os festivais de mÚsica popular brasileira e a .2017-11-22 · i – joÃo goulart e o golpe...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS DE SO CRISTVO
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTRIA
Cidade Universitria Prof. Jos Alosio de Campos
Jardim Rosa Elze s/n - So Cristvo (SE) CEP 49.100-00
OS FESTIVAIS DE MSICA POPULAR BRASILEIRA E A
INDSTRIA CULTURAL NO REGIME MILITAR
SO CRISTOVO/SE
2015
2
MIRELLE SACRAMENTO DE JESUS
OS FESTIVAIS DE MSICA POPULAR BRASILEIRA E A INDSTRIA
CULTURAL NO REGIME MILITAR
Artigo cientifico apresentado para a
disciplina: Prtica de Pesquisa Histrica,
sob orientao da Prof. Dra. Clia Costa.
SO CRISTOVO/SE
2015
3
SUMRIO
INTRODUO .................................................................................................................05
JOO GOULART E O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964.................................06
OS FESTIVAIS DE MSICA POPULAR..................................................................10
O III FESTIVAL DA RECORD: ASCENSO DO TROPICALISMO..................14
INDSTRIA CULTURAL............................................................................................21
DESENVOLVIMENTO DA INDSTRIA CULTURAL NO BRASIL................23
CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................25
4
OS FESTIVAIS DE MSICA POPULAR BRASILEIRA E A INDSTRIA
CULTURAL NO REGIME MILITAR.
Mirelle Sacramento de Jesus*
RESUMO: O presente artigo analisa o desenvolvimento da indstria cultural no
Regime militar, a partir dos Festivais de Msica Popular Brasileira televisionados,
fazendo um contraponto com o conceito de Indstria Cultural, criado pelos pensadores
frankfurtianos Theodor Adorno e Max Horkheimer. Com a expanso do mercado
fonogrfico brasileiro no perodo dos festivais, sobretudo durante o regime militar, a
indstria cultural se imps, porm observou-se que esta ao contrrio do que afirma estes
pensadores, no resultou na alienao dos indivduos. Para tanto, utilizamos como
fontes, documentrios e vdeos sobre os festivais, como tambm jornais da poca e a
letra de algumas canes, a fim de embasarmos com maior consistncia nossa
discusso.
PALAVRAS-CHAVE: Regime Militar; Festivais; MPB; Indstria Cultural.
ABSTRACT: The present article analyzes the development of Cultural Industry during
the Military Regime, through the Brazilian Popular Music Festivals televised, making a
counterpoint to the concept of the Cultural Industry, created by the Frankfurt School
thinkers Theodor Adorno and Max Horkheimer. With the expansion of Brazilian
phonographic market in the period of the festivals, especially during the Military regime
, the Cultural Industry was imposed;however, it was observed that, contrary to the
claims of these thinkers, did not result in alienation of individuals. Therefore, were used
as sources, documentaries and videos about the festivals, as well as newspapers of the
time and the lyrics of some songs in order to motivate consistently our discussion.
KEY WORDS: Military Regime; Festivals; MPB; Cultural Industry
* Graduanda do curso de Licenciatura em Histria da Universidade Federal de Sergipe. Trabalho de concluso de curso do segundo semestre de 2014, sob a orientao da Prof. Dr. Clia Costa Cardoso.
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INTRODUO
Em 31 de maro de 1964 instaurou-se o Regime Militar no Brasil, resultado de
um golpe de estado, que durou 21 anos. Este perodo foi marcado por uma intensa
represso aos oposicionistas polticos, atravs de prises, exlios, torturas e assassinatos,
para conter aqueles que fossem contrrios poltica vigente.
O Regime Militar utilizou-se de diversos mtodos persecutrios para vigiar
aqueles envolvidos com a msica, programas de TV e rdio, comportamentos entre
outros que lhes pudessem ser hostis. Nesse contexto, a utilizao da censura com
finalidade polticas tornou-se habitual, ampliando-se o raio de atuao da Diviso de
Censura de Diverses Pblicas (DCDP). Compositores, intrpretes e msicos se
depararam com as limitaes impostas pelo Regime Militar e muitos deles foram
exilados, presos ou perseguidos.
Apesar da represso militar nesta poca, a cultura popular brasileira estava em
alta, a indstria fonogrfica e televisiva cresciam por meio de uma ao conjunta, qual
seja: os festivais de MPB televisionados. As emissoras de TV, principalmente a Rede
Record e a Rede Globo, competiam entre si para atrair espectadores para os programas
musicais, e foram nestes festivais que os msicos da MPB promoveram sua msica e
por vezes registraram alguma forma de protesto.
V-se que os Festivais da Cano realizados ao longo das dcadas de 1960 e
1970 foram sem dvida, um marco na histria da msica popular brasileira. Nessa
poca, novos talentos foram revelados, movimentos musicais se revigoraram e
provocaram um redimensionamento da msica popular brasileira. Como assevera
Renato Terra:
A chamada era dos festivais no s serviu de contraponto ditadura, revelou
nomes de peso e lanou modismos, como tambm foi a gnese da MPB
diversificada e sofisticada que conhecemos atualmente. Entre 1965 e 1972, o
pas parou muitas vezes para discutir letras, harmonias, melodias e ideologias
polticas por causa dos festivas. (TERRA, 2013,p. 12,.)
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Os festivais tiveram fundamental importncia para a popularizao da MPB. Na
dcada de 60 vrios eventos foram realizados em estdios, programas de televiso,
teatros, consagrando artistas e consolidando o ritmo, e tambm eram extremamente
oportunos para as gravadoras na busca de novos artistas para seus prximos lbuns.
Para compreendermos os Festivais de MPB no Brasil, foram utilizados os
estudos de Zuza Homem de Mello, Christopher Dunn e Marcos Napolitano, dentre
outros, pois possibilitaram contextualizar a poca, alm de ajudarem na compreenso do
funcionamento dos Festivais, debates esttico-ideolgicos, canes vencedoras, e outros
questionamentos que se levantaram no andamento da pesquisa. As fontes utilizadas
foram os documentrios sobre os Festivais, que apresentam imagens e entrevistas
reveladoras com os protagonistas daquela poca, alm de algumas canes e
reportagens feitas naquele perodo.
Neste diapaso, para refletirmos acerca dos festivais de cano e suas
implicaes com o mercado fonogrfico teceremos algumas consideraes sobre a
Indstria Cultural, observando o contexto histrico em que se encontravam os festivais,
e o desenvolvimento de uma indstria cultural no Brasil, fazendo um contraponto com a
crtica elaborada pelosos pensadores frankfurtianos Adorno e Horkheimer, que
argumentavam que a indstria cultural era um sistema padronizado para iludir as massas
que engessava a criatividade individual e o pensamento crtico.
Esses pensadores afirmavam que a indstria cultural ludibria perpetuamente
seus consumidores com promessas de abundncia material, liberdade e felicidade, mas
em ltima instncia deixa-os cegos para a labuta e a explorao da vida cotidiana no
sistema capitalista. (ADORNO, 1972, p. 139)
I JOO GOULART E O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964
Em 31 de Maro de 1964 o ento presidente do Brasil Joo Goulart fora
deposto de seu cargo atravs de um golpe civil- militar, inaugurando-se uma era na qual
os militares assumiram a construo de um novo tipo de poder, tomando a mquina do
Estado, e assegurando o controle da administrao pblica. Os militares no s
realizaram uma preparao para ocupar o poder, eles definiram um projeto nacional
coeso que se estendia tanto s foras armadas quanto sociedade civil. (AZEVEDO,
2012.)
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O clima de intranquilidade reinava no Brasil. O ento presidente Joo Goulart
no era bem visto pela populao, que exigia mudanas em seu governo, por conta da
grande inflao e das greves que vinham ocorrendo. Carlos Fico assevera:
A atmosfera poltica era de grande agitao no apenas entre militares, polticos
e empresrios que queriam livrar-se do governo. Joo Goulart defrontara-se, no
inicio de 1964, com sua prpria fragilidade. Chegara Presidncia da Repblica
por acaso e por sorte, aps a surpreendente renncia de Jnio Quadros e contra a
vontade dos ministros militares, que s admitiram sua posse depois de tratativas
polticas que o enquadraram: s pressas, instaurou-se no Brasil, em 1961, um
regime Parlamentarista, que tolhia os poderes do novo presidente. (FICO,
2012,p. 16)
Inicialmente Joo Goulart era um presidente sem poder, pois fora aprovado
pelo Congresso um Ato Adicional que transformava a repblica brasileira em uma
Repblica Parlamentar. Nela o presidente chefe de Estado, e o primeiro-ministro o
chefe do governo. Este Ato adicional previa um plebiscito sobre o sistema parlamentar,
a ser realizado em 1965: Art. 25. A lei votada nos termos do art. 22 poder dispor
sobre a realizao de plebiscito que decida da manuteno do sistema parlamentar ou
volta ao sistema presidencial [...]. (BRASIL, Emenda Constitucional n 4 de 1961, art.
25). Mas Jango, como era apelidado Joo Goulart, trabalhou junto aos partidos
polticos e o plebiscito foi antecipado para janeiro de 1963. O resultado restaurou o
presidencialismo.
Para incentivar a eco