de ensino, não os

usam nas atividades de leitura e privilegiam apenas seus aspectos formais ou a

subjetividade do aluno-leitor. De forma geral, os livros analisados não proporcionam

atividades que favoreçam a construção da leitura dos textos poéticos,

desconsiderando sua dimensão enunciativo-discursiva.

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Abstract __________________________

The present work discusses the question of the literary reader’s formation in classes

of the Brazilian public school system’s elementary level by means of an analysis of

the way texts in poetical genres are approached on didactical manuals customarily

used on Portuguese Language classes. Its basis is the theorizations done by the

Bakhtin’s Circle about poetic discourse, mainly its critiques of material aesthetics and

Russian Formalism. Bakhtin’s notion of discourse genre has been its guiding

principle, chiefly as regards questions related to compositional form, style and theme,

seeing poetic texts as aesthetic objects. We examined the theoretical genres poems,

lyrics and some other oral tradition ones as regards their insertion in the school

system by manuals, arguing on the basis of the Bakhtinian concepts of chronotope

and genre memory for their consideration as a possible grouping aiming to rethinking

their didactisation. The research methodology aimed to select the collections more

apt to present a space for investigating the work done with the poetical genres here

studied, using data banks from the Integrated Research Project, O livro didático de

Língua Portuguesa no ensino fundamental: produção, Perfil e Circulação, CNPq/IEL-

UNICAMP/CEALE-UFMG, a research that examines data resulting from evaluations

done in the context of the Brazilian National Program of Manuals and creates several

data banks. We have done a quantitative and qualitative analysis of 4 collections of

Portuguese Language for the 1st to 4th grades and 3 for the 5th to the 8th grades. The

quantitative analysis explored data relative to the poetical genres’ incidence, position

and authorship and the qualitative one examined the activities the manuals proposed

to texts in poetical genres, identifying different ways to approach the literary. Data

analysis shows the collections do not favor the literary reader’s formation in the

fundamental level, for they do not take genres as teaching objects, do not use them

for reading activities and give prominence only to the texts’ formal aspects or the

pupil-reader subjectivity. As a rule, the examined books do not offer activities that

favor the construction of poetical texts’ reading and more than this their do not take

into account their enunciative-discursive dimension.

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Résumée __________________________

Cette étude discute la question de la formation des lecteurs littéraires dans des

classes d’enseignement fondamental de l’école publique brésilienne examinant

l’exploration des textes en genres poétiques dans des livres didactiques qui circulent

dans des leçons de Langue Portugaise. Sa base sont les considérations du Cercle

de Bakhtin sur le discours poétique, plus précisément les critiques à l’esthétique

matérielle e au Formalisme Russe. La notion bakhtinienne de genre de discours a

été le principe organisateur de la réflexion sur les genres poétiques, surtout les

questions de la forme compositionnelle, le style et le thème, considérant le texte

poétique comme un objet esthétique. L’examen des genres théoriques poèmes,

paroles de chansons et des genres de la tradition orale de la perspective de son

écolarisation dans des livres didactiques, défendant, sur la base des concepts

bakhtiniens de chronotope et mémoire du genre, la considération de ces genres

comme un possible agroupement, visant repenser son didactisation. La

méthodologie a cherché sélectionner des collections qui peut présenter du espace

pour investiguer le travail avec des genres étudiés sur les bases documentales du

Projet Intégré de Recherche O livro didático de Língua Portuguesa no ensino

fundamental: produção, Perfil e Circulação, CNPq/IEL-UNICAMP/CEALE-UFMG, qui

examine des données provenant des évaluations du Programme Nationale du Livre

Didactique, élaborant diverses bases de données. On a analysé quantitative et

qualitativement quatre collections de langue portugaise de la 1er à la 4éme séries e

trois du 5éme à 8éme. L’analyse quantitative a exploré les données d’incidence,

position et auteur des textes en genres poétiques, et l’analyse qualitative a examiné

les activités proposées par les livres pour ces textes, révélant des différentes façons

d’aborder le littéraire. L’analyse des données montre que les collections ne favorisent

pas la formation du lecteur littéraire dans l’enseignement fondamental, parce

qu’elles ne prennent pas les genres poétiques comme des objets d’enseignement,

ne les utilisent pas dans des activités de lecture et privilégient seulement ses aspects

formels ou la subjectivité des éléves-lecteurs. La majorité des livres analysés ne

propose pas des activités favorisant la construction de la lecture des textes poétiques

et, qui plus est, ne considère pas son dimension énonciative-discursive.

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SUMÁRIO _______________________________

Introdução 01

Capítulo 1. O Círculo de Bakhtin e o discurso Poético: releituras e Descobertas.........................................................................................................

16

1.1 O artístico.......................................................................................................

18

1.2 O romanesco e o poético............................................................................... 28 1.3 O poético inesperado..................................................................................... 42 Capítulo 2. Os gêneros poéticos do discurso: aproximações........................ 45 2.1 A problemática dos gêneros.......................................................................... 46 2.1.1 Os gêneros literários: um pouco de história................................................. 48 2.2 Os gêneros do discurso na perspectiva bakhtiniana..................................... 58 2.3 Formas arquitetônicas e composicionais: o objeto estético e a obra exterior 64 2.4 O soneto: apropriações e reapropriações...................................................... 72 Capítulo 3. Gêneros poéticos no gênero livro didático: considerações Iniciais................................................................................................................... 79 3.1 Repensando a autoria e o livro didático........................................................... 80 3.2 O livro didático como gênero discursivo.......................................................... 84 3.3 Os gêneros poéticos........................................................................................ 88 3.3.1 Os poemas e as letras de canção................................................................. 89 3.3.2 Os gêneros da tradição oral.......................................................................... 95 3.3.2.1 As parlendas.............................................................................................. 96 3.3.2.2 Os trava-línguas......................................................................................... 99 3.3.2.3 As quadrinhas............................................................................................ 101 3.3.2.4 As adivinhas............................................................................................... 102

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3.3.2.5 As cantigas de roda................................................................................... 104 3.3.3 O cordel..................................................................................................... 106 3.4 A caracterização de um grupo – os gêneros poéticos..................................... 108 Capítulo 4. Rastreando os dados: os gêneros poéticos nos LDP................ 116 4.1 Os corpora................................................................................................... 116 4.2 As Bases de Dados....................................................................................... 115 4.2.1 As bases gerais de dados 2002 e 2004: selecionando um primeiro subconjunto de coleções........................................................................................

119

4.2.2 As Bases de Textos......................................................................................

128

4.2.3 As Bases de Gêneros Poéticos....................................................................

129

4.3 Dados gerais obtidos na análise quantitativa................................................... 130 4.3.1 Coleções de 1ª a 4ª séries: PNLD/2004....................................................... 130 4.3.2 Coleções de 5ª a 8ª séries: PNLD/2002....................................................... 132 4.3.3 Compondo um segundo subconjunto de coleções....................................... 135 4.4 Reunindo subconjuntos: possibilidades........................................................... 137 4.5 Metodologia de análise dos dados................................................................... 140 Capítulo 5. O Perfil das coleções: incidência, autoria e posição dos textos em gêneros poéticos...........................................................................................

142

5.1 Características das coleções em relação aos textos literários: o que dizem

as resenhas 142

5.1.1 Excerto de resenhas das coleções de 1ª a 4ª séries................................... 142 5.1.2 Excerto de resenhas das coleções de 5ª a 8ª séries................................... 146 5.2 Os gêneros poéticos nas coleções: dados gerais de incidência...................... 151 5.3 Posição dos gêneros poéticos nas coleções................................................... 159 5.4 Textos e autoria............................................................................................... 162

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Capítulo 6. A escolarização dos textos em gêneros poéticos nos livros

didáticos de 1ª a 4ª séries................................................................................ 170 6.1 Os tipos de atividades com gêneros poéticos................................................ 170 6.2.1 A coleção CE............................................................................................... 178 6.2.2 A coleção LPT............................................................................................. 189 6.2.3 A coleção PPLL............................................................................................ 193 6.2.4 A coleção AML.............................................................................................. 199 6.3 Conclusões parciais para as coleções de 1ª a 4ª séries.................................. 204 Capítulo 7. A escolarização dos textos em gêneros poéticos nos livros

didáticos de 5ª a 8ª séries.............................................................................. 208 7.1. As atividades com gêneros poéticos nas coleções de 5ª a 8ª séries............ 208 7.1.1. A coleção LM.............................................................................................. 210 7.1.2. A coleção LI................................................................................................. 221 7.1.3. A coleção ER............................................................................................... 230 7.2. Conclusões parciais para as coleções de 5ª a 8ª séries................................ 236 Referências bibliográficas.................................................................................. 252 Anexos..................................................................................................................

. 265

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Introdução ____________________________

As questões que costuram o pano de fundo desta pesquisa podem ser

explicitadas nos seguintes termos: Qual formação de leitor literário tem se realizado

no ensino fundamental da escola brasileira? Quem é este leitor de hoje, qual

formação literária requer, qual necessita, qual é possível?

Se desejarmos que haja, de fato, uma formação de leitor literário, como

estamos compreendendo o termo “literário”? Como a escola o compreende? O que o

mercado editorial, na área da produção didática, tem oferecido?

Ao buscarmos diferentes fontes para (re)pensarmos estas questões,

descobrimos muitos pontos de luz, mas também pontos cegos no entrecruzamento

das diversas disciplinas que enfocam tais tópicos, principalmente a teoria literária, a

lingüística e a didática de língua materna. Pensamos que estas são as áreas

especializadas a quem se recorre(ria) para balizar o ensino do texto literário e que

cada uma vem se adaptando e se acomodando aos processos históricos de

mudanças e reformulações da própria escola brasileira, contribuindo, por vezes, para

a construção e fundamentação de políticas públicas que sustentam tais mudanças.

Contudo, parece ser o manual didático1 o locus em que nos são

apresentados, de forma mais explícita, os resultados dos diversos ajustes e

movimentos inscritos e circunscritos à escolarização dos diferentes saberes. Desde

sua caracterização como produção editorial específica para ensino, nos anos 1930,

e seu crescimento e diversificação na produção editorial bem como sua

consolidação como material de apoio primordial a um professor já não tão

especializado, devido às demandas da democratização do ensino a partir dos anos

1960, o livro didático de língua materna tem apresentado diferentes visões sobre os

diversos conteúdos, o mesmo ocorrendo em relação ao ensino dos textos literários.

A leitura literária e conseqüentemente a formação de um leitor literário desde

o ensino fundamental estão intimamente atreladas às diferentes concepções de

1 Tomamos as expressões manual didático e livro didático como sinônimas neste trabalho, ainda que cientes de suas diferenciações em termos de usos, funções e processos de produção no campo editorial e na esfera educacional.

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língua, linguagem, escola, homem e mundo que cercam o processo de produção

dos manuais didáticos. Sócio-historicamente, os livros didáticos procuram

acompanhar, assim acreditamos, tanto os avanços das diversas ciências – em nosso

caso, da teoria literária e da lingüística, principalmente –, bem como as

necessidades e condições escolares do estudante brasileiro e, ainda, atualmente,

das parametrizações colocadas nos documentos oficiais e as exigências dos

processos oficiais de avaliação empreendidas pelo Ministério da Educação através

do Programa Nacional do Livro Didático.2 Contudo, o peso das práticas tradicionais

de ensino de língua materna ligadas a pedagogias transmissivas e

descontextualizadas ainda parece desviar o olhar do que pode haver de novo na

academia ou nas demandas oficiais.

Os textos literários não são estudados em suas características específicas,

havendo ainda um privilégio de aspectos didáticos gerais do ensino da língua

materna sobre os literários; a leitura literária e as “outras leituras” parecem receber o

mesmo tratamento na escola, por conseguinte, o livro didático segue este

movimento homogeneizador. Brandão & Martins (2003) desenvolvem esta idéia:

Bom, em relação à literatura na escola (...) quase nunca ela é tratada como

objeto de estudo, ou como conhecimento a ser transferido, apropriado, ampliado

para o desenvolvimento do sujeito dentro de seu contexto cultural. A literatura é

tratada, sim, como pretexto, estratégia para o estudo de outros objetos,

procurando minimizar, através dela, a aridez dos assuntos abordados. Desde

sempre, a literatura protagoniza o ensino de língua materna como material

didático para o aprendizado da escrita, da estrutura da língua e de uma leitura

quase sempre reduzida a uma leitura não literária: uma leitura que não permite a

produção de mais de um sentido. A literatura não tem sido tratada literariamente

na escola. Pelo contrário, o que a utilização didática da literatura mais tem feito é

destruir seu efeito literário. (Brandão & Martins, 2003: 259)

O que privilegiar no ensino literário? Aspectos lingüísticos próprios do literário?

A função lúdica, o texto como fruição? A função pedagógica, utilizando-se a

literatura como meio para a discussão de valores? Conceber a literatura como

2 Para esclarecimentos sobre o histórico do Programa Nacional do Livro Didático, e suas

repercussões, ver Batista, (2003).

2

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espaço para a discussão dos problemas e questões sociais e políticas? Todos esses

aspectos? Mas, dentro da leitura literária - e é o que nos interessa neste trabalho -,

onde fica a questão da leitura do texto poético? Como ensinar a poesia? Que

aspectos devem ser considerados? O que os livros didáticos têm oferecido?

Uma parcela das pesquisas sobre leitura no Brasil tem se ocupado da questão

da formação do leitor literário e da escolarização da leitura literária. Kramer (2000;

2003) defende o potencial humanizador e formador da leitura literária. A autora,

alertando para o fato de que o afastamento da literatura e de outras manifestações

culturais pode ser um sintoma de desumanização, defende o resgate do papel da

escola no processo de formação cultural:

Continuamos assistindo a uma brutal diminuição da capacidade de indignação,

resistência e de crítica, a uma atroz des-humanização e perda de valores, ao

progressivo empobrecimento do diálogo. Educar crianças e jovens neste

contexto é o desafio. Políticas para a infância precisam ter como horizonte

humanização e resgate da experiência, para que crianças e jovens possam ler o

mundo, escrever a história, expressar-se, criar, mudar, para que se reconheçam

e consolidem relações de identidade e pertencimento. (...) Defendo políticas

públicas de infância que assegurem experiências de cultura pelo seu potencial

humanizador e formador. Aliás, apenas defendo a necessidade de uma política

de cultura e educação como um projeto contra a barbárie. Pois o problema não

está no fato de as pessoas não lerem literatura ou não terem aprendido a gostar

de teatro ou de cinema. O problema está em que isto pode ser sintoma do nosso

processo de desumanização. (Kramer & Bazílio, 2003: 103)

Antonio Candido (1995), no artigo intitulado “O direito à literatura”, focaliza a

relação da literatura com os direitos humanos e defende a consideração da literatura

e da arte como um bem incompressível (essencial)3. Para ele, a busca por uma

sociedade justa e a luta pelos direitos humanos implica uma luta pelo acesso de

todos aos bens culturais em todos os níveis e modalidades:

...eu lembraria que são bens incompressíveis não apenas os que asseguram

sobrevivência física em níveis decentes, mas os que garantem a integridade 3 Antonio Candido parte da distinção do sociólogo francês Joseph Lebret entre bens incompressíveis (essenciais) e bens compressíveis (excedentes, não-essenciais).

3

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espiritual. São incompressíveis certamente a alimentação, a moradia, o

vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça

pública, a resistência à opressão etc.; e também o direito à crença, à opinião, ao

lazer e, por que não à arte e à literatura. (Candido, 1995: 241)

Zilberman (1984: 47) alerta-nos quanto aos cuidados ao endossarmos

“ingenuamente atos de boa-fé e filantropia cultural” no que diz respeito às relações

entre a leitura, a escola e a sociedade no Brasil. Componentes de implicação

cultural, ideológica e econômica estariam aí fortemente imbricados, reproduzindo

muitas vezes “os antagonismos maiores da sociedade nacional”.

A presença da literatura na escola nos níveis iniciais pautou-se até as

décadas de 1960 e 1970 - segundo nos explica Zilberman (1985: 121-123) ao

refazer a leitura das indicações de alguns livros didáticos, manuais e seletas da

época - pela visão da leitura principalmente como meio para a criação de hábitos,

para a inculcação de valores e do “bom gosto literário”, além da transmissão da

norma culta e do patrimônio da literatura brasileira, mediante a conservação e

defesa do “padrão elevado da língua de que a literatura é guardiã”.

Contudo, após 1970, esse conhecimento do patrimônio da literatura brasileira

fica restrito ao 2º grau e aos cursos de Letras. Para o 2º grau, opta-se pelas

crônicas, contos e novelas e, para o primeiro, pela literatura infantil e juvenil. Para

Zilberman (1985), essas mudanças acarretaram um estreitamento do espaço da

literatura “clássica” brasileira e portuguesa no ensino básico, além de uma

valorização da leitura individual em detrimento da aquisição de uma cultura literária.

Além disso, em sua opinião, a expansão da escola e uma suposta “democratização

da leitura” não atenuaram a desigualdade social; acrescente-se o desnível do ensino

público e do particular e a má e apressada formação de profissionais para atender à

demanda escolar em crescimento.

Privat (1995), em artigo que trata da apropriação didática das práticas

culturais nesse processo, analisa a presença da literatura na escola e as práticas

escolares de leitura na França, explicitando dois modelos que têm em si

semelhanças com a situação brasileira colocada por Zilberman, antes e após 1970.

Segundo ele, um dos modelos, o tradicional, foi pautado por uma pedagogia

centrada no carisma da obra literária e numa concepção mágica de sua apropriação.

4

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A leitura – das “grandes obras, nelas mesmas e por elas mesmas” 4 – é, pois,

nesses termos, um “dever cultural e um dever escolar”, o que configura um sistema

“pedagogicamente e culturalmente conservador, no qual a autoridade dos textos é

duplicada pela autoridade da linguagem do professor” (Privat, 1995: 134-135).

O outro seria o modelo liberal, mais voltado a uma “desescolarização da

leitura”. Neste, o professor se esforça em ser um animador para motivar os jovens

leitores a terem prazer em suas leituras e uma “moral do dever” é substituída pelo

“dever do prazer”5. Para isso, o leque de livros propostos é aberto, segundo Privat

(1995: 136-137), indo “das histórias em quadrinhos aos romances policiais ou à

literatura juvenil”. Esse modelo liberal, para o autor, assemelha-se a “um consumo

episódico de bens culturais” e não garante, por exemplo, que jovens de meios

populares e jovens de camadas favorecidas invistam os mesmos desejos e as

mesmas competências em suas leituras ou na freqüência a bibliotecas públicas.

Para Zilberman (1985: 128), em relação à situação brasileira, a configuração

de uma “outra antologia”, em que cresce o prestígio da literatura infantil e da ficção

para jovens, na verdade não é resultado de

um processo de democratização de ensino, e sim do aprofundamento dos

problemas que marcaram a educação nacional e determinaram sua natureza

elitista. E esta continua sendo reproduzida e reforçada, pois a grande literatura,

a da antologia, permanece inacessível aos setores mais populosos da

organização social brasileira.

Tais implicações demandam um certo cuidado na crença e na defesa de um

retorno às salas da antiga “antologia”. No tocante a isso, o que advogamos, no caso

deste estudo, não é um retorno, mas um “direito à literatura” que inclua autores

diversos. A reivindicação desse direito coloca em xeque, para além das origens

sociais, a divisão dos bens culturais entre o público leitor.

Neste sentido, o valor e o mérito da presença de uma literatura infantil e

infanto-juvenil na escola não está em questão. Há, na produção nacional literária

4 Aqui Privat cita H. Mitterand: “Ce légitimisme didactique peut se résumer ainsi: le salut culturel est dans la lecture des grandes oeuvres en elles-mêmes et pour elles-mêmes. C’ est de là que tout découle, à commencer par l’ intérêt que les élèves portent à la classe de français”. (Privat, 1995: 134) 5 Aqui Privat (1995: 136) cita Bourdieu (1979, pp. 422-431).

5

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infanto-juvenil, obras excelentes, como também há obras que, mesmo não escritas

para, nem dirigidas originalmente a crianças – livres do rótulo do infantil ou infanto-

juvenil – podem ser objeto de estudo no Ensino Fundamental. Talvez o caminho seja

fugir, como colocam Evangelista, Brandão & Machado (2001), de representações

simplistas e redutoras dos processos cognitivos e estéticos que se tem com respeito

a crianças e jovens.

Isso não significa, ainda e de qualquer modo, negar o processo de

descontextualização e recontextualização do discurso literário no curso de sua

transposição para a escola, fato incontestável que traz conseqüências importantes

para a dinâmica do discurso literário no processo pedagógico. Sobre a escolarização

da literatura, concordamos com Soares (2001:22), que afirma:

O que se pode criticar, o que se deve negar não é a escolarização da literatura,

mas a inadequada, a errônea, a imprópria escolarização da literatura, que se

traduz em sua deturpação, falsificação, distorção, como resultado de uma

pedagogização ou uma didatização mal compreendidas que, ao transformar o

literário em escolar, desfigura-o, desvirtua-o, falseia-o.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa - 3º e 4º ciclos

(1998) também abordam o tema da formação do leitor literário numa perspectiva

didática. Na segunda parte do documento, no item Tratamento didático dos

conteúdos, mais especificamente em Leitura de textos escritos, fala-se em educação

literária como a tarefa de formar leitores, tarefa para cuja realização a escola deve

construir pontes entre textos de entretenimento e textos mais complexos, a partir de

um trabalho com a literatura que supõe várias investidas em leituras com diferentes

objetivos:

o trabalho com a literatura deve permitir que progressivamente ocorra a

passagem gradual da leitura esporádica de títulos de um determinado gênero,

época, autor para a leitura mais extensiva, de modo que o aluno possa

estabelecer vínculos cada vez mais estreitos entre o texto e outros textos,

construindo referências sobre o funcionamento da literatura e entre esta e o

conjunto cultural; da leitura circunscrita à experiência possível ao aluno naquele

momento, para a leitura mais histórica por meio da incorporação de outros

6

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elementos, que o aluno venha a descobrir ou perceber a mediação do professor

ou de outro leitor; da leitura mais ingênua que trate o texto como mera

transposição do mundo natural para a leitura mais cultural e estética, que

reconheça o caráter ficcional e a natureza cultural da literatura. (PCNs – 3º e 4º

ciclos – Língua Portuguesa, 1998: 71)

Refletindo ainda sobre as necessidades do estudante brasileiro, como uma

das considerações a serem feitas pelos livros didáticos, conforme colocamos acima,

quais práticas culturais relativas à leitura e à escrita dos textos literários têm sido

observadas e têm (ou não) influenciado na escolha dos diferentes tratamentos

reservados ao estudo da literatura na escola?

Alguns dados interessantes sobre a questão da leitura e escrita dos textos

literários nas práticas culturais da população brasileira encontram-se nos resultados

do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional6 (INAF) 2001, descritos e

analisados na coletânea organizada por Ribeiro (2003). Esta autora esclarece que

uma característica primordial do INAF é que não se trata de uma avaliação escolar,

portanto,

Por não ser escolar, a construção do teste não poderia se pautar por conteúdos ou competências estabelecidas nos currículos correspondentes a cada nível de ensino, mas nas habilidades de leitura e escrita envolvidas nas diversas práticas sociais de letramento, ou seja, nos usos mais comuns da escrita no ambiente doméstico no trabalho e em outros contextos cotidianos (Ribeiro, 1003: 13).

Certamente, as práticas sociais de letramento cotidianas e escolares estão

intimamente imbricadas, sendo que estas últimas refletem e refratam as primeiras,

havendo forte relação, nos dados obtidos pela pesquisa do INAF, entre leitura e

escola (cf. Abreu, 2003). A esse respeito, são instigantes alguns dados que fazem,

de alguma forma, referência aos textos poéticos.

6 Segundo Ribeiro (2003: 9), O INAF é uma iniciativa do Instituto Paulo Montenegro – Ação Social do IBOPE e da ONG Ação Educativa. O objetivo do INAF é oferecer à sociedade brasileira um conjunto de informações sobre habilidades e práticas relacionadas à leitura, escrita e matemática da população brasileira (...) Os dados do INAF são coletados anualmente junto a amostras nacionais de 2 mil pessoas, representativas da população brasileira de quinze a 64 anos, residentes em zonas urbanas e rurais em todas as regiões do país.

7

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Ao serem indagados, pela pesquisa, que tipo de livro costumam ler, ainda

que de vez em quando7, por nível sócio-econômico, temos que 30% responderam

Romance, aventura, policial e ficção e 20% citaram Poesia. A porcentagem, em

relação a esta última, foi semelhante para todas as classes sociais. A mesma

questão feita por idade e grau de instrução revelou que, em relação à idade, dos 15

aos 24 anos, 35% lêem Poesia, para 44% dos que lêem Romance, aventura,

policial e ficção. A porcentagem cai pela metade no decorrer dos anos, de 25 a 34

anos, apenas 16% lêem Poesia, e dos 35 aos 49 anos, 14%, e dos 50 aos 64 anos,

somente 10%. Os números também caem, com o avanço da idade, em relação à

leitura de ficção, aumentando no que concerne à leitura de textos religiosos (Bíblia,

livros sagrados ou religiosos).

Por grau de instrução, temos que a porcentagem de leitura de Poesia é

semelhante nos ensino fundamental e médio: 28% e 29%, respectivamente, mas cai

para 16% no nível superior incompleto ou completo. Em relação à prosa, pelo

contrário, o número de leitores aumenta à medida que aumenta o grau de

escolaridade (36%, 48% e 49%, relativos ao ensino nos níveis fundamental, médio

e superior).

Para Abreu (2003: 38-39), estes dados revelam uma aproximação da leitura

literária, o que contraria o propalado desinteresse dos jovens pela literatura, mas ao

mesmo tempo aponta para o fato de que a permanência na escola parece inibir até

mesmo o gosto pela leitura de poesias. Em nossa opinião, os dados sobre o nível

de escolaridade podem ser um indício de que a escolarização, nos níveis

fundamental e médio, preserva, nos alunos, o interesse por alguma leitura do texto

poético, o que, em níveis mais especializados, do ensino superior, da

profissionalização, parece se perder.

Alguns dados do INAF sobre a produção escrita8 são muito instigantes no

que diz respeito aos gêneros poéticos. Ao serem indagadas sobre o que costumam

escrever, criando ou copiando, no tempo livre, por nível socioeconômico, as

pessoas responderam Letras de músicas, com uma porcentagem de 17% nas

classes A, B e C e 14% nas classes D e E. Já em relação à Poesia, a porcentagem

foi de 12% na classe A e B, 16% na classe C e 15% na classe D e E. Ou seja, 7 Estes dados podem ser visualizados na tabela 11a e 11b, em Ribeiro, 2003, p. 243. 8 Estes dados podem ser visualizados na tabela 12a e 12b, ainda em Ribeiro, 2003, p. 245.

8

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porcentagens bastante aproximadas em relação a estes gêneros poéticos,

indiferentemente de classe social, o que, em média, só foram superadas pela

escrita de Receitas.

A mesma questão feita em relação ao grau de instrução obteve resultados

bastante semelhantes à leitura, com queda no grau superior de escolarização em

relação à escrita de Letras de músicas e Poesia. À medida que cresce o grau de

instrução, aumenta o número de pessoas que afirmam escrever Letras de músicas

e Poesia: 8% até 4ª (série para ambos), 21% no ensino fundamental (para ambos) e

26% e 23% no ensino médio, incompleto ou completo (para Letras de músicas e

Poesia, respectivamente)9. Já no ensino superior, os números caem para 12%.

Sobre esses dados, Abreu (2003:39) comenta que a escola parece estar matando o

gosto pela escrita poética. Ao contrário, em relação à escrita de ficção (Histórias

reais ou inventadas), o interesse cresce com o aumento da escolaridade: 6% na 4ª

série, 12% no ensino fundamental, 13% no ensino médio e 18% no ensino superior.

O que se pode depreender, inicial e hipoteticamente destes dados do INAF,

sumariamente expostos, é que os jovens lêem e escrevem sim textos em gêneros

poéticos, mas à medida que a escolaridade avança, principalmente em relação ao

nível superior, esta prática é esquecida, ou substituída, o que não ocorre com os

textos ficcionais. Uma hipótese é que a prática de leitura de textos em gêneros

poéticos seja uma prática balizada pelas práticas escolares, ou ainda – o que

acreditamos ser uma idéia simplista - pelos hábitos inerentes à faixa etária, da

infância e adolescência. Outra hipótese, como já colocamos acima, é que este

desinteresse pelo poético tenha como origem a formação de outros hábitos e/ou

interesse por outros gêneros, impostos pelos caminhos profissionais escolhidos.

Entretanto, com a escola e/ou apesar dela, os dados apresentados pelo INAF

a respeito da leitura dos textos ficcionais não parecem tão desanimadores, pelo

menos não aparentemente em relação às práticas culturais. Resta saber que

ficcionais escolhidos são estes, pois nos parece, como coloca Abreu (2003:42), que

9 Em contexto micro, estes dados sobre o gosto pela escrita de poesia e letras de música repetem-se em recente pesquisa realizada por Paes de Barros sobre práticas de letramento de alunos de 8ª séries de uma escola municipal em Campinas, interior paulista (Paes de Barros, A primeira página na sala de aula: uma proposta para o ensino-aprendizagem de leitura, Tese de Doutoramento, em preparação).

9

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não se trata de um leitor devorador ávido de alta literatura, figura típica que povoa

nosso imaginário.

Especificamente, em relação ao poético, do hermetismo de certos textos à

multiplicidade de configurações, tudo parece contribuir para que a leitura do texto

poético seja, por um lado, preferência de “intelectuais”, ou por outro, “coisa de

mulher”. Sim, os dados do INAF sobre a produção escrita por sexo e sexo segundo

situação de trabalho e segundo nível de instrução10 revelam que, em relação à

escrita de Poesia, a porcentagem de homens que afirmou escrever Poesia é

sempre inferior à de mulheres, para todos os casos. Já em relação às Letras de

músicas, as porcentagens são muito semelhantes entre os sexos.

Este fato nos faz recordar uma recente campanha publicitária11 de um

caderno em que um jovem aparecia contando como passou de “poeta” a “roqueiro”.

O texto do filme era assim:

As coisas me tocam, os pássaros, as flores, a luz do sol, escrevo cada poema,

coisa do coração mesmo e ó...ce não sabe como isso mexe com as pessoas, a

reação dos cara...veio, precisa vê, cada um que eu mostrava no colégio todo

mundo, sem exceção, todo mundo dizia:

- Pô cara, tu virou boiola?

Agora eu só escrevo heavy metal...

De fato, além das dificuldades todas originadas pelas peculiaridades dos

enunciados poéticos, ainda convivemos com estas crenças pré-concebidas, que

destinam as práticas de leitura disto ou daquilo a certos atores e papéis sociais.

Esta adjetivação não se dá somente em relação ao sexo, mas também em relação

às classes sociais e outras tantas variáveis: o que se lê, o que se escuta, o que é

“chique”, o que é “brega”, o que é moda, o que é cafona, etc.

Neste contexto, criar algum gosto pela leitura e escrita de gêneros poéticos e

formar leitores literários destes não depende somente de técnicas ou métodos

didáticos, mas também exige um trabalho de reconhecimento e superação de

preconceitos sociais, em direção ao acolhimento da diferença e da diversidade.

10 Consultar Tabelas 12c e 12d, em Ribeiro, 2003, p. 246. 11 Peça Publicitária “Roqueiro”. Propaganda Caderno Tilibra, Agência Talent, São Paulo, 2002.

10

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Se pensarmos em contextos culturais amplos e complexos, com os quais

convivemos hoje, com reflexões dentro da escola, deveríamos considerar o termo

literário em sua acepção mais ampla e democrática possível. O próprio Bakhtin, já

em sua época, conforme nos lembra Machado (2005), sustenta o firme propósito de

compreender a literatura como um fenômeno estético totalmente articulado ao

contexto cultural mais amplo. Assim, é mister que, da mesma forma que se

reivindica a consideração da heterogeneidade em termos da fala dos alunos, deve-

se repensar o material textual, o que se oferece para a leitura e apreciação dos

alunos, se estas coletâneas nos materiais didáticos não estão excluindo

manifestações legítimas de uma cultura não oficial, ancoradas em classe ou grupos

sociais sócio-economicamente desprivilegiados, mas que constituem, de fato, o

arcabouço cultural do estudante brasileiro. Por outro lado, seguindo a mesma

reflexão que se realiza em direção às variedades lingüísticas, de se considerar, na

escola, a sua importância e relevância como desdobramentos da língua nacional,

sem impedir o acesso do aluno ao domínio da variante privilegiada – a norma

chamada padrão – é preciso pensar na cultura pop, nas manifestações musicais

regionais, na incorporação de outras culturas ao processo de produção lítero-musical

e sobretudo na atualidade das coletâneas, sem excluir a possibilidade do contato do

aluno com as manifestações da tradição literária.

Observemos, por exemplo, as letras de músicas que são apreciadas por

públicos diferenciados, por jovens que não são os mesmos dos anos 70, amantes de

Raul Seixas, do Tropicalismo e dos Novos Baianos. Em relação à tradição oral,

quem cantarola hoje cantigas de roda, senão o caboclo ou a criança de zona rural,

ou ainda o idoso recordando os velhos tempos? Há de se pensar, no processo

didático, no ensino-aprendizagem de um gênero, em todas essas nuanças, ou seja,

em como compatibilizar gostos, idade, faixa etária, práticas culturais, diferenças

regionais, individuais, etc.

Propor um tratamento didático aos gêneros poéticos12 que possa surtir

melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem, abarcando tamanha

12 Neste trabalho, a expressão gêneros poéticos é compreendida em sentido amplo, ou seja, refere-se não só aos poemas em suas configurações tradicionais (gêneros poéticos no sentido estrito, gêneros unilíngües e monoestilísticos, cf. Bakhtin, 1934-1935), mas circunscreve também as letras de canções, os cordéis e os gêneros poéticos da tradição oral (adivinhas, parlendas, quadrinhas, trava-línguas, etc.). Acreditamos ser este o caminho mais aberto a outras produções culturais que também têm sido abordadas no processo de escolarização. Assim, concordamos com Paulino et al. (2001: 90)

11

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diversidade intrínseca e extrínseca, constitui, a nosso ver, um grande desafio.

Parece, entretanto, que a questão não é só implementar o material didático, mas

concomitantemente formar o professor para a autonomia, fornecendo instrumentos

para o trabalho com o poético.

Souza (2000), analisando os dados resultantes de pesquisa com 45

professores de séries iniciais na cidade de Presidente Prudente, interior paulista,

assinala que os professores não se sentem capacitados para realizarem um

trabalho consistente com a poesia em sala de aula:

Todos os sujeitos envolvidos na entrevista declaram que a Faculdade não os formou para o trabalho com o texto poético e que o livro didático também não sugere orientações teóricas e práticas sobre esta forma de ensino (Souza, 2000: 66).

De fato, ensinar poesia no ensino fundamental, constitui, antes de tudo, um

desafio, tanto para quem propõe como para quem dispõe – e o professor é, sem

dúvida, um sofrido protagonista neste processo. Que ferramenta utilizar para

aproximar alunos do objeto poético, sem perder de vista sua natureza e ao mesmo

tempo sem torná-lo inatingível, ou sacralizado, em suma, sem tornar inexeqüível a

tarefa didática?

Alguns esforços relativos à didatização dos gêneros discursivos, ou seja, das

condições para o tratamento dos gêneros como objeto de ensino em aulas de

língua materna têm sido empreendidos por estudos e pesquisas em lingüística

aplicada, e tal teorização pode nos ajudar não só a refletir sobre a escolarização

dos textos poéticos, mas também a vislumbrar caminhos mais seguros e eficazes

para o seu ensino.

No processo ensino-aprendizagem, nas interações aluno-professor, aluno-

aluno, bem como nos materiais didáticos que medeiam essas interações, textos em

diversos gêneros, orais e escritos, se fazem presentes a todo o momento. Assim,

alguns pesquisadores como Rojo (1998, 2000, 2001), Dolz & Schneuwly (1996),

Schneuwly & Dolz (1997), Barbosa (2001), Barros-Mendes (2005), entre outros,

dedicaram-se ao estudo desta questão, detendo-se na problemática da didatização que tal abordagem não significa a exclusão da poesia considerada erudita ou a dos autores canonizados, pois na verdade há uma circulação entre diferentes esferas da cultura. Tal posição, contudo, acentua a heterogeneidade, complicando um pouco mais a nossa questão.

12

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dos variados gêneros provenientes de diferentes contextos sociais e propondo que

estes sejam tomados como objetos de ensino-aprendizagem. Nos contextos destas pesquisas, e também aqui de nosso trabalho,

pressupõe-se uma abordagem que alia à perspectiva enunciativo-discursiva de

Bakhtin (1934-1935; 1952/1953), principalmente ao conceito de gênero do discurso,

a teoria sócio-histórica da aprendizagem de Vygotsky (1935).

Compreendendo a noção de enunciado para Bakhtin como unidade real e não

como unidade convencional - uma abstração - não se remete aqui à idéia da

linguagem como representação ou do discurso que reflete uma situação. O ato-

linguagem – em nosso caso, o enunciado poético – supõe o encontro, a

compreensão-resposta, a ressignificação, atualizando a relação entre as pessoas, e

entre as pessoas e a própria linguagem.

Parece que, no sentido desta observação, estudar os gêneros poéticos

implica considerá-los como um tipo de enunciado que tem particularidades como

qualquer outro tipo, que está ligado a uma esfera de comunicação verbal, de

utilização da língua. Trata-se, pois, de uma manifestação verbal elaborada a partir

de uma esfera específica, o que lhe dá contornos próprios, que podem ser

recuperados pela análise de três elementos: a avaliação de um determinado

conteúdo temático, em um certo momento, o estilo verbal e a construção

composicional. No sentido bakhtiniano, estes elementos comportariam o todo do

enunciado, caracterizando o gênero do discurso.

Assim, ao pensarmos nos gêneros poéticos tradicionais como gêneros

discursivos, cada configuração poemática, supondo contornos próprios, apesar de

repetido em forma, não o será como enunciado único. Um soneto parnasiano, com a

configuração fixa de suas estrofes (dois tercetos e dois quartetos) é diferente de um

soneto camoniano, que por sua vez é diferente de um soneto de um autor

modernista. O que dizer, pois, sem ir muito longe, do verso livre ou das experiências

da poesia concreta?

Compartilhando certos pressupostos comuns, encontramos também nos

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental – Língua Portuguesa

- 3º e 4º ciclos, orientações para que as práticas de ensino-aprendizagem de língua

materna tomem como conteúdos ou objetos de ensino os gêneros do discurso e

como unidade básica do ensino o texto. Esse documento também aponta para o fato

13

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de que é em função do que os alunos precisam aprender que se selecionam as

categorias didáticas mais adequadas. Para esta análise, o olhar do educador para o

texto do aluno precisa deslocar-se da correção para a interpretação; do

levantamento das faltas cometidas para a apreciação dos recursos que o aluno já

consegue manobrar (Brasil, 1998: 77).

O que propomos, neste trabalho, é ampliar a noção de gêneros poéticos, com

vistas a abarcar as manifestações artísticas que se aproximam, seja por confluência

dos processos históricos que as gestaram, seja por semelhança em suas

configurações composicionais ou por pontos comuns em suas formas arquitetônicas.

O processo de didatização visa rever os modos pelos quais os autores dos

manuais didáticos concebem os objetos estéticos e quais elementos privilegiam em

seu estudo; daí depreenderemos que tipo de leitor literário se pretende formar na

escola brasileira; mas se objetiva, também, propor uma reinvestida no conjunto

destes objetos, proporcionando uma aproximação com o mundo sócio-cultural do

aluno.

Em termos bakhtinianos, procura-se investigar qual tipo de resposta a escola

tem preparado o aluno a dar diante do texto literário, mais especificamente diante do

texto poético. Se a resposta, para Bakhtin, cria uma nova relação axiológica (cf.

Machado, 2005: s/p) com o que já está posto, que relação se estabelece no ato

pedagógico? Qual se propõe? Qual se induz? Qual se espera?

Assim, tendo em vista o contexto em que se inscrevem as práticas de ensino-

aprendizagem do discurso literário – e, no que aqui nos interessa, dos gêneros

poéticos – e fomentando a atitude investigativa em direção à aliança entre a teoria

bakhtiniana dos gêneros do discurso e as práticas de sala de aula, em suas linhas

gerais, este estudo objetiva tematizar a situação escolar atual de circulação dos

referidos gêneros, nos materiais didáticos, ou seja, pretende investigar os gêneros

poéticos nos livros didáticos de língua portuguesa do ensino fundamental,

abarcando coleções dos quatro ciclos. As questões de pesquisa que buscaremos

responder com nossa investigação e análise de dados são:

1. Qual a incidência do texto poético, da letra de canção e dos textos da tradição

oral nos LDs e qual o lugar reservado a estes textos nas coleções?

14

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2. Quais textos e autores privilegiados pelos livros didáticos escolhidos, tanto

nas atividades propostas com os textos poéticos quanto nas atividades

propostas para o estudo das letras de canção e outros gêneros da tradição

oral?

3. Quais atividades propostas para as coleções em relação ao estudo dos

poemas e das letras de canção (e outros), ou seja, que tipo de proposta de

escolarização da literatura estes LDs empreendem?

Assim, no capítulo 1 abordamos as considerações teóricas mais relevantes do

Círculo de Bakhtin a respeito do discurso poético; no capítulo 2, procuramos discutir

a problemática dos gêneros, a questão dos gêneros literários e o conceito

bakhtiniano de gênero do discurso. O capítulo 3 encerra a fundamentação teórica,

buscando explorar a questão do livro didático como gênero discursivo cuja autoria

mobiliza diferentes textos em diferentes gêneros, ao lado de uma descrição dos

gêneros poéticos objeto de estudo desta pesquisa.

No capítulo 4, trazemos os procedimentos metodológicos que auxiliaram no

rastreamento dos gêneros poéticos nos livros didáticos, bem como na escolha das

coleções para análise.

No capítulo 5, 6 e 7 trazemos os dados referentes à análise quantitativa e

qualitativa dos gêneros poéticos nas coleções de 1º e 2º ciclos (1ª a 4ª séries) e 3º e

4º ciclos (5ª a 8ª séries), respectivamente, procurando responder às questões de

pesquisa colocadas em relação à incidência dos gêneros poéticos, aos textos e

autores privilegiados e às atividades propostas, bem como compreender a proposta

de escolarização empreendida pelo manual didático.

Esperamos que esta investigação possa contribuir para descrever o “estado

da arte” dos gêneros poéticos nos livros didáticos de língua portuguesa do ensino

fundamental, bem como possa fornecer subsídios para a reflexão e

redimensionamento das formas de didatização do discurso poético, com vistas à

efetiva formação do leitor literário.

15

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Capítulo 1 __________________________

O Círculo de Bakhtin e o discurso poético: releituras e descobertas

Ao rastrearmos o pensamento bakhtiniano sobre o discurso poético, pudemos

vislumbrar três caminhos que se entrecruzam:

• suas considerações de cunho filosófico sobre as relações entre ética e

estética, com vistas a uma contribuição decisiva para esta última, no que

concerne à apreciação das manifestações artístico-literárias;

• a formulação de uma concepção de linguagem ligada à proposição de

uma estética – a do ato de autoria13- a partir da qual, ao nosso ver, o

discurso poético e suas realizações podem ser relidos legitimamente;

• suas formulações sobre o discurso romanesco.14 que, contribuindo de

forma definitiva para a teoria do romance, ainda oferecem subsídios para a

compreensão do fenômeno poético.

Não há dúvida de que, em Bakhtin, a compreensão do romanesco está

articulada à do poético. É difícil falar de um sem se reportar ao outro, pois poesia e

romance estariam entrelaçados historicamente, como afirma Tezza (2003: 15):

Não será exagero dizer que a concepção de romance, em Bakhtin, depende

profundamente de uma concepção de poesia, na medida em que a poesia é

13 Segundo Clark & Holquist (1998: 104): O ato de autoria que é tratado em A Arquitetônica constitui

o tropo matriz de toda a obra de Bakhtin. O encontro dos autores com os heróis por eles entrançados no mundo de seus textos vem a ser uma forma feliz para conjugar e modelar todas as demais categorias bakhtinianas.

14 Caberia aqui uma distinção entre discurso poético e discurso prosaico. Evitamos o prosaico, pois

recobre outras esferas que não somente a artística e/ou pode ser lido apenas como configuração composicional ou como o velho binômio de sentido viciado e uso equivocado poesia/prosa. Alguns autores, de outra maneira, distinguem “romancistas” de “prosadores”. Sobre esta distinção, ver observação de Machado (1996: 244) sobre a resenha do poeta Vinícius de Moraes do romance A morte e a morte de Quincas Berro d’ água, de Jorge Amado.

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elemento essencial do discurso épico, contra o qual, nos termos bakhtinianos, o

discurso romanesco vai se construindo ao longo da história.

O pouco que Bakhtin se deteve no discurso poético em sentido estrito, como

ele mesmo assinala, foi dialogando com a estilística de sua época, com a poética

tradicional e com o Formalismo Russo.

Se, em certa época, nos fins do século XIX, como bem coloca o próprio autor,

a estilística tradicional buscava no discurso do romance formas “puramente

poéticas”, a nossa leitura, não ousaria, mais de um século depois, procurar na

teorização bakhtiniana do romance simples contrapontos para uma teorização do

discurso poético. Não se trata, simplesmente, de uma dicotomia, em que os dois

discursos constituem pólos opostos ou, de forma mecânica, extremos de um

continuum, ou ainda, da idéia de que, entre os elementos que os constituem e os

caracterizam, se encerrem relações biunívocas, ou, pelo contrário, do tipo

presença/ausência, positivo/negativo.

E mesmo que se pense em semelhanças e diferenças entre os discursos

romanesco e poético, o fato inegável de que ambos pertencem a um mesmo

domínio - o da esfera artística – proporciona, em sua efervescência e multiplicidade

(o barroco e o modernismo brasileiro bem souberam explorar tais possibilidades),

uma mescla de elementos, de dissolução de fronteiras entre o discurso poético e o

romanesco e mesmo entre estes e outras manifestações artísticas, como as artes

plásticas, a música e o cinema.

Este capítulo constitui, assim, em grande parte, uma releitura dos textos do

Círculo de Bakhtin15 que fizeram, direta ou indiretamente, referência ao discurso

poético16. Neste percurso, fomos surpreendidos, ainda que de modo não tão

15 O Círculo de Bakhtin é a denominação que recebeu um grupo formado por intelectuais próximos a Mikhail Bakhtin, apaixonados pela filosofia e debate de idéias, que se reuniam, segundo Clark & Holquist (1998), em 1918, em Nevel (entre eles, Volochinov), e depois em Vitebsk, ao final de 1919 (entre o quais, Miedviédiev). Pelo fato da questão da autoria de alguns textos e obras de elementos do grupo ainda ser controversa e sem solução, optamos por considerar, na referência bibliográfica, a dupla autoria nas obras mais disputadas, que aqui foram utilizadas: “Marxismo e Filosofia da Linguagem”, e “Discurso na vida e discurso na arte”, ambas atribuídas por vezes a Volochinov, por vezes a Bakhtin. 16 Falaremos, por enquanto, não em gêneros poéticos, mas em discurso poético, conforme Bakhtin trata na obra O discurso no romance (1934-1935). Na mesma obra, contudo, Bakhtin fala de gêneros poéticos no sentido restrito, quando se refere aos poemas como gêneros unilingües e monoestilísticos. Pensamos, como veremos mais adiante, numa utilização de maior amplitude para este termo.

17

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aprofundado, com algumas descobertas, ao refletirmos sobre poemas cujas

realizações nem de longe tinham sido imaginadas, à época, pelos pensadores

russos. Acreditamos que isso nos permitirá, adiante, certas aproximações em

direção ao que denominamos, nesta pesquisa, “gêneros poéticos”.

Selecionamos, para tanto, os seguintes textos do círculo17: Para uma Filosofia

do Ato (Bakhtin, 1919-1921); Discurso na vida e discurso na arte

(Bakhtin/Volochinov, 1926); Marxismo e Filosofia da Linguagem: Problemas

fundamentais do método sociológico (Bakhtin/Volochinov, 1929); Problemas da

poética de Dostoiévski (Bakhtin, 1929; 1961-1962); O discurso no romance (Bakhtin:

1934-1935) e O problema do conteúdo, do material e da forma (Bakhtin, 1924), de

Questões de Literatura e Estética (1975); O autor e o herói (Bakhtin, 1920-1930) e

Os gêneros do discurso (Bakhtin, 1952-1953), de Estética da criação verbal (1979).

Dividiremos este capítulo em três partes: o artístico, em que destacaremos, na

obra do Círculo, considerações gerais sobre a esfera artística; o romanesco e o

poético, em que discorreremos sobre as considerações bakhtinianas a respeito do

discurso romanesco e do poético; e uma parte final, à qual denominamos o poético

inesperado, em que faremos referências a algumas manifestações poéticas

“imprevistas” pela obra bakhtiniana.

1.1. O Artístico

A arte é o social em nós.

Vygotsky

Há, basicamente, dois pontos principais sobre os quais recai nossa atenção

ao pensarmos no discurso poético:

1) O processo de criação artística, em que o poeta trabalha de forma singular com a

linguagem, num espaço e num tempo determinados. Aqui, estamos pensando

em autoria, que abrange, na concepção bakhtiniana, não somente o produtor de

um enunciado, mas as relações entre o autor (autor-criador), o herói (objeto) e o

ouvinte (contemplador); e

17 As referências às obras de Bakhtin estão aqui apresentadas pela data original de seus textos e não pela edição que consultamos.

18

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2) O produto da criação – o poema – em suas múltiplas realizações. Aqui, estamos

vislumbrando o gênero, pensando antecipadamente, não em gêneros literários,

na acepção tradicional, mas em gêneros do discurso, conforme a formulação de

Bakhtin18.

Ao nosso ver, estes dois pontos estão imbricados e, em alguns momentos,

como no texto de 1926 - Discurso na vida e discurso na arte –, é explícita a crítica às

dicotomias, a algumas tendências que privilegiam a forma, operando uma

fetichização da obra artística enquanto artefato e desprezando o conteúdo/sentido, e

a outras em que a atenção recai sobre a psique do criador e/ou contemplador ou às

teorias sociológicas de cunho mecânico. Devem-se levar em conta os dois

momentos, uma espécie de processo-produto, se podemos nos expressar assim,

considerando-os relacionalmente:

O artístico é uma forma especial de interrelação entre criador e contemplador

fixada em uma obra de arte. (Bakhtin/Volochinov, 1926: 4)

Para podermos pensar, com Bakhtin, o que faz de um conjunto de palavras

no papel, de frases enfileiradas, de versos agrupados, uma obra de arte, ou seja, o

que lhes confere significado estético, será necessária uma visita aos textos em que

foi tratada a relação entre ética e estética e, em seguida, àqueles que focaram,

precisamente, o discurso literário.

Num dos primeiros manuscritos do autor russo, datado de 1919-1921, e mais

tarde intitulado Para uma Filosofia do Ato, o jovem Bakhtin, então com 20 e poucos

anos, num texto denso, de teor filosófico, já lançava as sementes de seu

pensamento, sempre às voltas com as relações entre estética e ética. Categorias

que são trabalhadas em obras posteriores, como a questão da autoria, relações

autor-herói, exotopia, cronotopo etc. são encontradas neste texto, de forma

embrionária e com designações ainda flutuantes.

18 Para o teórico, gêneros do discurso são tipos relativamente estáveis de enunciados, com conteúdo

temático, estilo e construção composicional. (Bakhtin, 1952-1953/1979: 279). Voltaremos detalhadamente a esse ponto no próximo capítulo.

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Nessa obra inicial, Bakhtin concebe a atividade ética como um ato

responsável, no seu processo de “estar se fazendo” num momento único, concreto,

de sua realização. Sempre partindo de e se endereçando a um ser humano,

envolvido neste evento19, o ato pode ser entendido como uma ação de qualquer

natureza, um pensamento, um enunciado verbalizado ou não, escrito ou não. Ao ato,

ao evento único do Ser, Bakhtin alia, numa simultaneidade, num todo indissolúvel,

os valores que são mobilizados por meio da relação eu e outro, num tempo e lugares

também únicos. Segundo Clark & Holquist (1998),

Bakhtin supõe que cada de nós “não tem álibi na existência”. Nós próprios

precisamos ser responsáveis ou respondíveis, por nós mesmos. Cada um de

nós ocupa um lugar e um tempo únicos na vida, uma existência que é concebida

não como um estado passivo, mas ativamente, como um acontecimento. Eu

calibro o tempo e o lugar de minha própria posição, que está sempre mudando,

pela existência de outros seres humanos e do mundo natural por meio dos

valores que articulo em atos. A ética não se constitui de princípios abstratos,

mas é o padrão dos atos reais que executo no acontecimento que é minha vida.

Meu self é aquilo mediante o que semelhante execução responde a outros

selves e ao mundo a partir do lugar e do tempo únicos que ocupo na existência.

(Clark & Holquist, 1998: 90)

Neste trecho de Clark e Holquist, é fácil perceber o peso das categorias,

ainda seminais nos escritos do jovem Bakhtin, e que vão nortear todo o seu

pensamento nas obras posteriores: a relação eu-outro, que compreendemos aqui

como uma síntese ainda da inter-relação complexa autor-herói-ouvinte; as

categorias espaço-tempo que são circunscritas, por fim, pelo termo cronotopo, e

aliado às anteriores, e de primaz importância, como veremos adiante, o relevo dado

ao componente axiológico, ou seja, à atitude valorativa (do eu, do falante, do autor,

etc.) em relação a um objeto.

Apesar de, neste texto, não tratar ainda especificamente da linguagem, dos

discursos, Bakhtin já inicia um movimento muito próprio seu, que é o de

19 “Ser-evento único”, ou “evento único do ser” também são outras expressões usadas por Bakhtin,

nesse mesmo texto, para se referir a este tópico.

20

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correlacionar a atividade estética e a atividade real da vida cotidiana. Para

exemplificar o que ele chama de arquitetônica real do mundo realmente

experimentado ele lança mão da análise de um poema de Pushkin20 “Separação”,

para clarificar a disposição arquitetônica do mundo na visão estética em torno de um

centro de valores (Bakhtin, 1919-1921/1993: 83). Ou seja, para o leitor compreender

suas considerações filosóficas sobre o Ser e sobre a vida, ele vai verificar como se

dá essa arquitetônica na arte:

Para dar uma idéia preliminar da possibilidade de uma arquitetônica valorativa

concreta, vamos analisar aqui o mundo da visão estética – o mundo da arte.

Em sua concretude e sua impregnação com o tom emocional-volitivo, este

mundo está mais perto do mundo unitário e único do ato realizado do que

qualquer outro mundo abstrato cultural (tomado isoladamente). Uma análise

desse mundo nos ajudaria a chegar mais perto de um entendimento da

estrutura arquitetônica do mundo-evento-real. (Bakhtin, 1919-1921/1993: 79)

Revendo o texto de 1926, Discurso na vida e discurso na arte, verificamos

repetir-se essa correlação; entretanto, o foco já é explicitamente a linguagem e o

movimento é examinar a “vida” para compreender a arte:

O propósito do presente estudo é tentar alcançar um entendimento do enunciado

poético, como uma forma desta comunicação estética especial, verbalmente

implementada. Mas para fazer isso nós precisamos antes analisar em detalhes

certos aspectos dos enunciados verbais fora do campo da arte – enunciados da

fala da vida e das ações cotidianas, porque em tal fala já estão embutidas as

bases, as potencialidades da forma artística. Além disso, a essência social do

discurso verbal aparece aqui num relevo mais preciso e a conexão entre um

enunciado e o meio social circundante presta-se mais facilmente à análise.

(Volochínov, 1926: 4-5)

Mas voltemos à análise do poema de Pushkin. Apesar de que o objetivo,

então, não seja realizar uma análise literária do poema, nos cânones estabelecidos

(na época, em plena efervescência do Formalismo), ou que possa, ainda hoje, ser

20 Aleksander Pushkin, 1799-1837, grande poeta russo, fundador da clássica poesia russa.

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reconhecida por nós como uma análise literária típica (ainda herdeira do

Formalismo), Bakhtin, deslocando o foco de atenção para o que ele denomina na

época “centro de valores”, ou “centro valorativo concreto” - em que o ser humano

como centro de valor é o ponto do qual emanam e para o qual se dirigem todas as

categorias, seja na vida, seja na realização estética -, deixa-nos uma brecha para

que possamos afirmar que a preocupação dele estava no processo de instauração

do estético, grosso modo, no processo-produto, e não no produto isoladamente, no

material textual e seus aspectos formais:

A unidade do mundo na visão estética não é uma unidade semântica ou

sistemática, mas uma unidade que é concretamente arquitetônica: o mundo se

dispõe em torno de um centro valorativo concreto, que é visto e amado e

pensado. O que constitui esse centro é o ser humano: tudo nesse mundo

adquire significado, sentido e valor apenas em correlação com o homem – como

[sic] aquilo que é humano. (Bakhtin, 1919-1921/1993: 79)

Voltaremos ainda, neste trabalho, ao termo “arquitetônica”, cujo sentido dado

por Bakhtin nos interessa especialmente. Vejamos agora como a arte se dispõe para

podermos compreender a estrutura arquitetônica do mundo-evento-real.

Transcrevemos aqui o poema de Pushkin e o início da análise de Bakhtin, em que

ele localiza esses centros de valor e já trabalha algumas categorias como a

exotopia, as relações dialógicas e as noções de espaço, tempo e valor:

Com destino às praias de sua pátria distante

Você estava partindo desta terra estrangeira.

Naquela hora inesquecível, naquela triste hora,

Eu chorei diante de você por um longo tempo.

Minhas mãos, mais e mais frias,

Lutavam por trazê-la de volta.

Meus lamentos imploravam que você não interrompesse

A angústia terrível da despedida.

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Mas você arrancou os seus lábios

Do nosso beijo amargo;

De uma terra de sombrio exílio

Você disse: “No dia do nosso encontro

Sob um céu eternamente azul

Na sombra de oliveiras,

Nós mais uma vez, meu amado, uniremos nossos beijos de amor.”

Mas lá – oh! – onde o arco celeste

Brilha seu azul radiante,

Onde as águas dormem sob o abismo,

Você para sempre adormeceu:

Sua beleza e seus sofrimentos

Desapareceram no túmulo –

E o beijo do nosso encontro desapareceu também...

Mas eu estou esperando por esse beijo que você me deve...

Há duas pessoas ativas neste poema – o herói lírico (o autor objetivado) e “ela”

(Riznich), e, conseqüentemente, há dois contextos de valor, dois pontos de

referência concretos com os quais os momentos valorativos, concretos, do Ser

estão correlacionados. O segundo contexto, além disso, sem perder sua auto-

suficiência, é valorativamente abrangido (afirmado e fundado) pelo primeiro, e

ambos os contextos são, por sua vez, abrangidos pelo contexto estético unitário

valorativamente afirmado do autor-artista, que está situado do lado de fora da

arquitetônica da visão de mundo do poema (não o autor-herói, que é um

participante dessa arquitetônica) e do lado de fora da arquitetônica do

contemplador. O lugar único, no Ser, do sujeito estético (do autor, do

contemplador), o ponto do qual surge ou flui sua atividade estética (seu amor

objetivo de um ser humano concreto) têm apenas uma determinação: estar

situado do lado de fora [vne-nakhodimost´] de todos os momentos da unidade

arquitetônica [ilegível] da visão estética. E é isso que, pela primeira vez, cria a

possibilidade de o sujeito estético abranger a arquitetônica espacial e temporal

inteira através da ação de uma auto-atividade afirmadora e fundadora e

valorativamente unitária. A empatia estética (a visão de um herói ou de um

objeto de dentro deles) realiza-se ativamente deste lugar único exotópico e é

nesse mesmo lugar que a recepção estética se realiza, isto é, a afirmação e a

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formação do material absorvido através da empatia – dentro dos limites da

arquitetônica unitária da visão. A exotopia do sujeito (exotopia espacial, temporal

e valorativa) – o fato de que o objeto de empatia e visão não sou eu – torna

possível pela primeira vez a atividade estética da formação. (Bakhtin, 1919-1921/

1993: 83-84)

Pela simples leitura do início da análise proposta por Bakhtin, vemos que as

categorias - autor-artista (escritor); autor-herói (o herói-lírico); contemplador; o

evento/ato (o enunciado poético); a exotopia (estar situado temporalmente,

espacialmente e valorativamente do lado de fora do evento) - estão inter-

relacionadas, levando-se em conta a atitude valorativa de um participante em

relação ao outro. Podemos ainda vislumbrar outros níveis de relação, em que, por

exemplo, o evento/ato possa ser descrito como o evento/ato narrado no enunciado

poético.

A partir daí, outra vez, como em cascata, desenha-se a inter-relação entre os

participantes, os centros de valores: o herói e “ela” - sobre quem se fala e a quem se

dirige o enunciado - o escritor e o contemplador. Ou seja, autoria sobre autoria,

podemos vislumbrar diversos níveis, diversos participantes, nós autores-

contempladores exotopicamente orientados para um evento estético, o poema,

construído a partir de um excedente de visão valorativamente marcado, do autor-

criador, a dizer um evento ético – o sentido da partida e morte de Riznich para o

autor-herói.

Pensamos que Bakhtin nos fornece, aqui, outros elementos para que

possamos pensar o artístico – e destacamos, o poético - em categorias tais que não

apenas a análise das formas, das imagens-tropo, das configurações rítmicas e

sonoras. A nosso ver, é daí mesmo, na instauração de uma visão estética, que se

encontra a ponta do fio de Ariadne a nos conduzir, primeiramente, à compreensão

do pensamento bakhtiniano sobre o discurso poético e, em seguida, à proposição de

uma releitura de alguns gêneros poéticos.

Retornando ao texto Discurso na vida e discurso na arte (1926), a

preocupação com a esfera artística, com a comunicação estética toma corpo e

investe-se de um espírito crítico:

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O que caracteriza a comunicação estética é o fato de que ela é totalmente

absorvida na criação de uma obra de arte, e nas suas contínuas recriações por

meio da co-criação dos contempladores, e não requer nenhum outro tipo de

objetivação. (Volochínov, 1926: 4)

Este texto dialoga incansavelmente, e de modo tenso, com o método formal,

reafirmando o caráter imanentemente social da arte e a importância da consideração

do autor, do herói e do ouvinte como fatores constitutivos essenciais da obra

artística.

Ao tratar da questão da forma, do conteúdo e do material, no mesmo texto,

dada a grande elaboração teórica por parte dos formalistas em relação aos aspectos

formais do poema, sobretudo os fônicos/sonoros, Volochínov é incisivo ao,

novamente, não dissociar forma e conteúdo, mas relacioná-los à apreciação

valorativa do autor em relação ao objeto (herói) e ao ouvinte:

A significância avaliativa da forma é especialmente óbvia no verso. O ritmo ou

outros elementos formais do verso abertamente expressam uma certa atitude em

direção do objeto. (Volochínov, 1926: 12)

Num momento anterior, no texto de 1924, O problema do conteúdo, do material

e da forma, atribuído a Bakhtin ele mesmo, localizamos a mesma afirmação sobre a

forma, ampliada:

Assim, a forma é a expressão da relação axiológica ativa do autor-criador e do

indivíduo que percebe (co-criador da forma) com o conteúdo; todos os

momentos da obra, nos quais podemos sentir a nossa presença, a nossa

atividade relacionada axiologicamente com o conteúdo, e que são superados na

sua materialidade por essa atividade, devem ser relacionados com a forma.

(Bakhtin, 1924/1975: 59)

Nada passa ao largo do criador, de seu universo valorativo. A atitude

valorativa do autor em relação ao conteúdo é que vai selecionar e organizar as

formas. Como aponta o próprio Bakhtin, esse processo não é cronológico, mas

hierárquico. Além disso, o artista depara com a própria resistência do material bruto

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a que pretende dar forma e precisa superá-la. No caso de um escultor, exemplo

dado por ele, o mármore é o material sobre o qual, por meio de uma técnica, mas

não apenas uma técnica, chegará a determinada forma. No caso de um poema,

contudo, trata-se do material verbal. Bem, um mármore não está em todo lugar, está

na natureza, no ambiente. O material verbal, ao contrário, está em todo lugar em que

se encontra o humano, está antes na boca de cada um, depois, abstratamente, num

compêndio do sistema ou das palavras de uma língua. Talvez seja também por isso

que Bakhtin insista tanto na correlação entre o discurso da vida cotidiana e o

discurso da arte.

Em “O autor e o herói na atividade estética”, datado da mesma época dos

anteriores, entre 1920 e 1930, Bakhtin vai desenvolver as relações antes anunciadas

entre o autor, o herói e o ouvinte, associando-os, de forma sistemática, às categorias

de tempo, espaço e valor. No mesmo ensaio, trata da questão do conteúdo, da

forma e do material, além de questões sobre o estilo, elementos que balizarão,

definitivamente, alguns anos depois, sua noção de gênero do discurso.

A mesma analogia com o artista que trabalha o mármore reaparece então, e

questões sobre o trabalho do artista com a língua e sobre a ação dos lingüistas

afluem com mais vigor21:

Realmente, o artista trabalha a língua, mas não enquanto língua; ele a supera

enquanto língua, pois não é em sua determinação lingüística (morfológica,

sintática, lexicológica, etc.) que ela deve ser percebida, mas no que a torna um

recurso para a expressão artística. (A palavra deve deixar de ser sentida como

palavra.) A criação do poeta não se situa no mundo da língua, o poeta apenas

serve-se da língua. No tocante ao material, a tarefa do artista, que é condicionada

pelo desígnio artístico, consiste em superar um material. Superar o material não é

um processo somente negativo que visaria instalar uma ilusão. No material,

supera-se a eventual determinação extra-estética que lhe é inerente: o mármore

deve deixar de se opor sua resistência em sua qualidade de mármore, ou seja,

enquanto determinado fenômeno físico, e deve expressar a plasticidade das

formas do corpo, porém sem criar a ilusão do corpo; o que é físico no material é

justamente superado no que tem de físico. Será que devemos perceber as 21 Pedimos desculpa ao leitor pela longa citação, mas julgamo-la importante para a compreensão de

questões que serão colocadas mais adiante, como as da relação do poeta com a língua, com as imagens, no ato da criação.

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palavras na obra de arte enquanto tais, ou seja, no que causa sua determinação

lingüística? A forma morfológica enquanto tal? A sintaxe enquanto tal? A

semântica enquanto tal? Será que o todo da obra é um todo verbal? A obra, claro,

também deve ser estudada como todo verbal, e é tarefa dos lingüistas; mas um

todo verbal que for percebido como todo verbal deixará de ser um todo artístico.

Superar a língua como se supera a matéria física só pode ser feito de forma

imanente; não se supera a língua negando-a e sim propiciando-lhe um

aperfeiçoamento imanente em função de uma necessidade determinada. (A língua

em si mesma é indiferente, é sempre auxiliar e não tem finalidade, serve

indiferentemente à cognição, à arte, à comunicação prática, etc.). (Bakhtin, 1920-

1930/1979: 206-207)

Então o estudo das formas, dos recursos que a língua oferece ao artista, e

que este mobiliza com mestria, é um estudo insuficiente da estética literária? Todas

as escolas herdeiras do formalismo, ou que com ele polemizaram, produziram

compêndios e compêndios de análise literária em vão?

Cremos que não, mas acreditamos que a visão estética proposta por Bakhtin

traz uma contribuição específica aos procedimentos já correntes de análise poética,

atualizando-os, para nunca perder de vista o ato de criação em sua completude.

Como o diz o próprio Bakhtin, no mesmo ensaio sobre o autor e o herói, não se trata

de “contestar o direito de estudar tais elementos” mas “simplesmente recolocá-los

nos respectivos lugares” (Bakhtin, 1920-1930/ 1979: 208).

É bom relembrar, em outra obra, o chamado bakhtiniano à formulação de uma

real poética sociológica. Em Marxismo e Filosofia da Linguagem

(Bakhtin/Volochínov, 1929: 124), ao enunciar a ordem metodológica para o estudo

da língua, o terceiro momento referir-se-ia ao “exame das formas da língua na sua

interpretação lingüística habitual”. Pensamos que, ao fazer uma transposição para o

estudo dos fenômenos literários22, as correntes formalistas e suas aparentadas, que

22 Bakhtin (1924/1975: 17), faz uma crítica à pesquisa que se move na periferia da própria obra de

arte, frisando que a poética agarra-se à lingüística, temendo afastar-se um passo dela (na maioria dos formalistas e em V. M. Jirmúnski), e às vezes chega mesmo a querer ser apenas um ramo da lingüística (em V. V. Vinográdov). É interessante, ainda, sob este tema, consultar o artigo de Voloshinov, de 1929, Les frontières entre poétique et linguistique (In Todorov, T. Mikhail Bakhtine – le principle dialogique. Paris: Éditions du Seuil, 1981, p. 243-285), que defende, em posição crítica em relação ao trabalho de Vinográdov, o rompimento entre a lingüística e a poética e uma independência metodológica desta última.

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propõem de uma forma ou de outra uma análise imanente do texto literário

(estruturalismo, new criticism, escola morfológica), ocupariam este papel terciário no

método sociológico do círculo bakhtiniano

A primeira ordem “As formas e os tipos de interação verbal com as condições

concretas em que se realiza” referir-se-ia, assim, às relações entre ética e estética

instauradas por Bakhtin, sobre a qual discorremos a partir da leitura de alguns de

seus textos iniciais. Podemos evocar aqui a epígrafe desta seção, em que Vygotsky

(1926/ 2001: 315) afirma que a arte é o social em nós. O artístico, como

denominamos há pouco, constitui-se, no dizer de Bakhtin, numa relação entre vida e

arte, concebidas indissociadamente, Em todas as facetas da atividade humana

mediadas pela linguagem, vislumbra-se uma unidade, uma totalidade, integrando

processo-produto: o ato ético, como posicionamento valorativo diante do mundo

social e o ato estético como consubstanciação em forma-conteúdo desta valoração.

A segunda ordem consistiria no estudo das “formas das distintas

enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação estreita com a interação de que

constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de fala na vida e na criação

ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal.” Em nosso

entendimento, trata-se do estudo das formas já estabilizadas; no nosso caso, do

discurso romanesco e do discurso poético, e por fim, dos gêneros específicos – os

gêneros poéticos. Trataremos, a seguir, desta segunda ordem.

1.2. O romanesco e o poético

Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo23

Fernando Pessoa

Tezza (2003), em obra recente, busca, a partir da análise das obras de

Bakhtin e da leitura de alguns autores do Formalismo Russo, compreender como o

pensador russo concebia o discurso poético e em que termos colocava a distinção

entre o discurso poético e o discurso romanesco.

23 Pessoa, Fernando. Livro do desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 391.

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Há, parece-nos, dois pontos sobre o quais Bakhtin vai marcar as diferenças

entre os dois tipos de discurso – configurando o que Tezza (2003)24 vai chamar de

tese ou “hipótese” de Bakhtin:

1) Os processos centralizadores e descentralizadores da vida verbo-ideológica,

atuando na história das línguas e, por conseguinte, na história da literatura: o

discurso poético, historicamente, vai ser expressão das forças centrípetas da

linguagem; e o discurso romanesco, ao contrário; das forças centrífugas;

2) A poesia seria a expressão de um discurso centralizador, em que impera a voz

do poeta, não havendo espaço para a voz alheia. O estilo poético necessitaria,

nas palavras de Tezza (2003: 277), de uma “atitude isolante diante do

plurilingüismo”, um “apagamento deliberado da dimensão dialógica da palavra”; a

linguagem num poema se realiza como algo “indiscutível”, “indubitável”,

“englobante”. O estilo prosaico, por sua vez, é descentralizador, nutre-se da

palavra alheia, não eleva a voz do autor-criador;pelo contrário, dá autonomia a

outras vozes sociais.

Antes de nos ocuparmos diretamente do primeiro ponto, para que se comprove

a “hipótese de Bakhtin”, nos dizer de Tezza (2003) é necessário remontarmos ao

pano de fundo da teoria bakhtiniana, ou seja, considerar a sua visão de linguagem,

que concebe a linguagem e suas significações, sempre na relação dialógica entre

centros de valores – grosso modo, entre um “eu” e um “tu” – e a palavra sempre

como acontecimento concreto. As múltiplas relações que se estabelecem refletem

uma palavra imbuída de cruzamentos dialógicos diversos, que é sempre uma

resposta a uma outra palavra anterior, numa cadeia ad infinitum, no que foi e no

devir do processo interacional. Referida a um objeto, que já carrega consigo

múltiplas avaliações, são múltiplos também os níveis dialógicos que Bakhtin

vislumbra, ao colocar em relevância o caráter dialógico da linguagem.

24 Fazemos referência, sobretudo ao IV capítulo “A hipótese de Bakhtin”, In C. Tezza. Entre a prosa e

a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003, p. 180-286, em que Tezza vai tentar costurar os pontos teóricos referentes às distinções, na obra bakhtiniana, entre o discurso poético e o discurso prosaico (ou romanesco).

29

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Em outras palavras, para pensarmos com Bakhtin o discurso poético, ou o

prosaico, ou qualquer outro, é preciso que os consideremos como manifestações

vivas da linguagem, enunciados concretos – momentos verbais –, partícipes da

corrente de comunicação verbal ininterrupta (Bakhtin/ Volochinov: 1929: 123). Neles

se instauram e reinstauram relações dialógicas diversas, cujos níveis vão aflorar ou

“hibernar” de acordo com movimentos e fatores sócio-historicamente determinados.

Assim, em determinados momentos, essa corrente de comunicação verbo-

ideológica vai, digamos, “oficializar” determinados tipos de enunciados, que,

estabilizando-se, passam a ser legitimados e tomados até como formas prototípicas.

No caso dos textos poéticos, o soneto e os versos decassílabo e alexandrino são

exemplares desta legitimação. Nesse sentido, historicamente, os gêneros poéticos

serviram, sim, à centralização, à unificação, e o romanesco era expressão, ainda

nascente, das forças descentralizadoras, em oposição à vida lingüístico-ideológica

oficial:

Enquanto as variantes básicas dos gêneros poéticos desenvolvem-se na

corrente das forças centrípetas da vida verbo-ideológica que unifica e centraliza,

o romance e os gêneros literários e prosaicos que ele atrai para si constituíram-

se historicamente na corrente das forças descentralizadoras e centrífugas. E

enquanto a poesia, nas altas camadas sócio-ideológicas oficiais, resolvia o

problema da centralização cultural, nacional e política do mundo verbal-

ideológico, por baixo, nos palcos das barracas de feira, soava um discurso

jogralesco, que arremedava todas as ‘línguas’ e dialetos, desenvolvia a literatura

das fábulas e das soties, das canções de rua, dos provérbios, das anedotas.

Nesses palcos não havia nenhum daqueles centros lingüísticos onde o jogo vivo

se realizava nas ‘línguas’ dos poetas, dos sábios, dos monges, dos cavaleiros,

etc., e nenhum aspecto seu era verdadeiro e indiscutível. (Bakhtin, 1934-

1935/1975: 82-83)

Ou seja, Bakhtin, ao se referir ao discurso poético como partícipe das forças

centralizadoras, está colocando-o na corrente dos acontecimentos históricos, mais

precisamente, à época de surgimento das manifestações da prosa romanesca na

vida ideológica européia. É preciso ter em mente que, após a época de escrita da

30

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obra O discurso no romance25, nos anos 1930, surgiram diferentes expressões do

discurso poético e romanesco e que não há pré-determinações sobre quais

participavam da corrente de forças centrífugas ou das forças centrípetas, dentro da

produção artístico-literária.

Como exemplos passageiros, pensando em manifestações participantes de

forças centrípetas e centrífugas, podemos citar, no contexto brasileiro, as

manifestações ufanistas e moralizantes de um Olavo Bilac, por exemplo. Em terreno

contrário, em um outro período histórico, podemos pensar, como subversão da

ideologia oficial, na produção de Chico Buarque e Gilberto Gil em anos de ditadura

militar.

As considerações de Bakhtin, assim, estão atreladas a um tempo e a um

espaço determinados. Seria melhor concebermos que cada escola, cada gênero,

cada enunciado concreto, enfim, carrega, como disse o próprio Bakhtin, a tensão

entre as forças centralizadoras e descentralizadoras da linguagem:

Cada enunciação concreta do sujeito do discurso constitui o ponto de aplicação

seja das forças centrípetas, como das centrífugas. Os processos de

centralização e descentralização, de unificação e de desunificação cruzam-se

nesta enunciação, e ela basta não apenas à língua, como sua encarnação

discursiva individualizada, mas também ao plurilingüismo, tornando-se seu

participante ativo. Esta participação ativa de cada enunciação define para o

plurilingüismo vivo o seu aspecto lingüístico e o estilo da enunciação, não em

menor grau do que sua pertença ao sistema normativo-centralizante da língua.

Cada enunciação que participa de uma ‘língua única’ (das forças centrípetas e

das tendências) pertence também, ao mesmo tempo, ao plurilingüismo social e

histórico (às forças centrífugas e estratificadoras) (Bakhtin, 1934-1935/1975: 82).

25 O discurso no romance (1934-1935) é dedicado, sobretudo, ao desenvolvimento do conceito de

plurilingüismo no romance. Salvo melhor citação sobre o tema, para Bakhtin, o romance é uma diversidade social de linguagens organizadas artisticamente, às vezes de línguas e de vozes individuais. A estratificação interna de uma língua nacional única em dialetos sociais, maneirismos de grupos, jargões profissionais, linguagens de gêneros, fala das gerações, das idades, das tendências, das autoridades dos círculos e das modas passageiras, das linguagens de certos dias e mesmo de certas horas (cada dia tem sua palavra de ordem, seu vocabulário, seus acentos), enfim, toda estratificação interna de cada língua em cada momento dado de sua existência histórica constitui premissa indispensável do gênero romanesco. (p. 74)

31

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Na verdade, haverá, ainda, nuances de descentralização e centralização de

outro tipo, relacionadas ao interior do próprio enunciado, à instauração mesma do

estético, na origem da criação do ato poético, ou prosaico. Conforme Tezza (2003:

260), mais uma vez, o conceito de centralização e descentralização da linguagem

não pode ser reduzido a uma polaridade simples e mecânica, de fora para dentro; as

forças sociais da linguagem atuam, num sentido ou noutro, em todas as instâncias

do momento verbal.

Passemos ao segundo ponto, o fato de que a atitude do poeta e do prosador

em relação ao objeto diferem; assim, a relação que se estabelece entre autor-criador

e seu herói (ou seu objeto) determinariam tudo o mais, inclusive a composição

formal e, sobretudo, a centralização ou descentralização do discurso, a presença ou

não da palavra alheia.

Em 1929, no seu livro sobre Dostoiévski, o autor já traçava algumas linhas

norteadoras para a configuração dos discursos romanesco e poético. Ao tratar dos

Tipos de Discurso na Prosa, faz uma referência inicial à questão do discurso

prosaico e do discurso poético:

O discurso poético, no sentido restrito, requer a uniformidade de todos os

discursos, sua redução a um denominador comum, podendo este ser um

discurso do primeiro tipo26 ou pertencer a variedades atenuadas de outros tipos.

Aqui, evidentemente, também são possíveis obras que não reduzem toda a

matéria do seu discurso a um denominador, embora esses fenômenos sejam

raros e específicos no século XIX. Situamos, neste contexto, por exemplo, a

lírica prosaica de Heine, Barbier, Nekrasov e outros. Uma das particularidades

essenciais da ficção em prosa é a possibilidade que ela abre de se empregarem

diferentes tipos de discurso, mantendo intacta, ao plano de uma obra, ao plano

de uma obra isolada, a sua distinta expressividade, sem a redução a um

denominador comum. Aqui, reside uma profunda diferença entre o estilo em

prosa e o estilo em poesia. Mesmo na poesia, no entanto, toda uma série de problemas cruciais não pode ser resolvida sem que se considere o sistema de investigação aqui proposto, porquanto tipos diferentes de discurso

26 Bakhtin, logo antes deste trecho citado, esquematiza uma classificação dos tipos de discurso. O

discurso de primeiro tipo refere-se àquele diretamente orientado para o seu objeto como expressão da última instância representativa do falante. Aos outros tipos de discurso denomina discurso concreto e discurso orientado para o discurso de um outro (discurso bivocal).

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exigem, em poesia, um tratamento estilístico diferente27. (Bakhtin, 1929;

1961-1962/1981: 174)

O trecho que ressaltamos nesta citação nos mostra que Bakhtin tinha

consciência da problemática de sua teorização sobre tipos de discurso na prosa ao

pensarmos no objeto poético. O tratamento “estilístico diferente” aponta para uma

crítica a uma estilística que só conhece e só sabe pensar seu objeto em termos de

uma fala direta pertencente ao autor e orientada para o referente. (Bakhtin,

1929/1961-1962/ 1981: 174)

O que o pensador russo queria dizer com este movimento à uniformidade?

Para nós, correntemente, o enunciado poético apresenta-se como um protótipo de

texto aberto, ao pensarmos nas múltiplas possibilidades de significação que dele

podem aflorar. É preciso um retorno a este ponto.

Reafirmando o que já foi posto, qualquer enunciado concreto é produto da

inter-relação entre três participantes – o autor, o herói e o ouvinte –, social e

historicamente fixados em um tempo e lugar, e carrega consigo marcas indeléveis

desta inter-relação, das orientações dialógicas do autor em relação ao objeto e ao

herói e, da mesma forma, da orientação do ouvinte sobre o objeto e sobre o herói.

Nesse sentido, a questão da autoria, na obra de Bakhtin, ao nosso ver e como

já frisamos, é essencial, pois dela derivam categorias que nos permitem

compreender sua visão de estética e suas críticas às estilísticas tradicionais. O

autor, para Bakhtin, não se confunde com o autor biográfico, mas também não é a

marca gramatical que conhecemos como narrador. Não foi, ainda, preocupação de

Bakhtin contestar ou não a presença do autor, como Barthes (1968)28; o autor

sempre existirá onde houver um produto da criação humana.

Subvertendo a ordem cronológica dos fatos, Bakhtin, nos textos de 1920-

1930, em defesa do princípio criador na relação do autor e do herói, já constatava a

27 Ênfase adicionada.

28 Referimo-nos, aqui, ao artigo de Roland Barthes, de 1968, intitulado “A morte do autor”, no qual

Barthes anuncia, encaminhando para uma mudança no enfoque dos estudos literários, o afastamento do Autor, colocando, assim como Mallarmé, a própria língua no lugar daquele que dela era até então considerado proprietário e proclamando que é a linguagem que fala, não o autor. (p. 66)

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imensa confusão contestada por Barthes e parece responder, anos antes, ao alarde

e ao que foi alardeado, anos depois:

A prática mais corrente consiste em extrair um material biográfico de uma obra e,

inversamente, em explicar uma obra pela biografia, contentando-se com uma

coincidência entre fatos pertencentes respectivamente à vida do herói e à do

autor (...) Denunciamos simplesmente o procedimento puramente factual,

desprovido de qualquer princípio, tal como é praticado atualmente, baseado na

confusão total entre o autor-criador, componente da obra, e o autor-homem,

componente da vida, com total ignorância do princípio criador existente na

relação do autor com o herói. (Bakhtin, 1920-1930/1979: 29-31)

E, destacando a produtividade da atividade criadora e a reação ativa e global

do autor em relação ao herói, assinala:

[...] Um autor não é o depositário de uma vivência anterior, e sua reação global

não decorre de um sentimento passivo ou de uma percepção receptiva; o autor é

a única fonte da energia produtora da forma, a qual não é dada à consciência

psicologizada, mas se estabiliza em um produto cultural significante; (Bakhtin,

1920-1930/1979: 28)

O autor, sendo constitutivo da obra, assume, na visão bakhtiniana, não um

papel passivo, receptivo de formas e discursos anteriores, como quis Barthes, mas

sim uma posição ativa com respeito ao conteúdo. Esse ponto é de suma importância

para a compreensão do papel do autor. Por ele, com ele e apesar dele, os

julgamentos de valor assumem posição decisiva na atividade criadora:

Julgamentos de valor, antes de tudo, determinam a seleção de palavras do autor

e a recepção desta seleção (a co-seleção) pelo ouvinte. O poeta, afinal,

seleciona palavras não do dicionário, mas do contexto da vida onde as palavras

foram embebidas e se impregnaram de julgamentos de valor [...]

(Bakhtin/Volochinov, 1926: 11).

[...] Todos os elementos do estilo de uma obra poética estão também

impregnados da atitude avaliativa do autor com relação ao conteúdo e

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expressam sua posição social básica. Frisemos uma vez mais que aqui não nos

referimos àquelas avaliações ideológicas que estão incorporadas no conteúdo

de uma obra na forma de julgamentos ou conclusões, mas àquela espécie mais

entranhada, mais profunda de avaliação via forma que encontra expressão na

própria maneira pela qual o material artístico é visto e disposto.

(Bakhtin/Volochinov, 1926: 14)

Estas citações permitem constatar a relação que Bakhtin estabelece entre

autoria, estilo, forma e apreciação valorativa. Neste sentido, é possível compreender

o que ele quis dizer ao se referir ao poeta e ao prosador como tendo atitudes

diferentes em relação ao seu objeto, ou seja, estabelecendo relações diferenciadas,

impregnadas de atitudes avaliativas diferenciadas, estabelecendo artisticamente

com a matéria bruta – no caso a língua – posições também distintas.

Para Bakhtin, o enunciado é participante ativo do diálogo social e, sob

diversas formas, ele se aproxima do objeto da enunciação. A orientação se dá

diretamente entre discurso e objeto, no caso do discurso poético, e por meio de

discursos alheios, no caso do discurso da prosa:

Se representarmos a intenção, isto é, a orientação sobre o objeto de tal discurso

pela forma de um raio, então nós explicaremos o jogo vivo e inimitável de cores

e luzes nas facetas da imagem que é construída por elas, devido à refração do

“discurso-raio” não no próprio objeto (como o jogo de imagem –tropo do discurso

poético no sentido restrito, na “palavra isolada”), mas pela sua refração naquele

meio de discursos alheios, de apreciações e de entonações através do qual

passa o raio, dirigindo-se para o objeto. A atmosfera social do discurso que

envolve o objeto faz brilhar as facetas de sua imagem. (Bakhtin, 1934-

1935/1975: 87)

Ao poeta, cabe proceder ao isolamento da palavra, embora não ao acaso; e

ao prosador, cabe permitir a efusão de vozes diversas. As formas derivadas em um

ou outro caso, as mesclas, são frutos deste momento original – em dado tempo e

dado espaço, o artista depara com seu objeto (que também depara com o artista).

Embebidos de julgamentos de valor, o autor-criador cunha, então, simultaneamente,

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forma-e-conteúdo e, juntamente com o ouvinte, co-partícipe deste processo criativo

– dá vida à obra de arte.

O isolamento a que se refere Bakhtin é, segundo compreendemos, uma

marca do discurso poético, ou, melhor dizendo, uma marca da atitude do poeta em

relação ao seu objeto. O poeta precisa, no seu processo de trabalhar o material

verbal, proceder ao isolamento da palavra da língua na linguagem própria do poeta.

Como bem dizia Maiakóvski, na obra poética a novidade é obrigatória29, ou

seja, o isolamento da palavra de seu uso habitual, pelas mãos do artista, do poeta,

promove a invenção e o coloca, no processo criativo, como parte integrante da

própria obra:

O isolamento ou a separação não se relacionam nem com o material, nem com a

obra, como coisas, mas com seu significado, com o seu conteúdo, que se liberta

de algumas ligações indispensáveis com a unidade da natureza e com a unidade

do evento ético do ser (Bakhtin, 1924/1975: 59-60).

Se fizemos uma leitura correta, temos aqui, mais uma vez, a

compreensão bakhtiniana de estilo, que correlaciona forma-autor-material-

conteúdo, articulação imprescindível para o entendimento do fenômeno

poético:

O isolamento torna possível pela primeira vez a realização positiva da forma

artística, pois possibilita uma relação não cognitiva e não ética com o

acontecimento, possibilita uma livre moldagem do conteúdo e libera também

todas as energias criativas desse sentimento. Assim o isolamento é a condição

negativa do caráter pessoal, subjetivo (mas não psicologicamente subjetivo) da

forma; ele permite que o autor-criador se torne um elemento constitutivo da

forma. (Bakhtin, 1924/1975: 61)

Em sua exotopia temporal, espacial e valorativa, o autor-criador vê a palavra

de todo dia, isola esta palavra para que ela não possa ser somente a palavra de

todo dia, mas algo mais e/ou diferente. Parece que os procedimentos formais que

29MAIAKÓVSKI, V. (1926) Como fazer versos. In SCHNAIDERMAN, B. A poética de Maiakóvski. São

Paulo: Perspectiva, 1984, p.172.

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encontramos no poema, o trabalho com os sons, com o ritmo, as imagens

construídas, tudo serve ao propósito do poeta de isolar e diferenciar a palavra:

A língua do poeta é sua própria linguagem, ele está nela e é dela inseparável.

Ele utiliza cada forma, cada palavra, cada expressão no seu sentido direto (por

assim dizer, “sem aspas”), isto é, exatamente como a expressão pura e imediata

de seu pensar. Quaisquer que tenham sido as “tormentas verbais” que o poeta

tenha sofrido no processo de criação, na obra criada, a linguagem passou a ser

um órgão maleável, adequado até o fim ao projeto do autor. (Bakhtin, 1934-

1935/1975: 94)

O discurso poético, portanto, orientado diretamente para o seu objeto,

“esquece”, no caminho da construção das imagens, os usos cotidianos da

linguagem, para colocar em prática, autorizar, a linguagem do poeta:

Na imagem poética, em sentido restrito (na imagem-tropo30), toda a ação, a

dinâmica da imagem-palavra, desencadeia-se entre o discurso (em todos os

seus aspectos) e o objeto (em todos os seus momentos). A palavra imerge-se na

riqueza inesgotável e na multiformidade contraditória do próprio objeto com sua

natureza “ativa” e ainda “indizível”; por isso, ela não propõe nada além dos

limites de seu contexto (exceto naturalmente o tesouro da própria língua). A

palavra esquece a história da concepção verbal e contraditória do seu objeto e

também o presente plurilíngüe desta concepção. (Bakhtin, 1934-1935/1975: 87)

Antonio Candido (1992) pode nos auxiliar a compreender essa passagem. Ele

fala do poema, que, mobilizando imagens, metáforas, desfaz e refaz o mundo. Para

ele, uma metáfora desfaz a semelhança do objeto com o mundo, por meio de

substituições convencionais ou pouco convencionais, proporcionadas pelas

possibilidades da língua, que o autor explora no processo de criação:

Portanto, na comparação, sobretudo em sua forma mais radical, a metáfora, o

mundo está e não está presente. De fato, graças a ela o escritor acentua a

30 Compreendo a expressão imagem-tropo por todos os recursos expressivos da língua, as chamadas

figuras de linguagem da qual o poeta lança mão ao criar um poema: metáforas, metonímias, antíteses, aliterações etc.

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intensidade da analogia até parecer que não há mais mundo, mas sim uma

mensagem com vida própria, podendo inclusive não se referir a algo que a

experiência comprove. (...) Neste processo de desfazer a realidade o mundo se

vai desfigurando e o objeto referido pela palavra parece passar dele para ‘dentro’

do discurso. Aparentemente, não é mais o mundo, é outra coisa, que parece não

existir fora dos limites do texto. (Candido, 1992: 41-42)

Ao que parece, é aí que reside o esquecimento a que se refere Bakhtin, o

autor “esquece” o objeto para o qual a palavra aponta no mundo, seu presente

“plurilíngüe”, de “todo dia”, para ressurgir sob a autoridade da voz do poeta: é o

mundo refeito pela linguagem.

Assim, o poeta, ao centralizar sua linguagem, não permite, por assim dizer,

outras vozes, outras linguagens, detém a autoridade semântica sobre o que é dito.

Ao lembrarmos da distinção bakhtiniana entre sinal e signo31, transportando a

mesma idéia para a língua (como artefato) e o produto artístico (um poema, por

exemplo), podemos compreender a epígrafe desta seção, em que Fernando Pessoa

diz não escrever em português (em uma língua), mas sim escrever “ele mesmo”. O

próprio Bakhtin pode contribuir para elucidar essa “confissão” do poeta:

Nos gêneros poéticos, a consciência literária (no sentido da unidade de todas as

intenções semânticas e expressivas do autor) realiza-se inteiramente na sua

própria língua; ela é inteiramente imanente, exprimindo-se nela direta e

espontaneamente sem restrições nem distâncias. A língua do poeta é sua

própria linguagem, ele está nela e é dela inseparável. Ele utiliza cada forma,

cada palavra, cada expressão no seu sentido direto (por assim, dizer, “sem

aspas”), isto é, exatamente como a expressão pura e imediata de seu pensar.

Quaisquer que tenham sido as “tormentas verbais” que o poeta tenha sofrido no

processo de criação, na obra criada a linguagem passou a ser um órgão

maleável, adequado até o fim ao projeto do autor. (Bakhtin, 1934-1935/1975: 93-

94)

31 O processo de descodificação (compreensão) não deve, em nenhum caso, ser confundido com o

processo de identificação. Trata-se de dois processos profundamente distintos. O signo é descodificado; só o sinal é identificado. O sinal é uma entidade de conteúdo imutável; ele não pode substituir, nem refletir, nem refratar nada; constitui apenas um instrumento técnico para designar este ou aquele objeto (preciso e imutável) ou este ou aquele acontecimento (igualmente preciso e imutável). O sinal não pertence ao mundo da ideologia; ele faz parte do mundo dos objetos técnicos, dos instrumentos de produção no sentido amplo do termo (Bakhtin/ Volochinov, 1929: 93).

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Esta centralização da linguagem como característica própria do discurso

poético, afirmada por Bakhtin de várias formas, em vários momentos, é confundida

com o fato de o discurso ser monológico/dialógico, ou mesmo com as adjetivações

autoritário/democrático, como bem explicou Tezza (2003):

A idéia de centralização da linguagem é um conceito complexo, e seria pueril

tomá-lo apenas no sentido “autoritário”, que o termo implica, dando a essa

entonação, digamos assim, como diriam Bakhtin e Voloshinov, uma marca

temática ou ideológica necessariamente excludente. Há muitos planos a

considerar no aspecto centralizador do estilo poético, e o primeiro deles é

também estritamente formal, como queriam os formalistas (e paravam aí). Do

ponto de vista da linguagem, a centralização não é primordialmente um

fenômeno temático (manifestação de uma opinião “autoritária”, por exemplo,

que exigiria a análise conteudística do momento verbal, o seu “tema” para

decidir o grau de “autoridade”), mas dialógica; na sempre dupla orientação da

palavra, é preciso avaliar que espaço o meu centro de valor dá ao centro de

valor alheio e a todos os centros de valores que pulsam no objeto quando a ele

me refiro (Tezza, 2003: 258)

Para Bakhtin, em O discurso no romance (1934-1935/1975: 94), na obra

poética, a linguagem realiza-se como algo indubitável, indiscutível, englobante.

Nesse sentido, podemos pensar que não é próprio ao discurso poético a polêmica.

Se se trata da linguagem do poeta, em tom maior, o que pode ser contestado?

Para melhor compreender essa passagem, procedamos à leitura de uma

atividade com um pequeno poema, retirada de um livro didático de Língua

Portuguesa, 1ª série32. O nosso interesse aqui não é discutir o poema, nem

tampouco sua qualidade literária. Centremo-nos, aqui, na questão colocada pelo

autor da obra didática:

32 Tiepolo, E. & Medeiros, S. Arte & Manhas da Linguagem – Português 1. Curitiba: Nova Didática,

2001.

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Deus

Só inventa Coisa boa.

Fez o beija-flor

Que é flor Que voa

(Lalau e Laurabeatriz)

Você concorda que o beija-flor é uma flor que voa?? Por quê??

Temos aqui um poema simples, que em sua apresentação nem sabemos se

está completo ou é um excerto do original. O objeto para o qual os autores-criadores

se orientam é o pássaro beija-flor. Fazendo uma simples analogia que unifica as

características do pássaro – leveza, beleza, suavidade, cores – com as

características de uma flor, constróem a metáfora “O beija-flor é flor que voa”. Bem,

estamos falando do poema em si.

Nossa preocupação é com a questão que o autor do livro didático coloca, que

vai recair certeiramente sobre esta única imagem do poema. Se, pensando com

Bakhtin, a língua do poeta é a sua própria língua, é algo indubitável, indiscutível,

como podemos concordar com esta imagem ou dela discordar, como sugere a

questão colocada?

Obviamente, na vida cotidiana, podemos discordar de e concordar com seja lá

o que for. Estamos no terreno da nossa atividade ética neste mundo e do pleno

exercício da liberdade. Podemos discordar do conteúdo ideológico de um poema,

por exemplo. Entretanto, aqui estamos também no terreno da atividade estética, do

discurso poético, e não apreciando um evento ético ou cognitivo, como diria Bakhtin.

Assim, a colocação de tal polêmica sobre uma imagem poética é, no mínimo,

descabida. Além disso, lembremos que estamos na esfera escolar, da qual fazem

parte os manuais didáticos, tentando orientar os alunos para a apreensão de algum

fazer poético.

Poderíamos discordar desta imagem somente se pudéssemos, outrossim, na

posição de poetas, contrapor a ela outra imagem. Os gêneros que permitem

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pensarmos em termos de concordância/discordância não estão no terreno do

poético, mas do retórico, do prosaico. Como, mais uma vez bem, coloca Tezza

(2003: 271):

Podemos ler a obra de Camus33 detestando ou contestando cada uma das

afirmações de Mersault, e no entanto nos apaixonando pelo texto; mas ninguém

aprecia um poema detestando os seus versos; um verso, no sentido estrito da

poesia, não é a expressão de alguém que está sob o olhar do poeta; no seu

sentido estritamente poético, todo poema é a expressão direta do poeta, sem

intermediários.

Pensemos no que ocorreria se todos ficassem se perguntando: “Será que no

meio do caminho tinha mesmo uma pedra?” ou “Você concorda que o poeta é um

fingidor?”, ou, opinando “Eu não acho que navegar é preciso, viver não é preciso,

por que já fui marinheiro”.

Estas incursões de outras vozes a questionar as imagens poéticas dessa

maneira desfazem o que há nelas de poético, o poema deixa de ser poema pra ser

alguma outra coisa que comporte contraposições de vozes num sentido que aí não

cabe. Daí podemos compreender o que Bakhtin queria dizer com unificação,

centralização. Não se referia somente às questões históricas, mas à própria

constituição do objeto poético, o que não pode, certamente, se dissociar das

considerações históricas. E, ao pensarmos em questões históricas, vale frisar que a criação artística,

seja qual for, muda no tempo e no espaço, configurando novos fenômenos, no

nosso caso, novas manifestações poemáticas. Façamos agora uma breve reflexão

sobre estas criações “inesperadas”.

33 Tezza refere-se ao romance O Estrangeiro (1942), do autor francês Albert Camus, em que Mersault

é o personagem principal.

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1.3. O poético inesperado

O meu trabalho a todo

outro trabalho é igual.

Maiakóvski

Parece-nos, até aqui, que as proposições de Bakhtin se ajustam

perfeitamente ao discurso poético; sua hipótese, como queria Tezza (2002), é

bastante coerente com sua concepção dialógica de linguagem e com as

especulações sobre o fazer artístico, que têm como pano de fundo a sua noção

ampliada de autoria.

Entretanto, é preciso refletir sobre o alcance destas proposições. Em seus

apontamentos sobre o poético, Bakhtin entrevia o surgimento de outras

“experiências” sobre as quais ainda não era possível teorizar. A pergunta que não

quer calar é: a que tipo de manifestação poética Bakhtin se reportava? Tudo que ele

coloca pode se aplicar a quaisquer manifestações, desde um soneto, um haicai, um

poema concreto, um poema de cordel, um poema visual, a um poema digital?

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Em citação feita páginas atrás, da obra

sobre Dostoiévski, Bakhtin já se referia a possíveis obras que não se reduziam a um

denominador comum. Citava, então, a lírica prosaica de Heine, Barbier, Nekrasov e

outros – fenômenos raros e específicos no século XIX. Em O discurso no romance

(1934-1935), em nota de rodapé, Bakhtin também admite a existência de formas

híbridas entre os gêneros poéticos:

Evidentemente, o que caracterizamos o tempo todo é o limite ideal dos gêneros

poéticos; nas obras reais são admitidos prosaísmos substanciais, e existe

grande número de variantes híbridas de gêneros, particularmente correntes na

época de “troca” das linguagens poéticas. (Bakhtin, 1934-1935/1975: 95)

Na mesma página, Bakhtin afirma que o poeta sonha com a criação artificial

de uma nova linguagem poética, antes do que recorrer aos dialetos sociais. Cita

42

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como exemplo os cubo-futuristas34, entre eles Khliébnikov. Mesmo não conhecendo

toda obra deste autor, vale trazer à tona uma ressalva interessante que faz

Schnaiderman sobre o processo de criação de Khliébnikov:

Khlébnikov certamente faz é uma aplicação de recursos da canção popular35,

mas com uma radicalidade e um senso das possibilidades do idioma que

permitem uma valorização desse processo e dão-lhe nova dimensão.

(Schnaiderman, 1967/1985: 14)

Mesmo que estes poetas estivessem em busca de “uma linguagem da

poesia”, como afirmou Bakhtin, longe dos dialetos sociais, é, paradoxalmente, em

meio ao popular que vão buscar recursos. Assim, há possibilidade de um

plurilingüismo aí emergente, de outra ordem, ainda não previsto, que estivesse na

base da expressão de obras que, aparentemente, buscavam fugir a ele. É o poético

inesperado por Bakhtin, que deixa de ser exceção nos anos seguintes e passa a ser

a regra. Nesse sentido, o plurilingüismo, seja marcado verbalmente ou por outras

vias, como pelo aspecto sonoro, rítmico ou gráfico, vai fazer parte essencial da

criação poética brasileira a partir do modernismo.

É difícil pensarmos, então, numa distinção demasiado marcada entre poesia e

prosa, quando vislumbramos, por exemplo, a produção dos poetas da primeira fase

do movimento modernista no Brasil. Trata-se, aqui, da mescla prosa-poesia, da

interferência dos gêneros, de uma lírica prosaica a que Bakhtin se referiu, e de uma

lírica que era plena resposta ativa à outra, estabelecida, centralizada, unificadora,

oficial – a parnasiana. Parece-nos que, com este propósito, Manuel Bandeira, em

sua Poética36, ao mesmo tempo proclamava um lirismo repleto das vozes de

outrem, das múltiplas vozes sociais:

34 O cubo-futurismo é um movimento poético que marca o início do século XX na Rússia, em reação

ao simbolismo. Era marcado pelo surgimento de novas formas de expressão, revolucionando o uso da palavra e explorando novas possibilidades para o seu emprego.

35 Ênfase adicionada.

43

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Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e Manifestações de apreço ao sr. diretor Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare Não quero saber do lirismo que não é libertação.

Já não existiria mais a “pura poesia”, imaculada de todo e qualquer contágio

prosaico e plurilíngüe? Como reconhecer, hoje, o território da poesia e da prosa?

Isso é, de fato, imprescindível para a apreensão do poético, do artístico? Em que

medida a poesia, mesmo atualmente, dialoga com suas origens, a canção e as

manifestações populares, imbuídas do plurilingüismo?

Estes tópicos vão ser discutidos nos próximos capítulos, ao vislumbrarmos os

poemas como gêneros do discurso marcados historicamente e ao sugerirmos uma

ampliação para o uso da expressão “gêneros poéticos”.

36 Faz parte do livro Libertinagem, publicado em 1930, que reúne poemas modernistas do autor

publicados entre 1922 e 1930.

44

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Capítulo 2 __________________________

Os gêneros poéticos do discurso: aproximações

No capítulo anterior, tratamos das considerações teóricas bakhtinianas a

respeito do discurso poético: primeiramente, sobre as relações entre ética e estética

e, posteriormente, sobre o romanesco e o poético. Este capítulo pretende prosseguir

em direção às formas específicas de enunciados – os gêneros – que Bakhtin

denomina gêneros do discurso, bem como aos que nos interessam mais

especificamente em nossa pesquisa, os gêneros poéticos do discurso.

Como tratamos de enunciados pertencentes à esfera de comunicação

artística, mais especificamente literária, é preciso, de antemão, discorrer sobre o

termo gênero como foi concebido pelos estudos literários já cristalizados – o gênero

literário – e quais relações podemos (se podemos) estabelecer com o conceito de

gêneros do discurso colocado por Bakhtin. De fato, grande parte do capítulo se

dedicará à questão genérica, sob uma ou outra ótica. Afinal, parte desta pesquisa,

pelo seu objeto mesmo, assume-se não como uma pesquisa sobre gêneros, mas

sobretudo como uma pesquisa sobre a problemática dos gêneros, como o disse o

próprio Bakhtin37.

Para nos auxiliar na reflexão sobre este catálogo infinito38, aparentemente

inapreensível em suas múltiplas formas e manifestações, resgatamos as

considerações bakhtinianas sobre formas arquitetônicas e composicionais. Por fim,

repensamos uma manifestação poética muito conhecida, o soneto, como gênero

literário e/ou do discurso.

37 O título original do capítulo Os gêneros do discurso (1952-1953), do livro Estética da criação verbal

(1979) é O problema dos gêneros do discurso. 38 Caracterização de Otávio Paz (1982: 17) para a pluralidade dos gêneros literários poéticos e as

incansáveis tentativas de classificação destes na história literária.

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2.1. A Problemática dos gêneros O termo gênero, do latim gerus, generis, remete à noção de origem,

nascimento. Não é um termo reservado às ciências humanas, tem aplicações como

unidade taxionômica ou não, em outras ciências, como a biologia e a geometria

analítica. Mas, vejamos no Dicionário Aurélio, que acepções podemos considerar

para a nossa reflexão:

Gênero. [ Do lat. genus, eris.] S. m. 1. Lóg. Classe cuja extensão se divide em

outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies. 2. P.

ext. Conjunto de espécies que apresentam certo número de caracteres comuns

convencionalmente estabelecidos. 3. P. ext. Qualquer agrupamento de

indivíduos, objetos, fatos idéias, que tenham caracteres comuns; espécie,

classe, casta, variedade, ordem, qualidade, tipo: Freqüentava todo gênero de

gente; Que gênero de conversa é esta? Nesta rua há todo gênero de casas. 4.

Maneira, modo, estilo: Não concordo com esse gênero de vida. 5. Nas obras de

um artista, de uma escola, cada uma das categorias que, por tradição, se

definem e classificam segundo o estilo, a natureza ou a técnica: os gêneros

literários, musicais, pictóricos. 6. Classe ou natureza do assunto abordado por

um artista: gênero dramático; gênero romântico [...] (Ferreira, 1986: 844)

As primeiras acepções trazem os termos classe, espécie, relacionados à

necessidade de terem entre si características comuns que, em relação à literatura,

podemos já questionar: Quais características? De forma? De conteúdo? Ambas? De

outra ordem?

As significações 5 e 6 referem-se, especificamente, ao tema aqui tratado:

vemos então colocada a questão da tradição que diz ou dita a definição e/ou

classificação de uma categoria. Neste ponto, podemos dizer que o dicionário aponta,

em termos literários, para os gêneros já estabilizados e reconhecidos como tal. Stalloni (2003), crítico literário, lembra-nos que os gêneros estão ligados

intimamente à noção de norma (ordem a seguir); número (reunião fundamentada

sobre critérios de semelhança) e hierarquia (uma divisão do saber em níveis). De

certa forma, a necessidade de se organizar em listas e categorias ocorrências

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plurais, comparando-as, faz parte de nossa cultura ocidental, por vezes analítica, por

vezes normativa, por vezes hierarquizadora. A visão orgânica, de um todo, é

incômoda, parece-nos que beira o caos; preferimos, assim, ao pensamento

englobante, a compartimentalização, a estratificação, a especialização, a

qualificação.

Diversos teóricos da área da teoria da literatura como Ducrot39 & Todorov

(1972); Schaeffer (1983); Silva (1973); Moisés (1978); García Berrio & Fernández

(1999) são unânimes em reafirmar a complexidade do problema dos gêneros

literários, assinalando a confusão presente no seu estudo e, por conseguinte, a não

resolução de sua problemática. Uns referem-se à mescla de critérios classificatórios,

outros à flutuação das nomenclaturas, compondo um conjunto de questões que, a

par disso, tem sua origem em espaços que extrapolam a esfera literária. Para Silva

(1973), os problemas dos gêneros relacionam-se às variadas concepções sobre o

mundo e suas produções:

O conceito de gênero literário tem sofrido múltiplas variações históricas desde a

Antigüidade helênica até aos nossos dias e permanece como um dos mais

árduos problemas da estética literária. Aliás, o problema dos gêneros literários

conexiona-se intimamente com outros problemas de fundamental magnitude,

como as relações do individual e do universal, as relações entre visão do mundo

e forma artística, a existência ou inexistência de regras, etc., e estas implicações

agravam a complexidade do assunto. [...] (Silva, 1973: 203)

Schaeffer (1983) também assinala que o problema dos gêneros literários não

se restringe a um mero problema literário:

Je poserai au départ que la plupart des théories génériques ne sont pas

véritablement des théories littéraires, mais plutôt des théories de la

connaissance. Je veux dire par là que leur enjeu transcende la théorie littéraire

39 Ducrot atua não somente na área da literatura, mas também na área dos estudos lingüísticos.

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proprement dite et débouche sur des querelles d’ ordre ontologique40. (Schaeffer,

1983: 3)

2.1.1. Os gêneros literários: um pouco de história41

No princípio, era o Verso...

Remonta à Antigüidade Clássica a reflexão sobre os gêneros literários, da

qual é herdeira a tríade por nós conhecida – o lírico, o épico e o dramático. É com

Platão (~ 428 a.C. - 347 a.C.) que se inicia este difícil percurso, nos livros lll e X de A

República. De início, o filósofo grego já distingue, a partir do modo como o poeta

atua – o modo mimético42 – três divisões: a poesia mimética ou dramática (que

compreenderia a tragédia e a comédia); a poesia não mimética (ou lírica),

representada pelos poetas ditirâmbicos43, que relatam os fatos “eles mesmos” e, por

fim, a poesia mista ou épica (a epopéia de Homero, principalmente), que combinava

os dois modos anteriores.

Já no livro X, Platão vai afirmar que toda poesia é mimética. A sua

preocupação, contudo, não era estabelecer uma classificação, uma divisão para as

espécies literárias, apesar de tê-lo feito. Objetivava defender a universalidade e

unicidade da arte, o que de certo modo tendia para a eliminação dos gêneros. Fez

ainda uma dura crítica aos poetas: estes conheciam apenas a aparência das coisas,

eram autores de uma “terceira espécie”, pois imitavam o que o artesão fabricava.

40 “Direi de início que a maioria das teorias genéricas não são verdadeiramente teorias literárias, mas antes teorias do conhecimento. Quero dizer com isso que seu alcance transcende a teoria literária propriamente dita e alcança questões de ordem ontológica”.(Tradução própria)

41 Baseamo-nos, para descrever este percurso da história dos estudos dos gêneros literários, principalmente em Silva (1973/1988; 2002) e em Lima (1981/1988). Reservamos o espaço, aqui, para os fatos que nos pareceram mais relevantes, conscientes de que a história da genelogia abriga muito mais autores e opiniões.

42 O termo refere-se a mímesis, compreendida aqui como imitação ou representação do real, recriação da realidade pela arte, apesar de haver muito debate no campo da teoria e crítica literária sobre a significação do termo em Platão e em Aristóteles.

43 Segundo o Dicionário Aurélio, ditirâmbico refere-se a ditirambo: Nas origens do teatro grego, canto

coral de caráter apaixonado (alegre ou sombrio), constituído de uma parte narrativa, recitada pelo cantor principal, ou corifeu, e de outra propriamente coral, executada por personagens vestidos de faunos e sátiros, considerados companheiros do deus Dioniso, em honra do qual se prestava essa homenagem ritualística. (Ferreira, 1986: 601)

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Dessa forma, para Platão, as artes têm uma função moralizante, não sendo

reservado aos poetas um lugar na pólis.

Já Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) procura em sua célebre Poética,

estabelecer uma reflexão mais aprofundada sobre os gêneros literários, detendo-se

na tragédia, na comédia e na epopéia, com especial atenção para a primeira.

Diferentemente de Platão, concebe a mímesis não como reprodução fiel da

realidade, ou da natureza, ou seja, a imitação em relação ao mundo empírico, sendo

o ato de “imitar” natural aos homens e o prazer poderá decorrer da apreciação

artística, da imagem:

Prova disso é o que acontece na realidade: das coisas cuja visão é penosa

temos o prazer em contemplar a imagem quanto mais perfeita; por exemplo, as

formas dos bichos mais desprezíveis e dos cadáveres (Aristóteles, A Poética, In

Brandão, tradução de Jaime Bruna, 1988: 22)

Assim, Aristóteles irá valorizar as artes poéticas, procurando estabelecer

critérios que as diferenciem:

A epopéia, o poema trágico, bem como a comédia, o ditirambo e, em sua maior

parte, a arte do flauteiro e a do citaredo, todas vêm a ser, de modo geral,

imitações. Diferem entre si em três pontos: imitam ou por meios diferentes, ou

objetos diferentes, ou de maneira diferente e não a mesma. (Aristóteles, A

Poética, In Brandão, tradução de Jaime Bruna, 1988: 19)

Segundo Stalloni (2003: 19), os modos de imitação colocados por Aristóteles

em sua Poética vão se referir a três critérios: o critério formal (que distingue prosa e

verso ou uma combinação de ambos); o critério temático (define se a matéria, as

pessoas representadas seriam mais ou menos nobres, por exemplo, na tragédia ou

na comédia); e o critério enunciativo, que vai estabelecer as diferenças entre

enunciações de primeira ou terceira pessoa, para a narrativa, ou representações

diretas, por diálogos, nas obras dramáticas.

É preciso ressaltar que, à época dos gregos, o “modo” de fazer o poético, ou

seja, se a obra estaria em versos ou prosa, não era objeto de reflexão, porque, de

fato, as composições em sua maioria eram feitas em versos e eram acompanhadas

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instrumentalmente. Assim, a separação que temos hoje entre a lírica e as formas

narrativas inexistia; tudo, afinal, era um fazer poético, fosse para ser encenado,

como no teatro, fosse para ser narrado. Mesmo reconhecendo a existência de uma

forma distinta (entrevemos aqui a forma prosaica), o sábio grego não se deteve em

algo que sequer tinha um “nome” à época:

A arte que se utiliza apenas de palavras, sem ritmo ou metrificadas, estas seja

com variedade de metros combinados, seja usando uma só espécie de metro,

até hoje não recebeu um nome. Não dispomos de nome que dar aos mimos de

Sófron e Xenarco ao mesmo tempo que aos diálogos socráticos e às obras de

quem realiza a imitação por meio de trímetros, dísticos elegíacos ou versos

semelhantes. Nada impede que pessoas, ligando à metrificação a poesia, dêem

a uns poetas o nome de elegíacos, a outros o de épicos, denominando-os não

segundo a imitação que fazem mas indiscriminadamente conforme o metro que

usam. (Aristóteles, A Poética, tradução de Jaime Bruna, 1988: 20)

Neste ponto, é fácil afirmar que, para Aristóteles, a concepção de fazer

poético não se apegava ao critério formal relativo ao tipo de verso utilizado e que as

formas de imitação também se não restringiam a este aparato técnico.

Ainda na Antigüidade, temos a figura de Horácio (65 a.C. – 8 a.C.) que, em

sua Epistula ad Pisones, propugna a chamada unidade de tom, ou seja, cada gênero

distintamente possui seus próprios metros, ritmos e conteúdos e o poeta deverá

seguir esses preceitos, sem possibilidade de quaisquer hibridismos, em busca da

perfeição. E o poeta só poderá atingir esta perfeição através da razão, do trabalho e

da disciplina44:

Se não posso nem sei respeitar o domínio e o tom de cada gênero literário,

porque saudar em mim um poeta? Por que a falsa modéstia de preferir a

ignorância ao estudo? (Horácio, Epistula ad Pisones, tradução de Jaime Bruna,

1988: 57)

A partir, então, de Horácio, os gêneros estarão definitivamente demarcados e

assim será por toda a história da teoria literária. As suas colocações, bem como as

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de Aristóteles, irão influenciar o classicismo, no século XVI, e mesmo correntes de

séculos posteriores, XVII e XVIII.

Contudo, os renascentistas vão reler a Poética de Aristóteles ao seu bel-

prazer, numa direção cada vez mais normativa. Introduzem, ainda, o estudo da

poesia lírica, estabelecendo-se, por fim, a tríade canônica dos gêneros: o lírico, o

épico e o dramático. As obras maiores dos gregos e latinos eram tidas como

modelos de perfeição a serem seguidos e os gêneros como unidades fixas e

imutáveis. Destaca-se, mais adiante, no final do século XVII e início do XVIII, sobre

este prisma, a estética do classicismo francês e a figura de Nicolas Boileau-

Despréaux, que baseará todo valor da arte na razão, no equilíbrio e no decoro.

É claro que a criação literária vai experienciar outros gêneros não previstos

e/ou descritos nos modelos greco-latinos. Refletindo sobre estas mudanças, Silva

(1973) acrescenta:

[...] Quando se tende para a afirmação da historicidade do gênero literário,

tende-se também obviamente para a negação do seu caráter estático e imutável

e para a negação dos modelos e das regras considerados como valores

absolutos. (Silva, 1973: 209)

Nesta direção, ainda é Silva (1973) que nos alerta para o fato de que não

havia, assim, tanta unanimidade em relação à doutrina normativa imposta pelos

renascentistas e pelo classicismo francês, já que os barrocos polemizavam com a

questão dos gêneros e das regras. Segundo ele,

[...] o barroco aspira a uma maior liberdade artística, desconfia das regras

inflexíveis, concebe o gênero literário como uma entidade histórica, passível de

evolução, admite a possibilidade de criar gêneros novos e advoga o hibridismo

dos gêneros (a tragicomédia é um gênero dramático caracteristicamente

barroco) (Silva, 1973: 210)

44 Ver Introdução de Roberto de Oliveira Brandão ao livro A Poética Clássica. São Paulo: Cultrix,

1988, p. 8.

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As opiniões divergentes sobre os gêneros foram se acirrando ao longo do

século XVII, num debate que os teóricos literários denominaram “a querela dos

antigos e modernos”: os antigos defendiam ainda como ideal as regras e moldes das

obras greco-latinas; os modernos eram a favor do surgimento de novas

modalidades, por reconhecerem as mudanças culturais e sociais que circunscreviam

os fenômenos literários.

Já no século seguinte, vamos assistir, a partir do movimento pré-romântico

Sturm und Drang, uma tendência crescente à valorização da interioridade do poeta,

da individualidade de cada obra, da criação livre e espontânea. Isto levou à

condenação dos modelos apriorísticos e normativos para os gêneros literários e à

defesa do hibridismo, do amálgama do grotesco e do sublime apregoado por Victor

Hugo no prefácio a Cromwell, em 1827.

A história dos gêneros literários foi marcada, de fato, pela alternância de

visões antagônicas. No final do século XIX, vemos novamente a investida da noção

substancialista dos gêneros, desta vez na voz de Ferdinand Brunetière (1849-1906).

Este autor, influenciado diretamente pelo positivismo e pelas teorias evolucionistas

da época, conceberá a obra artística como um organismo: os gêneros nasceriam de

outros gêneros e se transformariam naturalmente. Umas espécies, assim como as

espécies vivas, seriam “mais fortes”, e sobreviveriam; outras sucumbiriam com o

tempo. Segundo Lima (1981), essa “mascarada biológica” de Brunetière não teria

tido repercussão se não revelasse, se não reafirmasse a existência inquestionável

dos gêneros, apelo de todas as correntes normativas:

As idéias de Brunetière parecem caricatas apenas porque se torna demasiado

evidente a concepção realista dos gêneros. Contudo ela é a justificativa de todos

os normativos. Pois, se não afirmarem que os gêneros, tão bem separados,

correspondem a realidades, como justificariam sua própria autoridade? (Lima,

1981: 246)

A reação às idéias de Brunetière vem, no esteio da revolução em vários

campos do conhecimento contra a cultura positivista, através da reflexão de

Benedetto Croce (1886-1952) sobre a poesia e as artes. Para ele, a força motriz da

criação artística é a intuição, que constitui, por sua vez, a expressão individual do

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poeta. Criticará, portanto, as atitudes que supervalorizam os gêneros literários, como

se estes ocupassem o lugar que seria reservado à expressão poética ou às obras de

cada artista em seus estilos. Admitirá, contudo, que os gêneros literários podem

servir instrumentalmente, como auxiliares na sistematização da história da literatura.

O pensamento de Croce repercute em trabalhos posteriores, como os de

Vossler, do New Criticism e entre os formalistas russos, em sua fase inicial. Esta

repercussão teve vez devido ao nascimento, ao mesmo tempo, da chamada

estilística moderna, que, segundo Lima (1981:249) estabelece ao mesmo tempo a

autonomia da ‘obra de arte literária’ e desenvolve métodos de interpretação a-

históricos, que tornavam supérfluo um estudo prévio das formas e dos gêneros na

história.

Vale lembrar que Croce e Vossler são dois dos teóricos com os quais dialoga

Bakhtin/Volochinov em Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929), justamente sob a

argumentação de que as formulações daqueles compunham a chamada orientação

do subjetivismo idealista ou individualista. A crítica bakhtiniana recai sobre a

consideração, pela teoria da expressão, de um certo dualismo entre o que é interior

e o que é exterior, com primazia explícita do conteúdo interior (Bakhtin/Volochinov,

1929: 111). O subjetivismo individualista ignoraria a natureza social da enunciação,

o que é justamente a afirmação e a insistência dos autores russos em relação à

linguagem:

Assim, a teoria da expressão subjacente ao subjetivismo individualista deve ser

completamente rejeitada. O centro organizador de toda enunciação, de toda

expressão, não é interior, mas exterior: está situado no meio social que envolve

o indivíduo. (Bakhtin/Volochinov, 1929: 121)

O diálogo mais efervescente e que nos interessa, sobretudo, é com os

formalistas russos. Lima (1981) aponta, como um avanço, para o fato de que, a partir

dos anos 20, a obra de Tynianov tenta aproximar a série literária das não literárias45.

45 Em linhas gerais e grosso modo, entre os primeiros formalistas, como Chklovski, buscava-se, nas

obras literárias, o princípio da literariedade, através do procedimento de singularização, ou seja, a intenção era compreender o que conferia o estatuto de literário às obras, em oposição ao automatismo da linguagem do dia a dia. Assim, concebiam na linguagem literária um desvio criador que provocaria, através de certos procedimentos, um estranhamento no leitor, em oposição ao reconhecimento que ocorre na linguagem cotidiana.

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Isto vai permitir rever a idéia de gênero, intimamente ligada, agora, ao dinamismo

histórico:

Através desta segunda meta, lançavam-se os fundamentos de uma nova história

da literatura. Os princípios do desvio e do procedimento eram relegados pelos de

função e sistema e a soma dos procedimentos, pelo de dominante.

Paralelamente a essas novas metas -–que não rompiam mas imprimiam outro

curso ao combate contra a linguagem estereotipada, canonizada como poética –

reintroduzia-se a idéia de gênero, de um modo cujo alcance estamos hoje em

condições de melhor apreciar. Os gêneros, bem como a própria idéia de

literatura, são fenômenos dinâmicos, em constante processo de mudança. (Lima,

1981: 251)

É ainda Lima (1981: 252) que nos alerta para o fato de que Tynianov tinha

uma noção clara da relação entre reconhecimento de um gênero pelo produtor e

receptor de uma obra, pois tal fato está entranhado na própria expectativa histórica

do fato literário.

Tomachevski (1925), outro autor da corrente formalista, mesmo

reconhecendo a dimensão histórica dos gêneros, afirma que estes deverão ser

descritos por suas marcas literárias, pelos procedimentos perceptíveis de

construção:

[...] vemos que não podemos estabelecer nenhuma classificação lógica e

fechada dos gêneros. Sua dimensão é sempre histórica, isto é, justificada

unicamente por um certo tempo; ademais, esta distinção se formula

simultaneamente em muitos traços, e os traços de um gênero podem ser de uma

natureza inteiramente diversa da natureza daqueles de um outro gênero. Ao

mesmo tempo, continuam logicamente compatíveis entre si, porque sua

distribuição não obedece senão às leis internas da composição estética.

É preciso realizar uma aproximação descritiva no estudo dos gêneros e substituir

a classificação lógica por uma classificação pragmática e utilitária, levando em

conta a distribuição do material nos quadros definidos. (Tomachevski,

1925/1971: 203)

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Para Lima (1981), os formalistas se mantiveram presos às propriedades da

obra, à estética da produção. Quem fará a crítica mais acirrada à posição formalista

será Bakhtin/Medvedev, no livro de 1928, O Método Formal nos Estudos Literários.

O debate recairá sobre a insistência dos formalistas em estudar as propriedades da

“linguagem poética em si”, não se atendo à dupla orientação da linguagem, o que

não deixou de desconsiderar os apontamentos de Tynianov:

La totalidad artística de cualquier tipo, es decir, de cualquier género, aparece

doblemente orientada en la realidad, y las particularidades de esta doble

orientación determinan el tipo de la totalidad, es decir, el género.

Una obra está orientada, en primer lugar, hacia los oyentes y los receptores y

hacia las determinadas condiciones de la ejecución y percepción. En segundo

lugar, una obra está orientada en la vida, desde el interior, por así decirlo,

mediante su contenido temático. A su modo, cada género se orienta

temáticamente hacia la vida, hacia sus sucesos, problemas, etcétera.46

(Bakhtin/Medvedev, 1928/1994: 209)

Bakhtin/Medvedev (1928) anunciam, desta forma, uma sociologia do gênero,

compreendendo que cada gênero traz consigo um feixe de expectativas e de

seleção possíveis da realidade (Lima, 1981: 255). Esta posição vai, enfim, superar a

oposição entre realistas e nominalistas, em relação à consideração dos gêneros

literários, já que abandona a posição de que o discurso literário tem existência por si

próprio. Vida e arte, para a teoria bakhtiniana, estão eternamente intricadas, assim

como vida e linguagem. Logo, cada obra estará indissociadamente ligada à

realidade sócio-histórica que a envolve e constitui, o que determinará, por fim, a

variedade genérica:

46 “A totalidade artística de qualquer tipo, isto é, de qualquer gênero, aparece duplamente orientada na realidade, e as particularidades desta dupla orientação determinam o tipo de totalidade, isto é, o gênero. Uma obra está orientada, em primeiro lugar, em direção aos ouvintes e receptores, e em direção a condições determinadas de execução e percepção. Em segundo lugar, uma obra está orientada na vida, desde o interior, por assim, dizer, mediante seu conteúdo temático. A seu modo, cada gênero orienta-se tematicamente em direção à vida, aos seus sucessos, problemas, etc.” (Tradução própria)

55

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De esta manera, la obra participa en la vida y entra en contacto con los

diferentes aspectos de la realidad circundante mediante el proceso de su

realización efectiva, como lo ejecutado, lo oído, lo leído en un determinado

tiempo, en un determinado lugar, en determinadas circunstancias. La obra, en

cuanto cuerpo sonoro real com cierta duración, ocupa un lugar definido que le

corresponde en la vida. Este cuerpo está situado entre la gente organizada de un

determinado modo. Esta orientación inmediata de la palabra en cuanto un hecho

o más exactamente, en cuanto un hacer histórico en la realidad circundante, es

la que determina todas las variedades de los géneros dramáticos, líricos y

épicos47. (Bakhtin/Medvedev, 1928/1994: 210)

Tal formulação nada mais é que uma antecipação das implicações do

conceito de cronotopo, cunhado por Bakhtin anos depois, no seu estudo sobre o

romance. Desenvolveremos melhor este tópico no próximo capítulo, na seção

reservada à descrição dos gêneros poéticos objetos desta pesquisa.

Outra observação importante de Bakhtin sobre a questão dos gêneros literários

encontra-se na obra sobre Dostoiévski (1929; 1961-1962), em que se afirma o

caráter de renovação dos gêneros e também a memória que trazem, numa longa

explanação, aparentemente paradoxal:

Por sua natureza mesma, o gênero literário reflete as tendências mais estáveis,

“perenes” da evolução da literatura. O gênero sempre conserva os elementos

imorredouros da archaica. É verdade que nele essa arcáica só se conserva

graças à sua permanente renovação, vale dizer, graças à atualização. O gênero

sempre é e não é o mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo. O gênero

renasce e se renova em cada nova etapa do desenvolvimento da literatura e em

cada obra individual de cada gênero. Nisto consiste a vida do gênero. Por isto,

não é morta nem a archaica que se conserva no gênero; ela é eternamente viva,

ou seja, é uma arcáica com capacidade de renovar-se. O gênero vive do

presente mas sempre recorda o seu passado, o seu começo. É o representante

47 “Desta maneira, a obra participa da vida e entra em contato com os diferentes aspectos da realidade circundante mediante o processo de sua atual realização, como algo executado, ouvido, lido em determinado tempo, em determinado lugar, em determinadas circunstâncias. A obra, como corpo sonoro real com certa duração, ocupa um lugar definido na vida. Este corpo está situado entre a gente organizada de um determinado modo. Esta orientação imediata da palavra enquanto um fato, ou mais exatamente, enquanto um fazer histórico na realidade circundante, é que determina todas as variedades dos gêneros dramáticos, líricos e épicos”.(Tradução própria)

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da memória criativa no processo de desenvolvimento literário. É precisamente

por isto que tem a capacidade de assegurar a unidade e continuidade desse

desenvolvimento. (Bakhtin, 1929; 1961-1962/1981: 91)

Silva (2002: 372-373), em uma nota de rodapé, mostra o entusiasmo de Ivanov

(1976) pelo conceito de memória do gênero de Bakhtin. Segundo este último, este

conceito permitiu ao crítico russo eliminar a oposição entre poética histórica e

sincrônica e foi o maior achado de Bakhtin sobre a poética histórica. Parece-nos que

este conceito de memória nos é fundamental, da mesma forma, para a compreensão

dos fenômenos poéticos atuais, em suas múltiplas manifestações e em suas

experiências mais radicais. Veremos isto adiante.

Outras considerações sobre os gêneros literários foram feitas no decorrer de

todo o século XX, algumas retomando velhas considerações, outras tentando

apresentar uma nova teorização. Citaremos rapidamente, sob pena de perdemos

aqui contribuições decisivas para a compreensão do fenômeno poético, os trabalhos

de Jakobson, que coloca a função poética como dominante48; as considerações

histórico-sociais de Lukács; os herdeiros do formalismo no movimento estruturalista

e na semiótica literária, como Todorov e Genette; o resgate aristotélico dos críticos

de Chicago; a teoria dos modos ficcionais de Northrop Frye; o retorno à

consideração histórica na literatura e a reformulação da tríade canônica, por Staiger.

Este percurso sobre os gêneros literários, ainda de forma apressada e

sucinta, serviu-nos para iniciar uma reflexão sobre esta questão, que não é,

repetimos, de fácil solução. O que constatamos, na verdade, é que, em nenhum

momento na história dos fenômenos literários, a produção literária, apesar das

tentativas de “enformação” e conformação aos valores e modelos pré-estabelecidos,

contentou-se em negar a si própria a genialidade do novo, pela própria natureza

criativa da esfera artística.

48 Vale lembrar que as formulações de Jakobson sobre as funções da linguagem estiveram (e ainda estão) presentes nos livros e manuais didáticos, de ensino fundamental e médio no Brasil, constituindo-se, por muito tempo, em teoria obrigatória para a explicação/compreensão dos fenômenos da linguagem e da mesma forma, dos poéticos.

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2.2. Os gêneros do discurso na perspectiva bakhtiniana

Como pudemos observar no percurso histórico dos estudos sobre os gêneros

literários esboçado há pouco, as primeiras referências do Círculo de Bakhtin aos

gêneros nasceram, mais uma vez, do diálogo com as posições do método formal,

portanto, no terreno do literário. No texto de 1928, Medvedev assinala o fato de que

o problema dos gêneros foi o último com que os formalistas se depararam, isso

porque os elementos de estruturação das obras foram estudados a priori, sem

relação com os gêneros:

Normalmente, los formalistas definen el género como cierta agrupación

permanente y específica de los procedimientos con una dominante determinada.

Puesto que los procedimientos principales se habían definido ya parte del

género, éste se componía mecánicamente a partir de los procedimientos. La

verdadera importancia del género jamais fue comprendida por los formalistas.49

(Bakhtin/ Medvedev, 1928/1994: 207)

Assim, para os formalistas, os elementos da construção de uma obra já estão

postos; cabe ao artista apenas proceder à combinação destes elementos. Gêneros

novos se constituiriam a partir dos gêneros já existentes. Da mesma forma,

Medvedev (1928) interpreta a condução dos trabalhos de Shklovski “A construção da

novela e do romance” e “Como foi feito Dom Quixote”. E questiona:

¿Qué hacen, en cambio, los formalistas al llegar al problema del género?

Lo separan de aquellos dos polos de la realidad entre los cuales se sitúa y se

define el género. Separar la obra, tanto de la realidad de la comunicación social

como de la comprensión temática de la realidad. Convierten el género en una

49 “Normalmente, os formalistas definem o gênero como sendo um certo agrupamento de

procedimentos constantes e específicos, com uma dominante determinada. Já que os procedimentos principais haviam sido definidos à parte do gênero, este se comporia mecanicamente a partir dos procedimentos. A verdadeira importância do gênero jamais foi compreendida pelos formalistas”.(Tradução própria)

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combinación fortuita de procedimientos elegidos al azar.50 (Bakhtin/Medvedev,

1928/1994: 215-216)

Souza (2002: 97) lembra, em uma nota de rodapé, uma observação

interessante de Morson & Emerson no livro Creation of a Prosaics (1990) sobre o

fato de que foi o Círculo de Bakhtin (e não Bakhtin ele mesmo51) na figura de seus

outros elementos, aqui Medvedev, quem primeiro travou uma discussão mais séria

sobre o gênero. Assim Bakhtin, segundo esses autores, teria sido influenciado pelos

argumentos de Medvedev e, posteriormente, aprimorado o conceito.

Mas Souza (2002: 99-100) acredita que escritos anteriores52 já encaminhavam

para a construção do conceito de gênero, a partir da proposta de divisão da cultura

humana realizada por Bakhtin em ciência, arte e vida, configurando assim uma

noção de domínio cultural :

Nesse sentido, o conceito Gêneros do Discurso vai ser construído no interior de

cada um desses domínios, sendo que a vida cotidiana será construída pelos

Gêneros Primários e a vida da ciência e a vida da arte pelos Gêneros

Secundários. (Souza, 2002: 100)

No caso de nossa pesquisa, esta distinção empreendida por Bakhtin entre

gêneros primários e secundários parece essencial para a reflexão sobre as

manifestações poéticas contemporâneas, como veremos logo adiante.

Na obra Marxismo e Filosofia da Linguagem, Bakhtin/Volochinov (1929: 42-

43) também já faz referência a gênero, ao tratar do estudo da psicologia do corpo

50 “Que fazem, por outro lado, os formalistas, ao chegar ao problema do gênero? Eles o separam daqueles dois pólos da realidade entre os quais se situa e se define o gênero. Separam a obra tanto da realidade da comunicação social como da compreensão temática da realidade. Convertem o gênero numa combinação fortuita de procedimentos eleitos ao acaso” .(Tradução própria) 51 Isso, caso não desconsideremos a problemática da autoria, ou seja, dos textos cuja autoria é atribuída a elementos do Círculo, mas que na verdade seriam do próprio Bakhtin, como é o caso da obra O Método Formal nos Estudos Literários (1928), assinada então por Medvedev. 52 Souza (2002) refere-se aos textos Art and Answerability (Bakhtin, 1919) e Discurso na vida e Discurso na Arte (Bakhtin/ Volochinov, 1926).

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social53, que deve ser feito por dois pontos, pelo conteúdo e pelos tipos e formas de

discurso. Estas últimas seriam formas da comunicação no contexto da vida e através

de signos. E acrescenta:

Mais tarde, em conexão com o problema da enunciação e do diálogo,

abordaremos também o problema dos gêneros lingüísticos. A este respeito

faremos simplesmente a seguinte observação: cada época e cada grupo social

têm seu repertório de formas de discurso na comunicação sócio-ideológica. A

cada grupo de formas pertencentes ao mesmo gênero, isto é, a cada forma de

discurso social, corresponde um grupo de temas. Entre as formas de

comunicação (por exemplo, relações entre colaboradores num contexto

puramente técnico), a forma de enunciação (“respostas curtas”, na “linguagem

de negócios”) e enfim o tema, existe uma unidade orgânica que nada poderia

destruir. Eis porque a classificação das formas de enunciação deve apoiar-se

sobre uma classificação das formas da comunicação verbal.

(Bakhtin/Volochinov, 1929: 43)

Como também lembrou Souza (2002: 102), num texto posterior, de 1930,

Volochinov irá precisar um pouco mais esta noção de gênero:

Or, l’énoncé, considéré comme unité de communication et totalité

sémantique, se constitue et s’ accomplit précisément dans une interaction

verbale déterminée et engendrée par un certain rapport de communication

sociale. Ainsi, chacun des types de communication sociale que nous avons

cités organise, construit et achève, de façon spécifique, la forme

grammaticale et stylistique de l’énonce ainsi que la structure du type dont il

53 Bakhtin/Volochinov (1929) utiliza este termo no segundo capítulo do livro, intitulado “A relação entre a infra-estrutura e as superestruturas”. O conceito, cunhado antes na teoria de Plekhánov e de outros marxistas, referir-se-ia ao um elo de ligação entre a estrutura sócio-política e a ideologia no sentido estrito do termo (ciência, arte, etc.). O que Volochinov ressalta é que esta psicologia do corpo social deve ser considerada dentro do processo real de comunicação e de interação verbal, e está inteiramente exteriorizada: na palavra no gesto, no ato e se manifesta essencialmente nos mais diversos aspectos da “enunciação” sob a forma de diferentes modos de discurso, sejam eles interiores ou exteriores (Bakhtin/Volochinov, 1929: 41)

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relève: nous la désignerons désormais sous le terme de genre54.

(Volochinov, 1930/1981: 290)

Estas considerações iniciais sobre o conceito de gênero dos autores do

Círculo, conduzem à noção de enunciado concreto de Bakhtin, compreendida como

uma unidade real e não como unidade convencional ou uma abstração. Já em 1926,

Volochinov marcava bem esta distinção, caraterizando o enunciado concreto:

O enunciado concreto (e não a abstração lingüística) nasce, vive e morre no processo da interação social entre os participantes da enunciação. Sua forma e significado são determinados basicamente pela forma e caráter desta interação. Quando cortamos o enunciado do solo real que o nutre, perdemos a chave tanto de sua forma quanto de seu conteúdo – tudo o que nos resta é uma casca lingüística abstrata ou um esquema semântico igualmente abstrato. (Volochinov, 1926: 9)

Temos, aqui, então, a base para a projeção de todo um conceito que será

mais tarde explicitado por Bakhtin no texto O problema dos gêneros do discurso

(1952-1953). Tratar-se-ia de uma manifestação verbal elaborada a partir de uma

esfera específica, o que lhe dá contornos próprios, que podem ser recuperados pela

análise de três elementos: a avaliação de um determinado conteúdo temático, em

um certo momento, o estilo verbal e a construção composicional. Na concepção

bakhtiniana, estes elementos comportariam o todo do enunciado, caracterizando o

gênero do discurso.

Antes deste momento, contudo, Bakhtin trabalharia esta noção de forma

aplicada e contundente, na obra O discurso no romance (1934-1935). Nela, articula

à noção outras categorias importantes do seu quadro teórico, como dialogismo,

plurilingüismo e cronotopo. Vale recordar que, como expusemos no primeiro capítulo

deste trabalho, ao pensar o romance como um gênero plurilíngüe, Bakhtin irá

também refletir sobre os gêneros poéticos. 54“Ora, o enunciado considerado como unidade de comunicação e totalidade semântica, constitui-se e realiza-se precisamente numa interação verbal determinada e engendrada por um certo tipo de relação de comunicação social. Assim, cada tipo de comunicação social que nós citamos organiza, constrói e acaba, de maneira específica, a forma gramatical e estilística do enunciado assim como a estrutura do tipo do qual ele depende: nós a designaremos doravante sob a denominação de gênero”.(Tradução própria)

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Rojo (2002) chama-nos a atenção para o fato de que o conceito de gênero

pode ser construído de forma mais abrangente e, conseqüentemente, mais produtiva

e polifônica se estendermos o olhar para textos de outros autores do Círculo e para

além do texto de 1952-53. Nas palavras da pesquisadora:

Se, como em minha hipótese, a obra bakhtiniana (pré-1953) não “flutua ou

oscila”, mas encripta esse acúmulo de sintagmas equivalentes – sobretudo nos

livros de 1929 e de 1934-1935 -, se seguirmos as pistas desse tema,

construiremos um conceito de gêneros do discurso bastante mais complexo e

completamente diferente do famoso (já-)dito tipo relativamente estável de

enunciado que tem uma composição, um tema (ou “conteúdo temático”) e um

estilo próprios, ditos esses tão próximos de uma lingüística do texto.

É uma pena que a maior parte dos pesquisadores que recorrem a Bakhtin para

discorrer/dialogar sobre os gêneros não chegam a freqüentar a obra do Círculo

de uma maneira mais dialógica e, simplesmente, contentem-se em citar ou

repetir o texto de 1953, de maneira mais monofônica. Nesse outro caminho, mais

polifônico, poderíamos colocar em relação – mais fácil e claramente – o conceito

de gênero com os conceitos de dialogismo, heteroglossia, cronotopos,

plurilingüismo, hibridismo, de tal maneira que a noção bakhtiniana de gênero do

discurso seja colocada, de uma vez por todas como um objeto discursivo ou

enunciativo, e não como forma ou tipo, palavras infelizmente escolhidas por

Bakhtin, no texto de 1953. (Rojo, 2002: 12-13)

Seguindo esta linha de raciocínio, procuramos manter afastada55 a tendência

que algumas pesquisas empreendem ao lidarem com o termo gênero na acepção

bakhtiniana. Lido superficialmente, levará, de certo, a uma atitude classificatória para

com os diversos enunciados. A maldição da categorização que o termo gênero

carrega só pode ser “quebrada” como a compreensão do termo dentro do arcabouço

teórico empreendido pelo círculo bakhtiniano. Como colocou Barbosa (2001: 17)

sobre as idéias de Bakhtin, trata-se de considerar seus pressupostos de base e o

cronotopo de seus próprios discursos.

55 Não acreditamos que esta é uma tarefa tão simples, pelo fato de muitos gêneros poéticos – como

gêneros literários - já se encontrarem classificados e nomeados pela tradição dos estudos literários.

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Machado (1996), da mesma forma, comenta o fato de Bakhtin não eliminar a

noção de gênero, como fez Barthes, que fugia dos procedimentos hieráquicos:

O encaminhamento que Bakhtin dedica aos problemas da textualidade a partir

da combinatória dos gêneros é algo que entra em confronto com os conceitos de

texto mais divulgados. Roland Barthes, por exemplo, eliminou o gênero de seu

conceito de texto porque, tomando o esquema hierárquico consagrado pela

clássica teoria dos gêneros literários, pareceu-lhe impossível entender o texto

como produto verbal heterogêneo, fora de qualquer hierarquia. [...] Ao optar não

pela eliminação, mas pela revisão do conceito do gênero, Bakhtin se distancia da

escala hieráquica e define os gêneros como fenômeno de pluralidade, nunca como algo forjado por classificações56. (Machado, 1996: 234)

Estudar os gêneros literários sob este prisma e, em nosso caso, os gêneros

poéticos, implica considerá-los, da mesma forma, como tipos de enunciados que têm

particularidades, como todo e qualquer outro tipo, são de natureza social e estão

ligados a uma esfera de comunicação verbal, de utilização da língua, a esfera

artístico-literária, mas ainda significa (re)considerar as formulações bakhtinianas

sobre o autor, o herói e o ouvinte, e suas inter-relações em determinado espaço,

tempo e contexto de valores, ou seja, a natureza dialógica da linguagem.

Compreendemos, além disso, que a noção de gênero literário está inscrita na

noção de gêneros discursivos, apesar de que, segundo Bakhtin (1952-1953), a

problemática deste último nunca foi devidamente colocada e/ou considerada:

Estudaram-se, mais do que tudo, os gêneros literários. Mas estes, tanto na

Antigüidade como na época contemporânea, sempre foram estudados pelo

ângulo artístico-literário de sua especificidade, das distinções intergenéricas (nos

limites da literatura), e não enquanto tipos particulares de enunciados, com os

quais contudo têm em comum a natureza verbal (lingüística). O problema de

lingüística geral colocado pelo enunciado, e também pelos diferentes tipos de

enunciados, quase nunca foi levado em conta. (Bakhtin, 1952-1953/1979: 280)

56 Ênfase adicionada

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Durante as leituras sobre os gêneros literários, um dos pontos que nos chamou

particularmente a atenção foi o emprego do termo gênero tanto para categorias que

nos parecem atemporais, como a tríade lírica, épica e drama, como para fenômenos

tão localizados historicamente, culturalmente, e mesmo individualmente, quanto uma

ode, um soneto, um haicai. Se fôssemos usar o critério de reconhecimento do leitor,

é fato que muitos gêneros poéticos descritos pela teoria literária, como, por exemplo,

um vilancete57, seriam meros desconhecidos. Ou tratar-se-iam de formas poéticas,

que, como algumas formas lingüísticas, como a segunda pessoa do plural, tiveram

sua época e hoje figuram nas gramáticas, mas não na fala de cada um. Como

conceber estas composições poéticas? Como formas fixas? Como gêneros do

discurso?

Parece-nos que estas questões estão intimamente ligadas às diferentes

visões sobre o papel dado aos aspectos formais em uma obra literária. Acreditamos

que as formulações de Bakhtin sobre as formas arquitetônicas e as formas

composicionais possam nos ajudar nesta reflexão.

2.3. Formas arquitetônicas e composicionais: o objeto estético e a obra

exterior Se pensarmos em gêneros poéticos, nos enunciados a que denominamos

modernamente poemas, a primeira visão que salta à mente é de linhas num papel,

ou meias linhas agrupadas, e com espaços entre estes agrupamentos. Este

“esqueleto” é a primeira imagem, uma imagem que se prende absolutamente à

forma de um enunciado, à disposição gráfica diferenciada de palavras no papel.

Partindo de manifestações mais populares, como o soneto, e chegando até às

experiências mais radicais, modernas ou pós-modernas, que rompem os limites das

possibilidades gráfico-sonoro-visuais, em nosso imaginário, no senso comum, um

poema estará fatalmente associado a uma forma e talvez seja lembrado e

57 Segundo o Dicionário Aurélio, vilancete refere-se a: 1. Composição poética, em geral curta e de caráter campesino. 2. Composição poética formada de um mote e uma glosa. [As mais das vezes o mote é um grupo de três versos, dos quais o primeiro é solto e o segundo rima com o terceiro, e a glosa compõe-se de duas oitavas, sendo o último verso da primeira oitava o segundo verso do mote, e o último verso da segunda o terceiro do mote]. (Ferreira, 1986: 1777)

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reconhecido por ela, a qual poderá ter sido batizada ou não, ao longo da história dos

estudos literários.

Bakhtin também se preocupava com isso, mas não estava incomodado com

este conhecimento compartilhado por “homens comuns”, mas como um princípio que

norteava o pensamento científico do campo da arte, em sua época. Ele e os autores

de seu círculo dedicaram, portanto, grande parte de suas reflexões às críticas ao

que denominaram, então, estética material.

O seu trabalho de 1924, O problema do conteúdo, do material e da forma, é

dedicado, sobretudo, à crítica direta a tal estética, cujo pressuposto seria uma

independência da estética geral, criando uma premissa de caráter estético geral,

formulada nos seguintes termos por Bakhtin:

(...) a atividade estética, orientada sobre o material, apenas o forma: a forma

esteticamente eficaz é a do material, compreendida do ponto de vista das

ciências naturais ou da lingüística; as afirmações dos artistas de que sua obra é

válida, que está voltada para o mundo, para a realidade, que ela trata das

pessoas, das relações sociais, dos valores éticos, religiosos e outros, não são

mais que uma metáfora, pois na verdade só o material pertence ao artista: o

espaço físico-matemático, a massa, o som da acústica, a palavra da lingüística e

o próprio artista, só podem ocupar uma posição artística em relação a um

material dado e definido. (Bakhtin, 1924/1975: 18)

A partir daí, o pensador russo passa a descrever toda a problemática da

estética material, arrolando as dificuldades e os erros em que estes estudos

incorrem, dividindo-os em cinco pontos:

1. A estética material não é capaz de fundamentar a forma artística;

2. A estética material não pode estabelecer a diferença essencial entre o objeto

estético e a obra exterior, entre a articulação e as ligações no interior deste

objeto e as articulações e ligações materiais no interior da obra; por toda

parte ela mostra uma tendência a misturar estes elementos;

3. Nos trabalhos da estética material ocorre uma constante e inevitável confusão

entre as formas arquitetônicas e composicionais. Aliás, as primeiras jamais

atingem a clareza de princípio ou a pureza de definição, e são subestimadas;

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4. A estética material não é capaz de explicar a visão estética fora da arte;

5. A estética material não pode fundamentar a história da arte.

(Bakhtin, 1924/1975: 19-26)

Os três primeiros tópicos é que nos interessam, aqui, em nossa problemática.

Para isso, é necessário compreender a distinção que Bakhtin faz entre objeto

estético e obra exterior.

Como exemplo, imaginemos que estamos numa exposição de arte, como a

última Bienal de Arte de São Paulo. Durante nossa visita, observamos várias obras,

umas aparentemente estranhas, outras nos parecem mais familiares dentro daquilo

que imaginamos que seja arte.

Aquelas obras têm, obviamente, uma estruturação material, são feitas de

algum material concreto. Se quadros, são telas de determinado tecido e tintas de

determinado tipo. Se esculturas, são feitas de material sólido como mármore, ferro,

madeira, ou outro. Muitas formas serão, assim, possíveis de brotar nestes ou com

estes materiais.

Por outro lado, tais obras foram idealizadas e realizadas pelos seus autores-

criadores com referência a algo, a algum evento, a algum acontecimento, a alguma

pessoa ou ser, que foi esteticamente individualizado naquele objeto. Esta

individualização traduz-se por determinada forma artística, que está

indissociadamente ligada a esta orientação, que é valorativa, do autor em relação

àquilo que deseja expressar. Desta maneira, esta forma não pode ser compreendida

apenas abstratamente, como a forma de um dado material, como descrevemos

acima. Segundo Bakhtin (1924/1975: 18), isso é que foi a tendência da estética

material, ou seja, compreender a forma artística com forma de um dado material, e

não mais como uma combinação nos limites do material, dentro de sua definibilidade

e conformidade físico-matemáticas e lingüísticas.

Este é primeiro ponto sobre o qual Bakhtin vai interpretar o fato de que a

estética material não fundamenta de maneira pertinente a forma artística, pois

desconsidera, justamente, as relações valorativas na constituição do estético. Nas

palavras do autor,

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A forma, compreendida como forma do material somente na sua definição

científica, matemática ou lingüística, transforma-se de certo modo na sua

ordenação exterior, isenta de momento axiológico. O que permanece totalmente

incompreensível é a tensão emocional e volitiva da forma, a sua capacidade

inerente de exprimir uma relação axiológica qualquer, do autor e do espectador,

com algo além do material, pois esta relação emocional e volitiva, expressa pelo

tamanho pelo ritmo, pela harmonia, pela simetria por outros elementos formais –

tem um caráter por demais tenso, por demais ativo para que se possa interpretá-

lo como restrita ao material. (Bakhtin, 1924-1975: 19-20)

Bem, essa obra assim abstratamente58 concebida como um material, como

uma forma que também é a do material, é apenas a obra exterior, sobre a qual pode-

se discorrer, da qual pode-se descrever e estudar os elementos que a integram,

independentemente daquilo que Bakhtin (1924/1975: 22) denomina objeto estético,

que seria, para ele, o conteúdo da atividade estética (contemplação) orientada sobre

a obra. Assim, no caso de uma obra de arte literária, caberia ao lingüista analisar

estes elementos constituintes, pois ele é o cientista especializado no material que é

ali utilizado, o material verbal.

Todavia, não seria este o objeto da análise estética, mas apenas uma etapa

dela, uma de suas tarefas. Uma análise estética, segundo Bakhtin (1924/1975: 22),

deve proceder às seguintes tarefas:

1°) Compreender o objeto estético na sua singularidade e estrutura puramente

artística;

2°) Abordar a obra na sua realidade original, puramente cognitiva, e

compreender sua estrutura de forma totalmente independente do objeto estético;

3°) Compreender a obra exterior, material, como um objeto estético a ser

realizado, como aparato técnico da realização estética, procedendo pelo método

teleológico.

58 Já no seu texto Para uma Filosofia do Ato (1919-1921), Bakhtin salientava a cisão, a dissociação

entre o conteúdo ou sentido de um dado ato-atividade e a realidade histórica do seu ser, a real e única experiência dele. Aqui, poderemos transpor este pensamento para o terreno do estético, em que a forma está valorativamente orientada para algo que é a experiência real, através do olhar do artista, mas também tem seu momento abstrato, ao qual a estética material se agarra.

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A primeira e segunda tarefas dirigem-se, exatamente, ao que comentamos

acima, o objeto estético e a obra exterior59. A terceira refere-se, pois, a uma

estruturação organizadora do material, que está voltada para um fim (por isso o

termo teleológico), a que Bakhtin denomina composição da obra ou forma

composicional.

Chegamos, assim, ao terceiro tópico, à confusão entre as formas

arquitetônicas e composicionais empreendida pela estética material. Sobral (2005)

procura precisar o termo arquitetônica na obra bakhtiniana, em sua distinção com

respeito à forma composicional:

Os sentidos “gerais” de arquitetônica são, no campo da arquitetura, o de ciência

da arquitetura. Na música, o de projeto estrutural de peças musicais. Na filosofia,

o de sistematização científica do conhecimento. Na obra de Bakhtin, todas essas

ressonâncias se fazem presentes a partir daquilo que têm em comum, o de

processo de formação de totalidades, ou todo harmônico, a partir de uma a

articulação de partes constituintes que as dota de uma unidade de sentido, em

vez de limitar-se a ligá-las ou justapô-las mecanicamente. (...) Todo acabamento,

ou totalidade arquitetônica, admite perguntas sobre quem o produziu, para quem

e em que circunstâncias (...)

forma composicional é o modo específico de estruturação da obra externa a

partir de sua concepção arquitetônica. (Sobral, 2005: 109, 111, 112)

Na atividade estética, estes todos harmônicos se realizariam por meio de

processos composicionais diversos, mas definidos, justamente, através da

apreciação valorativa do artista e do contemplador deste todo. O autor russo define

explicitamente essas categorias:

As formas arquitetônicas são as formas dos valores morais e físicos do homem

estético, as formas da natureza enquanto seu ambiente, as formas do

acontecimento no seu aspecto de vida particular, social, histórica etc; todas elas

são aquisições, realizações, não servem a nada, mas se auto-satisfazem

tranqüilamente; são formas da existência na sua singularidade.

59 Para Bakhtin (1924/1975: 23) a estética material atém-se somente à segunda tarefa, operando um

estudo não estético da natureza da obra, como objeto das ciências naturais ou da lingüística.

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As formas composicionais que organizam o material têm um caráter teleológico,

utilitário, como que inquieto, e estão sujeitas a uma avaliação puramente técnica,

para determinar quão adequadamente elas realizam a tarefa arquitetônica (...)

(Bakhtin, 1924/1975: 25)

O que nos interessa, sobretudo, nesta distinção, é que, diferentemente de

teóricos da literatura, Bakhtin (1924/1975: 24) vai conceber diferentemente os

gêneros literários épico, lírico e dramático da velha tríade. Nas suas explanações

sobre as formas arquitetônicas, ele mesmo exemplifica: O drama é uma forma

composicional (diálogo, desmembramento em atos, etc.), mas o trágico e o cômico

são formas arquitetônicas de realização. Mais adiante, refere-se ao lírico: a forma do

lírico é arquitetônica. Mas existem formas composicionais de poesias líricas.

E, por fim, nas melhores palavras do autor:

O humor, a heroificação, o tipo, o caráter, são formas puramente arquitetônicas,

mas é evidente que são realizadas por métodos composicionais definidos; o

poema, o conto, a novela, são formas de gênero puramente composicionais; o

capítulo, a estrofe, o verso, são articulações puramente composicionais (embora

possam ser compreendidas de modo estritamente lingüísticos, isto é,

independente do seu telos estéticos). (Bakhtin, 1924/1975: 24)

Assim, poemas que conhecemos sobretudo pela designação da sua forma

composicional, como o soneto, a ode, o vilancete, são enunciados que realizam

determinadas formas arquitetônicas, do lírico, por exemplo, e, se concebidos como

objetos estéticos e não abstratamente como formas puras de uma dada organização

verbal, são de fato gêneros poéticos do discurso, com um conteúdo temático -

nas palavras de Bakhtin (1924: 35), o mundo e seus momentos - axiologicamente

concebido pelo autor-criador; com um estilo, que é engendrado tanto pelo autor

como pelo próprio gênero e, por fim, com uma forma composicional, a nossa velha

conhecida.

Sobre este ponto há uma grande distância entre o que coloca Bakhtin e o que

pregam os teóricos da literatura. Estes últimos estão pensando em gêneros

literários, como já vimos no início do capítulo. Ducrot & Todorov (1972/1998: 148)

assinalam a confusão entre a entidade estrutural e o fenômeno histórico; Moisés

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(1978: 245) aponta para o fato de que o termo “gênero” não é empregado de forma

unívoca, designando categorias literárias diversas como a prosa, a poesia, a poesia

lírica, a épica, a novela, a novela picaresca, o soneto, a ode, a epigrama, etc. Silva

(1973) assume a seguinte posição:

Por outro lado, é necessário não aplicar a designação de “gênero literário” a

formas poéticas constituídas por uma determinada estrutura métrica, rítmica,

rimática e estrófica, tais como a canção, a sextina, o soneto, etc. É verdade que

algumas destas formas poéticas podem estar indissoluvelmente vinculadas a um

determinado gênero literário ou a uma forma natural da literatura – a canção, por

exemplo, aparece intimamente vinculada à lírica -, mas tais formas poéticas, em

si mesma, não constituem gêneros literários, devendo antes ser consideradas

formas poéticas fixas. (Silva, 1973: 226)

Levando em conta todas as formulações de Bakhtin a respeito da estética

material acima colocadas, é impossível não discordar desta orientação de Silva, pois

caso contrário estaríamos concebendo também a composição da obra como o

próprio valor artístico, como o próprio objeto estético (Bakhtin, 1924/1975: 23) sem

superar a insistência de uma análise estética calcada sob formas e aspectos

materiais dos gêneros poéticos.

Voltando ao nosso passeio na Bienal, todas as obras de arte ali presentes são

realizações de visões estéticas, que se propõem como unidades concretamente

arquitetônicas, no dizer de Bakhtin em sua Filosofia do Ato (1919-1921). Obras que,

em seu processo criativo, de uma forma ou de outra, ou por várias formas, estão

orientadas para o homem, para o ser humano, e para tudo aquilo que lhe diz

respeito. E nenhum processo deste ato estético está devidamente efetivado no

acabamento60 das obras pelos artistas, mas além, na resposta que os outros - nós,

60 Para o Círculo de Bakhtin, a noção de acabamento é fundamental para o estudo das artes: é o

traço que a distingue de outras áreas. Segundo Medvedev (1928/1994: 209) Cada arte, de acuerdo con su material, y sus posibilidades constructivas, tiene sus propios modos y tipos de conclusión. La descomposición de algunas artes en géneros se determina en grado significativo precisamente por estos tipos de conclusión de la totalidad de una obra. Cada género es un modo especial de construir y de concluir la totalidad, y, sobre todo, reiteramos que se trata de una conclusión sustancial, temática, y no de una terminación sólo condicional o formal. “Cada arte, de acordo com seu material e suas possibilidades construtivas, tem seus próprios modos e tipos de acabamento. A decomposição de algumas artes em gêneros se determina de modo significativo precisamente por estes tipos de acabamento da totalidade de uma obra. Cada gênero é um modo especial de construir e de concluir a totalidade, e, sobretudo, reiteramos que se trata de um acabamento

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os contempladores - lhes dão, num ininterrupto processo dialógico de construção e

reconstrução de sentidos.

Olhando para os nossos objetos, os gêneros poéticos, podemos refletir da

mesma forma nesta direção, pensando em gêneros que são muito conhecidos por

nós, mas que tiveram, em certo momento na história, uma “cisão” entre essas

formas arquitetônicas e composicionais e uma apropriação das formas

composicionais por outros gêneros, como é o caso do soneto, por exemplo. Esta

apropriação de um ou outro aspecto de um gênero por outro é um movimento

bastante comum dentro da esfera artístico-literária, mas também é um fenômeno

interesférico. Observamos a configuração de novos processos, como a hibridização

ou mixagem61 dos gêneros, a assimilação e reatualização de linguagens e estilos e,

em relação ao nosso objeto, uma constante reinvenção do poético, o poético

inesperado como denominamos no primeiro capítulo deste trabalho.

Esta ”mixagem genérica” nos remete à distinção efetuada por Bakhtin (1952-

1953) entre gêneros primários e gêneros secundários. Tais termos foram cunhados

por Bakhtin, acreditamos, como uma tentativa de melhor operacionalizar a extrema

heterogeneidade dos gêneros do discurso (Bakhtin, 1953/1979: 281). Assim, os

gêneros primários de discurso seriam gêneros considerados simples, cuja realização

concreta se dá na esfera da vida cotidiana; os gêneros secundários estariam mais

ligados às esferas de comunicação mais complexas e elaboradas, em grande parte

mediadas pela escrita. Tais gêneros secundários apropriam-se, muitas vezes, dos

primários, como acontece, por exemplo, no romance, gênero secundário, que vai

substancial, temático, e não de uma terminação somente condicional ou formal”. (tradução própria). Bakhtin mesmo vai retomar este ponto no texto O problema dos gêneros do discurso (1952-1953), assinalando que o acabamento do enunciado possibilita ao outro uma reação, uma resposta ao enunciado.

61 Geertz (1998: 33-34) chama-nos a atenção para a mixagem de gêneros no mundo intelectual, elencando diversos exemplos: Questionamentos filosóficos parecem críticas literárias (basta lembrar Stanley Cavell escrevendo sobre Beckett ou Thoreau; e Sartre sobre Flaubert), debates científicos se assemelham a textos selecionados das belles lettres (Lewis Thomas, Loren Eiseley), fantasias barrocas são apresentadas como sérias observações empíricas (Borges, Barthelme), estórias são compostas de equações e tabelas ou parecem testemunhos em juízo (Fogel e Engerman, Le Roi Ludurie), documentários adotam o estilo de verdadeiras confissões (Mailer), parábolas adotam a postura de etnografias (Castenada), tratados teóricos mais parecem conferências ilustradas sobre viagens (Lévi-Strauss), argumentos ideológicos tomam o formato de pesquisas historiográficas (Edward Said), estudos epistemológicos são elaborados como tratados políticos (Paul Feyerabend), e polêmicas metodológicas disfarçam-se em memórias pessoais (James Watson).O Fogo pálido, de Nabokov, um objeto literário composto de poesia e ficção, notas de referência e imagens da clínica, parece ser realmente um produto destes tempos; só nos falta ver a teoria quântica apresentada em versos ou uma biografia em álgebra.

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comportar em seu interior um conjunto de gêneros da vida cotidiana, como diálogos,

cartas pessoais, etc.

A natureza do enunciado só pode ser compreendida, segundo Bakhtin

(1953/1979: 282), pela inter-relação entre os gêneros primários e secundários de um

lado, e o processo histórico de formação dos gêneros secundários, de outro. A

“mixagem de gêneros”, as apropriações, intercalações, hibridismos, reinvenções só

podem ser explicadas nesta tensão, num enfrentamento que se dá já nas esferas de

produção destes gêneros e, por conseguinte, por onde circulam e onde e como são

recebidos. Compreender o surgimento de um poético inesperado também passa por

compreender esta inter-relação, que é complexa, como veremos nos capítulos

seguintes.

2.4. O soneto: apropriações e reapropriações Usaremos esta parte final para nos determos um pouco num gênero que foi

aqui muito citado, que é muito popular e cuja forma é aquela que nos vem muitas

vezes à cabeça ao falarmos sobre poesia: o soneto. Explorando, assim, o soneto,

pensamos trazer subsídios para a reflexão sobre o processo de didatização dos

gêneros poéticos, empreendida nos capítulos subseqüentes.

Pensamos que um soneto, como qualquer outro enunciado, apesar de ser o

mesmo em forma, será diferente como enunciado único, como um objeto estético.

Este pensamento procura recuperar ou preservar, como coloca a feliz expressão de

Bosi (2000:15), a história imanente e operante em cada poema.

O termo soneto vem ao que parece do latim sonus, que quer dizer som ou

ruído, designando também a voz, a palavra, a inflexão. Moisés (1978: 480) traz a

origem na língua italiana sonetto, do Provençal sonet, que se refere também a som,

melodia, canção. O inventor do soneto, ainda segundo Moisés, seria Giacomo

Lentino (1180/1190?1246?), um poeta siciliano da corte de Frederico II, que teria

composto quinze dos dezenove sonetos desse tempo.

Brener (1995: 7) afirma que o soneto teria se originado de uma canção

compostas por trovadores, denominada strambotto. Este era conhecido por oitava

rima, com oito versos. A estrutura de quatorze versos decassílabos seria, pois, a

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junção de dois strambotti, um com oito linhas, que se dividiam em dois quartetos, e

outro com seis, que se dividia em dois tercetos.

Segundo Faraco (1997: 11-12), o soneto era cantado, com música, e a

necessidade de um princípio par (quartetos) e de um princípio ímpar (tercetos) se

explicava pela mudança da melodia na segunda parte. Mas, segundo as indicações

deste mesmo autor, a métrica teria colocado restrições à melodia e, no século XIV, o

soneto deixa de ser cantado e passa a ser então um “pronunciamento oratório”.

Conforme Brener (1995: 8-10), Dante Alighieri (1265-1321) teria ordenado as

rimas no esquema ABBA/ ABBA/ CDC/DCD; CDD/DCD; CDE/CDE e CDE/EDE.

Outros autores italianos, dentre eles Petrarca (1304-1374) e Della Casa (1503-

1556), também se dedicaram ao soneto, tendo este último empregado o

enjabment62. Foi trazido a Portugal por Sá de Miranda, destacando-se, claro, Luís de

Camões (1524-1580). Na literatura inglesa, destaca-se a figura de Shakeaspeare

(1564-1616), que segue o esquema elisabetano, de três quartetos e um dístico. A

temática é quase sempre amorosa: o amor platônico é um tema recorrente. Muitas

vezes a entonação é de um canto triste, que lamenta a perda, o abandono, ou as

agruras da vida; outras vezes tem um conteúdo religioso. Observemos os sonetos a

seguir:

VERSOS ÍNTIMOS

(Augusto dos Anjos)

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se alguém causa inda pena a tua chaga Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE

(Luís de Camões)

Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento étereo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se viste que pode merecer-te Alguma coisa a dor que me ficou Da magia, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou.

62 Segundo o Dicionário Aurélio (1986: 656), Enjabment. [Fr.] S.m. Processo poético de pôr no verso seguinte uma ou mais palavras que completam o sentido do verso anterior.

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SONETO HILÁRIO (Glauco Mattoso)

O gás paralisante entendo e explico O gás lacrimogêneo faz sentido. Porém o que me deixa estarrecido É o gás hilariante e o pó de mico.

Produto duma indústria de milico, A cócega e a coceira têm servido Ao dom de especialistas do prurido, E cresce, mais e mais, o seu fabrico

Pra mim, é um desperdício, pois dispenso Maiores artifícios pro meu riso. Basta descontrair quando estou tenso

Peidar é tudo aquilo que preciso: Me faz dar gargalhadas, porque penso Na paz do olfato alheio, que infernizo

SONETO SOMA 14x (E. M. de Melo e Castro)

1 4 3 4 2 2 3 3 0 6 4 1 6 1 2 3 2 2 1 6

5 0 0 1 8 2 1 2 5 4 1 4 0 1 8 3 2 4 1 4

3 2 1 3 5 5 4 1 2 2 3 0 4 2 5

4 3 3 1 3 5 1 2 1 5 8 9 3 5 3

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COTIDIANO 63

(Avelino Araújo)

63 Retirado do site www.avelinoaraujo.com.br.

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O que podemos observar em todas estas diferentes manifestações poéticas

que recebem o nome de soneto?

O soneto camoniano é um clássico, bem conhecido, cuja estrutura fixa é

absolutamente respeitada: os versos decassílabos, o tradicional esquema de rimas

ABBA/ ABBA/ CDC/DCD. A temática é a dor da perda do amor, pela morte. O tom é

triste, lamuriante. Este soneto está totalmente adequado ao estilo de seu gênero, é o

próprio protótipo dele. O segundo soneto, de Augusto dos Anjos, segue o mesmo

projeto composicional, os versos decassílabos, o esquema tradicional de rimas entre

os quartetos e tercetos. A entonação lamuriante, contudo, sobe um grau, a seleção

vocabular não é doce nem romântica, e o estilo do autor, neste caso, parece se

sobrepor ao estilo do gênero. O impacto, quando lemos, é totalmente diferente.

O terceiro texto vira pelo avesso o gênero soneto. Mesmo seguindo ainda

composição formal esperada, os versos decassílabos, o esquema rimático regular e

tradicional (ABBA/ABBA/CDC/DCD), o conteúdo subverte totalmente o esperado

para o gênero soneto, cuja realização também serviu, por muito tempo, ao

enaltecimento dos mais “altos e nobres valores” humanos. A forma escolhida em

nada se coaduna com o que é dito, daí o humor, o hilariante. Aqui, este movimento

lembra a rebeldia contra a pomposidade do lírico, de João Cabral de Melo Neto, em

sua Antiode (contra a poesia dita profunda): Poesia, te escrevia:

Flor! Conhecendo

Que és fezes. Fezes

Como qualquer

Gerando cogumelos

(raros, frágeis cogu-

melos) no úmido

calor de nossa boca

(...)

O quarto exemplo, em que nos deteremos mais detalhadamente, é uma letra

de canção, cujo texto mantém a estrutura de quatorze versos do soneto: todos os

versos são decassílabos e o esquema rimático, apesar de mais complexo, com

novas rimas no segundo quarteto, não foge ao esperado para um soneto. Aqui,

Chico Buarque, além de seguir à risca a forma composicional, utiliza-se das formas

arquitetônicas que o gênero procura realizar, tanto temática como musicalmente. A

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melodia é lenta, triste e lamuriante e podemos ler a canção como queixas de uma

relação amorosa complicada, mas índices lexicais apontam para um outro contexto e

permitem uma outra leitura. Esta música é de 1972, época de plena ditadura militar

no país, de censura às artes, de cerceamento da liberdade e desrespeito aos

direitos humanos. A escolha lexical é uma alusão aos fatos: abandono tortura, navio,

saída, mentira, porão sombrio, assim como a recorrência da imagem da morte:

morta de sono, morta de medo, morta de frio, em oposição à frase também

recorrente eu estava bem. Este advérbio bem pode ser lido tanto em relação ao

verbo estar, estar bem, como em relação ao adjetivo, estar bem morta. Ao ouvirmos

a canção64, percebemos que linha melódica é ascendente ao final de cada verso e

que o ritmo torna-se acelerado na frase Por que desceste ao meu porão sombrio, em

que a batida ao fundo lembra tanto passos (que descem ao porão), como as batidas

de um coração acelerado, temeroso; neste verso e no seguinte, a voz aumenta um

tom, torna-se voz de indignação, mas logo em seguida acomoda-se, retornando à

melancólica entonação anterior.

São os recursos de estilo de um autor que precisa de um disfarce para a

delação, em que o tom não pode ser polêmico, não pode ser denunciativo, mas ao

mesmo tempo deve ser queixoso, deve ser de tristeza, expressando um sentimento,

também de perda (da liberdade, dos direitos e da própria vida) que dominava a

classe artística da época. Assim, o autor, através de seu estilo individual, mas

disfarçado pelo estilo do gênero escolhido, seu singelo soneto-canção, age

politicamente, através da arte assume sua posição em relação à situação limite da

época.

Os dois últimos textos são experiências de poemas feitas no “sofisticadíssimo

laboratório” da poesia concreta e da poesia visual. Aqui o material verbal é trocado

por outro, primeiramente a linguagem matemática na poesia concreta portuguesa

Soneto 14x, que preserva a forma composicional típica: mesmo o esquema rimático,

com a repetição dos números, a estrofação e o número de versos; mas não somente

isso: a soma dos numerais em cada linha também é sempre igual a 14. Se nada de

lírico tem uma soma matemática (ou tem?), aqui temos, pois, a reunião inesperada

64 Tivemos acesso à gravação da canção Soneto interpretada por Ney Matogrosso, no álbum Um

brasileiro, Gravadora Universal Music, 1996.

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de duas linguagens, de duas arquitetônicas de esferas diferentes. O poético

inesperado, plurilíngüe, reaparece.

O poema visual de Avelino Araújo toma um objeto absolutamente cotidiano

para relembrar, mais uma vez, a forma de um soneto. Os dentes do pente seguem o

esquema de estrofação e o último agrupamento soma dez, o que pode ser uma

referência ao verso decassílabo. Da mesma forma, um pente nada tem de lírico, mas

poderíamos pensar numa daquelas apropriações dos gêneros primários, cotidianos

(representados pelo pente), pelo gênero secundário soneto. Ou podemos considerar

o inverso?

Estas manifestações poéticas rememoram as formas composicionais do

gênero soneto, apropriam-se dela, até mesmo a homenageiam, mas não são mais o

mesmo gênero soneto do quinhentismo. Isso parece óbvio, já que temos uma

diferenciação espaço-temporal, diferentes cronotopos, mas é interessante notar

como a criação artística atua transversalmente aos estilos de época, produzindo

gêneros que (re)visitam outros gêneros estabilizados, popularizados, como o soneto,

tomando emprestado traços e/ou características das formas composicionais, na

maioria das vezes, mas também das arquitetônicas, dos temas, como no caso do

Soneto Hilário de Mattoso, ou da letra de Chico, para com elas e através delas

dialogar, associar, assimilar, atualizar, recusar, etc. Isso tudo pela maestria do gênio

artístico dos poetas. Como coloca Brait (2003: 16):

Neste sentido é que a questão da autoria aparece. Um determinado tema, por

exemplo, vai ganhar corpo e estilo em diferentes gêneros e atividades de

linguagem, dependendo necessariamente da esfera de produção, circulação e

recepção que o acolhe, dimensiona, transforma, e o constrói como sentido e

efeito de sentido. Ao apropriar-se de um tema, um autor vai trabalhá-lo de

acordo com a sua atividade, com a esfera de produção em que está inserido,

dialogando com outros autores, atividades e discursos, da mesma época ou de

tempos e espaços diferentes.

Nos capítulos seguintes veremos como esse processo de apropriação e

reapropriação de formas composicionais, temas e estilos de gêneros por outros

gêneros acontece, intra e interesferas, em relação aos gêneros poéticos específicos,

objetos de nossa pesquisa nos livros didáticos.

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Capítulo 3 __________________________

Gêneros poéticos no gênero livro didático: considerações iniciais

O capítulo anterior foi dedicado à questão do gênero literário e do gênero do

discurso e às características deste último, nas acepções de Bakhtin. Se os gêneros

poéticos são considerados, nos termos ali desenvolvidos, como enunciados em

gêneros discursivos, objetos estéticos, há de se refletir como é a sua incorporação

ao manual didático, que traços de suas formas arquitetônicas e composicionais são

ressaltados ou ignorados para, por fim, podermos esboçar o perfil do leitor literário

que se forma.

Assim, neste capítulo, trataremos da questão da didatização dos gêneros

discursivos, ou seja, das condições para o tratamento dos gêneros poéticos como

objeto de ensino nos livros didáticos de língua portuguesa. Para tanto,

consideraremos, como Bunzen (2005) e Bunzen & Rojo (2005), o livro didático de

língua portuguesa como um enunciado num gênero do discurso. Esta formulação,

aliada à noção de autoria empreendida por Bakhtin, auxiliar-nos-á a compreender os

diferentes processos de didatização dos gêneros poéticos, o que nos fornecerá

subsídios para a análise dos dados desta pesquisa, nos capítulos posteriores.

Utilizaremos, ainda, as reflexões de Batista (2004) sobre o texto escolar e seus

processos de produção, que reconstroem a escolarização do poema “São

Francisco”, de Vinícius de Moraes, entre as décadas de 1950 e 1980.

Na parte final, procuraremos realizar uma descrição dos gêneros objeto de

estudo desta pesquisa, procurando explicitar a base teórica que sustenta o uso da

expressão “gêneros poéticos” como referente não só aos gêneros da tradição

literária como também aos gêneros da tradição não literária, como as letras de

canção e gêneros da tradição oral.

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3. 1. Repensando a autoria e o livro didático

Como já colocamos no primeiro capítulo deste trabalho, a noção de autoria é

pedra angular do pensamento bakhtiniano, aliando-se a uma concepção dialógica da

linguagem e à proposição de uma estética geral em termos de uma complexa rede

de relações axiológicas (Faraco, 2005: 44), que envolve o autor (autor-criador), o

herói (objeto) e o ouvinte (contemplador), consubstanciados num evento lingüístico

único, num enunciado concreto, sócio-historicamente determinado.

No processo de produção de um manual didático, pode-se vislumbrar esta

tripartição autoral como algo muito peculiar, intimamente ancorado a elementos

específicos de um todo arquitetônico. Assim, quem produziu a obra, para quem, sob

quais condições, com que finalidade são questões essenciais na avaliação de um

trabalho didático acabado. A autoria que constitui e envolve a obra didática está

embebida de avaliações acerca dos atores sociais envolvidos, das instâncias

educacionais, das concepções teóricas sobre conteúdos e disciplinas, técnicas e

métodos, dos discursos dos documentos oficiais, das políticas públicas e das

práticas e coerções da esfera editorial65.

O autor-criador do manual didático de língua portuguesa está envolvido com

seus múltiplos heróis: textos em variados gêneros e tipos, procedimentos,

conteúdos, regras etc. Não temos aqui o autor-criador da esfera artística, produtor

de todo o material verbal, mas sim um autor cuja ação criadora abarca a seleção dos

textos, os recortes, as adaptações, a formulação das atividades, a escolha teórico-

metodológica, as diferentes propostas, o projeto gráfico. A obra pedagógica será

constituída e acabada pela força motriz que é a posição valorativa do autor e todos

os elementos que a compõem estarão alinhavados e intermediados pelo discurso

autoral.

Entretanto, esses “heróis” não se dão facilmente. Há, no processo de

didatização dos diversos saberes, re-elaborações, reorganizações, seleção e

65 Segundo Batista (1999: 554): Os textos e impressos didáticos e a diversidade de suas

características materiais, discursivas e estruturais decorrem, fundamentalmente, do complexo inter-relacionamento de pelo menos três grandes conjuntos de condições: aquelas ligadas a (i) fatores de ordem econômica e tecnológica, (ii) de ordem educacional e pedagógica e (iii) de ordem social e política.

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recortes de diferentes níveis e aspectos66. Assim, para um conjunto de

procedimentos, textos, atividades, regras, uma gama de possibilidades se apresenta

numa certa disciplina, em nosso caso, a língua portuguesa. Certos textos e não

outros são privilegiados; certas atividades são possíveis e não outras; certos

procedimentos são usados e não outros; certas práticas são usuais e não outras;

certas propostas são empreendidas e não outras, às vezes devido à tradição nas

práticas escolares, às vezes por determinações dos documentos oficiais, às vezes

por desconhecimento ou falta de avanços das ciências específicas para

compreensão de certos conteúdos e efetivação de um ensino mais satisfatório, sob

determinadas perspectivas67.

É mister assinalar que estamos utilizando a expressão o autor-herói, esta

formulação bakhtiniana pensada do ponto de vista da estética, em termos da relação

autor-herói, de um “eu” e um “outro”, para designarmos o conjunto de elementos

mobilizados para a produção da obra didática. Não estamos no terreno do artístico,

mas acreditamos que tais categorias servem para a compreender a autoria de forma

ampla. De qualquer maneira, estabelece-se uma relação axiologicamente marcada

entre o autor-criador e o autor-herói na produção de um livro didático; os heróis aqui

66 É óbvio que este processo é extremamente complexo, pois envolve todo um conjunto de objetos a serem ensinados, as teorias e hipóteses relativas a eles, as práticas e procedimentos correntes ligados à tradição do ensino das diferentes disciplinas, as normatizações e diretrizes oficiais, as determinações curriculares, as concepções de educação, homem, escola, as restrições definidas por fatores histórico-sociais etc. Canelas-Trevisi (1997: 18), ao tratar da questão da transposição didática, com base em Chevallard (1985), explicita a passagem de um objeto de determinada área do saber para um objeto de ensino: Le processus de la transposition didactique est représenté par le schéma:—> objet de savoir —> objet à enseigner —> objet d'enseignement. La première flèche indique que le savoir savant n'est pas une donnée absolue, mais qu'il est ancré dans l'histoire et dans la société et qu'un objet devient objet de savoir à la suite d'un processus d'institu-tionnalisation plus ou moins complexe (Johsua et Dupin, 1993). La deuxième flèche symbolise l'opération qu'effectuent les agents de l'institution scolaire lorsqu'ils sélectionnent des objets de savoir en partant du principe que ces objets ont une pertinence pour un programme d'enseignement donné. La troisième flèche symbolise les transformations complexes auxquelles est soumis l'objet de savoir dès lors qu'il est inclus dans un curriculum scolaire particulier. “O processo de transposição didática é representado pelo esquema: -> objeto de saber -> objeto a ensinar -> objeto de ensino. A primeira flecha indica que o saber valorizado não é um dado absoluto, mas que está ancorado na história e na sociedade e que um objeto torna-se objeto de saber após um processo de institucionalização mais ou menos complexo (Joshua e Dupin, 1993). A segunda flecha simboliza a operação que efetuam os agentes da instituição escolar quando selecionam os objetos de saber partindo do princípio que estes objetos tem uma pertinência a um determinado programa de ensino. A terceira flecha simboliza as transformações complexas a que é submetido o objeto de saber desde que este é incluído num currículo escolar particular” (tradução própria). 67 Um exemplo disso refere-se à questão do ensino da linguagem oral, em que as formulações da academia são bastante recentes na consideração dos gêneros orais formais e públicos como objetos de ensino. Sobre este tema, consultar pesquisa de doutoramento de Barros-Mendes (em prep.) A

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já não são os personagens para os quais se olha com simpatia ou antipatia,

distância ou proximidade, reverência ou crítica, gravidade ou deboche, aplauso ou

sarcasmo, alegria ou amargura, generosidade ou crueldade, júbilo ou melancolia

(Faraco, 2005: 38). Em nosso caso, os heróis são todo o conjunto de textos,

sistematizações e concepções que constituem e envolvem a realidade do ensino da

língua materna e sobre os quais também é lançado um determinado olhar, que

também é responsivo (e ao qual também possa se aplicar simpatia, antipatia,

distância, proximidade, reverência, crítica, deboche ...).

De forma muito contundente, ainda, no caso da obra didática, está a

consideração do autor-ouvinte, do espectador como integrante do processo de

elaboração. Nas palavras de Bakhtin/Volochinov (1926: 11):

O autor, herói e ouvinte de que estamos falando todo esse tempo devem ser

compreendidos não como entidades fora da própria percepção de uma obra

artística, entidades que são fatores constitutivos essenciais da obra. (...) O ouvinte, também, é entendido aqui como o ouvinte que o próprio autor leva em conta, aquele a quem a obra é orientada e que, por conseqüência, intrinsecamente determina a estrutura da obra68. Portanto, de modo algum

nós nos referimos às pessoas reais que de fato formam o público leitor do autor

em questão.

No caso do livro didático, as considerações sobre o “ouvinte” dizem respeito

às formas de estruturação das obras tendo em vista os seus leitores: os alunos e o

professor, bem como outros interlocutores, como os avaliadores do PNLD. Para

Batista (1999: 544), trata-se de aspectos relacionados com o modo pelo qual os

livros, textos ou impressos didáticos “encenam” sua leitura e sua utilização, isto é,

propõem um “contrato de leitura” que supõem que os leitores aceitem. O maior ou

menor grau de autonomia do contexto de sala de aula também constitui uma das

faces deste contrato: há livros que permitem aos alunos estudarem

independentemente do professor; outros vão exigir, pela sua configuração, o auxílio

do professor para a explicitação dos conteúdos. Batista (2004) exemplifica estas

abordagem da linguagem oral nos livros didáticos de Português do Ensino Fundamental – 3° e 4° ciclos: algumas reflexões. 68 Ênfase adicionada.

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duas formas de encenação da leitura, citando as obras didáticas de Ferreira (1970) e

Guimarães (1971). A primeira é exemplo do alto grau de autonomia:

Um narrador se dirige diretamente ao aluno-leitor (“Você sabia...?; “Observe...”;

“Você notou...”). [...] Tudo se passa, portanto, como se a interação entre autor e

leitor se fizesse face a face e os dois dialogassem num mesmo espaço e num

mesmo tempo. [...] Por meio dessa encenação de sua leitura, portanto, o texto se

torna independente de seu contexto de uso, autonomiza-se e passa, ele mesmo,

a encarnar a aula, a exposição do conteúdo, e a voz que o mantém torna-se a

voz do professor, tendendo a substituir e, assim, excluir os professores que de

fato o utilizam da (sic) cena de sua leitura (Batista, 2004: 56).

Já a obra de Guimarães não se dirige ao aluno; nela, o conteúdo é exposto de

forma resumida, com um excerto de um compêndio gramatical, por exemplo. A

compreensão do conteúdo, a leitura que o texto encena é, desse modo, dependente

do contexto da sala de aula e da atuação do professor: orienta-a, conta com ela e a

ela se articula (Batista, 2004: 57).

Atualmente, para Batista (1999: 551-552), as obras didáticas são, ao mesmo

tempo, “instrumentos de aprendizagem” dirigidos aos alunos e “instrumentos de

ensino”, com o apoio dos quais o professor procura mediar o processo ensino-

aprendizagem. No caso específico de nosso objeto de pesquisa, a consideração de

um determinado leitor, a orientação do discurso autoral em relação a ele, pode

expressar qual é o leitor literário que o livro concebe e pretende formar. Este ponto

será retomado, posteriormente, em nossa análise dos gêneros poéticos em coleções

de livros didáticos de língua portuguesa.

A noção bakhtiniana de autoria pode, portanto, como vimos, auxiliar na

compreensão de um livro que reúne enunciados em gêneros diversos, não

aleatoriamente, mas com determinados objetivos e obedecendo a determinados

critérios. Podemos nos perguntar, neste sentido, que relação se estabelece entre os

diversos enunciados ali reunidos? Se tomados como um mero conjunto de textos e

atividades, inseridos em um determinado suporte, como compreender o discurso

autoral ali tão presente? Vejamos, a seguir, como alguns teóricos estão pensando

estas questões.

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3.2. O livro didático como gênero discursivo Bunzen (2005) e Bunzen & Rojo (2005) têm advogado uma concepção do

livro didático como gênero discursivo, na acepção bakhtiniana. A defesa constrói-se,

principalmente, em contraposição à consideração do livro didático como suporte de

textos, conformem utilizam alguns estudiosos ligados à história do livro didático e

das práticas de leitura. Estes estudos centram-se tanto na materialidade do texto

impresso quanto na sua relação com as diversas formas de ler, contrapondo-se às

abordagens tradicionais centradas, sobretudo na análise dos conteúdos

pedagógicos (Bunzen, 2004: 19). Assim, como também esclarece Bunzen (2004:

21), o livro didático de língua portuguesa seria considerado um suporte de textos

diversos retirados de outros suportes.

A posição mais controvertida e com a qual os pesquisadores acima

polemizam (cf. Bunzen, 2004: 22-23; Bunzen & Rojo, 2005) é a colocada por

Marcuschi (2003), que compreende o livro didático como suporte, a partir,

principalmente, do argumento de que os textos inseridos no livro didático não

formam um todo orgânico, como preconiza Bakhtin, referindo-se ao romance.

Haveria, segundo Marcuschi, apenas uma reversibilidade de função destes gêneros,

visto que vão assumir funções didáticas, mas não haveria uma reversibilidade de

forma, ou seja, os vários gêneros encontrados nos manuais didáticos, os poemas, as

letras de canções, as peças publicitárias, as cartas, as histórias em quadrinhos não

deixariam de ser os gêneros que são porque se encontram no livro didático.

A contra-argumentação de Bunzen & Rojo (2005) vai encaminhar um

questionamento parecido com o que fizemos acima. Se considerarmos o livro

didático como suporte, como compreender os processos de encaixes e alinhamentos

dos diversos textos? Nas palavras dos pesquisadores

Como estabelecer uma unidade textual-discursiva? É possível? Como ficaria,

então, a questão da autoria e do estilo? [...] Estamos defendendo que há sim

unidade discursiva, autoria e estilo no LD, proporcionada via fluxos e

alinhamentos do discurso autoral, responsável pela articulação de textos em

gêneros diversos, e que tal processo indicia muito mais a produção de

enunciados em um gênero do discurso do que um conjunto de textos num

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suporte, sem um alinhamento específico, sem estilo e sem autoria (Bunzen &

Rojo, 2005: 8).

Assim, compreender o livro didático implicaria considerar um processo autoral

em que atuam vários agentes (autores, editores, revisores, leitores críticos,

professores etc.), com certas relações sociais entre si, na produção e seleção de

enunciados concretos com determinadas finalidades (Bunzen, 2004: 26). Não se

trata, como colocam Bunzen & Rojo (2005: 10), relativamente à presença de

gêneros diversos nos livros didáticos, de um problema de transmutação de gêneros,

como argumentou Marcuschi (2003), mas de um enunciado em um gênero que

permite a incorporação de outros gêneros, pela sua própria natureza:

Em outras palavras, estamos diante de uma discussão sobre a re(a)

apresentação, declarada ou não, do discurso de outrem, que, mais ainda no

discurso didático, deve ser vista como um procedimento normal. Por esta razão,

podemos compreender os textos em gêneros diversos presentes no LDP como

uma forma de discurso reportado típica do gênero, ou seja, é uma forma

específica de apreensão didática do discurso de outrem, em que o autor constrói

o seu texto através da intercalação de outro (Bunzen & Rojo, 2005: 10).

De nossa parte, retomaríamos, aqui, solidariamente à defesa do livro didático

como um gênero discursivo, a idéia colocada pelo próprio Bakhtin (1929; 1961-1962/

1981: 91) e desenvolvida no segundo capítulo deste trabalho quando, ao

revisitarmos o soneto, pudemos bem observar o fato de que um gênero é e não é o

mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo. Batista (2004), em seu trabalho

sobre o texto escolar, mesmo não pretendendo empreender quaisquer opiniões a

favor do livro didático como enunciado em gênero do discurso, parece corroborar,

pela sua explanação, o fato de que a ação autoral nas obras didáticas vai reatualizar

os enunciados que mobiliza, modificando-os, para o bem ou para o prejuízo de seus

leitores. Se um gênero é pinçado de sua esfera original e incorporado a um livro

didático, é o mesmo ou já é um outro? Percorrendo o processo de escolarização do

poema “São Francisco”, de Vinícius de Moraes, Batista (2004) percebe a mudança

entre o texto literário para a criança, que se encontrava na coletânea Arca de Noé:

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poemas infantis e o texto escolar para o aluno, que se encontra no livro didático

Português, de Reinaldo Mathias Ferreira.

Na publicação em sua esfera original, a literária, o poema faz parte de uma

coletânea de poemas dirigidos ao público infantil. Batista (2004) traz comentários

sobre a coletânea no que diz respeito às ilustrações, ao projeto gráfico e à recepção

crítica da obra. Aponta, especialmente, para a visão de São Francisco empreendida

pelo poeta:

[...] Um santo alegre, que vive numa espécie de disponibilidade existencial

próxima daquela de um hippie ou de um louco, que sorri, conversa com o fogo, o

vento, e os animais. [...] Não se expressa ostensivamente um ponto de vista que

julga ou avalia os comportamentos e ações do santo: o olhar que o descreve é,

embora afetuoso, predominantemente constativo e o que se coloca em primeiro

plano é, antes, o aspecto lúdico da linguagem, por meio do qual o autor brinca

com os sons e ritmos e convida – assim como os demais poemas da coletânea –

ao prazer da manipulação da linguagem [...] (Batista, 2004: 33).

Ao tratar do texto no manual didático de Ferreira, Batista (2004: 71-83) vai

apontar para o fato de que, ali, o poema sofre alterações, não está mais colocado

em relação aos outros poemas da coletânea e não é mais um poema para ler por

prazer e diversão e sim um texto para ser estudado. Estes pontos parecem

alterações normais no processo de escolarização de quaisquer textos; contudo, ao

verificar as atividades de leitura, o pesquisador depara com a seguinte questão:

“Explique o que você aprendeu com a leitura do poema”. Para Batista, configura-se

aí uma nova encenação da leitura para São Francisco: já não se trata do poema em

que se brincava com sons e ritmos, que não foi feito para ensinar coisa alguma;

reinveste-se uma leitura com função pedagógica e um novo quadro de compreensão

é instaurado.

Este novo quadro é completado pela presença de pequenos trechos,

antecedendo o poema e as questões sobre o texto, em que se frisa o fato de que

São Francisco foi um homem que deu tudo o que possuía aos pobres e passou a

cuidar daqueles que precisavam de sua ajuda e dedicou-se integralmente à causa

dos necessitados. (Ferreira, p. 64-65, apud Batista, 2005: 74-75). O que antes era

um poema que “nada” pretendia a não ser a fruição, o prazer da manipulação da

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linguagem, transforma-se em modelo de uso da língua, valores e comportamento.

Concluindo sua análise da escolarização do poema São Francisco, Batista (2004:

75) acrescenta que por sobre o texto retirado de A Arca de Noé, por sobre suas

ruínas, um novo texto, portanto, é construído. Em seu novo suporte, assume todas

as funções contra as quais seu modo de inserção no gênero infantil se coloca.

Diríamos que ocorreu aí não a pura e simples inserção em um novo suporte,

mas a incorporação do poema ao gênero livro didático que, pela ação do discurso

autoral, altera a sua compreensão e seu contrato de leitura. Isso vem reafirmar o

caráter genérico do livro didático, ou seja, o autor, assim como no romance, insere

outros gêneros, que servem, no caso do livro didático, ao propósito pedagógico,

assim como cartas e outros gêneros inseridos no romance servem aos propósitos do

enredo, da seqüencialização dos conteúdos, na narrativa extensa. Portanto, o texto

relatado de um dado gênero assume dentro do gênero discursivo livro didático, sem

prejuízo de sua inserção primeira num dado gênero, outras feições; o que

permanece é o texto/textualização e, claro, algumas de suas ressonâncias no

gênero original. Assim, a unidade de sentido do LD vem de uma assimilação de

textos em certos gêneros como gêneros didáticos, numa ação autoral

ressignificadora destes (Sobral, 2005b), em vez de simples sobreposição. Logo, o

LD relata textos inseridos em certos gêneros, mas não propriamente esses gêneros,

ou seja, o texto do poema permanece texto de poema, mas o gênero LD, mediante a

ação de didatizá-lo, o ressignifica (no sentido que tem o termo na obra de Bakhtin).

A compreensão do livro didático como gênero discursivo mostrou-se

necessária, neste trabalho, porque o exame dos livros didáticos revelou que não se

pode desconsiderar a ação autoral no ensino de tais gêneros, porque a própria

seleção dos textos, dos autores, a incidência dos gêneros poéticos em relação aos

outros gêneros literários e aos outros gêneros de diferentes esferas, além da

seleção das atividades e do discurso autoral que vai organizar o ensino e enfocar

um ou outro aspecto do fazer poético – todo esse conjunto espelha a visão que se

tem sobre os objetos poéticos, sobre o objeto estético e conseqüentemente sobre o

leitor literário que se forma. Responder às questões desta pesquisa é tentar

reconstruir este processo autoral que mobiliza estes gêneros poéticos no contexto

didático. É a partir desta consideração que se pode proceder à analise do tratamento

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dado pelos manuais didáticos de língua portuguesa aos gêneros poéticos

incorporados.

Agora, é preciso, antes de tudo, saber que gêneros poéticos são esses, antes

de compreender sua escolarização. Como se formaram, onde circulam, o que lhes é

peculiar e quais características apresentam fora do manual didático? É sobre isso

que discorreremos a seguir.

3.3. Os gêneros poéticos Em nosso primeiro capítulo, neste trabalho, referimo-nos aos gêneros

poéticos ainda como denominava Bakhtin (1934-1935/1975: 78), como gêneros

unilingües e monoestilísticos, gêneros do discurso poético no sentido estrito.

Salientamos que proporíamos uma maior amplitude a esta expressão. No segundo

capítulo, tratamo-los ainda como gêneros poéticos do discurso, na interface entre a

designação de gêneros literários e gêneros do discurso na acepção bakhtiniana.

Enfim, a expressão gêneros poéticos, nesta pesquisa não se refere somente aos

poemas, na compreensão tradicional, mas estende-se à canção (isto é, letra de

canção), ao cordel e aos gêneros da tradição oral, como as quadrinhas, os trava-

línguas, as parlendas, as adivinhas e as cantigas de roda.

Esta escolha não foi aleatória: em primeiro lugar, ainda instintivamente,

observamos que tais gêneros são alinhavados por certos traços lingüísticos comuns

e, em segundo lugar, para além dos poemas em suas configurações mais

tradicionais, os demais foram “raptados de suas esferas” pela escola e pelos

materiais didáticos de ensino da língua materna.

Assim, por exemplo, os gêneros poéticos da tradição oral fazem parte de uma

certa tradição poética infantil, caracterizando-se pelo jogo repetitivo de palavras e

sons (aliterações) e pela predominância do ritmo sobre o que é dito ou cantado – o

que os aproxima, por um lado, dos gêneros poéticos e, por outro, da canção.

O cordel, por outro lado, parece ter sido incorporado às coletâneas dos livros

didáticos pelas suas marcas de linguagem popular, provavelmente para suprir a

necessidade de se apresentar variedades de gêneros representantes de

manifestações culturais regionais e locais.

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Esta proximidade entre estes gêneros não se deve, apenas, às características

formais; eles também possuem pontos de contato nos seus próprios processos de

formação e transformação ao longo da história. Abarcar todos estes processos, é

claro, seria impossível para o espaço e tempo desta pesquisa, mas algumas

hipóteses podem ser levantadas com respeito ao “parentesco” destes gêneros ao

longo de suas descrições. Detenhamo-nos, pois, nestas descrições, primeiramente

dos poemas e letras de canção e, em seguida, dos gêneros da tradição oral e do

cordel.

3.3.1. Os poemas e as letras de canção

Desde o início do trabalho, estamos nos referindo, de uma forma ou outra,

aos poemas, em sua acepção mais tradicional. Portanto, achamos mais sensato e

econômico reservar este espaço às relações entre o poema e a letra de canção,

detendo-nos especialmente nesta última. Obviamente, caberiam aqui mil descrições

de poemas e mesmo assim não poderíamos abarcar todas as suas realizações.

Estamos utilizando, ao longo desse texto, a expressão letra de canção. Na

verdade, reconhecemos tratar-se do gênero canção, do qual a letra é parte

constituinte. Concordamos com Costa (2002: 107) que se trata de um gênero

híbrido, de caráter intersemiótico, pois é resultado da conjugação entre a

materialidade verbal e a materialidade musical (rítmica e melódica) e que essas

dimensões são inseparáveis, sob pena transformá-lo em outro gênero.

Entretanto, nos livros didáticos, encontramos somente o material verbal,

somente a letra de canção, e sobre ela é que são propostas as atividades. Assim,

num procedimento metonímico, denominaremos, muitas vezes, a canção por letra de

canção ou empregaremos, outras vezes, de forma associada à expressão

canção/letra de canção.

O gênero canção, manifestação artística tão presente na cultura de todos os

povos, transforma-se e evolui no tempo, assim como se transformam e evoluem as

relações sociais. Seria necessária uma investigação minuciosa e demorada que

pudesse espelhar um pouco deste percurso histórico de mudanças, adaptações,

assimilações e múltiplas influências. Ressalte-se aqui a íntima relação entre a

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música e a literatura, já em suas origens, e os desdobramentos desta simbiose até

os nossos dias.

É preciso ainda lembrar que a presença da canção na vida dos povos possuiu

e ainda possui significado bem longínquo de quaisquer abstrações a que possamos

nos apegar na modernidade, tem natureza antropológica, fez e faz parte integrante e

essencial da vida de todo dia, do ritmo de trabalho, da interpretação das fases a que

estão submetidos os membros dos diversos grupos sociais. Pensemos, dessa forma,

nos cantos de trabalho, nos cantos de guerra, de colheita, de semeadura, de

vindima, de amor, de luto.

Muitos pesquisadores, sejam teóricos da literatura, cientistas sociais,

antropólogos têm se dedicado ao estudo das origens das manifestações poéticas.

Huizinga (1938: 157), por exemplo, vai tentar explicar a arte poética através de sua

visão lúdica da cultura:

Por que os homens subordinam as palavras à métrica, à cadência e ao ritmo? Se

respondermos que é por causa da beleza da emoção, estaremos deslocando o

problema para um terreno ainda mais difícil. Mas se respondermos que os

homens fazem poesia porque sentem a necessidade do jogo social já estaremos

mais próximos do alvo. [...] Elementos como a rima e o dístico só adquirem

sentido dentro das estruturas lúdicas intemporais e onipresentes de que derivam:

golpe e contragolpe, ascensão e queda, pergunta e resposta, numa palavra, ritmo.

Sua origem está inseparavelmente ligada aos princípios da canção e da dança, os

quais por sua vez fazem parte da imemorial função do jogo. Todas as qualidades

da poesia reconhecidas como próprias, como a beleza, o caráter sagrado, a

magia, são desde o início abrangidas pela qualidade lúdica fundamental.

Assim, as raízes antropológicas das práticas orais mostram a ligação estreita

sempre existente entre o homem e a canção, desde um de seus elementos mais

contundentes – o ritmo – até o amadurecimento do material sonoro e sua

metamorfose em material verbal. Leitão (1985: 187) faz interessante paródia sobre o

ritmo:

O poeta mexicano Octavio Paz sustenta a tese de que o ritmo preexiste à

linguagem verbal. Através de uma paródia evangélica, glosemos a idéia de Paz:

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no princípio era o ritmo, e o ritmo estava com o homem, e o homem era o ritmo.

Antes de falarem articuladamente, as primeiras hordas humanas teriam percebido

o compasso cardíaco dentro do peito, a entrada e a saída do ar pelas narinas em

intervalos regulares, e a alternação combinada de seus pés em marcha; do

universo circundante teriam por certo apreendido as unidades rítmico-visuais do

sol e das trevas – os dias e as noites, o quaternário percurso lunar, o vaivém das

marés.

Zumthor (1997: 86) lembra-nos, na mesma linha, que na língua dos Inuit, uma

única palavra significa tanto respirar como compor um canto. Ou seja, se

caminharmos em direção às origens, encontraremos num momento a fusão da

cultura com as funções vitais do corpo humano, num encontro fascinante entre o ser

biológico e o ser social.

E mais contundentemente, seja em sociedades primitivas ou remontando à

Antigüidade clássica, podemos vislumbrar as íntimas relações entre a poesia e a

música, e entre a poesia, a música e as práticas sociais populares e cotidianas. O

caráter, aliás, de criação de um “espaço comunitário”, legado à arte nas sociedades

primitivas, e da mesma forma na antigüidade clássica, reforça ainda mais a idéia de

estreita ligação entre a arte e o conjunto todo social. As manifestações são

integrantes da vida de todo dia da comunidade em questão, feitas por e para “o povo

todo” e não uma motivação ou abstração do indivíduo, como parece que se realizou,

a partir da idade heróica e firmou-se, séculos depois, com a modernidade.

Hauser (1953: 56) ilustra a questão:

Podemos estar certos de que a poesia dos primeiros gregos, como a de todos os

outros povos num estágio primitivo, consistia em fórmulas mágicas, sentenças

oraculares, rezas e encantamentos, cânticos de guerra e de trabalho. Todos

esses tipos tinham algo em comum; podem ser qualificados como a poesia ritual

das massas. Jamais ocorreu aos autores de encantamentos e versos oraculares,

aos compositores de lamentos fúnebres e cânticos de guerra, criarem qualquer

coisa individual; sua poesia era essencialmente anônima e destinada à

comunidade como um todo; expressava idéias e sentimentos que eram comuns a

todos.

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Esta idéia de coletividade, de manifestações musicais e poéticas

indissociadas, ligadas a práticas sociais, é compartilhada por Spina (2002: 15):

A função ancilar da poesia está representada pela associação em que viveu com

a música, de certo modo com a dança, antes que surgisse a pessoa do poeta [...]

A poesia primitiva é uma poesia de caráter coletivo porque representa os anseios

da coletividade e está intimamente ligada ao modus vivendi dessas comunidades

[...]

Tal laço estreito entre a canção e o povo - e podemos assim localizar a

expressão “música popular” - como se vê, é de longa data. Tendo invadido os muros

da instituição escolar, certo seria que a canção estivesse (re)encontrando, hoje, esse

público.

Mesmo levando-se em conta as relações, marcadas historicamente, entre a

poesia e a música, Costa (2002: 120) chama-nos a atenção o fato de que, ao

tratarmos dos espaços de produção contemporâneos, poesia e canção são frutos de

processos de produção bem diferentes. Assim, diferem os elementos relacionados

ao processo de produção, circulação, recepção e registro do gênero:

No caso da canção, um produto discursivo complexo, tem-se o processo, solitário

ou coletivo, de composição da letra e da melodia com o auxílio ou não de um

instrumento musical; tem-se também o chamado “arranjo”, que pode intensificar

ou reconfigurar a compatibilidade entre os componentes melódico e lingüístico

(Tatit: 1987: 3), e ainda o processo de registro (gravação e instalação em um

suporte – CD e outros), com tudo o que isso implica de escolhas, atos e gestos

interdiscursivos e intersemióticos. Há também o processo de distribuição da

canção: a veiculação radiofônica, sua presença nos meios televisivos, nos bares e

restaurantes (por meio da música “ao vivo” ou “mecânica”), nos mais diversos

ambientes (do supermercado aos meios de transporte); sua apresentação pelos

artistas em “shows”; sua participação nas trilhas sonoras do cinema, teatro,

novelas televisivas; enfim, a canção está em toda parte. Em contrapartida, para

cada um desses modos de veiculação corresponde um modo de recepção da

canção.

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Segundo ainda Costa (2002: 113), o mero fato de que ambas, canção e

poesia, se utilizarem da materialidade gráfica em um determinado momento de sua

produção e circulação não as torna variedades do mesmo. Ou seja, para ele, a

poesia e a canção (letra de canção) são gêneros distintos entre si, cujos textos

podem ser “reversíveis”: a poesia transformada em letra e a letra lida como poesia.

Uma questão que é comumente colocada, sobre este ponto, é a da relação das

letras de canção com a poesia, ou se o compositor é ou não poeta e pode, enfim, ter

sua obra analisada por meio de um aparato teórico e metodológico fornecido pela

crítica e teoria literárias. Ainda segundo Costa (2002), é inquestionável a dimensão

escrita da canção (no registro da criação, nos encartes, partituras, song-books,

folhetos e antologias) e sua relação com o processo de criação poética, pois lança

mão de recursos de métrica, rima e figuras. Entretanto, para este autor

[...] O prestígio da prática discursiva literária no mundo ocidental, forjado por

séculos de grande influência na educação e na cultura, o discurso literário tende a

tentar anexar o discurso lítero-musical, situando-o porém nas extremidades de

sua esfera e, através dessa própria anexação excludente, proteger a identidade

do gênero poético, ao qual atribui valor em si. Advém daí a eterna controvérsia

nos meios literários sobre se a chamada “letra de música” é ou não poesia, o que

equivale à questão de se ela tem ou não estatuto equivalente ao da poesia.

(Costa, 2002: 112)

Ao nosso ver, esta discussão tem algo de irrelevante, já que as artes não são

estanques nem concorrentes (no sentido de que participariam de alguma disputa de

valor). A mescla entre a poesia e a canção é uma mescla de marcas históricas,

como pinçamos acima e, portanto, suas fronteiras vão ser sempre tênues, ou por

vezes, indefiníveis.

Langer (1980: 170), esteta, ao tratar das relações entre a música e a

literatura, coloca o que ela chama de princípio de assimilação pelo qual as palavras

de um poema, as alusões bíblicas em uma cantata, as personagens e

acontecimentos em comédias ou tragédias tornam-se elementos musicais quando

são usados musicalmente.

Assim, a autora não estabelece uma distinção radical entre o que é música ou

poema, ou letra de canção. Segundo ela:

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Quando as palavras entram para a música, elas não são mais poesia ou prosa,

são elementos da música. Sua tarefa é ajudar a criar e desenvolver a ilusão

primária da música, o tempo virtual, e não a da literatura, que é outra coisa;

assim, elas desistem de seu status literário e assumem funções puramente

musicais (Langer, 1980: 170).

Para Tatit (1998a), pesquisador da canção, a marca entonacional é que vai

distinguir, em muito, letras de canção de poemas. Letras simples, quando cantadas,

tornam-se pérolas e, assim, cancionistas têm estatutos diferentes de poetas:

É por isso que eu digo que cancionista tem outro estatuto. É mesmo uma outra

modalidade de expressão, pois ele não precisa se preocupar com a autonomia

do texto: o texto não precisa valer por si próprio; pelo contrário, ele pode ser até

banal se a melodia fisgar o conteúdo (Tatit, 1998a: 11-12).

A entrada da letra de canção em sala de aula aconteceu após 1970, como

colocou Zilberman (1985), quando do advento da chamada “outra antologia”. Foi

então o momento do boom da teoria da comunicação e na disciplina então

denominada “Comunicação e Expressão”; tiveram entrada não só uma literatura

“não-oficial”, mas também a propaganda, os quadrinhos, a charge, o jornal e a letra

de canção. A pergunta que se coloca é como tem sido o tratamento didático

dispensado a estes gêneros.

Sabemos que, nas aulas de Língua Portuguesa nas escolas brasileiras, a

canção se faz presente, por meio do livro didático - que traz a letra como texto,

tratando-a, na maior parte das vezes, como poema, ou, por meio de iniciativa do

próprio professor, que querendo tornar a aula mais agradável, utiliza o recurso da

música. Ouvem-se músicas, lêem-se letras e depois? Textos como pretextos? Há

algum trabalho que explore o gênero como pertencente a um espaço discursivo, que

leve o aluno a se informar e/ou refletir sobre esses espaços e suas formas de

produção, circulação e recepção?

Afinal a canção é, da mesma forma, um enunciado da esfera de comunicação

artística, e como tal, precisaria ser compreendida em seu todo, pois também como

um todo foi produzida, originalmente. Como bem coloca Tatit (1998b: 117):

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Produzir canções significa produzir compatibilidades entre letras e melodias –

aos quais se agregam recursos musicais de toda ordem – de modo a configurar

um sentido coeso.

Cyntrão (2004), ao discorrer sobre as letras poéticas da MPB e o literário

canônico, defende um estudo da canção em que se alie a produção de cancionistas

da MPB e poetas representativos da literatura brasileira:

Igualmente importante, o estudo comparativo da obra poética e poetas do

cânone literário revela uma abertura para a compreensão do sentido de nossa

condição humana situada e contextualizada pelos múltiplos fatores culturais que

enformaram e informaram os signo poético. Mostrar a existência do intertexto,

que compõe o universo simbólico comum às obras poéticas dos cancionistas e

dos poetas do cânone é criar as condições para mostrar as diversas

tematizações do ser cultural e ideológico brasileiro, esteticamente elaboradas [...]

(Cyntrão, 2004: 71).

Conceber a canção como gênero do discurso e, a partir daí, explorá-la em

suas dimensões discursivas, dando relevo à compreensão e reflexão sobre os

espaços de produção, circulação e recepção, bem como sobre o diálogo do material

lingüístico com as condições de produção e da canção com outras manifestações

artísticas, parece apontar um caminho, lançar luzes sobre essa questão tão presente

hoje em nossas salas de aula.

3. 3. 2. Os gêneros da tradição oral Os gêneros da tradição oral foram estudados, sobretudo, pelos folcloristas

brasileiros, como Câmara Cascudo, Sílvio Romero, Veríssimo de Melo, entre outros,

que se dedicaram a colher estes gêneros em muitos estados brasileiros. Como

manifestações populares, há uma grande variabilidade em suas realizações, muitas

versões para os mesmos textos, dependendo da região em que foram localizados.

Vejamos um a um.

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3. 3. 2. 1. As parlendas O termo parlenda, segundo o Dicionário Aurélio, provém de parlanda; este,

por sua vez, liga-se ao verbo italiano parlar. Especificamente, são rimas infantis, em

versos de cinco ou seis sílabas, para divertir, ajudar a memorizar, ou escolher quem

fará tal ou qual brinquedo. Há as variações parlanda, parlenga, perlenga, perlenda,

lenga-lenga (Portugal).

Segundo Câmara Cascudo (1952: 56):

As parlendas, ou lenga-lengas, como dizem os portugueses, são fórmulas

literárias tradicionais, rimadas também pelos toantes, conservando-se na

lembrança infantil pelo ritmo fácil e corrente. São incontáveis e se prestam para os

embalos, cadenciar movimentos do acalanto infantil no intuito de entreter e distrair

a criança. Figuram, abundantemente, na classe daqueles nonsense rhymes, sem

pé e sem cabeça, com a função sugestionadora do ritmo. Não têm música

geralmente, mas são declamadas numa cantinela, produzida pela acentuação

verbal, marcando fortemente o ritmo. Há parlendas musicadas mas sempre de

simples desenho melódico, com refrões imitadores ou onomatopaicos.

Para Heylen69 (1991), uma característica que diferencia a parlenda é que esta

é sempre acompanhada de uma atividade, um jogo, brincadeira, ou uma coreografia

corporal70.

Segundo Melo (1949: 38), as parlendas diferenciam-se dos acalantos, dos

jogos, das canções de roda, das adivinhas, dos contos. Este autor apresenta uma

subdivisão das parlendas em brincos, mnemonias e parlendas propriamente ditas:

1°) Brincos – as mais fáceis, as primeiras que ouvimos na infância, ditas ou recitadas pelos

pais ou amas, para entreter ou aquietar meninos.

Exemplos:

69 Esta autora apresenta um trabalho interessante e exaustivo sobre as parlendas em seu estudo

Parlenda, Riqueza Folclórica – Base para a Educação e Iniciação à Música. São Paulo, Hucitec, 1991.

70 Quem não se recorda das brincadeiras de recreio, das batidas de palmas e do indispensável Cê cerê ce cê cê?

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2°) Mnemonias – Ditas ou recitadas pelas próprias crianças, com o fim de fixar números

ou nomes

3° ) Parlendas propriamente ditas – as mais complexas, maiores, ditas ou recitadas

pelas próprias crianças, com um fim especial, inclusive trava-línguas

Pé-de-Pilão

Carne seca com feijão

O ferreiro faz a forca

Mas não faz o gavião Serra, serra

Serra, pau

Serra esta menina

Que come mingau

Um, dois, feijão com arroz

Três, quatro, feijão no prato,

Cinco , seis, feijão pra nós três,

Sete, oito, feijão com biscoito,

Nove, dez, feijão com pastéis

Nove – Automóvel.

Dez– Besta tu és...

(Mnemonia dos meninos de

Natal)

Chuva e sol

Casamento de espanhol

Sol e chuva

Casamento de viúva

Quem vai na frente

Leva São Bento;

Quem vai atrás

Leva São Braz;

Quem vai no meio

Sapo no seio

Um – Anun.

Dois - Arroz.

Três – Pedrez

Quatro – Pé de Pato.

Cinco –Pé de Pinto.

Seis – Freguês.

Sete– Canivete.

Oito – V-8.

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Bordini (1991: 43) assinala que a parlenda caracteriza-se pelo paralelismo

construtivo, a presença forte da rima, o giro semântico ilógico e a incidência de

preconceitos e temas da vida vulgar. Traz um exemplo, que reproduz uma

caminhada como se fosse uma via-sacra, em que se pára em cada casa:

Nesta casa cheira a rosa Aqui mora uma formosa; Nesta casa cheira a pão,

Mora nela um bom cristão; Nesta casa cheira a vinho, Mora nela um bom vizinho; Nesta casa cheira a breu, Mora nela um bom judeu; Nesta casa cheira a pão,

Mora nela um bom ladrão; Nesta casa cheira a ouro, Nela tem algum tesouro; Nesta casa cheira a unto, Nela está algum defunto.

Vamos andando Com Cristo Jesus

Que vai caminhando Com o peso da cruz; Com chagas abertas,

Seu peito ferido E o sangue jorrando

De Cristo Jesus

Outros autores, como Gomes & Ferreira (2003), afirmam que as parlendas

questionam a realidade circundante, ao ousarem burlar os sentidos acomodados das

expressões lingüísticas. E acrescentam:

As parlendas, jogos culturais caracterizados pela ludicidade e a estruturação

lingüística, são, na opinião de alguns teóricos, o momento da linguagem

subvertida e ingênua, ou seja, trazem em seus versos poéticos a palavra burlada

e, ao mesmo tempo, nuanças simples do povo oral. Assim jogar parlendas é

discutir posições culturais e ideológicas (Gomes & Ferreira, 2003: 13)

A literatura infantil contemporânea tem se valido deste gênero, cuja origem se

perde no tempo. Muitos autores, como Almir Correia, Paulo Seben, nos exemplos

abaixo, escrevem poemas que retomam trechos e formas composicionais de

parlendas conhecidas, ressignificando-as:

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Falei à toa?

Toa não ouve,

Não como couve...

Que houve comigo?

Não sei o que digo.....

(Paulo Seben, 1999)

Os amigos O zero não era sincero O um só fazia “pum” O dois deixava pra depois O três falava inglês O quatro não era pato O cinco usava cinto O seis parecia um portuguê(i)s O sete jogava basquete O oito vivia afoito O nove não conseguia rimar Mas todos juntos Sabiam Somar Diminuir Multiplicar Dividir. Inventavam muito problema e equação E quase sempre nenhuma solução

(Almir Correia 1991)

Segunda-feira

Falo besteira

Besteira nada

Falo na fada.

Se a fada é boa,

3.3.2.2. Os trava-línguas Os trava-línguas, no dizer de Melo (1949: 72), são uma categoria especial de

parlenda. Caracterizam-se, segundo este autor, por serem um verso, palavra ou

expressão, na maioria das vezes de pronunciação difícil e cuja repetição depressa

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provoca sempre deturpação dos termos e conseqüentemente o seu sentido de

origem.

Também, conforme Melo, têm diferentes designações: Exercícios de dicção,

segundo Alexina de Magalhães Pinto, Parlendas com obstáculos, conforme Cecília

Meireles, e Problemas para desenferrujar a língua, conforme Rodrigues de Carvalho.

Vejamos alguns exemplos típicos, reunidos em Melo (1949: 72-73):

Weitzel (1995: 144-146), salienta a função educativa dos trava-línguas,

ressaltando que estes são comuns a vários povos, e propõe uma classificação em

simples, compostos e complexos. Para este autor, em trava-línguas simples,

predominariam apenas um fonema consonantal, como em O rato roeu a roupa do rei

de Roma, e a rainha, com raiva, roeu o resto. Com mais de um fonema e variados

pontos de articulação, seriam os trava-línguas compostos, como por exemplo: O

teco do teco-teco é o tico do tico-tico ( /t/ + /k/ ). Já os complexos misturariam

fonemas consonantais e encontros consonantais, como o conhecido Um tigre, dois

tigres, três tigres.

Como no caso das parlendas, muitos autores de literatura infantil brincam com

os trava-línguas, como é o caso de Ciça, Elias José e José Paulo Paes. Vejamos um

exemplo destes dois últimos, que criam poemas usando os recursos poéticos dos

trava-línguas:

Num ninho de mafagafos,

Seis mafagafinhos há;

Quem os desmafagafizar

Bom desmafagatizador será.

Lá vem o velho Felix,

com um fole velho nas costas;

Tanto fede o velho Felix

como o fole do velho Felix fede.

O rato rói a roupa do rei de Roma. Rui, o rei rouco ronca e dá bronca. A roupa puiu e Roma ruiu. Quem viu, riu sem dar um pio (Elias José, 1992)

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PATACOADA A pata empata a pata Porque cada pata Tem um par de patas Um par de pares de patas Agora se engata Pata a pata Cada pata De um par de pares de patas A coisa nunca mais desata E fica mais chata Do que pata de pata (José Paulo Paes, 2000)

3.3.2.3. As quadrinhas As quadrinhas também são conhecidas por quadras ou trovas. Segundo

Weitzel (1995: 95),

[...] Esta curta composição de quatro versos setissilábicos, rimando o segundo

com o quarto (ABCB), é uma das mais comuns e mais antigas formas de nossa

poesia folclórica, onipresente nas manifestações orais populares, muitas delas

fragmentos de modinhas, de desafios, de abecês e outros cantares, que

enriquecem o nosso populário.

As quadrinhas têm origem lusitana e podem ser divididas em quadras ou

trovas populares ou literárias, conforme a autoria. Algumas transmitem valores

morais, à moda de provérbios, mas os temas são variados: amor, saudade, religião,

humor. Weitzel (1995: 96-103) empreendeu detalhada classificação das quadras,

usando os critérios: I – FORMA; II - FUNDO ; IIII – ESTRUTURA; IV –CONTEÚDO.

Vejamos alguns exemplos que constam neste autor:

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Quadra Arrímica Meu amor me deu um beijo De vergonha eu caí Para, de tão sem vergonha, Levantar querendo mais

Quadra Rimada Dizem que beijo na boca É um pecado horroroso Mas por, que meu Deus, fizeste Um pecado tão gostoso?

Quadra com sentido dependente A rolinha fez um ninho Para seus ovinhos chocar Veio uma cobra e comeu Rolinha pô-se a chorar

Quadra de pensamentos desconexos Joguei meu limão pra cima Aparei com canivete Em conversa de adulto A criança não se mete

Quadra humorística Uma velha, muito velha De tão velha envergou Foi falar em casamento A velha se endireitou

Quadra de conteúdo filosófico Tudo muda, tudo passa Neste mundo de ilusão Voa pro céu a fumaça Fica na terra o carvão

3.3.2.4. As adivinhas As adivinhas são formas imemoriais, que se ligam, de certa maneira, aos

enigmas da Antigüidade. Para Veríssimo de Melo (1948: 90),

As adivinhações, tais como as encontramos hoje, na boca das crianças e na

voz anônima do povo, guardam ainda, aqui e ali, vestígios daquele mundo

fabuloso e distante, anterior aos processos lógicos da análise, em que a

decifração dos enigmas constituía a mais alta prova de inteligência. Porém,

como tudo evolui e passa, pela terra, com a marcha dos séculos as adivinhas

decaíram do seu elevado sentido filosófico, chegando aos nossos dias apenas

como simples divertimento infantil.

Para Jolles (1930), trata-se de uma das Formas Simples71, ao lado da

legenda, saga, mito, ditado, caso, memorável, conto e chiste. Estruturada em termos 71 No dizer de Jolles (1930/1976: 20) Penso nas Formas que não são apreendidas nem pela

estilística, nem pela retórica, nem pela poética, nem mesmo pela “escrita”, talvez; que não se tornam verdadeiramente obras de arte, embora façam parte da arte; que não constituem poemas, embora sejam poesia; em suma, aquelas formas a que se dão comumente os nomes de Legenda,

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de pergunta e resposta, a adivinha traria, na própria pergunta, a sua resposta. Para

Jolles (1930: 124) a forma da Adivinha abre tudo ao fechar-se; é cifrada de tal modo

que esconde o que comporta, retém o que contém. Mas este mesmo autor, contudo,

acredita que Mito e Adivinha se diferenciam:

Sublinhe-se, uma vez mais, a diferença essencial que separa o Mito da Adivinha.

No Mito, o sentido da resposta está exclusivamente nela. Na Adivinha,

apresenta-se, pelo contrário, uma pergunta a fim de apurar se o interrogado

possui certa dignidade e, uma vez dada a resposta, a pergunta prova que o

interrogado tem essa dignidade (Jolles, 1930/1976: 116).

Para Cascudo (1998: 13), em termos formais das adivinhas, estas se

constituem em fórmulas rápidas, na maioria susceptíveis de metrificação para

facilitar a assimilação mnemônica. Weitzel (1995: 131) enumera as seguintes

funções para as adivinhas: psicológica (desafio mental, estímulo às relações de

analogia); social (convívio, entretenimento); pedagógica (rudimentos da ciência,

frutos da experiência e do espírito de observação do povo) e função literária

(inspiração aos poetas e prosadores). Melo (1948: 93) apresenta uma outra

classificação das adivinhas, tendo por base a temática: Mundo físico; Religião e

Mitologia; Animais; Vegetais; O homem; Coisas materiais; Atos e tradições; Nomes,

sílabas e letras; Problemas; Adivinhas de Conto. Vejamos alguns exemplos retirados

da obra de Melo (1948: 93-113);

Nasci nágua,

Nágua me criei;

Se nágua me botarem,

Nágua morrerei?

(R: O sal)

Saga, Mito, Adivinha, Ditado, Caso, Memorável, Conto ou Chiste. Segundo Lima (1981: 275), o propósito de Jolles é chegar às “formas fundamentais” a que o homem teria acesso depois de intervir no caos do universo, de reunir e separar, alcançando por fim a permanência do essencial. Estas formas elementares, em número de 9 [...] corresponderiam a uma “disposição mental” diferenciada, que permanece malgrado a diversidade das configurações histórico-culturais. Consideradas deste modo, as formas fundamentais seriam entidades reais e transistóricas.

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Ele morre queimado,

ela morre cantando?

(R: O cigarro e a cigarra)

Sou uma moça branca

Toda coberta de espinhos

Meus filhos criados no grude

São moles mas são limpinhos

(R: Jaca)

São publicados, atualmente, muitos compêndios de adivinhas e autores de

literatura infantil, como Sonia Junqueira (1994) e Lenice Gomes (2003), lançam mão

das adivinhas em seus livros infantis, para atrair e divertir, principalmente, as

crianças mais pequenas.

3.3.2.5. As cantigas de roda As cantigas e brincadeiras de roda estão totalmente integradas ao espaço

escolar, principalmente na pré-escola e nas séries iniciais, como brincadeira que alia

exercícios motores, de memória e raciocínio e iniciação ao mundo da música e

dança. Para Melo (1948), as cantigas de roda brasileiras sofrem influência de

diversas culturas, como a africana, a ameríndia, a espanhola, a francesa e a

lusitana, sendo que a maior contribuição advém desta última. Melo (1948: 166) ainda

coloca que muitas cantigas se originaram de canções populares, ou de jogos

infantis.

Estudando as características das cantigas de roda, Jurado Filho (1986: 39)

observa a associação da música, da coreografia e do sentido do texto da cantiga:

O texto da cantiga de roda se apresenta, pois, como um espaço vago de sentido

a ser preenchido na situação. Conforme a atuação dos participantes da

brincadeira, haverá um efeito de sentido criado ou, em outras palavras, haverá a

atribuição de um sentido a esse espaço significante aberto pelo texto. Assim, a

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importância da cantiga de roda está em promover pela música, pela coreografia

e pela abertura do texto, um espaço de intercâmbio que terá diferentes sentidos

segundo os que lhe forem atribuídos nas diferentes situações da brincadeira.

Infelizmente, essa força original, marcada pela associação música,

coreografia e texto, perde-se quando a cantiga é transcrita para o livro didático, sem

qualquer contextualização das situações de produção do gênero.

Melo (1948: 169) procede à classificação de cantigas de roda recolhidas por

ele, em cinco grupo temáticos: I - Amorosas; II - Satíricas; III – Imitativas; IV -

Religiosas; V – Dramáticas. É de todos conhecidas as cantigas de roda Teresinha de

Jesus, A canoa virou, Fui no Tororó, Ciranda, cirandinha, Nesta rua tem um bosque,

Atirei o pau no gato. Portanto, abster-nos-emos, aqui, de fornecer exemplos. Apenas

queremos ressaltar, mais uma vez, a referência que os autores de literatura infantil

fazem, da mesma forma, às cantigas de roda e populares. José Paulo Paes, por

exemplo, retoma a Ciranda Cirandinha no poema Roda (1987):

Roda Ciranda cirandinha

Vamos todos cirandar

E se o circo não andar

Nós o levamos nas costas

Aposto que o circo gosta

Nas tuas costas ou nas minhas

De dançar com perna alheia

A ciranda cirandinha

Vamos dar a meia-volta

Volta e meia vamos dar

Mesmo se a meia furar

E se furar o sapato

Daremos por desacato

Volta sem meia ou sapato

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Volta e meia em pé descalço

Cantando todos bem alto

Ó ciranda cirandinha

Vamos todos cirandar

Vamos dar a meia-volta

Volta e meia vamos dar.

3.3.3. O cordel Falar sobre o cordel, sobre todas as suas características e sua importância

cultural, originaria, certamente, uma outra tese. Portanto, deter-nos-emos

brevemente em alguns traços principais deste gênero. Algumas boas pesquisas,

como as de Carvalho (2002), Leão (2003), Galvão (2001), Evaristo (2000), entre

outras, podem ser consultadas para um maior aprofundamento da questão.

Segundo Cascudo (1998: 437), a denominação Literatura de Cordel foi dada

em Portugal e difundida depois da década de 60, no Brasil. Refere-se, segundo o

mesmo autor, aos folhetos impressos, compostos pelo Nordeste e presentemente

divulgados e correntes em todo o Brasil. Salienta, ainda Cascudo, que o cordel já

não pertence mais à Literatura Oral.

Os cordéis também são designados poemas de cordel. Ligam-se à tradição

medieval de contar histórias a uma platéia de ouvintes interessados. As narrativas

são escritas em versos, mais popularmente em sextilhas de versos setessilábicos,

em quadras ou em poemas de dez versos. São impressos em folhetos, constituindo-

se em folhas de papel dobradas e encadernadas, de tamanho 11 x 16, impressos

em oficinas tipográficas, com capas ilustradas por xilogravura ou clichê metálico

(Carvalho, 2002: 19).

Para Evaristo (2000), houve uma transfiguração do gênero, que com a

imprensa e o romance, é transposto do oral para o escrito. Nas palavras deste autor:

Constitui-se em gênero intermediário entre a oralidade e a escrita. Faz uma

espécie de ponte de passagem entre uma cultura popular e outra literária. Por

isso, mantém algumas pistas da oralidade ao ser transposto para o texto escrito

e impresso (Evaristo, 2000: 120).

107

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Uma outra característica peculiar do cordel é o retorno de temas, a repetição

constante de situações. As narrativas sempre estão se atualizando, num movimento

dialógico:

Em termos de dialogicidade, pode-se dizer que as histórias são contadas e recontadas

e que o sujeito-narrador dialoga com o já produzido, na medida em que reelabora o

que ouviu e acrescenta sua contribuição própria – dados da experiência, “visão de

mundo” e formação cultural geral (Evaristo, 200: 120).

O cordelista é visto como alguém que canta em versos informações de sua

época, do lugar em que vive. Para Weitzel (1995: 112), o cordelista, além de poeta,

é um verdadeiro repórter, narrando uma situação pública, econômica, social ou

política, dando, inclusive, a sua opinião.

Hoje o cordel também vai ocupar a mídia digital, transformando-se, nas

palavras de Carvalho (2002: 2), em cordel digital. Neste espaço, segundo a autora,

muitas possibilidades se abrem, inclusive o resgate da matriz oral, através do som.

Há muitas classificações empreendidas aos folhetos de cordel. Weitzel (1995:

114-115) traz duas classificações, uma empreendida por Souza (1976) em folhetos

(de 8 a 16 páginas) e romances (os de 24, 32, 48, e 64 páginas) e outra por Diégues

Jr. (1975), que divide o cordel e três grupos: 1°) Temas Tradicionais (conservados

na memória popular e transmitidos pelos folhetos); 2°) Fatos circunstanciais ou

acontecidos (ocorrências da época contemporânea e com repercussão no meio do

povo) e 3° - Cantorias e Pelejas (reconstituição aproximada, pelo poeta de desafios

ouvidos ou contados por terceiros). Como são narrativas longas, limitar-nos-emos,

aqui, a colocar dois exemplos curtos, excertos, retirados de Weitzel (1995: 110-111):

Eu vou narrar uma história

que ao mundo inteiro abalou

de um atentado triste

que o mundo nunca esperou

ao papa Paulo segundo

- Seu professor, me responda

se algum tempo estudou

quem serviu a Jesus Cristo

morreu e não se salvou

no dia em que ele morreu

108

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Evaristo (2000: 136) aponta a presença do cordel em outros gêneros e dá

como exemplo o poema “Caso do vestido”, a crônica “Despedida de cordel”, ambos

de Carlos Drummond de Andrade, e a canção “Pavão misterioso”, de Ednardo. O

cordel é homenageado, ainda, por diversos outros autores da literatura, como Cora

Coralina, por exemplo, em Meu livro de Cordel (1987). Quanto à literatura infanto-

juvenil, localizamos o livro Cordel Adolescente, Ó Xente, em que Sylvia Orthof brinca

de cordelista e tanto a capa como as ilustrações imitam os folhetos originais.

3.4. A caracterização de um grupo – os gêneros poéticos

Estivemos aqui descrevendo e trabalhando com gêneros cujas

características, em termos lingüísticos ou em termos históricos, muito se aproximam.

São tão próximos na mesma medida de quanto são tão únicos, tão singulares. Nos

poemas, na maioria dos casos, temos os recursos das rimas, das repetições, do

ritmo e da sonoridade, que podem ser observados em suas manifestações mais

tradicionais, bem como nas contemporâneas. Podem ser lidos, podem ser

declamados, embora esta prática não seja muito comum hoje em dia.

Neste esteio, considerando-se a origem comum, o parentesco incontestável,

pelos mesmos fenômenos formais passeiam as letras de canção, que são feitas para

serem cantadas, mas também são lidas e analisadas como os poemas, em livros de

crítica, em songbooks, ou nos manuais didáticos, por exemplo. Em outra situação,

de pura fruição, que não toma a letra de canção como objeto de conhecimento, ela

será lida num encarte de CD, para melhor acompanhar a canção, ou em sites

especializados em letras de músicas nacionais e internacionais.

109

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110

As cantigas de roda agregam alguns elementos formais correlatos, pois,

assim como a canção, são feitas para serem cantadas, mas também para serem

coreografadas, na roda, na ciranda. Esta prática também tem se perdido, sobretudo

nas grandes cidades.

As parlendas, trava-línguas, quadrinhas e adivinhas lançam mão das mesmas

estratégias no trabalho com as massas sonoras e rítmicas e, de origem, eram para

ser vocalizados. Hoje, como vimos, estes gêneros são retomados, reinventados em

livros de literatura infantil, mas a oralização e mesmo o acompanhamento corporal,

como no caso das parlendas, desaparece. Quem nunca brincou de parlendas,

fazendo coreografias com as palmas das mãos ou acompanhando com outras partes

do corpo, no momento do recreio, não sabe de fato o que é uma parlenda apenas

lendo um livro infantil feito à moda de.

Os gêneros da tradição oral, se pensarmos no território desta pesquisa, estão

nos compêndios, nos livros infantis, nos manuais didáticos para acompanhar o

processo de alfabetização, são subtraídos de seu terreno da literatura oral e passam

ao mundo da escrita, assim como os cordéis, que uma vez, em sua origem,

participavam da condição oral. Estes últimos, como vimos, são gêneros

intermediários entre a oralidade e a escrita, mas constituem literatura escrita de

narrativas longas, o que vai remontar à tradição de se contar histórias a uma platéia,

o que também constituiu uma realidade na própria história dos poemas, em sua

acepção mais longínqua. Por outro lado, o cordel é mais do que isso: é o poema

longo mais o folheto em que se inscreve com suas ilustrações xilografadas,

consubstanciando toda a tradição oral e as situações regionais em seus temas.

Podemos considerar estes processos de flutuação e intersecção destes

gêneros, refletindo, por outro lado, em termos de uma poesia das altas camadas

sócio-ideológicas, como bem sublinhava Bakhtin (1934-1935/1975: 82-83), a

despeito dos processos de centralização cultural empreendidos pelas chamadas

forças centrípetas da vida verbo-ideológica. Estes processos vão resultar num

conjunto reconhecido de obras e autores que, em literatura, costuma ser

denominado cânone literário72.

72 O termo cânon provém do grego antigo kanon, que significava uma vara ou haste utilizada como instrumento de medida, como bem explica Guillory (1995: 233). Depois tomou a acepção de regra ou lei e com este sentido ficou conhecido nas línguas européias modernas. Segundo Perrone-Moisés (1998: 61), em relação à Bíblia, a palavra designa, o conjunto de textos considerados autênticos

110

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Mas ao lado das forças centrípetas, ainda lembrando Bakhtin (1934-

1935/1979: 92), temos as forças centrífugas. Segundo o autor, ao lado das forças

centrípetas caminha o trabalho contínuo das forças centrifugas da língua, ao lado da

centralização verbo-ideológica e da união caminham ininterruptos os processo de

descentralização e desunificação.

Ou seja, no grupo de gêneros poéticos aqui considerados, para além dos

poemas em suas manifestações canônicas, temos um universo de múltiplas vozes,

uma pluralidade de procedimentos e uma gama de variações que subsistem não só

nas letras de canções, mas também nos gêneros da tradição oral, tanto em suas

formas originais, quanto em suas revisitações pela literatura infantil, por exemplo.

Então, temos dois movimentos: o primeiro, que é vertical, traduz-se pelo

embate entre as forças centrípetas e centrífugas, entre o canônico e o não-canônico

(em outros termos, analogamente, poderíamos relacionar o erudito e o popular aqui)

e, a cada época, isso se traduz de certa forma, quando alguns objetos culturais são

reinvestidos por outros valores e vistos com outros olhos, passando a ocupar

espaços diferentes dos de sua origem. O outro movimento é horizontal, digamos,

entre os objetos culturais de um mesmo domínio (por exemplo, os poemas), que se

apropriam uns dos outros, de alguns traços a estruturas inteiras. Isto pode ser um

movimento de uma época, mas também pode ser dar transversalmente entre os

diferentes movimentos e estilos artísticos.

Pensamos que esses traços podem aproximar os gêneros enfocados aqui

nesta pesquisa, configurando-os como um agrupamento73 de gêneros poéticos.

Todavia, não pensamos que isto seja um modelo destacável e aplicável a qualquer

situação, mas muito localizado neste universo aqui, de gêneros poéticos abstraídos

de suas esferas originais, transportados para os manuais didáticos, onde são

tomados como objetos de conhecimento e, neste movimento, algo se perde, algo se pelas autoridades religiosas. E acrescenta: Na era cristã, a palavra foi usada no direito eclesiástico, significando o conjunto de preceitos de fé e conduta [...] No âmbito do catolicismo, também tomou o sentido de lista de santos reconhecidos pela autoridade papal. Por extensão, passou a significar o conjunto de autores literários reconhecidos como mestres da tradição (Perrone-Moisés, 1998: 61).

111

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112

ganha. Fora destes limites, em suas esferas de origem e de circulação, outras

confluências, aproximações, apropriações intergenéricas já e também ocorrem,

podendo ser facilmente imaginadas ou totalmente imprevistas.

Por isso, consideramos esta construção de grupo gêneros poéticos composto

pelos poemas, letras de canção, cordéis e gêneros da tradição oral como

absolutamente particularizada nos limites desta pesquisa que, não se guiando

apenas pelos aspectos formais dos referidos gêneros, pauta-se e justifica-se

teoricamente, sobretudo, pelo conceitos bakhtinianos de cronotopo e memória de

gênero .

No início do primeiro capítulo, anunciávamos que, no processo de criação

artística, o poeta trabalha de forma singular com a linguagem, num espaço e tempo determinados74. A categoria que aqui subjaz é o conceito de cronotopo – concebido

como tempo-espaço, cunhado por Bakhtin e explicitado em sua obra Formas de

Tempo e de Cronotopo no romance – ensaios de poética histórica, (1937-

1938/1975). O conceito, originalmente introduzido por Einstein nos estudos de

Física em relação à teoria da relatividade, refere-se, segundo o autor russo à

interligação fundamental das relações temporais e espaciais, artisticamente

assimiladas em literatura (Bakhtin, 1937-1938/1975: 211). Parece-nos que é um

conceito chave para a compreensão das relações entre os gêneros, seja numa

mesma época e num mesmo domínio, seja em épocas diferentes e entre diversos

domínios. Para Bakhtin,

O cronotopo tem um significado fundamental para os gêneros na literatura.

Pode-se dizer francamente que o gênero e as variedades de gêneros são

determinados justamente pelo cronotopo, sendo que em literatura o princípio

condutor do cronotopo é o tempo. [...] Essas formas de gênero, produtoras de

início, fortaleceram-se com a tradição e, no desenvolvimento subseqüente,

continuaram a subsistir tenazmente mesmo quando elas já tinham perdido

73 No sentido que dão a este termo Dolz & Schneuwly (1996), para quem, com finalidades didáticas e curriculares, os gêneros podem ser agrupados com vistas a estabelecer uma progressão no ensino. O agrupamento não é uma tipologia ou uma taxionomia; não visa classificações estanques, mas é um arranjo didático que aproxima gêneros que: (a) compartilham finalidades sociais e domínios de comunicação; (b) apresentam características formais compartilhadas e, por esses mesmos fatos; (c) são relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem dominantes exigidas para sua mestria. Retomaremos esta questão em nossas considerações finais deste trabalho. 74 Ênfase adicionada.

112

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totalmente sua significação realisticamente produtiva e adequada (Bakhtin, 1937-

1938/1975: 212)

Isto é o reflexo da natureza dialógica da linguagem em que, em cadeia, suas

formas genéricas procedem ao diálogo entre as diferentes formas de gêneros, entre

as diferentes manifestações artísticas. O que resulta deste diálogo é, muitas vezes,

o cruzamento de duas ou mais vozes sociais, são composições plurilíngües, que

mesclam modalidades, linguagens, formas composicionais, posições enunciativas,

formas de acabamento. Spina (2002), discorrendo sobre alguns recursos formais da

elaboração poética, parece exemplificar este movimento, em relação à chamada

poesia culta e poesia popular:

Nem a poesia popular saiu da poesia de arte, nem esta saiu daquela. Os dois

tipos coexistem no tempo e no espaço desde que coexistem as classes sociais.

O letrado e o homem do campo; o homem dos salões e o artista da rua. O que

se verifica entre uma e outra forma de poesia é um fenômeno de capilaridade, de

contínua e mútua osmose de processos técnicos formais, devendo notar-se que

a poesia culta sempre hauriu com vantagens os recursos formais da poesia

popular: o paralelismo em todos os seus tipos, o processo do leixa-prein75 [...] É

claro que aquilo que parece “carvão” na poesia inculta pode transformar-se em

“cristal” na poesia letrada. Os fenômenos repetitivos da poesia folclórica

tornaram-se expedientes formais da poesia culta, que os aproveitou, alterando

porém o valor poético do recurso (Spina, 2002: 75-76).

Ao estudar as formas do cronotopo no romance, estabelecendo esta categoria,

Bakhtin nos auxilia a compreender, também, as formas absolutamente plurilíngües

do poético que, em diversas camadas ou níveis, subsistem e ressurgem ao longo de

uma estória da atividade criadora artística, não prevista pelo próprio Bakhtin. Porque

o conceito, como bem podemos entrever também nas suas considerações em O

autor e o herói na atividade estética (1920-1930), não se limita ao tempo e ao

75 Leixa-prein - Técnica poética muito usada pelos trovadores medievais de encadeamento de

estrofes: em cada estrofe repetem-se, ou os versos da estrofe anterior com ligeira variação das palavras finais (estrofes pares), ou um dos versos da estrofe que precede a anterior (estrofes ímpares).

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espaço, mas é a conjugação de tempo, espaço e posição axiológica de autores e

ouvintes.

Lembremos novamente aqui as considerações sobre a memória do gênero,

em que Bakhtin (1929; 1961-1962) procura captar, traduzir este movimento dinâmico

dos gêneros, de constante renovação e mutabilidade, mas ao mesmo tempo de

conservação e/ou retomada de certos aspectos.

Certas apropriações também podem ser pensadas em termos das próprias

categorias de gêneros primários e secundários, a que Bakhtin também se referia no

romance. Didaticamente, isto pode ser perfeitamente utilizado como pressuposto

para o trabalho com o poético, tentando aproximar-se do conhecimento dos gêneros

primários que os alunos possuem, para a compreensão do poético, como propõe

Bialostosky (1994: 107):

What I most want to insist upon is that Bakhtin´s link between primary and

secondary speech genres assures us that all of our students come to us with

some repertoire of everyday genres they can produce, probably with a larger

repertoire of such genres they can recognize, and that this everyday discursive

knowledge is the basis for learning to produce and read all secondary genres of

artistic, scientific, business, and political communication we are concerned to

teach76

Concordamos que os conhecimentos dos gêneros primários podem colaborar

para a aprendizagem dos gêneros secundários, ainda mais se forem gêneros, como

76 O que mais desejo acentuar é que a ligação que Bakhtin faz entre gêneros primários e secundários

assegura-nos que todos os nossos alunos nos chegam com algum repertório de gêneros cotidianos que eles produzem, provavelmente com um largo repertório de tais gêneros que eles reconhecem e que este conhecimento discursivo cotidiano é a base para aprender a produzir e ler todos os gêneros secundários da comunicação artística, científica, de negócios e política que estamos encarregados de ensinar. (Tradução própria)

114

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vimos alguns exemplos, plurilíngües, que ao incorporem traços formais dos gêneros

da tradição oral, apropriaram-se também das linguagens sociais. Mas há muito mais

a se considerar sobre o capital cultural que o aluno já traz. Páginas atrás, falávamos

de objetos culturais canônicos e não canônicos. Cereja (2004) dedicou sua tese a

analisar a problemática da literatura no Ensino Médio, apresentando uma

interessante proposta dialógica, também pautada nos trabalhos de Bakhtin. Não

obstante, considera premente o conhecimento dos autores canônicos, não somente

nacionais, mas também estrangeiros, pelos nossos alunos brasileiros.

Tomando aqui um nível de ensino diferente, o Ensino Fundamental, e tendo

em vista os gêneros poéticos que estes alunos (re)conhecem – o que lêem, o que

escutam, qual a memória da tradição oral possuem –, não nos é possível pensar

somente em termos de uma seleção de textos e autores canônicos. Acreditamos,

sim, que a formação do leitor literário e do apreciador da arte, que se inicia desde as

primeiras séries, precisa levar em conta o universo cultural dos interessados, mesmo

que não seja o mesmo (e fatalmente não será) do professor ou da academia, que

influencia, direta ou indiretamente, a produção dos manuais didáticos.

Mesmo que não sejam os melhores (mas há bons), porque não considerar os

rap, funk, o hip-hop, ou as canções caipiras, ao pensarmos em canção? Por que

não incluir a poesia marginal e mesmo os traços de um poético cifrado espalhados

nos muros pichados pela cidade? Por que não partir destes gêneros, pensando no

mesmo sentido de Bialostosky, de que os alunos já possuem um repertório?

Isso não significa banalizar ou desvalorizar a antologia, a coletânea dos

manuais didáticos, mas antes poder compor um material textual mais realisticamente

concebido, em que se possa compreender e levar os alunos a compreenderem que,

se há textos singulares e populares, em que e por quais razões eles podem ser

valorizados ou não. A formação do leitor literário pressupõe a sofisticação dos

critérios de apreciação de valor estético e de réplica ativa dos/aos textos lidos, sem

que isto signifique restrição do universo de leituras, pelo contrário.

Interessantemente, o que, nos anos 1970 e 1980 era, para aquela geração

de jovens, uma inovação, a produção musical da MPB e da Tropicália

principalmente, e que foi parar nos livros didáticos, hoje, já parece aos alunos parte

de algo tão ininteligível quanto a própria produção literária dos autores mais

tradicionais. Este é um exemplo daquele movimento de troca de posições entre

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objetos culturais entre as camadas sociais, citado há pouco. Mas a platéia hoje é

outra, embora o espetáculo continue. Expressar em poucas páginas o que vislumbramos sobre os processos

didáticos envolvendo os gêneros poéticos parece quase impossível. Se

pudéssemos, muito grosso modo, representar geometricamente o grupo dos

gêneros poéticos, posicionaríamos tridimensionalmente, nos três eixos, tempo-

espaço-valor, uma forma geométrica em que cada face seria um dos nossos pontos

genéricos: poemas, letra de canção, cordéis, parlendas, trava-línguas, adivinhas,

quadrinhas, cantigas de roda. A aresta de um é também aresta de outro, comungam

dos mesmos vértices, mas ao mesmo tempo, mudam de posição a todo o momento,

na dinâmica própria e constante dos gêneros discursivos.

Pensarmos em termos de aproximação destes gêneros num agrupamento

pode melhor evidenciar as singularidades de cada um, mas também e sobretudo os

aspectos que os caracterizam como enunciados poéticos e, ao mesmo tempo,

anunciar possibilidades de um trabalho intertextual, e interdiscursivo, estrategicamente, com vistas a uma formação mais consistente do leitor literário na

escola brasileira.

Veremos nos próximos capítulos, como tem se realizado a escolarização dos

gêneros poéticos nos livros didáticos de 1ª à 8ª séries.

116

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Capítulo 4 __________________________

Rastreando os dados: os gêneros poéticos nos LDP

Visando discutir a formação do leitor literário com enfoque no ensino-

aprendizagem dos gêneros poéticos, pensamos que seria necessário investigar

um espaço em que estes gêneros estivessem concentrados, inscritos, para um

trabalho pedagógico sobre/com eles. Entendemos que o livro didático constitui o

locus em que os gêneros poéticos se nos apresentariam mais facilmente à

análise, pois ali se encontram aliados a propostas pedagógicas colocadas pelos

autores das obras didáticas, como gêneros escolarizados. Além disso, já

sabemos, é através da escola, via livro didático, que grande parte de nossas

crianças entra em contato com os textos poéticos e, salvo poucos momentos de

brincadeiras nos pátios das escolas, à hora do recreio, o contato com os gêneros

da tradição oral é cada vez menor na cultura das grandes massas urbanas.

Este capítulo objetiva, assim, descrever os caminhos percorridos, no

processo de pesquisa, para a seleção das coleções a serem utilizadas na

obtenção, recorte e análise dos dados.

4.1. Os corpora

Com a finalidade de obter informações que possam melhor descrever o

tratamento dispensado aos gêneros poéticos nos livros didáticos em circulação na

rede pública, buscamos como fonte documental para a pesquisa, os dados oficiais

apresentados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), nas edições de

2002 e 2004, que compreenderam obras destinadas, respectivamente, às 5ª a 8ª

séries e às 1ª a 4ª séries. Estes livros estiveram na rede escolar, no caso do

terceiro e quarto ciclos (5ª a 8ª série), até 2004, e, no caso do primeiro e segundo

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ciclos (1ª a 4ª séries), estarão até 2006, o que confere atualidade aos dados aqui

estudados.

A escolha do Programa Nacional do Livro Didático, doravante PNLD, deve-

se, ainda, ao fato de que este concentra grande número de obras - a edição de

2002, por exemplo, compreende 35 coleções, a de 2004, 42 coleções, o que já

constitui um enorme campo para pesquisa. Mas, além disso, o PNLD, em relação

a Língua Portuguesa, através de sua metodologia de análise das obras, acaba por

produzir dados relevantes para quaisquer pesquisas sobre linguagem e ensino de

língua materna: desde características da produção editorial até concepções

correntes nas obras sobre texto, leitura, produção, conhecimentos lingüísticos,

oralidade, gêneros, enfim, tópicos que são objetos de estudo da academia, sob

diversas óticas.

É numa destas pesquisas que esta investigação se insere: o Projeto

Integrado de Pesquisa O livro didático de Língua Portuguesa no Ensino

Fundamental: Produção, perfil e circulação, subsidiado pelo CNPq e coordenado

pelos professores Dra Roxane Helena Rodrigues Rojo (IEL-UNICAMP), Dr.

Antônio Augusto Gomes Batista (CEALE-UFMG) e Dra Elisabeth Marcuschi

(UFPE). Essa pesquisa analisa dados provenientes das avaliações do Programa

Nacional do Livro Didático, elaborando diversas bases de dados.

Neste trabalho, utilizamos tanto dados e documentos oficiais provenientes

das avaliações do PNLD como os produtos confeccionados pela Pesquisa

Integrada, para a escolha dos livros didáticos que melhor se nos apresentaram

para análise do trabalho de didatização sobre os gêneros poéticos. Assim, uma

análise quantitativa precedeu a análise qualitativa dos corpora, obtidos em três

conjuntos de documentos:

1. Bases de Dados da Pesquisa Integrada relativos aos PNLD 2002 (5a a

8a séries) e 2004 (1a a 4a séries) - sobre o perfil dos LDP;

2. Bases de Textos da Pesquisa Integrada relativos aos PNLD 2002 (5a a

8a séries) e 2004 (1a a 4a séries) - sobre o material textual presente nos

LDP;

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3. Três coleções de 5ª a 8ª séries, avaliadas no PNLD/2002 e quatro

coleções de 1ª a 4ª séries, avaliadas no PNLD/2004.

Para efeitos, ainda, de análise qualitativa, objetivando esboçar um perfil das

coleções selecionadas no tocante à didatização dos gêneros poéticos, utilizamos

um outro conjunto de documentos:

4. Três resenhas retiradas do Guia de Livros Didáticos do PNLD/2002 e

quatro resenhas do Guia de Livros Didáticos do PNLD/2004.

4. 2. As Bases de Dados

As Bases de Dados utilizadas nesta pesquisa são de duas ordens:

1. Bases de Dados, produto oficial da própria avaliação, que fornece

informações sistematizadas, obtidas através das pontuações

recebidas por cada coleção nos diferentes módulos de avaliação

considerados pelo PNLD em relação a Língua Portuguesa. Estes

dados expressam o perfil das coleções, conferindo uma pontuação

geral e pontuações específicas para os diferentes componentes;

2. Bases de Textos, produto da Pesquisa Integrada, que vai reunir

informações sobre as características do material textual presente em

cada coleção, como os textos, os autores, os gêneros dos textos e a

posição de cada texto nos volumes.

A análise das bases nos forneceu alguns índices que permitiram selecionar

quais obras serviriam à análise qualitativa. É importante ressaltar que, apesar de

utilizarmos dados dos PNLD, não foi nosso objetivo, aqui, julgar ou validar o

processo de avaliação, mas sim, usar a riqueza das informações aí reunidas,

como índices. Este procedimento, típico do paradigma indiciário, baseia-se em

Ginzburg (1991) e mostra-nos que, através de dados marginais, reveladores, é

possível ao pesquisador o levantamento de indícios e a formulações de hipóteses

para explicar aspectos da realidade. Aqui, utilizamos os indícios apresentados

inicialmente pelas Bases de Dados e, em seguida, pelas Bases de Textos, para

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formar subconjuntos de coleções que oferecessem maiores possibilidades para a

análise dos gêneros poéticos.

Visando, ainda, o nosso objeto - os gêneros poéticos - foi necessário

constituir, para esta pesquisa, uma terceira base: a Base de Gêneros Poéticos,

que mostra, exclusivamente, a listagem total dos textos em gêneros poéticos em

todas as coleções, oferecendo mais índices para a escolha das coleções que

servirão para a análise qualitativa.

4.2.1. As Bases Gerais de Dados 2002 e 2004: selecionando um primeiro subconjunto de coleções

As Bases de Dados dos PNLD 2002 e 2004 foram construídas a partir das

informações fornecidas pelas Fichas de Avaliação Consolidadas de 35 e 42

coleções avaliadas, respectivamente, em cada uma das duas edições do

Programa. O processo de avaliação leva em conta, para a composição das bases,

os tópicos avaliados, que nas fichas foram agrupados por módulos de avaliação, a

saber: Natureza do material textual, Atividades de leitura e compreensão de textos

escritos, Atividades de produção de textos escritos, Atividades com a oralidade,

Construção do conhecimento lingüístico, Manual do Professor, Aspectos Gráfico-

editoriais. Como cada módulo avaliado (e cada edição do PNLD também) possui

um número diferenciado de rubricas, além de importância diferenciada relativa aos

diversos eixos de ensino de língua materna, atribuíram-se pesos diferentes a cada

um, para equalização e ponderação dos resultados.

Para análise de nosso objeto de estudo - os gêneros poéticos - interessou-

nos o módulo Atividades de leitura e compreensão de textos escritos, por

supormos que a nota final atribuída à coleção para este módulo possa ser um

índice que melhor traduza, no conjunto das rubricas, a suposta qualidade de

tratamento dispensado ao gênero poético. As rubricas deste módulo também

serviram, em parte, como base para pensarmos os agrupamento das atividades

propostas para os gêneros poéticos, como veremos nos capítulos de análise das

coleções. Apresenta-se, para cada edição, a seguinte subdivisão, com suas

respectivas rubricas:

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QUADRO 1 -EXCERTO DO GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS PNLD 2004 (1ª A 4ª SÉRIES)

AS ATIVIDADES DE LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTOS Colaboração para a (re)construção da leitura como uma situação efetiva de interlocução

Sim Não

Recuperação do contexto de produção do texto Definição, para o aluno, das finalidades da atividade de leitura Colaboração para a (re)construção de sentidos do texto pelo aluno

Sim Não

Exploração de estratégias de leitura diversificadas a serem realizadas pelo aluno:

a) ativação de conhecimentos prévios sobre os temas b) antecipação, predição, levantamento de hipóteses c) checagem de hipóteses d) localização e/ou cópia de informações e) comparação de informações f) generalização (conclusões gerais sobre fato, fenômeno, situação, problema etc. após análise de informações pertinentes)

g) produção de inferências Exploração contextualizada do vocabulário Exploração dos recursos lingüísticos, quanto a: a) processos coesivos b) processos estéticos e literários do texto (linguagem conotativa, recriação da realidade, envolvimento dos leitores na leitura dos vazios do texto, jogos de palavra, rimas etc.)

c) dialetos e registros d) tipos de texto e) gêneros Exploração pertinente de intertextualidade: a) no nível temático b) no nível interdiscursivo Correção dos conceitos mobilizados Discussão crítica de posições preconceituosas Indicação de possibilidades de exploração interdisciplinar dos temas Exploração das imagens como elemento constitutivo dos sentidos Formulação das propostas Sim Não Adequação em relação aos objetivos declarados na obra Clareza e correção na formulação dos exercícios Adequação na orientação para a construção dos sentidos do texto Variedade na formulação dos exercícios Presença (ou sugestão para o aluno) de atividades com outros livros e/ou outros suportes de texto

Avaliação Sim Não Presença ou sugestão (no LA e/ou no MP) de procedimentos de avaliação

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QUADRO 2 - EXCERTO DO GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS PNLD 2002 (5ª A 8ª SÉRIES) AS ATIVIDADES DE LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTOS ESCRITOS Colaboração para a (re)construção da leitura como uma situação efetiva de interlocução

Sim Não

(Re)construção da situação de produção/leitura do texto Colaboração para a (re)construção de sentidos pelo aluno Sim Não Exploração de conhecimentos de mundo prévios à leitura Exploração de estratégias de leitura diversificadas (antecipação/ predição; localização e cópia de informação; comparação de informações; generalização de informações; inferências)

Exploração adequada do vocabulário Exploração dos recursos lingüísticos: a) processos coesivos b) processos estilísticos c) processos estéticos d) registros e variedades e) tipos/gêneros de textos Exploração pertinente de intertextualidade Pertinência e uso da ilustração Formulação das propostas Sim Não Clareza e correção dos conceitos mobilizados na atividade Clareza e correção na formulação dos exercícios e na orientação da leitura

Variedade na formulação dos exercícios Progressão na formulação dos exercícios Sim Não Presença de atividades de leitura oral e silenciosa Presença ou sugestão de atividades com outros livros e outros portadores de texto

Incentivo para a leitura de outros materiais Avaliação Sim Não Favorecimento de procedimentos de auto-avaliação

Para cada rubrica, a base fornece, horizontalmente, os valores 1 ou 0,

significando, respectivamente, SIM ou NÃO, totalizados, ao final, por módulo e

para toda a coleção; verticalmente, a base mostra a pontuação no total das

coleções e um percentual de avaliações positivas na rubrica.

Observamos, portanto, para cada edição, quais coleções obtiveram as

melhores avaliações referentes ao módulo Atividades de leitura e compreensão de

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textos escritos, considerando todas as rubricas deste módulo, já que não há

rubricas específicas que façam referência ao trabalho com os textos em gêneros

poéticos. Assim, pudemos separar, de início, algumas coleções num subconjunto

de obras que, potencialmente, tinham realizado um bom trabalho de leitura (do

ponto de vista dos avaliadores), compreendendo que se inclui aí, também, o

trabalho de leitura com os textos em gêneros poéticos. Segue o excerto da Base

Geral de Dados do PNLD/2004, relativo às coleções de 1ª a 4ª séries:

QUADRO 3- EXCERTO DE BASE GERAL DE DADOS / ATIVIDADES DE LEITURA - PNLD 2004 (1ª A 4ª SÉRIES)

SProd Reconstrução dos Sentidos

Formulação Avaliaçã STtal

20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 27 Col Men. a b c d e f g a b c d e a b 20 1 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16,302 RD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,043 RD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18,524 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,815 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,336 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,787 RD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,788 RD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18,529 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11,8510 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,0411 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 6,67 12 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 19,2613 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,5914 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,5915 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,3316 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11,8518 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,8119 EX 1 1 1 1 1 1 1 5,19 20 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,8121 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,3322 RD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,7823 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,7824 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,59

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25 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,5926 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,3327 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15,5628 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18,5229 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 5,93 30 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 8,89 31 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,3332 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,7833 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,0734 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,8135 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18,5236 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16,3037 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,0738 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,0439 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,5940 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,3341 RR 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,3342 REC 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16,3043 EX 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,59

Observemos que a pontuação máxima para o conjunto de rubricas deste

módulo seria de 20 pontos, caso obtivessem um sim (pontuação 1) para todos os

quesitos. Consideraremos as coleções que se aproximaram desta pontuação, com

até 75% de atendimento às rubricas em relação ao trabalho com a leitura, isto é,

com nota igual ou maior a 15 pontos. Entre as coleções de 1ª a 4ª séries, listamos

um total de 17 que obtiveram pontuação igual ou maior a 15, marcadas por nós,

em azul, no excerto da base, na página anterior: COLEÇÃO 12 - com pontuação 19,26 - menção EX

COLEÇÃO 3 - com pontuação 18,52 - menção RD

COLEÇÃO 8 - com pontuação 18,52 - menção RD

COLEÇÃO 28 - com pontuação 18,52 - menção REC

COLEÇÃO 35 - com pontuação 18,52 - menção REC

COLEÇÃO 6 - com pontuação 17,78 - menção REC

COLEÇÃO 7 - com pontuação 17,78 - menção RD

COLEÇÃO 22 - com pontuação 17,78 - menção RD

COLEÇÃO 23 - com pontuação 17,78 - menção RR

COLEÇÃO 32 - com pontuação 17,78 - menção REC

COLEÇÃO 2 - com pontuação 17,04 - menção RD

COLEÇÃO 10 - com pontuação 17,04 - menção REC

COLEÇÃO 38 - com pontuação 17,04 - menção RR

COLEÇÃO 1 - com pontuação 16,30 - menção REC

COLEÇÃO 36 - com pontuação 16,30 - menção REC

COLEÇÃO 42 - com pontuação 16,30 - menção REC

COLEÇÃO 27 - com pontuação 15,79 - menção EX

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Vejamos, a seguir, também num excerto, o que ocorre na Base Geral de

Dados de 2002, em relação às coleções de 5ª a 8ª séries:

QUADRO 4 - EXCERTO DE BASE GERAL DE DADOS / ATIVIDADES DE LEITURA - PNLD 2002 (5ª A 8ª SÉRIES)

SP Reconstr de Sentidos Formulação Av STtal 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 20,00COL a b c d e 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12,632 1 1 1 1 1 1 6,32 3 1 1 1 1 1 1 1 7,37 4 1 1 1 3,16 5 0,5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10,006 1 1 1 1 4,21 7 1 1 1 1 1 1 1 7,37 8 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,899 1 1 1 1 1 1 1 1 8,42 10 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10,5311 1 1 1 1 1 1 1 1 8,42 12 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10,5313 1 1 1 1 1 5,26 14 0,00 15 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0,5 19,4716 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,8917 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0,5 0,5 10,5318 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13,6819 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15,7920 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10,5321 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17,8922 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18,9523 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,7424 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11,5825 1 1 1 1 1 1 1 1 8,42 26 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9,47 27 0,5 1 1 1 0,5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15,7928 1 1 1 1 1 1 1 7,37 29 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16,8430 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9,47 31 1 1 1 1 1 5,26 32 1 1 1 3,16 33 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11,5834 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18,9535 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14,7436 37 1 1 1 1 4,21 TTAL: 36 14 26 23 21 11,5 22 18 10 23 21 21 27 25 20 12 22 25,5 25,5 1,5 13,80%: 100%

38,9 72,2 63,9 58,3 31,9 61,1 50,0 27,8 63,9 58,3 58,3 75,0 69,4 55,6 33,3 61,1 70,8 70,8 4,2 53,95

Neste excerto de base, pudemos verificar que nove coleções da edição do

PNLD/2002 (5ª a 8ª séries) apresentam pontuação igual ou maior que 15 pontos,

marcadas por nós em amarelo, a saber:

COLEÇÃO 8 - com pontuação 17,89 - menção RR;

COLEÇÃO 15 - com pontuação 19,47 - menção REC;

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COLEÇÃO 16 - com pontuação 17,89 - menção REC;

COLEÇÃO 19 - com pontuação 15,79 - menção REC;

COLEÇÃO 21 - com pontuação 17,89 - menção REC;

COLEÇÃO 22 - com pontuação 18,95 - menção REC;

COLEÇÃO 27 - com pontuação 15,79 - menção REC;

COLEÇÃO 29 - com pontuação 16,84 - menção REC e

COLEÇÃO 34 - com pontuação 18,95 - menção REC.

Este é o primeiro subconjunto de coleções que foi considerado para análise

detalhada dos dados quantitativos e qualitativos nesta pesquisa, formado através

das informações fornecidas pela Base Geral de Dados. Em suma, temos que, na

edição do PNLD/2004 (1ª a 4ª séries) obtivemos 17 coleções e na edição do

PNLD/2002, obtivemos 9 coleções, a partir da pontuação atribuída ao módulo

referente às atividades de leitura, formando nosso primeiro subconjunto.

Frisamos, mais uma vez, que este método é indiciário, ou seja, o critério de

se observar coleções com melhores avaliações no módulo relativo às atividades

de leitura e compreensão de textos escritos não garante que as coleções deste

subconjunto vão efetivamente realizar um trabalho satisfatório em relação aos

gêneros poéticos, da mesma forma que não exclui tal possibilidade. Estamos no

terreno das probabilidades. Assim, somente uma análise de fôlego e

particularizada, em cada caso, poderá caracterizar a proposta de escolarização

para os textos em gêneros poéticos.

Vejamos, agora, um outro subconjunto que pode ser considerado, formado

a partir dos dados quantitativos dos textos em gêneros poéticos encontrados nas

coleções. A Base de Gêneros Poéticos, organizada a partir da Base de Textos é

que pode nos fornecer as informações. Vejamos, primeiramente, do que tratam

estas Bases.

4.2.2. As Bases de Textos

As Bases de Textos, como já colocamos, foram compostas pelas listas dos

textos presentes nas coleções avaliadas, a partir de uma tabela preenchida

também na ficha de avaliação, pelos avaliadores. Assim, as Bases trazem

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informações série a série sobre o título dos textos, a posição do texto na unidade

ou capítulo (texto principal da unidade, complementar ou suplementar), a autoria,

o suporte, o gênero e a página em que se encontra o texto no LDP, conforme se

pode observar no fragmento, a seguir:

QUADRO 5 - EXCERTO DE BASE DE TEXTOS - PNLD/2002 (5 ª A 8ª SÉRIES) Coleção 17 F810185_17 Genival, 13, corta 1,2

t de cana por dia P Fabio Guibu informativo 131,

132 Coleção 17 F810185_17 s/ título P Maria Amalia

Bernardi informativo 133

Coleção 17 F810185_17 A mão da limpeza C Gilberto Gil Letra de Canção 134 Coleção 17 F810185_17 Água forte C Manuel

Bandeira Poema 135

Coleção 17 F810185_17 Sim/Não C Caetano Veloso Letra de Canção 135 Coleção 17 F810185_17 Motivo C Cecília Meireles Poema 135 Coleção 17 F810185_17 s/ título C Luís de

Camões Poema 136

Coleção 17 F810185_17 Mafalda C Quino tira 138 Coleção 17 F810185_17 Hagar C Dik Browne tira 140 Coleção 17 F810185_17 Ideologia C Frejat e Cazuza Letra de Canção 141

Pudemos, assim, ter informações mais detalhadas referentes aos gêneros

presentes nestas coleções, o que nos possibilitou ainda a quantificação dos

gêneros poéticos que visávamos e sua localização, para posterior análise

qualitativa. Isso deu origem às Bases de Gêneros Poéticos referentes às coleções

avaliadas em 2002 (5ª a 8ª séries) e 2004 (1ª a 4ª séries).

4.2.3. As Bases de Gêneros Poéticos A partir da Base de Textos, compusemos o que denominamos Bases de

Gêneros Poéticos de 2002 e 2004, listando os gêneros objetos deste estudo - os

poemas, as letras de canção e os gêneros da tradição oral -, por série e coleção.

A contagem dos textos em gêneros poéticos em todas as coleções deu origem a

uma totalização por coleção e esta, a uma tabela geral das coleções, contendo o

número de textos em todos os gêneros encontrados em cada volume de cada

coleção (denominaremos total de textos) e o total dos textos em gêneros poéticos

por volume e coleção (doravante, total GP). Vejamos um exemplo de uma

totalização de uma coleção de 5ª a 8ª séries:

PNLD Série Tradição Oral Poema Letra de Total Total

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2002 canção GP Textos Coleção 24

5ª 0 33 5 38 123

6ª 4 76 4 84 157 7ª 0 35 10 45 106 8ª 1 21 10 31 102 Coleção 4 165 29 198 488

Tabela 1 - Exemplo de totalização de dados por coleção - PNLD 2002 (5ª a 8ª séries)

Efetuadas as totalizações por coleção, uma nova tabela foi criada, para

visualização da incidência dos gêneros poéticos para todas as 35 coleções de 5ª a

8ª séries e as 42 coleções de 1ª a 4ª séries. Estas tabelas nos permitiram ter uma

visão geral da presença dos gêneros poéticos na produção editorial de livros

didáticos destinados aos alunos do Ensino Fundamental. Verificamos, por

exemplo, que nos dois níveis de escolaridade, o número de textos de gêneros

poéticos se equilibrava e que a variação estaria em relação à letra de canção e

aos gêneros da tradição oral. Observemos, nas próximas seções, separadamente,

os números para as coleções de 1ª a 4ª séries (PNLD/2004) e para as coleções de

5ª a 8ª séries (PNLD/2002):

4.3. Dados gerais obtidos na análise quantitativa 4.3.1 Coleções de 1ª a 4ª séries: PNLD/2004

Vejamos a Tabela geral das coleções de 1ª a 4ª séries (PNLD/2004): TABELA 2: QUADRO GERAL DAS COLEÇÕES DE 1ª A 4ª SÉRIES - PNLD 2004

Coleção Tradição Oral

Poema Letra de Canção

Total GP Total Textos

%

1 01 32 13 46 243 18,93 2 02 23 04 29 224 12,50 3 05 17 06 28 266 10,52 4 12 57 15 84 314 26,75 5 05 29 08 42 141 29,78 6 04 41 08 53 247 21,45 7 05 19 01 25 184 13,58 8 02 28 00 30 196 15,30 9 02 28 01 31 121 25,61 10 04 17 04 25 125 20,00 11 10 49 01 60 211 28,43 12 05 28 04 37 168 22,02 13 03 34 06 43 176 24,43 14 43 57 05 105 461 22,77 15 18 42 03 63 349 18,05 16 08 77 08 93 309 30,09 18 20 51 01 72 593 12,14

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19 04 64 01 69 238 28,99 20 03 25 01 29 267 10,86 21 10 38 08 56 341 16,42 22 17 47 02 66 361 18,28 23 03 31 03 37 150 24,66 24 08 34 21 63 280 22,50 25 17 35 08 60 265 22,64 26 25 58 11 94 404 23,26 27 07 13 07 27 118 22,88 28 17 46 01 64 255 25,09 29 15 39 12 66 274 24,08 30 52 28 00 80 297 26,93 31 02 45 08 55 280 19,64 32 04 17 01 22 136 16,17 33 08 48 03 59 176 33,52

Coleção Tradição

Oral Poema Letra de

Canção Total GP Total

Textos %

34 11 48 03 62 498 12,44 35 02 08 01 11 124 8,87 36 10 18 05 33 231 14,28 37 04 38 06 48 402 11,73 38 00 23 07 30 196 15,30 39 07 29 07 43 237 18,14 40 13 76 15 104 330 31,51 41 10 33 10 53 208 25,48 42 05 16 00 21 186 11,29 43 07 70 09 86 276 31,15 Total 410 1556 238 2204 10858 20,29

Verificamos que a proporção entre os textos da tradição literária e o total de

textos é de 20%: de um total de 10.858 textos, temos que 2.204 são textos em

gêneros poéticos, conforme sintetiza o Gráfico 1 abaixo:

Gêneros Poéticos -Coleções 1ª a 4ª séries

80%

20%

Total deTextos

Total deTexto em GP

Gráfico 1 - Relação entre textos em gêneros poéticos e total de textos - 1ª a 4ª

séries

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Já em relação à distribuição entre poemas, letras de canção e tradição oral,

há permanência do número maior de poemas, 1556 (70,5% dos gêneros

poéticos), para um total de 238 letras de canção (10,8%) e 410 gêneros da

tradição oral (18,7%), conforme podemos observar no Gráfico 2, a seguir:

Gêneros Poéticos 2004 - Distribuição

70,50%

18,70%

10,80%

Poemas Tradição Oral Letras de canção

Gráfico 2 - Distribuição dos gêneros poéticos - PNLD 2004

as

tras de canção. Vejamos o que acontece com as coleções de 5ª a 8ª séries.

4.3.2.

TABELA ADRO GERAL DAS COLEÇÕES DE 5ª A 8ª SÉRIES - PNLD 2002 leção adição

al ma tra de

nção l GP l Textos

Note-se que, nas séries iniciais, a tradição oral é mais valorizada que

le

Coleções de 5ª a 8ª séries: PNLD/2002

3: QUCo Tr

OrPoe Le

caTota Tota %

1 1 21 7 29 234 12,39 2 0 10 1 11 120 9,16 3 0 25 7 32 168 19,04 4 0 17 0 17 124 13,70 5 3 20 9 32 222 14,41 6 1 42 19 62 140 44,28 7 4 66 8 78 264 29,54 8 1 37 15 53 252 21,03 9 0 19 7 26 152 17,10 10 0 25 12 37 201 18,40 11 1 20 14 35 163 21,47 12 2 49 23 74 250 29,60 13 0 46 7 53 169 31,36 14 0 39 5 44 222 19,81 15 2 24 20 46 339 13,56

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16 0 22 14 36 208 17,30 17 3 58 32 93 407 22,85 18 0 43 25 68 261 26,05 19 2 44 20 66 333 19,81 20 0 29 15 44 192 22,91 21 7 53 34 94 563 16,69 22 1 144 14 159 676 23,52 23 0 125 51 176 646 27,2424 4 165 29 198 488 40,57 25 1 31 9 41 427 9,60 26 0 21 9 30 170 17,64 27 2 29 8 39 137 28,46 28 5 56 13 74 270 27,40 29 1 26 0 27 133 20,30 30 1 10 8 19 119 15,96 31 0 45 7 52 261 19,92 32 0 42 13 55 271 20,29 33 0 54 1 55 330 16,66 34 1 50 15 66 337 19,58 35 2 28 1 31 298 10,40 Total 45 1535 473 2054 9547 21,52

ante à das coleções de 1ª a 4ª séries,

conforme sintetiza o Gráfico 3, abaixo:

Temos, em linhas gerais, para as coleções avaliadas em 2002, que, dos

9547 textos das 35 coleções, 2054 são textos em gêneros poéticos, ou seja,

21,52% do total, porcentagem semelh

Gêneros Poéticos Coleções 5ª a 8ª séries

78%

22%

Total deTextos

Total deTexto em GP

Gráfico 3 - Relação entre textos em gêneros poéticos e total de textos - 5ª a 8ª séries

gêneros da tradição oral, como podemos visualizar no

Os números também reafirmam que o lugar da tradição literária permanece

preservado nos materiais didáticos que circulam na rede escolar de 5ª a 8ª séries,

pois do total dos gêneros poéticos, 74,76% são poemas, 23,03% são letras de

canção e 2,19% são

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Gráfico 4, a seguir:

G êneros Po éticos C o leções d e 5ª a 8 ª séries - D is tribu ição

74,76%

23,03%2,19%

P oem asLetras de C ançãoT rad ição O ra l

Gráfico 4 - Distribuição dos gêneros poéticos - 5ª a 8ª séries - PNLD 2002

em relação à incidência dos

êneros poéticos entre as coleções dos dois níveis:

Vejamos o Gráfico 5, que compara os dados

g

0

500

1000

1500

2000

1ª a 4ª 5ª a 8ª

Dados Comparativos - 1ª a 4ª/ 5ª a 8ª

Tradição OralPoemaLetra de Canção

Gráfico 5 - Incidência dos gêneros poéticos -1ª a 4ª e 5ª a 8ª séries

A tendência do material textual nos livros didáticos é marcar a presença da

literatura em seus cânones mais tradicionais ou em formação. O que podemos

depreender neste gráfico comparativo entre as duas edições - destinadas às 1ª a

4ª séries (2004) e às 5ª a 8ª séries (2002) - é que os autores de livros didáticos

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para as séries iniciais - 1ª à 4 séries -, ao selecionarem gêneros poéticos que

“fujam” à tradição, darão preferência à tradição oral. Já na edição de 2002, nas

séries mais avançadas do Ensino Fundamental, a tradição oral é, digamos,

“subst

os manuais, pela utilização complementar ou

suplementar destes gêneros.

.3.3. Compondo um segundo subconjunto de coleções

amenta computacional Classificar,

no pro

m os dados da tabela geral das coleções de 1ª a 4ª séries do

PNLD 2004 foram:

luna de poemas:

ituída” pelas letras de canção.

Interpretamos, além disso, pelos números, que, por um lado, a produção

dos didáticos obedece ao imaginário da necessidade ou do “direito à literatura”,

mesmo que infantil ou infanto-juvenil. Por outro, entre os gêneros poéticos

“menores”, o imaginário pode ser guiado não pela necessidade de conhecimento

ou aprendizagem destes gêneros, mas pelo apelo à diversidade de textos e

gêneros, que se traduz, n

4

Optamos por selecionar, para este segundo subconjunto, as coleções em

que os números obedeceriam tanto à tradição literária quanto à tradição não

literária, o que parece ilustrar, ainda, apesar do desequilíbrio na quantidade dos

gêneros, a necessidade e a possibilidade de um trabalho em direção ao novo, sem

esquecer a tradição. Para tanto, utilizamos a ferr

grama Excel, nas tabelas apresentadas.

A classificação descendente foi feita, primeiramente, considerando a coluna

de poemas, em seguida, fizemos simulações considerando a colunas de tradição

oral e letras de canção. Consideramos as três primeiras posições com maior

incidência. Os resultados obtidos, utilizando a ferramenta de classificação do

programa Excel, co

1)Pela co

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Coleção adição l

mas tras de ção

TrOra

Poe Lecan

16 8 77 8 40 13 76 15 43 7 0 9 7

Tabela 4 - Ferramenta Classificar - Excel (Poemas - 2004)

2)Pela coluna da tradição oral:

eção dição l

mas tras de nção

Col TraOra

Poe Leca

30 52 28 0 14 43 57 5 26 25 58 11

Tabela 5 - Ferramenta Classificar - Excel (Tradição Oral -2004)

3)Pela coluna das letras de canção:

eção adição l

mas as de ção

Col TrOra

Poe Letrcan

24 8 34 21 40 13 76 15 4 12 57 15

Tabela 6 - Ferramenta Classificar - Excel (Letras de canção -2004)

do pelas coleções 4 (RR),

14 (RR

leções de 5ª a 8ª séries (PNLD 2002), foram:

eção adição al

a a de ção

Assim, os dados da quantidade de textos em gêneros poéticos, nas

coleções de 2004, apontam para um subconjunto forma

), 16 (EX), 24 (EX), 26 (RR), 40 (RR) e 43 (EX).

Os dados obtidos para as co

1) Pela coluna de poemas:

Col TrOr

Poem Letrcan

24 4 165 29 22 1 144 14 23 0 125 51

Tabela 7 - Ferramenta Classificar - Excel (Poemas - 2002)

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luna da tradição oral:

eção ção al

ma ção

2) Pela co

Col TradiOr

Poe Letra decan

21 7 53 34 28 5 56 13 24 4 165 29

Tabela 8 - Ferramenta Classificar - Excel (Tradição Oral -2002)

3) Pela coluna das letras de canção:

eção ção al

a ção

Col Tradi PoemOr

Letra decan

23 0 125 51 21 7 53 34 17 3 58 32

Tabela 9 - Ferramenta Classificar - Excel (Letras de canção -2002)

possíveis coleções de

5ª a 8ª séries a serem consideradas para a nossa análise.

4.4. R

s ter um leque maior de escolha, facilitando o

acesso

Em suma, temos que as coleções 17 (RR), 21 (REC), 22 (REC), 23 (RR),

24 (RR) e 28 (EX) são as que mais apresentam textos em gêneros poéticos,

formando assim o segundo subconjunto - mais restrito - de

eunindo subconjuntos: possibilidades

Como pudemos notar, o universo de coleções possíveis para análise nas

duas edições, ainda assim, não é muito restrito. Preferimos formar estes

subconjuntos para que pudéssemo

fundamentado ao material.

O conjunto final vai indicar, então, as coleções que ao mesmo tempo

realizam, segundo a avaliação, um bom trabalho com as atividades de leitura, por

um lado - um critério qualitativo - e, por outro, as coleções em que há maior

incidência dos gêneros poéticos, nos subagrupamentos poema, letra de canção e

gêneros da tradição oral, considerados nesta pesquisa, conforme já exposto no

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capítulo anterior - um critério mais quantitativo. Por fim, retiramos ainda as

coleções excluídas da avaliação (menção EX), por entendermos que, apesar de

serem propostas pedagógicas colocadas pelo mercado editorial, não são coleções

compradas pelo MEC, portanto não estarão nas salas de aula das escolas

públicas brasileiras. Nossa análise vai privilegiar, assim, as coleções que,

potencialmente, estão servindo de material didático para o ensino-aprendizagem

as

corrências, sendo que o resultado pode ser expresso nos quadros, a seguir:

De 1ª a 4ª séries, as coleções: o

da língua materna.

Reunindo os subconjuntos nas edições do Programa, temos algum

re

Col Nome Autor(es) Editora Mençã1 ALP Novo Marco Antônio de A. Hailer &

Fernandes Cócco Maria FTD REC

2 Vitória Régia - Língua Portuguesa

Solange G. Dittrich da Silva IBEP RD

3 Construindo a Escrita Gramática e Ortografia

- Textos, Carmem Silvia C. T. Carvalho, Maria da Graça B. Baraldi et. ali

Ática RD

4 Costa Passos Zeneide A. Nacional RR Eu gosto - Prática de Linguagem Escrita e Oral - Língua Portuguesa

Célia Maria I. da Silva

6 Letra, Palavra e Texto - Portuguesa

Língua Mércia Maria Silva Procópio, Jane Maria Araújo Passos et ali

Scipione REC

7 Português na Ponta do Lápis...e da Língua

Rita de Cássia E. Bragade Magalhães

Márcia A. F. Dimensão

RD

8 Português- uma propo Letramento

osta para Magda Becker Soares Moderna RD

10 Língua Portuguesa Vera Lucia Simoncello Amalia O. de S. Almeida

Ediouro REC

14 Novo Tempo Maria Helena Correa Bernadete S.Pontarolli

N. ne Scipio RR

22 Linguagem e Vivência Tania Amaral Oliveira AntonioSiqueira e Silva Rafael Bertolin

de IBEP RD

23 Montagem e Desmontagem deTextos - Língua Portuguesa

Hermínio Geraldo Sargentim IBEP RR

26 Arte & Manhas da Linguagem Sonia A. Gladis Medeiros Elisiani Vitória Tiepolo

Nova Didática

RR

28 Curumim - Língua Portuguesa Fátima C. de Oliveira Luiz Puntel Saraiva REC 32 Leitura, Interação e P

Trabalhando com Projetos rodução -

z Marcia Maria da Silva Prioli Eloisa Bombonatti Gianini Mara Sílvia Avile

Editora do Brasil

REC

35 Língua Portuguesa Elody Nunes Moraes Graça Branco Luzia Fonseca Marinho

Moderna REC

36 Linhas e Entrelinhas Maria Otília Leite Wandresen Lúcia Helena Ribeiro Cipriano

Nova Didática

REC

38 Pensar e Viver - Língua Portuguesa

Claudia Regina S. de Miranda MLuiza D. Rodrigues

aria Ática RR

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40 Vivência e Construção _ S. de Miranda a V.

rigues

Ática RR Língua Portuguesa

Cláudia ReginaAngélica de S. C. Lopes Vera LúciM. Rod

42 Com Texto e TraGlória

Expressão

REC ma Maria Mello Garcia Dília Maria A.

Quadro 6 - Coleções para análise - 1ª a 4ª séries

De 5ª a 8ª séries, as coleções: Col. Editora Menção

Nome Autor(es) 8 Português: Leitura e

Expressão a RR Cristina Mantovani Bassi & Márcia

das Dores Leite Saraiv

15 Linguagem Nova Carlos Emílio Faraco e Francisco Marto de Moura

Ática REC

16 ALP Marco Antônio de A. Hailer & Maria Fernandes Cocco

FTD REC

17 Português: Palavra Aberta bral Saraiva RR Isabel Cristina Martelli Ca19 Linguagem e Interação M. Elisiane Vitória Tiepolo, Reny

G. Guindaste Módulo REC

21 Linguagem: Criação e Interação

uia

Cássia L. Garcia de Sousa &Márcia A. P. Cavéq

Saraiva REC

22 Português: Linguagens ja

Theresa A, C, Magalhães & William R. Cere

Saraiva REC

23 Lendo e Interferindo Anna F. C. Teixeira da Silva, ArC. dos S

acy antos

Moderna RR

24 Encontro e Reencontro - Reflexão e Ação

rna RR Janice J. P. Coforado, Marilda Prates

Mode

27 Olhe a Língua! - Língua Portuguesa

& Ana Luiza Marcondes GarciaMaria Betânia Amoroso

FTD REC

29 Leitura do Mundo Norma Discini

Brasil

Lúcia Teixeira de Siqueira e Oliveira &

Ed. Do REC

34 Tecendo TexBertolin

IBEP REC tos Antônio de Siqueira e Silva, Rafael

Quadro 7 - Coleções para análise - 5ª a 8ª séries

ogia de análise dos dados

4.5 - Metodol

Verificamos, assim, que o conjunto de procedimentos utilizados não foi

suficiente para escolher um número de coleções possível de ser analisado no

tempo e espaço restritos deste trabalho. Mesmo com os critérios adotados, ainda

restaram 12 coleções de 5ª a 8ª séries e 19 coleções de 1ª a 4ª séries. Decidimos,

portanto, dentro do limite deste conjunto final de coleções obtido, proceder a uma

escolha mais aleatória e tivemos acesso, então, a 4 coleções de 1ª a 4ª séries e 3

coleções de 5ª a 8ª séries. Optamos por mais uma coleção de 1ª a 4ª série pelo

fato destas apresentarem, na maioria, menor número de textos em gêneros

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poéticos do que as coleções de 5ª a 8ª séries, como poderemos comprovar pelos

dados de nossa análise quantitativa, no capítulo seguinte deste trabalho. Assim,

as coleções escolhidas para análise foram:

oleções de 1ª a 4ª séries:

arvalho, Maria da Graça B. Baraldi et. Ali, Editora Ática,

io, Jane Maria Araújo Passos et ali, Editora Scipione, menção

• E. Braga

• Medeiros e Elisiani

Vitória Tiepolo, Editora Nova Didática, menção RR.

oleções de 5ª a 8ª séries:

1 xeira da Silva e Aracy C. dos

2 anice J. P. Coforado e

3 Siqueira e Oliveira e Norma

Discini, Editora do Brasil, menção REC.

C

Construindo a Escrita - Textos, Gramática e Ortografia; de Carmem

Silvia C. T. C

menção RD;

Letra, Palavra e Texto - Língua Portuguesa; de Mércia Maria Silva

Procóp

REC;

Português na Ponta do Lápis ...e da Língua, de Rita de Cássia

e Márcia A. F. de Magalhães, Editora Dimensão, menção RD;

Arte & Manhas da Linguagem, de Sonia A. Gladis

C

Lendo e Interferindo, de Anna F. C. Tei

Santos, Editora Moderna, menção RR;

Encontro e Reencontro - Reflexão e Ação, de J

Marilda Prates, Editora Moderna, Menção RR;

Leitura do Mundo, de Lúcia Teixeira de

Primeiramente, realizaremos uma análise quantitativa dos dados referentes

aos gêneros poéticos, respondendo às questões sobre incidência, texto e autoria,

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no próximo capítulo. Para tanto, buscaremos ainda as informações que a Base de

Gêneros Poéticos traz de cada coleção, bem como o comentário das resenhas

presen

são dos diferentes modos de abordagem dos textos em gêneros

poétic

o manual didático e o discurso autoral que revela as

nuanç

er a concepção de leitor literário que o

livro didático apresenta e pretende formar.

tes nos Guias do Livro Didático de cada edição do PNLD (2002 e 2004).

No capítulo final, procuraremos realizar uma análise qualitativa das

atividades propostas pelas coleções, detendo-nos em alguns exemplos e

procurando sempre permear, entre as considerações, os conceitos bakhtinianos

trabalhados nos capítulos teóricos desta tese. Optamos por uma análise por

coleção, procurando esboçar o perfil de cada uma, a partir da tentativa de

compreen

os.

Levando em consideração a concepção do livro didático como gênero do

discurso, conforme foi discutido no terceiro capítulo deste trabalho, colocaremos

como guia da análise a questão autoral que aprecia valorativamente os

enunciados que incorpora n

as dessa apreciação.

Assim, buscaremos compreender as propostas de escolarização dos

nossos objetos - os textos em gêneros poéticos - através dos diferentes modos de

abordagem dos textos em gêneros poéticos pelas coleções analisadas.

Esperamos, através disso, poder depreend

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Capítulo 5 __________________________

O perfil das coleções: incidência, autoria e posição dos textos em gêneros poéticos

Este capítulo apresenta uma descrição de quatro coleções de 1ª a 4ª séries

e três coleções de 5ª a 8ª séries de livros didáticos de Língua Portuguesa

selecionadas de acordo com os critérios expostos em nossa metodologia, no

capítulo anterior.

Apresentaremos as características gerais dessas coleções, focando os

aspectos relativos à incidência dos textos em gêneros poéticos, o privilégio dado a

determinados gêneros, textos e autores, configurando uma análise de cunho

quantitativo, que compreende números que julgamos os mais significativos para

iluminar as escolhas efetuadas pelos autores.

Pensamos, assim, poder esboçar o perfil desses livros didáticos, buscando

compreender e interpretar os dados quantitativos como índices da orientação

apreciativa dos autores em relação aos enunciados poéticos.

5.1. Características das coleções em relação aos textos literários: o que dizem as resenhas

Tomamos, como apresentação inicial, as resenhas dos Guias dos Livros

Didáticos das coleções selecionadas, tanto de 1ª a 4ª séries quanto de 5ª a 8ª,

com o intuito de procurar informações que pudessem expressar o tratamento

dessas obras em relação ao texto literário e, mais especificamente, aos textos em

gêneros poéticos. Preferimos obter esta visão geral antes de apresentarmos os

dados quantitativos, levantando algumas hipóteses a serem confirmadas ou não

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com os dados numéricos e com a análise qualitativa no capítulo subseqüente.

5.1.1. Excerto de resenhas das coleções de 1ª a 4ª séries: A partir do quadro apresentado das possíveis coleções para análise,

tivemos acesso a 4 coleções de 1ª a 4ª séries (16 livros) as quais, pela grande

quantidade de textos em gêneros poéticos e/ou por um bom trabalho realizado nas

atividades de leitura, podem nos apresentar uma pequena amostra de como estão

sendo escolarizados os enunciados poéticos nos manuais didáticos e que leitor

literário se pretende formar na escola pública brasileira.

Trata-se das coleções Construindo a Escrita - Textos, Gramática e

Ortografia; Letra, Palavra e Texto - Língua Portuguesa; Português na Ponta do

Lápis ...e da Língua e Arte & Manhas da Linguagem. Utilizaremos, doravante, para

nos referirmos a estas coleções, respectivamente, as siglas CE, LPT, PPLL e

AML. As coleções CE e PPLL obtiveram a menção RD (Recomendada com

Distinção), no processo de avaliação do PNLD/2004. A coleção LPT recebeu a

menção REC (Recomendada) e a coleção AML recebeu a menção RR

(Recomendada com Ressalva).

Para conhecermos melhor as coleções que serão analisadas, vejamos, em

primeiro lugar, nas resenhas do Guia do Livro Didático PNLD/2004, os trechos que

se referem, precisamente, à seleção do material textual e às atividades de leitura e

compreensão de textos. A descrição das coleções, trazida pelas resenhas do

Guia, pode servir como um indício do trabalho realizado com o texto literário e, por

extensão, com gêneros poéticos, nas diferentes propostas pedagógicas. A análise

posterior poderá corroborar ou não estas descrições:

Coleção CE A seleção do material textual é rica e diversificada, contribuindo para o conhecimento e reconhecimento dos alunos acerca dos diferentes tipos e gêneros textuais que circulam na sociedade. A coleção trabalha com dois grandes blocos de textos: literários e os não-literários, centralizando a análise na estrutura da prosa narrativa (histórias de ficção, lendas, contos, crônicas e narrativas curtas), opondo-a a outras estruturas textuais (poemas, receitas, notícias, cantigas de roda, textos científicos,

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informativos). As estratégias de leitura e compreensão de textos são diversificadas e contextualizadas, havendo atividades de leitura aptas a desenvolver no aluno as capacidades de fazer inferências, relacionar, comparar e generalizar informações, aplicar seus conhecimentos prévios na produção do sentido do texto, o que contribui para a formação do leitor competente. (Brasil/MEC, 2003: 168-169, ênfase adicionada)

Coleção LPT O material textual da coleção é vasto, diversificado, de boa qualidade e organizado segundo a temática, de modo a permitir ao aluno interagir com diferentes abordagens do mesmo tema. Há grande variedade de gêneros e tipos textuais: poemas, reportagens, placas de sinalização de trânsito, catálogo de produtos, biografias, letras de música, quadrinhos, verbetes, textos informativos e de divulgação científica, lendas, contos, propagandas, resenhas. Autores consagrados da literatura nacional e internacional estão presentes: Pedro Bandeira; Mary e Eliardo França; Roseana Murray; Ziraldo; Mário Quintana; Vinícius de Moraes; Augusto dos Anjos; Murilo Mendes; Cassiano Ricardo; Carlos Drummond de Andrade; Manuel Bandeira; Cecília Meireles; Castro Alves, Fernando Pessoa; Camões; Daniel Defoe. (...) As atividades de leitura e compreensão de textos escritos são bem elaboradas e aptas a contribuir para a formação do aluno como leitor. As propostas requerem procedimentos de localização de informação, básicos para a compreensão linear, mas incluem também questões que levam à compreensão global, à produção de inferências, à comparação de informações, e, além disso, lidam com o envolvimento emotivo e estético da criança com textos literários e reproduções de obras de arte. As possibilidades de contribuição para a formação de crianças leitoras ampliam-se, na coleção, pela presença de sugestões de leituras complementares, em todos os volumes. (Brasil/MEC, 2003: 204, ênfase adicionada)

Coleção PPLL O material textual é de qualidade, oferecendo exemplares de gêneros diversificados e contemplando diversos contextos sociais de uso. Há textos de autores representativos no quadro da literatura nacional e internacional, como Julieta de Godoy Ladeira, Elias José, Vinícius de Moraes, Sérgio Caparelli, Clarice Lispector, Thiago de Mello, José Paulo Paes, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Ariano Suassuna, Lourenço Diaféria, Ferreira Gullar, Ana Miranda (adaptação de conto de Franz Kafka, com tradução de Jorge Luís Borges), Lia Zatz, Roseana Murray, Ângelo Machado, Antoine de Saint-Exupéry, Emily Dickinson. Também estão presentes obras da literatura de cordel e poetas populares renomados, como Patativa do Assaré, além de tentativas interessantes de conquistar o interesse das crianças para o universo literário, com a apresentação da biografia de alguns autores e uma entrevista com Manuelzão, personagem que inspirou a produção de João Guimarães Rosa. As atividades de leitura promovem o desenvolvimento de habilidades necessárias a um leitor competente, incluindo a localização e comparação de informações, a formulação e checagem de hipóteses interpretativas, a produção de inferências e de generalizações, e também favorecendo o estabelecimento de relações intertextuais. (...) A seção Para ouvir e pensar orienta como fazer a leitura expressiva do texto longo para os alunos e propõe a realização de comentários e discussões com a finalidade de promover o entendimento do vocabulário, ativar algumas estratégias de leitura, ou, ainda, observar a estrutura e os recursos estilísticos do texto. (Brasil/MEC, 2003: 175, ênfase adicionada)

Coleção AML Em todos os volumes da coleção existe uma boa seleção de textos, embora estes sejam, quase sempre, curtos. Há uma grande diversidade de gêneros e tipos textuais. Pode-se observar, tanto nos textos principais quanto nos complementares, a existência desta diversidade: poemas, letras de canção, contos, fábulas, textos dramáticos, parlendas, travalínguas, cantigas de roda, história em quadrinhos, charges, textos informativos e instrucionais, além

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dos não-verbais. Há uma distribuição adequada destes diversos textos em cada volume e na coleção. No primeiro volume, destinado às crianças em processo de alfabetização, há uma predominância dos poemas. No terceiro volume, predominam os textos de caráter científico/informativo, extraídos de revistas de divulgação científica específicas para crianças. Os textos selecionados, em toda a coleção, circulam em diferentes contextos sociais: imprensa, literatura, ciência. São extraídos de bons livros literários, periódicos de qualidade e circulação ampla, revistas em quadrinhos de conhecidos autores de histórias infantis. Entretanto, esta mesma diversidade citada em relação ao gênero, ao tipo e ao contexto de circulação não se observa em relação às variedades regionais e sociais da língua. A grande maioria dos textos está escrita em dialeto padrão e usa o registro formal. Os exemplos em contrário são poucos, o que torna a abordagem deste aspecto pouco consistente em toda a coleção. As atividades de leitura e compreensão de textos utilizam, de maneira geral, linguagem clara e compreensível. São propostas variadas, não havendo repetições exaustivas. Algumas questões envolvem estratégias de leitura diversificadas, tais como: localização, recuperação e estabelecimento de relações de informações, ativação de conhecimento prévio dos alunos sobre o tema e o texto e construção de inferências. Entretanto, a coleção - embora apresente também algumas referências a estas estratégias no manual do professor - trabalha-as de maneira pouco consistente, deixando, mais uma vez, a cargo do professor um encaminhamento mais denso, organizado e progressivo do trabalho. (Brasil/MEC, 2003: 218-219, ênfase adicionada)

Quadro 1 - Excerto de Resenhas do Guia do Livro Didático 1ª a 4ª séries - PNLD/2004

Os trechos por nós enfatizados apontam para o fato de que, nestas obras,

há, primordialmente, uma preocupação com a diversidade e qualidade dos

enunciados escolhidos para compor o material textual, incluindo os poemas e

demais gêneros poéticos. Observe-se que há uma referência sobre o fato de que

o volume inicial privilegia os poemas, o que vem confirmar a tendência da

produção editorial de reservar os poemas e textos da tradição oral para as séries

iniciais. Nota-se também, em relação à autoria, que os autores elencados como

representativos nas resenhas são, na maioria, poetas e muitos são autores de

literatura infanto-juvenil.

Apenas em duas coleções há referência à exploração, nas atividades de

leitura, dos recursos estilísticos presentes nos textos literários e na leitura das

resenhas não encontramos maiores informações sobre como os livros procedem à

leitura dos gêneros poéticos especificamente, apenas ressaltam-se as estratégias

que exploram as diferentes capacidades de leitura de forma geral. Isso pode

apontar para uma desconsideração das coleções (ou da avaliação) das

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características específicas do texto poético, ou pode ser apenas que a resenha

demonstre a abordagem de leitura para os gêneros de maneira geral. Contudo,

supomos que se houvesse, nas coleções, algum trabalho dirigido especialmente

aos textos em gêneros poéticos, este seria provavelmente destacado nas

resenhas.

Vejamos, a seguir, o que dizem as resenhas das coleções de 5ª a 8ª séries,

para, mais adiante, na análise qualitativa das atividades, verificar o que as

coleções propõem para os textos em gêneros poéticos.

5.1.2. Excerto de resenhas das coleções de 5ª a 8ª séries:

As coleções de 5ª a 8ª séries selecionadas para análise nesta pesquisa são

em número de três, totalizando 12 livros. Trata-se das coleções Lendo e

Interferindo, Encontro e Reencontro e Leitura do Mundo. Utilizaremos doravante,

aqui também, siglas para nos referirmos a estas coleções, respectivamente, LI, ER e LM. As coleções LI e ER obtiveram a menção RR (Recomendada com

Ressalvas), no processo de avaliação do PNLD/2002. A coleção LM recebeu a

menção REC (Recomendada).

Da mesma forma que procedemos com as coleções das séries iniciais,

selecionamos nas resenhas do Guia do Livro Didático PNLD/2002, os trechos que

se referem à seleção do material textual e às atividades de leitura e compreensão

de textos.

Estes excertos das resenhas aqui apresentados não apresentam

informações que possam traduzir como as coleções vão trabalhar com os textos

literários ou, mais especificamente, com os textos em gêneros poéticos. Pudemos

“pescar”, aqui e ali, alguns índices que possam nos auxiliar a compor o perfil

desses livros nesta direção, os quais marcamos em negrito.

Cabe aqui uma pequena crítica às resenhas dos Guias, tanto das séries

iniciais (PNLD/2004), quanto de 5ª a 8ª séries (PNLD/2002), cujas redações pouco

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ou nada expressam o tratamento que as obras dispensam aos textos literários,

restringindo-se, muitas vezes, a informações esparsas sobre “uma presença

significativa” ou sobre os autores privilegiados. A orientação apreciativa da obra

sobre os diversos gêneros da esfera literária deveria ser apresentada de forma

mais explícita na construção destes textos. Assim, o professor poderia ter uma

melhor noção do valor que se atribui ao texto literário dentro daquela proposta

pedagógica.

Vejamos, a seguir, os excertos das resenhas:

Coleção LI A organização por temas apresenta uma gradação de assuntos e tipos de textos: a 5ª e a 6ª séries têm módulos menores e maior presença de textos literários e de ficção; na 7ª e na 8ª séries, a coleção apresenta módulos mais extensos e maior número de textos informativos e de opinião (reportagens, entrevistas, depoimentos, editoriais). (...) A seleção de textos é, pela variedade de tipos e gêneros, o ponto alto da coleção, com presença significativa de textos literários, embora esta presença diminua gradativamente de volume para volume. Autores de épocas diversas e alguns de outras nacionalidades acrescentam valor a essa seleção, ainda que a presença de grandes autores não seja significativa se considerarmos a quantidade de textos. (...) As atividades de leitura buscam, de várias maneiras, recompor a situação de produção do texto e preparar sua compreensão e discussão, além de explorar conhecimentos prévios, vocabulário, intertextualidade e estratégias diversificadas, tais como localização e comparação de informações, inferências e generalizações. Nessas atividades, os tipos e gêneros de texto são sempre considerados; os processos coesivos e estilísticos são levados em conta com alguma freqüência; mas quase nunca é explorada a variação lingüística. (Brasil/MEC, 2001: 78-79, ênfase adicionada)

Coleção ER O principal mérito da coleção reside em uma diversificada seleção de textos que permite a abordagem de temas atuais e importantes, além de possibilitar a ampliação do repertório de leituras do aluno e um trabalho satisfatório com a Língua Portuguesa, em diferentes níveis. (...) Os seguintes títulos caracterizam, de modo geral, as unidades de cada um dos quatro volumes: “A Força da Palavra”; “Identidade”; “Família”; “Sentimentos”; “Amigos e Amores”; “Aspirações - Desafios”; “Pátria, Trabalho e Justiça”; “Ecologia”; “O Homem e a Cultura”; “A Prosa e a Poesia/ O Poema e a Poesia”; “A Música”; “O Homem e a Comunicação”. (...) A principal qualidade da coleção é uma seleção textual de um número expressivo de textos, com diversidade de gênero e de tipo, que promovem a ampliação do repertório de leituras do aluno. (...) As propostas de leitura e compreensão de textos têm o mérito de valorizar o conhecimento prévio do aluno; por vezes, entretanto, não se realizam de forma plenamente adequada porque deixam de explorar o texto propriamente dito, sem um trabalho satisfatório com o vocabulário e os recursos lingüísticos caracterizadores das diferentes estruturações textuais ou com as diversas estratégias de leitura. (Brasil/MEC, 2001: 67-68, ênfase adicionada)

Coleção LM

Esta coleção apresenta uma proposta de trabalho com a Língua Portuguesa capaz de viabilizar a formação de leitores críticos e um ensino de gramática diferenciado, baseado no papel das formas lingüísticas na construção dos sentidos dos textos. (...) Na seção Leitura do Texto, há inúmeras subseções ocasionais, que têm finalidades variadas, às vezes

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enfocando propriedades de certos gêneros ou tipos de texto; outras vezes, aspectos do funcionamento da linguagem e certas propriedades dos textos; ou, ainda, propondo trabalhos intertextuais ou reflexões sobre estilos e escolas literárias. (...) No caso dos textos verbais, há diversidade de gêneros, ainda que os poemas sejam os mais freqüentes.(...) O trabalho de leitura que se exerce sobre esse material textual é bastante rico e se baseia numa abordagem discursivo-enunciativa. Exceto no caso dos trabalhos propostos para os poemas, há uma preocupação consistente em situar o texto em seu contexto de produção - seja por meio de introduções aos textos, seja nas próprias atividades de leitura. (...) Outro aspecto bastante positivo do trabalho com leitura é a exploração de processos estéticos, estilísticos e relativos a tipos e gêneros de textos, que é bastante freqüente nos volumes e que destaca esse material no conjunto didático editorial atual. Além disso, todas as seções enfocam os recursos lingüísticos importantes para a efetividade da leitura de cada texto. As seções também realizam uma efetiva exploração da intertextualidade, que enfoca não somente a relação temática entre os textos da unidade, mas também - e principalmente - os recursos lingüísticos característicos de cada um deles, suas semelhanças e diferenças. Essas qualidades da coleção contribuem apropriadamente para a formação de um leitor proficiente, capaz de detectar os movimentos lingüístico discursivos responsáveis pela construção dos sentidos do texto e, assim, para a construção de um leitor crítico. (Brasil/MEC, 2001: 29-31, ênfase adicionada)

Quadro 2 - Excerto de Resenhas do Guia do Livro Didático - 5ª a 8ª séries - PNLD/2002

A coleção LI, por exemplo, vai salientar que os textos literários se

concentram mais nas séries do 3º ciclo (5ª e 6ª séries), concentrando os textos

mais opinativos para as séries finais. Isto pode indicar uma compreensão de que

os textos literários, incluindo-se aqui os poemas sobretudo, sirvam melhor aos

alunos mais novos e os textos de cunho mais argumentativo sirvam aos maiores.

Como pudemos verificar, no excerto um pouco mais adiante, da mesma coleção

LI, a presença dos textos literários vão diminuindo gradativamente de volume a

volume. Esta visão de que o texto literário apresenta grau de dificuldade que o

ajusta melhor às séries iniciais é no mínimo equivocada; entretanto, estamos aqui

ainda no terreno dos indícios, das probabilidades, levantando algumas hipóteses a

partir das poucas informações que pudemos encontrar.

Na resenha da coleção ER, salientamos o fato de que há dois módulos

específicos para um trabalho que envolveria, a nosso ver, os textos em gêneros

poéticos: A Prosa e a Poesia/ O Poema e Poesia e A Música. Assim, se a obra se

preocupa em concentrar o trabalho com esses gêneros em módulos exclusivos,

deve proceder a um trabalho específico também. Esta é uma outra hipótese cuja

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validade poderemos verificar na análise mais detalhada das atividades.

No excerto da resenha da coleção LM, há uma observação bastante

intrigante a respeito do trabalho com os poemas: nela, assinala-se que, embora os

poemas sejam os gêneros mais freqüentes, não há uma preocupação em situá-los

em seus contextos de produção, ao contrário do que acontece com os demais

gêneros.

Assim, uma abordagem discursiva não serviria aos textos em gêneros

poéticos, o que parece traduzir uma concepção de que, mais uma vez, os

enunciados poéticos são tomados como uma espécie de textos estranha ou

dificultosa, cujas condições de produção nem mesmo é possível se apresentar .

Outra hipótese é a de que tais textos são tão desprestigiados que não precisam

nem “merecem” quaisquer contextualizações. Essas hipóteses parecem

exageradas e/ou absurdas, mas é o que podemos supor preliminarmente, a partir

das descrições oferecidas pelas resenhas.

Em relação à preocupação com a formação do leitor, na resenha da

coleção ER vemos que a obra promove a ampliação do repertório de leituras do

aluno e na resenha da coleção LM, a proposta é capaz de viabilizar a formação de

leitores críticos e as qualidades da coleção contribuem para a formação de um

leitor proficiente.

Não há referência exclusiva à formação do leitor literário em nenhuma

resenha; apenas é dito que o trabalho com leitura é positivo em relação à

exploração dos processos estéticos e estilísticos, por exemplo, na coleção LM ou,

de forma bastante vaga, que os processos coesivos e estilísticos são levados em

conta com alguma freqüência, na coleção LI.

Prossigamos com a apresentação de alguns dados quantitativos que

possam, esperamos, traduzir melhor como estas obras didáticas tomam os textos

em gêneros poéticos em suas propostas pedagógicas.

5.2. Os gêneros poéticos nas coleções: dados gerais de incidência

A Base de Textos em Gêneros Poéticos, descrita no capítulo anterior,

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forneceu-nos o número de textos em gêneros poéticos para cada coleção e para

cada volume. Obtivemos, assim, resposta para parte de nossa primeira questão

de pesquisa:

1 a) Qual a incidência do texto poético, da letra de canção e dos

textos da tradição oral nos LDP?

Vejamos, em primeiro lugar, os dados referentes às coleções de 1ª a 4ª

séries:

As coleções aqui analisadas apresentaram os seguintes dados:

Coleção Série Poema Letra de canção

Tradição Oral

Total GP

Total Textos

%

CE 1ª 06 00 04 10 37 27,02 2ª 05 02 00 07 70 10,00 3ª 07 02 00 09 100 9,00 4ª 02 01 04 03 59 5,08 Coleção 20 05 04 29 266 10,90 % 68,96 17,24 13,80 - - - LPT 1ª 12 02 03 17 52 32,69 2ª 09 02 00 11 53 20,75 3ª 08 01 00 09 62 14,51 4ª 15 04 00 19 80 23,75 Coleção 44 09 03 56 247 22,67 % 78,57 16,07 5,36 - - - PPLL 1ª 07 00 03 10 40 25,00 2ª 05 00 00 05 50 10,00 3ª 03 01 01 05 51 9,80 4ª 07 00 01 08 43 18,60 Coleção 22 01 05 28 184 15,21 % 78,58 3,57 17,85 - - - AML 1ª 21 07 22 50 94 53,19 2ª 08 02 02 12 94 12,76 3ª 13 01 07 21 102 20,58

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4ª 11 04 01 16 114 14,03 Coleção 52 14 30 96 404 23,76 % 53,54 14,14 32,32 - - -

Tabela 1 - Totalização dos dados de incidência dos textos em Gêneros Poéticos

Nos dados da Tabela 1, pudemos observar que, em todas as coleções, a

incidência de gêneros poéticos é pequena, variando entre 10,90% a 23,76%. Este

dado foi apontado já, no capítulo 4, sobre a tendência geral de todas as coleções

avaliadas, tanto de 1ª a 4ª séries, quanto de 5ª a 8ª séries. Assim, o aluno está

pouco exposto ao texto poético; ao literário como um todo é preciso investigações,

porque os textos narrativos parecem ocupar grande espaço nos materiais textuais,

em detrimento dos poéticos.

Já entre os vários gêneros poéticos, os poemas são a grande parte dos

textos escolhidos pelos livros, variando de 53,54% a 78,58%. Assim, mesmo tendo

em vista que se trata de séries iniciais, em que a presença da tradição oral tende a

ser marcante, a tradição literária ainda é privilegiada. Os Gráficos 1 e 2 abaixo

vão sintetizar esses dados:

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

CE LPT PPLL AML

Relação entre textos em gêneros poéticos e textos em outros gêneros Total de Textos

Textos em GP

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Gráfico 1 - Relação entre Textos em Gêneros Poéticos e Total de Textos em outros Gêneros - Coleções 1ª a 4ª séries

0 10 20 30 40 50 60

CE

LPT

PPLL

AML

Incidência dos Gêneros Poéticos nas coleções 1ª a 4ª séries

TradiçãoOralLetra deCançãoPoema

Gráfico 2 - Incidência dos textos em gêneros poéticos - Coleções 1ª a 4ª

Analisando ainda a Tabela 10 e o Gráfico 3 abaixo, percebemos que a

maior incidência de textos em gêneros poéticos encontra-se na primeira série,

com exceção da coleção LPT, que traz um maior número na 4ª série. Não há um

movimento uniforme na distribuição desses gêneros entre os volumes; pode-se

apreender, apenas, que há uma queda, em todas coleções, entre a primeira e

segunda séries. Entre a terceira e a quarta séries não há uma uniformidade:

observa-se uma redução do número de textos em gêneros poéticos nas coleções

CE e AML e um aumento nas coleções LPT e PPLL. Assim, a distribuição dos

gêneros poéticos entre as quatro séries traduz um desequilíbrio, ou seja, não há

um projeto nas coleções que estabeleça uma progressão ou um equilíbrio na

incidência dos textos em gêneros poéticos entre os volumes. Podemos inferir que

deve haver (ou esperamos que haja) algum outro critério que defina a quantidade

de gêneros poéticos em cada nível de ensino.

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0 10 20 30 40 50

CE

LPT

PPLL

AMLC

oleç

ões

Distribuição dos GP entre as séries - Coleções 1ª a 4ª

4ª3ª2ª1ª

Gráfico 3 - Incidência dos gêneros poéticos entre as séries - Coleções 1ª a 4ª

O privilégio dado aos gêneros poéticos nas séries iniciais pode ser

interpretado como resultado de uma crença de que tais gêneros, por efetuarem

um trabalho mais lúdico com a linguagem, com insistência sobretudo no aspecto

sonoro das palavras, como as rimas e aliterações, aproximam-se ou favorecem

certas estratégias utilizadas no processo de alfabetização. À medida que as séries

avançam, tal preocupação é minimizada e outros gêneros literários, como os

narrativos ou os gêneros da esfera jornalística, são promovidos. Esta crença

conduz o olhar do professor e dos alunos, conseqüentemente, para estes

aspectos expressivos de forma isolada, ficando em segundo plano ou

simplesmente abandonado o trabalho com a significação dos textos e mesmo a

consideração dos efeitos de sentido produzidos pelos próprios aspectos do

material verbal. O texto em gênero poético é pretexto para a aprendizagem da

leitura e da escrita nos processos em que são acentuadas as características da

materialidade da língua.

Vejamos, agora, os dados referentes às coleções de 5ª a 8ª séries. As

coleções aqui analisadas mostraram os seguintes dados:

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Coleção Série Poema Letra de

canção Tradição Oral

Total GP

Total Textos %

LM 5ª 14 00 01 15 34 44,11 6ª 07 00 00 07 42 16,66 7ª 12 00 00 12 33 36,36 8ª 08 00 00 08 24 33,33 Coleção 41 00 01 42 133 31,57 % 97,62 00 2,38 - - - LI 5ª 12 03 00 15 132 11,36 6ª 29 15 00 44 156 28,20 7ª 17 05 00 22 136 16,17 8ª 76 25 00 102 222 45,94 Coleção 135 48 00 183 646 28,17 % 73,77 26,23 00 - - - ER 5ª 33 05 00 38 124 30,64 6ª 80 08 05 93 156 59,61 7ª 42 12 00 54 106 50,94 8ª 19 11 00 30 102 29,41 Coleção 174 36 05 215 488 43,03 % 80,93 16,75 2,32 - - -

Tabela 2 - Totalização dos dados de incidência dos textos em Gêneros Poéticos - Coleções de 5ª a 8ª séries

Os dados aqui apresentados em relação à incidência dos textos em

gêneros poéticos das coleções de 5ª a 8ª séries apresentam uma presença um

pouco maior do que os dados das coleções de 1ª a 4ª séries: os textos em

gêneros poéticos constituem de 28,17 % a 43,03% dos textos das coletâneas.

Essas porcentagens parecem-nos apontar para o fato de que, neste nível de

ensino, o aluno é mais exposto aos enunciados poéticos; é preciso verificar,

contudo, qual a extensão e a posição desses textos nos volumes, já que muitas

vezes os textos são fragmentos usados em atividades que não exploram os

sentidos dos textos, mas outros aspectos da língua, como os gramaticais, por

exemplo.

Já entre os gêneros poéticos, da mesma forma que nas coleções das séries

iniciais, os poemas são privilegiados, com uma incidência que varia de 73,63% a

97,62%. As letras de canção aparecem também, porém com pouca incidência: na

coleção LM, por exemplo, não há nenhuma ocorrência e, nas outras duas

coleções, a presença varia de 16,75% a 26,37% em relação ao total dos textos em

gêneros poéticos. Os textos em gêneros da tradição oral desaparecem nessas

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coleções, com uma incidência variando de 2,32% a 2,38% apenas nas coleções

LM e ER.

Compreendemos que estes dados de incidência revelam que a tradição

literária está presente de forma muito contundente nas coleções de 5ª a 8ª séries

aqui consideradas, bem mais que nas coleções de 1ª a 4ª séries. Os Gráficos 4 e

5 vão sintetizar estas ocorrências:

0%

20%

40%

60%

80%

100%

LM LI ER

Relação entre textos em gêneros poéticos e total de textos - Coleções 5ª a 8ª séries

Total deTextos

Total deTextos emGênerosPoéticos

Gráfico 4 - Relação entre Textos em Gêneros Poéticos e Total de Textos

Coleções 5ª a 8ª séries

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Incidência dos Gêneros Poéticos Coleções 5ª a 8ª séries

0 50 100 150 200

LM

LI

ER

Tradição OralLetra de CançãoPoema

Gráfico 5 - Incidência dos Textos em gêneros poéticos - Coleções 5ª a 8ª

Analisando a distribuição dos textos em gêneros poéticos entre as séries,

pudemos observar o seguinte movimento, expresso pelo Gráfico 6 abaixo:

0 20 40 60 80 100 120

LM

LI

ER

Distribuição dos GP entre as séries - Coleções 5ª a 8ª

8ª7ª6ª5ª

Gráfico 6 - Incidência dos textos em gêneros poético entre séries - Coleções 5ª a 8ª

Como podemos verificar, não há uma distribuição uniforme entre as

diferentes séries nas três coleções consideradas: na coleção LM, o número maior

de textos em gêneros poéticos vai parecer nas 5ª e 7ª séries, já na coleção LI há

um movimento crescente entre as 5ª e 6ª séries e a 7ª e 8ª séries, havendo um

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grande número de textos na 8ª série, um total de 102, expressando um

desequilíbrio acentuado. Na coleção ER, também, não há um crescente entre as

séries, sendo que a 6ª série vai apresentar um número elevado de textos em

gêneros poéticos, um total de 93 textos.

Assim, não há nada que possa expressar, nestas coleções, um

planejamento que procure distribuir de forma uniforme e progressiva os diferentes

textos em gêneros poéticos entre as séries, devendo haver um outro critério

qualquer que justifique estes dados de incidência, a não ser o fato de que, para o

caso das coleções LI e ER, trata-se das séries de final de ciclo (4º e 3º ciclos,

respectivamente), mas caso fosse esse o critério, a maior incidência ocorreria de

forma uniforme nas duas coleções, o que não acontece.

Acreditamos, portanto, que a escolha autoral em relação à distribuição dos

textos em gêneros poéticos é aleatória, ligando-se, talvez, a outros fatores como,

por exemplo, os temas desenvolvidos pelas unidades de cada série, que vão

proporcionar uma maior ou menor seleção dos enunciados poéticos. De qualquer

forma, a falta de um planejamento desta distribuição parece estar associada, aqui,

retornando ao nosso contexto de pesquisa, à falta de um planejamento

pedagógico que guie conscientemente o processo de ensino dos textos em

gêneros poéticos, o que expressa uma desconsideração por uma formação mais

organizada e consistente do leitor literário no Ensino Fundamental.

Veremos, mais adiante neste trabalho, se tais considerações confirmam-se

na análise dos tipos de atividades propostas para os textos em gêneros poéticos

selecionados. A próxima seção tratará da posição desses textos nos volumes, ou

seja, se a incidência destes gêneros não é grande e sua distribuição não é

uniforme, como eles são valorizados nas coletâneas?

5.3. Posição dos gêneros poéticos nas coleções

Conforme vimos no capítulo de metodologia, a Base de Gêneros Poéticos

fornece os dados sobre a posição dos textos nas unidades. Estes dados também

podem ser auxiliares no deslinde da concepção de leitor literário que subjaz à

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seleção do material textual, bem como sobre a importância dada aos gêneros

poéticos, caso estes sejam colocados como texto principal da unidade, ou como

texto complementar.

Assim poderemos responder, em relação a estas coleções, a segunda parte

de nossa questão inicial de pesquisa:

1 b) Qual o lugar reservado a estes textos nas coleções?

Vejamos estes dados na Tabela 3, a seguir, referentes, em primeiro lugar,

às coleções de 1ª a 4ª séries analisadas:

Coleção Leitura (texto

principal) % Outras Atividades

(texto complementar) % Total de Textos

em GP CE 10 34,48 19 65,52 29 LPT 30 53,57 26 46,43 56 PPLL 17 60,71 11 39,29 28 AML 25 25,25 72 74,75 99 Total 82 38,67 128 61,33 212

Tabela 3 - Incidência dos textos em gêneros poéticos quanto à posição - Coleções 1ª a 4ª

Os dados demonstram que, nas coleções analisadas, não há tendência

uniforme: as coleções LPT e PPLL tendem tanto a trabalhar os textos em gêneros

poéticos tanto como principais como complementares, embora os dados

demonstrem que um pouco mais da metade são tomados como principais; já as

coleções CE e AML tomam os textos nestes gêneros para outras atividades.

Esses dados supõem que as atividades de leitura mais elaboradas que,

geralmente, nos livros de composição mais tradicional, vêm à frente nas unidades

ou capítulos, exploram pouco os textos em gêneros poéticos. Se complementares

nas unidades, servem como segundo texto, como pretexto para o estudo

gramatical (neste caso, a aquisição do sistema alfabético), para atividades de

caráter lúdico (como desenho, dramatização), ou mesmo como mero ornamento.

Versiani (1996), indo ao encontro desses dados, comenta o tratamento dado ao

texto poético nos livros didáticos:

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O número de poemas é bastante reduzido quando comparado com outros

gêneros. Quanto ao lugar que ocupam nos livros, percebemos que quase

nunca aparecem como texto principal da unidade. São eles, na maioria das

vezes, utilizados para memorizar gramática ou para marcar datas de

circunstância, como o dia das mães, dos pais, do índio. (Versiani, 1996: 48).

Vejamos, agora, qual a posição desses textos nas coleções de 5ª a 8ª

séries. Aqui, conforme frisamos em nota anterior, temos a designação de texto

suplementar, que são textos para os quais não se propõem quaisquer atividades,

são usados geralmente como abertura ou encerramento de unidades, para leitura

livre. Observemos os dados da Tabela 4:

Col. Leitura (texto

principal) % Outras

Atividades (complementar)

% Texto Suplementar

% Total de Textos em GP

LM 26 61,90 15 35,71 01 2,39 42 LI 11 6,01 159 86,88 13 7,11 183 ER 62 28,83 113 52,55 40 18,62 215 Total 99 22,50 287 65,22 54 12,28 440 Tabela 4 - Incidência dos textos em gêneros poéticos quanto à posição - Coleções 5ª a 8ª

Analisando os dados, verificamos que somente na coleção LM há uma

preocupação em se utilizar os textos em gêneros poéticos principalmente como

textos principais da unidade, para o trabalho com a leitura, com 61,90% do total.

Já esse uso diminui em relação à coleção ER e fica mínimo em relação à coleção

LI.

Verificamos, portanto, que as coleções que apresentam maior incidência de

textos em gêneros poéticos, as coleções LI e ER, com quatro ou cinco vezes mais

textos que a coleção LM, são as que menos vão explorar a construção dos

sentidos destes textos. Assim, aqui temos um dado que expressa que a

quantidade de textos em uma coletânea não assegura o seu tratamento enquanto

tal, ou seja, sua exploração significativa em atividades efetivas de leitura e

construção dos sentidos. Vejamos, a seguir o que os dados sobre os textos

revelam sobre a autoria, para compor melhor o perfil das coleções.

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5. 4. Textos e autoria

Prosseguimos a análise em busca dos dados que respondam a nossa

segunda questão de pesquisa em relação às coleções selecionadas:

2. Quais textos e autores são privilegiados pelos livros didáticos

escolhidos, tanto nas atividades propostas com os textos poéticos

quanto nas atividades propostas para o estudo das letras de

canção e outros gêneros da tradição oral?

Para responder a estas questões, tomamos o conjunto de textos e autores

das quatro coleções de 1ª a 4ª séries e das três coleções de 5ª a 8ª séries,

reunindo-os em relação aos poemas, às letras de canção e aos gêneros da

tradição oral.

Em relação aos poemas, nas 1ª a 4ª séries, podemos dizer que os textos

são variados, a grande maioria proveniente da literatura infanto-juvenil. Os autores

apresentados são conhecidos e premiados e, em sua grande parte, já bastante

representativos deste espaço editorial, como Elias José, Almir Correia, Tatiana

Belinky, Sylvia Orthof, Ana Maria Machado, Sérgio Caparelli, Ulisses Tavares,

Roseana Murray, Ricardo Azevedo, José Paulo Paes e Pedro Bandeira. Alguns

autores selecionados ainda têm pouca representatividade, como Ciça, Lalau e

Laurabeatriz, Nani, Cristina Porto, Luís Camargo, Jandira Mansur e Angela Leite

de Souza, embora sejam conhecidos no meio escolar e alguns produzam muitas

obras na literatura infantil, como Guto Lins e Hardy Guedes Filho e sejam

premiados, como é o caso de Léo Cunha, jornalista mineiro, que recebeu da

FNLIJ prêmios de autor revelação em 1993 e Alda Beraldo, professora paulistana

que recebeu o prêmio revelação de Literatura Infantil - APCA , com a obra infanto-

juvenil Beije-me.

Alguns autores canônicos da literatura brasileira que escreveram poemas

para crianças também são contemplados nas coletâneas das séries iniciais,

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embora com bem menor incidência do que costumávamos ver comumente nos

livros didáticos, como: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de

Moraes, Henriqueta Lisboa, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Castro Alves e

Cassiano Ricardo. Entre autores estrangeiros, temos a presença de Fernando

Pessoa, Maiakóvsky, Luís de Camões e Emily Dickinson.

Outros são autores mais conhecidos regionalmente, como o pernambucano

Ascenço Ferreira, o gaúcho Paulo Seben e a paranaense Helena Kolody. Alguns

haicaístas brasileiros também estão presentes como Abel Pereira, a própria

Helena Kolody e Paulo Leminski. A poesia concreta e visual é representada por

poemas de Augusto de Campos, Arnaldo Antunes e pela ainda desconhecida Alda

Beraldo.

Acreditamos, assim, que as coletâneas, em relação à poesia, são bastante

diversificadas e de qualidade e espelham uma autoria representativa, embora sem

muitas surpresas, em relação à literatura infantil. Trata-se de uma escolha entre

autores canônicos ou pertencentes a um cânone em formação e os autores da

literatura infanto-juvenil, que traduz uma preocupação em considerar a criança

como interlocutor privilegiado, como já comentamos no terceiro capítulo desta

pesquisa.

Contudo, é mister salientar que, ao mesmo tempo, tais coletâneas

espelham a incorporação dos produtos da indústria cultural pela produção editorial

reservada à utilização escolar. Isso traduz a reificação das relações entre

literatura infantil e escola, entre a instituição e o gênero literário, que não é fortuita,

nos dizeres de Zilberman (2003: 15). Mesmo que a seleção de textos das

coletâneas aponte para uma autoria de qualidade, com autores renomados na

literatura infantil e infanto-juvenil, há aqui uma via de mão dupla: o livro escolar

absorve autores renomados e propalados na indústria cultural e essa, por sua vez,

lota o mercado de autores cujas produções, não tão qualificadas assim, vão se

voltar unicamente para a fase e o espaço escolar de leitura.

É preciso pensar que consideramos, aqui, os textos literários, mais

especificamente, os enunciados poéticos como objetos estéticos, antes de serem

objetos de ensino, e no seu processo de didatização o elemento estético não pode

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ser abafado ou esquecido. Para Paulino (1997), numa visão mais ampla da

questão, trata-se de questionar a tão falada democratização da leitura literária:

Impõe-se, então, a incômoda pergunta, que nos angustia a todos que

participamos do jogo do livro infantil: que proposta é essa nossa de

democratizar a leitura literária, se tal democratização não ultrapassar o “muro

de Berlim” de nossas escolas? Qual o sentido verdadeiramente

democratizador da cultura letrada, se a maioria dos alunos deixa os livros, ao

mesmo tempo que deixa a escola? Sendo de ordem político-social, tal questão

deve ser tratada em espaços públicos, como as universidades, os congressos

e simpósios. Se aos adultos necessitados o governo oferece cestas básicas e

às crianças de escolas públicas oferece livros, é imperativo pensar no uso que

se tem feito dos livros no contexto escolar (Paulino, 1997: 108).

Compreendemos, assim, que a inserção de bons textos, de autores

renomados, que escrevem obras direcionadas para o público infantil, tudo isso não

vai garantir a apropriação dos aspectos literários pelos alunos leitores, caso não

seja proporcionado ao aluno um ensino que favoreça de fato sua formação

progressiva como leitor literário, para além do tempo e espaço escolares.

Entre os autores presentes na coletânea dos livros de 5ª a 8ª séries,

também encontramos grande número de autores da literatura infanto-juvenil.

Contudo, as coleções analisadas revelaram que os autores canônicos é que

prevalecem nos textos em gêneros poéticos para estas séries. Na lista dos

autores canônicos com maior número de textos nas coleções selecionadas

figuram Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Cecília Meireles, Vinícius

de Moraes, Manuel Bandeira e Fernando Pessoa, mas também há presença, em

número menor, de textos de Castro Alves, Camões, Gonçalves Dias e Olavo Bilac.

Os autores contemporâneos de literatura infanto-juvenil prestigiados são Elias

José, Roseana Murray, Carlos Queiroz Telles e Hardy Guedes, que também é

autor de letras de canção. Outros autores também aparecem, com menor

incidência, como Ulisses Tavares, Sylvia Orthof, Cora Coralina e José Paulo Paes.

Podemos depreender destes dados que a autoria relativa às coleções de 5ª

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a 8ª séries tende a ser mais conservadora, atraindo para os livros apenas os

autores de literatura infanto-juvenil já bastante conceituados, como Elias José e

Roseana Murray, com exceção de Hardy Guedes, cujos textos estiveram

concentrados apenas na coleção ER, o que poderia ser interpretado como uma

escolha restrita à região sudeste, já que se trata de um autor carioca.

Estes dados podem revelar uma concepção de que os alunos das séries

dos ciclos mais avançados do Ensino Fundamental já podem “lidar” com os textos

em gêneros poéticos dos autores clássicos da literatura de língua portuguesa, ou

apenas revelar uma resistência aos textos poéticos da produção literária infanto-

juvenil, que caberiam aos alunos mais novos, como colocamos em relação à

autoria nas coleções de 1ª a 4ª séries.

Vejamos agora o que acontece em relação às letras de canção,

primeiramente, em relação às séries iniciais. Em número bem menor nas

coleções, as letras de canção selecionadas são, em maioria, amostras de

produções mais recentes da canção infantil, representadas por compositores

como Sandra Peres, Hélio Ziskind, Paulo Tatit e Zé Tatit, Pedro Mourão (esses

três últimos ex-componentes do grupo RUMO), Cláudia Dalla Verde e Flávio de

Souza, Daltony Nóbrega, André Abujamra.

Alguns destes compositores estão ligados a produções artísticas, em

televisão, teatro e cinema, como é o caso de Ziskind e Nóbrega. Outros como

Sandra Peres, Mourão, Tatit e Ziskind ainda são egressos do conhecido grupo

Rumo, criado em 1974, por Luiz Tatit.

Também temos a presença de compositores já consagrados da música

popular brasileira, como Toquinho e Mutinho, Milton Nascimento, Gilberto Gil,

Chico Buarque, Jorge Mautner, Moraes Moreira, Dorival Caymmi e compositores

renomados, embora mais novos na história da MPB, como Arnaldo Antunes,

Renato Russo e Cazuza. Avaliamos que as coletâneas, em relação às letras de

canção, também são diversificada e de qualidade e que foram compostas visando

o público infantil, mesmo que práticas escolares mais arraigadas sejam

rememoradas, como indica a inclusão do Hino Nacional (coleção AML, 4ª série),

por exemplo.

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As atividades propostas para as letras de canção, contudo, deixam a

desejar, usam os textos como pretextos para ensino gramatical, como é o caso da

letra de canção Oras Bolas, de Edith Derdyk e Paulo Tati, que é usada, na coleção

CE, 2ª série, apenas para a classificação das palavras pelo número de sílabas.

Outras vezes, as atividades inexistem, como é o caso da canção Água, de Arnaldo

Antunes, na 1ª série, e Uma estória, de Paulo Tatit e Zé Tatit, na 2ª série, da

coleção AML, para as quais não se pede atividade alguma, ou apenas

memorização e/ou ilustração da letra.

Em relação aos gêneros da tradição oral, em maior número, temos as

adivinhas, com 15 textos, de domínio popular ou sem indicação de autoria (muitas

vezes feitas especialmente para o livro didático). Figura apenas um autor em

adivinhas, o paraense desconhecido Alfredo Garcia, que tem seu texto repetido na

2ª e 3ª séries da coleção AML. As adivinhas são especialmente usadas como

epígrafes ou somente como atividade lúdica, fazendo coincidir as respostas com

os temas desenvolvidos nas unidades.

Em relação às cantigas, as coleções trazem uma variedade, entre cantigas

de ninar, cantigas de roda e cantigas populares, concentradas principalmente nas

séries iniciais, como A canoa virou (AML, 1ª série), Caranguejo não é peixe (AML,

1ª série), O cravo brigou com a rosa (AML, 1ª série), Nana nenê (AML, 1ª série),

Sapo-cururu (PPLL, 1ª série), O Sapo não lava o pé (PPLL, 1ª série), O sapo

(PPLL, 1ª série), O trem maluco (CE, 1ª série), Acalanto (CE, 1ª série) e Atirei o

pau no gato (PPLL, 4ª série), Teresinha de Jesus (4ª série). A maioria, com

exceção de Acalanto, de Dorival Caymmi, é de domínio popular e as cantigas são

utilizadas, basicamente, como atividades lúdicas.

Os cordéis aparecem poucas vezes nas coleções de 1ª a 4ª séries; na

coleção LPT, na 4ª série, há 3 textos de cordel: A peleja, de Ana Maria Machado;

A feira de Caruaru, de Omildo Almeida e Toada de Patativa do Assaré. Na coleção

PPLL, encontramos Aos poetas clássicos, de Patativa do Assaré e um repente

inserido na narrativa Leia num repente, sem autoria indicada, na 2ª série da

coleção CE.

As quadrinhas, parlendas e trava-línguas também são de domínio público

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ou feitos para o livro, aparecem em número bem reduzido e, sobretudo, são

utilizados como epígrafes, pseudoleitura e atividade lúdica.

Nas coleções de 5ª a 8ª séries, encontramos um número bem maior de

letras de canção, 84 ocorrências de textos para 29 nas coleções de 1ª a 4ª séries.

Este fato deve-se também ao fato de que os gêneros da tradição oral praticamente

desaparecem nos livros das séries finais e o espaço é tomado pelas letras de

canção. Os compositores são bastante variados, pertencendo, sobretudo, à MPB,

na figura de seus grandes expoentes como Chico Buarque de Holanda, Milton

Nascimento, Caetano Veloso, Tom Jobim e Gilberto Gil e também ao rock

nacional, com a presença do Renato Russo, do grupo Legião Urbana e de

Samuel Rosa, do grupo Skank.

Esta seleção de letras de canção merece uma observação. Falávamos, já

no terceiro capítulo deste trabalho, da necessidade de ampliação do escopo dos

textos oferecidos aos alunos e indagávamos se esta seleção textual relativa às

letras de canção satisfaz esse aluno de hoje da escola pública. É claro que na

época do ingresso destas letras de canção para os livros didáticos, na década de

80 sobretudo, estes compositores da MPB estavam na boca e na cabeça da

juventude.

Hoje, temos conhecimento de que outros gêneros musicais como o rap, o

funk, o hip-hop, o pagode e o rock pop é que imperam entre a juventude. Não

seria o momento de se repensar estas coletâneas e incluir os autores mais

familiares aos alunos de nossa escola pública brasileira atual, promovendo a

inclusão destas manifestações culturais sem, contudo, afastar o olhar crítico das

letras? Se se prega, há anos, a consideração da variedade lingüística do aluno

nas aulas de língua materna, mas também a importância do ensino da variedade

padrão, não seria o caso de se atualizar estas coletâneas, sem deixar de

apresentar também a produção dos compositores mais renomados de nossa

MPB?

Que essa idéia não seja tomada como uma aculturação das manifestações

populares, como o hip-hop, por exemplo, mas que seja um movimento de inclusão

das práticas culturais na instituição escolar, com todos os méritos que lhe são

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devidos. É claro que, para isso ser realizado, é preciso uma pesquisa consistente

sobre tais manifestações artísticas, com vistas a compreendê-las em seus

próprios contextos de produção, sem distorções ou críticas indevidas.

Em suma, como pudemos verificar pelos dados de incidência, posição e

autoria aqui apresentados em relação às coleções de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries, o

perfil que se desenha é o de coleções que, na média, não apresentam muitos

textos em gêneros poéticos e, quando o fazem, não reservam uma posição aos

textos nos volumes que suscite uma exploração mais detalhada, em atividades de

leitura e compreensão. A autoria revela uma entrada bastante incisiva da indústria

cultural representada pela literatura infanto-juvenil nos materiais didáticos,

principalmente das séries iniciais, e uma preservação dos autores clássicos em

relação aos poemas, nas séries finais. As letras de canção parecem apenas

complementar estas coletâneas, também privilegiando os compositores de

músicas infantis para as coleções de 1ª a 4ª séries e os compositores mais

renomados de nossa MPB, de 5ª a 8ª séries. De uma forma geral, os dados aqui

apresentados parecem caracterizar bem os dois níveis do Ensino Fundamental (1ª

a 4ª e 5ª a 8ª séries) em relação aos textos em gêneros poéticos: no primeiro

nível, o lúdico e os aspectos ligados ao universo infantil são reforçados e, no

segundo, o cânone e a tradição são privilegiados.

Os dados também apontam para uma distribuição irregular dos textos em

gêneros poéticos e por sua desvalorização no interior dos livros, indícios de que

não há organização do ensino, nem uma proposta sólida de didatização, de

progressão ou de formação do leitor literário.

No próximo capítulo, procederemos à análise das atividades que os livros

reservam a esses objetos, tentando apreender os diferentes modos de didatização

que podem espelhar diferentes concepções sobre os gêneros poéticos.

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Capítulo 6 __________________________

A escolarização dos textos em gêneros poéticos nos livros didáticos No capítulo anterior, procedemos a uma análise quantitativa sobre os dados

de incidência, posição e autoria dos textos em gêneros poéticos nas coleções de 1ª

a 4ª séries e 5ª a 8ª séries. Resta-nos apresentar alguns momentos das atividades

que os livros realizam com os enunciados poéticos, tentando compreender o

processo de escolarização desses textos, analisando os diferentes modos de

abordagem das coleções.

Num primeiro momento, procuraremos sintetizar as atividades realizadas,

para em seguida nos determos mais detalhadamente em pequenos excertos dos

exercícios e questões propostas.

Acreditamos assim estarmos fechando o leque dos procedimentos analíticos

deste trabalho, com vistas a apresentar o status quo da questão da escolarização

dos gêneros poéticos nos livros didáticos do ensino fundamental e,

conseqüentemente, oferecer subsídios para uma reflexão sobre uma parte da

formação do leitor literário, a que se refere especificamente à leitura dos textos

poéticos.

6.1. Os tipos de atividades com gêneros poéticos Visando detalhar as atividades que as quatro coleções de 1ª a 4ª séries e as

três coleções de 5ª a 8ª séries desenvolvem com os gêneros poéticos, tentamos

sintetizá-las em categorias no quadro a seguir, buscando responder a primeira parte

de nossa questão final de pesquisa:

3. Quais atividades propostas para as coleções em relação ao estudo dos poemas e das letras de canção (e outros), ou seja, que tipo de

proposta de escolarização da literatura estes LDs empreendem?

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Para classificar os tipos de atividades e sua incidência, baseamo-nos em

alguns descritores das Fichas de Avaliação do PNLD 2004, de Língua Portuguesa e

Alfabetização, relativos ao trabalho com a leitura de compreensão dos textos

escritos, aqui adaptados às atividades encontradas.

Assim, depreendemos os seguintes agrupamentos de atividades realizadas

com os gêneros poéticos nas coleções:

1. Atividades relacionadas às diversas estratégias básicas de leitura - agrupo, sob

este item, as atividades mais elementares de leitura:

• a chamada pseudoleitura100;

• a localização e cópia de informações no texto;

• a produção de inferências simples;

• a compreensão global (questões sobre título, solicitação de resumo, paráfrase,

etc.)

• Comparação de informações entre textos

2. Atividades de leitura tendo como foco o conteúdo/assunto do texto: este item

refere-se a questões que solicitam aos alunos ativação de seus conhecimentos

prévios sobre determinado tema, exploram o conteúdo de forma intertextual e

solicitam apreciação afetiva e/ou relativa a valores éticos e políticos sobre o

conteúdo tratado:

• Epígrafe;

• Antecipação de informações;

• Ativação de conhecimento prévio;

• Apreciação de valores éticos ou políticos

• Apreciação estético-afetiva;

100 Segundo os autores da coleção AML, A pseudoleitura nada mais é do que a criança fazer de conta

que lê depois de conhecer o conteúdo de um texto. Para esse trabalho, é importante escrever todos os textos que as crianças sabem de cor. A partir disso, pedir que leiam, pois certamente elas imitarão a leitura real. É possível pedir-lhes também que descubram uma ou outra palavra no texto. Dessa forma, estaremos trabalhando com a leitura antes de a criança se alfabetizar. Aliás, ela se alfabetizará se estiver vivenciando situações reais de leitura. E essa é a função da pseudoleitura. (Coleção AML, Manual do Professor, p. XIV)

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• Exploração do conteúdo temático101 do texto, sem se reportar aos

aspectos lingüísticos

• Discussão oral ou conversa;

• Intertextualidade em nível temático ou discursivo102

• Alimentação temática para produção textual ou projeto.

3. Atividades de produção textual: utilização do texto em gênero poético como

motivação, base ou modelo para a produção textual:

• Produção de textos em gêneros poéticos a partir de orientações;

• Reescrita de partes de textos.

4. Atividades que exploram recursos gráfico-visuais: questões específicas sobre

recursos gráfico-visuais utilizados em textos em gêneros poéticos, como poemas

concretos e visuais.

5. Atividade Lúdica: exploração do caráter lúdico de alguns textos em gêneros

poéticos, sugerindo:

• Dramatização;

• Declamação, jogral, leitura expressiva

• Brincadeira (de roda, parlenda, trava-língua, adivinha);

• Cantar (cantigas de roda e/ou populares, letras de canção).

• Desenhar, pintar, ilustrar

• Leitura livre

• Atividades diversas: cruzadinha, criptograma, jogos, etc.

6. Exploração do vocabulário e dos conteúdos semânticos: atividades que

explorem o vocabulário, o significado das palavras, com solicitação de consulta,

101 Tomamos a expressão “conteúdo temático”, aqui, por “assunto” do texto e não na acepção bakhtiniana. 102 Esta denominação também é herdeira da ficha de avaliação do PNLD. Compreende-se, no processo, intertextualidade em nível temático quando o autor junta, em uma unidade, textos de mesma temática, mas que não tenham entre eles alusões, retomadas, citações, paródias, ou seja, quaisquer estratégias que apontem para marcas explícitas da intertextualidade; havendo tais recursos, neste caso, compreende-se que se trata de intertextualidade em nível discursivo. Acreditamos que essa denominação não seja a mais feliz, pela confusão teórica que pode causar.

172

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às vezes, a dicionário ou glossário, bem como algumas atividades do tipo

palavra-puxa-palavra, explorando campos semânticos. Podem ser resumidas em:

• Exploração contextualizada do vocabulário;

• Exploração de palavras desconhecidas através de consulta a glossário

ou dicionário

• Exploração de campo semântico;

• Antonímia, sinonímia, paronímia;

• Polissemia; 103

• Neologismo.104

7. Apropriação do sistema alfabético e convenções da escrita: nestas atividades, os

textos em gêneros poéticos são utilizados para o ensino do sistema alfabético e

as peculiaridades da escrita, como:

• Reconhecimento e fixação de letras, sílabas e palavras;

• Observação da segmentação das palavras;

• Observação do espaçamento entre palavras;

• Observação das relações grafema/fonema;

• (Re)conhecimento das letras do alfabeto;

• Consideração das regularidades e irregularidades ortográficas;

• (Re)conhecimento e emprego dos sinais de pontuação.

8. Atividades que exploram os recursos lingüísticos mais próprios dos gêneros

poéticos105: agrupamos, neste item, os recursos textuais relativos à estruturação

do texto poético, bem como a observação da forma composicional e ainda as

diversas figuras estilísticas utilizadas. Em suma, temos:

103 A polissemia, certamente, também poderia ser inserida no agrupamento de recursos próprios do

poético, já que é muito utilizada pelos gêneros poéticos. Entretanto, preferimos agrupá-la aqui para não caracterizá-la como uma figura de linguagem e sim, como uma característica própria da língua, independentemente do gênero, tal como é explorada na obra didática.

104 Assim como a polissemia, o neologismo poderia ser considerado uma figura de linguagem presente em outros textos, que não os poéticos. Inserimos aqui no conjunto dos conteúdos semânticos compreendendo esta atividade como um recurso que exercita a criatividade e o favorece o aumento do vocabulário. 105 Alguns recursos aqui são mais próprios dos gêneros poéticos, mas não exclusivos deles, como

muitas figuras de estilo e de sonoridade.

173

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• Aspectos textuais: versos, estrofes, rimas, repetições, refrão,

paralelismo;

• Aspectos da forma composicional: número de versos, tipos de versos,

número de estrofes, tipos de estrofes, estrutura rimática;

• Figuras de estilo: metáforas, metonímias, hipérboles, antíteses,

assonâncias, ambigüidades, onomatopéias, comparações,

personificações, recursos de sonoridade e rítmicos;

• Exploração dos aspectos gramaticais (uso de classes de palavras,

pontuação, etc.) para produção de sentido106;

• Exploração de estruturas sintáticas como produção de efeitos de sentido

• Funções da linguagem107;

• Linguagem conotativa e denotativa.108

9. Atividades que focalizam, de alguma forma, os gêneros poéticos:

• Reconhecimentos dos gêneros poéticos ou apresentação de textos

exemplares dos diferentes gêneros;

• Contextualização dos gêneros (informações sobre origem, esferas de

produção e circulação, forma composicional, estilo);

• Comparação entre gêneros poéticos diferentes.

10. Comparação entre linguagem poética e outras linguagens (pinturas, fotos e

esculturas)

11. Foco nos conteúdos gramaticais

• Nos níveis fono-ortográficos, morfológico, sintático;

• Processos coesivos

• Registro e variação lingüística

106 Neste caso, o texto não é tomado como pretexto para o estudo gramatical, mas os aspectos gramaticais são explorados em relação aos seus usos para compreender a produção dos sentidos. 107 Atividades que exploram as funções da linguagem, baseadas nos trabalhos de Jakobson, aparecem nas coleções de 5ª a 8ª séries. 108 Algumas atividades vão solicitar do aluno um reconhecimento de aspectos dos textos que expressam uma predominância de linguagem conotativa ou denotativa. Isso também só ocorre nas coleções de 5ª a 8ª séries.

174

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12. Outras atividades: neste agrupamento, reunimos atividades diversas que

ocorreram em incidência mínima, nesta coleção, como utilização do texto em

gênero poético para:

• Transformação de texto em gênero poético para outro gênero em prosa

• Exploração dos estilos de época

• Treino de escrita: ditado

• Indagações sobre autoria

• Comparação entre a linguagem poética e outras linguagens.

Mesmo não sendo o foco deste capítulo os dados quantitativos, procedemos

a uma quantificação final destas atividades, pra podermos verificar quais as

tendências das coleções analisadas. Assim, obtivemos os dados do gráfico 9, a

seguir, que sintetiza a porcentagem de incidência das atividades com gêneros

poéticos:

175

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Incidência do Tipo de Atividades com GP

24%

16%

14%9%

8%

7%

6%

6%5% 2% 2% 1%

Leitura - BásicasFoco na temáticaProdução TextualRecursos lingüísticos: poéticoVocabulárioAtividades LúdicasComparação outras linguagensSistema AlfabéticoFoco no gêneroRecursos gráfico -visuaisOutras atividadesFoco conteúdos gramaticais

Gráfico 9– Tipos de atividades desenvolvidas com gêneros poéticos

Este gráfico apresenta a média das atividades entre as 4 coleções aqui

consideradas. Vejamos, especificamente, a que se refere cada tipo de atividade. Do

total de atividades propostas, temos que 24% são atividades relacionadas às

estratégias cognitivas básicas de leitura. As atividades que exploram os temas dos

textos e as atividades de produção de textos em gêneros poéticos vêm em segundo

e terceiro lugar, com 16% e 14% respectivamente. Os exercícios que exploram as

peculiaridades dos gêneros poéticos somam 9% das atividades. A incidência de

atividades que exploram vocabulário e atividades lúdicas é quase a mesma, de 8% e

7%. A preocupação com a apreensão do sistema alfabético e os exercícios que

comparam os gêneros poéticos com outras linguagens aparecem com a mesma

incidência: 6% cada. Atividades que, de alguma forma, vão trabalhar focalizando

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reconhecimento e/ou características dos gêneros totalizam apenas 5%. Por fim,

temos as atividades que exploram os recursos gráfico-visuais, com 2%, os

conteúdos gramaticais, com 1% e o agrupamento outros, para atividades com

pouquíssima incidência, que se traduzem no conjunto também por apenas 2%.

Algumas atividades podem ser agrupadas por se referirem, por um aspecto

ou outro, ao poético. Assim, somando-se as atividades referentes aos recursos

lingüísticos próprios do poético (9%), as atividades relativas aos recursos gráfico-

visuais (2%), que trabalham com a configuração dos versos e palavras numa página,

como no caso do poema concreto, ou associação imagem-letra-palavra, no caso da

poesia visual e, ainda, os exercícios que focalizam os gêneros poéticos (5%) e a

comparação da linguagem poético com outras linguagens (6%) temos um total de

apenas 22% de todas as atividades propostas para os textos em gêneros poéticos

voltadas para a apreensão de algum literário.

Poderíamos ser questionados pelo fato de que não somamos as atividades de

produção textual. Ocorre que é fato que não é a totalidade delas que está

relacionada à produção de poemas; o texto em gênero poético é utilizado também

para a produção de outros gêneros. Caso o fizéssemos, de forma mais otimista, a

nossa cotação subiria, somando 36% das atividades totais dedicadas ao ensino das

características peculiares dos gêneros poéticos.

Assim, estes números revelam que, no mínimo, 64% das atividades propostas

pelas coleções analisadas aos textos em gêneros poéticos não exploram os traços

próprios do texto poético e, portanto, pouco tomam estes gêneros, realmente, como

objeto de ensino. Estes dados, conforme colocamos, são dados gerais, que

traduzem uma média entre as 4 coleções; isto não significa que não haja diferenças

entre os enfoques de cada uma sobre os gêneros poéticos. Vejamos, a seguir, como

cada coleção procede à didatização desses gêneros. 6.2. As atividades com gêneros poéticos nas coleções de 1ª a 4ª séries

Esta seção objetiva compreender como os gêneros poéticos são abordados

em cada coleção definindo modos de abordagem que traduzem a concepção de

literário e de leitor literário que subjaz às diferentes propostas pedagógicas. Assim,

buscamos responder a segunda parte de nossa questão final de pesquisa:

177

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3. Quais atividades propostas para cada série em relação ao estudo dos

poemas e das letras de canção (e outros), ou seja, que tipo de proposta de escolarização da literatura estes LDs empreendem?

6.2.1. A coleção CE

Esta coleção tende a abordar os gêneros poéticos em duas direções, numa

primeira parte há textos para leitura e numa segunda parte do livro há textos para

outras atividades, como o estudo gramatical, por exemplo. Pela própria organização

das atividades, o manual do professor, ao final dos volumes, subsidia, o tempo todo,

todas as atividades em cada um dos textos. Assim, a orientação é individualizada

para cada texto em gênero poético que se apresenta na primeira parte dos livros.

Observemos uma dessas orientações, relativas à leitura do poema Canoa, de

Henriqueta Lisboa, no volume de 1ª série:

“Sugerimos que o professor inicie o trabalho lendo o poema em voz alta e que os alunos

representem com o corpo o movimento da canoa em alto-mar. Em seguida, peça-lhes que marquem

no texto os sons e as palavras que se repetem e que são responsáveis pelo ritmo da poesia

(marcarão “Alto mar uma canoa”). Pede-se, então, que releiam todo o poema, mas sem repetir esse

verso. Obterão o seguinte:

“Alto mar uma canoa/ sozinha navega/ sem remo nem vela/ com toda coragem/na primeira

viagem/procurando estrela/não sabe o que a espera”

Ao ler das duas maneiras, com e sem a repetição do verso, pergunte que diferença faz a

presença da repetição e por que a autora Henriqueta Lisboa decidiu usá-la. Pode-se também

perguntar se imaginam a canoa sempre igual ou diferente em cada estrofe. Finalmente, peça-lhes

que desenhem a canoa como imaginam, completando a ilustração do texto na própria página do livro.

Nesse momento eles são co-ilustradores do livro.

Discuta com os alunos se esse tipo de texto poderia ser escrito do mesmo jeito que o conto

de fadas e a fábula e se essa maneira de ocupar a linha faz diferença ou não. (...) (Coleção CE, 1ª série, p. 16, manual do professor)

Escolhemos este trecho porque ele parece ilustrar bem uma prática

pedagógica de ensino dos textos em gêneros poéticos bastante presente nas

coleções aqui analisadas, que focaliza três aspectos do poético: por um lado

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privilegia-se a forma, sobretudo os aspectos sonoros e rítmicos, por outro lado, o

aspecto lúdico e por outro, ainda, a comparação da forma composicional do poema

com as de outros gêneros.

Como se trata da primeira série, compreendemos que os aspectos formais

precisam ser frisados para que os alunos possam prestar atenção e se habituar a

certos procedimentos realizados nos textos poéticos, a questão é saber se haverá

alguma progressão no estudo destes aspectos formais e uma reinserção destes no

espaço lingüístico-discursivo dos próprios textos a fim de fornecer aos alunos

subsídios para a (re)construção dos sentidos dos enunciados poéticos.

A atividade procura ainda incorporar o ritmo do poema ao movimento

corpóreo e, da mesma forma, incentivar a expressão artística através da ilustração

do poema pelo aluno, o que é uma tentativa de aproximação do estético com o

universo dos pequenos leitores. Assim, acreditamos que o texto poético é

reproduzido na linguagem corporal ou figurativa, como uma estratégia de

apropriação do objeto estético por caminhos mais “familiares” à criança do que a

linguagem verbal.

Indaga-se ainda, a figura da autora, Henriqueta Lisboa, que “decidiu” usar

uma repetição com determinados propósitos. O autor dos textos sempre vem à baila

nas questões e quase nunca de forma apropriada, pois os livros costumam confundir

autor biográfico com o eu poético. É preciso frisar que um aspecto formal do poema,

que seja, não pode expressar toda a posição e presença do autor, embora seja nela

que podemos percebê-lo melhor, como nos lembra Bakhtin (1974: 403):

O autor de uma obra está presente somente no todo da obra. Não será

encontrado em nenhum elemento separado do todo, e menos ainda no conteúdo

da obra, se este estiver isolado do todo. O autor se encontra no momento

inseparável em que o conteúdo e a forma se fundem, e percebemos-lhe a

presença acima de tudo na forma. A crítica costuma procurar o autor no

conteúdo separado do todo; conteúdo que é associado naturalmente ao autor,

homem de um tempo definido, de uma biografia definida e de uma visão de

mundo definida (a imagem do autor fica confundida com a imagem do homem

real).

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Vejamos, agora, uma atividade completa, já no volume de 2ª série, cuja

orientação indutiva, reflexiva, auxilia na compreensão:

Um sexto salta – parece.

Susto: o grupo desaparece.

E em seu rasto agora se estafa

O sol – amarela girafa. Retirado do livro Poemas, de V. Maiakovski, Perspectiva

Nacos de nuvem V. Maiakóvsky

No céu flutuavam trapos

de nuvem – quatro farrapos:

do primeiro ao terceiro – gente;

o quarto – um camelo errante.

a ele, levado pelo instinto,

no caminho junta-se um quinto.

Do seio azul do céu, pé-ante-

Pé, se desgarra um elefante.

1)Releia as duas primeiras estrofes do poema.

a) Qual dos desenhos109 você acha que corresponde às imagens descritas pelo autor nessas

estrofes?

a) Que palavras do poema indicaram para você como seria a imagem correta?

• ordem dos seres

• tipo de contorno

2) Na 1ª estrofe o autor usa as palavras “trapos” e “farrapos”.

a) Escreva com suas palavras o que são trapos e farrapos. Depois, confira no dicionário se você

acertou.

109 O livro traz uma ilustração (infelizmente não obtivemos autorização para reproduzir aqui) que tenta imitar os contornos dos seres formados pelos movimentos das nuvens descritos no poema.

180

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b) Você acha que estas palavras forma bem escolhidas para descrever as nuvens? Por quê?

3) No 1º verso Maiakovski escreve:

No céu flutuavam trapos.

Se ele tivesse escrito:

No céu se encontravam trapos” ou “No céu se arrastavam trapos”, a sensação para o leitor seria a

mesma? Por quê?

4) Na 3ª estrofe encontramos

A ele, levado pelo instinto,

No caminho junta-se um quinto

a) Quem seria “ele”?

b) Quem é o quinto que chega?

c) Observe as seqüências de desenhos. É possível ter certeza de qual traduziria a estrofe?

5) Na 4ª estrofe encontramos:

Do seio azul do céu, pé-ante-

pé, se desgarra um elefante.

a) O que você sentiu diante da imagem de um elefante andando pé-ante-pé? Essa é uma imagem

triste, divertida, aterrorizante, poética, misteriosa, leve ou...?

b) Por que será que o autor não escreveu a expressão pé-ante-pé todo na mesma linha?

c) Nesta estrofe aparece a palavra desgarra. Você sabe o que ela significa? Se não souber,

investigue seu sentido e escreva depois com suas palavras o que ela quer dizer.

d) Leia esta mesma estrofe só que agora com algumas palavras substituídas:

No seio azul do céu, logo adiante,

Encontramos um elefante.

Que imagem você forma ao ler o texto que Maiakóvski escreveu e o que nós escrevemos?

Existe diferença? Qual?

6) Na 5ª estrofe temos:

Um sexto salta – parece.

Susto: o grupo desaparece.

a) Observe os desenhos correspondentes às estrofes desde o início até agora. A imagem é a

mesma ou ela foi se transformando?

b) Como ficam as nuvens no céu? Ficam sempre iguais, paradas, ou se transformam?

c) Você acha que, com seu jeito de escrever, Maiakóvski conseguiu trazer para nós, leitores, a

mesma sensação de movimento das nuvens de verdade?

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d) Se você acha que sim, que palavras da poesia trazem essa idéia de movimento, de

transformação?

7) Na última estrofe encontramos:

E em seu rasto agora se estafa

O sol – amarela girafa.

Pense bem na imagem criada por Maiakóvski: o sol - amarela girafa. Depois, desenhe-a no caderno

e compare com a de seus colegas. Será que todos imaginaram da mesma forma?

8) Escreva no caderno o que você achou desse poema. Que tal?

(Coleção CE, 2ª série, p. 63-66)

Este tipo de atividade de leitura com um gênero poético é exemplar nesta

coleção. Na leitura do poema Nacos de Nuvem, como pudemos observar, o livro

guia o aluno, estrofe a estrofe, na observação e compreensão dos efeitos de sentido

do uso dos recursos lingüísticos. A estratégia é explorar paulatinamente o

vocabulário, as expressões e a disposição gráfica, como ocorre na questão 5, letra

b, sobre a expressão pé-ante-pé. A ênfase recai, neste caso, na exploração das

muitas imagens que o poema oferece, para tanto, lança mão do recurso da

ilustração que tenta expressar as imagens colocadas em cada estrofe. Mais uma

vez, o procedimento é lançar mão de uma linguagem, no caso a pictórica, para

encaminhar a construção da compreensão dos sentidos apresentados pelo material

verbal.

A argüição sobre o uso de algumas palavras e não outras, como pudemos

verificar na questão 3 parece também bastante instigante, porque não se trata de

mero exercício de substituição de termos sinônimos e sim de uma reflexão a respeito

dos usos de um termo e não outro e que efeitos de sentido isso provoca. Da mesma

forma acontece com a questão 5, item d. Lembremos aqui, com Bakhtin (1952-

1953/1979: 310-311), de que é preciso considerar a escolha de uma palavra pelo

todo do enunciado, e não pelo tom emocional inerente à palavra considerada

isoladamente:

182

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Quando construímos nosso discurso, sempre conservamos na mente o todo do

nosso enunciado, tanto em forma de um esquema correspondente a um gênero

definido como em forma de uma intenção discursiva individual. (...) É esse todo

que irradia sua expressividade (ou melhor, nossa expressividade) para cada

uma das palavras que escolhemos e que, de certo modo, inocula nessa palavra

a expressividade do todo.

O livro opta, ainda, no auxílio da leitura, por questões como dupla alternativa,

como no exercício 6, item a ou no exercício 5, item a. Ao final da atividade,

acrescenta-se um exercício lúdico e uma questão de sistematização, em que o aluno

apresenta sua apreciação sobre o poema.

Acreditamos que tal atividade atinge eficazmente, para este nível de

escolaridade, 2ª série, a poeticidade do texto apresentado, levando-se em conta a

série para que foi destinada. A atividade guiada estrofe a estrofe e as questões de

dupla alternativa parecem pretender treinar os olhos dos alunos para os detalhes

dos usos da linguagem, com determinados objetivos estéticos, embora isso fique

implícito nas comandas. A apreensão do estético, assim, é enfocada, mesmo que de

forma ainda cuidadosa e em pequenas doses.

O poema de Maiakóvski constitui um momento verbal, uma orientação para

um objeto que, como colocamos no segundo capítulo deste trabalho, foi

esteticamente individualizado. Como isso é realizado, nós só podemos pressupor

fazendo o caminho inverso, verificando indícios que, no poema, os recursos

lingüísticos nos fornecem, mas a análise formal é insuficiente. É preciso retomar o

fato de que a forma está ligada à orientação valorativa do autor sobre aquilo que

deseja falar. Assim, é claro, para o nível de escolaridade de segunda série, o

trabalho realizado aqui com o poema é satisfatório para uma formação inicial de um

leitor do texto literário poético.

Todavia, se pensarmos no que pode vir além, em termos do ensino dos textos

em gêneros poéticos em séries mais avançadas, é preciso reinvestir na noção de

tema bakhtiniano, ao qual se aliam o estilo e a forma composicional em sua

definição de gênero discursivo. Retomaremos esta questão mais adiante, já que ela

implica não só uma posição autoral, mas também a apreciação valorativa do objeto

estético pelo contemplador. Os contempladores, aqui, são os alunos, e quem está

183

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no meio do caminho aqui são as atividades dos livros didáticos que guiam os olhares

destes leitores iniciantes.

E, caso queiramos ser coerentes como nossa abordagem enunciativo-

discursiva pretendida para este trabalho, ao pensarmos, ainda, no enunciado poético

como um todo, para as atividades aqui reproduzidas faltam informações básicas que

contextualizem a obra, caso a queiramos concebê-la como um gênero discursivo, o

que não parece ser o caso do livro didático. Quem é Maiakóvski? Está vivo, morto,

tem nome difícil, é de onde? Como, quando e onde viveu? O que escrevia, quais

eram as suas idéias? Por que ele é trazido para a obra didática?

Estas informações estão além do nível de compreensão de um aluno de

segunda série? Acreditamos que não. O texto não é “nuvem passageira”, tem suas

raízes sócio-históricas, apesar de que para cada leitura singular cada um possa

enxergar contornos diferentes, como os das nuvens constantemente renovadas a

que o poeta se refere. Para Bakhtin (1974: 410)

Um texto - impresso, manuscrito ou oral, isto é, atualizado – não é igual à obra

em seu todo (ou ao “objeto estético”). A obra também engloba necessariamente

seu contexto extratextual. A obra parece envolver-se na música entonacional e

valorativa do contexto em que é compreendida e julgada (este contexto, claro,

varia conforme as épocas da percepção da obra, o que cria sua nova

ressonância). (Bakhtin, 1974: 410)

Vejamos mais dois exemplos de atividades que constam da segunda parte do

volume de 3ª série, que são dedicadas ao estudo gramatical, conforme frisamos no

inicio dessa seção.

O primeiro texto é a letra de canção Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa,

muito conhecida:

184

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Saudosa Maloca110

Adoniran Barbosa

Se o sinhô num tá lembrado,

Dá licença de contá,

é que onde agora está

esse edifício arto,

era uma casa véia,

um palacete assobradado.

Foi aqui, seu moço,

Que eu, Mato Grosso e o Joca

Construímo nossa maloca.

Mas um dia, nóis nem pode

Se alembrá,

Veio os home co’as ferramenta:

O dono mandô derrubá.

Peguemo toda as nossas coisa

E fumos pro meio da rua

Apreciá a demolição...

Que tristeza que nóis sentia,

Cada tauba que caía,

Doía no coração.

Mato Grosso quis gritá

Mas em cima eu falei:

- Os home tá co’a razão,

- Nóis arranja outro lugá.

Só se conformemo quando Joca falou:

-Deus dá o frio

conforme o cobertô.

E hoje nóis pega páia

Nas grama do jardim

E pra esquecer

Nóis cantemos assim

110 A letra foi transcrita ipsis litteris, conforme está no livro didático, apesar de que há variações na

letra conforme as várias gravações. Quando o próprio Adoniran canta, algumas subtrações finais do “s” em substantivos inexistem.

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Saudosa maloca

Maloca querida

Dim – dim donde nóis passemo,

Os dias feliz de nossa vida.

Vamos transcrever apenas algumas questões colocadas nas atividades de leitura para a letra de canção:

1 Uma das primeiras coisas que chamam a nossa atenção na letra desse música é ela

estar escrita em uma linguagem que não é a da norma culta, ou seja, essa que costuma

aparecer nos livros. Escreva em seu caderno o que você observa de diferente nela.

2 Experimente ver como ficaria a letra se fosse escrita na norma culta, reescrevendo a

segunda estrofe nessa linguagem.

3 O Adoniran poderia ter escrito dessa forma como você escreveu, não poderia? No

entanto, não o fez. Por que será?

4 Vamos comparar as duas formas de grafar as palavras:

senhor – sinhô

apreciar – apreciá

contar – contá

ligar – ligá

gritar – gritá

cobertor – cobertô

Explique por que, ao escrever em linguagem popular, as palavras que não tinham acento

na norma culta passaram a ter.

Há ainda questões sobre o significado da palavra maloca, sobre o título da

música e sobre o ditado popular Deus dá o frio conforme o cobertor.

Observamos que, em primeiro lugar, não há indicação, nem para o professor

nem para o aluno, para que escutem a canção. Perde-se com isso, a voz que

incorpora os sentimentos saudosos, perde-se a oportunidade de ouvir a própria voz

singular do Adoniran Barbosa, caso fosse esta a gravação.

Em segundo lugar, a canção é desrespeitada em sua própria constituição, a

linguagem popular aqui, como em qualquer música popular, é parte indissociável,

caso contrário, o adjetivo popular não caberia, a canção seria de uma outra coisa

qualquer, escrita por um outro compositor qualquer, e retratando uma situação

absolutamente diversa desta. Há uma dimensão discursiva a ser considerada, uma

história por trás da cada canção, um todo arquitetônico realizado por um todo

composicional, que é esquecido nas questões de análise. Lembremos, sobre este

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ponto, a feliz expressão de Bosi (2000:10) “uma história peculiar imanente e

operante em cada poema”, que traz à memória aqui a noção bakhtiniana de

enunciado e da comunicação estética como tal, única e irredutível.

Portanto, não procede esta preocupação em comparar as linguagens

“popular” e “da norma culta”; assinale-se que este movimento é uma constante nos

manuais didáticos ao proporem atividades de leitura de letra de canção e dos outros

gêneros poéticos. Na questão 3, encontramos uma pequena reflexão sobre o porquê

da escrita na variante popular, mas logo em seguida apresenta-se uma lista

comparativa e o discurso autoral exime-se de problematizar ou expressar alguma

posição a respeito, ficando a atividade, como um todo, mais dirigida à correção do

que à reflexão. A questão 4, ainda, confunde aqui transcrição por registro, ou seja,

sinhô, apreciá, contá, são transcrições da fala e não “linguagem popular”, como se

coloca na questão. Nada de relevante sobre os motivos da letra, o que ela traduz, a

que tema se refere, a que situação social alude, em que época, nada é empreendido

nas atividades.

Vejamos o que ocorre no segundo texto, a letra de canção João e Maria, de

Chico Buarque, presente no mesmo volume, páginas adiante: João e Maria

Chico Buarque de Holanda

Agora eu era o herói

E meu cavalo só falava inglês.

A noiva do cow-boy

Era você, alem das outras três.

Eu enfrentava os batalhões,

Os alemães e seus canhões.

Guardava o meu bodoque

E ensaiava o rock

Para as matinês.

Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigado a ser feliz

E voce era princesa

187

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que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

E andava nua pelo meu país.

Não, não, fuja não

Finja que agora que era o seu brinquedo,

eu era o seu pião,

o seu bicho preferido.

Vem, me dê a mão,

a gente agora já não tinha medo:

no tempo da maldade

Acho que a gente nem tinha nascido.

Agora era fatal

que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá deste quintal

era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo sem me avisar,

e agora eu era um louco a perguntar

o que e que a vida vai fazer de mim.

As questões iniciais propostas para o texto são as seguintes:

1 Você reparou que há algumas palavras sem acento? Então escreva-as em seu

caderno acentuando-as.

2 Copie em seu caderno os artigos da primeira e da última estrofe e também os

substantivos a que ele se referem. Agora ligue os artigos com setas aos substantivos

a que se referem.

3 Releia a segunda estrofe

a. Quais os substantivos variáveis em número e gênero que aparecem nessa

estrofe? Escreva-os em seu caderno.

b. Escreva um dos adjetivos dessa estrofe que se refere a um dos substantivos

do item a.

Como se pode observar, não há qualquer preocupação aqui com a leitura da

letra de canção. O texto é usado totalmente como pretexto para o estudo de tópicos

gramaticais, nenhuma referência à compreensão, sequer a mais elementar. Este

procedimento também é típico nas atividades que os livros didáticos propõem para

gêneros que entraram na escola na década de setenta, compondo a outra antologia.

188

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Assim, é comum vermos, não só em livros didáticos para ensino fundamental, mas

também para o ensino médio, o uso de charges, tirinhas, poemas pequenos,

anúncios publicitários somente como pretexto para a análise gramatical. O aluno é

convidado a localizar os termos gramaticais nestes textos, e depois proceder às

análises e classificações típicas. Parece que a outra antologia ainda não encontrou o

seu lugar nos manuais didáticos, ou os autores destes ainda não estão

adequadamente instrumentalizados para propor atividades efetivas e produtivas de

leitura destes gêneros.

Dessa maneira, o que pudemos observar na coleção CE, pela análise destas

atividades é que não há uma abordagem única em relação aos gêneros poéticos. Se

para o poema Nacos de Nuvem foi elaborada uma atividade interessante e produtiva

o mesmo não ocorreu para as atividades com as letras de canção aqui analisadas.

Isto pode ser efeito da estruturação da obra, como colocamos atrás, que divide

textos para leitura e textos para outras atividades. Mas o que guia esta seleção? As

letras de canção Saudosa Maloca e João e Maria também apresentam usos poéticos

da linguagem que poderiam ser bastante explorados. Vejamos o que podemos

depreender das próximas coleções.

6.2.2. A coleção LPT A coleção LPT, diferentemente da coleção CE, vai centrar suas atividades

envolvendo textos em gêneros poéticos nas estratégias básicas de leitura, na

exploração da temática e nas atividades lúdicas. De fato, grande parte das

atividades nesta coleção não explora os recursos da linguagem poética, cuja

incidência não passa de 5% das atividades. Vejamos alguns exemplos.

Na 1ª série, para o poema da Mário Quintana “Os poemas”, o livro propõe as

seguintes questões:

b) Ouça a declamação do poema feita pelo professor

c) O que você sentiu ao ouvir o poema?

(Coleção LPT, 1ª série, p. 119)

189

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Em nosso capítulo inicial neste trabalho, discorremos sobre a crítica do

Círculo de Bakhtin às correntes de análise de obras artísticas cujo enfoque recaía

sobre a psique do criador e/ou contemplador, como parece ser a orientação dessa

atividade. Rejeitando a teoria da expressão que embasa o subjetivismo

individualista, Volochinov (1929) assinala a natureza social de qualquer enunciação:

O centro organizador de toda enunciação, de toda expressão, não é interior,

mas exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo. (Volochinov,

1929: 121)

Assim, o livro se equivoca em tomar como foco da leitura as questões que

solicitam a expressão de sentimentos provocados pelos textos poéticos nos alunos,

pois não é na psique que se apreende esteticamente uma obra. O movimento de

apreciação tem uma orientação que é essencialmente social, a arte é o social em

nós, conforme dizia Vygotsky, frase já lembrada por nós nos capítulos iniciais deste

trabalho.

Mais adiante, no mesmo volume, temos mais um exemplo de atividade que

concentra apreensão global, a localização de informações e a apreciação afetiva, a

partir do poema de Nancy Ortencio, Aninha a muriçoca. A letra b deste exercício

traz, mais uma vez, uma solicitação que pouco contribui para uma efetiva apreciação

estética do texto poético, pois enfoca a opinião do aluno sobre “a forma como o

poema foi escrito”:

a) Sobre o que o texto fala?

b) O que você achou da forma como o poema foi escrito?

c) Em que versos você encontra:

. Os hábitos de Aninha

. A refeição preferida de Aninha

Para uma 1ª série, esta questão parece um tanto ampla, já que exige reflexão

sobre a forma e uma opinião valorativa que, na melhor das hipóteses, deve,

provavelmente, resultar apenas na paráfrase do texto lido. Se um trabalho

sistemático fosse realizado anteriormente, de reflexão dos usos lingüísticos para a

construção dos sentidos do poema, e a questão ocupasse um papel de

190

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sistematização final, poderia surtir melhores efeitos. De fato, o que temos

presenciado nas atividades são questões colocadas de forma aleatória que não

somente se restringem à exploração de estratégias cognitivas básicas de leitura

aplicáveis a quaisquer gêneros, como também não obedecem a quaisquer

planejamentos no sentido de promover o ensino-aprendizagem dos recursos

lingüísticos próprios dos enunciados poéticos de forma mais coerente e organizada.

Algumas vezes, a questão solicita uma produção de inferência que na

verdade é o desvelamento de uma imagem do poema. Observemos este exemplo,

cuja formulação deixa a desejar, sobre o poema Os operários, de Roseana Murray:

Pense e escreva: Porque a autora diz poeticamente que “Os operários fabricam o

circo”? (Coleção LPT, 2ª série, p. 119)

Mais adiante, o livro coloca:

Em dupla, expliquem após uma conversa, por que a autora diz, em relação aos

operários:

“como a aranha fabrica a teia

como a noite fabrica o dia”

(Coleção LPT, 2ª série, p. 120)

Conforme podemos observar nas formulações, não há ensino, não há

qualquer orientação da leitura que favoreça a compreensão dos efeitos de sentido,

das imagens do poema. Uma abordagem mais consistente das imagens

encontradas nos enunciados poéticos faz-se necessária desde os primeiros contatos

do aluno com o texto poético, sem que isso signifique a apreensão de

nomenclaturas, como os termos metáfora, metonímia, etc. Assim, como se pode

proceder a uma gramática reflexiva, aqui também, em termos de análise dos

recursos lingüísticos que realizam e mobilizam diferentes imagens nos gêneros

poéticos, deveria se optar por uma orientação mais reflexiva, guiada por questões

que desembocassem em conclusões e sistematizações por parte dos alunos.

Entretanto, tudo se centra no processo interacional como se, ao conversar com o

191

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colega, o aluno pudesse decifrar os “enigmas” do texto. Não há uma exploração

orientada e paulatina dos aspectos lingüísticos, como vimos acontecer na coleção

CE, com o poema Nacos de Nuvem, através de uma atividade de leitura dirigida

especialmente para observação dos usos poéticos da linguagem.

Uma atividade interessante que pudemos observar na coleção LPT é a

comparação da linguagem poética e da linguagem pictórica. Um exemplo

encontramos na 3ª série, ao se comparar o poema Ar livre, de Cecília Meireles e o

quadro Jovem com sombrinha, de Monet. O livro coloca a seguinte questão:

Na sua opinião, o quadro de Monet se relaciona de alguma forma com os versos de Cecília Meireles?

Explique o que você pensou sobre a relação que estabeleceu. Ouça a opinião de seus colegas e

conheça a relação estabelecida por eles.

(Coleção LPT, 3ª série, p. 178)

Para compararmos as duas linguagens, é preciso reconhecer em uma e em

outra suas peculiaridades, seus traços singulares para analisá-los em termos de

semelhanças e diferenças; entretanto a coleção não procede ao ensino que

promova a apreensão destas características, nem poéticas nem pictóricas, ou

desloca o olhar da materialidade lingüística produtora dos efeitos de sentido para o

terreno do imaginário:

a) Releia os verso do poema “Ar livre” de Cecília Meireles.

“Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem

É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas.”

b) Quais imagens vêm a seu pensamento durante a leitura desses versos?

c) Como é a menina translúcida na sua imaginação?

d) Com quais cores você pintaria a cena desses versos?

(Coleção LPT, 3ª série, p. 176)

O modo de abordagem do poético, portanto, para a coleção LPT, centra-se

absolutamente na subjetividade do aluno, não há sistematização e quando há uma

tentativa, na 4ª série, o discurso autoral parece-nos, no mínimo, inapropriado:

192

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Para você, há diferença entre poema e poesia? E poética, o que será? Converse com os

colegas a respeito. Se necessário recorram ao dicionário e peçam ajuda ao professor. Para

ajudar:

Poema: Composição poética de certa extensão com enredo

Poesia: Arte de escrever em versos. Poema pouco extenso. Tudo o que desperta emoção

estética. Encantamento.

Poético: Relativo a poesia. Em que há poesia

(Coleção LPT, 4ª série, 113)

Caso fôssemos avaliar estas definições, algumas imprecisões conceituais

poderiam ser observadas: uma composição poética com enredo. A que se refere o

termo enredo? De um poema narrativo, ou épico, poderíamos depreender um

enredo, nos termos de uma seqüência narrativa de episódios, mas onde haveria

enredo num soneto, se pensarmos nos mais clássicos, ou num haicai? Esta

designação é própria da teoria da narrativa, e não dos estudos relativos às

produções poéticas. Já a definição de poesia como “poema pouco extenso” parece-

nos, da mesma forma, muito inapropriada, pois, como medir esta extensão? Poemas

extensos não têm poesia? De que valem estas definições tão confusas? Poesia é

encantamento? Não pode ser protesto, indignação, não pode desencantar, chocar?

O mais lamentável ainda é que tais definições descabidas são colocadas

como conceitos para auxiliar na atividade de pesquisa solicitada, o que, no mínimo,

irá desorientar e confundir os alunos. De nada vale conceituar poema, poesia,

poética nesse nível de ensino, em nada contribui na formação do leitor para a

apreciação da obra estética, é a mesma coisa de exigir dos alunos pesquisa em

gramática para definir classes de palavras ou termos da oração para ajudar na

leitura ou produção textual, isto é absolutamente infrutífero.

6.2.3. A coleção PPLL

A coleção PPLL, assim como a coleção LPT, apresenta o maior número de

atividades referentes aos textos em gêneros poéticos focalizadas nas estratégias

básicas de leitura, seguidas, em incidência, de atividades que exploram os recursos

193

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mais próprios da linguagem poética. Vejamos como isso é operacionalizado na

proposta pedagógica.

A introdução das questões poéticas na coleção dá-se na 1ª série, através da

clássica definição:

O texto que você leu é um poema. Cada linha de um poema é chamada de verso. Um grupo de

versos é chamado de estrofe. Um poema pode ter várias estrofes. Elas aparecem separadas umas

das outras por um espaço. (Coleção PPLL, 1ª série, pp. 79-80)

As rimas são trabalhadas mais adiante no volume, com solicitação para que os

alunos, após a leitura e observação formulem um conceito de rimas:

Observe as palavras das perguntas anteriores. Para você o que são rimas?

Todos os poemas que existem têm rimas? Como você sabe?

(Coleção PPLL, 1ª série, p. 83)

No volume de 2ª série, encontramos uma longa atividade de leitura que vai

explorar o poema Aos poetas clássicos, de Patativa do Assaré. Como na coleção

CE, o estudo é feito com a retomada de cada estrofe; neste caso, contudo, há uma

maior preocupação com as estratégias básicas de leitura e com a exploração do

vocabulário, para compreender o texto de forma global. Apenas uma questão é feita

ao final, de apreciação afetiva:

Aos poetas clássico

Poetas niversitário,

Poetas de Cademia,

De rico vocabularo

Cheio de mitologia;

Se a gente canta o que pensa,

Eu quero pedir licença,

Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento

O prazê e o sofrimento

194

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De um poeta camponês

Eu nasci aqui no mato,

Vivi sempre a trabaiá

Neste meu pobre recato,

Eu não pude estuda

Só tive a felicidade

De dá um pequeno insaio

In dois livro do iscreitô,

O famoso professo

Filisberto de Carvaio

(...)

Poeta niversitaro,

Poeta de cademia,

De rico vocabularo

Cheio de mitologia

Tarvez este meu livrinho

Não vá recebe carinho,

Nem lugio e nem istima,

Mas garanto sê fié

E não instruí papé

Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo

Quero iscrevê meu volume,

Pra não fica parecido

Com a fulô sem perfume;

A poesia sem rima,

Bastante me disanima

E alegria não me dá;

Não tenho sabô a leitura,

Parece uma noite iscura

Sem istrela e sem lua

Se um dotô me pergunta

Se o verso sem rima presta,

Calado eu não vô fica,

A minha resposta é esta:

-Sem a rima, a poesia

Perde arguma simpatia

E uma parte do primo;

195

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Na mercê munta parma,

É como o corpo sem arma

E o coração sem amô.

(...)

(Coleção PPLL, 2ª série, p. 55-56)

Um poema pode ou não ter rima. O poeta camponês prefere poema com rima. Você gosta da rima na

poesia? E de poemas sem rimas? Por quê?

(Coleção PPLL, 2ª série, p. 62)

poeta camponês aqui é Patativa do Assaré, o autor que prefere poemas

com ri

A rima tornou-se um dos expedientes estéticos mais importantes da poesia

O que acontece em nosso poema de cordel é uma inversão destes dizeres,

no es

coração.

O

mas, mas as questões do livro não se atêm ao fato de que este recurso não

pode ser abstraído de um todo complexo que constitui a obra exterior e mais todas

as condições de produção que a envolvem. Não é uma questão, como colocamos há

pouco, de uma escolha deliberada de procedimentos formais de Patativa, mas algo

que está inserido no todo estético, criado e recriado não só pelo autor, mas pelo

contemplador, como nos lembra Bakhtin (1920-1930/1979: 83), um todo artístico

onde estarão presentes os elementos estéticos necessários. Assim, a rima seria um

elemento dentro do universo da obra que serviria a certos propósitos ou se

coadunaria com as características do espaço sócio-histórico em que a obra se

insere, no caso o poema de cordel. Esclarece-nos Spina (2002: 79), estudioso das

formas poéticas, que

civilizada; por isso mesmo é que os jogos rímicos da poesia culta chegaram a tal

requinte de virtuosismo que rara a poesia que dessa forma não esteja alheia à

inspiração ou não manifeste mediocridade.

paço plurilíngüe das manifestações mais populares, a presença da rima é

qualidade poética, nas palavras do poeta cearense, é arma do corpo, é amô do

196

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Spina (2002) também aponta para o fato de que as rimas estão ligadas à

época ou espaços em que a memorização é imprescindível como hinos dos santos

varões

o,

explica

da igreja cristã ou em provérbios, máximas, ditados, sentenças morais.

Retornando à atividade, no caso de nosso Patativa do Assaré, ele expressa no

poema a necessidade da rima, pois esta faz parte do conjunto do todo artístico que

compõe a poesia popular, podendo ter função mnemônica ou construindo uma

consonância sonora que enleva a toada, o ritmo, conferindo alegria ao poeta e aos

ouvintes. E o poeta, sendo toda a sua linguagem, nela se expressa em defesa de

sua compreensão da importância dos recursos poéticos em seu universo artístico.

No mesmo volume de 2ª série, há um trabalho mais específico sobre

imagens. O discurso autoral procura, usando uma linguagem mais próxima do alun

r as figuras metáfora e onomatopéia, procedendo a uma paráfrase que tenta

aproximar o leitor dos sentidos construídos pelas imagens. Observemos um trecho:

Em várias partes do poema, palavras e expressões são usadas para representar algo

diferente do que está sendo dito. Por exemplo, você leu no poema que existia muita montanha

quadrada. Esse foi o jeito diferente que o autor encontrou para falar dos prédios da cidade, que são

grandes como as montanhas, mas não redondos como elas.

(Coleção PPLL, 2ª série, p. 187)

No capítulo inicial deste trabalho, discorríamos sobre as imagens poéticas,

onio Candido, desfazem e refazem o mundo e, no dizer bakhtiniano,

são m

que, para Ant

ovimentos do discurso poético que, “orientado diretamente para o seu objeto,

esquece, no caminho de sua construção, os usos cotidianos da linguagem, para

autorizar a linguagem do poeta. Os livros procuram ”cercar” estas imagens de

alguma forma, seja por meio de nomenclaturas explícitas advindas das teorias

literárias, dos tratados de versificação e da estilística. Na atividade acima, dirigida à

2ª série, a escolha feita foi, como frisamos, parafrasear, traduzir as metáforas para o

aluno, tentar explicitar as comparações, como um jeito diferente que o autor

encontrou para se expressar. Esta estratégia nos parece apropriada ao nível de

escolaridade, contudo, deve-se salientar a necessidade de uma progressão na

leitura destas imagens no decorrer das séries, como colocamos, há pouco, para as

atividades que enfocam a forma composicional.

197

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Além disso, vale lembrar que está em jogo no estudo destas imagens,

diferentes movimentos da linguagem em relação à construção e reconstrução dos

sentid

a mais correta de formular a inter-relação do tema e da significação é a

seguinte: o tema constitui o estágio superior real da capacidade lingüística de

Dicotomias como linguagem cotidiana e linguagem literária, denotação e

onotação, linguagem própria e linguagem figurada também em nada nos auxiliam

para a

istinções com as que se estabelecem entre o sentido usual e ocasional de

ma palavra entre o seu sentido central e os laterais, entre denotação e

os, que precisam ser apreciados no interior do espaço discursivo apresentado,

nas fronteiras do enunciado poético, não de forma isolada, com questões que visem

unicamente explorar os significados descontextualizados das palavras nos

dicionários.

Para Bakhtin/Volochinov (1929: 131), faz-se mister a distinção entre tema e

significação:

A maneir

significar. (...) A significação é o estágio inferior da capacidade de significar. A

significação não quer dizer nada em si mesma ela é apenas um potencial, uma

possibilidade de significar no interior de um tema concreto. A investigação da

significação de um ou outro elemento lingüístico pode, segundo a definição que

demos, orientar-se para duas direções: para o estágio superior, o tema; nesse

caso, tratar-se-ia da investigação da significação contextual de uma dada

palavra nas condições de uma enunciação concreta. Ou então ela pode tender

para o estágio inferior, o da significação: nesse caso, será a investigação da

significação da palavra no sistema da língua, ou em outros termos, a

investigação da palavra dicionarizada.

c

apreensão da obra estética, caso sejam trazidas pelos livros didáticos no

contexto de exploração das imagens poéticas. Bakhtin/Volochinov (1929: 131)

assinala:

Tais d

u

conotação, etc., são fundamentalmente insatisfatórias. A tendência básica

subjacente a todas essas discriminações – de atribuir maior valor ao aspecto

central, usual da significação, pressupondo que esse aspecto realmente existe e

198

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é estável – é completamente falaciosa. Além disso, ela deixaria o tema

inexplicado, uma vez que ele de maneira nenhuma poderia ser reduzido à

condição de significação ocasional ou lateral das palavras.

Em alguns momentos na coleção, podemos obser

var um movimento em

lação ao gênero como objeto de ensino, embora de forma ainda difusa. Na 3ª re

série, explora-se o gênero letra de canção a partir das atividades de leitura do texto

Peguei um Ita no Norte, de Dorival Caymmi. Vejamos as questões:

1. O que é uma letra de música?

2. Vocês conhecem muitas letras de músicas? Dêem alguns exemplos de letras que

vocês saibam inteiras

3. Ler uma letra de música é o mesmo que ouvi-la junto com a música? Por quê?

(Col 183) eção PPLL, 3ª série, p.

Mais adiante, ao término da atividade, o livro preocupa-se em trazer um texto

complementar feitos pelos próprios autores do livro, intitulado: Letra de música é

poema

coleção AML

itativos, a coleção apresenta um bom número de gêneros

poéticos, a maior quantidade entre as 4 coleções, entretanto, a ênfase no trabalho

temáti

? (p. 186-187). Assim, pudemos observar nesta coleção PPLL uma

abordagem bastante heterogênea em relação aos gêneros poéticos. Ao mesmo

tempo em que a ênfase recai sobre as estratégias de leitura, com vistas à

compreensão do texto, em alguns momentos o livro vai abordar os aspectos

lingüísticos, como as metáforas e as rimas. Em outros momentos, o olhar vai recair

sobre a questão genérica, fornecendo informações a respeito de alguns gêneros e

suas peculiaridades. Tratamos agora da coleção AML, que fecha este bloco de

análise.

6.2.4. A

Em termos quant

co, que costura os textos entre as unidades, talvez tenha dirigido o olhar,

muitas vezes, para a discussão e apreciação do conteúdo temático de forma

desassociada, sem retorno aos aspectos lingüísticos dos textos, em relação à

dimensão poética.

199

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Apesar de privilegiar as estratégias básicas de leitura, como a localização e

cópia de informações e inferências simples, aos poucos, a partir do segundo volume,

propõe

pode brincar com os

gênero

nção

sicionais que realizam a forma e

sobretudo a unidade do conjunto verbal da obra, unidade no seu aspecto formal,

das:

-se que o aluno preste atenção nos recursos estéticos próprios dos gêneros

poéticos, como a sonoridade, as rimas e a polissemia. Isto é mais evidente na

terceira série, mas ocorre apenas pontualmente na série final.

Na série inicial, as atividades lúdicas com os gêneros poéticos são bastante

recorrentes, como na coleção toda. De várias formas, o aluno

s: cantando, desenhando, brincando de adivinha, de roda ou parlenda.

Aspectos da forma composicional também são explorados localmente, como

a estrofação, os refrões, a repetição. As atividades propostas para o poema Ca

de nuvem vento, de Mário Quintana, na terceira série, por exemplo, reúnem

questões que procuram explorar os aspectos formais, buscando a percepção do

aluno para os detalhes lingüísticos e gráfico-visuais, salientando as funções destes

recursos, embora ainda haja uma tendência maior para a localização destes

recursos no texto, em detrimento da reflexão sobre o(s) significado(s) destes

elementos para a compreensão do enunciado poético como um todo. Sobre este

aspecto, Bakhtin também nos é esclarecedor:

A unidade de todos os momentos compo

é baseada não naquilo que se fala ou de que se fala, mas na maneira como se fala111, no sentimento de uma atividade de elocução significante, que deve ser

sentida continuamente como atividade única, independentemente da unidade

objetal e semântica de seu conteúdo. (Bakhtin, 1924/1975: 63)

Transcrevo abaixo o poema e as questões 2, 3 e 4 coloca

111 Ênfase adicionada.

200

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Alguns gêneros particulares como o limerick e o haicai são trabalhados.

Temos, por exemplo, a leitura de um limerick (Limerick do computador, n° 1, de

Sérgio

rsos. Os dois primeiros rimam entre si. O terceiro e o quarto

mbém. O último verso repete a idéia do primeiro, criando uma narrativa circular. A base

desse texto poético é o “nonsense”, portanto, as situações narradas podem ser absurdas,

insólitas. O que vale é o desafio de garantir, nessa estrutura, uma narrativa. Faça os primeiros

Canção de nuvem e vento Medo da nuvem Medo Medo Medo da nuvem que vai crescendo Que não sabe O que vai saindo Medo da nuvem Nuvem Nuvem Medo do vento Medo Medo Medo do vento que vai ventando Que vai falando Que não se sabe O que vai dizendo Medo do vento Vento Vento Medo do gesto Mudo Medo da fala Surda Que vai movendo Que vai dizendo Quem não se sabe Que tudo é nuvem que tudo é vento Nuvem e vento Vento Vento!

2. Quais os recursos que o poeta usa para mostrar a) que a nuvem vai aumentando de

tamanho? b) Que o vento vai aumentando de

intensidade? 3) Canção significa uma composição poética feita para ser cantada. Isso não significa, necessariamente, entoar uma melodia. Em “Canção de nuvem e vento”, as palavras forma arranjadas para dar uma sonoridade especial ao texto: a) Alguns versos lembram um

rodamoinho, que é o giro rápido do vento, formando círculos ou espirais; chama-se, também, pé-de-vento. Desenhe um rodamoinho sobre os versos em que ele parece acontecer.

b) A terminação de algumas palavras lembra o movimento do vento. Elas parecem estar prolongando as ações. Isso acontece nas palavras terminadas em “-ando”. “-indo e”-endo”. Sublinhe estas palavras.

c) Circule a vogais para descobrir a que

mais se repete. Depois explique o que a repetição dessa vogal pode significar.

Capparelli) na segunda série e depois a solicitação, com instruções passo a

passo, para a produção de um limerick. Parece uma atividade bastante interessante,

que extrapola a preocupação com o conteúdo e caminha em direção, ainda que se

centrando na forma composicional, ao gênero poético. As indicações, por exemplo,

dadas ao professor, tratam da composição do limerick, mas nada dizem sobre sua

origem ou seus desdobramentos:

O limerick é um poema de cinco ve

ta

201

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limericks coletivamente, pois depois de entendidas as regras da brincadeira, fica fácil fazer

limericks para tudo. (Coleção AML: 150)

Segundo Mattoso

impro o a dos motes e glosas dos repentistas

denominação deste gênero poético vem do nome da cidade irlandesa

de Li

erick em

terras tupiniquins foi o poeta e letrista paraibano Bráulio Tavares, que rebatizou o

ênero como "limeirique", trocadilhando com o lendário cantador conterrâneo Zé

re o

gênero poético sejam insuficientes para ca

para o professor na página que traz o haicai de Abel Pereira:

o

professor apenas a seguinte instrução:

112, a origem do limerick está ligada ao anonimato, à

visação e à musicalidade, tal com

nordestinos. A

merick. Em relação à temática, o limerick promove uma mistura do chulo e do

cômico, conforme assinala o autor, seguindo a tradição transgressiva e clandestina

da poesia popular, ou seja, o desafio ao proibido, em parceria com a sátira de

costumes. Mattoso ainda acrescenta que os primeiros limericks impressos

apareceram em Londres em 1821, no livro The History of sixteen wonderful old

women, de John Harris, embora ainda não fossem humorísticos. O primeiro escritor

a perceber o potencial jocoso do limerick foi Edward Lear (1812-1888), no livro Book

of nonsense (poemas e desenhos), de 1846. Conforme Mattoso, foi justamente esse

lado anedótico que espalhou a fama e a febre do limerick. E completa:

Assim como o haicai se ocidentalizou, também o limerick sofreu adaptações no

português do Brasil. Quem mais contribuiu para a divulgação do lim

g

Limeira, conhecido como o "poeta do absurdo"

Na terceira série aparecem, ainda, os haicais, embora as indicações sob

racterizá-lo. Há uma breve informação

Haicai é uma forma poética tradicional no Japão. Trata-se de um texto conciso

geralmente composto por apenas três versos que tematizam a natureza (Coleção AML,

p. 109)

Sobre o poema Arco-íris, de Helena Kolody, os autores trazem para

112 Ver site http://www.roteirosonline.com.br.htm, de Glauco Mattoso, para obter mais informações sobre os limericks, bem como conhecer alguns exemplos.

202

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Observe que este poema também é um haicai. Compare sua estrutura com o haicai de

Paulo Leminski. A turma perceberá que 113

eles têm o mesmo número de versos e ambos

falam da natureza . (Coleção AML, p. 125)

exem ante o seu objeto e a síntese espaço-

temp . No dizer de Castro (2004):

enas 5-7-5 sílabas, num contorno sensual de

apenas três versos (sem titulação, sem rima, sem pontuação, tema – o da

icai,

distinguindo-o num universo de quaisquer pequenos poemas de três versos. A

ossa pergunta é se, com a falta destas indicações, a atividade de produção textual

lorativa do autor sobre seu

Outras condições de produção do gênero, contudo, são omitidas, como, por

plo, a atitude contemplativa do poeta

o

O haicai, segundo suas origens, despe-se do supérfluo para conter a fagulha do

tempo/espaço e do dizer de ap

natureza, seu maior comprometimento), e que, nos domínios das linguagens

escrita e oral-visual, despertará as imagens adormecidas, as quais comporão o

poema. (Castro, 2004: 44)

Conforme compreendemos, tais características singularizam o ha

n

colocada na página 109 do volume, com o objetivo mesmo de produzir haicais (ou

algo próximo a isso), não seria, no mínimo, desvirtuada. Escrever um poeminha de

três versos que falem da natureza não garante um haicai. Temos aqui um exemplo

que retomaria a discussão do capítulo 3 sobre os gêneros em sua circulação

habitual e os alcances e limites de sua escolarização.

As orientações da atividade de produção que se coloca não perfazem

satisfatoriamente a escrita do gênero poético haicai, que levaria em conta as suas

condições de produção, sobretudo a apreciação va

objeto, que vai se expressar no estilo do gênero, muito além dos aspectos

puramente formais:

113 Segundo CASTRO (2004: 32), na poesia haikaística oriental e, do mesmo modo, na oriental

abrasileirada, os temas são da natureza (estações do ano). No haicai ocidental e naturalizado brasileiro, os termas ganham um alargamento maior, quando partindo dos temas da natureza, aglutinam aos processo de criação outros temas, como os líricos, filosóficos, sociais, ecológicos (delativos), de registros e outros.

203

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Invente haicais para outros seres que têm luz própria, que brilham ou que refletem a luz.

Por exemplo: estrela, Sol, ouro, água, olho, diamante, cristal, prata, Lua, dente, vidro,

espelho. Depois de reestruturar o texto com o professor, escreva-o num papel decorado

com papel brilhante, purpurina, celofane e tudo o mais que possa dar um brilho especial

ino

dos gêneros poéticos e suas características neta coleção. Para alguns gêneros,

lgumas atividades mais elaboradas, como vimos na leitura da Canção

o objeto de ensino, mas apenas como textos acessórios, cujas

carac

Na análise das coleções das séries iniciais, pudemos observar dois

1)

ens mistas, que enfocam tanto aspectos elementares da forma

omposicional dos gêneros poéticos, quanto em relação às características

Esta a elestin Freinet, em

ue se concebe o ensino dos textos literários com base num aprendizado de língua

portug

ao seu haicai. Escolha, com os colegas, um lugar na escola para fazer a Mostra de

Haicais da Turma. (Coleção AML: 109)

Como estamos observando, não há uma progressão planejada para o ens

encontramos a

de nuvem e vento; outras vezes, são superficialmente tratados, como na produção

dos haicais.

Acreditamos que, elencadas e comentadas as atividades propostas aos

gêneros poéticos na coleção AML, podemos concluir que esta não toma estes

gêneros com

terísticas são superficialmente tratadas. A imersão nos textos, ressaltada pelos

autores, não ocorre em relação aos gêneros poéticos, há apenas um passeio rápido,

o que subestima as qualidades dos textos e desavaloriza a própria coletânea.

6.2.3. Conclusões parciais para as coleções de 1ª a 4ª séries:

movimentos:

Uma abordagem que prioriza o imaginário, a subjetividade;

2) Abordag

c

próprias dos diversos gêneros, além da contraparte lúdica.

Das quatro coleções analisadas, apenas uma, a LPT se enquadra no modo 1.

bordagem, acreditamos, está influenciada pela idéias de C

q

uesa como livre expressão. Assim, ao aluno cabe experienciar a leitura do

texto literário, deleitar-se, fruir dele, numa pedagogia que privilegia o imaginário e a

204

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subjetividade, numa visão mais individualista e psicologizante. Para Schneuwly e

Dolz (1997/2004: 78):

A situação de comunicação é vista como geradora quase automática do gênero, que não é descrito, neescolar, por meio d

m ensinado, mas aprendido pela prática de linguagem os parâmetros próprios à situação e das interações com os

outros. A naturalização aqui é de outra ordem: o gênero nasce naturalmente da situação. Ele não é prescrito, nem tematizado como forma particular que toma

em

uitos manuais didáticos: coloca-se a criança em contato com os diversos textos,

uma imersão e, assim, sem quaisquer ações de ensino, ela aprende fazer fazendo,

“por

re o jogo

e a po

ora estão circulando em outra esfera, a escolar, que

supõe

um texto. O gênero não parece como tal no processo de aprendizagem; ele não é um instrumento para o escritor que reinventa cada vez a forma lingüística que lhe permite a comunicação. Aprende-se a escrever, escrevendo, numa progressão que é, ela também, concebida como natural, constituindo-se segundo uma lógica que depende tão-somente do processo interno de desenvolvimento.

Esta concepção de ensino-aprendizagem parece ter adentrado na escola e

m

n

osmose”. Em relação ao texto literário, este caminho parece ser o mais fácil e o

mais superficial, privilegia-se a apreciação afetiva da criança sobre os textos e nada

dele se ensina, nada passa além do contato lúdico com os diversos textos.

Este caráter lúdico dos gêneros poéticos é muito explorado, prática que

advém, certamente, da crença na estreita relação entre o poético e o jogo. Muito

embora reconhecendo esta proximidade, mesmo em termos históricos, ent

esia, e ainda, acreditando que o fator lúdico é primordial para a aproximação

da criança com os gêneros poéticos, não podemos deixar de salientar que centrar a

atividade de ensino de um objeto no seu caráter lúdico não vai resultar na

aprendizagem desse gênero, tanto em relação aos seus traços lingüísticos e

formais, como no sentido das condições de produção que o cercam, como

enunciados concretos situados em um tempo e espaço determinados, e

axiologicamente concebidos.

Obviamente, alguns gêneros poéticos, sobretudo os da tradição oral, têm, em

suas esferas originais, o caráter lúdico como a própria razão de ser, mas é preciso

pensar que estes gêneros ag

, é claro, práticas de ensino-aprendizagem e que, se as atividades lúdicas

forem privilegiadas, o ensino desaparece.

205

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É certo que alguém poderia questionar a utilidade do ensino-aprendizagem de

gêneros da tradição oral, por exemplo. Temos que nos lembrar que não só estes

gêneros têm sido referência para os escritores de literatura infantil em suas

produç

centrar-se somente nas

estraté

omposicional dos diferentes gêneros, optando por uma

model

da literatura infanto-juvenil, como vimos na análise de

textos

ões, como também o conhecimento destes significa, em primeira instância, a

rememoração e a preservação de um patrimônio cultural.

Já as coleções CE, PPLL e AML parecem se enquadrar mais ao segundo

modo de abordagem. Como apresentam atividades variadas, ora vão centrar-se nos

aspectos lingüísticos próprios do poético, ora vão

gias de leitura necessárias e no estudo do vocabulário para compreensão

mínima do texto, ora vão fazer proceder a uma tentativa de descrição e/ou

contextualização de alguns gêneros poéticos. Entretanto, pelo que pudemos

observar, mesmo nos exercícios de leitura mais guiados, como ocorre com as

coleções CE e PPLL, os aspectos lingüísticos abordados dizem respeito, em muito,

aos aspectos mais elementares forma composicional. Abordar o poético através de

seus aspectos da forma material parece ser visão herdada da tradição dos estudos

literários e lingüísticos que concebe o texto como mera estrutura, com ênfase nos

aspectos formais da linguagem, sem referência às condições de produção, aos

aspectos sócio-históricos em que, ao mesmo tempo, inscrevem-se e circunscrevem-

se os textos literários.

Assim, influenciados, ao longe, pelo estruturalismo, pelo formalismo russo e

pela nova crítica, a visão dos livros didáticos sobre literário, daí advinda, vai se ater

sobretudo à forma c

ização de estruturas e aspectos do literário, de forma, muitas vezes,

equivocada e restrita à leitura de autores e textos canônicos, exemplares de certos

estilos e procedimentos.

Contudo, o privilégio dado a autores canônicos não foi escolha dos autores

dessas coleções das séries iniciais, e sim uma seleção de textos mais próximos do

universo infantil, oriundos

e autoria. Isto ao mesmo tempo é positivo, pois abre um leque de

possibilidades oferecido pela produção poética contemporânea, mas, por outro lado,

constitui um desafio para a apreensão e ensino das inovações poéticas e

experimentos que possam advir.

206

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Enfim, a ênfase nos aspectos formais não pode ser considerada um

problema, o reconhecimento de versos, rimas e estrofes deve ser trabalhado

princip

s aspectos

que co

m relação ao poético, para as séries iniciais,

princip

avés da análise das

ativida

almente nas séries iniciais. O que resta saber se há um avanço em direção a

outros elementos do estilo, nas séries mais avançadas, de 3º e 4º ciclos.

O caminho para a consideração dos gêneros poéticos como objetos de ensino

é de fato longo e parece distante, pois supõe uma abordagem de múltiplo

mpõem esses enunciados. Os gêneros poéticos oferecem ao leitor/ouvinte a

oportunidade de comungar com o processo criativo que, nas palavras de Bakhtin

(1924/1975: 62), penetra no material-palavra. O aspecto sonoro da palavra é um dos

elementos que é engendrado e a formalização rimática constitui parte deste

processo, embora não obrigatória. Contudo, este procedimento não é autônomo

nem dissociado de um conjunto, faz parte de uma atividade única, valorativamente

orientada na expressão estética.

É claro não estamos exigindo que o livro didático opere nestes termos,

reestruturando suas atividades e

almente, em que a criança está em processo de aquisição da escrita ou

recém-alfabetizada. Apenas gostaríamos aqui de marcar, mais uma vez, o fato de

que, um aspecto da forma composicional dos gêneros poéticos, como as rimas,

pode (e deve) ser referido ao conjunto todo do objeto poético em questão. Como

bem salientou Bakhtin (1924/1975: 54), é importante compreender justamente a

originalidade do objeto estético, como tal, e a originalidade da ligação puramente

estética dos seus elementos, ou seja, de sua arquitetônica [...]. De fato, se

quisermos ensinar gêneros poéticos como gêneros discursivos, acreditamos que só

há um caminho, que é assumir a necessidade de se apreender a obra poética como

objeto estético, com todos os seus meandros e conseqüências.

Vejamos, no capítulo seguinte, como é a proposta de escolarização dos

textos em gêneros poéticos nas coleções de 5ª a 8ª séries, atr

des.

207

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Capítulo 7 __________________________

A escolarização dos textos em gêneros poéticos nos livros didáticos de 5ª a 8ª séries

No capítulo anterior, expusemos as atividades que as coleções de 1ª a 4ª

série realizam com os enunciados poéticos, tentando depreender os modos de

abordagem do poético pelos livros didáticos das séries iniciais.

Procederemos à análise, enfocando as atividades desenvolvidas pelas três

coleções de 5ª a 8ª séries selecionadas em nosso processo de pesquisa.

Da mesma forma, apresentaremos uma síntese geral das atividades na média

das coleções, e depois uma análise detalhada, elencando algumas questões e

enunciados que julgamos interessantes para a compreensão da escolarização dos

textos em gêneros poéticos nestas séries finais.

7.1. As atividades com gêneros poéticos nas coleções de 5ª a 8ª séries Conforme procedemos no início da apresentação da análise das atividades

das coleções de 1ª a 4ª séries, sintetizamos os dados sobre as atividades com maior

incidência também nas coleções de 5ª a 8ª séries, expressando a média nas três

obras, LM, LI e ER no Gráfico 1 abaixo:

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Incidência do Tipo de Atividade com GP - Coleções 5ª a 8ª séries

37%15%

1%

7%

5%

15% 1% 5% 2%10%

2%

Leitura - Básicas Foco na temática Produção TextualAtividades Lúdicas Exploração do vocabulário Recursos lingüísticos: poéticoRecursos gráfico-visuais Foco no gênero Exploração intertextualFoco conteúdos gramaticais Outras atividades

Gráfico 1– Tipos de atividades desenvolvidas com gêneros poéticos – 5ª a 8ª séries

Como ocorreu também nas coleções das séries iniciais, o maior número de

atividades vai ser relativo às que exploram as estratégias cognitivas básicas de

leitura, com 37% do total das atividades. Em seguida, temos, com 15% das

atividades, os exercícios sobre a temática dos textos e o trabalho com os recursos

lingüísticos relativos ao poético. Em terceiro lugar, aparecem as atividades com foco

nos conteúdos gramaticais, com 10% do total. As atividades lúdicas somam 7%,

seguidas, em incidência, das questões de exploração do vocabulário e das

atividades que, de alguma forma, visam os gêneros, somando 5% cada. Uma

porcentagem mínima das atividades é reservada à exploração intertextual (2%), ao

agrupamento outras atividades (2%) e aos recursos gráfico-visuais e à produção

textual, com 1% cada.

Caso agrupemos, como procedemos com as coleções de 1ª a 4ª séries, as

atividades que podem se referir, de um modo ou de outro, ao poético, teremos: 15%

de atividades que exploram algum recurso lingüístico próprio do poético, acrescidos

209

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do 5% dos exercícios que visam os gêneros poéticos, somados ao 1% dos recursos

gráfico-visuais e 1% de solicitação de produção de textos em gêneros poéticos,

teremos um total de 22% de atividades que se voltam, nas coleções de 5ª a 8ª

séries, para a apreensão de algum aspecto do poético. Vejamos que a incidência

das atividades que se dedicam a essa exploração é bem menor que nas séries

iniciais, cuja soma totalizava 36% das atividades.

Concluímos que esta porcentagem de 22% é muito pequena, tendo em vista a

grande quantidade de textos em gêneros poéticos presentes nestas coleções,

conforme pudemos observar nos dados descritos no capítulo anterior. Temos,

portanto, que, de todas as atividades que as coleções de 5ª a 8ª séries propõem

para os textos em gêneros poéticos, 78% não exploram quaisquer características

literárias próprias a estes gêneros.

Acreditamos que estes números, para a nossa amostra aqui analisada, são

reveladores do descaso com o texto em gênero poético na sua especificidade, e

muito mais grave porque se tratam de séries já mais adiantadas no ensino

fundamental, nas quais os alunos deveriam estar sendo formados como leitores

literários capazes de reconhecerem e trabalharem de forma mais freqüente e

profícua com os enunciados poéticos. Entretanto, se ele não é exposto a atividades

que o conduzam a essa aprendizagem, as possibilidades de avanços, de progresso

no estudo é mínima, bem como a chance de criação do gosto pela leitura literária na

escola esvazia-se, caso não haja uma intervenção direta do professor para

reintroduzir novas atividades ou ampliar as já propostas. Vejamos, a seguir, como

cada coleção de 5ª a 8ª série realiza estas atividades.

7.1.1. A coleção LM A coleção LM é uma coleção dividida em módulos temáticos, com subseções

específicas para leitura e que apresenta, como pudemos verificar nos dados

apresentados no capítulo anterior, 31 % dos textos em gêneros poéticos do total de

textos da coletânea. Em relação à distribuição de suas atividades, vai privilegiar

210

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tanto as estratégias cognitivas básicas como a exploração dos recursos lingüísticos

e estilísticos na criação poética. Assim, muitos exercícios vão trabalhar, nas palavras

da coleção, com os recursos de expressão do texto, nas atividades de leitura e

compreensão ou em seções reservadas especialmente para a investigação dos

efeitos de sentido. Vejamos um exemplo de atividade na 5ª série, para o poema

Canção, de Cecília Meireles:

Canção

Pus o meu sonho num navio

E o navio em cima do mar;

-depois, abri o mar com as mãos,

para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas

Do azul das ondas entreabertas,

E a cor que escorre dos meu dedos

Colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,

A noite se curva de frio;

Debaixo da água vai morrendo

Meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,

Para fazer com que o mar cresça,

E o meu navio chegue ao fundo

E o meu sonho desapareça.

211

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LEITURA DO TEXTO

1. “Pus o meu sonho num navio/ e o navio em cima do mar; / depois abri o mar com as

mãos, / para o meu sonho naufragar”.

a) A palavra sonho não está usada no sentido comum, de imagens que

acontecem enquanto dormimos. Quando estamos sonhando, com o que

sonhamos?

Sonho, nesse sentido, então, tem um significado próximo ao de uma dessas palavras:

falsidade, ilusão, realidade. Escolha a melhor.

b) O que aconteceu com o sonho do poeta?

2. “Minhas mãos ainda estão molhadas/do azul das ondas entreabertas”.

a) Como estão as mãos?

b) Isso indica que faz aproximadamente quanto tempo que tudo aconteceu?

Explique.

c) Ondas entreabertas são ondas um pouco abertas; nesse caso, significa que

nem se fecharam ainda. Isso confirma que o gesto de afundar o navio com

os sonhos deve estar num passado distante? Justifique.

d) O que ainda molha as mãos, segundo o poema?

e) Inédito é o novo. Esse exemplo prova que a linguagem figurada é inédita.

Por quê?

3. a) A quarta estrofe sugere que o poeta não quer o quê?

b) Apóie-se no texto e justifique sua resposta

(Coleção LM, 5ª série, pp. 54-55).

As questões acima puderam exemplificar um procedimento nos exercícios

bastante comum na coleção LM: as questões levam a uma reflexão paulatina,

conduzindo o olhar do aluno para as características do texto, muito embora as

estratégias cognitivas sejam privilegiadas, como a localização de informações, por

exemplo. Nestas questões, nenhum olhar ainda foi lançado para os aspectos

lingüísticos da criação poética, apenas no item “e” da questão 2 há uma

observação de formulação não muito clara, estabelecendo uma relação entre o

“inédito”, o “novo” e a linguagem figurada. Na verdade, o livro está falando da

imagem construída no poema: Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das

ondas entreabertas, mas não de forma explícita. No primeiro capítulo desse trabalho,

212

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já discutíamos esta questão, do isolamento da palavra de seu uso habitual, que

possibilita uma ligação que não é cognitiva e nem ética com o acontecimento; aqui,

a imagem do poema de Meireles possibilita exemplificar este isolamento que se

traduz numa bela metáfora, entretanto a formulação do exercício, ao se referir à

linguagem figurada, abre um leque, já que “linguagem figurada” há em toda parte,

em mil expressões de nossa língua, desde “pé da mesa” ao complexo de alegorias

numa obra poética.

Este uso misturado e confuso de termos que se referem a vários aspectos

lingüísticos presentes nos enunciados poéticos para a construção dos efeitos de

sentido parece ser resultado de um esforço em “traduzir” o texto poético, facilitando

sua compreensão. Contudo, não se trata mais de séries iniciais, o melhor

procedimento, em nossa visão, é “dar nomes aos bois”, evitando o uso impreciso de

termos como linguagem figurada, conotação/denotação, conforme colocávamos há

pouco para as coleções de 1ª a 4ª séries, pois estes não são intercambiáveis com

outras designações como metáfora, metonímia, etc., sem prejuízo da avaliação

destas últimas no contexto do discurso poético.

Observemos a última questão desta atividade de leitura:

1. “Depois, tudo estará perfeito: praia lisa, águas ordenadas, / meus olhos secos como

pedras/ e minhas duas mãos quebradas”.

a) Ironia é dizer uma coisa para significar outra. Exemplo: “Estou tão triste, ganhei na loteria!”

Uma das palavras dessa frase constrói a ironia, porque não é o que está escrito que

vale um significado. Transcreva essa palavra que representa a ironia. Justifique.

b) A palavra destacada dos versos citados constrói a ironia. Por quê?

c) Os olhos estão secos com o quê?

Temos aí uma comparação. Faz-se a comparação unindo-se duas idéias por meio de que

palavra?

A comparação, assim como a metáfora, caracteriza que tipo de linguagem?

d) Há uma palavra do último verso que reforça a idéia de que tudo o que aconteceu não tem

volta. Transcreva essa palavra e justifique a sua resposta.

(Coleção LM, 5ª série, p. 55).

213

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Estas questões vêm imediatamente após as outras descritas por nós na

página anterior. O que podemos ver aqui é, de fato, que o livro procura explorar as

figuras de linguagem como ironia, comparação e metáfora, utilizando os termos

correspondentes, contudo, porque no item “e” da questão 2 não houve essa opção

também, e sim o uso do termo linguagem figurada, como colocamos acima?

A tradução, contudo, que se procura fazer do que são estas figuras ainda

deixa a desejar. A ironia, por exemplo, é definida como “dizer uma coisa para

significar outra”. Esta definição nos parece um pouco ampla demais, cabendo nela

outros estratagemas lingüísticos como a implicitação e a pressuposição. Mais

adiante, é colocado que uma palavra da frase é que constrói a ironia, afirmação

também nada precisa e no mínimo inadequada, já que a ironia não se constrói sobre

uma palavra e sim no estabelecimento de relações mais complexas de sentido as

quais supõem avaliações valorativas de interlocutores sobre horizontes contextuais

em que os enunciados se colocam, promovendo uma superposição de sentidos. Na

verdade, na ironia, há duas vozes e como coloca Bakhtin (1934-1935/1975: 127-

128), trata-se de um discurso bivocal:

(...) Nesse discurso há duas vozes, dois sentidos, duas expressões. Ademais,

essas duas vozes estão dialogicamente correlacionadas, como que se se

conhecessem uma à outra (como se duas réplicas de um diálogo se

conhecessem e fossem construídas sobre esse conhecimento mútuo), como se

conversassem entre si. O discurso bivocal sempre é internamente dialogizado.

Assim é o discurso humorístico, irônico, paródico, assim é o discurso refratante

do narrador, o discurso refratante nas falas dos personagens, finalmente, assim

é o discurso do gênero intercalado: todos são bivocais e internamente

dialogizados. Neles se encontra um diálogo potencial não desenvolvido, um

diálogo concentrado de duas vozes, duas visões de mundo, duas linguagens.

Assim, não é a palavra que representa a ironia, como a questão afirma, e sim

o encontro de duas vozes, o discurso bivocal nos versos Depois tudo estará

perfeito. Pode-se argumentar que não há como didatizar uma explicação sobre

ironia nestes termos, para um nível de escolaridade de 5ª série, contudo,

214

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acreditamos que é possível uma reformulação da questão que não frise uma

palavra como responsável pela construção da ironia, porque isso nos parece um

reducionismo; a palavra está inserida num contexto discursivo poético maior e é

determinada por ele, mas ao mesmo tempo está sempre carregada de um conteúdo

ou de um sentido ideológico ou vivencial, conforme nos lembra Bakhtin/Volochinov

(1929: 95). Assim, entre o isolamento da palavra que autor-criador realiza e a

natureza social da linguagem, o enunciado poético, com todas suas peculiaridades,

constrói-se e seus sentidos são dialogicamente concebidos e novamente

atualizados a cada leitura pelos autores contempladores.

Esta coleção se esforça, por outro lado, em estabelecer um vínculo, nas

atividades, entre os usos gramaticais e os efeitos de sentido, o que é louvável; há

uma tentativa, portanto, de exploração dos recursos lingüísticos objetivando a

compreensão e não isoladamente. Pinheiro (2001: 63-64) discute o tratamento

inadequado dos textos literários pelos autores de livros didáticos, que enfocam de

forma descontextualizada os usos gramaticais, usando os textos apenas como

pretextos:

Se os autores pensassem, por exemplo, no sentido que os substantivos

concretos assumem no poema, criando uma base em que repousa parte de sua

força. Será que reduzindo um poema a exemplário de classes de palavras

estamos contribuindo para forma leitores? E será que se aprende gramática

assim?

Vejamos exemplos de atividades, nesta coleção LM, neste sentido, em que

as questões exploram usos de classe gramaticais, flexões, ordem das palavras nas

frases, elipses, uso de conectores, com o objetivo de promover a compreensão dos

efeitos de sentido:

6. “Cidadezinha... Tão pequenina/ Que toda cabe num só olhar...”. a) O adjetivo desses versos está usado em que grau? Justifique

sua resposta. b) Essa repetição tem efeitos de sentido. Quais? c) Esse efeito de sentido fica ainda mais reforçado no último verso.

Por quê? Coleção LM, 5ª série, p. 86.

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1. A.“Eu sozinho menino entre mangueiras/ lia a história de Robinson Crusoé”. B. Eu era um menino sozinho e lia a história de Robinson Crusoé entre mangueiras.

• Qual das duas é a maneira mais comum e mais direta de expressar as idéias?

• Qual das duas é a maneira mais enxuta, mais resumida, mais curta de dizer?

• Qual das duas arruma as palavras na frase de modo surpreendente, novo?

b) Em A, quando o poeta diz “Eu sozinho menino...”

• O que fica faltando? • Que palavra fica fora de seu lugar normal na frase? • Quando essa palavra é deslocada de seu lugar normal, reforça que idéia

sobre o menino? (...) 3. A. “E dava um suspiro... que fundo!”

B. E dava um suspiro fundo. a) Em qual das duas frases o suspiro fica mais fundo? b) Em qual das duas frases há um sinal de pontuação indicando uma pausa?

• Qual sinal de pontuação indica essa pausa? • Essa pausa está associada a que ação da mãe?

c) Qual o outro sinal de pontuação usado em A? d) Esse sinal, na frase, serve para reforçar uma idéia? Qual?

Coleção LM, 6ª série, pp. 57-58.

4. “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu”. Para entender bem esses versos, é preciso entender sua estrutura sintática.

a) No primeiro verso, quem ao mar o perigo e o abismo deu? b) Escreva em ordem direta o sujeito e o verbo da frase. c) Deus deu o quê? d) Deu a quem? e) Reescreva o verso na seguinte ordem sintática: sujeito + verbo + objeto indireto +

objeto direto. f) O verso seguinte é introduzido por uma conjunção. Destaque-a e classifique-a. g) Conjunções desse tipo introduzem orações que contrariam, repetem ou ampliam

idéias da oração anterior? h) A primeira oração, “Deus ao mar o perigo e o abismo deu”, mostra ação de que tipo? i) A segunda oração, introduzida pelo mas, vai, então, mostrar uma compensação para

essa ação. Qual compensação para os perigos do mar? j) O céu, portanto, em oposição ao perigo e ao abismo, representa o quê?

(Coleção LM, 7ª série, p. 143).

216

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Pudemos observar, portanto, um esforço da coleção, nestas questões, em

trabalhar os aspectos gramaticais e da estrutura textual, como ordem direta, ordem

inversa, para a auxiliar na leitura do texto. Este movimento indicia uma preocupação

com o estilo, embora compreendemos que, aqui, não se pensa em gênero discursivo

e no estilo ligado a gênero, mas em termos textuais, o que configura mais uma

preocupação com a decifração do texto, de forma ainda preliminar. Grijó (2004: 351),

analisando 6 coleções de livros didáticos também em relação ao tratamento

dispensando aos gêneros poéticos, conclui que os poemas são configurados não

como gêneros discursivos, mas como gêneros textuais, deslocados de condições de

produção e recepção discursiva e cujo pressuposto fundamental é que são

portadores de um sentido que ao leitor caberá decifrar.

Assim, mesmo que a proposta da coleção LM seja explorar aspectos

referentes ao estilo, o que marca seu diferencial em relação às outras coleções aqui

analisadas, como veremos, não podemos dizer que se trata de uma compreensão

bakhtiniana de estilo à qual nos referimos no primeiro capítulo deste trabalho, que

correlaciona, conforme dissemos, forma-autor-material-conteúdo, de modo articulado

para o entendimento do fenômeno poético.

Outro movimento da coleção LM, relativo ao tratamento com os gêneros

poéticos, é o de trazer sempre o discurso autoral para tecer uma explicação de

cunho teórico, em forma de definição, sobre o fazer poético, muitas vezes com

resultados desastrosos. Vejamos alguns exemplos:

4. Após a comparação entre os textos, podemos afirmar que a poesia pode ser:

• Uma brincadeira de palavras;

• Um exercício de ritmo e de rimas;

• Uma criação e que se usa a linguagem figurada;

• Uma leitura do mundo.

• Diga o que você pensa sobre essas idéias.

Coleção LM, 5ª série, p. 63.

217

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“O texto 2 é uma poesia, porque é feito de versos. Verso é a linha da poesia. Na poesia, como na

pintura, alguns recursos de expressão constroem os conteúdos”.

(Coleção LM, 7ª série, p. 11).

“Todo texto tem expressão e conteúdo. Numa poesia, por exemplo, a escolha das palavras, a

combinação das palavras nos versos e dos versos nas estrofes, as rimas, o ritmo, são recursos de

expressão. Os recursos de expressão são usados para criar uma idéia, um conteúdo, como amor,

paz, guerra, ódio, entre outros”.

Coleção LM, 7ª série, p. 10.

“Prosa e poesia são diferentes. Um texto em prosa é escrito de forma corrida, ocupa a linha toda da

página, organizando-se, geralmente, em parágrafos. O texto Quadrilha é escrito em versos, por isso é

poesia, é um poema”.

Coleção LM, 8ª série, p. 31.

Numa primeira comparação entre o Romantismo e o Modernismo com base na leitura dos dois

poemas, podemos dizer: que um dos poemas tem um estilo mais contido, mais seco, e o outro, um

estilo mais derramado.

Coleção LM, 8ª série, pp. 99-100.

Primeiramente, a lista apresentada do que a poesia (leia-se poemas) pode ser

poderia bem ser aplicada a qualquer outro texto, como o publicitário e o narrativo.

Temos aqui uma tentativa de “enformação” do discurso poético, o estabelecimento

de limites para assegurar aos alunos um reconhecimento seguro de qual texto se

trata. Da mesma forma, as explicações de que um texto é poesia porque é feito de

versos ou de que um texto é prosa porque ocupa a linha toda da página,

organizando-se, geralmente, em parágrafos, não procedem, centram-se na forma e

na disposição gráfica do texto na página e não asseguram ou acrescentam

absolutamente nada ao que há de poético. Como discutimos no segundo capítulo

desse trabalho, a despeito da consideração bakhtiniana, o enfoque formal

desconsidera completamente as relações valorativas na constituição do estético, o

que é o caso nestes exemplos.

218

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O excerto seguinte vai reunir expressão e conteúdo e afirma que os recursos

de expressão servem para criar uma idéia, um conteúdo, como amor, paz, guerra,

ódio, entre outros. Aqui, parece-nos, há uma inversão do ético e do estético e uma

cisão entre forma e conteúdo e, caso consideremos como certa a ordem

apresentada pela formulação da questão, estaremos concordando que as formas de

expressão artística criam os elementos éticos. Em nossa compreensão, a realidade

circundante, o mundo e seus momentos, nas palavras de Bakhtin, adentra o objeto

estético concebido axiologicamente pelo autor-criador, através de seu processo

criativo, tornando-se elemento constitutivo dele, não destacável, não hierarquizado e

não derivado das formas de expressão.

Bakhtin (1924/1975: 42-43) chama-nos a atenção para os problemas de

análise dos elementos éticos do conteúdo, que poderiam ser transcritos por meio de

paráfrases, o que auxilia na passagem para a forma cognitiva dos juízos ou até

mesmo por uma transcrição psicológica, muito embora isso não tenha relação direta

com a análise estética. Ainda para Bakhtin (1924/ 1975: 39), o mais incorreto seria

considerar o conteúdo como um conjunto teórico, cognitivo, como um pensamento,

como uma idéia.

Sobre o último fragmento, a descrição dos estilos do Modernismo e do

Romantismo como “mais seco” ou “mais derramado” não nos parece nada feliz para

a iniciação do aluno às características dos estilos de época da literatura, além de ser

uma adjetivação nada apropriada ao contexto de estudo escolar dos enunciados

poéticos, que mereceria uma terminologia mais rigorosa. Além disso, toma os

exemplos como protótipos de cada estilo, o que não constitui uma verdade, já que o

Modernismo, se formos usar os termos sugeridos na atividade, pode apresentar

tanto estilos “secos” ou “derramados”, assim como o Romantismo. A coleção LM vai

apresentar este tipo de caracterização dos estilos de época já na série final,

acreditamos, com o objetivo de iniciar o aluno em conteúdo a ser estudado no

segundo grau, todavia, a visão que se tem de tais conteúdos, infelizmente – e não é

por acaso, é de que estes constituam, predominantemente, exposições com enfoque

historiográfico.

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Cereja (2004: 221), refletindo sobre a historiografia no ensino de literatura no

segundo grau, chega a algumas conclusões:

Vimos que a historiografia literária ensinada nas escolas é uma transposição

didática da historiografia acadêmica e que, influenciada pelos manuais didáticos

de literatura, a historiografia acadêmica e que, influenciada pelos manuais

didáticos de literatura, a historiografia escolar tende à simplificação, enfatizando

a memorização. Observamos também que as divergências acadêmicas da

crítica e da historiografia tiveram pouco ou nenhum impacto sobre as práticas

pedagógicas dos professores.

Concordamos, ainda, com Cereja (2004: 221), de que a historiografia, em si,

não é a causa principal das práticas cristalizadas de ensino da disciplina, mas é

preciso repensar o seu lugar, o seu papel e o tipo de uso que se faz dela nas aulas

de literatura.

Em suma temos que a coleção LM procura abordar o texto em gênero

poético a partir de uma leitura voltada, por um lado, para a exploração das

estratégias básicas de leitura, sem preocupação com as características do texto

poético e, por outro, ao propor atividades para a exploração do texto poético,

costuma centrar sua preocupação nas características estilísticas, aqui tomadas em

seu sentido mais tradicional. Como frisamos, a coleção trabalha com os gêneros

poéticos como gêneros textuais114 e não como gêneros discursivos e comete

algumas imprecisões teóricas ao tentar estabelecer definições teóricas sobre o

poético, através de incursões do discurso autoral. Além disso, não apresenta letras

de canção ou gêneros da tradição oral, configurando-se como uma coletânea

marcada pela tradição literária. Continuemos nossa análise, procurando verificar

outras atividades nas duas coleções, a LI e a ER.

114 Não tomamos isso como defeito, mas como opção teórica. Nesta pesquisa, cabe, contudo, contrapor estas formas de enfoque a fim de compor uma argumentação favorável à consideração dos gêneros como gêneros do discurso, a partir das considerações bakhtinianas. Sobre esta questão ver Rojo (2002).

220

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7.1.2. A coleção LI A coleção LI, também estruturada em unidades temáticas, é uma coleção

que vai privilegiar, nas atividades de leitura envolvendo textos em gêneros poéticos,

as estratégias cognitivas mais básicas de leitura, como localização e cópia de

informações, produção de inferências e apreensão global. Apresenta um grande

número de textos em gêneros poéticos, um total de 183, contudo, muitos são

apenas fragmentos utilizados em outras atividades e, conforme vimos no quinto

capítulo, apenas para 11 dos 183 textos em gêneros poéticos são destinadas

atividades de leitura e compreensão, o restante, 159, são usados para outras

atividades, principalmente como pretexto para estudo gramatical, e 13 são usados

apenas de forma suplementar, como encerramento ou abertura de unidade, com

nenhuma atividade designada.

Um movimento que a coleção faz freqüentemente no último volume é

apresentar alguns gêneros poéticos para leitura livre, simples reconhecimento ou

apenas como exemplar de gênero, apresentando somente aspectos de sua forma

composicional. Vejamos um exemplo:

O texto a seguir é um soneto – poema de forma fixa, composto de quatorze versos distribuídos em

quatro estrofes, sendo as duas primeiras de quatro versos e as duas últimas de três. O último verso

apresenta a conclusão da idéia.

(Coleção LI, 8ª série, p. 155).

Outras vezes, o discurso autoral vai procurar discorrer, como ocorreu na

coleção LM, sobre o fazer poético, trazendo à baila, da mesma forma, algumas

imprecisões:

221

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3. Pode-se analisar em um texto o seu conteúdo e a sua estrutura

Estrutura é a forma empregada pelo escritor para desenvolver suas idéias, que, por sua vez,

constituem o conteúdo do texto.

Que diferenças de estrutura podemos observar nos textos “A palavra escrita no muro” e

“Convite”?

Pressupõe-se que os alunos já saibam a diferença entre poema e prosa. Para facilitar a

compreensão, pode-se apresentar cartazes com os dois tipos de texto contendo apenas a

silhueta deles. O texto “A palavra escrita no muro” foi escrito em forma de prosa e “Convite”,

em forma de poema. (Orientação ao professor)

(Coleção LI, 5ª série, p. 13).

Não é difícil, aqui, estabelecer uma relação desta atividade com aquela já

analisada por nós, da coleção LM, em que se presenciou uma cisão entre forma e

conteúdo. Aqui a forma é designada estrutura e sua definição como a forma

empregada pelo escritor para desenvolver suas idéias não nos parece nada clara. O

escritor não desenvolve suas idéias mediante uma forma, que é estrutural.

Concordar com tal afirmação é como conceber que a criação artística está presa a

formas e estruturas a priori, nas quais ela vai ter que se encaixar. Já frisamos aqui

que a forma é a expressão da atividade criativa, determinada axiologicamente, de

um sujeito esteticamente ativo (Bakhtin, 1924/1975: 57). Assim, ao gênero poético,

concebido como obra estética e não apenas como obra exterior, como já

apontamos no segundo capítulo deste trabalho, não cabe uma “enformação” ou

“conformação”. Vejamos outros momentos:

2 O que nos permite afirmar que “O menino rico” é um poema?

(Resposta do livro do professor) É um poema por ser escrito em versos

(Coleção LI, 5ª série, p. 68).

222

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1. O texto é um poema. Quais das características a seguir são próprias desse tipo de texto?

• È escrito em versos.

• Apresenta idéias distribuídas em parágrafos.

• A linguagem é objetiva, permitindo apenas uma leitura.

• A linguagem é subjetiva, permitindo várias leituras.

• Tem por objetivo informar.

• Tem por objetivo emocionar.

(Coleção LI, 6ª série, p. 9).

Podemos verificar que os aspectos formais dos textos em gêneros poéticos é

que são privilegiados para defini-los como enunciados poéticos. Além disso,

definições inadequadas como a linguagem objetiva permite apenas uma leitura e o

texto poético tem por objetivo emocionar unem-se a nossa lista já não muito breve

de tentativas de uma “teorização” do discurso autoral a respeito dos textos em

gêneros poéticos. Se o autor-criador, como bem nos coloca Bakhtin (1924/1975),

assim como o ouvinte, co-criador, estabelecem uma relação valorativa com o

conteúdo expressa através da forma, o objetivo primeiro da obra, nas mãos ainda do

autor-criador, seja ele qual for, não tem mais importância, daí a obra como objeto

estético constituir-se como uma obra única, mas também livre, e sempre a mesma e

sempre outra ao mesmo tempo. Isso nos recorda os tempos de declamação nos

sarais, a atitude declamativa não era apenas uma reprodução, uma oralização da

escrita, conferia ao texto poético as marcas da posição valorativa do ouvinte e,

mesmo sendo repetidas as formas verbais e lingüísticas a cada nova declamação,

não o eram como expressão artística, mas sim esteticamente assumidas no

momento da inter-relação entre criador e contemplador. Portanto, se o objeto

estético visa informar ou emocionar, isso nunca saberemos, é o devir da corrente

discursiva é que pode nos dizer, caso consideremos nossos enunciados poéticos

como enunciados concretos, como objetos do discurso a cada singular momento de

sua realização estética.

223

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A coleção LI lança mão, ainda, em muitas atividades, da teoria das funções

da linguagem baseada nos trabalhos de Jakobson115, para explicar o fenômeno

poético. Como colocamos no segundo capítulo, as funções da linguagem estiveram

e estão presentes em muitos livros didáticos, sendo referência obrigatória para a

explicação e a compreensão dos fenômenos da linguagem, incluindo-se os poéticos.

Vejamos algumas atividades apresentadas:

3. Leia os textos a seguir e faça o que se pede.

I. Vapt-vupt o discurso o político

para o povo

entrou por um ouvido

e evacuou pelo outro Ulisses Tavares, Viva a poesia viva.

São Paulo, Saraiva, 1997.

a) Indique o que nos permite afirmar que a função da linguagem nele empregada é poética.

b) Reescreva o poema em linguagem referencial.

(Coleção LI, 8ª série, p. 175).

115 Encontramos a teoria das funções da linguagem desenvolvida por Jakobson no livro Lingüística e Poética, de 1960, publicado no Brasil em Lingüística e Comunicação, São Paulo, Cultrix, 1969. Para descrever o ato da comunicação, Jakobson acrescentou às três funções de Bülher (às quais renomeia de referencial, expressiva e conotativa), mais três: a metalingüística (uma referência ao próprio código), a poética (onde o enunciado, na sua estrutura material, é visto como tendo um valor intrínseco, sendo um fim em si próprio) e a fática (estabelecer e manter contato com o interlocutor). As críticas tecidas à proposta de Jakobson apontam para o fato de que, embora ele aborde questões de poeticidade, seu modelo tem ainda um caráter mecanicista, ou seja, não tratando das relações sócio-históricas e ideológicas da comunicação. Entretanto, a utilização feita pelos manuais didáticos de suas formulações parece ter acentuado esta característica mecanicista, transformando as funções da linguagem em uma outra gramática, a da comunicação, que tendeu a substituir, em algumas obras, a gramática tradicional.

224

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II. Comercial do futuro

telespectador, agarre esta

oportunidade

apartamentos com vista total

para apenas dois fundos de edifícios,

o silêncio de uma avenida expressa,

o tamanho de um quarto de empregada

de antigamente Ulisses Tavares, Viva a poesia viva.

São Paulo, Saraiva, 1997.

Caracterize a linguagem desse texto

III.

a sujeira e a fumaça

estão conseguindo

o impossível

pássaros morrendo por falta de ar

peixe morrendo de sede no mar Ulisses Tavares, Viva a poesia viva.

São Paulo, Saraiva, 1997.

O que se pede, portanto, é o reconhecimento das funções e a transformação

de um texto de uma função em outra. Este exercício nos parece bastante ineficaz

para quaisquer apreensões dos aspectos estéticos dos poemas aqui apresentados.

Serve somente como treino para a apropriação das funções da linguagem e a

transformação solicitada em muito nos recorda outros exercícios típicos como passar

da poesia para prosa, da linguagem popular para a linguagem padrão, ou se caso

assumamos que a teoria das funções da linguagem adentrou para o livro didático

como uma outra gramática, porque não fazer uma analogia aos exercícios

gramaticais de transformação de frases do feminino para o masculino, do singular

para o plural, da voz ativa para a passiva, etc. Não acreditamos que esse tenha sido

o propósito de Jakobson ao teorizar a respeito das funções da linguagem com base

nos códigos comunicacionais e nas relações entre remetente e destinatário. Assim, a

premissa que se coloca, aqui, para esta coleção LI, é a de que ela concebe a

linguagem como forma de comunicação, embora traga muitos exercícios de

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gramática tradicional e muitos textos em gêneros poéticos apenas como pretexto.

Observemos mais um exemplo:

4. Classifique o sujeito das orações destacadas e, quando possível indique a sua

composição morfológica, conforme os exemplos. I. A menina curiosa ficou espantada com a notícia

Sujeito simples (artigo+substantivo+adjetivo)

II. Gostamos muito dela

Sujeito oculto

a) A tarde morre bem tarde No morro do cavalão... Tem um poder de sossego.

Dentro do meu coração

Quanto sangue derramado!

Vinícius de Moraes

b) Na primeira vez que eu te vi Naquele instante pude entender

Alguma coisa estranha aconteceu comigo... Sula Miranda e Mauro e Maurício Gasperini

c) ... eu quero é teu amor cigano

é sentir que eu amo

é viver sem pensar

Os teus mistérios me encantam.

Sula Miranda e Mauro e Maurício Gasperini

d) Meu ar de dominador e) Dizia que eu ia ser seu dono f) E nessa eu dancei! Djavan

e) Todo menino do Pelô Sabe tocar tambor Samuel Rosa e Gerônimo

(Coleção LI, 6ª série, p. 45).

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Como pudemos verificar, o exercício utiliza apenas fragmentos de textos, com

privilégio da utilização de trechos de letras de canção. Aliás, muitas letras de canção

aqui consideradas em nossa análise quantitativa, somando um total de 25 textos

para a coleção LI, são apenas fragmentos utilizados como pretexto, nos mesmos

moldes do modelo acima. Já das letras de canções para as quais se propõe alguma

atividade de leitura, a grande maioria vai explorar apenas as estratégias básicas de

leitura. Apenas na 8ª série, encontramos dois momentos em que são trabalhadas as

figuras de linguagem, porém de forma transmissiva e/ou com solicitação de

localização das figuras de linguagem nos textos ou mesmo em frases fora dos textos

trabalhados. Observemos os excertos:

5 Observe: I. Maria, Maria é especial como um dom, uma certa magia. 1º elemento qualidade conectivo 2º elemento comum comparativo Pode-se transmitir a mesma idéia assim: II. “Maria, Maria é um dom, uma certa magia...” Foi eliminado o conectivo e o elemento comum, o fato de ser especial, ficou, então subentendido. No primeiro caso, temos a figura de linguagem chamada comparação ou símile. No segundo, temos a figura de linguagem chamada metáfora. Note que, no caso da metáfora, a identificação da qualidade comum dependerá da capacidade de interpretação do leitor. Por exemplo: A vida é uma partida de futebol. O que há de comum entre a vida e uma partida de futebol? Poderia ser a aventura? A imprevisibilidade? A presença de regras? De tempo? De companheiros e adversários? Não haveria dúvidas se fosse dito: A vida é imprevisível como uma partida de futebol.

Transforme as comparações a seguir em metáforas: a) Ela é tão importante para mim como a minha vida é. b) A convivência com ela ilumina a minha vida como o Sol ilumina o dia.

6. Agora, faça o contrário: desfaça as metáforas de acordo com a sua interpretação:

a) Ela é a minha cara- metade. b) Aquela história não tem sal nem açúcar.

7) Transcreva do texto uma metáfora. (Coleção LI, 8ª séries, p. 38).

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Questões sobre a letra de canção Casa Brasileira, de Geraldo Azevedo e Renato Rocha: 7. Ao se referir à televisão, o poeta usa uma metáfora, figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra ou expressão em sentido diferente de seu significado próprio. Identifique-a e transcreva-a. (...) 9) Metonímia é a figura de linguagem que consiste no emprego de um termo em lugar de outro, havendo entre eles uma relação de sentido. A metonímia ocorre quando se emprega: a parte pelo todo, o autor pela obra, o continente pelo conteúdo, etc. Observe: “Um pouco portuguesa, um pouco pixaim”. Expliquem a metonímia presente nesse verso. (Coleção LI, 8ª série, p. 128).

Notemos que, no primeiro excerto, o discurso autoral promove uma

explicação sobre a metáfora e a comparação, estabelecendo uma relação entre

estas figuras a fim de definir e assegurar uma compreensão mínima sobre o que

elas significam. Para uma 8ª série, acreditamos que essa explicação é satisfatória,

no contexto da letra de canção trabalhada, contudo pensamos que esse movimento

poderia ter sido feito desde o volume inicial, mas pouco foram trabalhadas as

imagens poéticas. Contudo, pensando que a atividade descrita no excerto seguinte

faz parte do mesmo volume, localizando-se mais ao final do livro, perguntamos,

onde está o planejamento das atividades para o estudo destes recursos lingüísticos

tão próprios aos enunciados poéticos? Vemos que a questão 7 vai redefinir metáfora

em outros termos, diferentemente do que foi colocado na questão da página 38 e de

forma muito mais reduzida e inadequada, pois metáfora não consiste no emprego de

uma palavra ou expressão em sentido diferente de seu significado próprio.

Temos aqui, novamente, uma confusão entre tema e significação, conforme já

assinalamos, na concepção bakhtiniana. Não é uma questão de sentido próprio ou

sentido figurado, é uma questão que deve ser discutida de modo mais amplo, dentro

do processo dialógico, já que a significação pertence a uma palavra enquanto traço

228

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de união entre os interlocutores, isto é, ela só se realiza no processo de

compreensão ativa e responsiva (Bakhtin/Volochinov, 1929: 132).

Há uma preocupação constante nas atividades, nas coleções aqui analisadas

até então, de forma geral, com as imagens poéticas, com as metáforas, as

comparações. E, ainda não nos esquecendo de que tais recursos são recursos da

língua, vale frisar que na atividade estética estes não podem ser vistos ou estudados

ou compreendidos de forma abstrata, destacada do texto, em frases soltas. Notemos

que os exercícios de transformação de metáforas em comparação e vice-versa, no

primeiro excerto, partem de chavões e chegam a chavões, isto porque são frases

soltas, como coloca Bakhtin (1924/1975: 65), mais uma vez:

Abstraída do sentimento de uma atividade do autor, ligadora e formadora, a

metáfora perece, isto é, deixa de ser metáfora poética, ou se torna um mito

(como simples metáfora lingüística, ela pode servir muito bem aos objetivos do

enunciado cognitivo).

Assim, não se pode pensar em metáforas ou outras figuras que implicam

mudanças e deslocamentos de significação, fora de uma unidade de avaliação, no

dizer bakhtiniano, num processo mais amplo em que estão envolvidos o autor-

criador e o autor-contemplador, co-partícipes de um mesmo horizonte social. Não

se trata, como coloca Bakhtin/Volochinov (1929: 135) e como assinalamos, há

pouco, da distinção entre denotação e conotação apreciativa:

Este tipo de demarcação entre o denotativo e o apreciativo parece-nos

completamente ilegítimo; ela se funda sobre o fato de que as funções mais

profundas da apreciação não são perceptíveis na superfície do discurso. E, no

entanto, a significação objetiva forma-se graças à apreciação; ela indica que

uma determinada significação objetiva entrou no horizonte social mais amplo de

um dado grupo social. Além disso, é à apreciação que se deve o papel criativo

nas mudanças de significação. A mudança de significação é sempre, no final

das contas, uma reavaliação: o deslocamento de uma palavra determinada de

um contexto apreciativo para outro. (....)

229

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Em síntese, temos que a coleção LI aborda os textos em gêneros poéticos,

por um lado, apenas como pretexto para estudo gramatical e, por outro, centra-se

na exploração das estratégias cognitivas de leitura, pouco se detendo no estudo

dos recursos lingüísticos mais próprios dos gêneros poéticos e quando o faz,

restringe-se a considerações superficiais sobre a forma composicional ou

equivocadas sobre o uso das imagens poéticas. Além disso, a coleção procura o

caminho da teoria da comunicação, buscando na formulação jakobsoniana das

funções de linguagem as bases para a compreensão do texto poético. Vejamos, por

fim, as características da escolarização promovidas pela coleção ER.

7.1.3. A coleção ER A coleção ER, como as demais aqui estudadas, se estrutura em unidades

temáticas, sendo que duas unidades se dedicam, em todos os volumes,

exclusivamente ao estudo dos gêneros poéticos poema e letra de canção. Esta

coleção, das três analisadas, é que traz o maior número de textos em gêneros

poéticos, um total de 215 textos. Destes, apenas 22,5% são utilizados para

atividades de leitura e compreensão.

Esta coleção é, ainda, a que mais trabalha o texto em gênero poético

utilizando atividades que poderiam ser utilizadas para quaisquer outros textos, ou

seja, privilegia a exploração das estratégias cognitivas básicas de leitura, além de

uma preocupação com a temática e com atividades de caráter lúdico. Apenas em

9,3% das atividades, nos dados que obtivemos, há alguma exploração dos recursos

lingüísticos mais próprios da criação poética. Os textos são numerosos e longos,

assim como o número de questões de interpretação, o que vai recair, muitas vezes,

em apreciações afetivas ou de valores éticos ou políticos, ficando o elemento

estético em último plano.

Todas as séries trazem uma unidade de abertura intitulada “A força da

palavra”, expressão que é retomada ao longo das unidades, entre as atividades,

mas que não é bem esclarecida pelos autores. Segundo o manual do professor, esta

“força da palavra” referir-se-ia à:

230

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Integração com o vocabulário na imagem (ilustração) e na mensagem; no poder sonoro, na

escrita e no significado.(Coleção ER, manual do professor, p. 4)

Em outro lugar, mais adiante no manual do professor da 5ª série, em

Sugestões complementares ao livro didático, na unidade 1, a recomendação ao

professor é:

Observar que a palavra está sendo analisada pela força que apresenta através

• do som

• do contexto;

• da sua formação;

• da imagem gráfica que pode sugerir

(Coleção ER, manual do professor, p. 9).

Nas sugestões complementares ao livro didático para esta unidade, no

manual do volume de 5ª série, encontramos a seguinte passagem do discurso

autoral:

a) O importante, antes de mais nada, é fazer a diferença entre os

termos: POEMA - PROSA E POESIA.

POEMA - são linhas (os versos) que formam um conjunto: a

estrofe. O poema pode ter várias estrofes, pode rimar ou não.

PROSA - é um texto que ocupa toda a linha e não tem rima,

não é dividido em estrofes, mas em parágrafos. POESIA - é o sinônimo de beleza na arte da elaboração de um

texto. Quer seja um poema ou um trecho em prosa

(Coleção ER, 5ª série, p. 27).

Encontramos, ainda, nesta coleção, muitas páginas em que o discurso

autoral vai, de forma transmissiva, discorrer sobre aspectos da forma composicional

dos textos, como rimas, estrofes, e suas classificações segundo as posições e o

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número de versos. São pequenos ”tratados” de versificação” sintetizados em

poucas páginas, porém de forma destacada dos textos de leitura, como um

conteúdo a ser apreendido, semelhantemente aos conteúdos gramaticais.

Assim, em várias atividades, em todos os volumes, aos alunos são

apresentadas questões envolvendo esta “força da palavra” ou solicitando

apreensões genéricas de forma bastante vaga. Selecionamos vários trechos para

demonstrar que isso é uma constante na coleção ER:

3. Que palavras têm força no poema? Por quê?

(Coleção ER, 5ª série, p. 53).

4. Comente os versos. Antes da análise veja as observações e as questões que os

seguem:

a) “De dois em dois anos descia do/ alto da parede da despensa, / onde fica

ancorado, o barquinho/ de uma nova vida, / prestes a chegar”.

Observe a força das palavras ancorado e barquinho de uma nova vida.

(Coleção ER, 5ª série, p. 181).

1. Nos versos de Roseana Murray onde está a poesia?

a) Na infância, nos jogos de amarelinha?

b) Ou no modo de “guardar essa infância?”.

(Coleção ER, 5ª série, p. 190).

1.Que força no significado Cecília Meireles conseguiu com a expressão “palavras

dos homens”?

(...)

4. O conjunto dos versos 6, 7, 8, 9, 10 e 11 tem muita força na mensagem, no

significado. Você detectou alguma? Troque idéias a respeito.

(Coleção ER, 6ª série, p. 20)

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1. Além da cadência em cada verso, o jogo das palavras produz um efeito

impressionista com o uso de expressões denotativas. Veja:

“...verde-moita/ sob as cortinas/ da noite...”

a) Que cortinas são essas? Onde está a poesia nesses versos?

(...)

c) Na 4ª estrofe há uma comparação. Novamente impressionista. Qual

é? (...)

e) Pernilongos e violinos. Duas palavras combinadas em novo

impressionismo poético. Justifique

(Coleção ER, 6ª série, p. 221).

6. O poema analisado está eivado de ritmo. Perguntamos:

a) Ele tem sonoridade? Em que versos?

b) E a simplicidade está implícita em que estrofe?

c) A ação combina com o ritmo nesse trabalho de compor poemas?

(Coleção ER, 6ª série, p. 221).

1. O que existe de poesia nos versos de Cecília Meireles?

(Coleção ER, 6ª série, p. 237).

2. Você conseguiu sentir poesia nesta unidade? Por quê?

(Coleção ER, 6ª série, p. 242).

1. Fazendo uma leitura atenta da música de Noel Rosa, busque a força das

palavras no significado, som e imagem que ela repassam.

a) Quais palavras na primeira estrofe, segundo seu ponto de vista, têm força de sentimento?

(...) d) O título tem força no conjunto dos versos? Por quê?

(Coleção ER, 7ª série, p. 9).

1. Compare os três poemas.

Indique o ponto culminante de cada um

(Coleção ER, 7ª série, p. 103)

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2. Comente o ápice poético na penúltima estrofe.

(Coleção ER, 7ª série, p. 206).

7. Que contexto existe nas expressões: alma atrofiada, corpo precisa se regenerar?

(Coleção ER, 8ª série, p. 74).

1. Lendo Classificados, o que você percebe no contexto dos versos?

(Coleção ER, 8ª série, p. 188).

1. Diga o que lhe inspira a letra de João Valentão.

2. Comente, verso por verso, a letra de Mucuris, observando sua poesia.

(Coleção ER, 8ª série, p. 207)

7. A saudade pode devorar? De que forma? É uma maneira impressionista de dizer as coisas. Comente. (Coleção ER, 7ª série, p. 206)

Não sabemos qual a razão do uso, pelos livros desta coleção, de uma

terminologia tão difusa e inconsistente. Parece-nos, e isto é uma hipótese mais

otimista, que se procurou “traduzir” em termos como “força”, “ponto culminante”,

“ápice”, “impressionismo/impressionista” alguma terminologia mais teórica,

afastando a compreensão das características dos enunciados poéticos de qualquer

metalinguagem, mas o resultado é que as atividades deixam-nos a impressão de

que estamos “pisando em ovos” ao estudarmos os textos em gêneros poéticos aqui

apresentados. De outro lado, parece uma tentativa de abstração absurda, em que

termos são usados de forma inconsistente e inadequada, como a palavra

“contexto”, utilizada na questão Que contexto existe nas expressões: alma atrofiada, corpo precisa se regenerar (Note-se que o realce em negrito é do

próprio livro) ou Lendo Classificados, o que você percebe no contexto dos versos?.

Há uma pressuposição que mistura, nas atividades desta coleção, leitura de

poemas e sentimento que provoca no leitor, mesmo assim a formulação ainda vai

indagar se o aluno sentiu poesia na unidade. Pensamos que tais atividades nas

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formulações aqui elencadas vão na contra-mão de tudo o que procuramos afirmar

desde o início deste trabalho. A compreensão do poético é totalmente colocada na

subjetividade do aluno, na psique do contemplador, como bem afirma

Bakhtin/Volochinov (1926). Conceber a compreensão do fenômeno poético

unicamente pela subjetividade e através dos seus efeitos na psicologia individual é

negar a natureza social da arte. Lembremos, com Bakhtin/Volochinov (1929: 121),

mais uma vez, que o centro organizador de toda enunciação, de toda expressão,

não é interior, mas exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo.

Vygotsky (1926/ 2001: 49) também, ao discorrer sobre psicologia e arte, nos

esclarece melhor a questão:

Por último, e o mais importante, a subjetividade da interpretação e o sentido que

trazemos conosco de forma alguma são uma particularidade específica da

poesia: são um indício de toda e qualquer interpretação. Como formulou com

inteira razão Humboldt, toda interpretação é uma incompreensão, ou seja, os

processos do pensamento, que o discurso do outro suscita em nós, nunca

coincidem plenamente com os processos que ocorrem com o falante. Ao ouvir e

compreender o discurso o do outro, qualquer um de nós apercebe-se de suas

palavras e de seu significado, e o sentido do discurso será sempre, para cada

um, nem mais nem menos subjetivo que o sentido de uma obra de arte.

Assim, a coleção ER caracteriza-se pela preferência por uma grande

quantidade de textos em detrimento da qualidade do trabalho de escolarização

desenvolvido, abordando os textos em gêneros poéticos de forma bastante

incipiente, com muitas atividades que exploram apenas as estratégias básicas de

leitura e a discussão temática. Em todos os momentos, muito breves, de exploração

de recursos lingüísticos que compõem os gêneros poéticos, recorre-se apenas à

subjetividade do aluno, explorando aspectos formais de forma genérica, sendo que

o discurso autoral insiste, em todos os volumes, no uso inadequado de termos para

designar os aspectos relativos à criação poética. Observemos mais uma atividade,

que bem ilustra o tipo de atividade desenvolvida pela coleção:

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A poesia nos versos ou na prosa – Uma arte poética Leia os versos a seguir e comente sua mensagem. “Elabora o poema como a fruta elabora os gomos e a fruta elabora o suco, a fruta elabora a casca, elabora a cor e sobre- tudo elabora a semente.” Como ler poesia, Mauro Mota. O que são gomos, o suco, a casa, a cor e a semente na elaboração de um trecho poético? (Coleção ER, 6ª série, p. 138).

Vejamos, a seguir, uma síntese da análise destas três coleções de 5ª a 8ª

séries que vai tentar depreender os diferentes modos de abordagem dos textos em

gêneros poéticos.

7.2. Conclusões parciais para as coleções de 5ª a 8ª séries:

Os modos de abordagem dos gêneros poéticos, que traduzem a sua

escolarização, pelas coleções aqui analisadas, podem ser sintetizados nas

seguintes categorias:

1) Uma abordagem textual, orientada para uma estilística de vertente

tradicional, na coleção LM;

2) Uma abordagem comunicativa, pautada no estudo das funções da

linguagem, na coleção LI e

3) Uma abordagem subjetivista e psicologizante, na coleção ER.

É claro que falamos aqui de tendências, pois cada coleção, na verdade, não

vai apresentar tais abordagens de forma pura, todas vão trabalhar, também, ainda

que de maneira incipiente e/ou equivocada, com aspectos da forma composicional

dos textos poéticos.

Entrevemos, contudo, que não houve uma progressão em termos do ensino-

aprendizagem dos gêneros poéticos entre as coleções das séries iniciais e as séries

de 5ª a 8ª séries. As coleções de 5ª a 8ª séries, de maneira geral, enfocam os

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aspectos formais e em nada se detém nas considerações sobre os diferentes

gêneros, o que, de alguma forma, ocorre de 1ª a 4ª série, principalmente na coleção

AML.

Surpreendente, a nosso ver, o ensino dos aspectos poéticos parece estar

melhor organizado nas coleções de 1ª a 4ª séries, assim como as coletâneas se

encontram mais atualizadas, já que de 5ª a 8ª temos uma presença marcante de

poemas, para poucas letras de canção e ausência absoluta de tradição oral. Além

disso, pudemos verificar que os livros de 1ª a 4ª séries não pecam pela quantidade

sem qualidade, como ocorreu com as coleções de 5ª a 8ª séries, que se perdem em

atividades longuíssimas, intercaladas pelo discurso autoral cuja necessidade,

acreditamos, de uma “explanação” sobre o fazer poético acabou por prejudicar a

qualidade do trabalho com os textos em gêneros poéticos.

Caso nos perguntemos se os modos de tratamento aqui apresentados aos

gêneros poéticos auxiliam na formação do leitor literário de 5ª a 8ª séries, podemos

afirmar com certeza absoluta que não, mas não unicamente por uma ou outra

abordagem privilegiar um aspecto do poético em detrimento de outros, e sim pelo

fato, primeiramente, de que não são substancialmente planejadas ou assumidas

pelos autores. Tais abordagens apresentam várias lacunas e inconsistências, como

demonstramos nos diversos exemplos do discurso autoral e, também, podemos

dizer que estes modos se referem somente aos pouquíssimos momentos que os

livros didáticos aqui analisados vão tratar dos enunciados poéticos como tal, pois,

em sua maioria, as atividades designadas podem ser, indiferentemente, as mesmas

para outros gêneros.

Assim, o conjunto de aspectos que compõe o processo de escolarização dos

textos em gêneros poéticos nestas coleções de livros didáticos das séries finais –

expressos aqui de forma quantitativa e qualitativa, resulta no que Soares (2001)

denomina, e com a qual concordamos, por uma escolarização inadequada que

Deturpa, falsifica, distorce a literatura, afastando, e não aproximando o aluno

das práticas de leitura literária, desenvolvendo nele resistência ou aversão ao

livro e ao ler. (Soares, 2001: 47).

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Conclusão __________________________

Este trabalho buscou desde o início fazer convergir duas vias: na primeira,

tentamos compreender as formulações do Círculo de Bakhtin sobre o discurso

poético para que pudéssemos fundamentar o nosso enfoque teórico dos gêneros

poéticos, no contexto de nossa pesquisa, tendo em vista as necessidades criadas

por nosso objeto de pesquisa. A outra via foi, naturalmente, a investigação das

formas de escolarização dos gêneros poéticos nas obras didáticas examinadas,

selecionadas de acordo com nossa metodologia de pesquisa. Compreendemos que

na confluência destes dois caminhos esteve sempre a nossa preocupação em

procurar respostas para a questão da formação do leitor literário, seja na dimensão

teórica, concebendo os gêneros poéticos como gêneros discursivos e objetos

estéticos, seja na dimensão didática, entendendo-os em sua condição de gêneros

escolarizados.

Os diferentes modos de abordagem do poético pelos livros didáticos, pelo

que pudemos depreender em nosso processo de análise, espelham, por um lado,

as indecisões teóricas que envolvem os processos de produção dos materiais

didáticos a respeito da concepção do literário e, sobretudo, do poético, como

pudemos comprovar, por exemplo, pelas incursões impróprias do discurso autoral

nas coleções em termos do tratamento dos gêneros poéticos. Por outro lado, é

importante ressaltar que a ação autoral que mobiliza os diferentes gêneros numa

obra didática, articulando-os a um discurso autoral e inscrevendo-os num espaço

discursivo marcado por uma determinada apreciação valorativa dos processos de

ensino-aprendizagem de língua materna, tem tido poucas alternativas que possam

reorientar a didatização do discurso literário em suas inúmeras manifestações.

A obra didática apega-se, na maioria das vezes, como pudemos verificar em

nossa análise de atividades, aos estudos tradicionais oriundos da teoria literária,

atravessados por concepções formalistas que privilegiam os aspectos da forma

composicional sem se preocupar com a construção dos sentidos do texto ou com

uma leitura que promova uma ampliação da visão do aluno sobre os processos

estéticos de criação dos objetos poéticos, e desprezando, por outro lado, os

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contextos sócio-históricos em que se inscrevem as produções literárias que

compõem as coletâneas.

Em outros momentos, o livro didático vai enveredar por uma abordagem

estilística restrita aos territórios textuais das obras, com prejuízo dos discursivos,

num tratamento centrado na exploração das estratégias cognitivas básicas de

leitura que em nada vai diferenciar a abordagem dos gêneros poéticos do estudo

promovido pelos livros para outros gêneros. Nestas atividades, pudemos verificar

um esforço do discurso autoral em parafrasear o que se compreendia por um “fazer

poético” e traduzir, em outros termos, os sentidos das ligações verbais significantes,

no dizer de Bakhtin (1924/1975: 65), ou seja, uma tentativa de explicação ao aluno

do que é uma metáfora, uma comparação, uma antítese, etc. Acreditamos que esta

seja uma preocupação dos livros didáticos porque estes concebem, certamente, tais

figuras como conteúdos importantes a serem aprendidos quando se trata do texto

literário. Entretanto, não se pode esperar que o aluno se instrumentalize para a

leitura do texto poético apenas memorizando figuras de linguagem, localizando

figuras no texto ou em frases soltas e sem que se explore o sentido da utilização

desses procedimentos lingüísticos na totalidade do enunciado poético.

Uma abordagem subjetivista, centrada nas emoções e na imaginação do

leitor, também teve seu espaço, sendo encontrada em duas coleções de ambos os

níveis: a coleção LPT, de 1ª a 4ª séries, e a coleção ER, de 5ª a 8ª séries.

Pensamos ser esta a abordagem mais frágil do texto poético, pois exime a ação

autoral de qualquer ensino sobre os gêneros poéticos, de qualquer exploração dos

aspectos lingüísticos dos textos: tudo se forma ou na psique do aluno, que “sente a

poesia”, de modo subjetivo, ou num processo interacional induzido, e igualmente

subjetivo, em que o aluno é convidado, junto com seus colegas, a discutir e

“desfrutar” dos prazeres da leitura dos textos poéticos.

Não queremos negar aqui o caráter lúdico, de prazer, da leitura literária, mas

trata-se de uma situação escolar, de aulas de língua materna, algo que supõe no

mínimo que os usos dos recursos lingüísticos sejam trabalhados na compreensão

dos efeitos de sentido dos textos poéticos em vez de considerá-los “artefatos”.

Por fim, encontramos ainda uma abordagem “comunicativa” que, como

buscamos demonstrar, vai retomar a questão das funções da linguagem de

Jakobson. Esta posição, acreditamos, é uma saída para uma ação autoral que não

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quer privilegiar os aspectos formais nem a subjetividade, pendendo para os

aspectos do processo comunicacional entendido nesses termos. Esta é contudo

uma estratégia traiçoeira (no dizer de Grijó, 2004), pois não explora nenhum

aspecto comunicacional, não trabalha com a relação entre interlocutores,

procedendo apenas a um ensino transmissivo das diversas funções da linguagem e

propondo questões de aplicação. Além disso, é sabido que a função poética da

linguagem, na visão jakobsoniana, concebe o texto poético como um jogo de seus

próprios elementos, como um fim em si, subtraindo-lhe a dimensão histórica e social

e mesmo estética. Infelizmente, é mais um conteúdo com que o aluno tem que

deparar em seu caminho de formação como leitor literário, mas que não surte efeito

algum, resultando apenas em mais terminologia a ser memorizada (e

posteriormente, com razão, esquecida) para as provas de leitura e interpretação

textual.

Os procedimentos didáticos usados têm na maioria das coleções uma

orientação transmissiva, principalmente no caso das coleções de 5ª a 8ª séries, em

que o discurso autoral vai se encarregar de discorrer a respeito do que julga serem

aspectos fundamentais para a compreensão dos enunciados poéticos, como

aspectos relativos à versificação, por exemplo. Exige-se com freqüência a paráfrase

como resposta para muitas das atividades, como se, ao repetir o que “se entendeu”

do texto, o aluno pudesse compreender o que está além de sua superfície e

apreender disso algum procedimento estético. Esta estratégia parece muito mais

um movimento que visa favorecer a “decifração” do texto poético, este concebido

como um texto dificultoso, hermético – e caso o aluno seja capaz de “trocá-lo em

miúdos” o objetivo de ensino já estará atingido, ao menos para esses manuais.

Temos a nosso favor, além disso, o fato de Grijó (2004), em sua pesquisa,

que também enfoca gêneros poéticos em livros didáticos de 5ª a 8ª séries, chegar a

conclusões semelhantes sobre as atividades propostas:

As questões propostas não proporcionam ao leitor a construção de uma

configuração do gênero poético, pois a análise concentra-se na materialização

do texto e não no aspecto discursivo, além disso, enfatizam a leitura

parafrástica. (Grijó, 2004:357).

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Outra característica que compõe o quadro didático e que pudemos notar nas

coleções analisadas é a da falta de organização do ensino em relação aos textos

em gêneros poéticos, algo que, em nossa analise, dificultou até mesmo a

depreensão dos modos de abordagem predominantes. Tanto em termos da

incidência e da distribuição irregulares dos gêneros entre os diferentes volumes,

feitas sem nenhuma lógica ou critério, até a sua desvalorização, pelos livros

didáticos, que os utilizam mais como apoio a outras atividades de estudo

gramatical, ou alimentação temática para produção textual, do que efetivamente

para as atividades das seções de leitura e compreensão textual, percebemos uma

falta de planejamento para a apresentação dos conteúdos, não havendo uma

preocupação com retomadas ou com uma progressão no ensino.

Acrescenta-se a isso o fato de que muitos textos, principalmente as letras de

canção presentes nas coleções de 5ª a 8ª séries (de resto, apenas em duas), são

apresentados de forma fragmentária, sem títulos e apenas como uma base para

exercícios de gramática, principalmente de análise sintática. Acresce que, como

salientamos na conclusão da análise de nossas coleções, não observamos uma

progressão entre os níveis de escolaridade entre as coleções de 1ª a 4ª séries e as

coleções de 5ª a 8ª séries, o que denota também uma desorganização nas

propostas curriculares no que tange ao ensino-aprendizagem dos gêneros poéticos.

Tendo em vista o quadro aqui apresentado, defendemos que um ensino de

textos poéticos pode ser minimamente planejado e organizado, bem como

fundamentado teoricamente, sem que haja privilégio de um elemento sobre outro,

como o elemento formal, comunicacional ou lúdico. No tocante a isso, o que o

Círculo de Bakhtin nos ensinou, na releitura de suas obras voltadas para a

discussão não só do discurso poético como também da natureza da linguagem,

salientando as tarefas da análise estética, é que, em primeiro lugar, há de se

considerar o enunciado poético como um todo, uma unidade em sua singularidade,

mas absolutamente localizado em um tempo e em um espaço próprios. No dizer do

próprio Bakhtin (1924/1975):

A principal tarefa da estética é o estudo do objeto estético na sua singularidade,

sem de modo algum substituí-lo por uma etapa intermediária qualquer do

caminho da sua realização e, em primeiro lugar, deve compreender o objeto

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estético sinteticamente, no seu todo, compreender a forma e o conteúdo na sua

inter-relação essencial e necessária: compreender a forma como forma do

conteúdo, e o conteúdo como conteúdo da forma, compreender a singularidade

e a lei de suas inter-relações. Só com base nessa concepção é possível delinear

o sentido correto para uma análise estética concreta das obras particulares.

(Bakhtin, 1924/1975: 69).

Pode-se naturalmente argumentar que tomar os textos poéticos nos livros

didáticos como objetos estéticos, em seu todo, não é tarefa que compete ao autor

do livro didático. Contudo, percebemos que sempre haverá uma posição autoral

assumida, de um sujeito-autor que apresenta valorativamente os textos que

compõem suas obras didáticas, o que significa que, em algum momento, o texto

poético é sim tomado como um objeto estético sobre o qual se lança um

determinado olhar. É claro que, no processo de didatização, ele será também objeto

didático, a ser ensinado, mas em que se baseará o ensino deste objeto, à luz de

nossa pesquisa, a não ser em determinada concepção teórica sobre ele? Como se

pode (re)pensar uma escolarização menos inadequada, que possa, de fato, formar

o leitor literário do texto poético?

Nos estudos da teoria da literatura, como colocamos no segundo capítulo

deste trabalho, os textos poéticos são considerados gêneros literários, dentro da

tripartição clássica entre o lírico, o épico e o dramático. A nossa visão, aqui, é

considerá-los dentro dos estudos da linguagem como gêneros discursivos na

acepção bakhtiniana e não somente dos estudos literários em suas formulações

mais clássicas. Respeitando-se os limites da investigação, uma consideração não

exclui a outra, já que, dentro do próprio método sociológico, como colocávamos no

capítulo inicial, a terceira ordem de investigação referir-se-ia ao exame das formas

da língua na sua interpretação lingüística habitual. O estudo das formas e recursos

lingüísticos que participam da composição da obra poética continua portanto a ser

tarefa do lingüista116, ou do teórico da literatura, dentro das especificidades de suas

áreas, mas ainda assim o estudo das obras poéticas como objetos estéticos e como

gêneros discursivos não se esgota aí.

116 Pensamos quanto a isso que à Lingüística Aplicada caiba um estudo como o que desenvolvemos aqui, de investigação da complexidade dos usos dos diversos enunciados nos mais diferentes contextos.

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Como pudemos verificar nas coleções examinadas, como quer que sejam

trabalhados, em nenhum momento os textos poéticos são tomados, de fato, como

gêneros discursivos. O que marca as coleções é a presença de pequenos trechos

do discurso autoral que no máximo tentam explicar a forma composicional de certos

gêneros, ou alguns poucos aspectos de suas condições de produção, como

ocorreu, por exemplo, na coleção AML da 1ª a 4ª série. Mas o que é necessário

para que ocorra o tratamento como gêneros discursivos? É possível um ensino que

se baseie na concepção de gênero poético como gênero discursivo? É possível

uma organização do ensino dos textos em gêneros poéticos nos livros didáticos?

Acreditamos que sim. Em primeiro lugar, não se pode desconsiderar, caso se

faça de fato a opção por um ensino discursivo, de cunho bakhtiniano, a noção de

tema. O tema, na visão de Bakhtin, não se refere estritamente ao assunto tratado

pelo poema, que é da ordem do cognitivo e do ético, como ele bem coloca em 1924,

remetendo mais propriamente a uma construção e reconstrução de sentidos que

estão totalmente circunscritas pelo contexto extraverbal. Recordemos aqui a letra

de canção Soneto, de Chico Buarque, trabalhada por nós brevemente no segundo

capítulo deste trabalho. O tema, ali, está ligado (assim como qualquer tema, na

acepção bakhtiniana) a um contexto sócio-histórico específico, que foi o da ditadura

militar em nosso país. O tema, portanto, não é reiterável, pois singulariza o

enunciado poético em questão, e quando afirma que tema é uma reação da

consciência em devir ao ser em devir, Bakhtin/Volochinov (1929: 129) quer acentuar

exatamente o caráter de historicidade dos enunciados.

Uma reação em devir é nada menos o que esperamos da leitura de um texto.

O tema não é um dado pronto, não existe a priori, existe somente na confluência, no

encontro do autor-criador e do autor-contemplador. Pensamos que neste encontro,

ou em seu centro, está a ação autoral do autor do livro didático, numa situação

específica que é a escolar. Ele, mesmo sem o querer, dirige olhares, dirige leituras,

cria gosto e desgosto diante da leitura. O processo dialógico que aqui se estabelece

entre o leitor-aluno e o autor-criador da obra poética tem este terceiro, a posição

autoral do livro didático valorativamente marcada, que vai apontar para um ou outro

aspecto e vai dizer ao aluno que o texto poético é isso e não aquilo, vai mostrar:

veja isso e não perceba aquilo. E não exploramos aqui a ação mediadora do

professor, que é igualmente interlocutor do livro didático, tal como o são os

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avaliadores do PNLD, assim como não nos ocupamos da influência que a recepção

por tantos interlocutores tem na autoria dos livros didáticos.

Por isso é que advogamos uma abordagem que abranja o enunciado poético

de forma discursiva, atentando para os aspectos do seu processo de produção,

para as dimensões sócio-históricas, mas também para os aspectos da forma

composicional e para as escolhas lingüísticas que configuram o estilo autoral ou o

estilo marcado pelo gênero.

Relembrando a confusão da estética material, apontada por Bakhtin

(1924/1975), entre as formas arquitetônicas e as formas composicionais, afirmamos

que, para o ensino do texto literário, do texto poético, o que se visa, ainda de

maneira muitas vezes equivocada e incompleta, são as formas composicionais que

realizam as arquitetônicas, e nunca se chega à consideração destas últimas, que só

seriam desveladas na construção dos temas, no sentido bakhtiniano. Assim, uma

organização do ensino dos gêneros poéticos como gêneros do discurso deveria

prever um enfoque didático tripartido entre tema, forma composicional e estilo, e

explorar de forma múltipla os múltiplos processos de (re)ssignificação promovidos

nos textos em gêneros poéticos, através de leituras variadas, de textos

significativos, de procedimentos intertextuais e interdiscursivos.

Mas, além disso, pensamos ser possível trabalhar por grupos de gêneros

poéticos, como fizemos aqui, podendo explorar, de forma didática, as relações

intergenéricas que se estabelecem entre eles e as características das diferentes

apropriações, localizando-os pelos pontos cardeais do tempo, do espaço e do valor,

para a construção das atividades de leitura, e visando sempre à construção dos

sentidos do texto pelo aluno. A elaboração de agrupamentos de gêneros está

intimamente relacionada, como bem frisa Barbosa (2001), à necessidade de

escolha e/ou definição de quais gêneros serão tomados como objetos de ensino,

em determinado contexto escolar, levando-se em conta questões curriculares

inerentes à instituição escolar, bem como as necessidades e possibilidades de

aprendizagem dos alunos envolvidos.

Pelo amplo espectro de gêneros que se apresentam nos diferentes contextos

sociais, acreditamos que definir critérios, elaborar agrupamentos, propor uma lógica

para o estudo das diferentes características dos gêneros, bem como oferecer

subsídios teóricos para uma progressão para o ensino em diferentes níveis parece

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otimizar o trabalho pedagógico, tornando-o mais eficiente. Obviamente, qualquer

agrupamento vai ser pautado por critérios específicos, que, uma vez adotados,

priorizam algumas características em detrimento de outras. Barbosa (2001) nos

alerta para esse fato:

O estabelecimento de agrupamentos, como toda classificação fatalmente apresentará problemas: desconsiderará algum aspecto que alguém julgará relevante; apresentará exceções; excluirá algum elemento que, por sua natureza, deveria fazer parte de um dos conjuntos; incluirá algum elemento que não compartilha de todas as propriedades comuns; apontará intersecções etc. Mas a classificação é condição para o desenvolvimento epistemológico, pois nos obriga a comparar, a estabelecer relações, a perceber o singular e o comum etc., o que nos ajuda na compreensão dos fenômenos (Barbosa, 2001: 122).

Vejamos aqui, a título de complementação e sugestão para a continuidade

desta pesquisa, algumas propostas de agrupamentos em circulação, não

objetivando enfocar como os gêneros em geral são tomados pelas propostas como

um todo, mas sim para verificar o lugar nelas reservado aos gêneros poéticos.

Tomaremos, em primeiro lugar, os agrupamentos delineados pelos pesquisadores

genebrinos Schneuwly e Dolz (1996), do campo das Ciências da Educação,

Departamento de Didática de Línguas da Universidade de Genebra, Suíça, e,

posteriormente, por Barbosa (2001), do Departamento de Lingüística da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo.

Os agrupamentos de gêneros propostos por Dolz e Schneuwly (1996) foram

definidos de acordo com seguintes critérios:

É preciso que os agrupamentos: 1. correspondam às grandes finalidades sociais legadas ao ensino,

respondendo às necessidades de linguagem em expressão escrita e oral, em domínios essenciais da comunicação em nossa sociedade (inclusive a escola);

2. retomem, de modo flexível, certas distinções tipológicas que já figuram em numerosos manuais e guias curriculares;

3. sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem dominantes implicadas na mestria dos gêneros agrupados

(Dolz & Schneuwly, 1996/2004: 58-59).

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Assim, os pesquisadores apresentam cinco agrupamentos de gêneros,

definidos por domínios sociais de comunicação e relacionados a partir de aspectos

tipológicos e capacidades de linguagem dominantes exigidas dos enunciadores:

• agrupamento da ordem do narrar (cultura literária ficcional: conto, fábula, lenda,

narrativa de aventura, romance, etc.);

• agrupamento da ordem do relatar (documentação e memorização de ações

humanas: relatos de viagem, diário íntimo, autobiografia, notícia, reportagem,

etc.);

• agrupamento da ordem do argumentar (discussão de problemas sociais

controversos: textos de opinião, carta de leitor, editorial, ensaio, resenhas

críticas, etc.);

• agrupamento da ordem do expor (transmissão e construção de saberes: texto

expositivo, conferência, tomada de notas, relatório científico, etc.);

• agrupamento da ordem do descrever ações (instruções e prescrições: instruções

de uso, receita, regras de jogo, regulamento, etc.).

Quando da apresentação desses agrupamentos, uma nota de rodapé alerta

aos leitores que a poesia ficará de lado:

Ignoramos propositadamente a poesia que não pode absolutamente ser tratada como agrupamento de gêneros. Para um tratamento interessante, ver Jolibert, Sraiki & Herbeaux, 1992. (Dolz & Schneuwly, 1996/2004: 59).

Tal impossibilidade de relacionar poesia e agrupamentos de gêneros parece

não se justificar, levando-se em conta os próprios critérios propostos pelos autores.

Sobre o critério primeiro, é impossível imaginar que a produção poética esteja

distante de “grandes finalidades sociais legadas ao ensino”, pois assim estará

também qualquer produção literária e por extensão qualquer produção cultural de

um povo. Também fica difícil imaginar um poema que não responda a uma

“necessidade de linguagem em expressão escrita e oral”, ou que não possa

participar de um dos essenciais “domínios da comunicação em nossa sociedade”.

Relativamente ao segundo critério, “certas distinções tipológicas” figuram

desde sempre, da poética clássica à moderna, dos inúmeros tratados de

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versificação, de toda a ciência da literatura, sendo portanto difícil não encontrar

descrições, em alguns casos minuciosas, das configurações poemáticas.

Quanto ao terceiro critério, embora seja difícil ajustar um nome que englobe

“as capacidades de linguagem dominantes implicadas na mestria” dos textos

poéticos, ao menos nos termos propostos pelos autores, podemos vislumbrar

exercícios de linguagem especificamente voltados para a ressignificação incessante

da palavra. Contudo, como um enunciado por excelência, cada poema é um poema,

e na criação de cada um o poeta lança mão de uma combinação única de

estratégias textuais/discursivas. Talvez pudéssemos falar em “versejar”, mas pode

soar “antigo”; talvez pudéssemos falar em “linguajar”, mas pode soar amplo e

pretensioso. Os verbos poetar, poetificar, poetizar e sonetear também constam do

Dicionário Aurélio e poderiam então ser considerados.

Mas o que interessa, na verdade, não é encontrar uma palavra certa que

traduza a capacidade de linguagem dominante no fazer poético – se é que há uma

dominante. O que interessa nem é mesmo propor um agrupamento novo e melhor

para um conjunto que estaria, a alguns olhos, incompleto, no caso genebrino.

Mesmo contra-argumentando favoravelmente aos gêneros poéticos, critério a critério

da proposta genebrina, o que resta saber, contudo - e sobre isto é preciso repensar

este modelo – é se os gêneros poéticos “curvam-se” aos agrupamentos, se suas

múltiplas possibilidades poderiam ser sempre previstas em um modelo pré-

configurado. No caso, agrupar não constitui, pensamos, o problema crucial, que é

antes o de estabelecer critérios que possam abarcar as características do objeto

poético (se isso sempre for possível) e em que prioridade, para todos os casos. A

esfera artística, berço da criação poética, impera neste momento, e a didatização

parece tornar-se impraticável.

Uma sugestão é a que fizemos ao final do terceiro capítulo desta tese: que os

grupos não sejam formados por um critério formal, mas pensados em termos de

seus cronotopos e de suas apropriações intergenéricas, sempre tendo em vista o

conceito bakhtiniano de memória de gênero. Assim, antes de pensarmos em

capacidades de linguagem – que estão intimamente ligadas, a nosso ver, ao devir

da corrente verbal, ao momento e ao processo de atualização das leituras, num

espaço discursivo dos interlocutores – tem-se de pensar nos gêneros em si como

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objetos estéticos, dentro dos limites e possibilidades que se nos apresentam para a

didatização.

É oportuno, ao falar de esfera, passar agora à proposta de agrupamentos

sugerida por Barbosa (2001). Retomando a ordem metodológica colocada por

Bakhtin para o estudo da língua (Bakhtin/Volochinov, 1929)117, a autora, em sua tese

de doutoramento Trabalhando com os gêneros do discurso: uma perspectiva

enunciativa para o ensino de língua portuguesa, advoga que o critério norteador

para se agruparem gêneros deverá ser as esferas de atividade humana em que

estes são produzidos. Para sua proposta de agrupamento, portanto, ela irá

selecionar algumas esferas, colocando em destaque a esfera escolar e, por

conseguinte, os gêneros secundários. É importante frisar que a autora concebe esta

proposta não como uma proposta fechada, mas sujeita a sugestões e revisões.

A tabela118 a seguir procura traduzir o agrupamento de gêneros nas esferas

que nos interessam para este trabalho:

117 Disso decorre que a ordem metodológica para o estudo da língua deve ser o seguinte:

1. As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as condições concretas em que se realiza.

2. As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação estreita com a interação de que constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal.

3. A partir daí, o exame habitual das formas da língua na sua interpretação lingüística habitual (Bakhtin/Volochinov, 1929:124).

118 Reproduzimos aqui um excerto. A tabela completa pode ser vista na tese de Barbosa (2001: 153-

155). Nela, encontramos a designação de outras esferas (e seus respectivos gêneros), a saber: Ciência, Escola, Imprensa, Publicidade, Jurídica, Política e Produção e Consumo.

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ESFERAS SOCIAIS DE CIRCULAÇÃO EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS

ESFERAS PRIVADAS

• Quadrinha • Parlenda • Adivinha • Trava-língua • Piada • Receita • Diálogos • Relatos de experiências vividas

LITERATURA

• Poemas • Conto popular • Conto maravilhoso • Conto de fadas • Lenda • Fábula • Narrativa de aventura • Narrativa de ficção científica • Narrativa de enigma • Romance noir • Crônica literária

Quadro 1 – Agrupamentos de Gêneros segundo Barbosa (2001) - Excerto

Nas esferas designadas por Barbosa119, destacamos, sobretudo, as Esferas

Privadas e a da Literatura (ou artística), pois é ali que encontramos referências aos

gêneros poéticos. Na Esfera Privada, a autora localiza os gêneros quadrinha,

parlenda, adivinha, trava-língua; na Esfera Literatura localiza os poemas. Uma nota

de rodapé esclarece a que se refere à Esfera Privada:

Gêneros primários que circulam em esfera cotidiana, familiar e que foram apropriados pela escola. Como nosso enfoque principal são as esferas públicas, adotamos a solução de reuni-los num único agrupamento. Mas certamente, propostas de reagrupamentos desses gêneros seriam bem produtivas e esclarecedoras (Barbosa, 2001: 153).

Obviamente, eles circularam (e circulam) em esferas familiares, que podemos

qualificar como esferas privadas, mas temos que atentar para o fato de que, hoje, a

literatura, principalmente a literatura infantil/ infanto-juvenil, tem se valido destes

gêneros da tradição oral, e muito desta tradição tem se perdido, já que está atrelada

a uma produção cultural, folclórica localizada num tempo e num espaço próprios.

Pensamos nesse sentido que esses gêneros têm que ser pensados (concebidos,

119 A autora procura, ainda, cruzar um outro critério: a finalidade ou objetivo do enunciador/autor tendo

em vista a posição que ocupa na esfera em questão (Barbosa, 2001: 155-156).

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agrupados) em relação ao que Bakhtin denomina um domínio cultural sobre

fronteiras:

Não se deve, porém, imaginar o domínio da cultura como uma entidade espacial qualquer, que possui limites, mas que possui também um território interior. Não há território interior no domínio cultural: ele está inteiramente situado sobre fronteiras, fronteiras que passam por todo lugar, através de cada momento seu, e a unidade sistemática da cultura se estende aos átomos da vida cultural, com o sol se reflete em cada gota. Todo ato cultural vive por essência sobre fronteiras: nisso está sua seriedade e importância; abstraído da fronteira, ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre (Bakhtin, 1924/1975: 29).

Assim, os poemas, localizados na esfera Literatura vêm se apropriando

destes gêneros da tradição oral e reatualizando-os, ressignificando-os,

homenageando-os, rememorando-os. Há autores como Ciça, Elias José, Ricardo

Azevedo e outros que se valem destes gêneros assim denominados primários em

suas criações120 e os fazem circular através de seus livros dedicados ao público

infantil.

Concordamos com Barbosa que tais gêneros vão parar na esfera escolar,

mas não pertencem somente a ela. A escola utiliza livros infantis, na melhor das

hipóteses, ou, o que é comum, utiliza o livro didático que traz estes textos em

gêneros mixados aos gêneros da tradição oral. Na verdade, não há como

compreender as esferas sem pensar em sua complexidade e flexibilidade, não há

como pensar em certos gêneros sem considerar sua mobilidade, sua constante

metamorfose.

Além da questão dos agrupamentos, uma mudança mais rápida e fácil a se

considerar seria a das coletâneas. É preciso pensar na possibilidade de criar um

material textual que não vise unicamente ao cânone, mas também ao cânone, que

120 Na verdade, isso não é um procedimento novo no mundo das letras, pelo contrário. Bocheco

(2002: 66-67) ressalta a utilização do material folclórico por escritores de todas as épocas, como Goethe, Selma Lagerlof, os modernistas brasileiros de primeira fase, entre outros. Em relação à poesia infantil, coloca: O diálogo da poesia infantil com o acervo folclórico faz parte do projeto de incorporação do cotidiano infantil à poesia de anos mais recentes. A oralização da linguagem, o aproveitamento de temas e motivos da poesia popular, são recursos importantes, neste caso, pois estabelecem coma criança a cumplicidade de linguagem e de repertório cultural. Ricardo Azevedo, em artigo no seu site www.ricardoazevedo.com.br (captado em 12/02/2004) também é enfático ao dizer que enxergar as manifestações populares como um acervo de recursos temáticos e formais, pode tornar o estudo da cultura popular não uma pesquisa sobre fórmulas tradicionais mortas e ultrapassadas mas sim, uma importante e viva referência para o estudo da literatura, particularmente a chamada “infantil”.

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explore as diferentes manifestações culturais a que os nossos jovens estão

familiarizados, mas não se restrinja a elas. Trata-se de abrir o leque de

possibilidades para uma real formação do leitor literário que, imaginamos aqui, seja

capaz de apreciar e compreender a Geléia Geral, de se divertir com a Festa do Apê,

de ler sonetos de diversas épocas e diversos autores, de estabelecer relações,

perceber semelhanças e diferenças, de compreender criticamente as obras de sua

época e de seu horizonte imediato, bem como de outras épocas, ampliando seu

horizonte social, tornando-se participante de todo um universo cultural.

É mister instrumentalizar o aluno como leitor literário que se forma, de fato,

mas que possa também seguir sendo leitor autônomo pela vida afora, longe dos

muros da escola. Acreditamos que os livros didáticos podem desempenhar um

papel fundamental nesse processo, de forma muito mais incisiva, organizada e

adequada do que a apresentada nas obras que temos, hoje, em nossas salas de

aula.

Essa maneira de explorar os gêneros poéticos como objeto estético, no

sentido aqui desenvolvido, tem assim por fundamento, como o demonstrou a

pesquisa, de um lado entender os 3 critérios de definição do gênero - tema, estilo e

forma composicional - à luz da ação autoral arquitetônica, e, de outro, o uso de

critérios de definição das especificidades desses gêneros sem classificações

rígidas, e sempre a partir do reconhecimento de que, sem a devida contextualização

do gênero trabalhado, toda didatização é empobrecedora, como o provou

exaustivamente nossa análise das coleções, e todo e qualquer texto se vê reduzido

a objeto autárquico.

Logo, a simples reprodução de um dado texto não é portanto um trabalho com

gêneros, mas antes uma descontextualização que atende a objetivos que uma

abordagem discursiva em verdade recusa, precisamente ao demonstrar que há mais

coisas envolvidas no gênero do que o texto. Portanto, o modo de trabalhar os

gêneros poéticos aqui sugerida, tendo em vista todo o nosso processo de pesquisa,

é a consideração dos gêneros poéticos como objetos estéticos que, pela ação

autoral, podem ser entrevistos em suas arquitetônicas, tomando sua compreensão

dentro de um processo dialógico, no encontro do autor-criador e do autor-

contemplador e resultando numa didatização que explore, de forma ampla, os

espaços discursivos dos gêneros em toda a sua tensa e dinâmica complexidade.

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ANEXOS

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO PPLL – 1ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: É preciso fazer sinal ao motorista

Principal Raymond Queneau

• Explicar o título do poema

• Conhecimentos prévios • Localização e cópia de

informações • Análise lingüística

(estudo dos substantivos – masculino/feminino)

• Dramatização • Comparação entre

outros gêneros de textos (p/ publicar num livro específico)

p. 52 a 72

2) Poema: Cidade Principal Elias José • Antecipação de informação

• Conhecimentos prévios • Compreensão do

significado de expressões dentro do poema (trabalho com a construção poética dos sentidos): “nossa casa aumentada”; “feito casa de caracol”; “cidade da gente de nascença”; “cidade de adoção”.

• Coesão (elipse) • Comparação de textos:

poema e verbete • Conceito de

poema/verso/estrofe • Localizar verso e estrofe

(p. 82) • Leitura do poema em

voz alta: ficha de avaliação (p. 85 a87) p/ treino e apresentação

p. 73 a 80

3) Poema: O Elefantinho Complementar Vinícius de Moraes

• Colorir • Reconhecer e localizar

a estrofe (2ª) • Rimas p. 82. Explicação

sobre a coincidência de sons, e não (orto)gráfica

• Conceito de rimas; p/ o aluno formular

• Rimas não têm em todos os poemas (p. 83. ex. 6)

80

4) Poema: Minha aldeia tem floresta

Complementar Kanátyo Pataxó e outros autores

• Desenhar • Reconhecer e localizar

a estrofe (2ª)

81

5) Poema: Minha cama Complementar Sérgio Caparelli • Rimas: completar o poema com palavras

84

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que rimam

6) Canção Folclórica: Sapo-cururu

Principal Sem autoria • Conhecimento Prévio • Discussão sobre texto

anônimo –autoria coletiva

• Comparação de textos (forma composicional)

102-105

7) Canção folclórica: O Sapo não lava o pé

Principal Sem autoria • Conhecimento Prévio • Discussão sobre texto

anônimo –autoria coletiva

Comparação de textos (forma composicional)

102-105

8) Canção folclórica: O sapo Principal Sem autoria • Conhecimento Prévio • Discussão sobre texto

anônimo –autoria coletiva

• Comparação de textos (forma composicional)

• Sonoridade: identificação da estrofe que reproduz o som que os sapos fazem

• Pesquisa sobre folclore/canções folclóricas: p. 106-107

102-105

9) Poema: O frio pode ser quente

Complementar Jandira Mansur • Comparação de informações entre textos

125-127

10) A vaca e as vogais Principal Fernando Paixão

• Recursos gráficos/sonoridade

• Leitura em voz alta

133-135

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO PPLL - 2ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Vovó viaja e não sai de cada

Principal Sylvia Orthof • Ativação de conhecimentos prévios

• Produção de Inferências• Localização de

informações

10-11

2) Cordel: Aos poetas clássicos

Principal Antônio Gonçalves da Silva / Patativa do Assaré

• Ativação de conhecimento prévio

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Exploração

contextualizada do vocabulário

• Exploração das variedades lingüísticas

• Comparação de informações

• Contextualização sobre a Literatura de cordel

55-69

3) Poema: Canção de inverno

Principal Helena Kolody • Localização e cópia de informações

• Ativação de conhecimento prévio

• Produção de inferências• Rimas • Exploração

contextualizada de vocabulário

• Trabalho com as metáforas/ exploração do sentido no poema

4) Poema: O grito (Munch) Complementar Carlos Drummond

• Preparação para produção textual;

• Comparação de informações (quadro/poema)

5) Poema: Força, alegria, beleza

Principal Francisco Marques

• Produção de inferências• Localização e cópia de

informações • Trabalho com as

imagens literárias do poema: metáforas, comparações, onomatopéias

• Comparação de informações (poema e foto)

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO PPLL - 3ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Amigos do peito Principal Cláudio Thebas • Identificação do gênero • Produção de inferências• Produção textual

(paráfrase do poema) • Ortografia: G e J

10-13

2) Adivinha: Adivinha doida Complementar Ângela Lago • Ativação de conhecimento prévio sobre o gênero

• Atividade lúdica • Produção de livros com

adivinhas recolhidas • O LD Contextualiza o

gênero

3) Poema: O médico Principal Roseana Murray

• Trabalha com as imagens poéticas: comparações

• Antecipação/predição • Produção de inferências• Exploração

contextualizada do vocabulário

• Produção Textual (baseado no poema lido)

130-136

4) Letra de Canção: Peguei um Ita no Norte

Principal Dorival Caymmi • Ativação do conhecimento prévio sobre o gênero

• Comentário sobre a # entre ler a letra e ouvir a canção com a letra

• Antecipação/predição • Localização e cópia de

informações • Exploração

contextulizada do vocabulário

• Produção de inferências• Trabalho com as

variedades lingüísticas • Texto sobre diferenças

entre letra de canção e poema

• Produção de poema

182-187

5) Poema (Tanka) Sem título

Complementar Takuboku Ishikawa

• Comparação de informações entre gêneros

187-188

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO PPLL - 4ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Cantiga de Roda: Atirei o pau no gato

Complementar Domínio Popular

• Comparação de informações

41

2) Poema: Calango espanhol

Principal Ciça Fittipaldi • Ativação de conhecimento prévio

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Exploração do

vocabulário: neologismo

78-81

3)Poema: O hipopardo Complementar Os autores do LD

• Produção de poemas com neologismos

81

4) Poema: A fala do gato Principal Ferreira Gullar • Antecipação/predição • Localização e cópia • Produção de inferências• O LD fala em “narrador

do poema” • Produção de poema

baseado no texto lido

102-105

5) Poema: Sem título Complementar As autoras do LD

• Exemplo para produção textual

105

6) Poema: Eu sou ninguém Principal Emily Dickinson • Produção de inferências• Aspectos gráficos do

poema (Letra maiúscula/minúscula – sentido).

• Exploração contextualizada do vocabulário

163-166

7) Poema: Gente demais Complementar Pedro Bandeira • Comparação de textos / informações

• Produção de inferências

167-168

8) Poema: Classificado poético

Principal Roseana Murray

• Ativação de conhecimento prévio

• Questão sobre gêneros híbridos

• Produção de inferências• Localização e cópia de

informações • Trabalho com o

significado das imagens/metáforas

• Recurso poético: repetição

• Polissemia • Comparação de textos

(Classificado Poético e anúncios de jornais do século XIX)

• Produção de poema baseado no texto lido

• Texto pretexto: Passar o poema p/ o plural

211-218

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO CE – 1ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Canoa Principal Henriqueta Lisboa

• Atividade lúdica – ilustrar o poema

• Contraposição com a prosa qto à ocupação da página

• Exploração do ritmo, das imagens, das sensações e do movimento;

• Apreensão do uso/sentido das repetições

20-21 16-17 (MP) 140-142

2) Poema: Paraíso Principal José Paulo Paes

• Apreensão da interdiscursividade (poema e cantiga de roda “Se esta rua fosse minha”)

• Apreensão da variedade histórica

• Apreciação de valores éticos (ecologia)

• Exploração da forma composicional: versos e estrofes (de forma indireta a partir de um jogo de perguntas e respostas, em que o aluno é levado à reflexão)

• Atividade lúdica: dramatização e desenho

34 18-19 (MP)

3) Poema: A bailarina Principal Cecília Meireles • Dramatização • Exploração dos sons:

rimas • Exploração da forma

composicional: estrofes, versos

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Produção de inferências

82-85

4) Poema: A ilha do pavão Complementar Sérgio Caparelli • Observação das palavras e segmentação da escrita

150

5) Quadrinha: Batatinha quando nasce

• Observação das palavras e segmentação da escrita e ordem das palavras nas frases

151

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6) Quadrinhas: Versinhos Complementar Domínio Público • Observação da segmentação da escrita

154-155

7) Cantiga popular: O trem maluco

Complementar Domínio Público • Observação da segmentação da escrita

157

8) Poema: Às vezes de noite Complementar Sérgio Caparelli • Uso de letras (R) • Declamação do poema

168 62 (MP)

9) Poema: O bicho que come a lua

Complementar Cassiano Ricardo

• Atividade lúdica (cruzadinha)

• Observação das palavras

177 66 (MP)

10) Cantiga de ninar: Acalanto

Complementar Dorival Caymmi • Antecipação do tema 206

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO CE - 2ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Meu caro Barão Principal Chico Buarque. Luis Henrique Bacalov e Sérgio Bardotti

• Apreensão da forma composicional

• Localização e cópia de informações

• Apreensão da sonoridade (tonicidade deslocada)

• Produção de inferência • Apreensão da variedade

lingüística

34-37 26-27(MP)

2) Poema: Homem não chora

Principal Flávio de Souza • Pontuação (uso) • Apreciação da forma

composicional (texto escrito em verso/prosa)

• Exploração contextualizada do vocabulário (imagens: hipérbole)

49-53 31-33 (MP)

3) Poema: Nacos de nuvem Principal Maiakovski • Produção de inferências• Localização e cópia de

informações • Exploração

contextualizada do vocabulário

• Apreensão das imagens no poema, criadas pelo uso das palavras

63-66 36-38 (MP)

4) Poema (Adivinha) Complementar Maria Lúcia Godoy

• Atividade lúdica • Trabalho com as sílabas

(número de sílabas)

82

5) Letra de canção: Oras bolas

Complementar Edith Derdyk e Paulo Tatit

• Trabalho com as sílabas (classificação das palavras pelo número de sílabas)

85-86

6)Poema: O jogo do contrário

Complementar Jandira Mansur • Separação das sílabas 90-92

7) Repente em narrativa “Leia num repente”

Complementar Sem indicação (Autores do LD)

• Repente inserido em narrativa/produção textual de repente

• Exploração do vocabulário

104-105

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO CE - 3ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Poeminhas cinéticos

Principal Millôr Fernandes

• Exploração da forma composicional e disposição gráfica das palavras

10-12

2) Letra de canção Saudosa Maloca

Principal Adoniran Barbosa

• Apreciação da variação lingüística (de forma prescritiva)

• Após contextualização, na página 56-59, retoma a atividade na página 60, ex. 4, de forma a reaver a questão.

53-55

3) Poema: Cidadezinha qualquer

Complementar Carlos Drummond

• Estudo do substantivo (identificação no texto)

• Produção textual

88-89

4) Letra de canção: João e Maria

Complementar Chico Buarque de Holanda

• Uso dos artigos definido e indefinido

• Substantivos (variação em número e gênero)

• Adjetivos (localização no texto)

• Acentuação

104-105

5) Poema: Neologismo Complementar Manuel Bandeira

• Neologismo (verificação no texto)

• Verbos (pessoa /tempo)

137-138

6) Poema: Telefonema Complementar Ricardo G. Ramos

• Produção de inferências• Trabalho com verbos

147

7) Poema: Parece e é Complementar Sylvia Orthof • Trabalho com verbos 149-150

8) Poema: sem título Complementar Márcia Batista • Classe de palavras 170

9) Poema: Um dia acordarás

Complementar Mário Quintana • Acentuação 207

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO CE - 4ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Havia um menino Principal Fernando Pessoa

• Polissemia • Exploração

contextualizada do vocabulário

• Apreensão dos processos coesivos

• Produção de inferências• Rimas • Apreciação afetiva • Produção textual

20-21

2) Poema: Eu, etiqueta Principal Carlos Drummond de Andrade

• Apreciação afetiva • Exploração do

vocabulário • Polissemia/Ambigüidade• Produção de inferências• Relação do título com o

texto

51-55

3) Letra de canção: Passaredo

Complementar Chico Buarque e Francis Hime

• Classes de palavras/substantivos

• Análise das palavras qto ao numero de sílabas, acento Tonico,

224-227

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LPT - 1ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: O que é que eu vou ser

Complementar Pedro Bandeira • Atividade Oral (Roda de Conversa)

9-10

2) Poema: O menino rola a bola

Principal Málus • Apreensão temática • Apreensão do gênero • Apreciação afetiva • Atividade lúdica:

Desenho • Atividade Lúdica: Jogral

13-16

3) Letra de Canção: ABC do amor

Complementar Rubinho do Vale

• Atividade Lúdica: cantar • Rever/fixar as letras do

alfabeto

78

4) Poema: Que sujeira! Complementar Pedro Bandeira • Antecipação de informações (Roda de Conversa e Roda de Sugestões)

89

5) Poema: A bruxa Complementar Geonice Valério Sbruzzi

• Apreensão da forma gráfica (poema/prosa)

• Comparação entre dois textos qto à forma gráfica

• Treino de escrita: ditado

94-98

6) Poema: Segredos para um feitiço

Complementar Cora Rónai • Atividade lúdica (Divirta-se lendo o poema sobre feitiço!).

• Alimentação temática para produção textual

110-111

7) Adivinha: Sem título Complementar Não indicado • Antecipação de informações

• Atividade lúdica

117

8) Poema: Os Poemas Principal Mário Quintana • Apreciação afetiva: O que você sentiu ao ouvir o poema

119

9) Poema: Você já viu? Principal Alexandre Azevedo

• Apreciação estética (Qual parte do poema chamou mais sua atenção? Por quê)?

• Inferência global (Título)• Atividade Lúdica (ilustrar

versos do poema) • Apreensão do uso de

sinais de pontuação no poema

• Produção textual: Produzir um verso

• Conhecimento lingüístico: Flexão de número

121-127

10) Poema; Aninha A muriçoca

Principal Nancy Ortencio • Localização e cópia de informações

• Apreciação estética • Produção de inferência

simples

129-132

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• Atividade lúdica: ilustrar o poema

11) Trava-línguas Complementar Ricardo Azevedo

• Atividade lúdica 135

12) Parlendas Complementar Não indicado • Atividade lúdica 136

13) Letra de canção: Aquarela

Complementar Toquinho e Vinicius

• Atividade lúdica (pintura)

138

14) Poema: Receita de encontrar unicórnio

Complementar Roseana Murray

• Apreciação estética • Produção de inferência

139-140

15) Poema: Sem título Complementar Ieda Dias • Atividade Lúdica (criação de outra ilustração para o poema)

186

16) Poema: A natureza Complementar Sylvio Luiz Panza

• Alimentação temática (sem atividade/ projeto do tema da unidade)

188-189

17) Poema: Alice entra no jogo de xadrez

Principal Mônica Rodrigues da Costa

• Apreensão da interdiscursividade

• Apreciação afetiva • Localização e cópia de

informações

195-198

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LPT – 2ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Letra de canção: Bola de gude

Complementar CD Gabriela Cravo e Canela (?)

• Comparação entre textos

• Exploração contextualizada de vocabulário

• Variação lingüística

18-19

2) Poema: Infância Complementar Sônia Miranda • Atividade Lúdica (Oficina de Brinquedos)

19-20

3) Poema: A roupa nova do rei

Complementar Pedro Bandeira • Comparação de textos: (forma poema/prosa)

• Apreciação afetiva

65-68

4) Letra de canção: Era uma vez

Complementar CD Era uma vez (?)

• Pretexto p/ a produção textual

69

5) Poema: Que bicho é esse?!!!

Complementar Carlos Pimentel • Leitura lúdica 81-82

6) Poema; sem título Complementar Carlos Pimentel • Discussão oral 90

7) O vendedor de bolas Principal Rose Fyleman • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Atividade lúdica:

ILUSTRAR • Apreciação estética e

afetiva • Discussão da forma

composicional e apreensão das características da leitura poética: “O trecho seria escrito da mesma forma se não fizesse parte de um poema?” A leitura seria diferente? Por quê?

113-115

8) Poema: Palhaço Principal Lalau e Laurabeatriz

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Apreensão das rimas

116-117

9) Poema: O que é que eu vou ser?

Principal Pedro Bandeira • Apreensão das rimas (completar os versos com as palavras que rimam)

• Leitura expressiva

118

10) Poema: Os operários Principal Roseana Murray

• Apreensão das figuras do poema (por inferência)

• Atividade lúdica (ilustrar os versos)

• Produção de textos e atividades lúdicas

119-124

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(declamação) como parte do projeto da unidade

11) Poema: Chuva em rima Principal Cristina Porto • Sem atividade 145

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LPT - 3ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Tia Fá Principal Ziraldo • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Exploração do

vocabulário

50-51

2) Letra de canção: Encontros e despedidas

Principal Milton Nascimento e Fernando Brant

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Exploração

contextualiza do vocabulário

67-68

3) Poema: 1 é 5 3 é 10 Principal Santuza Abras • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

129-130

4) Poema: Meninos carvoeiros

Principal Manuel Bandeira

• Exploração do vocabulário

• Leitura expressiva: jogral

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Exploração da variação

lingüística

131-133

5) Poema: Terremoto Complementar José Paulo Paes

• Apreensão das características gerais do poético

166-167

6) Poema: Mãe Complementar Mário Quintana • Apreensão das características gerais do poético

166-167

7) Poema: Havia um menino Principal Fernando Pessoa

• Apreciação estética • Produção de inferência

global • Atividade lúdica:

desenho

168-169

8) Poema: Ar livre Principal Cecília Meireles • Exploração contextualizada do vocabulário

• Produção de inferências• Localização e cópia de

atividades • Apreciação estética • Comparação c/ quadro

de Monet (p. 177/178) • Sugestão de pintura a

partir de um verso do poema (p. 179)

170-171

9) Poema: A vida Principal Olavo Bilac • Leitura expressiva do poema

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Expl. contextualizada de

vocabulário

172-173

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LPT- 4ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Confidência do itabirano

Principal Carlos Drummond

• Comparação de textos (biografias)

32

2) Poema: XXI Complementar Cecília Meireles • Exemplar de rascunhos/texto final

33

3) Poema: Confissão Complementar Binho • Discussão oral • Antecipação de

informações • Localização de

informações • Produção de inferências• Exploração do registro • Comparação do poema

c/ reprodução (escultura)

85-86

4) Poema: Poética Complementar Cassiano Ricardo

• Antecipação de informações

• Na página 113 há uma explicação sobre poema/poesia/poético

• Produção textual

111

5) Poema: Amor é fogo que arde sem se ver

Principal Camões • Produção de inferências• Apreciação estética

115

6) Letra de canção: Monte Castelo

Principal Renato Russo • Produção de inferências• Apreciação estética • Comparação de textos

(apreensão da intertextualidade discursiva)

• Uso do conectivo “e”

117

7) Poema: O navio negreiro Principal Castro Alves • Comparação de informações entre textos

• Produção de inferências• Exploração

contextualizada do vocabulário

• Exploração de figuras: comparação e metáfora

• Desenho ilustrando estrofe

• Exploração das imagens: comparação e metáfora

126-129

8) Letra de canção: Metáfora

Principal Gilberto Gil • Apreensão do significado global do texto: conceito de metáfora e título da letra de canção

• Exploração dos sentidos no uso de algumas palavras nos dois textos

130-131

9) Poema; Estrelas Principal Murilo Mendes • Atividade lúdica: representação plástica

131-133

Page 289: OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE … DE JESUS... · simone de jesus padilha os gÊneros poÉticos em livros didÁticos de lÍngua portuguesa do ensino fundamental: uma

do poema • Declamação do poema • Comparação de

informações: poema e quadros de Van Gogh

10) Letra de canção: Um trem para as estrelas

Principal Cazuza e Gilberto Gil

• Apreensão da intertextualidade temática (este texto e os outros da unidade)

• Exploração do vocabulário

• Apreciação de valores éticos/políticos

138-139

11) Poema Concreto: A onda

Principal Manuel Bandeira

• Comparação entre textos

• Apreensão das características da poesia concreta

• Produção textual de poema concreto

145-146

12) Poema Concreto: Sem título

Principal Augusto de Campos

• Comparação entre textos

• Apreensão das características da poesia concreta

• Produção textual de poema concreto

145-146

13) Poema: Este quarto Principal Mário Quintana • Comparação entre diferentes linguagens: poema e quadro

147-148

14) Letra de canção: Caleidoscópio

Complementar Herbert Vianna • Apreensão do sentido global: título Produção de poema com título Caleidoscópio

148-149

15) Cordel: A peleja Principal Ana Maria Machado

• Texto exemplar do gênero: apreensão das características

153

16) Cordel: A feira de Caruaru

Principal Omildo Almeida • Comparação de textos • Apreensão do sentido

global • Produção textual de

cordel

157-159

17) Cordel: Toada Principal Patativa do Assaré

• Comparação de textos • Apreensão do sentido

global • Produção textual de

cordel

158-159

18) Poema; Lenda Complementar Ieda Dias • Exemplar de poema com mesma estrutura de cordel

• Declamação

160-161

19) Poema: Levava eu um jarrinho

Complementar Fernando Pessoa

• Exemplar de poema com mesma estrutura de cordel

• Declamação

160-161

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO AML -1ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema – A língua de um povo dá nome para todas as coisas

Principal Eunice Dias de Paula et. al.

• Pseudoleitura; • Leitura em voz alta; • Localização e cópia de

informações (buscar no poema a palavra NOME);

• Atividade lúdica (ilustrar os versos do poema);

• Solicitação de apreciação afetiva (Você gostou do poema que o professor leu? p. 12)

10

2) Adivinha – Sem título Complementar Sem indicação • Antecipação de informações. A resposta da adivinha é a palavra NOME, tema da unidade.

17

3) Letra de canção – Nome das coisas

Complementar André Abujamra • Antecipação/ repetição de informações, pois o texto se refere à palavra NOME.

18

4) Letra de canção – Gente tem sobrenome

Principal Toquinho e Elifas Andreato

• Localização e cópia de informações;

• Exploração do conteúdo temático

26-27

5) Parlenda – Hoje é Domingo

Complementar Domínio Popular

• Leitura em voz alta; • Memorização; • Atividade lúdica (ilustrar

o texto, brincar de parlenda)

33

6) Quadrinha – Sem título Complementar Sem indicação • Pseudoleitura; • Reconhecimento e

fixação de letras; • Incentivo para a

produção de quadrinhas: Com sua turma, invente outra quadrinhas com os nomes dos colegas...p. 37

36

7) Poema – Seja bem vinda, volte outra vez

Complementar Ciça • Exploração de recursos estilísticos: percepção e localização das rimas

43

8) Adivinha – Sem título Complementar Sem indicação • Atividade lúdica 44

9) Cantiga de Roda – A canoa virou

Complementar Domínio Popular

• Atividade lúdica: brincar de roda, cantar a cantiga.

45

10) Adivinha – Sem título Complementar Sem indicação • Atividade lúdica; • Antecipação de

informações (Epígrafe de unidade)

47

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11)Cantiga de Roda – Caranguejo não é peixe

Complementar Domínio Popular

• Atividade lúdica; • Localização e cópia de

informações (localizar a palavra peixe);

• Exploração do conteúdo temático: Se caranguejo não é peixe o que ele é? p. 49

49

12)Poema - O pescador encantado

Principal Elias José • Exploração dos recursos visuais (ilustração);

• Localização e cópia de informações,

• Atividade lúdica: desenho

50

13) Adivinha – Sem título Complementar Sem indicação • Atividade lúdica; • Reconhecimento de

letras

64

14) Letra de Canção –Sem título

Complementar Pedro Mourão • Exploração dos sinais de pontuação;

• Ativação de conhecimento prévio;

• Exploração do conteúdo temático

66

15) Adivinha – Sem título Complementar Sem indicação • Atividade lúdica 71

16) Poema – Vento Principal Luís Camargo • Exploração do vocabulário;

• Reconhecimento e fixação de letras e sílabas

74

17) Poema – Espantalho Principal Almir Correia • Localização e cópia de informações;

• Ativação de conhecimento prévio;

• Exploração do conteúdo temático;

• Reconhecimento e fixação dos dígrafos

80

18) Quadrinha – Sem título Complementar Domínio Popular

• Pseudoleitura; • Localização e cópia de

informações; • Exercícios de

segmentação de palavras

82

19) Letra de canção – A sopa

Principal Sandra Peres • Exploração de recursos estilísticos (rima, ritmo);

• Localização de informações;

• Atividade lúdica: dramatização

83

20) Poema – Mosca Mosquinha

Complementar Almir Correia • Exploração de aspectos gramaticais (adjetivação, ortografia);

• Reconhecimento e observação da

89

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segmentação da escrita

21) Letra de canção – É bom ser criança

Complementar Toquinho e Elifas Andreato

• Localização e cópia de informações

97

22) Poema – Que horta! Principal Tatiana Belinki • Exploração do conteúdo temático;

• Ativação de conhecimento prévio

• Exploração do sistema alfabético

98-99

23) Poema – Vassoural Complementar Sylvia Orthof • Exploração do conteúdo temático;

• Produção de inferências;

• Ativação de conhecimento prévio

• Reconhecimento de sílabas

102

24) Poema - Quem me acha Complementar Almir Correia • Atividade lúdica; • Fixação de sílaba: cha

106

25) Poema - As abelhas Complementar Vinícius de Moraes

• Localização de informações;

• Atividade lúdica: desenho

109

26) Cantiga de Roda – O cravo brigou com a rosa

Complementar Domínio Popular

• Reconhecimento e fixação de letras e palavras;

• Atividade lúdica: cantar e dramatizar

110

27) Adivinhas – Sem título Complementar Domínio Popular (Folclore Brasileiro)

• Atividade lúdica; • Reconhecimento e

fixação de letras

123

28) Poema – Sem título Complementar Angela Leite de Souza

• Epígrafe de unidade 127

29) Adivinha – Sem título Complementar Sem indicação • Epígrafe de unidade 128

30) Poema - Tempestade Principal Elias José • Exploração do conteúdo temático;

• Ativação do conhecimento prévio;

• Exploração de vocabulário

• Reconhecimento e fixação de letras, sílabas e palavras

130

31) Trava-línguas – Sem título

Complementar Sem indicação • Atividade lúdica 132

32) Poema – Chove, chuva Complementar Ascenço Ferreira e Luíza de Teodoro

• Exploração do conteúdo temático;

• Atividade lúdica: ilustrar o poema

137

33) Adivinha – Sem título Complementar Domínio Popular

• Atividade Lúdica • Fixação de letras

139

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34) Letra de Canção - Água Complementar Arnaldo Antunes

• Atividade lúdica: ilustrar o texto;

140

35) Poema – Sem título Complementar Angela Leite de Souza

• Motivação para produção textual: Construa um poema de nunca acabar...p. 145

145

36) Parlenda – Sem título Complementar Domínio Popular (Neusa Caccese de Matos)

• Leitura (não há solicitação de atividade para este texto)

148

37) Poema Concreto Complementar Arnaldo Antunes

• Leitura em voz alta; • Exploração de recursos

gráficos

150

38) Poema – O Girassol Complementar Elias José • Localização de informações

151

39) Poema Visual - Sol de letras

Complementar Alda Beraldo • Atividade lúdica; • Exploração do

conhecimento do alfabeto;

• Exploração de recursos gráficos

153

40) Poema – A lua no cinema

Complementar Paulo Leminski • Atividade lúdica: ilustração do poema

155

41) Poema - A dança da chuva

Complementar Paulo Leminski • Epígrafe de unidade 157

42) Cantiga Popular – Pezinho

Complementar Domínio Popular (Folclore do RS)

• Atividade lúdica: cantar e dançar

• Reescrita de estrofe da canção;

• Reconhecimento e fixação da cedilha

160

43) Poema - Centopéia Complementar Wania Amarante

• Localização e cópia de informações

162

44) Cantiga de Roda - Valsinha das palmas

Complementar Folclore Brasileiro

• Atividade lúdica: cantar e reconhecer o ritmo ternário da valsa

163

45) Poema – Sem título Complementar Lalau e Laurabeatriz

• Exploração de recurso estilístico: metáfora

168

46) Parlenda – A dança das caveiras

Complementar Domínio Popular

• Atividade lúdica: dramatização

• Exploração de recursos estilísticos: rimas

176-177

47) Parlenda (mnemonia) – Sem título

Complementar Domínio Popular

• Atividade lúdica: brincar com os números através da parlenda

178

48) Letra de canção: A noite no castelo

Complementar Hélio Ziskind • Exploração do conteúdo temático do texto: personagens assombrados

179

49) Cantiga de ninar – Tutu-marambá/ Nana nenê

Complementar Domínio Popular

• Ativação do conhecimento prévio

182

50) Cantiga popular – Sem título

Complementar Folclore Brasileiro

• Atividade lúdica: cantar 186

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO AML - 2ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Letra de

Canção – Uma

estória

Complementar Paulo Tatit/ Zé Tatit • Epígrafe para antecipação do

conteúdo da unidade;

• Atividade lúdica: decorar a

letra de canção

8

2) Cantiga

Popular – Música

dos dedinhos

Complementar Sem indicação • Atividade lúdica: brincadeira

com os dedos das mãos

acompanhada pela canção

14

3) Adivinha - Sem

título

Complementar Alfredo Garcia • Atividade lúdica

21

4) Poema –

Dúvida

Complementar Wania Amarante • Exploração do vocabulário;

• Localização e cópia de

informações;

• Exploração do conteúdo

temático;

• Produção de inferência

26

5) Poema – Sem

título

Complementar Paulo Seben • Epígrafe de abertura de

unidade, relacionada ao tema

Conto de fadas

• Observação: este poema que

tem uma forma composicional

que retoma as formas de

parlendas

46

6) Poema – Conto

de Falda

Principal Leo Cunha • Localização e cópia de

informações;

• Produção de inferências

• Ativação de conhecimento

prévio

• Apreciação valorativa: Você

concorda com a opinião de

Mafalda sobre o nome

escolhido por sua madrinha?

Justifique sua resposta. (p.

53);

• Atividade lúdica: dramatização

• Reescrita do texto através de

paródia

53

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7) Poema-

Livrinho de

Histórias

Complementar Hardy Guedes A.

Filho • Sem atividade proposta para

este texto

59

8) Letra de

Canção – Os

super-heróis

Principal Toquinho e Mutinho • Localização e cópia de

informações;

• Exploração do vocabulário

(sinônimos);

• Atividade lúdica:

dramatização;

• Reescrita do texto através de

paráfrase

70-71

9) Poema – O

primeiro

astronauta

Principal Thiago de Mello • Exploração de aspectos de

estruturação do texto poético:

estrofe;

• Reescrita : recontar o poema

em forma de história em

quadrinhos: uso do discurso

direto e indireto ;

• Reescrita: paráfrase:

“transposição” da poesia para

a prosa

• Produção de inferência

102

10) Poema –

Viagem

Complementar Elias José • Reescrita do texto: recriar o

poema

128

11)Poema -

Limerick do

Computador

Complementar Sérgio Caparelli • Atividade lúdica: ilustração do

poema;

• Produção textual : escrever

um limerick

150

12) Poema –

Bicho solto

Principal Luís Pimentel • Localização e cópia de

informações;

• Produção de inferências;

• Atividade lúdica:

dramatização;

• Exploração do vocabulário

152

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO AML - 3ª SÉRIE Gênero/ Titulo Posição do Autor Atividades Propostas Página

1) Adivinha –

Sem título

Complementar Alfredo Garcia • Epígrafe de unidade 9

2) Poema –

Medoliques

Principal Tatiana Belinky • Exploração da forma

composicional: estrutura do

limerick;

• Produção textual: reescrita

dos limeriques através de

paráfrase;

• Exploração de conteúdo

temático: tema medo;

• Exploração do vocabulário

10-11

3) Adivinha –

Sem título

Complementar Sem indicação • Atividade Lúdica; adivinha

relacionada ao tema que está

sendo trabalhado na unidade:

dente/dentista

20

4) Letra de

Canção – A

refrescante

sensação

Complementar Cláudia Dalla Verde

e Flávio de Souza • Localização e cópia de

informações;

• Produção de inferências;

• Exploração do vocabulário

21

5) Poema – Sem

título: do livro Q

barato (ou a

metamorfose)

Complementar Guto Lins • Exploração de recursos

visuais (gráficos);

• Exploração da polissemia

37

6) Poema

Concreto – Sem

título

Complementar Augusto de Campos • Produção textual;

• Exploração de recursos

gráficos: significante;

“metamorfose da palavra”

42

7) Adivinha –

Sem título

Complementar Sem indicação • Atividade lúdica 43

8) Adivinhas -

Adivinhações

para quem morre

de medo de água

Complementar Sem indicação • Atividade lúdica;

• Exploração das figuras de

linguagem: ambigüidade e

hipérbole

61

9) Poema: são 3

poemas sem

Principal Elias José/ Nani • Exploração de aspectos da

textualidade: atribuir título aos

75

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títulos poemas;

• Ativação de conhecimento

prévio;

• Exploração de recursos

estilísticos: rima;

onomatopéia;

• Produção textual: reescrita;

10) Parlenda –

Sem título

Complementar Folclore Brasileiro • Epígrafe – antecipação de

conteúdo a ser trabalhado na

unidade

86

11) Poema -

Medo

Complementar Elias José • Exploração de relações

intertextuais: poema e HQ;

• Produção de inferências

91

12) Adivinha –

Sem título

Complementar Sem indicação • Epígrafe - antecipação do

conteúdo a ser trabalhado na

unidade: tema escuridão

99

13) Poema – O

medo do menino

Principal Elias José • Localização e cópia de

informações;

• Reescrita do texto a partir de

substituição de palavras (com

ênfase na concordância verbal

e nominal);

• Exploração do vocabulário;

• Exploração de recursos

estilísticos: rima;

• Exploração de sinais de

pontuação;

• Leitura em voz alta:

explorando a entonação

107

14) Poema –

Haicai

Complementar Abel Pereira • Exploração de recursos

estilísticos sonoridade;

• Exploração da forma

composicional: estrutura do

haicai;

• Produção de haicais

109

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15) Poema –

Canção de nuvem

e vento

Principal Mário Quintana • Leitura oral: escuta do poema;

• Localização e cópia de

informações;

• Exploração de recursos

estilísticos: sonoridade;

• Exploração de recursos

gráficos

117

16) Poema

(Haicai) –

Temporal

Complementar Paulo Leminski • Produção de poema;

• Exploração de vocabulário:

expressões metafóricas;

121

17) Adivinhas –

Vem aí uma

tempestade de

perguntas

Complementar Sem indicação • Atividade lúdica;

• Exploração de campo

semântico;

• Produção de adivinhas

122

18) Poema

(Haicai) – Arco-

íris

Complementar Helena Kolody • Localização e cópia de

informações;

• Produção de inferência

125

19) Poema –

Daltonismo

Complementar Ulisses Tavares • Exploração do conteúdo

temático;

• Produção de inferências

127

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO AML - 4ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades Propostas Página

1) Poema –

Receita de se

olhar no espelho

Complementar Roseana Murray • Epígrafe – antecipação do

conteúdo da unidade

8

2) Poema -

Dentro do livro

Complementar Ricardo Azevedo • Produção textual coletiva;

• Exploração dos aspectos de

estruturação do texto poético:

estrofe;

• Localização e cópia de

informações

10-11

3) Letra de

canção – Hino

Nacional

Complementar Francisco Manuel

da Silva/ Joaquim

Osório Duque

Estrada

• Localização de informações;

• Exploração do vocabulário;

• Produção de paráfrase da

letra

26

4) Poema – Um

treco

Complementar Sylvia Orthof • Exploração da polissemia;

• Produção de inferências

55

5) Poema –

Castigo

Principal Leo Cunha • Localização e cópia de

informações;

• Produção de inferências;

• Produção: reescrita do poema;

• Exploração de recurso

estilístico: expressão

metafórica: fugir pelo telefone

79

6) Letra de

Canção- Use a

imaginação

Principal Daltony Nóbrega • Localização e cópia de

informações;

• Exploração do conteúdo

temático/ apreciação

valorativa sobre o conteúdo

temático: Como você se sente

ao receber um não como

resposta? Explique quando

você acha que uma resposta

negativa é justa e quando é

injusta (p. 111)

• Exploração dos sinais de

pontuação

110

7) Poema – Circo Complementar Elias José • Produção de inferências;

• Localização e cópia de

118

Page 300: OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE … DE JESUS... · simone de jesus padilha os gÊneros poÉticos em livros didÁticos de lÍngua portuguesa do ensino fundamental: uma

informações;

• Ativação de conhecimento

prévio

8) Poemas – As

cores e as

palavras

Principal Elias José • Localização e cópia de

informações;

• Exploração de recursos

expressivos: reticências;

• Produção textual: escrever

novas estrofes através da

exploração de campo

semântico (cores)

122

9) Poema –

Samba

Complementar Almir Correia • Atividade Lúdica: tocar e

cantar o “sambinha”

125

10) Letra de

Canção – Minha

Canção

Complementar Chico Buarque,

Sérgio Bardotti e

Luiz Enriquez

• Atividade lúdica: explorando

sílabas e ativação de

conhecimento prévio

128

11) Cantiga de

Roda – Teresinha

de Jesus

Complementar Folclore popular • Atividade lúdica: brincar de

roda;

• Localização e cópia de

informações;

130

12)Poema - A

bailarina

Principal Cecília Meireles • Ativação de conhecimento

prévio;

• Localização e cópia de

informações;

• Atividade lúdica:

dramatização;

• Produção de inferências;

• Produção textual a partir do

poema;

• Exploração de aspectos

textuais: refrão

132

13) Letra de

Canção - Lenda

do Pégaso

Principal Jorge Mautner e

Moraes Moreira • Produção de inferências;

• Localização e cópia de

informações;

• Exploração de vocabulário;

• Exploração de recursos

estilísticos: sonoridade

158-

159

14) Poema – Um Principal Roseana Murray • Localização e cópia de 166-

Page 301: OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE … DE JESUS... · simone de jesus padilha os gÊneros poÉticos em livros didÁticos de lÍngua portuguesa do ensino fundamental: uma

cachorro

vagabundo

informações;

• Exploração do vocabulário;

• Produção de inferências;

• Exploração dos recursos

visuais: ilustração;

• Reescrita do texto a partir de

substituição de palavras;

• Análise de emprego de classe

de palavra: artigo

167

15)Poema –

Profissões

Principal José Paulo Paes • Localização e cópia de

informações;

• Ativação de conhecimento

prévio;

• Produção textual: produzir

uma nova estrofe para o

poema

174-

175

16) Poema -

Classificados

Poéticos

Complementar Roseana Murray • Produção textual: escrever

uma carta a partir da leitura do

poema

182-

183

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LI – 5ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Sem título Complementar Carlos Queiroz Telles

• Epígrafe (há explanação sobre o que é uma epígrafe)

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

7

2) Poema: Basta Principal Carlos Queiroz Telles

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração da forma composicional (estrofes/ versos – o livro traz uma definição tradicional e rápida sobre o que é um poema: “O texto Basta! É um poema. Um poema é feito de versos. Cada linha do poema é um verso. Um conjunto de versos é uma estrofe. Cada estrofe separa-se da outra por uma linha ou um espaço em branco”

• Exploração de aspectos intertextuais (gritos de liberdade)

• Exploração de aspectos estilísticos na seção “Os efeitos de sentido”

• Comparação entre o poema e o HQ Radical Chic

9-12

3) Poema: O Elefantinho Principal Vinícius de Moraes

• Repete novamente a definição: “Na poesia, cada linha é um verso. Cada conjunto de versos é uma estrofe.

• Exploração da forma composicional (Mudar de estrofe = mudar a voz)

• Produção de

27-28

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inferências • Observação sobre

novos sentidos produzidos pelo texto poético

4) Poema: Sem título (São Francisco)

Suplementar Vinícius de Moraes

• Pretexto para exercício gramatical; localizar tipos, graus e número dos substantivos/ diminutivo que expressa carinho

30-32

5) Poema Concreto: Canção para ninar gato com insônia

Principal Sérgio Caparelli • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração da forma composicional (desenho formado com a repetição das palavras)

35-36

6) Poema: Sem título Complementar Roseane Murray

• Epígrafe • Exploração de

“linguagem figurada” – metáforas/ comparação

52-54

7) Poema: Canção Principal Cecília Meireles • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração dos recursos figurativos: metáfora/ comparação/ ironia

54-55

8) Poema: Pardal Travesso Principal Cecília Meireles • Ativação de conhecimento prévio

• Produção de inferências

• Exploração da forma composicional: comprimento dos versos

• Exploração das rimas

• Comparação de informações entre textos: poemas Canção e Pardal Travesso quanto à forma composicional

57-60

9) 3 Poemas: Poeminhas cinéticos

Principal Millôr Fernandes

• Exploração dos recursos gráficos

61-63

Page 304: OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE … DE JESUS... · simone de jesus padilha os gÊneros poÉticos em livros didÁticos de lÍngua portuguesa do ensino fundamental: uma

• Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• O LD sintetiza, comparando os poemas da unidade, o que “a poesia pode ser”

• Produção textual, p. 65

10) Quadrinhas: Sem título Complementar Sem autoria • Texto expositivo sobre as quadrinhas/ conceito: “Quadrinhas são poesia de quatro versos”

63-64

11) Poema: Cidadezinha cheia de graça

Principal Mário Quintana • Comparação de informações (entre os textos lidos na unidade/ qto à forma composicional e assunto)

• Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Personificação – o LD chama atenção para

• Exploração do estilo: uso de recursos gramaticais: diminutivo, repetição p/ produção de sentido

85-86

12) Poema: Sem título Complementar Mário Quintana • Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

89-90

13) Poema: Os meninos carvoeiros

Complementar Manuel Bandeira

• Epígrafe • Comparar

informações entre textos: entre o poema da epígrafe e o texto: Pequenos Escravos Negros, p. 126.

111

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LM - 6ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Ilustração/Poema: Goeldi Principal Alberto Martins e Luise Weiss

• Análise da composição ilustração/poema – diálogo poesia-gravura

• Neste volume tb, o LD traz o conceito resumidamente: “A poesia se escreve em versos. Cada linha é um verso.”

• Exploração de recursos figurativos: Metáfora (como comparação abreviada)

• Exploração do recuso da sonoridade: repete o tema do poema

• Exploração de jogos de palavras

8-14

2) Poema: Poças d’ água Principal Mário Quintana • Comparação/metáforas • Definição de linguagem

poética – p. 15. ex. 3c • Linguagem poética • Compara o sentido

poético ao sentido de dicionário (verbete)

• Exploração dos jogos de palavras

14-16

3) Poema: Infância Principal Carlos Drummond

• Localização e cópia de informações

• Trabalho com o estilo: ordem das palavras na frase, uso de pontuação, inversão, elipses

• Produção de inferências

56-60

4) Poema: Desejos Complementar Elias José • Exemplo de texto p/ produção textual

79

5) Poema: A valsa A M.*** Principal Casimiro de Abreu

• Comparação com poema de Drummond (observação em relação à variação histórica da língua)

• Localização e cópia de informações

• Contextualização do estilo de época: romantismo

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Figuras de linguagem: gradação; hipérbole (ex. 4, p. 131)

• Ritmo (valsa) e rima

125-134

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• Refrão • Escansão

6) Poema Narrativo: Morte e Vida Severina

Principal João Cabral de Melo Neto

• Destaque p/ a forma composicional do texto (teatro/poema)

• Estilo: monólogo • Localização e cópia de

informações • Exploração

contextualizada do vocabulário

• Exploração da pontuação (uso dos dois pontos)

143-148

7) Poema: Epígrafe Complementar Carlos Drummond

• Localização e cópia de informações

• Discussão temática da unidade

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LM - 7ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Soneto (Amor é fogo...)

Complementar Camões • Epígrafe • Comparação de informações

com os outros textos da unidade

• Figura: paradoxo/antítese

7/18

2) Poema: Sem título Principal Paulo Leminski

• Comparação de texto e pintura

• Definição de poesia: “O texto 2 é uma poesia, porque é feito de versos. Verso é a linha da poesia. Na poesia, como na pintura, alguns recursos de expressão constroem os conteúdos” (p. 11, ex. 2)

• Explicação sobre a relação expressão/conteúdo: “Todo texto tem expressão e conteúdo. Numa poesia, por exemplo, a escolha das palavras, a combinação das palavras nos versos e dos versos nas estrofes, as rimas, o ritmo, são recursos de expressão. Os recursos de expressão são usados para criar uma idéia, um conteúdo, como amor, paz, guerra, ódio, entre outros.” (p. 10. ex. 3)

• Atividades que chamam a atenção para os recursos que o autor criou em termos das possibilidades de construção de sentidos a partir dos recursos da escrita, da forma composicional e dos recursos gráficos: iniciais minúsculas nos versos; alinhamentos diferenciados dos versos nas estrofes; comprimento diferenciado dos versos; uso de rimas imperfeitas

• Destaque p/ as atividades a gramática e o sentido do texto, da página 13.

10-14

3) Poema: Fanatismo Principal Florbela Espanca

• Introduz a noção de enunciador

• Relação do título com o restante do poema

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Forma composicional: soneto – o LD fala rapidamente sobre o gênero, mas não contextualiza a autora do

15-17

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poema (Florbela Espanca) • Relaciona a forma

composicional (gênero poético; comprimento dos versos; rimas fixas) com a construção do sentido/reforço/retomada/repetição do sentido

• Página 19 há sugestão de produção de poema

4) Poema: Canção do Tamoio (fragmento)

Principal Gonçalves Dias

• Ritmo e rimas – análise em relação ao sentido produzido

• Forma composicional: partes em que o poema se divide, numero de sílabas em cada verso.

67-70

5) Poema: Eu pensava que a terra remendava com o céu

Principal Norberto S. Tene Kaxinawá

• Localização e cópia de informações

• Atenção para o efeito de sentido de estrutura sintática dentro do poema: ex. 3 a 6.

74-76

6) Poema Concreto: GAGARIN

Principal Cassiano Ricardo

• Exploração dos recursos gráficos: uso de palavras, re petições; distribuição das palavras no papel; o desenho formado pelas palavras

• Neologismo

79-82

7) Poema: Sem título Complementar Carlos Pena Filho

• Epígrafe 98

8) Poema: Aula de Português

Principal Carlos Drummond de Andrade

• Localização e cópia de informações

• Trabalho sobre as oposições

• Variação lingüística: tema do poema

• Título (atenção p/)

123-126

9) Poema: Vício na fala Principal Oswald de Andrade

• Trabalho sobre as oposições

• Variação lingüística: tema do poema

126-128

10) Poema: Neologismo Principal Manuel Bandeira

• Localização e cópia de informações

• Neologismo: relaciona o título do poema tb.

• Comparação entre textos (os 3 poemas)

128-130

11) Poema (Fragmento) Sem título

Complementar Cecília Meireles

• Epígrafe • Linguagem

figurada/metonímia

138-161-162

12) Poema: Mar Português

Principal Fernando Pessoa

• Localização e cópia de informações

• Metonímia • Ordem inversa das

palavras (p. 143, ex. 4)

140-143

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LM - 8ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Autor Atividades propostas Página

1) Poema/ Sem título Complementar Manuel Bandeira

• Epígrafe 7

2) Poema: Quadrilha Principal Carlos Drummond de Andrade

• Conceito: “Prosa e poesia são diferentes. Um texto em prosa é escrito de forma corrida, ocupa a linha toda da página, organizando-se, geralmente, em parágrafos. O texto Quadrilha é escrito em versos, por isso é poesia, é um poema” (p. 31)

• Estilo: uso dos tempos verbais – construção dos sentidos no poema

• Exploração da forma composicional em relação ao título Quadrilha

• Explora temas e figuras: texto temático e figurativo: p. 32-33

• Rima/ritmo: p33-34

31-34

3) Poema: Sem título Complementar Cassiano Ricardo

• Epígrafe • Exploração dos

recursos gráficos na construção dos sentidos

96-116-117

4) Poema: Infância Principal Oswald de Andrade

• Localização e cópia de informações

• Forma composicional – recurso usados p/ dar o contraste submissão/rebeldia no poema

97-99

5) Poema: Meus oito anos Complementar Casimiro de Abreu

• Estilo de Época – Romantismo: características

• Comparação entre estilos: Romantismo e Modernismo

• Observação estranha: “Numa primeira comparação entre o Romantismo e o Modernismo, com base na leitura dos dois poemas, podemos dizer: que um dos poemas tem um estilo mais contido, e o outro, um estilo mais derramado.”

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6) Poema: Pátria Minha Complementar Vinícius de Moraes

• Epígrafe • Figura de linguagem:

personificação • Efeito de sentido no uso

dos sinais de pontuação• Produção de inferências

141-159

7) Poema: O Brasil Principal Olavo Bilac • Comparação de informações entre textos

• Personificação • Contextualização:

Parnasianismo • Conceitos sobre:

estrofes, número de versos; versos, número de sílabas; rimas

154-159

8) Poema: Navio Negreiro Complementar Castro Alves • Comparação de textos sobre o tema escravatura/racismo

185

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LI – 5ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Texto

Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Convite Complementar José Paulo Paes

• Comparação de informações

• Apreensão global • Comparação entre

as “estruturas” do texto em prosa e do poema: Pressupõe-se que os alunos já saibam a diferença entre poema e prosa. Para facilitar a compreensão, pode-se apresentar cartazes com os dois tipos de texto contendo apenas a silhueta deles. O texto “A palavra escrita no muro” foi escrito em forma de prosa e “Convite”, em forma de poema (p.13)

12

2) Poema: Sem título (Mariana)?)

Complementar Bartolomeu Campos de Queirós

• Exemplo de produção, motivação para produção;

• Exemplo de poema que “brinca” com as palavras

16

3) Poema: Palavras Suplementar José de Nicola • Leitura livre • Apreciação dos

recursos de sonoridade (manual do professor)

26

4) Poema: Porquinho-da-Índia

Complementar Manuel Bandeira

• Produção de inferência

• Generalização • Apreciação de

valores éticos e políticos

44-45

5) Poema: O menino rico Complementar Maria Alice do Nascimento e Silvia Leuzinger

• Produção de inferência

• Uso de preposição • Reconhecimento do

gênero: O que nos permite afirmar que “O menino rico” é um poema? É um poema por ser escrito em versos (resposta do livro do professor)

• Uso de conectores

68-69

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• Apreensão global e generalização

6) Letra de canção: Acalanto

Principal Ivan Lins/ Vitor Martins

• Exploração do vocabulário

• Eu-lírico (conceituação)

• Produção de inferência

• Sentido próprio/ sentido figurado (imagens)

84-85

7) Poema: Grafite no muro do colégio

Complementar Sérgio Caparelli • Pretexto para estudo gramatical (pronomes)

94

8) Poema: Bilhete de Mariana a Heloísa

Complementar Sérgio Caparelli • Pretexto para estudo gramatical (pronomes)

94

9) Poema; São João Complementar Bárbara Vasconcelos

• Produção de inferência

• Exploração do vocabulário

• Apreciação de valores éticos

106

10) Letra de Canção: Comunhão

Complementar Milton Nascimento e Fernando Brant

• Pretexto para estudo gramatical (letras, fonemas, dígrafo, encontro consonantal)

138

11) Poema: Ana Bela Comilona

Complementar José de Nicola • Produção de inferência

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito/predicado/função morfológica).

160

12) Poema: Os poemas Complementar Mário Quintana • Pretexto para estudo gramatical (sintaxe: sujeito e predicado)

175

13) Poema: Minha velha árvore

Complementar Suzana Taiul • Pretexto para estudo gramatical (acentuação gráfica)

195

14) Letra de Canção: Então é Natal

Principal John Lennon e Yoko Ono/ Cláudio Rabello

• Produção de inferências

• Exploração do vocabulário

• Uso de termos da língua falada (pro e pra ao invés de para o/a), para auxiliar no ritmo

223-224

15) Poema: Acróstico: Sem título

Complementar Autores do LD • Exemplar de gênero como modelo para produção textual

227

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LI- 6ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do

Texto Autor Atividades propostas Página

1) Letra de Canção: Como uma onda

Principal Lulu Santos • Reconhecimento do texto como poema (lista características: escrito em versos/ linguagem subjetiva, permitindo várias leituras/objetivo de emocionar).

• Produção de inferências• Polissemia • Apreensão global • Apreciação de valores

éticos

9 – 10

2) Poema: No meio do caminho

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Comparação de informações

• Exploração intertextual

15

3) Poema: Poema de sete faces

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Comparação de informações

• Exploração intertextual

15

4) Poema: Ovni Complementar Ulisses Tavares • Apreensão global • Reconhecimento do

texto como poema: “5. O texto II é um poema. O que justifica essa afirmação?”.

37

5) Letra de canção (fragmento): Alô, Alô, marciano

Complementar Rita Lee e Roberto de Carvalho

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

44

6) Letra de Canção (fragmento): Mandrake e o cubanos

Complementar Samuel Rosa e Chico Amaral

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

44

7) Letra de Canção (fragmento): Sem título

Complementar Dito e Jorge Zarath

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

44

8) Letra de Canção (fragmento): Sem título

Complementar Dito e Jorge Zarath

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

44

9) Letra de Canção (fragmento): Podres poderes

Complementar Caetano Veloso • Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

44

10) Letra de Canção (fragmento): Faltando um pedaço

Complementar Djavan • Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

44

11) Poema (fragmento) Sem título

Complementar Vinícius de Moraes

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

45

12) Letra de Canção (fragmento) Sem título

Complementar Sula Miranda e Mauro e Maurício Gasperini

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

45

13) Letra de Canção (fragmento) Sem título

Complementar Sula Miranda e Mauro e Maurício Gasperini

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

45

14) Letra de Canção (fragmento) Sem título

Complementar Djavan • Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

45

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15) Letra de Canção (fragmento) Sem título

Complementar Samuel Rosa e Gerônimo

• Pretexto para estudo gramatical (sujeito)

45

16) Letra de canção: Caçador de mim

Complementar Sérgio Magrão e Luís Carlos de Sá

• Exploração intertextual • Motivação para a

produção textual

73

17) Poema: Madrigal Complementar Manuel Bandeira

• Pretexto para estudo gramatical (verbo)

80

18) Poema: Canção de garoa

Complementar Mário Quintana • Pretexto para estudo gramatical (verbo)

80

19) Letra de canção: É uma partida de futebol

Suplementar Samuel Rosa e Nando Reis

• Leitura livre 105-106

20) Poema: Ouvir estrelas Principal Olavo Bilac • Exploração do vocabulário

• Produção de inferências• Apreensão global

108-109

21) Poema: Bilhete Complementar Mário Quintana • Produção de inferências• Apreensão global

109-110

22) Poema: Brincando de amor

Complementar Ilka Brunhilde Laurito

• Comparação de informações

• Produção de inferências• Exploração

contextualizada do vocabulário

110

23) Poema: Dúvidas Complementar Carlos Queiroz Telles

• Apreensão global • Produção de inferência • Comparação de

informações

111

24) Poema: Bilhete Complementar Elias José • Apreensão global • Produção de inferência • Exploração de imagem

(hipérbole)

112

25) Poema: Rascunho Complementar Ulisses Tavares • Comparação de informações

• Produção de inferência

112

26) Poema (fragmento): Sem título

Complementar Mário Quintana • Linguagem conotativa e denotativa

114

27) Poema (fragmento): Sem título

Complementar Mário Quintana • Linguagem conotativa e denotativa

114

28) Poema (fragmento): Sem título

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Linguagem conotativa e denotativa

114

29) Poema (fragmento): Sem título

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Linguagem conotativa e denotativa

114

30) Poema (fragmento): Sem título

Complementar Elias José • Linguagem conotativa e denotativa

114

31) Poema: Tempestade Complementar José de Nicola • Exemplar de gênero (poema e linguagem conotativa)

115

32) Poema: O relógio Complementar Vinícius de Moraes

• Ilustrar o poema • Alimentação para

produção textual

116

33) Poema: O relógio Complementar Victor Martinez • Ilustrar o poema • Alimentação para

produção textual

116

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34) Poema: Soneto do amigo

Complementar Vinícius de Moraes

• Ilustrar o poema • Alimentação para

produção textual

117

35) Poema: Canção de junto do berço

Complementar Mário Quintana • Ilustrar o poema • Alimentação para

produção textual

117

36) Poema: Três Palavras Complementar Antonieta Dias de Moraes

• Ilustrar o poema • Alimentação para

produção textual

117

POEMA PRODUÇÃO TEXTUAL

- - • PROPOSTA DE PRODUÇÃO

118 (ex. 6)

37) Poema: Deslumbramento

Complementar Elias José • Reconhecimento do gênero (ex.1)

• Apreensão Global • Exploração do

vocabulário • Produção de inferências• Comparação de

informações • Gramática: uso de mau

e mal • Apreciação de valores

éticos

135-137

38) Poema: Sem título Suplementar Ilka Brunhilde Laurito

• Leitura expressiva 151

39) Letra de canção: Menina Principal Paulinho Nogueira

• Apreensão Global • Produção de inferências• Comparação de

informações • Generalização

154

40) Letra de canção: Esse seu olhar

Suplementar Antonio Carlos Jobim

• Leitura livre 176

41) Poema: Meus oito anos Complementar Casimiro de Abreu

• Localização e cópia de informações

• Uso do apóstrofo • Produção de inferências• Comparação de

informações • Generalização • Apreciação de valores

éticos

184-185

42) Poema: Lembrete Principal Carlos Drummond de Andrade

• Apreensão global • Produção de inferência • Comparação de

informação

220

43) Poema: As duas flores Suplementar Castro Alves • Leitura expressiva 238

44) Poema: Natal Suplementar Vinícius de Moraes

• Leitura livre 255

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LI - 7ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do texto

Autor Atividades propostas Página

1) Poema: O livro e a América

Complementar Castro Alves • Comparação de informações (conteúdo e forma c/ o texto principal)

12

2) Poema: Trem de ferro Complementar Manuel Bandeira

• Exploração da repetição como recurso da linguagem poética, resultando em efeitos de sonoridade

16-18

3) Poema: Relacionamento Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (análise sintática)

47

4) Letra de canção: Eduardo e Mônica

Principal Renato Russo • Exploração contextualizada do vocabulário

• Produção de inferências• Apreensão global • Generalização • Comparação de

informações

52-55

5) Poema: Estação Primavera

Suplementar Carlos Queiroz Telles

• Leitura livre • Musicalização do

poema (sugestão no manual do professor)

73

6) Poema: Todas as cartas de amor são ridículas

Complementar Fernando Pessoa

• Produção de inferências• Exploração de

vocabulário • Generalização • Comparação de

informações

78-79

7) Letra de canção: Minha namorada

Complementar Carlos Lyra e Vinícius de Moraes

• Apreensão global • Localização e cópia

de informações • Exploração do

vocabulário • (texto híbrido=

carta/canção) • produção de

inferências • apreciação de

valores éticos

80-81

8) Letra de canção: Ai que saudades d’ocê

Suplementar Vital Farias • Leitura expressiva • Audição da canção

92

9) Letra de canção: Como nossos pais

Complementar Antonio Carlos Belchior

• Localização de informações

• Produção de inferências

• Apreensão global • Generalização • Apreciação de

valores éticos

95-97

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10) Poema: Velho tema Complementar Vicente de Carvalho

• Exemplar de gênero: soneto

101

11) Poema: Saudade Complementar Ulisses Tavares • Exemplar de gênero: poema

102

12) Poema: O impossível carinho

Complementar Manuel Bandeira

• Leitura livre • Apreciação da

“poesia” do poema • Expressar o poema

através de outra manifestação: pintura, escultura, fotografia, colagem, música, dança.

103

13) Poema: Entre o que vejo Complementar Fernando Pessoa

• Comparação de textos quanto à forma e ao conteúdo

103-104

14) Poema: Junho Complementar Aracy Fér • Pretexto para estudo gramatical: verbos defectivos

111

15) Letra de canção: O eterno deus Mu dança

Complementar Gilberto Gil e Celso Fonseca

• Pretexto para estudo gramatical: pronome se como partícula apassivadora

156

16) Poema; Natureza Complementar Pierre Teilhard de Chardin

• Epígrafe de artigo • Produção de

inferência

160-161

17) Poema: Sem título/fragmento (Cantigas de adolescer)

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical: orações coordenadas

174

18) Poema: Sem título/fragmento (Cantigas de adolescer)

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical: orações coordenadas

174

19) Poema: Sem título/fragmento (Sonhos, grilos e paixões)

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Pretexto para estudo gramatical: orações coordenadas

174

20) Poema: As dores do mundo

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical: orações coordenadas e conectivos

175

21) Poema: O adolescente Complementar Mário Quintana • Pretexto para estudo gramatical: função morfológica das palavras

201

22) Poema; Conversa informal com o menino

Suplementar Carlos Drummond de Andrade

• Leitura livre 219-220

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO LI - 8ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do

texto Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Mar Português Complementar Fernando Pessoa

• Localização de informações

16

2) Poema: Lisboa: aventuras

Complementar José Paulo Paes

• Comparação de informações

• Intertextualidade discursiva

17

3) Poema: Sem título Complementar Ilka Brunhilde Laurito

• Pretexto para estudo gramatical (processo de formação de palavras)

26-27

4) Poema: Neologismo Complementar Manuel Bandeira

• Neologismo (exploração do termo)

• Pretexto para estudo gramatical (processo de formação de palavras)

27

5) Letra de canção: Maria, Maria

Complementar Milton Nascimento e Fernando Brant

• Comparação de informações

• Localização de informações

• Produção de inferências• Apreensão global • Imagens: Comparação

e metáfora

38

6) Poema: Sem título Complementar Cora Coralina • Imagem: Antítese 38

7) Poema: A mulher convite Complementar Elias José • Exemplar de gênero (poema, emprego elaborado da linguagem)

40

8) Poema: Vôo noturno Complementar Carlos Queiroz Telles

• Observação do uso dos conectivos e da relação sintática entre os versos e estrofes

• Exploração da forma composicional (representação em gráfico)

48-49

9) Poema: Sem título Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (orações coordenadas)

50

10) Poema: Sem título Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (orações coordenadas)

50

11) Poema: O grito da terra Principal Symone Moura • Localização de informações

• Exploração do vocabulário

• Produção de inferências• Recurso poético:

destaque da palavra “Sempre”

56-59

12) Poema: Janelas Complementar João Cabral de Melo Neto

• Localização e cópia de informações

• Pretexto para estudo

73

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gramatical: orações adjetivas

13) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Ilka Brunhilde Laurito

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva)

74

14) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva)

74

15) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva)

74

16) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Ilka Brunhilde Laurito

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva)

74

17) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva)

74

18) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva)

74

19) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Ulisses Tavares • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adjetiva reduzida)

75

20) Poema: Sem título (fragmento)

Suplementar Ulisses Tavares • Leitura expressiva 76

21) Letra de canção: Monte Castelo

Complementar Renato Russo • Apreensão global • Imagens: antíteses e

paradoxos • Comparação de

informações • Generalização

82-83

22) Poema: Sem título Complementar Fernando Pessoa

• Comparação de informações

83

23) Poema: As sem-razões do amor

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Ambigüidade • Localização de

informações • Produção de inferências• Comparação de

informações

84-85

24) Letra de canção: Rosa Complementar Pixinguinha • Epígrafe 85

25) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adverbial)

90

26) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adverbial)

90

27) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adverbial)

90

28) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adverbial)

90

29) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Ilka Brunhilde Laurito

• Pretexto para estudo gramatical (oração

90

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subordinada adverbial)

30) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Gonçalves Dias • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adverbial)

93

31) Poema: Queda Complementar Antônio Carlos Tórtoro

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada adverbial)

94

32) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Caetano Veloso • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada substantiva)

119

33) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada substantiva)

119

34) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada substantiva)

119

35) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada substantiva)

119

36) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Pablo Neruda • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada substantiva)

120

37) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Junqueira Freire

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada substantiva)

120

38) Letra de Canção: Casa Brasileira

Principal Geraldo Azevedo e Renato Rocha

• Exploração do vocabulário

• Produção de inferências• Localização e cópia de

informações • Imagens: metáfora e

metonímia • Comparação de

informações

127-128

39) Poema: Adormecida Complementar Castro Alves • Pretexto para estudo gramatical (orações subordinadas; funções morfológicas)

• Imagem: Prosopopéia ou personificação

143-144

40) Poema: Aves de arribação

Complementar Castro Alves • Imagem: Prosopopéia ou personificação

144

41) Poema: Pronominais Complementar Oswald de Andrade

• Apreensão global (título)• Comparação de

informações • Estudo gramatical:

função morfossintática de palavras do poema

147

42) Geléia Geral Suplementar Gilberto Gil e Torquato Neto

• Audição da canção • Intertextualidade

149-150

Page 321: OS GÊNEROS POÉTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE … DE JESUS... · simone de jesus padilha os gÊneros poÉticos em livros didÁticos de lÍngua portuguesa do ensino fundamental: uma

discursiva (manual do professor)

43) Letra de canção: Vento no litoral

Principal Renato Russo • Localização de informações

• Produção de inferências• Apreensão global

152-153

44) Letra de canção: Serra do luar

Complementar Walter Franco • Comparação de informações

• Produção de inferências

154-155

45) Poema; Nel mezzo del Cammin

Complementar Olavo Bilac • Exemplar de gênero (soneto)

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências• Apreensão global • Comparação de

informações

155-156

46) Poema (Haicai) Sem título

Complementar Sem indicação • Exemplar de Gênero: Haicai

164

47) Poema: Declacla...claração

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Texto para exemplificar função da linguagem emotiva ou expressiva

165

48) Poema: Sem título Complementar Ilka Brunhilde Laurito

• Texto para exemplificar função fática da linguagem

167

49) Poema: O poema Complementar Mário Quintana • Texto para exemplificar função poética da linguagem

168

50) Poema: Exortação Complementar Castro Alves • Texto para exemplificar função poética da linguagem

168

51) Poema: O último poema Complementar Manuel Bandeira

• Texto para identificar funções da linguagem predominantes

169

52) Poema: Conselho de família

Complementar Léo Cunha • Texto para identificar funções da linguagem predominantes

169

53) Poema: Sem título Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Exemplo de estrofe com verso pentassílabo ou redondilha menor

170

54) Poema: Sem título Complementar Cora Coralina • Exemplo de estrofe com verso heptassílabo ou redondilha maior

170

55) Poema: Sem título Complementar Jorge de Lima • Exemplo de estrofe com verso decassílabo ou heróico

170

56) Poema: Sem título Complementar Luís de Camões

• Exemplo de estrofe com verso dodecassílabo ou alexandrino

171

57) Poema: Sem título Complementar Sílvia Orthof • Exemplo de estrofe com versos monossilábicos

171

58) Poema: Sem título Complementar Casimiro de Abreu

• Exemplo de estrofe com rimas alternadas

171

59) Letra de canção: Desafinado

Complementar Tom Jobim e Milton Mendonça

• Exemplo de estrofe com rimas emparelhadas

172

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60) Letra de canção: Sem título

Complementar Chico Buarque e Gilberto Gil

• Exemplo de estrofe com rimas interpoladas

172

61) Poema: Trem de ferro Complementar Manuel Bandeira

• Poema para exemplificar ritmo

172

62) Poema Fragmento: Sem título

Complementar Casimiro de Abreu

• Identificação de número de sílabas métricas

173

63) Poema Fragmento: Sem título

Complementar Gonçalves Dias • Identificação de número de sílabas métricas

173

64) Poema Fragmento: Sem título

Complementar Gonçalves de Magalhães

• Identificação de número de sílabas métricas

173

65) Poema Fragmento: Sem título

Complementar Vinícius de Moraes

• Classificação quanto à posição das rimas

173

66) Poema Fragmento: Sem título

Complementar Mário de Sá Carneiro

• Classificação quanto à posição das rimas

173

67) Letra de canção: Sem título

Complementar Lupicínio Rodrigues

• Texto para identificar funções da linguagem predominantes

174

68) Poema: Sem título Complementar José Marti • Texto para identificar funções da linguagem predominantes

174

69) Poema: Vapt-vupt Complementar Ulisses Tavares • Identificação de funções da linguagem

• Reescrita de poema em linguagem referencial

175

70) Poema: Comercial de futuro

Complementar Ulisses Tavares • Identificação da função da linguagem

175

71) Poema: Sem título Complementar Ulisses Tavares • Identificação de funções da linguagem

• Reescrita de poema em linguagem referencial

176

71) Poema: Eu Complementar Fernando Pessoa

• Análise da estrutura e da linguagem

(número de sílabas, rimas, estrofes, função de linguagem)

176

72) Poema: A rosa de Hiroshima

Complementar Vinícius de Moraes

• Apreensão global • Localização e cópia de

informações • Produção de inferências• Análise de metáfora (ex.

4) • Apreciação de valores

éticos

182-183

73) Letra da canção: A Canção do Senhor da Guerra (fragmento)

Suplementar Renato Russo • Alimentação temática para reflexão sobre o tema guerra

183

74) Poema Concreto: A(R)MAR(?)

Complementar Marcos Silva • Contextualização sobre poema concreto (exemplar de gênero)

• Figura de linguagem: antítese

• Produção de inferências

186-187

75) Poema Concreto: Sem título (Beba coca cola)

Suplementar Décio Pignatari • Exemplar de gênero (poema concreto)

187

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76) Poema: Os poemas Complementar Mário Quintana • Exemplar de gênero • Observação sobre

opinião de Mário Quintana sobre os poemas

188

77) Poema: Sem título Complementar Luís de Camões

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

188

78) Poema: Sem título Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

188

79) Letra de canção: Sem título

Complementar Tom Jobim • Exemplar de gênero • Apreciação estética

188

80) Letra de canção: Sem título

Complementar Caetano Veloso • Exemplar de gênero • Apreciação estética

188

81) Poema: Sem título Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

188

82) Poema: Sem título Complementar Cora Coralina • Exemplar de gênero • Apreciação estética

188

83) Letra de canção: Sem título

Complementar Gilberto Gil • Exemplar de gênero • Apreciação estética

189

84) Poema: Sem título Complementar Fernando Pessoa

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

189

85) Poema: Sem título Complementar Castro Alves • Exemplar de gênero • Apreciação estética

189

86) Poema: Sem título Complementar Vinícius de Moraes

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

189

87) Poema: Sem título Complementar Haroldo de Campos

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

189

88) Letra de canção: Sem título

Complementar Samuel Rosa, Léo Zaneti e Chico Amaral

• Exemplar de gênero • Apreciação estética

189

PRODUÇÃO DE POEMA - - • PRODUÇÃO DE POEMA COM FORMA FIXA E COM VERSOS LIVRES (ex. 5)

193

89) Letra de canção: Wave (fragmento)

Complementar Tom Jobim • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

194

90) Letra de canção: Carolina (fragmento)

Complementar Chico Buarque • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

194

91) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

194

92) Letra de canção: Esse seu olhar (fragmento)

Complementar Tom Jobim • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome

195

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que)

93) Letra de canção: Marina (fragmento)

Complementar Dorival Caymmi • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

195

94) Letra de canção: Tempos modernos (fragmento)

Complementar Lulu Santos • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

195

95) Letra de canção: Dois mil e um modernos (fragmento)

Complementar Rita Lee e Tom Zé

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

196

96) Letra de canção: Tatibitati (fragmento)

Complementar Roberto de Carvalho e Rita Lee

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

196

97) Letra de canção: Trocando miúdos (fragmento)

Complementar Chico Buarque e Francis Hime

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

196

98) Letra de canção: Livros, livros, livros (fragmento)

Complementar Caetano Veloso • Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

196

99) Letra de canção: Minha namorada (fragmento)

Complementar Carlos Lyra e Vinícius de Moraes

• Pretexto para estudo gramatical (oração subordinada; função sintática do pronome que)

196

100) Letra de canção: Amanhã é 23 (fragmento)

Complementar Paula Toller e George Israel

• Pretexto para estudo gramatical (função sintática do pronome que)

197

101) Poema (fragmento): A criança que fui chora na estrada

Principal Fernando Pessoa

• Produção de inferência • Apreciação de valores

éticos

207

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO ER – 5ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do

Texto Autor Atividades propostas Página

1) Letra de canção: Dentro de um mundo

Complementar Rosy Greca • Exemplo de texto para conferir “A força da palavra”

• Sugestão de audição da música, no livro do professor

8-9

2) Poema: Fruta no ponto Complementar Roseana Murray

• Apreciação estética (“força da palavra”)

9

3) Letra de canção: Pinha, pinhão, pinheiro

Complementar Enéas Lour e Rozy Greca

• Apreciação estética (musicalidade; “força das palavras”)

9

4) Poema: O menino dos ff e rr

Complementar Cecília Meireles • Apreciação estética (repetição dos sons; sonoridade)

10

5) Poema: Canção Complementar Cecília Meireles • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Comparação de informações

10

6) Poema: Menino bobo Complementar Beré Lucas • Apreciação estética (repetição de sons e imagem gráfica)

11

7) Poema: Gotas de chuva Complementar Luís Camargo • Apreciação estética (imagem gráfica; “poder da palavra”)

12

8) Poema: Quim Principal Renata Jatobá • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Comparação de informações

30

9) Poema: Luiz Bandolim Complementar Osvaldo Duarte • Pretexto para o estudo gramatical (substantivo)

35

10) Poema: Menino ou menina

Principal Janice Persunh • Apreciação de valores éticos

• Apreciação estética (“Que palavras têm força no poema? Por quê?)”.

51/53

11) Poema: Tal mãe, tal filha Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (adjetivo)

58

12) Poema: Zé Complementar Edson Gabriel Garcia

• Pretexto para estudo gramatical (sílabas)

• Generalização

79

13) Poema: A menina que engolia sentimentos

Suplementar Naava Bassi • Leitura livre 88

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14) Poema: Amor-perfeito Complementar Lúcia Pimentel Góes

• Apreensão Global • Produção de

inferências • Apreciação de

imagem gráfica (uso de letras maiúsculas)

• Apreciação afetiva

101-102

15) Poema: Além da terra, além do céu

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Apreciação estética (imagem gráfica)

106

16) Poema: Amigo Suplementar Maria Dinorah • Leitura livre 106

17) Poema: Sonho real Suplementar Elias José • Leitura livre 109

18) Poema: Desejos Complementar Elias José • Pretexto para estudo gramatical (substantivos e adjetivos)

118

19) Poema de cordel: Seu doto me conhece?

Principal Patativa do Assaré

• Verificação de número de versos e estrofes

• Localização e cópia de informações

• Transcrição de linguagem popular para linguagem culta

• Produção de inferências

• Generalização

135-136

20) Poema: Verdes e vozes Complementar Maria Dinorah • Apreciação afetiva • Apreensão global

151

21) Poema: Sumiço Suplementar Maria Dinorah • Apreensão global • Leitura livre

165

22) Poema: Cavalinho de pau

Suplementar Henriqueta Lisboa

• Antecipação do tema da unidade

• Leitura livre

167

23) Poema: Tão simplesmente

Suplementar Mário Quintana • Antecipação do tema da unidade

• Leitura livre

167

24) Poema: A casa do berço azul

Principal Cora Coralina • Localização de informações

• Produção de inferências

• Apreensão global • Generalização • Comparação de

informações • Comentar versos

observando a “força das palavras”

178-181

25) Poema: Tem camelô... Suplementar Marcelo Xavier • Leitura livre 183

26) Poema: Sem título Suplementar Carlos Drummond de

• Leitura livre (“Para refletir”)

184

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Andrade

27) Poema: Sem título Complementar Roseana Murray

• Apreciação estética (“Nos versos de Roseana Murray onde está a poesia?”)

190

28) Letra de canção: Cio da terra

Complementar Milton Nascimento e Chico Buarque

• Observar a “força das palavras”

190

29) Poema: Amor oculto Principal Roseana Murray

• Produção de inferências

• Imagem: comparação

199

30) Poema: Brincando com a rima

Principal Hardy Guedes • Verificação de número de versos e estrofes

• Explanação do discurso autoral sobre poema, versos, estrofes, rimas

200

31) Poema: Feira de artesanato

Principal Hardy Guedes • Completar versos com palavras que rimam

200-201

32) Poema: Contagem Complementar Sylvia Orthof • Localização das palavras que rimam

• Produção de estrofes

201

33) Poema: Sem título Suplementar Ruth Rocha • Leitura livre (encerramento de unidade)

203

34) Poema: Orquestra Suplementar Elza Beatriz • Antecipação do tema da unidade

• Leitura livre

205

35) Letra de Canção: Canções e momentos

Suplementar Milton Nascimento e Fernando Brant

• Texto ilustrativo do tema da unidade

207

36) Letra de canção: Nós e voz

Complementar Moraes Moreira • Apreensão global 228-229

37) Poema: A girafa Suplementar Elias José • Leitura livre 237

38) Poema: Sonho doido Suplementar Elias José • Leitura livre 245

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO ER – 6ª SÉRIE

Gênero/ Título Posição do Texto

Autor Atividades Propostas Página

1) Poema: Os mistérios de X Principal Ziraldo • Dramatização • Exploração do

vocabulário • Produção de

inferência

14

2) Poema: Sem título Principal Cecília Meireles

• Produção de inferências

• Comentar “força da palavra no significado”

20

3) Poema: A vaca e as vogais

Principal Fernando Paixão

• Apreciação estética (recursos sonoros)

21

4) Poema: Em família Principal Luís Camargo • Apreciação estética (recursos sonoros)

22

5) Poema Concreto: Chuva Principal Fernando Paixão

• Apreciação estética (recursos gráficos)

23

6) Poema: O canto do Alexandre

Principal Luís Camargo • Apreciação estética (recursos gráficos)

24-25

7) Poema: A conversa das palavras

Suplementar Jandira Mansur • Leitura livre 26

8) Poema: Uma proposta! Suplementar Janice Persuhn • Leitura livre 28

9) Poema: João oito ou oitenta

Principal Hardy Guedes • Localização e cópia de informações

• Apreensão global • Produção de

inferências

32-33

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10) Poema: Conversa Suplementar Carlos Drummond de Andrade

• Motivação para produção textual

51

11) Poema: Meus desejos Complementar Janice Persuhn • Antecipação do tema da unidade (estímulo à leitura)

• Leitura livre

53

12) Poema: Distinção Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Antecipação do tema do texto; epígrafe

• Leitura livre

54

13) Poema: Ser pai Principal Jô Soares • Exploração contextualizada do vocabulário

• Apreensão global • Generalização

71-72

14) Poema: Suas mãos Principal Carlos Drummond de Andrade

• Apreensão global • Generalização

70/73

15) Poema: O palhaço Suplementar Roseana Murray

• Antecipação do tema da unidade (estímulo à leitura)

• Leitura livre

81

16) Poema: A chave Suplementar Carlos Drummond de Andrade

• Leitura livre (encerramento de unidade)

99

17) Poema: Lápis de cor Complementar Elza Beatriz • Produção de inferências

103

18) Poema: Sem título (fragmento)

Suplementar Carlos Drummond de Andrade

• Leitura livre 104

19) Poema: Sem título (fragmento)

Suplementar Patativa do Assaré

• Leitura livre 104

20) Poema: Infinito Amor Complementar Sylvia Orthof • Produção de inferência

• Ativação de conhecimento prévio

104-105

21) Poema: Pequenos luxos Complementar Roseana Murray

• Apreensão global 104-105

22) Poema: Momento de glória

Principal Carlos Queiroz Telles

• Apreensão global • Discussão do

conteúdo temático

105/107

23) Poema: ELE Principal Carlos Queiroz Telles

• Apreensão global • Discussão do

conteúdo temático

106-107

24) Poema: O primeiro beijo Principal Roseana Murray

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Produção de inferências

108/110

25) Poema: Menino Tom Complementar Osvaldo Duarte • Generalização • Expl. do conteúdo

temático

111

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26) Poema: Amor antigo Complementar Sylvia Orthof • Intertextualidade discursiva

116-117

27) Poema: Classificados poéticos

Complementar Roseana Murray

• Produção de inferências

• Exploração contextualizada do vocabulário

118

28) Poema: Remédios para todo tipo de coração

Suplementar Hardy Guedes • Leitura livre • Incentivo à

produção textual

119

29) Poema: Super-herói Complementar Janice Persuhn • Antecipação do tema da unidade (estímulo à leitura)

• Leitura livre

121

30) Letra de canção: Os super-heróis

Complementar Toquinho e Mutinho

• Antecipação do tema da unidade (estímulo à leitura)

• Leitura livre

122

31) Poema: O herói Principal Judas Isgorogota

• Localização de informações

• Apreensão Global • Produção de

inferências • Generalização

122-123/125

32) Poema: Zumbi Principal José Ademir Alexandre da Silva

• Exploração do vocabulário

• Generalização • Apreensão Global • Apreciação de

valores éticos e políticos

123/125

33) Poema: Sem título (fragmento)

Suplementar Carlos Drummond de Andrade

• Leitura livre • Exploração do

conteúdo temático

126

34) Poema: Sem título (fragmento)

Suplementar Hardy Guedes • Leitura livre • Exploração do

conteúdo temático

126

35) Letra de canção: O circo Complementar Sidney Miller • Leitura livre • Exploração do

conteúdo temático

127-128

36) Poema: Circo vivo de poesia

Principal Hardy Guedes • Localização e cópia de informações

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Apreensão global • Produção de

inferências • Generalização

129-131/133

37) Poema: Improviso para a moça do circo

Principal Ferreira Gullar • Produção de inferências

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Localização e cópia de informações

132-133

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38) Poema: O balão Complementar Hardy Guedes • Exemplar de gênero: poema

• Reconhecimento de características da composição poética: versos e estrofes

135-136

39) Poema: A flor e o vento Complementar Hardy Guedes • Exemplar de gênero: poema

• Reconhecimento de características da composição poética: ritmo

136

40) Poema: Tintino Complementar Francisco Cândido Xavier e Francisca Clotilde

• Exemplar de gênero: poema

• Reconhecimento de características da composição poética: rimas

136

41) Poema Concreto; Sem título

Complementar Vão Gôgo • Exemplar de gênero: poema

• Reconhecimento de características da composição poética: representação gráfica

137

42) Poema: Sem título Complementar Mauro Mota • Exploração de imagens poéticas: metáfora

138

43) Letra de canção: O circo Suplementar Orlando Morais e Antônio Cícero

• Leitura livre 138

44) Poema: Tem lambe-lambe

Complementar Marcelo Xavier • Produção de inferência

• Antecipação do tema da unidade

151

45) Poema: Proibido ou permitido

Complementar Roseana Murray

• Antecipação do tema da unidade

152

46) Poema: Histórias malcontadas

Complementar José de Nicola • Alimentação temática para produção textual

• Atividade oral (recontar história da cigarra e da formiga)

166

47) Poema: Era uma vez Suplementar Maria Dinorah • Antecipação do tema da unidade

171

48) Poema: Ver de ver Principal Maria Dinorah • Apreensão global (título)

• Exploração de vocabulário

• Produção de inferência

49) Poema: Rãzinha verde Principal Mário Quintana • Produção de inferências

• Ativação de

172/176

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conhecimento prévio

• Exploração do vocabulário

• Localização e cópia de informações

• Apreensão Global • Generalização

50) Poema: Poema de circunstância

Principal Mário Quintana • Exploração do vocabulário

• Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Apreensão global

173/177

51) Poema: Classificados poéticos

Complementar Roseana Murray

• Apreensão global (apreciação afetiva)

• Ilustração

188

52) Parlenda: Cadê o toucinho que estava aqui?

Complementar Domínio Público

• Contextualização do texto principal da unidade

193

53) Poema: Cadê Complementar Maria Dinorah • Contextualização do texto principal da unidade

194

54) Poema: A mulher do padre

Complementar Hardy Guedes • Exploração do conteúdo temático (brincadeiras)

197

55) Adivinhas: Sem título Complementar Revista Diversão de lápis de cor

• Exemplar de gênero

197

56) Trava-línguas: Sem título

Complementar Elias José • Exemplar de gênero

198

57) Cantiga de roda: Terezinha de Jesus

Complementar Domínio Público

• Apreensão global • Comparação de

informações • Intertextualidade

discursiva

198

58) Poema: Terezinha de Jesus

Principal Hardy Guedes • Apreensão global • Comparação de

informações • Intertextualidade

discursiva

199

59) Poema: Santo do dia Complementar Sylvia Orthof • Exploração do conteúdo temático (festas populares)

201

60) Poema: Os sonhos do Saci

Complementar Elias José • Exploração do conteúdo temático (contos, lendas e histórias)

• Apreensão global (apreciação afetiva: O que você achou do texto de Elias José)

210-211

61) Parlenda: Hoje é domingo

Complementar Domínio Público

• Exemplar de gênero

212

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62) Poema: Torta de cebola para prender namorado

Suplementar Roseana Murray

• Leitura livre (poema que é uma receita)

213

63) Poema: Várzea Principal Henriqueta Lisboa

• Localização de informações

• Produção de inferências

• Apreensão global

219/221

64) Poema: A flor e o vento Principal Hardy Guedes • Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Apreciação estética (ritmo)

220-221

65) Poema: Valsinha Complementar José Paulo Paes

• Apreciação estética: ritmo ternário

220

66) Poema: Cantiga de vento

Complementar Elias José • Localização de informações

• Reconhecimento das características da linguagem poética: ritmo

223

67) Poema: Passos Complementar Henriqueta Lisboa

• Reconhecimento das características da linguagem poética: ritmo, sonoridade, simplicidade

• Dramatização

223

68) Poema: Poeminha do contra

Complementar Mário Quintana • Apreensão global • Argumentar (?)

contra ou a favor da interpretação dada pelo livro

223/225

69) Poema: Cantiga quase de roda

Principal Thiago de Mello

• Produção de inferências

• Exploração do vocabulário

• Apreensão global (título)

224-225

70) Poema: Giramorde Complementar Bárbara V. de Carvalho

• Reconhecimento das características da linguagem poética: jogo de palavras

227

71) Letra de canção: A galinha

Complementar Chico Buarque de Holanda

• Reconhecimento e apreciação das características da linguagem poética: rimas

227

72) Poema: Moda da menina trombuda

Complementar Cecília Meireles

• Reconhecimento e apreciação das características da linguagem poética: sonoridade

228

73) Poema: O patinho Complementar Francisca Júlia • Reconhecimento e apreciação das

228

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características da linguagem poética: jogo de comparativo das palavras (imagens)

74) Poema: A pombinha da mata

Complementar Cecília Meireles

• Apreensão global • Apreciação afetiva

229

75) Poema: Declaração Complementar Carlos Queiroz Telles

• Produção de inferências

• Apreensão global

230

76) Poema: Abre-te, Sésamo!

Complementar Carlos Queiroz Telles

• Apreensão global • Apreciação afetiva

230

77) Poema: A casa do meu avô

Complementar Ricardo Azevedo

• Apreensão global • Reconhecimento e

apreciação das características da linguagem poética: uso de palavras que remetem aos cinco sentidos

231

78) Poema: De gramática e de linguagem

Complementar Mário Quintana • Reconhecimento e apreciação das características da linguagem poética: (todas estudadas)

232

79) Poema: Se você for inventor invente

Complementar José Paulo Paes

• Reconhecimento e apreciação das características da linguagem poética: rimas

233

80) Poema: O trenzinho Complementar Bárbara V. de Carvalho

• Dramatização 233-234

81) Poema: Os carneirinhos Complementar Cecília Meireles

• Leitura do poema verificando as imagens (apreciação estética)

235

82) Poema: A canção dos tamanquinhos

Complementar Cecília Meireles

• Localização e cópia de informações

• Apreciação estética: sonoridade, ritmo

237

83) Poema: Recado Complementar Carlos Queiroz Telles

• Apreensão global • Estudo gramatical:

verbos

239

84) Poema: Coleções Suplementar Hardy Guedes • Leitura livre 243

85) Poema: Cantadores do Nordeste

Complementar Manuel Bandeira

• Antecipação do tema da unidade

246

86) Letra de canção: Nas barrancas do rio

Complementar Hardy Guedes • Exploração do vocabulário

• Exploração do conteúdo temático: causos e crendices

249-251

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87) Letra de canção: Cavalo Marinho

Complementar Luciano Pimentel e Fernando Filizola

• Exploração do recurso musical: improvisação

251

88) Letra de canção: Caçador de mim

Complementar Milton Nascimento; Sergio Magrão e Sá

• Apreensão global • Apreciação estética

e afetiva

258

89) Poema: O pequeno planeta perdido

Principal Ziraldo • Ativação do conhecimento prévio

• Produção de inferências

• Generalização • Apreensão global

256-257/260

90) Letra de canção: Peão de trecho

Complementar Zé Geraldo • Apreensão global 261

91) Poema: O que você deve fazer

Principal Carlos Drummond de Andrade

• Produção de inferência

• Apreensão Global • Apreciação de

valores éticos (consumo)

• Generalização

272-273

92) Poema: Eu, etiqueta Principal Carlos Drummond de Andrade

• Apreciação de valores éticos e políticos: consumo

• Comparação de informações

• Exploração contextualizada do vocabulário

• Apreensão global

275-278

93) Poema: Graça Suplementar Edson Gabriel Garcia

• Leitura livre (encerramento de unidade)

283

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO ER – 7ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do

Texto Autor Atividades propostas Página

1) Letra de Canção: Até amanhã

Principal Noel Rosa • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

8-9

2) Poema: Um chamado João

Principal Carlos Drummond de Andrade

• Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Exploração do vocabulário

23-24/26

3) Letra de Canção: Uricuri (Segredo do Sertanejo)

Principal João do Vale e José Cândido

• Produção de inferências

• Exploração do vocabulário

• Apreensão global

25-26

4) Poema: Laços Principal Henriqueta Lisboa

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Generalização • Apreciação de

valores éticos e políticos

28

5) Letra de canção: Identidade

Principal Hardy Guedes • Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Comparação de informações

• Exploração de recursos da composição poética: comparação

• Apreensão global

33/35

6) Letra de canção: Como diria Dylan

Principal Zé Geraldo • Produção de inferências

• Apreciação de valores éticos

34-35

7) Poema: Menino do Rio Doce

Principal Ziraldo • Reconhecimento de recursos expressivos da composição poética: rimas, comparação, metáforas

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Apreensão global

36-37

8) Poema: Saudades Complementar Elias José • Localização e cópia de informações

• Exploração do

50/52

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conteúdo temático

9) Poema: Relacionamento Complementar Elias José • Produção de inferências

• Exploração do conteúdo temático

50/52

10) Poema: Cadeira de balanço

Principal Janice Persuhn • Exemplar de gênero: elegia

• Localização de informações

• Produção de inferências

• Apreensão global • Exploração

contextualizada do vocabulário

71-72/74

11) Poema: Romantismo Complementar Elias José • Produção de inferências

• Exploração do conteúdo temático

72/74

12) Poema: As dores do mundo

Complementar Elias José • Exploração do conteúdo temático

73-74

13) Poema: Sem título Suplementar José Paulo Paes

• Dramatização (mímica)

• Relação temática com o texto anterior (medo)

79

14) Poema: Sem título Complementar Guilherme de Almeida

• Alimentação temática para produção textual

86

15) Letra de canção: Meu caminho de nuvens brancas

Complementar Zé Geraldo • Exploração do conteúdo temático (tema de abertura da unidade: amor/amizade)

89

16) Letra de canção: Ciúme Complementar Roger Rocha Moreira

• Exploração do conteúdo temático: ciúme

95

17) Poema: Água nascendo Complementar Roseana Murray

• Apreciação afetiva • Comparação de

informações • Apreensão global:

justificar os títulos

102-103

18) Poema: Classe mista Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Apreciação afetiva • Comparação de

informações • Apreensão global:

justificar os títulos

102-103

19) Poema: Cantiguinha Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Apreciação afetiva • Comparação de

informações • Apreensão global:

justificar os títulos

102-103

20) Letra de canção: Um cheiro de flor

Complementar Hardy Guedes • Apreensão global: mensagem do texto

• Alimentação

107

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temática para produção textual: “A partir dela crie um poema com o mesmo tema”

21) Letra de canção: Cadê o povo

Principal Mariano Ferreira da Costa

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração do conteúdo temático

• Comparação do texto com a foto

• Dramatização

135/137

22) Letra de canção: Assentamento

Principal Chico Buarque de Holanda

• Produção de inferências

• Exploração do vocabulário

• Apreensão global • Apreciação de

valores éticos e políticos

138-139

23) Poema: O Negrinho do Pastoreio

Complementar Elias José • Ativação de conhecimento prévio

• Produção de.inferência

• Transcrever o poema em prosa

158

24) Poema: Sem título Complementar João José Bigarella

• Exploração do vocabulário

• Produção de inferência

• Ativação do conhecimento prévio

160

25) Poema; Os trabalhadores do mar

Principal Victor Hugo • Apreensão global • Localização e cópia

de informações • Produção de

inferência • Exploração

intertextual (relação do poema com o tema da unidade)

161

26) Poema: Atala (excerto) Principal François-René de Chateaubriand

• Produção de inferências

• Comparação de ilustração com o texto

161

27) Poema: Poema datado Complementar Mário Quintana • Produção de inferências

• Apreensão global • Motivação para

produção textual

172

28) Poema: O guardador de rebanhos

Complementar Fernando Pessoa

• Exploração de imagens: metáforas

173

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• Produção de inferências

• Apreensão global: mensagem

29) Poema: Poema da necessidade

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Reconhecimento e apreciação das características da linguagem poética: repetição

• Motivação para produção de poema

174

30) Poema: Sem título (fragmento)

Suplementar Mário Quintana • Epígrafe 180

31) Poema: Falta... Principal Paulo da Mata Machado Júnior

• Apreensão global • Localização e cópia

de informações • Produção de

inferências • Exploração do

vocabulário • Ativação do

conhecimento prévio

180-181

32) Poema: O pintor Suplementar Roseana Murray

• Exploração do conteúdo temático: artes

193

33) Poema: Os caiapós Suplementar Elias José • Leitura livre (“Observar a poesia que se faz presente em cada verso”)

194

34) Poema: Os poemas Complementar Mário Quintana • Apreensão global • Antecipação do

tema da unidade: poesia

196

35) Poema: Quadrilha Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Ativação de conhecimento prévio

• Produção de inferências

196

36) Poema: Desejo Complementar Hardy Guedes • Apreensão global • Localização e cópia

de informações • Produção de

inferências

197

37) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Mário Quintana • Produção de inferência

• Apreensão global

197

38) Poema: Apelo Principal Janice Persuhn • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração de recursos expressivos: metáforas

200/206

39) Poema: Ruínas Principal Hardy Guedes

• Exploração de intertextualidade

201/206

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temática • Localização e cópia

de informações • Comparação de

informações • Produção de

inferências 40) Poema: Esta vida, este dia

Principal Janice Persuhn • Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Exploração de processo coesivo

• Comparação de informações

• Apreensão global: mensagem

202-206

41) Poema: A lavadeira Complementar Cora, Coralina • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Apreciação de valores éticos e políticos

• Apreensão global

215-216

42) Letra de canção: Construção

Principal Chico Buarque • Localização e cópia de informações

• Exploração do vocabulário

• Exploração de imagens: expressões metafóricas

221-223

43) Letra de canção: Deus lhe pague

Complementar Chico Buarque • Exploração intertextual

222-223

44) Poema: Motivo (fragmento)

Complementar Cecília Meireles • Exemplar de gênero: poema

223

45) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Cecília Meireles • Apresentação e reconhecimento de características da composição poética: rimas

224

46) Poema: Sem título (fragmento)

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Apresentação e reconhecimento de características da composição poética: rimas

224

47) Poema: Soneto de fidelidade (fragmento)

Complementar Vinicius de Moraes

• Apresentação e reconhecimento de características da composição poética: rimas

224

48) Poema: E agora, José? (fragmento)

Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Apresentação e reconhecimento de características da composição poética: rimas

224

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49) Poema: Soneto de fidelidade

Complementar Vinicius de Moraes

• Exemplar de gênero: soneto

224

50) Poema: Pai Francisco Suplementar Sylvia Orthof • Apreensão global • Leitura livre

(encerramento de unidade)

230/233

51) Poema: Comunhão Suplementar Hardy Guedes • Apreensão global • Leitura livre

(encerramento de unidade)

231/233

52) Poema: Pagodeira Suplementar Elias José • Apreensão global • Leitura livre

(encerramento de unidade)

231/233

53) Poema: Valsa para um trovador

Suplementar Hardy Guedes • Apreensão global • Leitura livre

(encerramento de unidade)

232-233

54) Letra de canção: Canção da América

Suplementar Milton Nascimento e Fernando Brant

• Apreensão global • Leitura livre

(encerramento de unidade)

233

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QUADRO DOS GÊNEROS, TEXTOS, AUTORES E ATIVIDADES – COLEÇÃO ER – 8ª SÉRIE Gênero/ Título Posição do

Texto Autor Atividades propostas Página

1) Poema: Rondó dos cavalinhos

Principal Manuel Bandeira

• Comparação de textos (texto em prosa e em verso)

• Produção de inferências

• Uso de reticências

19-21

2) Poema: Balada para não dormir

Principal Lourenço Diaféria

• Apreensão global: título

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Comparação de informações

33-34

3) Letra de canção: Como o povo vê a política

Complementar Sem indicação • Apreciação de valores éticos e políticos

51

4) Letra de canção: Caminhos do coração

Suplementar Gonzaguinha • Apreensão global 51

5) Letra de canção: Saudades da Guanabara

Principal Paulo César Pinheiro e Moacir Luiz

• Produção de inferências

• Apreensão global • Exploração de

expressões metafóricas

• Comparação de informações

73-74

6) Poema; Maria de todo dia Complementar Maria Elisa Ferraz Paciornik

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

90-91

7) Poema: Caso pluvioso Complementar Carlos Drummond de Andrade

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Neologismo

90-91

8) Poema: Marginália Complementar Torquato Neto • Exploração do vocabulário

• Produção de inferências

• Referência ao interdiscurso

• Exploração do conteúdo temático

• Apreciação de valores éticos e políticos

107-108

9) Poema: Eu tive fome Principal Pe. Guilherme • Apreciação de valores éticos e políticos

• Exploração do conteúdo temático

116-118

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10)Poema: Exaltação Complementar Rosemary Sordi Meyer

• Exemplar de gênero: poema

• Motivação para a produção de poema

128

11) Poema: Balada do aposentado

Principal Jô Soares • Ativação de conhecimento prévio

• Apreciação de valores éticos e políticos

• Produção de inferências

• Apreensão global • Localização e cópia

de informações

130-131

12) Poema: Tudo muda Complementar Bertold Brecht • Epígrafe de unidade• Antecipação do

tema a ser trabalhado: ecologia

149

13) Poemas e Letras de canção: diversos fragmentos

Suplementar Beto Guedes, Núcleo Ecológico Represa Ituporanga, Henfil, Manuel Bandeira, Wagner Tiso e Milton Nascimento, Federico García Lorca, Pablo Neruda

• Epígrafe de unidade• Antecipação do

tema a ser trabalhado: ecologia

150

14) Poema: Soneto de separação

Complementar Vinícius de Moraes

• Exemplar de poema lírico

167

15) Poema: Romanceiro da Inconfidência (fragmento)

Complementar Cecília Meireles • Exemplar de gênero: epopéia

168

16) Poema: Artista e operário

Principal Hardy Guedes • Comparação de informações

• Localização e cópia de informações

• Exploração de referência interdiscursiva (fábula: A cigarra e a formiga)

• Produção de inferências

184-186

17) Poema: Classificados Principal Enilda das Graças Pacheco

• Apreensão global 186/188

18) Poema: Autópsia Principal Enilda das Graças Pacheco

• Exploração do vocabulário

• Produção de inferências

• Apreensão global

186/188

19) Poema: Retrato Antigo Principal Helena Kolody • Exploração de relação entre texto

187-188

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e imagem • Produção de

inferências 20) Poema: Sem título Principal Janice Persuhn • Exploração

intertextualidade temática

187-188

21) Poema: O sabiá e o gavião

Principal Patativa do Assaré

• Reescrever os versos em linguagem culta

• Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração do vocabulário

188-191

22) Poema: Viver valerá a pena

Complementar Hardy Guedes • Exploração da relação entre imagem e texto

• Produção textual: “Componha um poema em que as palavras sejam poesia”

198-199

23) Letra de canção: João Valentão

Complementar Dorival Caymmi • Apreensão global 206-207

24) Letra de canção: Mucuripe

Complementar Fagner e Belchior

• Apreensão global 206-207

25) Letra de canção: Eu não existo sem você

Complementar Tom Jobim e Vinícius de Moraes

• Apreensão global 207

26) Letra de canção: Canção de não cantar

Complementar Sérgio Bittencourt

• Produção de inferências

• Localização e cópia de informações

• Apreensão global: título

211-212

27) Letra de canção: Sinal Fechado

Complementar Paulinho da Viola

• Motivação para a produção textual

213

28) Letra de canção: Notícia de jornal

Complementar Haroldo Barbosa e Sérgio Reis

• Exploração do conteúdo temático

• Apreensão global

215

29) Letra de canção: Notícia boa

Principal Hardy Guedes • Localização e cópia de informações

• Produção de inferências

• Exploração de aspectos da forma composicional: refrão

• Apreensão global

216-217

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DISTRIBUIÇÃO DOS GÊNEROS POÉTICOS ENTRE OS VOLUMES DAS COLEÇÕES 1ª A 4ª SÉRIES

GÊNEROS DA TRADIÇÃO ORAL

POEMA LETRA DE CANÇÃO

ADIVINHA CANTIGAS PARLENDAS CORDEL TRAVA-LÍNGUA QUADRINHA TOTAL TO. TOTAL GP LP1 06 00 00 02 00 00 00 02 04 10 LP2 04 02 00 00 00 01 00 00 01 07 LP3 07 02 00 00 00 00 00 00 00 09 LP4 02 01 00 00 00 00 00 00 00 03

TOTAL 19 05 00 02 00 01 00 02 05 29

CE

% 65,52 17,24 00 6,89 00 3,44 00 6,89 17,24 - LP1 12 02 01 00 01 00 01 00 03 17 LP2 09 02 00 00 00 00 00 00 00 11 LP3 08 01 00 00 00 00 00 00 00 09 LP4 12 04 00 00 00 03 00 00 03 19

TOTAL 41 09 01 00 01 03 01 00 06 56

LPT

% 73,22 16,07 1,78 00 1,78 5,35 1,78 00 10,71 - LP1 07 00 00 03 00 00 00 00 03 10 LP2 04 00 00 00 00 01 00 00 01 05 LP3 03 01 01 00 00 00 00 00 01 05 LP4 07 00 00 01 00 00 00 00 01 08

TOTAL 21 01 01 04 00 01 00 00 06 28

PPLL

% 75 3,5 3,57 14,29 00 3,57 00 00 21,43 - LP1 21 07 08 07 04 00 01 02 22 50 LP2 08 02 01 01 00 00 00 00 02 12 LP3 13 01 06 00 01 00 00 00 07 21 LP4 11 04 00 01 00 00 00 00 01 16

TOTAL 53 14 15 09 05 00 01 02 32 99

AML

% 53,54 14,14 15,15 9,09 5,05 00 1,01 2,02 32,32 -

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