os ganhadores de almas 15

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A trama de OS GANHADORES DE ALMAS (inspirada em fatos reais) é desenvolvida sob o ponto de vista crítico sociológico, político, filosófico, os mitos teológicos e muita misticidade, com uma pitada generosa de erotismo.

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OS Ganhadores de A lmasNem só de liturgias vivem os santos

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São Paulo - 2016

Valda Fogaça

OS Ganhadores de A lmasNem só de liturgias vivem os santos

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Felippe Scagion

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Andrea Bassoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

F683g

Fogaça, Valda Os ganhadores de almas : nem só de liturgias vivem os santos / Valda Fogaça. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016.

ISBN 978-85-437-0505-7

1. Romance brasileiro. I. Título.

16-30649 CDD: 869.93 CDU: 869.134.3(81)-3

________________________________________________________________23/02/2016 23/02/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Sumário

CAPíTULO IOnde Estão Todos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

CAPíTULO II Uma Nova Rotina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

CAPíTULO IIINaná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

CAPíTULO IV A Iniciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

CAPíTULO VO Castigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

CAPíTULO VI A Amante Beldade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

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CAPíTULO VII O Despertar de Lara . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

CAPíTULO VIIIPastor de Diabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

CAPíTULO IxA Rejeição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

CAPITULO xO Pesadelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

CAPíTULO xI Na Vida do Homem, a Dor é Maior que a Felicidade. .133

CAPíTULO xIIO Moderno Mundo Das Sombras . . . . . . . . . . . . . 153

CAPíTULO xIII A Felicidade É O Maior Objetivo Do Homem . . . . 183

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ICaPÍTulooNdE ESTÃo TodoS

A rotina da repartição que ficava no primeiro andar do prédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC) seguia de modo aflitivo à medida que o ponteiro do reló-gio aproximava-se do número 17.

Os olhares angustiantes das pessoas que ali exerciam suas funções, executando suas tarefas, não despregavam do aparelho marcador de tempo, que sempre estivera ali, pendurado na sala da Repartição, acumulando poeira e executando a sua função. E na angústia do tempo seu tique-taque neurotizante e contínuo, nunca ficara des-percebido, sobretudo, conforme o sol ia descambando-se rumo ao horizonte.

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Todos, exceto um cidadão que se sentava atrás de uma mesa no canto direito da Repartição, ficavam con-tando os minutos, os segundos que restavam para encer-rar o expediente. Queriam todos sair dali correndo, uns para suas casas, outros para outro trabalho.

Nesse dia, o cidadão sentado atrás da mesa, no canto direito da Repartição, estava despreocupado com o passar das horas. Ele não iria sair dali correndo como de costu-me, para não chegar atrasado à escola, onde administrava aula de matemática. Ele estava de abono da escola e re-solveu ficar até mais tarde na Repartição. Queria termi-nar de analisar alguns processos que estavam em atraso, e logo depois iria direto para casa.

Porém, lembrou-se que há muito não desfrutava do prazer de jantar com a família ou pelo menos chegar cedo do trabalho. Desde que ele tomara posse do cargo de téc-nico em Assuntos Educacionais naquele Ministério, seu tempo havia se tornado escasso e ele, um homem deman-dado. Entretanto, nesse dia ele previu chegar mais cedo, por volta das vinte horas, talvez.

Afundado numa pilha de processos, o funcionário do Ministério da Educação e Cultura, homem acabocla-do, de cabelo castanho escuro ligeiramente crespo, estilo militar, aparentando uns quarenta anos, nem percebia que as horas passavam, tão grande era a sua concentração.

Era necessário que ele analisasse pelo menos me-tade daqueles processos, pois há muito seu chefe vinha lhe cobrando pontualidade na entrega dos documen-tos. Ele analisa um, depois outro, e mais outro. E com a vista já embaçada devido ao cansaço, ele tira os ócu-

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los e esfrega os olhos com as costas das mãos fechadas, tentando clareá-la.

A tarde fresca de outono havia trazido-lhe ânimo... Ele se levanta da cadeira de couro preto de encosto alto e espreguiça-se. Sente os ombros enrijecidos e as costas doendo devido à má postura, e vai até o bebedouro. Baixa a cabeça e sorve o jato d’água que ele havia disparado na própria boca.

Saciada a sede, o cidadão permanece em pé, no meio da Repartição, com o olhar distante... “Pra mim hoje já deu...”, pensa, e fica assim por alguns instantes. Em se-guida, ele pega seus pertences e retira-se da Repartição, olhando apenas para o marcador de tempo. Todos já ha-viam ido embora.

Ele pega o elevador e desce para o térreo. Saindo do elevador, aproxima-se de um cidadão moreno, encorpa-do, vestindo um terno preto, e que permanecia na recep-ção numa postura adotada pela guarda imperial britâni-ca. Ele diz-lhe alguma coisa e em seguida despede-se dele.

Com a cabeça, naquele momento, vazia de pensa-mentos, o funcionário do Ministério dirige-se ao estacio-namento. As luminárias na sua frente enchiam o ambien-te de luzes, pois naquela hora do dia o manto da noite já cobria a cidade.

Aos poucos a esplanada dos ministérios estava sendo esvaziada. Quase todas as pessoas que ali traba-lhavam já tinham ido embora. O técnico de Assuntos Educacionais do Ministério entra em seu veículo e de-posita sobre o banco do carona uma bolsa. Num gesto automático, ele introduz a chave na ignição e gira-a,

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dando partida. Ocorre-lhe que naquele horário o trân-sito já havia melhorado...

Ao chegar ao seu destino, ele estaciona o carro na garagem e nota algo estranho: um silêncio medonho in-vadia o interior da casa. Ele desce do automóvel − um modelo da Ford já fora de linha −, um Escort branco, último lançamento da série Escort, e retira do banco do carona a bolsa. Em seguida, entra na casa e liga o inter-ruptor que se localizava ao lado direito da porta de entra-da, enchendo todo ambiente de luz. Ele lança um olhar inspecionador, varrendo milimetricamente cada canto da sala, e desaprova a desordem costumeira que se encon-trava por toda parte. “Que bagunça!”, disse a si mesmo, pondo na cara uma expressão de repulsa.

O cidadão vai à cozinha, alimentando uma vaga ilusão de encontrar alguém em casa, um filho ou, quem sabe, com um pouquinho de sorte, até mesmo a espo-sa. Sobre esta ele não pensava com otimismo. Não tinha hora para chegar devido à sua ocupação. Mas, mesmo assim, ele arrisca uma interjeição, que não foi feita senão para si mesmo: “Onde estão todos!?”.

Para o professor João de Souza, o técnico em As-suntos Educacionais do Ministério (MEC), chegar mais cedo era algo inusitado. Ele tinha a intenção de curtir um pouco a família, pois nos últimos tempos havia dado-lhes pouca atenção. E ele atribuía isso à sua falta de tempo.

Nesse dia, o professor chega em casa por volta das vinte horas e trinta minutos. E ele nota algo diferente quando chega: a casa estava em um silêncio medonho, o qual ele estranhou e o fez sentir-se alvoroçado. A porta

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estava aberta, embora a casa estivesse deserta. A mulher e os filhos não se encontravam. “Por certo, estão por aqui por perto”, pensou ele. 

Já no interior da casa, o professor varre outra vez o ambiente com aquele olhar inspecionador, reconhecendo cada canto da residência, cada móvel, e sentiu-se feliz por estar de volta em seu lar, apesar de não ter encontrado uma alma vivente. Ali ele era um chefe de família, tarefa que, de certo modo, para ele não seria nada fácil.

Ele vai até a cozinha, após ter largado a bolsa sobre o sofá da sala de estar, pois queria tomar um copo com água. Ao passar pelo quarto do filho, que se situava num pequeno corredor, sentido à cozinha, algo lhe chama a atenção. Ele fica ali, parado, em frente à porta do quarto do filho, inspecionando o quarto do rapaz.

Por alguns instantes o professor fez um breve re-conhecimento do local. O cenário revelava a nova per-sonalidade do jovem. Ele liga o interruptor. As vistas faíscam conforme ele apreciava a luz vermelha e azul intermitente que o filho instalara na tentativa de recriar um cenário que melhor se identificasse com as suas fan-tasias eróticas. Coisas de adolescente, o que era normal para a idade do rapaz.

O professor permaneceu parado na porta do quarto, como que hipnotizado. No campo mental o seu imagi-nário florescia e fantasias eróticas surgiam devassamente, de tal modo que ele só conseguia notar a luz bruxuleante e avermelhada que inundava todo quarto.

Ele entra no quarto e deita na cama do jovem e des-lumbra aquele cenário cuja atmosfera tinha um quê de

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pecado e erotismo... Neste exato momento, a esposa do professor entra em casa e deposita sobre o sofá da sala o material de trabalho. Ela caminha casa adentro pisando macio, vestida de maneira vulgar: calça preta corsário, que marcava salientemente as formas do corpo, e uma blusa lilás com detalhe preto, curta e apertada, com gran-de decote mostrando os seios fartos. Calçava uma sandá-lia plataforma tão alta que mal conseguia equilibrar-se.

— João! − diz ela, num tom de sondagem, já indo de encontro ao marido. 

— Você aqui a esta hora? − indaga a mulher, em pé, na porta do quarto do filho, olhando para o marido e achando estranho que ele estivesse de volta do trabalho aquele horário. Nos últimos tempos não era hábito dele chegar tão cedo em casa.

Surpreendido com a presença da esposa, o profes-sor levanta-se de sobressalto e senta-se na cama. Mudo, sob o efeito da surpresa, ele fita-a... A mulher nota algo estranho no olhar do marido, que ela não demora mui-to para entender, e gosta do que havia entendido. Sem dizer uma só palavra, o casal se olha, entendendo o que o olhar do outro dizia...

Finalmente, ele pronuncia:— Zeverina, vem caá minha baixinha! Deixe seu

marido lhe fazer um chamego. Veenha! − diz João de modo imperativo, arrastando a fala, dissimulando um sotaque nordestino e batendo a mão sobre a perna di-reita, convidando a esposa para sentar-se em seu colo. Enquanto isso, o semblante iluminava-se e dos olhos despendiam chispas de perversão.

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Nessas alturas, sua imaginação já se encontrava em solo fértil, e aquele cenário era propício para as cenas eróticas que ele acabara de imaginar; vestido de calça jeans e camiseta pre-ta gola polo, o professor aparentava mais jovem. No pescoço trazia pendurado o crachá, um molho de chaves e o celular. Na epiderme uma camada de enxuria e o suor forte devido à excessiva transpiração. Àquele odor ambos já estavam acostu-mados, pois não eram devotos de uma boa higiene.

— O que te deu homem? Tu deu pra falar agora com o sotaque nordestino? − observa a mulher e continua:

— Você é carioca. Não combina contigo esse sota-que... Nem eu, que o nome por si já diz quem sou, não falo com esse sotaque! Hum! − fungou Zeferina, aproxi-mando-se do marido com ar de perversão.

— É a convivência mulher. Deixe de prosa e vem cá! − ordena o professor, dando-lhe uma palmadinha nas nádegas.

— Já disse! Você é carioca. Não combina contigo exte sotaque! − diz ela, entrando na onda do marido.

— Pois é... Já há tanto tempo que estou ao seu lado que até meu sotaque perdi em função de ti... Quando é que você vai mesmo me apresentar essa...

— “A Marlene?” − Pergunta o marido— Sim, a sua aluna, hein, homem? Extou doidinha

para conhecer exta tal morena que extá virando a tua cabeça. – disse, batendo as mãos no peito do marido, jogando-o na cama de cara para o ar. Neste momento, ele agarra a esposa pela cintura e puxa-a para si.

Ao falar, Zeferina dissimula o sotaque carioca. E julgando-a pela sua expressão astuta, o professor vê logo

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um leve toque de alarme aparecer nos olhos da esposa, avisando que a tal aluna não iria lhe escapar...

— Seei! Sei não... − retrucou o marido placidamen-te, pondo na cara uma expressão de dúvida.

A fervura daquele caldeirão de desejos que havia no professor baixava à medida que a insegurança, vinda da-quela conversa, tornava-se robusta.

— Está falando sério? Quer mesmo conhecer a mi-nha morena? Vê lá o que vai dizer a ela!

— Fica frio! Só quero saber se exta tal morena é dax minhax e se extá dixpoxta a seguir conforme a minha car-tilha − diz a mulher de modo xiado, montada nas pernas do marido, abrindo-lhe o zíper da calça e continuando:

— Não quero correr o rixco de me dexcepcionar com ela, como ocorreu com a sua excritorinha metida a bexta. Era só o que me faltava! − fungou, fingindo indignação.

— Agora vem você me arranjar exta metida a mora-lixta? Aonde já se viu?

O marido ouve as reclamações sem dar um “pio” e, por fim, ele diz:

— Você não gosta da minha escritorinha, né mesmo?— Vem você me ignorando. Você sabe muito bem,

homem, o quanto me amarro numa... Você sabe o quê. Você se lembra de como foi maravilhoso aquele barato que rolou conosco e aquela aluna sua, a tal Vera? − diz ela num tom de safadeza, remexendo sobre o marido, com as duas mãos ocupadas com o cinto, desafivelando-o.

— E como! − recorda o marido. — Só não foi melhor porque o marido dela não to-

paria participar também − disse a mulher.

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— Ah, se me lembro! Me senti um verdadeiro Sul-tão! − suspirou o professor.

Zeferina sorri, mostrando os dentes “amarelados e balanguentos”.

— Exta tal aluna sua, agora, meu professor goxtoso, será que extá dixpoxta a nox dar o prazer de uma suru...

— xiiiii!!!! − diz ele, interrompendo-a, fazendo o gesto de silêncio...

— Caprichada? − indagou Zeferina, checando as possibilidades.

— Que ninguém nos ouça! − adverte o professor.— Melhor dizer... − sugeriu Zeferina uma ressalva,

levando a mão à boca − Será que ela vai mexmo se conver-ter? Temox que falar de Jesus pra ela. − finaliza, pondo na cara um sorriso malicioso.

— É engano meu ou você está falando com sotaque carioca? − indaga o marido à mulher, meio que sem en-tender o motivo do chiado na pronúncia.

— É a convivência, meu professor gostosão... − res-ponde ela.

Em seguida, os dois caem na risada. A brincadeira de troca de sotaques aquece o ânimo do casal. João agarra a esposa com mãos fortes e arranca-lhe a blusa, disposto a transar ali mesmo, na cama do filho. Aquela atmosfera havia despertado-lhe as mais devassas fantasias.

Tudo indicava que o comportamento deles fugia do padrão de valores aceitável na sociedade cristã. Mas é o mundo com as suas diversidades. Quem sabe Freud ex-plica, lá mesmo do além, a tara desses dois!