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www.colecaomossoroense.org.br 1 Olavo de Medeiros Filho Os Fenícios do Professor Chovenágua Edição Especial Para o Projeto Acervo Virtual Oswaldo Lamartine de Faria

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Olavo de Medeiros Filho

Os Fenícios do Professor Chovenágua Edição Especial Para o Projeto Acervo Virtual Oswaldo Lamartine de Faria

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Índice Introdução ............................................................................. 04 A Fenícia e seus habitantes .................................................. 07 As correntes e contracorrentes marítimas (África-Brasil-África) ........................................................... 14 As inscrições da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro ............ 15 As inscrições fenícias do Rio Paraíba do Sul ....................... 21 Pe. Francisco Corrêa Teles de Menezes, um precursor da arqueologia brasileira ........................................................... 25 Os fenícios do Professor Schwennhagen .............................. 31 As estradas e estações fenícias, segundo o Professor Schwennhagen ...................................................................... 51 Os fenícios, suas minas e o Professor Schwennhagen ......... 68 As inscrições gregas da fazenda Pedra Lavrada, em Jardim do Seridó ................................................................... 79 As pinturas rupestres da “Casa Santa”, em Carnaúba dos Dantas .................................................... 101

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As pinturas rupestres do sítio Mirador, no Boqueirão de Parelhas ................................................... 111 As pinturas rupestres no sítio Pedra do Alexandre, em Carnaúba dos Dantas/RN ................................................... 114 Fontes ................................................................................. 116

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Introdução Em meio às resumidas e fragmentadas marcas da pré-

história brasileira, encontram-se indícios que levam os es-tudiosos a supor a existência de uma civilização no Brasil, muito anterior à era cristã. Gravados ou pintados em roche-dos, foram identificados caracteres babilônicos ou suméri-cos, etruscos, fenícios (os predominantes), gregos e latinos, além de hieróglifos egípcios.

À procura de um certo embasamento histórico para explicar a presença de tais inscrições milenares, atribuídas àqueles povos do velho mundo, os partidários dessa atraen-te e discutível teoria apelam para o escritor grego Diodoro da Sicília, que em 45 anos antes de Cristo já mencionava uma grande ilha (Insula Gentium): “Esta ilha, diz Diodoro, acha-se afastada da Líbia por muitos dias de navegação e situada ao Ocidente. Seu solo é fértil, de uma grande beleza e banhado por inúmeros rios navegáveis.”

O mesmo autor Diodoro, nos capítulos 19 e 20 do seu 5o Livro de sua História Universal, revela que uma frota fenícia partiu da costa da África, atravessando o Atlântico no rumo sudoeste, impulsionada pelas mesmas correntes oceânicas depois encontradas por Pedro Álvares Cabral: “Velejando para explorar o continente, situado além das Colunas de Hércules, foram arrebatados e impelidos por

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violentos furacões fort loin dans l’ocean! Batidos pelas tempestades, abordaram enfim à mencionada ilha. Toman-do então conhecimento da riqueza do solo, comunicaram os fenícios sua descoberta às suas colônias já dispersas por todo o mundo”.

O filólogo Henrique Onffroy de Thoron escreveu a notável obra “Voyage des Vasseaux de Salomon au Fleuve des Amazones”, publicada em Gênova, em 1869. Thoron defende a teoria de que os marinheiros do rei Hiram, de Tyro, tripulavam os barcos do rei Salomão, tendo introdu-zido os trabalhos de mineração de ouro naquele rio Ama-zonas. Segundo De Thoron, o chamado país de Ofir teria sido o Peru.

Aquele filólogo francês encontrou grande semelhança entre o tupi – que seria proveniente do idioma quíchua, fa-lado pelos Incas – e as línguas hebraica, sânscrita e grega.

Em 1900 veio à luz o livro “Brasil Pré-Histórico”, do cônego cearense Raimundo Ulisses de Pennafort, que se propunha a decifrar o enigma pré-histórico brasileiro atra-vés da ciência glótica. O cônego Pennafort defendia erudi-tamente as conclusões desposadas por Onffroy de Thoron.

Em 1928, o austríaco Ludwig Schwennhagen publi-cou o sue livro “Antiga História do Brasil”, também defen-dendo a teoria da presença fenícia no nosso país. Segundo Schwennhagen, “as inscrições brasileiras foram escritas por mercantes e mestres-de-obras de minas. Foram comunica-

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ções deixadas pelas diversas expedições para indicar o ru-mo das estradas, as distâncias dos lugares e a situação das minas”.

Devido à sua posição geográfica privilegiada, em re-lação ao continente africano, o Rio Grande do Norte é a-pontado como um dos estados brasileiros atingidos pela presença fenícia. Por ele perlustrou o austríaco Ludovico Schwennhagen, misto de sábio e visionário (a quem o povo denominava de Prof. Chovenágua), na tentativa de encon-trar vestígios arqueológicos que comprovassem aquela re-mota presença fenícia. Na imprensa norte-rio-grandense, Schwennhagen publicou alguns artigos de concepção pro-fundamente hipotética, cuja transcrição e análise constarão de alguns capítulos deste livro.

A principal contribuição do prof. Schwennhagen à Arqueologia norte-rio-grandense foi a cabal identificação da chamada Pedra Lavrada, encontrada na fazenda do mesmo nome, em Jardim do Seridó. Antes de Schwennha-gen, julgava-se que a famosa pedra ficasse localizada no território paraibano.

As pinturas rupestres encontradas em Carnaúba dos Dantas e Parelhas, na região do Seridó, neste Estado, po-dem indicar a presença no litoral norte-rio-grandense de navegantes chegados em embarcações de grande porte, muito semelhante àquelas que eram outrora utilizadas pelos fenícios, em seus périplos marítimos.

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A Fenícia e Seus Habitantes A Fenícia, hoje conhecida como Líbano, era um país

da Ásia Menor, entre o rio Eleutherus (hoje Nahr-El-Kébir) ao norte e Belos (Nahr-Maman) ao sul, proximidades do monte Carmelo. Ao leste, a Fenícia limitava-se com as cor-dilheiras do Líbano e do Antilíbano. Ao ocidente ficava-lhe o mar Mediterrâneo, que banhava seus quase duzentos qui-lômetros de costa. No sentido leste-oeste, o território não chegava a atingir quarenta quilômetros de largura.

Os topônimos mais remotos da região foram Zahi e Kafit. Talvez o nome Fenícia proviesse de Puanît, dado pelos egípcios aos países da Arábia, e que se teria conser-vado sob a forma de Poeni, em Cartago. Originários da re-gião do monte Sinai, na porção asiática do Egito atual, os fenícios, que tinham origem semítica, se fixaram por volta do ano 3000 a.C., naquela estreita faixa de terra conhecida no Velho Testamento como Chanaan, Kanaan ou Chna, que tinha o significado de terra depressa, baixa, alagada. Se-gundo alguns filólogos, o topônimo Fenícia provinha do grego Phoinix, Phoinis, que significava rubro, vermelho. Na cidade fenícia de Tiro era fabricada uma famosa tinta, extraída do marisco murex – a púrpura, empregada como corante em tecidos. Outros autores acham que os fenícios –

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Phoinices – tinham tal nome, por habitarem o país da Pal-meira (Palmyra).

A Fenícia era cortada por alguns rios de reduzida impor-tância, em cujos vales eram plantados algodão, linho, cereais, fruteiras, vinhas e oliveiras. A presença litorânea de ótimos portos, cedo despertou a vocação náutica e comercial dos habi-tantes da Fenícia. Esta tornou-se a principal potência marítima da antigüidade. Sua frota era construída com madeiras forneci-das pelas florestas do Líbano e do Antilíbano, dentre as quais destacavam-se o cedro e o pinheiro.

Os navios fenícios apresentavam um formato quase redondo, com quilhas pequenas, o que lhes permitia nave-gar paralelamente à costa. Orientados pelas estrelas, os fe-nícios logravam navegar contra a força dos ventos, mercê do emprego de largas velas e de numerosos remos de gran-de dimensão. Posteriormente os fenícios construíram navi-os compridos e estreitos, que eram utilizados nas batalhas navais. Quando o rei Salomão pretendeu construir uma es-quadra, os navios foram feitos por especialistas fenícios, tendo sido também guarnecidas aquelas embarcações com marinheiros da mesma nacionalidade.

Grandes comerciantes e navegadores, os fenícios pri-meiramente exploraram o mar Mediterrâneo, cujas costas foram cobertas de feitorias e estaleiros. Com a experiência adquirida, os fenícios chegaram à Ásia Menor, ao mar E-geu e à Grécia, à Itália Meridional, à Sicília, à Líbia, onde

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fundaram a sua principal colônia – Cartago, e à Espanha. Pelo meado do Século XI, os fenícios já tinham fundado Gádes (Cadiz). Aventurando-se pelo Atlântico, chegaram eles ao Senegal. No ano 610 a.C., no reinado do faraó egíp-cio Nécau (Neco), os fenícios contornaram o continente africano. Tendo saído do Mar Vermelho, atingiram depois de três anos a embocadura do Nilo, pelo estreito de Cádiz. Aventurando-se para o norte, os fenícios chegaram à Grã-Bretanha. Mantinham eles as suas rotas em segredo e exer-ceram o monopólio comercial no mundo mediterrâneo.

Verdadeiros corretores entre o Ocidente e o Oriente, os fenícios negociavam com povos distantes, como os habi-tantes do Egito, Pérsia, Índia, Bailônia e Arábia. Da Sicília importavam eles estanho; prata, ferro, vinhos, azeite, lãs e frutas da Espanha; estanho e âmbar amarelo da Grã-Bretanha; perfumes, incenso, mirra, marfim, especiarias, ouro em pó, pedras preciosas e escravos, de vários outros países. Os fenícios eram especialistas nas artes industriais. Embora não tenham sido os inventores do vidro, tornaram-no mais forte e transparente. As oficinas de Tiro e de Sídon fabricavam pastas coloridas. Na Grécia, tinham grande a-ceitação as taças de bronze, prata e ouro e os panos de púr-pura fenícios. Fabricavam eles também armas, colares, bra-celetes, brincos e outras jóias.

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Além de bronze, vidro, jóias, móveis, tecidos, púrpura e cristal transparente, produzidos pelos artesãos fenícios, o país também exportava madeiras florestais.

Os fenícios foram grandes construtores. Ainda restam deles, casas cavadas nos calcários das escarpas ou em blo-cos de rochedo isolados (casa de Amrith). A arquitetura religiosa dos fenícios constava de altares de pedra, e de templos, pequenos tabernáculos de forma quadrangular, de inspiração egípcia, colocados no meio de um pátio (Amri-th; Ain-El-Hayat). Nada mais resta dos famosos templos de Melkart, outrora construídos em Tyro; de Astártea em Sí-don, em Gebal e em Paphos. Os fenícios construíram mo-numentos funerários, alguns com a forma de jazigos cava-dos na rocha (necrópolis de Amrith, de Tyro, de Ad’um). Os sarcófagos eram dispostos nas paredes, encerrados em nichos ou enterrados em covas no solo. Nos sarcófagos colocavam-se mobiliários funerários. Tais jazigos ficaram assinalados externamente por marcos ou cippos. A perícia dos construtores fenícios foi utilizada na edificação do pa-lácio do rei David (c. 1002-963 a.C.). Na referida constru-ção foram empregados cedros e pedras do Líbano, e os pe-dreiros e carpinteiros foram enviados pelo rei fenício Hi-ram de Tiro (c. 969-936 a.C.). Também o palácio do rei Salomão (c. 970-930 a.C.) e o famoso templo por ele cons-truído em Jerusalém, contaram com a ajuda técnica de arte-sãos fenícios.

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A escultura fenícia sofreu a marcante influência egíp-cia, depois assíria e finalmente, grega (a partir de Alexan-dre). Eram muito utilizados baixos-relevos, sarcófagos, estelas votivas, estátuas e motivos ornamentais (esfinge, globo solar, palmeta, rosácea). Nos sarcófagos abundavam as cenas gregas, adaptadas ao caráter oriental. Obras artísti-cas deixadas pelos fenícios, ainda são encontradas na Síria, em Chipre, em Cartago e em Malta.

O idioma fenício pertencia ao grupo setentrional das línguas semíticas, sendo muito aproximado do hebraico. O primitivo alfabeto fenício é considerado a origem do alfabeto grego, e indiretamente também do latino e de todos os alfabe-tos ocidentais. No tocante à origem da escrita fenícia, alguns consideram-na proveniente dos hieróglifos egípcios; outros se inclinam pela hipótese de que era uma transformação dos cuneiformes neo-assírios ou babilônicos. O alfabeto fenício era composto de 22 letras que apresentavam uma base fonéti-ca. Surgiu o referido alfabeto, pouco antes de 1700 a.C.

A literatura fenícia exerceu grande influência sobre o Velho Testamento, e possuía um cunho predominantemen-te religioso. Sobreviveu um texto da literatura fenícia, atra-vés da obra Poenulus, ao autor latino Plauto. Um grande número de autores utilizava-se dos idiomas fenícios e púni-co. Restam alguns fragmentos, traduzidos por Philon de Byblos, de uma história universal teológica escrita por Sanconîaton (1200 a.C.). Existe também uma tradução gre-

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ga do “Périplo” de Hannon. Sallustio refere-se às obras históricas do rei da Numîdia, Hiemsal. Autores gregos fa-zem menção a historiadores fenícios, como Theodotos, Hypsieratos e Mochos. Julga-se que a descrição geográfica narrada na Odisséia foi colhida junto a informações conti-das num périplo fenício.

No que tange à religião praticada pelos fenícios, a mesma assemelhava-se aos cultos dos habitantes da Síria e do Eufra-tes. Pela concepção fenícia, existiam o princípio masculino e o feminino, o primeiro representado pelo deus-sol, rei dos céus, que tinha o poder fecundante. O segundo princípio, o feminino, representado pela deusa-lua, que concebia do deus-sol e que se confundia também com a terra fecunda. O deus supremo era em Beryto, El, identificado pelos gregos como Kronos e cha-mado pelos fenícios também de Baal. Em Tyro era adorado Baal-Melkarth; Baal-Sidon, em Sidon, etc. As deusas tinham o título geral de Baaltis-Baalît (a dama), sendo Astartéa a princi-pal delas. Os amores da duesa com Thammur-Adonis compu-nham o fundo dos ritos de Byblos, depois espalhados pelos fenícios no seu mundo conhecido. No decorrer de sua história, os fenícios incorporaram deuses e mitos novos, assimilados dos seus vizinhos. Na religião fenícia eram praticados sacrifí-cios humanos. Em honra aos deus Baal-Moloch, acendia-se um imenso braseiro diante de sua estátua de bronze, em cujos braços colocavam-se crianças que eram queimadas vivas!

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A Fenícia era composta por pequenas cidades-estados, formando uma cultura comum, embora sem man-terem elos políticos ou comerciais entre si. Os principais portos fenícios foram Tiro (hoje Sur), que nos seus tempos de apogeu era chamada a Rainha dos Mares; Sidon (hoje Saída); Bérito (hoje Beirute, a capital do Líbano); Tripoli, porto existente no norte do Líbano; Biblos (hoje Gebal); Aradon, ao norte, edificada sobre um rochedo; Ugarit e outros menores.

As cidades da Fenícia eram governadas por seus reis, magistrados e sacerdotes. A autoridade real era comparti-lhada com os juízes ou profetas e com o colégio dos pontí-fices. A hegemonia foi primeiramente exercida pela cidade de Sidon, seguindo-se depois o predomínio de Tiro.

Os fenícios estiveram sob o domínio egípcios do sé-culo XVI ao XII a.C. Travaram amizade com os hebreus nos reinados de David e de Salomão (século X a.C.). Do século IX ao VII estiveram sujeitos à suzerania da Síria; do VII ao VI, à Caldéia. Sofreram dominação do império de Ciro, depois do de Alexandre, dos Lágidas e dos Selêuci-das. Foram anexados ao império romano no século I. A extinção da vitalidade fenícia ocorreu sob a conquista ára-be, no século VII da nossa era.1

1 Enciclopédia e Dicionário Internacional, vol. XV, pp. 8812-8813;

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As Correntes e Contracorrentes Marítimas

(África – Brasil – África)

As embarcações que pretendessem realizar a travessia

do oceano Atlântico, vindas do continente africano em de-manda do Brasil, aproveitavam-se da corrente marítima denominada EQUATORIAL-SUL. Esta passava por Serra Leoa, no Golfo da Guiné e atravessava o Atlântico no sen-tido leste-oeste, sempre próxima e linheira ao Equador, entre 3oN e 10oS, ostentando uma velocidade de 1,5 nós (2,778km).

Na latitude de Fernando de Noronha, a corrente bifur-ca-se, surgindo então os sub-ramos denominados COR-RENTE DAS GUIANAS e CORRENTE DO BRASIL (pa-ra o sul, até a Bahia).

A menor distância entre o Rio Grande do Norte e a África, corresponde a 1.500 milhas (2.778m).

O retorno ao continente africano era realizado através da chamada Contracorrente Equatorial, à qual se seguia a Corrente da Guiné. ONCKEN, Guilherme. História Universal, vol. II, pp. 233-439;

CANTU, Césare. História Universal, 2o vol., Cap. XXIV, Fenícios.

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As Inscrições da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro

À época do reinado de dom João VI, o padre mestre

Custódio Alves Serrão (1799 – 1873), carmelita, natural do Maranhão, dedicado à Zoologia e Botânica, lente de Quí-mica e Mineralogia, diretor do Museu Nacional (em 1828), homem versado em línguas orientais e grega, ofereceu à-quele governo uma memória sobre as inscrições em carac-teres fenícios (segundo o próprio estudioso), existentes em uma das montanhas do litoral do Rio de Janeiro, ao sul da barra.

O Cônego Januário da Cunha Barbosa apresentou um requerimento ao Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, solicitando a formação de uma comissão para apreciar o assunto relacionado com a chamada Pedra da Gávea. A proposta de Cunha Barbosa foi aprovada pelo Instituto, em sua 8a sessão extraordinária, ocorrida na tarde de março de 1839.

A 23 de maio do mesmo ano, os membros do Institu-to, novamente reunidos em sessão apreciaram o relatório da comissão designada, cuja finalidade fôra a de analisar e copiar as inscrições que se acham gravadas no morro da Gávea, no Rio de Janeiro. Compuseram a referida comis-

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são, os sócios Manuel de Araújo Porto Alegre e Cônego Januário da Cunha Barbosa, tendo testemunhado o feito José Rodrigues Monteiro, padre capelão do Imperador.2(1)

Segundo o relato dos integrantes da comissão, no cu-me da Gávea “do lado direito aos que vão pelo serrote da Boa Vista, numa pedra de forma cúbica existem caracteres, ou sulcos que a eles se assemelham, é indubitável; mas a comissão não afirma que eles sejam gravados pela mão do homem, ou pela lima do tempo”.

Justificando a sua natural prudência, os signatários do relatório mencionam alguns fenômenos naturais, semelhan-tes a formas estranhas: “Assim como a natureza esculpiu sobre a rocha de ‘Bastia’ a forma de um leão em repouso; na gruta das Sereias, em “Tivoli” um dragão em ar amea-çador; e na mesma Gávea a forma de um mascarrão trági-co; assim como ela eleva pontes naturais, constrói fortifica-ções e baluartes, que ao primeiro lampejo de vista fazer crer ao viajor monumentos da mão do homem, assim ele podia gravar na rocha viva aqueles caracteres que podem mais ou menos por suas formas aproximarem-se a algumas das letras dos alfabetos das nações antigas e orientais...”

Entrando na descrição dos caracteres vistos naquela pedra da Gávea, afirmam os membros da comissão: “Que a inscrição da Gávea se acha colocada de uma maneira van- 2(1) RELATÓRIO SOBRE A INSCRIÇÃO DA GÁVEA, In Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Tomo I, 1856, pp. 98-103;

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tajosas a estas conjecturas: voltada para o mar, em uma face da rocha cúbica, pouco escabrosa, com caracteres co-lossais de 7 a 8 palmos, ao rumo de L. S. E., pode ser vista a olho nu de todas as pessoas que por ali passarem; e notá-vel é que os habitantes daqueles lugares todos conhecem as letras da pedra. A inscrição assim colocada está exposta à fúria das tempestades e dos ventos do meio-dia, e por con-seqüência deve estar mui safada, tanto mais que o granito da pedra, em que está gravada, é de uma consistência me-nos forte, por conter muito talco e mica, e na sua base exis-tem três concavidades esboroadas que formam o aspecto de um mascarrão”.

No final do relatório, a comissão inclinou-se mais pa-ra a hipótese de os caracteres da Pedra da Gávea serem o-bra da própria natureza: “...e mais parecem sulcos gravados pelo tempo, entre dous veios do granito, pois com iguais aparências se encontram, não só no lado oposto do da ins-crição da mesma Gávea, como em outras pedras destaca-das, e principalmente uma grande, que se encontra à es-querda, na base do morro, quando se sobe para a casa do sr. João Luís da Silva”.

Em 1930, o coronel Bernardo de Azevedo da Silva Ramos lançou o monumental livro “Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica”, no qual também estudou os petróglifos do Rio de Janeiro.

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Silva Ramos assim interpretou a inscrição do Morro da Gávea: LAABHTEJ RAB RIZDAB NAISINEOF RUZT, que lido da direita para a esquerda, como é próprio daquela escrita fenícia, significaria: TYRO PHENICIA, BADEZIR PROMOGÊNITO DE JETHBAAL.3(2)

Segundo aquele autor, “dada a hipótese de não a ter-mos interpretado fielmente, resta-nos o consolo de que bem empregamos o nosso tempo, determinando com nossas modestas investigações o estímulo aos competentes, que nos perdoarão esse alvitre”.

Sabe-se que o reinado de Jethbaal ocorreu no período de 887 – 856, antes da era cristã. Nos livros que tratam do povo fenício, Jethbaal aparece também com os nomes de Ethbaal e Itobaal. O seu primogênito Badezir reinou em Tiro, no período de 855 a 850 a.C.

Na lista dos reis de Tiro, Badezir também aparece sob os nomes de Baalazar e Badezor.

A cronologia apontada pelas pretensas inscrições da Pedra da Gávea, talvez coincida com a época em que os navios fenícios tenham aportado às praias do Rio Grande do Norte...

3(2) SILVA RAMOS, Bernardo de Azevedo da. Inscrições e Tradições da América Prehistórica, 1o vol., p. 436-v.

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RESUMO DA INSCRIÇÃO DO MORRO DA GÁVEA

Reconstituição e interpretação das inscrições da Pedra da

Gávea (Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica por Bernardo Ramos, vol.I, p.436 v.).

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INSCRIPÇÃO DA GAVIA4

4 Gravura reproduzida da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Tomo I, 1856, retratando a Inscrição da Gávea.

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As Inscrições Fenícias do Rio Paraíba do Sul

O Marquês de Sapucahy, Presidente do Instituto His-

tórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, sediado no Rio de Janeiro, recebeu uma carta escrita no dia 11 de setembro de 1871, assinada por Joaquim Alves da Costa. Este comu-nicava a descoberta de uma pedra contendo inscrições des-conhecidas, encontrada por um seu trabalhador escravo, na fazenda Pouso Alto, no vale do rio Paraíba do Sul. A pedra foi inadvertidamente quebrada em quatro pelo escravo que a transportava. Um filho do fazendeiro, que tinha uma certa habilidade para a arte do desenho, copiou as inscrições, trabalho que foi enviado juntamente com a carta escrita por Joaquim Alves da Costa. O signatário dirigia um apelo ao Marquês de Sapucahy, “para ver se Sua Excelência ou ou-tro possa averiguar o que estas letras significam”.

O assunto foi confiado ao sócio daquele Instituto, La-dislau de Souza Mello e Netto, que tentou sem sucesso lo-calizar o fazendeiro Joaquim Alves da Costa e a proprieda-de Pouso Alto.

Ladislau Netto havia regressado dos seus estudos em Paris, onde fora aluno de Ernest Renan, autoridade em ar-queologia púnica. O Imperador Pedro II dedicava sua pro-

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teção à pessoa de Ladislau Netto (1838 – 1894), conceden-do-lhe uma bolsa de estudos na França, de onde regressou com o título de Doutor em Ciências Naturais pela Sorbon-ne. Ladislau também ocupou o cargo de Diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Em 1o de abril de 1873, o jornal “A Reforma” publi-cou uma carta de Ladislau Netto, pronunciando-se pela ori-gem fenícia da pedra encontrada em Pouso Alto, no Rio Paraíba do Sul. O assunto gerou grande polêmica à época, culminada com a retratação de Ladislau Netto, que publi-cou uma carta ao seu antigo mestre Ernest Renan, em 1885, confessando haver sido logrado por uma certa pessoa, estu-diosa de línguas orientais...

CYRUS HERZL GORDON, americano, nascido na Filadélfia em 1908, eminente orientalista, professor, espe-cialista em estudos ugaríticos, Diretor do Departamento de Estudos Mediterrâneos da Universidade de Brandeis, em Waltham, Massachussetts, teve a sua atenção voltada para o tema da pedra do Rio Paraíba do Sul, chegando à conclu-são de que a inscrição era autêntica! O texto da pedra, ini-cialmente encarado por Gordon como uma falsificação, foi pelo mesmo considerado genuíno, em 1968, baseado no fato de a pedra empregar uma terminologia fenícia desco-nhecida dos arqueólogos da época da sua descoberta. Gor-don logrou traduzir a 8a linha do texto, graças à descoberta

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de novas inscrições, contendo formas gramaticais, léxicas e estilísticas desconhecidas em 1872.

Todavia, até hoje, nunca se pôde encontrar a pedra da fazenda do Pouso Alto...

Segue-se a versão para o português, baseada na inter-pretação do Dr. Gordon dada ao texto da pedra do rio Para-íba do Sul.

“SOMOS CANANEUS SIDÔNIOS, DA CIDADE

DO REI MERCADER. SOSSOBRAMOS EM ESTA I-LHA LONGÍNQUA, PAÍS MONTANHOSO. SACRIFI-CAMOS UM JOVEM AOS DEUSES E DEUSAS CE-LESTIAIS NO DÉCIMO-NONO ANO DO REINADO DO PODEROSO REI HIRAM, E ZARPAMOS DE EZI-ONGEBER ADENTRANDO-NOS NO MAR VERME-LHO. VIAJAMOS COM DEZ NAVIOS, E NAVEGA-MOS JUNTOS POR DOIS ANOS AO REDOR DA Á-FRICA. ENTÃO FOMOS SEPARADOS PELA MÃO DE BAAL, E JÁ NÃO FALAMOS COM NOSSOS COMPA-NHEIROS. ASSIM TEMOS VINDOS AQUI, DOZE VA-RÕES E TRÊS MULHERES, À “ILHA DE FERRO”. SOU EU, O ALMIRANTE, UM HOMEM QUE FUGIRI-A? NÃO! QUE OS DEUSES E DEUSAS CELESTIAIS NOS FAVOREÇAM!”

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Segundo Cyrus Gordon, a viagem teve início no ano de 534 A.C., porque o Rei de Sidon acima referido teria sido Hiran III, que reinou de 553 a 533. A chegada à “Ilha de Ferro” ocorreu em 532. Ainda, segundo Gordon, a “Ilha de Ferro” era o Brasil. No idioma árabe, temos a palavra BARZEL; em Ugaritic, BR-ZL; PARZILLU em Akkadian, todas com o significado de “Ilha de Ferro”!...5(1)

Texto da inscrição encontrada na PEDRA DO POUSO ALTO, VÁR-ZEA DO RIO PARAÍBA DO SUL, definitivamente traduzida por Cyrus H. Gordon em 1968. Transcrito do trabalho “Cabral e os Fení-cios”, de Nicolau Duarte Silva.(2) 5 (1) GORDON, Cyrus H. Before Columbus. Links between the Old World and Ancient America, pp.120-125; (2) DUARTE SILVA, Nicolau. Cabral e os Fenícios.

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Padre Francisco Corrêa Teles de Menezes, Um Precursor da Arqueologia Brasileira

O padre Francisco Corrêa Teles de Menezes nasceu na

cidade de Olinda – PE, por volta de 1745. Filho legtimo do licenciado Manuel Corrêa Teles e D. Rosa de Vasconcelos Saraiva, transferiu-se na infância para os sertões do Apodi, acompanhando os seus pais.

Ordenou-se sacerdote depois de ter cursado o Seminário de Olinda, recebendo as ordens sacras das mãos do bispo Di-ocesano, Dom Francisco Xavier Aranha. Ordenado aos 27 anos de idade, Francisco regressou então para o Apodi, onde cantou a sua primeira missa. Percorreu ele os sertões do Cea-rá, Rio Grande do Norte e Paraíba. Conduzindo, consigo, um altar portátil e todos os paramentos levou ele a sua assistência espiritual àqueles ermos rincões.

De 1799 a 1806, o padre Francisco Corrêa Teles de Me-nezes percorreu os sertões nordestinos, movido pela idéia de encontrar riquezas soterradas pelos jesuítas e flamengos. O padre Menezes reuniu suas observações em um manuscrito intitulado “Lamentação Brasílica”, posteriormente oferecido ao Príncipe-Regente D. João. Na terceira parte do trabalho, o autor descreve inscrições lapidares, de significado desconhe-cido, encontradas em 230 locais do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Tais inscrições foram aber-

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tas a cinzel em grandes pedras de face lisa e aprumada, e também lavradas com tinta encarnada da cochonila, encon-trando-se algumas pinturas feitas com tinta preta.

Acha-se arquivado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, desde o ano de 1858, o "Mapa curioso de novo descoberto. Parte terceira da Lamentação Brasílica dividido em seis capítulos", onde figuram 34 desenhos de inscrições de autoria do Pe. Menezes.

O autor concluiu o seu trabalho na Freguesia de Pau dos Ferros, Ribeira do Apodi, Capitania do Rio Grande do Norte (3).

O padre Teles de Menezes faleceu com quase um século de existência, na então Vila da Princesa (atual Açu –RN, ten-do sido sepultado na matriz de São João Batista daquela loca-lidade (4).

Na descrição do Pe. Teles de Menezes aparecem algu-mas curiosidades que podem indicar a presença de povos na-vegadores, talvez de passagem pelo território nordestino.

Assim, ao tratar dos letreiros lapidares encontrados no Ceará, o padre Teles de Menezes menciona, dentre outros, os seguintes:

Avarjado, fazenda na Serra Grande (Ibiapaba). Saindo

desta fazenda para a Varge-Grande, na distância de uma lé-gua, ao lado direito, fora da estrada, na distância de mais de um quarto de légua pelo tabuleiro a dentro, contam os vaquei-ros dessas fazendas haver muitos letreiros nas pedras, e que

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em duas emparelhadas tem formas de navios ou barcos, e em uma, que está sobre outra, se divulga uma figura humana, tudo esculpido de tinta encarnada, e que algumas estão tão vivas como se fossem esculpidas, há poucos dias, além, de outros caracteres que eles não sabem expressar (5)".

Camará, serra. Na estrada que vem da vila do Icó para

esta serra, já no plano dela, perto da estrada, dizem haver um pico, que da vila se enxerga, a que alguns chamam Frade, e em cima do qual dizem alguns se divulga a forma de uma imagem de Santo Antônio. Ouvi uma índia, que no lugar São Bento vira imagens esculpidas em uma pedra, que ela admi-rou. Colhi de outro habitante, que nesta pedra, ou em outra junto a ela, está um letreiro, que muitos têm visto e não o en-tendem (6)".

Cangati, na ribeira do Curu. Por este ribeiro acima, na

fazenda do Cangati, contam os habitantes, que há alguns le-treiros nas pedras. E desta fazenda para baixo, buscando o Siupé, à beira da estrada, dizem estar um leão esculpido em uma pedra, perto da qual, ao pé de outra pedra, se achou um fosso, donde se julga sacou tesouro (7)".

Casa-da-Cidade, no Aracatiaçu. Diz Mateus Franco,

que, antes de chegar a Serra Caminhadeira, há uma loca de pedra com letreiros encarnados, a que chamam Casa-da-Cidade pelas muitas novidades que ali acharam. E que em

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uma pedra comprida, para cima, bastante alta, entre os letrei-ros está esculpida a forma de um navio (8)".

Jaburu e Mulungu, fazendas de Cratiús. Perto destas fa-

zendas, refere José Barbosa, que há uma serrota de quase 2 léguas, onde tem muitos letreiros, e formas de navios impres-sas nas pedras (9)”.

No que se refere a curiosidades, encontradas no RIO

GRANDE DO NORTE, capazes de indicar a possível presen-ça de navegadores visitantes, o Pe. Teles de Menezes faz menção a algumas delas:

Lanchinhas. Este lugar dista da capela do Campo Gran-

de 2 ou 3 léguas. Refere Manuel Calheiros morador nas var-ges do Apodi com outros, que aqui existem sobre um lajedo 2 lapas grandes, quadradas, com forma de mesas, cousa feita por mãos humanas. E que as pedras deste lugar estão todas assinaladas de muitos caracteres desconhecidos. Não sei, se lhe chamam Lanchinhas por causa das ditas lapas ou por con-ter impressas nas pedras caracteres de lanchas ou navios (10)”.

Passagem Funda. Me disse uma índia velha da nação

Paiacu, que para a parte do nascente, obra de uma légua, den-tro dos bosques, andando ela à caça com outros, há muitos anos, saíram a um lajedo de pedras ao pé de uma pederneira

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ou serrote, admirou ver umas figuras humanas feitas de pedra, sentadas, emparelhadas, em dois cantos de uma salinha de uma furna natural; uma com a cabeça inclinada para uma banda, com a face sobre a mão, e a outra mão na ilharga. E a outra com uma mão na cabeça e a outra sobre o peito, à ma-neira da Madalena. E ao redor delas muitas pinturas pelo pla-no e lado das pedras. E que do teto da salinha manava uma fontezinha de água salgada, que indo eles sequiosos, a não puderam beber (11)”.

Na então Capitania do PIAUÍ, também aparecem indí-

cios de povos navegadores talvez vindos do Velho Mundo: Inhuma, fazenda. Ouvi um habitante dizer, que neste lu-

gar estão muitos letreiros nas pedras, de tinta encarnada com figuras humanas e navios (12)".

Podemos considerar o Pe. Francisco Corrêa Teles de

Menezes, um precursor das pesquisas arqueológicas no Bra-sil. É bem possível que a maioria dos citados petróglifos por ele encontrados ou mencionados, já tenha desaparecido no decorrer dos últimos duzentos anos. Tenta reencontrar aque-las curiosidades indicadas pelo Padre Menezes, seria uma tarefa difícil, mas de interesse para a Arqueologia.

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(1) PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto. Dicionário Biográ-fico de Pernambucanos Célebres, pp.311-315; (2) SACRAMENTO BLAKE, Augusto Vitorino Alves. Dicionário Bibliográfico Brasileiro, 2o vol. , pp. 43O-432; (3) INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO 150 ANOS. p.52; (4) PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto. obra citada, pp.314-315; (5) ALENCAR ARARIPE, Tristão de. Cidades Petrificadas e Inscrições Rupestres no Brasil, pp.240-241; (6) _________. Obra citada, p.242; (7) _________. Obra citada, p.242; (8) _________. Obra citada, p.243; (9) _________. Obra citada, p.247; (10) _________. Obra citada, p.262; (11) _________. Obra citada, p.264; (12) _________. Obra citada, p.271;

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Os Fenícios do Professor Schwennhagen

Em sua edição de 02 de julho de 1926, o jornal O Se-

ridoense, editado em Caicó/RN, transcrevia um artigo pu-blicado em O LIBERTADOR, de Manaus AM, tratando da possível presença fenícia no Brasil, inclusive no Nordeste:

“Em 950 a.C. entraram os Fenícios numa

aliança com os povos tupis, que moravam nas Antilhas e no país Caraíbia, hoje afundado no Mar Caraíbico. Durante 50 anos emigraram os Tupis, que eram um ramo dos povos cários e pertenciam à raça branca atlanto-européia em navios fenícios, para o Norte e Nordeste do Bra-sil.

Em 850 a.C. proibiu o Senado de Cartago a emigração para a ‘grande ilha do Oceano’, re-ceiando a despovoação completa do território cartaginês. Esse fato prova que naquele tempo o estado econômico do Brasil era tão próspero que esse país atraiu muitos imigrantes.

Com o auxílio dos Tupis e aproveitando os indígenas tapuios como trabalhadores, os Fení-cios e os engenheiros egípcios por ele contrata-dos, iniciaram trabalhos extraordinários, no inte-

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rior do Brasil como indicam as inscrições, feitas em letras fenícias e egípcias, ficou estabelecida a estação marítima central perto do Cabo S. Ro-que, na ponta do Cabo S. Roque, na ponta do Rio Grande do Norte.

Ali existe um lago, hoje chamado Boquei-rão, que é ligado com o mar por um canal, anti-gamente bem navegável.

Lá foi fundada a cidade Tyros (nova), no-me que no correr do tempo, mudou para Touros.

De lá saíam duas estradas centrais para o interior; uma no rumo do Sudoeste, que ficou sucessivamente prolongada até o Paraguai, para encontrar ali o ponto final da navegação dos Fe-nícios, no rio da Prata, onde agora o teosofista coronel Fawcet está procurando as ruínas duma grande cidade. Essa estrada, desde o Rio Grande do Norte até a fronteira de Mato Grosso, é indi-cada por mais de cem inscrições, dando as dis-tâncias em medida egípcias, como constatou o engenheiro francês Apolinário Frot, que trabalha há 20 anos no interior da Bahia.

Essa estrada central tinha muitos ramais para as diversas zonas de mineração e era ligada com os portos de mar dos rios Paraíba e São Francisco. A grande inscrição da pedra lavrada,

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na Paraíba, representa o roteiro dessa estrada, com indicações minuciosas a respeito do rumo, das distâncias e da posição das minas.

A outra grande estrada, saindo do Cabo São Roque no rumo do poente, passa no Ceará, Paiuí, Maranhão e Pará e andava até o Acre, respectivamente até as minas de Bolívia. Gran-des trechos dessa estrada existem e foram apro-veitadas pelos sertanejos dos respectivos Esta-dos. As grandes inscrições no Ceará, do Rio Ja-guaribe, de Quixadá e Uruburetama são itinerá-rios dessa estrada, da qual um ramal ia às minas de cobre de Viçosa. A estrada principal atraves-sava a Serra da Ibiapaba, na altura de Ipu, onde os engenheiros construíram uma estrada de ser-pentinas, para subir o alto barranco da serra. Os restos dessa obra foram encontrados, quando a nova estrada de rodagem ali ficou construída, por ordem do Dr. Epitácio Pessoa. De lá passava a estrada pelo Piauí e rio Parnaíba, na altura de União. De lá ia a estrada através do Maranhão até o alto do Mearim e de lá pelas cabeceiras do Pindaré, Gurupi e Capim até a confluência do Tocantins e Araguaia, continuando dali até o Acre. Os delegados das 14 cidades dos Tupi-nambás do Pará, que chegaram por terra a São

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Luís do Maranhão, para convidar o padre Antô-nio Vieira, explicaram bem o rumo dessa antiga estrada, segundo relata o padre nas suas cartas.

Um ramal dentro do território maranhense, saiu do Mearim para os rios Turi-Açu, Maracas-sumé e Gurupi, para encontrar a zona aurífera entre Maranhão e Pará. Os chamados Montes Áureos e as minas de ouro, hoje monopolizadas pelo Sr. Guilherme Linder, foram conhecidas pelos fenícios. Essa estrada existe ainda hoje e foi usada, no tempo do império como estradas militares, organizadas por ordem de Dom Pedro II, para policiar aquela antiga estrada de minas, indicada pelas inscrições fenícias.

Os tupis escolheram para suas residências as terras férteis da ilha do Marajó, o litoral do Maranhão, com o centro na ilha Tupaón (São Luís), a Serra da Ibiapaba (o paraíso brasileiro), as serras do Rio Grande e Paraíba e as terras do baixo rio São Francisco. Além disso, eles funda-ram colônias, respectivamente tabas fortificadas ao longo das estradas, para segurar as comuni-cações e os comboios de mercadorias. Os fení-cios tinham sempre à sua disposição até 10.000 tupis-guaranis, isto é, guerreiros da raça tupi. Assim se explica a larga expansão dos tupis e a

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implantação da língua tupi até o Paraguai e a Bolívia.

Ludovico Schwennhagen.”6(1)

Em 1926, encontrava-se em Natal o professor, etnó-

logo e filólogo austríaco Ludovico Schwennhagen, que dois anos depois publicaria, através da Imprensa Oficial do Piauí, o seu livro “Antiga História do Brasil”, em que trata da possível presença fenícia no País. O natalense, ante a dificuldade de pronunciar o sobrenome arrevezado do aus-tríaco, preferiu transformá-lo em “Chovenágua”... O pro-fessor, como constataremos a seguir, utilizava-se de um processo sui generis para chegar às suas conclusões “ar-queológicas” e “históricas”. Assim o demonstra um artigo, por ele publicado:

Schwenhagen inicia o referido artigo, descrevendo a viagem por ele realizada a Touros, “a linda cidade das prai-as mais ventanosas do Norte”...

Chegado à povoação (hoje cidade) de Pureza, o pro-fessor deparou-se com uma fonte natural de água cristalina, “que dá nascimento ao rio Maxaranguape”. Imediatamente, Schwennagen valeu-se de seus conhecimentos do idioma tupi: “Esse nome é interessante. Anguape significa na lín- 6(1) SCHWENNAGEN, Ludovico. O Primeiro Descobrimento do Brasil em 1.100 a.C.

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gua tupi riacho das almas, e maxará é felicidade. O signifi-cado do nome inteiro é água da fonte das boas almas, que mandam ao povo a felicidade da vida”...

O professor Ludovico examinou então, com muita cu-riosidade, a formação das pedras que cercam aquela fonte de Pureza, concluindo que:

“Repara-se sem dificuldade que as paredes

interiores dessas pedras são cortadas pela mão humana. A fonte é uma pequena represa de á-gua, dentro do rochedo, para formar um poço fundo e guardar água fria e limpa. Esse sistema de prender fontes naturais é muito antigo e usa-do em todos os países com verão quente e seco. Nas minhas viagens pelo sertão do Nordeste já encontrei muitas fontes semelhantes e cascatas altas, chamadas bicas, feitas pelos antigos brasi-leiros.” O poço de Pureza não é, conforme mi-nha opinião, obra da natureza; ele foi construído para o abastecimento da primeira estação da es-trada, que saía de Touros, no rumo do sudoeste, e por isso a fonte de Pureza pertence ao ambien-te histórico de Touros mesmo”.

Em seguida, o professor emite a sua “apressada” opi-

nião sobre a cidade de Touros, no litoral norte-rio-

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grandense:

“O passado da cidade de Touros, que era na chegada dos portugueses uma aldeia de pes-cadores, fica marcado por uma pedra alta da forma duma coluna, que estava encima da pe-dreira, ao lado do sul do porto. Essa coluna aba-lou em 1910 e caiu para abaixo ao mar, onde se repara ainda uma parte, enquanto o resto ficou coberto pela areia”.

A seguir, o professor descreve o ambiente natural do

porto de Touros:

“A duna alta, que protege a cidade contra a invasão do mar, tem a extensão de 400 metros e é flanqueada por duas grandes pedreiras, que se-guram as paredes da duna. O porto está ao lado do norte da duna e fica formado por uma baía redonda, com um diâmetro de 800 metros. No fim dessa baía está o farol, chamado de Olho D’água, o qual marca a viração da costa, do ru-mo de nordeste para o rumo do Pará; i.é. de no-roeste”.

Prossegue o prof. Ludovico, expondo a sua teoria da

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presença fenícia no Brasil: “Os antigos navegadores fenícios conheci-

am bem essa posição importante de Touros, e por esse motivo eles resolveram fundar ali uma grande estação marítima. A baía é bastante fun-da e o acesso não fica impedido por pedras ou recifes. A linha mais curta de navegação entre o Brasil e o Velho Mundo é a linha Touros – Da-kar (na costa da África), e essa linha foi aquela que freqüentaram primeiramente os navios dos fenícios. Mais tarde acharam eles mais vantajosa a travessia desde as Ilhas Canárias para Touros. Na última época da navegação fenícia, realizou-se a travessia também entre as Canárias e Natal, resp. a foz do Rio Grande do Norte”.

Iniciando a série de “provas” do que afirmava, Sch-

wennhagen aponta primeiramente que:

“Aquela pedra alta, que estava encima da pedreira do porto de Touros e abalou em 1910, era uma coluna tosca de altura de 2,5 metros. A altura da pedreira é de 6 a 7 metros acima do ní-vel médio do mar, de modo que a ponta da colu-na esteve 9 metros acima do mar. Na antigüida-

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de foi a coluna talvez mais alta. Ela quebrou, en-fraquecida pelo tempo de dois milênios, e rolou no mar, embaixo da pedreira”.

Baseando-se em informações prestadas por velhos

moradores de Touros, o professor Schwennhagen continua a sua explanação:

“a coluna tinha, no lado dirigido contra a

cidade, sinais e letras duma antiga escritura, se-melhantes aos sinais dos letreiros, que se encon-tram em tantos outros lugares do Nordeste do Brasil”.

A explicação encontrada pelo professor para aquela

coluna outrora existente no porto de Touros foi a de que:

“A coluna era um farol erigido pelos fení-cios, como estes construíam altas balisas e faróis em todas as costas, onde eles fundaram colônias. No delta do rio Parnaíba estava também um tal farol, chamado pelos modernos “Pedra de Sal”, hoje transformado num farol da Marinha Brasi-leira. Na antigüidade foram colocados encima dos rochedos, pedras e colunas que serviram de faróis, pequenos tachos com pedaços de lenha,

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breu e piche, que queimavam durante a noite”. Data Venia, somos inclinados a supor que a coluna

descrita pelo professor, seria tão somente o marco que de-limitava, pelo lado setentrional, uma data e sesmaria con-cedida a João Fernandes Vieira, no dia 24 de junho de 1666. Tais terras, doadas pelo capitão-mór do Rio Grande Valentim Tavares Cabral, mediam dez léguas em quadra, desde o rio Ceará-Mirim até o porto do Toiro, local onde foi chantado aquele marco.

Como segunda “prova” de sua tese, Schwennhagen

aponta o próprio topônimo TOUROS:

“A grande metrópole da Fenícia tinha o nome Tur, como ele é escrito na Bíblia dos He-braicos. Em algumas inscrições se encontra a forma Turo e Turos; os gregos escreveram T-yros, os romanos escreveram Tyrus e os portu-gueses Tyro. Na língua tupi, que era uma irmã da língua fenícia, encontramos Tur e Tyr, que significam um lugar alto ou fortificado. Quando os fenícios resolveram fundar no lugar de Tou-ros uma estação marítima, com a sede da admi-nistração de seu domínio colonial no Brasil, de-ram eles a esta importante estação o mesmo no-

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me que tinha a metrópole da fenícia. É muito provável que eles usaram a forma Turos, qual nome ficou até a chegada dos portugueses, que o modificaram em Touros, por causa da maior simplicidade...”

Finalmente, o professor Ludovico expõe uma terceira

“prova” de sua afirmações:

“A terceira prova é o canal de água doce, que liga o porto do mar com o ‘lago geral’, que se estende atrás da linha das dunas e de areia in-fértil. Esse lago foi a condição indispensável pa-ra a fundação da estação marítima. As frotas, chegando do alto mar, necessitavam dum lugar seguro, e de estaleiros para repousarem e rece-berem os consertos necessários. O lago não é muito fundo, mas sua água chega bem para tra-zer veleiros de grande calado. Em redor do lago a terra é muito fértil e dá lugar para uma popula-ção agrícola e laboriosa. O canal é hoje estreito e não mais navegável; mas sua linha reta mostra a obra de homem, e para os fenícios, cujos navi-os chegaram cheios de boas mercadorias, não foi difícil encontrar os trabalhadores indígenas, para cavarem um canal de 10 quilômetros, pela terra

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arenosa. Então, a situação na antigüidade era a seguinte: a cidade de Turos dominava o porto do mar, tinha o farol e um destacamento militar pa-ra proteger o porto. Atrás estava o tago, i.é, o la-go com o porto terrestre, com os arsenais e esta-leiros, e com uma grande aldeia, cujos habitan-tes trataram de agricultura e criação. Os portu-gueses encontraram ainda a denominação tago, usada pelos indígenas, e traduziram essa palavra fenícia-tupi em lago geral”.

Em seguida Schwennhagen menciona a pessoa do en-

genheiro francês, Dr. Apollinario Frot,

“que viveu durante 25 anos no interior da Bahia e colecionou ali cerca de 100 inscrições e letreiros, me mostrou a cópia duma grande ins-crição, a qual ele decifrou no seguinte termo:

– Chegamos pelo alto mar, com viagem

longa, para este país. Passamos pelo canal ao grande lago, onde ficaram os navios. Dali anda-mos por terra na estrada, 700 medidas (a medida egípcia corresponde quase com o moderno qui-lômetro). Aqui começamos o serviço de explorar as minas de prata, etc.”

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“Comparando esse texto com as inscrições de Pedra Lavrada, em Jardim do Seridó, acho eu a de-cifração dada pelo Dr. Frot muito razoável. Mas o Sr. Frot declara, que o grande lago seja o lago de Extremoz e o canal de entrada seja a Redinha, en-quanto minha opinião visava o lago geral de Tou-ros. Finalmente, o exame pessoal das duas locali-dades me deu uma solução satisfatória”.

Prossegue o professor Ludovico, explicando a chega-

da dos fenícios à costa do Brasil:

A primeira frota de Fenícios chegou, con-forme os documentos de Diodoro da Sicília, nas costas do Brasil cerca de 1.100 anos antes de Cristo. Em 1000 A.C., os Fenícios já conheciam todos os grandes rios do Brasil e propuseram aos reis da Judéia, David e Salomão, uma aliança para explorarem as minas auríferas do Alto A-mazonas. As frotas aliadas dos Fenícios e He-braicos navegaram nesse rio até 960, i.é., até a morte de Salomão. Depois procuraram os Fení-cios a aliança com os povos tupis da Caraíbia, e estes imigraram, em navios dos Fenícios no Norte do Brasil, entre Maranhão e Ceará, na é-poca de 900 a 850 A.C. Depois da domiciliação

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dos Tupis, estes forneceram aos Fenícios, con-forme o contrato de aliança, os guerreiros mer-cenários (tupís-guaranis) para a penetração ao interior do Brasil. Os Fenícios, uma nação pe-quena, não pôde mandar forças militares nacio-nais para todas as suas colônias; por isto eles procuraram em toda a parte a amizade com po-vos que puderam fornecer-lhes soldados merce-nários. Tendo assim o auxílio de milhares de Tupis, que foram guerreiros briosos, armados com boas armas de bronze, fornecidas pelos Fe-nícios, estes podiam iniciar o grande empreen-dimento da penetração ao interior, da coloniza-ção e da exploração das minas. Para esse fim, eles necessitaram duma certa administração, cu-ja sede devia ser unida com a estação marítima central, e para a qual ficou escolhido o lugar de Touros, devido à sua posição geográfica. Assim, podemos colocar a fundação de ‘Turos’, como estação marítima e sede da administração colo-nial, na época de 800 anos A. C. Nessa posição Ficou ‘Turos’ durante diversos séculos”.

Entra então, o professor Schwennhagen, no assunto

da construção de estradas, que cortavam o território sob domínio fenício:

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“Para o interior foram organizadas de lá, duas longas estradas de penetração, uma para o poente, no rumo do Ceará; a outra no rumo do sudoeste. Desde o ano 700 A. C. chegaram ao Brasil os navios dos Fenícios, e contratados por estes, engenheiros, mineiros, mestres de obras e trabalhadores egípcios, e com esses elementos inauguraram os Fenícios a época das grandes obras de mineração, também da construção de açudes e cascatas, da cachoeira de Paulo Afonso (sic), da canalização do vale do Baixo S. Fran-cisco, e muitas outras. A essa época pertencem as inscrições mineiras do Seridó e também aque-la da Bahia, que decifrou o sr. Apollinario Frot”.

Em seguida, o professor austríaco relembra a presença

do mestre de campo Luís Barbalho Bezerra no porto do Touro, em 1638 (na realidade, em 1640), ali desembarcado com 800 soldados (foram 1.430), pretendendo atingir a Ba-hia por terra:

“As estradas, que saíram de Touros, foram

ainda conhecidas e freqüentadas pelos indígenas no tempo da chegada dos Europeus. Os indíge-nas de Touros prestaram todo o auxílio aos por-tugueses e conduziram-nos com bagagem e todo

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seu pessoal na antiga estrada, até o curso médio do rio S. Francisco, onde o destemido capitão português ficou um grande obstáculo contra a expansão dos Holandeses. Mas quando estes ou-viram que Luís Barbalho tinha desembarcado em Touros, eles ocuparam logo esse lugar e co-locaram 3 peças de artilharia, que estão ali ain-da”.

Na realidade, os canhões existentes em Touros foram

ali colocados em 1818, conforme informa o mestre Luís da Câmara Cascudo (4).

Insurge-se o professor Luduvico contra a dedução do seu colega Frot, de que a lagoa de Estremoz , e não o lago geral de Touros, teria servido de abrigo para a frota fenícia:

“Mas, como pode provar o Sr. Frot, que a

antiga estação marítima foi Estremoz? – Eu acho que Estremoz foi a segunda estação, construída depois do ano de 600 A. C. O lago ali é muito maior, mais fundo e mais ameno. O canal, hoje chamado Redinha, tem o comprimento de 12 quilômetros só, e sem dificuldade se observa, que o canal era antigamente mais largo e mais fundo. Para um engenheiro egípcio que conhecia da sua terra centenas de canais artificiais, com

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sua construção e conservação, foi a obra facíli-ma, ligar o lago de Estremoz com o mar, por um canal navegável. A região desse lago possuía naquele tempo muita madeira boa para os esta-leiros e as construções navais”.

Continua o professor austríaco, derramando a sua e-

rudição: “Sabemos dos livros de historiadores gre-

gos que entre Tyro, a metrópole fenícia, e Car-tago, a poderosa colônia-filha, existiu durante séculos uma forte animosidade e concorrência. Depois, cerca de 600 anos a.C. foi lavrado um acordo que estipulou definitivamente quais co-lônias pertencessem a Tyro e quais ficassem no poder dos Cartagineses. É muito provável que o acordo tratou também do Brasil e que os Fení-cios cederam aqui certos direitos comerciais aos Cartagineses. Por isso foram organizadas duas estações marítimas do mesmo tipo e sistema. Assim, a foz do Rio Grande do Norte já teve, há 2.000 anos um grande movimento marítimo e comercial”.

Schwennhagen também explica a existência de um

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subterrâneo, em Estremoz, que ligava a antiga igreja à la-goa:

“Estremoz possui um longo subterrâneo,

que foi talvez um armazém de mercadorias e depósito de armas dos antigos navegadores. Os jesuítas também tinham sempre uma predileção para corredores subterrâneos, e onde eles encon-traram no Brasil subterrâneos antigos, logo os aproveitaram para os seus fins especiais”.

Segundo o escritor Júlio Gomes de Senna, o subterrâ-

neo de Estremoz provinha de furos autônomos feitos no argilito fronteiro à lagoa. Na boca do subterrâneo encontra-va-se uma arcada de alvenaria de tijolo (5).

O historiador Nestor Lima informa que uma criança,

residente em Estremoz, sonhou no começo do século com um tesouro deixado pelos jesuítas, representado por onze figuras de apóstolos em ouro maciço. O tesouro ficava es-condido no subterrâneo, entre a igreja e a residência dos padres. O subterrâneo era completamente desconhecido dos moradores da localidade, e sua entrada ficava em ponto bem assinalado. Conclui o dr. Nestor Lima:

“Desperta, contou o sonho e foi com seus

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pais verificar os sinais percebidos em sonho. De fato, os encontraram. Começaram então, a cavar e a pesquisar a galeria; aí foi encontrada uma vasta abóbada de cerca de um metro e meio de altura atulhada de terra de diferentes matizes. Há no Instituto Histórico uma garrafa cheia de arei-as coloridas, que foram colhidas no ‘Buraco de Estremoz’, como lhe chamava ironicamente o vulgo, a qual foi ofertada pelo tenente Aristóte-les Costa, quando ali exercia as funções de dele-gado de polícia, em 1913”.

“Fizeram-se escavações em várias épocas, ora animados os exploradores, ora em completo desânimo. O fato é que se têm descoberto ramais da estranha galeria e assim novos indícios do te-souro; mas embalde o têm farejado os explora-dores. A igreja é que tem sido vítima da ganân-cia dos pretendentes (6)”.

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__________________ (1) SCHWENNHAGEN, Ludovico. O primeiro descobrimento do Brasil

em 1100 a.C. (2) _________. Touros e Estremoz, as antigas estações marítimas do Ex-

tremo Nordeste do Brasil (texto cotejado cem o manuscrito original ar-quivado no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Caixa nº 85).

(3) LIVRO 1º DO REGISTRO DE SESMARIAS DA CAPITANIA DO RIO GRANDE (1659-1670), fls.22 e verso.

(4) CÂMARA CASCUDO, Luís da. Fortificações coloniais no Rio Grande do Norte.

(5) GOMES, DE SENNA, Júlio. Ceará-Mirim, exemplo nacional, I, p.440. (6) LIMA, Nestor. Ceará-Mirim, o município. pp.168-169.

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As Estradas e Estações Fenícias, Segundo o Professor Schwennhagen

O professor Schwennhagen publicou na imprensa na-

talense, um artigo em que descrevia as antigas estradas construídas pelos fenícios, no Rio Grande do Norte e Para-íba(1). Segundo aquele professor, depois de construídas as estações marítimas na costa norte-rio-grandense, os fení-cios partiram para a abertura de estradas até o interior do país, que lhes permitissem o acesso às minas localizadas no sertão.

Em seu artigo, Schwennhagen faz menção ao traçado de uma grande estrada, que saía do Rio Grande do Norte chegando até Mato Grosso, com mais de 2.500 quilômetros de extensão! Uma outra estrada saía do mesmo ponto (Tou-ros) e tomava o rumo do poente, dela ainda existindo, se-gundo Schwennhagen, vestígios por ele encontrados no Ceará, Piauí e Maranhão.

Informa o professor “Chovenágua”, que a chamada Estrada do Poente saía do Lago Geral, em Touros, hoje, a Lagoa do Boqueirão,

“indo primeiro perto da costa até o povoa-

do de Marcos, com 36 quilômetros de distância.

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Ali existe na praia uma pedra, em forma duma coluna, com altura de 1 ½ metro e espessura de 80 centímetros. Enxergam-se nela diversos si-nais, cravados pelo formão, entre eles uma cruz, como se encontram tais cruzes em muitos letrei-ros. Os moradores contam que a coluna era mais alta, mas alguém quebrou com uma marreta a parte inferior da coluna, opinando que se achava no interior coisas de valor, mas nada encontran-do jogou as peças quebradas no mar. O povo a-chou que esse fato fosse um sacrilégio, devido à cruz, e enfeitou o resto da coluna de maneira que esta ganhou um caráter religioso. Nos últi-mos anos foram ali enterrados diversos finados, formando um pequeno cemitério. Essa coluna foi indubitavelmente o marco da primeira esta-ção, designando a viagem de um dia, para os comboios que saíram de Touros para o poente. O lugar tem um porto bom para os pescadores, poços perenes de água doce, e para dentro boa terra de lavoura. O povoado, cujo nome anterior não seria difícil encontrar, é muito antigo e chama-se hoje Marcos, porque existem ali mais outros marcos menores sem sinais, que mostram o rumo para o interior. A estrada deixou ali no litoral e continuou no rumo do W.S.W.”.

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Aquele marco, que aos olhos do professor Schwen-nhagen seria um sinal evidente da presença dos fenícios no litoral norte-rio-grandense, era o velho marco de 1501, ali deixado por André Gonçalves e hoje guardado na Fortaleza dos Reis Magos, em Natal... Continua o professor austría-co, descrevendo as estações fenícias:

“A 2a estação não pude ainda verificar; a 3a

estação estava na fazenda Flores do Dr. Eurico Montenegro, na confluência do riacho das Pintu-ras com o rio Salgado, que tem sua foz em Ma-cau. Esse lugar acha-se a 3 léguas distante da ci-dade de Angicos. Na margem do riacho existem importantes letreiros, cujas cópias entregará, com certeza, o doutor proprietário da fazenda ao Instituto Histórico. O lugar tem poços de água boa, e antigamente existiu ali uma aldeia dos in-dígenas”.

A fazenda Flores fica localizada nas lindes municipais

de Angicos e Afonso Bezerra, próximo à Serra das Flores.

“A 4a estação esteve na ponta da Serra Verde, na fazenda Olho D’água, do coronel Fer-nando Pedroza, onde existe um poço, resp. uma fonte perene com muita água. O lugar acha-se

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entre o rio de Angicos e o rio das Piranhas. A Serra Verde tem seu nome de sedimentos verdes de quartzo nas fendas dos rochedos, donde os antigos mineiros tiravam pedras de jaspe e ou-tras composições finas. Existem ali três furnas, cavadas na procura dessas pedras preciosas”.

A 4a estação ficava no município de Pedro Avelino

RN.

“A 5a estação, ainda não verificada, esteve provavelmente na margem ou perto do rio Upa-nema. Esse nome significa lagoa desaparecida, o que indica que ali – cerca de 2 léguas distante da vila Augusto Severo, para o norte – existiu um grande açude, que se chama na língua tupi Upá”.

“Nas estações que não tinham poços pere-

nes, foram sempre construídos açudes; uma par-te destes existe hoje ainda, outros secaram, de-pois da saída dos Fenícios, por falta de conser-vação”.

“A 6a estação é bem marcada, poucos qui-

lômetros distante da vila de Caraúbas, para o norte. Ali atravessa a moderna estrada de roda-

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gem (vinda de Mossoró) um riacho com muitos rochedos, que fazem no inverno uma cachoeira. O lugar chama-se hoje “Pedra Pintada”, devido aos letreiros cravados naqueles rochedos”.

“Quase todas as cachoeiras conservam no

verão poços com água fresca; por esse motivo encontram-se no sertão, perto duma antiga es-trada, com letreiros que indicam o rumo e as dis-tâncias. O nome ‘Caraúba’ é também significa-tivo: ele indica que os Caris tinham naquela bai-xa uma colônia agrícola”.

Data venia, o significado do topônimo Caraúbas, de-

ve-se à árvore Caraúba, que no Tupi significa o mesmo que Carahyba: forte, duro, qualificativo relacionado com a na-tureza do lenho... Segundo o historiador Nestor Lima, Le-andro Bezerra, depois de 1760, “foi construir casa de mo-rada e situar uma fazenda de gados no lugar onde existia uma porção de árvores chamadas Caraúbas, e daí, o desig-nativo posto à dita situação...(2)

“A 7a estação, antes de chegar ao limite do

Ceará, se achava a 16 quilômetros da cidade do Apodi, na fazenda do coronel Raimundo Nonato Motta. Ali existe a ‘Cachoeira de Letreiros’,

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contendo inscrições bem legíveis”. “Dessa estrada do Poente saiu de Caraúbas

para o sul, um ramal que seguiu para a Serra do Martins e a Serra Furada, no limite da Paraíba. Na Serra do Martins existe a afamada gruta de ‘Trincheiras’, uma grande obra de mineração com longos corredores. A Serra Furada contém uma dúzia de furnas e diversos letreiros”.

Sobre a Gruta da Trincheira, em Martins RN, assim a

descreve o historiador Nestor Lima:

“A famosa ‘Gruta da Trincheira’ é o maior interesse turístico do solo martinense. Consta a ‘casa de pedra’ de volumosa mole de granito a-florada ao pé da ladeira das trincheiras, tendo no seu bojo, uma espaçosa sala, onde se podem alo-jar 500 pessoas e se encontra a fonte cristalina que jorra perene formando estalactites e esta-lagmites. Ali, reúnem-se muitas pessoas, em fes-tas e convescotes, vindas de várias procedências. Henrique Castriciano, já celebrizou a fonte da Gruta, em versos límpidos e sonoros, que toda a gente sabe de cor e se acham gravados na pedra da Gruta (3)”.

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Depois de descrever a denominada “Estrada do Poen-te”, o professor Schwenhagen passa a citar as diversas esta-ções que formavam a “Estrada do Sudoeste”, que também saía de Touros:

“Teve sua 1a estação em Pureza, já descrita

no meu artigo precedente (4). A distância é de 32 quilômetros e a antiga estrada andava no mesmo rumo como a nova estrada de rodagem. A respeito da maravilhosa fonte de Pureza, opi-no eu agora que ela é uma fonte arteziana tirada das inferiores camadas argilosas do solo. Encon-trei, entretanto, uma nota do escritor grego Dio-doro que declara que os engenheiros babilônicos egípcios sabiam abrir, em regiões áridas, fontes profundas, furando os sedimentos calcários e ar-gilosos. O antigo nome da fonte Maxaranguape (Água das Almas Felizes) indica que ali era a sede dum sacerdote (piega resp. pajé)”.

O local onde se encontra a fonte, corresponde hoje à

cidade de Pureza RN, sede do município do mesmo nome.

“A 2a estação acha-se na distância de 9 quilômetros de Taipu, na fazenda ‘Jandu’, do Sr. Vital Jorge Correia, onde existe um grande poço

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com água perene e uma baixa com terra fértil. Nos rochedos perto do poço são cravados diver-sos letreiros, cuja cópia será apresentada ao Ins-tituto Histórico pelos cuidados do distinto chefe do município, coronel João Gomes. ‘Jandu’ sig-nifica o homem que pressente o futuro – e é o profeta, o que indica também a sede dum pajé”.

“A 3a estação estava a 8 ou 10 quilômetros

distante de Jardim de Angicos, onde existe uma grande pedra preta com inscrições; perto está uma gruta com muitos sinais”.

Jardim de Angicos é um município do Rio Grande do

Norte, desmembrado do de Lajes.

“De lá andava a antiga estrada no rumo da Estrada de Ferro Central, até 3 quilômetros dis-tante da cidade de Lajes; daí ela tomou o rumo de S.S.W. Naquele ponto de viração esteve a 4a estação, marcada pela ‘pedra de sino’ do Serrote da Tinideira, que é uma colina baixa. Fora dela está um rochedo isolado de 3 metros de altura, sob o qual é pendurado, entre duas pedras late-rais, o sino. Ela é uma pedra rômbida de 150cm de largura e 70cm de altura. Sendo batido por

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um certo instrumento, esse sino dá um som me-tálico tão forte, que se pode ouví-lo a muitos quilômetros. Tais sinos foram meios de comuni-cação rápida. O poço da estação, com água pe-rene, acha-se na distância de um quilômetro”.

O historiador Nestor Lima também nos dá notícia do

Serrote da Tinideira, no município de Lajes RN:

“Serrote da Tinideira, próximo à cidade, um quilômetro, e assim denominada por causa de uma pedra que repercute bem alto o som de qualquer golpe que lhe for vibrado com ferro, ou outra pedra (4)”.

Continua o professor Schwennagen, descrevendo as

estações: “A 5a estação, na fazenda ‘S. Vicente’ do

Sr. Joel da Assunção, perto do lugar ‘Juazeiro’, no sul da Serra do Bonfim. Ali existe uma furna de mineração com um grande letreiro”.

“A 6a estação estava no ‘Boqueirão das

Pinturas’, na serra de Santana do Matos, entre as cidades de Santana e Flores. Os letreiros indi-

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cam o trabalho de mineração e as distâncias marcadas com medidas egípcias”.

“A 7a estação se encontra na distância de

20 quilômetros de Flores para Sudoeste, entre os lugares ‘Inês’ e ‘Caridade’. Ali está a Serra da Cruz, com diversas formas de mineração. A ser-ra contém chumbo, estanho, enxofre e quartzo branco, o que indica a existência de ouro na pro-fundidade. No meio da serra existe uma grande ‘casa de pedras’, que é uma furna com boca re-donda de 2 metros de diâmetro. Passando por um corredor de 4 metros de comprimento, entra-se numa sala de 8 metros em quadro, com pare-des lisas e abóbada ponteaguda, com a forma dum telhado. O chão é plano e estreitas fendas laterais do teto deixam entrar uma luz meio cla-ra. A parede contém letreiros, semelhantes àque-les do Seridó; no fundo se enxergam as entradas de dois corredores obscuros que andam em volta do interior da colina. Fora da entrada vêem-se os pedaços duma pedra caída e quebrada, que dão ainda um fraco som metálico. São os restos do sino que foi sobreposto encima da entrada da gruta. Não resta qualquer dúvida que essa ‘casa de pedra’ foi uma estação de antiga mineração e

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que a grande sala ficou adaptada para uma mo-rada, dando agasalho para 20 a 25 pessoas”.

A cidade de Flores, indicada por Schwenhagen, cor-

responde à atual Florânia RN. Os topônimos Inês e Carida-de, ficam no município de Caicó. A respeito da Gruta da Caridade, descreve-a o historiador Nestor Lima:

“A Gruta da Caridade, na serra desse no-

me, a 30 quilômetros ao nordeste de Caicó, é formada de numerosas ‘salas’ ou âmbitos, servi-das por outros compartimentos menores, onde se encontra areia fina e água. As ‘salas’ se ligam entre si por aberturas de entrada e saída, suces-sivas, que parecem intermináveis. Em pleno meio dia, há completa escuridão na Gruta. As águas de infiltrações formam belíssimas estalacti tes de notável rijeza. Segundo testemunhos fide-dignos, a ‘Gruta da Caridade’ é um fenômeno natural. bastante curioso e que merece exame dos competentes, para efeitos de ‘turismo’(5)”.

Em seguida, o professor Ludovico passa a descrever a

região banhada pelo rio Sabugi, ainda no município caico-ense:

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“De lá passou a estrada o rio Seridó, em baixo da saída de Caicó, e entrou na região do Sabugi, onde estava a 8a estação. Indo na estrada de Caicó para S. João do Sabugi, na distância de 27 quilômetros da primeira cidade, encontra-se o lugar Carrapateiro. Esse nome e provavelmente corruptela de Carrapati, que significa ‘Palmeiral dos Caris’, que foi o nome da região. De lá sai um caminho para o poente, onde se encontra com 8 quilômetros de viagem um antigo açude, chamado hoje ‘Lagoa de Pedra’, porque ele é segurado por uma longa parede de pedra. De lá sai um sangradouro para o lugar ‘Furna’. Esta até é também uma casa de pedras, cortada no barranco dos rochedos por largas lajes de pedras sobrepostas. O interior da casa tem a altura de 3 metros; as paredes são construídas com pedras grossas, como nas construções ciclópicas dos antigos Pelagos. Nessas pedras das paredes são cravados letreiros indicando a passagem das di-versas expedições. Entre os letreiros são dese-nhadas muitas palmeiras, que explicam o nome, ‘Palmeiral dos Caris’. Na entrada está ainda suspensa pedra rombóida do sino tinindo para longe, quando é batido. Poucos passos fora da casa, está cortado no rochedo um tanque de 2

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metros de profundidade, cuja água vem do san-gradouro e que é sempre limpa e fria. No lado acha-se uma saída da água, que corre dentro de outros rochedos e irriga depois numa baixa, on-de estão ainda muitas palmeiras. Dessa estação continuou a estrada no mesmo rumo de Sudoes-te, entrando na Paraíba, onde ainda não pude ve-rificar todas as estações”.

O lugar Carrapateiro, mencionado por Schwennha-

gen, corresponde à fazenda Carrapateira, cortada pelo rio Sabugi. Segundo fontes fidedignas, a origem do topônimo se prende à abundância de carrapateiras (Ricinus communis Linn. vulgaris Mill.), da família das Euforbiáceas...

Segundo Ludovico Schwennhagen, as duas estradas que partiam de Touros, com seus prolongamentos até o Acre e o sul de Mato Grosso, foram construídas na época de 700 a 600 anos antes de Cristo!... Continua o austríaco dando-nos notícias de mais duas estradas, que saíam do lago de Estremoz:

“Na primeira encontram-se as seguintes es-

tações: 1a, Tapitanga, no rio Potengi, perto do engenho do Sr. Manuel Freire, onde nas pedras da margem do rio existem diversos letreiros. O nome antigo era Itapitanga, que quer dizer pe-

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dras vermelhas, que se acham ali em Lajes, e no leito do rio se encontram pedras da mesma cor que se podem lapidar e aparecem como rubis”.

“A 2a, ‘Lajes Pintadas’ no município de

Santa Cruz, com muitos letreiros e duas peque-nas furnas de mineração”.

Lajes Pintadas é atualmente uma cidade norte-rio-

grandense, sede do município do mesmo nome. Segundo o escritor Luís da Câmara Cascudo,

“O riacho das Lajes Pintadas tem esse no-

me por passar ao pé de umas pedras onde estão desenhos rupestres, figuras humanas, valendo fi-sionomias e outros valores gráficos de interpre-tação duvidosa, fixados em tinta indelével e vermelha”.

“O riacho é tributário do Rio Inharé e este

afluente do Rio Trairi (6)”.

Continua o Prof. Schwenhagen, expondo as velhas es-tações:

“A 3a, o ‘Convento’, no município de Cur-

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rais Novos, uma casa de pedras com altas colu-nas e dólmens”.

“A 4a, ‘Cachoeira das Pinturas’, com poços

e letreiros, no município de Acari”. “A 5a, ‘Cachoeira da Carnaúba’, no muni-

cípio de Jardim, com poços e letreiros. Prova-velmente, era o antigo nome Caraúba, cuja sig-nificação já expliquei".

“6a., ‘Pedra Lavrada do Seridó’, onde exis-

tem as inscrições mais importantes do Brasil. De lá passou a estrada para o Sabugi, unindo-se com a grande estrada do Sudoeste. O Sr. José de Azevedo, em Acari, copiou um grande número de letreiros, que indicam essas estações, e com-pilou um alfabeto muito engenhoso da escritura usada nos petróglifos do Nordeste”.

“Da estação ‘Convento’ saiu um ramal pa-

ra o Sul, que atravessou a zona das minas de Coité, Picuí e Pedra Lavrada Paraíba, indicado por dúzias de letreiros. De lá saiu um ramal para a serra de Borborema, indo no modo Curimataú (i.é. Região dos Grandes Porcos Silvestres).

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Uma estação esteve ainda na Serra dos Cabo-clos, no município de Areia Branca, onde existe uma grande furna alta com a abóbada artística e o sinal do Pajé. Ali em redor era uma grande al-deia dos Caris que os portugueses chamaram com tanta inteligência Caboclos.”

“A outra estrada saiu de Estremoz para o

Sul. Uma das estações foi Canguaretama e é a região da gente alta, com grandes cabeças. Os mineiros trabalharam ali no lugar chamado de Sete Buracos, em que o nome do lago Cunhaú deixa supor que ali foi a sede duma sociedade de mulheres, chefiada por uma profetiza. Uma ou-tra estação estava perto de Nova Cruz, indicada pelos letreiros do calabouço; uma outra em Ma-manguape, onde existem subterrâneos. De lá se-guiu a estrada para o Sul, até a serra dos Ca-riris Velhos”.

“Todas essas estradas e caminhos foram

ainda conhecidos e freqüentados pela população indígena-brasileira, quando por aqui chegaram os Europeus, em 1500”.

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_________ _________ (1) SCHWENNHAGEN, Ludovico. As estações das antigas estradas que atravessaram o Rio Grande do Norte e Paraíba.

(2) LIMA, Nestor. Caraúbas, o Município, p.109.

(3) ___________. Martins, o Município, p.262.

(4) ___________. Lages, o Município, p.207.

(5) ___________. Caicó, o Município, pp.54-55.

(6) CÂMARA CASCUDO, Luís da. Nomes da Terra- História, Geografia e Toponímia do Rio Grande do Norte, p.204.

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OS FENÍCIOS, SUAS MINAS E O PROFESSOR

SCHWENNHAGEN Através de artigo publicado na imprensa natalense, o

professor Ludovico Schwennhagen nos dava noticias das minas exploradas pelos fenícios, no atual território norte-rio-grandense (1). Acompanhemos a narração do professor austríaco:

“Minha primeira viagem de estudos, pelo

interior do Rio Grande do Norte, limitou-se a seis municípios do Sudeste do Estado. A tarefa principal foi verificar a afamada inscrição de Pedra Lavrada e indagar o significado desse do-cumento petroglífico, em relação com as rique-zas mineiras do subsolo daquela região. Um en-genheiro brasileiro descobriu a inscrição, há 50 anos, na margem dum rio, saindo da Serra de Borborema, no limite entre Paraíba e Rio Gran-de do Norte.

Ele copiou o texto e apresentou uma cópia ao imperador dom Pedro II, com essa vaga indi-cação do lugar da sua existência. Naquele tempo não existia ainda nenhuma das vilas e cidades

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daquela região, e ninguém ainda falava em es-tradas de rodagem, para percorrer o árido sertão do Nordeste.

No Rio de Janeiro, a cópia da inscrição fi-cou fotografada e publicada, e nos meios inte-lectuais levantou-se uma extensa discussão so-bre o assunto. Diversos sábios acharam a inscri-ção muito importante, mas o partido dos incré-dulos, que negou qualquer valor do petróglifo, ficou na maioria. Por isso encarregou Dom Pe-dro o 1o Juiz de Maceió, um senhor muito erudi-to e familiar nos problemas da pré-história brasi-leira, de fazer uma viagem ao sertão da Paraíba, para examinar a inscrição. O juiz voltou, três meses depois, declarando que nenhum dos habi-tantes da região indicada lhe pôde dar qualquer informação a respeito da suposta inscrição. Por esse motivo, chamaram os jornais do Rio de ja-neiro a ‘pedra lavrada do Nordeste’, uma grande ‘blague’. Diversos livros, porém como ‘As Duas Américas’ de Cândido Costa e a ‘Pré-História Sul Americana’ de Alfredo de Carvalho, deram a fotografia da inscrição, sem qualquer restrição no tocante à sua realidade.

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O Prof. Schwennhagen esteve no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, tentando obter os dados necessá-rios à busca da “Pedra Lavrada”. Baseado em informações complementares, obtidas junto aos Institutos Históricos e Geográficos, da Paraíba e do Rio Grande do Norte, o pro-fessor Ludovico tomou conhecimento da existência da vila de “Pedra Lavrada”, localizada na Paraíba. Por lá pesqui-sou Schwennhagen, sem sucesso na localização da pedra, cujas inscrições haviam sido apresentadas ao imperador Pedro II. Achou outras pedras e segundo ele indicavam no serviço da antiga mineração, feita por profissionais naquela região, 2.000 anos antes da nossa época”...

Prossegue o Prof. Ludovico Schwennhagen:

“Mas, com tudo isso, não tinha encontrado a afamada pedra lavrada, que mandou examinar dom Pedro II. Um cidadão, porém, disse-me e-xistir, no lado do Rio Grande, mais um lugar de nome Pedra Lavrada; talvez ali pudesse eu en-contrar a procurada inscrição. Então, fui a Pare-lhas e ali o chefe do novo município, major An-tão Elisiário Pereira declarou-me, com certeza, que esse lugar se achava perto da cidade de Jar-dim do Seridó, onde fica construída uma grande ponte sobre o rio do mesmo nome. Em Jardim,

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informou-me o prefeito municipal, Dr. Heráclio Pires, que o lugar da ponte tem realmente o no-me ‘Pedra Lavrada’, e que ali se acham letreiros, que ainda ninguém tinha decifrado. Poucas ho-ras depois, estivemos na ponte, a qual ficará uma obra monumental, construída com os recur-sos financeiros do município, auxiliado pelo Governo Federal. Em companhia do engenheiro Dr. Emílio Alcoforado, examinamos as inscri-ções, e logo a primeira era a apetecida ‘Pedra Lavrada’, cuja cópia foi apresentada a Dom Pe-dro II. A parede lisa e polida da pedra, onde está a inscrição, tem a largura de 140 cm e a altura de 120 cm, exatamente como declarou o primei-ro descobridor. A forma é retangular com um a-fixo estreito redondo, no canto inferior do lado direito, que mostra já a antiga fotografia. A pa-rede da pedra é verticalmente cortada com fer-ramentas agudas na laje decliva, que forma a margem do rio. A suposição de que essa parede pudesse ser cortada por instrumentos de madeira dura ou de pedra, como usaram os silvícolas, e mais a idéia de que a água do inverno tivesse cavado essa parede, e que os índios errantes ti-vessem escrito essas letras e sinais por ociosida-de não merecem ser discutidas. As inscrições de

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‘Pedra Lavrada’ são feitas por homens que che-garam ao Brasil de um país de alta cultura, da Fenícia ou do Egito, e que escreveram nestas pedras qual serviço eles tinham aqui executado. Parece inegável que o texto da inscrição é o rela-tório do chefe duma expedição mineira. Embai-xo, no meio da escrita, está o monograma do chefe, um sistema usado em centenas de inscri-ções de escrita demótica dos Egípcios. No outro conteúdo se acham 42 letras da demótica e 15 sinais da mineração. A cópia tirada há 50 anos difere um pouco da cópia tirada por mim. O primeiro copiador não tinha ainda prática de ler os antigos letreiros, e depois a escritura já foi muito gasta, no correr de dois milênios, o copia-dor fica sempre obrigado a completar as letras, conforme seu próprio conceito. Também se ad-mira porque o primeiro descobridor não copiou ou estudou as outras 8 inscrições, dentre as quais algumas mais importantes do que a primeira. Essas outras são escritas nas faces e chapas das pedras vivas. Não têm paredes cortadas, lavra-das ou polidas. A primeira pedra tem escrito em faces um grande monograma artístico do chefe, que dirigiu provavelmente a primeira expedição mineira. Seguem-se 7 outras inscrições, cada

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uma com o monograma do respectivo chefe e com uma chapa de orientação sobre o rumo e as distâncias das minas. A inscrição na pedra la-vrada e cortada foi talvez a última, cujo autor usou um aparelhamento mais fino, e se repara ainda que as linhas gravadas foram pintadas”.

O Professor Schwennhagen dá então o seu veredicto sobre aquele local, onde foram encontradas as “pedras lavradas”:

“O lugar das inscrições respectivas da grande ponte, onde passa a estrada de Jardim a Caicó, era já na antigüidade uma estação da grande estrada de penetração, que saiu de Tou-ros para o Sudoeste do Brasil. Dentro do territó-rio norte-rio-grandense é marcada essa antiga estrada por dúzias de letreiros, que serão devi-damente explicados num tratado geral”.

Prossegue o Professor Schwennhagen a sua descrição:

“Da estação do Seridó saíram diversos ra-mais para as minas da Serra da Coruja. Ali exis-tem os vastos depósitos de cobre, que os peritos mineiros da antigüidade descobriram com facili-dade. Ali eles encontraram também estanho, que

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ligado com cobre, dá o bronze. Já 2.000 anos antes de Cristo, descobriram os artistas cários a ligação do bronze, e desde aquele tempo procura-ram os navegadores fenícios em toda a parte es-ses dois metais preciosos, para fornecer armas de guerra a todos os povos bélicos da antigüida-de.

A Serra da Coruja, que se estende pelos municípios norte-rio-grandenses de Acari, Pare-lhas e Jardim do Seridó e pelo município parai-bano de Picuí, contém ferro, manganês e cobre em jazidas enormes, e estanho, níquel e enxofre em quantidades rendosas.

Nas inscrições da antiga mineração, são es-tanho e o níquel, indicados pela meia-lua, a qual significa todos os metais de brilho de prata. Co-bre é indicado por um quadrilátero retangular ar-rendado com linhas transversais. Com essa figu-ra indicaram os mineiros egípcios todas as minas de metais escuros. Mas, inscrições falam tam-bém de ouro e pedras preciosas. A figura do sol sempre indica ouro e os raios ou linhas de liga-ção indicam filões ou cascalhos de pedra branca, onde se encontra o rei dos metais.

O quartzo puro é o amante do ouro; em ge-ral o quartzo aurífero é branco, com a cor de lei-

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te; mas ele pode ser também preto. Onde o quartzo se misturou com elementos vermelhos ou azuis, o ouro não entrou; – este também de-testa o elemento enganador de mica ou malaca-cheta. No Brasil vale a regra: onde existe ouro, existe também quartzo branco; mas não em toda parte onde está o quartzo branco existe ouro. Os antigos mineiros conheciam essa regra, e o alvo principal dos mercantes fenícios foi a procura de ouro e pedras preciosas. Essas duas mercadoria compraram os reis e nobres do Egito, para acu-mulá-las nos seus túmulos.

Crentes da ressurreição da carne, quiseram levar para sua vida futura riquezas e adornos, correspondentes à sua dignidade anterior. Por is-so quando as expedições dos Fenícios, organiza-das para perlustrar o interior do Brasil, encontra-ram na região do alto Seridó os grandes blocos de quartzo branco, logo elas começaram a pro-cura de ouro.

No nosso planeta, talvez, não existe um ou-tro país, onde o quartzo puro branco existe em quantidades tão grandes, como na Serra da Co-ruja. O viajante repara diversos montes altos, cobertos por pedras brancas, como nos Alpes ou Andes os cumes altos são cobertos com eterno

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gelo e neve. Além disso, cada morro ou serrote mostra 3 a 5 filões de quartzo branco que saí-ram, na época da formação da crosta terrestre, em estado líquido do fundo do nosso globo. Pe-las grandes chaminés do subsolo derramou sem-pre uma parte desse quartzo líquido e correu pa-ra baixo, na pendente do monte. Esta é a origem das largas veias e declivas, que se reparam em toda a parte da superfície da Serra da Coruja.

Os peritos das expedições fenícias compre-enderam logo, que ali existisse um ‘el dorado’ por excelência. Tantas massas de quartzo branco deviam conter ouro em abundância. Nos leitos de todos os riachos se encontraram e se encon-tram hoje ainda, depois de grandes chuvas, pe-quenas pepitas de ouro, desagregadas do quartzo desmoronado. Também, em quase todos os fi-lões de quartzo se encontram pedaços brancos com ouro cravado. O rendimento em ouro, po-rém, é pequeno”.

“Mas, na Serra da Coruja a camada super-ficial é formada, com pedra dura, com ferro, manganês e cobre. Ali o quartzo devia lutar com todos esses elementos, e o ouro, devido ao seu peso três vezes maior, ficou embaixo; somente pequenas quantidades podiam alcançar a super-

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fície. As inscrições indicam que os antigos mi-

neiros abriram diversos filões de quartzo e en-contraram o ouro numa certa profundidade. Esse mesmo trabalho deve-se repetir hoje, mas com o sistema aperfeiçoado da mineração moderna. Acho provável que a Serra da Coruja contenha muitas toneladas de ouro, que se pode tirar, sem despesas extraordinárias. De pedras preciosas existem na Coruja rubis, e turmalinas finas. As inscrições indicam-no por uma linha vertical, com pequenas bolas em ambos os lados. No município de Acari e na vizinhança de Picuí fo-ram encontradas muitas dessas pedras, que se deixam facilmente lapidar”.

O Prof. Schwennhagen lança um apelo, visando a ex-

ploração racional das minas do Nordeste, no que se revelou um verdadeiro pioneiro:

“O Nordeste necessita urgentemente de

novos recursos para seu levantamento econômi-co e não pode ficar inativo perante essa grande riqueza. São interessados os dois Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba. Ouro, cobre, man-ganês e ferro são os gigantes na ação industrial e

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financeira da vida moderna. Uma nação que possui esses gigantes e recusa o auxílio deles pa-ra seu desenvolvimento civilizador, comete um crime contra si mesma. Mas existe uma condi-ção indispensável: O prolongamento das vias férreas até a zona mineira. Nas costas de animais ou em caminhões não se transportam minérios pesados. Sendo uma vez garantida a estrada de ferro, as empresas de mineração não custarão a formar-se brevemente”.

______________ (1) SCHWENNHAGEN, Ludovico. As Inscrições da Pedra Lavrada e as riquezas minerais da Serra da Coruja.

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AS INSCRIÇÕES GREGAS DA FAZENDA PEDRA LAVRADA,

EM JARDIM DO SERIDÓ

Em 1864, percorreu o Seridó o engenheiro Francisco

Pinto, à procura de minas. Em Jardim do Seridó, o mesmo deparou-se com uma inscrição rupestre, conhecida como a inscrição da Pedra Lavrada, na margem do rio Seridó, dis-tanciada dois quilômetros da então Vila de Jardim. O enge-nheiro copiou cuidadosamente a inscrição, apresentando a respectiva gravura ao Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, no Rio de Janeiro.

O desenho de Francisco Pinto foi litografado e publi-cado. Um exemplar foi enviado ao sábio francês Ernest Renan, que identificou 54 letras fenícias naquela inscrição da Pedra Lavrada. Segundo Renan, na cópia não tinham constado muitos caracteres intermediários, nela apenas in-dicados por pontos (1).

O original desenhado pelo engenheiro Francisco Pinto encontra-se guardado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (2).

Em 1886, o engenheiro de minas Francisco Soares da Silva Retumba visitou aquela mesma inscrição petroglífica, existente em território que julgou ele pertencer à então pro-

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víncia da Paraíba. A ocorrência consta de um relatório diri-gido por Retumba ao presidente daquela província, datado de 7 de julho de 1886 (3).

O referido relatório foi objeto de divulgação, em 1892, por parte do escritor Irenêo Joffily (4).

Em 1900, o autor Cândido Costa incluiu no seu livro “As Duas Américas”, uma cópia daquela gravura de autoria de Retumba, a qual recebera a designação de “Inscrição da Pedra Lavrada na Província da Paraíba” (5).

Em 1909, João de Lyra Tavares publicou o livro “A Paraíba”, nele incluindo aquele relatório do engenheiro Retumba (6).

Alfredo de Carvalho, autor da “Pré-história Sul-Americana”, editado em 1910, também reproduziu aquela denominada “Inscrição da Pedra Lavrada”, desenhada por Retumba (7).

O historiador paraibano Coriolano de Medeiros, em livro publicado em 1914, também dá notícia daquela ins-crição petroglífica, que segundo ele, ficava na então povoa-ção de Pedra Lavrada, município paraibano de Picuí (8).

Em livro publicado em 1924, Luciano Jacques de Mo-raes declara ter tentado encontrar aqueles petróglifos, men-cionados e copiados pelo engenheiro Retumba:

“No Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba

existe um desenho representando a inscrição de Pedra

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Lavrada, elaborado por Retumba e por ele remetido, em 7 de agosto de 1886, ao presidente daquela pro-víncia, desenho que tem sido reproduzido em diversas publicações. Nos dois lugares em que vimos inscri-ções em Pedra Lavrada não encontramos semelhança entre as mesmas e o referido desenho, no conjunto, embora haja alguns sinais parecidos.

Dentre as figurações mais características e mais visíveis, desses lugares acham-se as representações de jacaré, em um dos rochedos, e as de ave, no outro, e elas não foram copiadas por Retumba. Acompanha-ram-nos aos rochedos das inscrições alguns morado-res de Pedra Lavrada que tinham em mão o desenho em questão, inserto no n. 53, de 15 de novembro de 1923, da revista ‘Era Nova’, da Paraíba, e que pude-ram verificar a inexatidão do mesmo. Essas pessoas disseram-nos ignorar a existência de outras inscrições nas imediações da localidade (9)”. Em 1926, o professor Ludovico Schwennhagen pesqui-

sou na então vila de Pedra Lavrada, município de Picuí, ten-tando localizar aquela inscrição mencionada por Retumba:

“Tendo recebido por diversas pessoas a certa in-

dicação de que, na vizinhança da vila Pedra Lavrada, do município de Picuí, da Paraíba, existissem grandes

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inscrições fui eu primeiro a essa vila e encontrei ali perto duas importantes petrogravuras. Uma está numa pedra lisa de 6 metros quadrados, na parede dum ro-chedo, representando um quadro de desenhos artísti-cos e alegóricos. As figuras são gravadas na pedra com formão e as linhas côncavas são pintadas com tinta vermelha indelével. Em redor, nos baixos, na rampa e na chapa superior, notam-se outras letras e os sinais dos mineiros, mas menos artísticos e não pinta-dos. Chama-se o lugar ‘Poço Grande’ dividido com pequeno lago perene, formado pela água que passa embaixo do rochedo.

A segunda inscrição acha-se 500 metros distante, na margem do riacho chamado do ‘Gado Brabo’, numa chapa de 10 metros quadrados, meio-coberta por um ro-chedo, sobrependente. A inscrição, gravada pelo for-mão, contém mais de 200 sinais e letras, indicando o serviço da antiga mineração feita por profissionais na-quela região, 2000 anos antes da nossa época.

Copiei cuidadosamente essas inscrições, bem como 10 outros letreiros de pequeno tamanho, que e-xistem no mesmo município.

Mas, com tudo, isso, não tinha encontrado, a a-famada pedra lavrada, que mandou examinar dom Pe-dro II (10)”.

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No mesmo ano, o Prof. Ludovico Schwennhagen fi-nalmente localizou a “Pedra Lavrada”, a que se referia o engenheiro Retumba. Fica a mesma à margem do rio Seri-dó, bem próximo à cidade norte-rio-grandense de Jardim do Seridó. Por ocasião do seu encontro com a pedra, o Prof. Schwennhagen achava-se em companhia do engenheiro Emílio Alcoforado. Schwennhagen descreve a sua desco-berta, através do artigo “As inscrições petroglíficas de Jar-dim do Seridó”:

“Comissionado pelos governos, do Piauí e do

Maranhão, junto aos Ministérios, da Educação e A-gricultura do país, transitou pelo nosso porto o conhe-cido historiógrafo e pesquisador Ludovico Schwen-nhagen, catedrático de latim do Liceu de Teresina.

S. S. que não perde de vista a pré-história de nosso Estado, enviou a A República o artigo que se segue:

– Na audiência que o Exmo. Sr. Interventor Fe-

deral me concedeu a 30 do mês passado, na minha passagem para o Sul , Sua Excelência teve a bondade de prometer-me seu auxilio, para tirar fotografias das inscrições do Seridó, conforme um pedido do Museu Nacional, do Rio de janeiro.

Trata-se dum assunto importantíssimo para os

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estudos históricos do Brasil, o qual já provocou, há mais de 60 anos, uma interessante discussão lítero-científica, que se estendeu até os meios intelectuais da Europa. Entre as 3.000 inscrições, pinturas rupestres e letreiros que se conhecem, até hoje, das épocas pré-colombianas do Brasil, as mais importantes são as 15 inscrições que existem na margem do rio Seridó, dois quilômetros acima da cidade de Jardim, no lugar que os moradores chamam ‘Pedra Lavrada’.

Em 1864, percorreu aquela zona um engenheiro brasileiro de nome Francisco Pinto, à procura de mi-nas, e nessa ocasião seu guia mostrou-lhe a grande inscrição, conhecida na literatura brasileira do século passado, como a inscrição da Pedra Lavrada. O enge-nheiro copiou com grande cuidado a escrita e levou o ‘fac-simile’ para o Rio de Janeiro, onde o apresentou ao Instituto Histórico e Geográfico, cujo presidente era o imperador mesmo.

A cópia foi litografada e publicada, e um exem-plar foi mandado ao sábio francês Ernesto Renan. Es-te respondeu que a escrita continha 54 letras fenícias; mas devido à falta de muitos caracteres intermediários que na cópia só eram indicados por pontos, seria im-possível uma decifração certa. Essa declaração autori-tativa de Renan não admitia negar, da parte, dos in-crédulos, o caráter fenício da inscrição; mas o enge-

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nheiro Pinto morreu no ano seguinte, os adversários da pré-história brasileira, cujo ‘leader’ era Ladislau, declararam que a falada inscrição era uma invenção ociosa de alguém que queria detratar a glória dos des-cobridores lusitanos.

Essa opinião foi corroborada pelo erro do fale-cido engenheiro que pensava que aquela zona, onde ele copiou a inscrição, pertencia à Paraíba. Naquele tempo não existia ainda a cidade de Jardim, e no outro lado da Serra da Coruja, no território paraibano, exis-tia uma povoação chamada também Pedra Lavrada, devido a diversas inscrições, cravadas em pedras lisas horizontais e verticais.

O nome ‘Pedra Lavrada’ que existe em muitos lugares do Nordeste, é a tradução de ‘Itabayana’, no-me de diversas cidades, povoações e lugares isolados.

Numa reunião do Instituto Histórico de Alagoas, à qual assisti, me declarou o presidente o seguinte: ‘Nosso Instituto nega a existência da chamada Pedra Lavrada. Um dos fundadores do Instituto, desembar-gador tal (esqueci o nome) foi à Paraíba, por ordem do imperador, e procurou durante três meses em vão, a suposta inscrição’. Respondi que eu só conhecia a inscrição das revistas que publicaram, no século pas-sado, o ‘fac-simile’, mas prometi de fazer logo uma viagem para a vila Pedra Lavrada da Paraíba, para

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constatar a existência da inscrição, da qual não duvi-dava, em hipótese alguma.

Entretanto, eu também não encontrei a apetecida inscrição na Paraíba e só dois meses depois, cheguei a Jardim, onde o prefeito municipal me levou à ‘sua’ Pedra Lavrada e onde eu encontrei, com olhos ume-decidos, a grande escrita com 100 centímetros de altu-ra e 140cm de largura.

E como foi honrada minha perseverança? – Mais outras 14 inscrições acham-se na margem do mesmo estirão do rio, e esse conjunto dá a chave para compreender a origem de tais petróglifos. Com a as-sistência de tantas testemunhas copiei todas as inscri-ções. Mas quando eu apresentei, no ano passado essas cópias, num formato maior e caligraficamente dese-nhadas, ao Instituto Histórico do Rio e ao Museu Na-cional, recebi a mesma resposta, como o saudoso Francisco Pinto: ‘Tais desenhos pode fazer qualquer um. Nós precisamos de fotografias bem claras, cuja veracidade seria atestada pelo Governo do Estado’.

Na minha volta ao Piauí tenciono interromper a viagem, em Natal, por uma ou duas semanas, para ti-rar, com o benévolo auxílio do Exmo. Sr. Interventor, as fotografias das inscrições de Jardim do Seridó e de S. João do Sabugi onde e existem também furnas e uma antiga casa de pedras, de alto interesse.

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Prof. Ludovico Schwennhagen (11)”. O Dr. Nestor Lima, autor de uma monografia sobre o

município de Jardim do Seridó, também teve oportunidade de examinar a Pedra:

“A PEDRA LAVRADA: Existem à margem es-

querda do rio Seridó, no lugar desse nome, umas ins-crições curiosas e que debalde se tem procurado deci-frar. Dizem que o imperador Pedro II, sabedor dessa curiosidade, incumbiu a um magistrado alagoano de procurar-lhe a explicação, mas, esse erudito não acer-tou com o lugar das inscrições. É na parede de pedra lisa e polida que está uma das inscrições, a principal tem 140 centímetros de altura e forma um retângulo, sendo a pedra cortada verticalmente. Essa inscrição contém vários caracteres, em número de 42, e 15 si-nais outros. outras oito inscrições existem nas chapas e faces das pedras.

A inspeção, que fiz ao local desses petróglifos deixou a impressão de sua antigüidade muito afasta-da, de vez em que os ameríndios seriam incapazes de fazê-lo, dada a sua incultura absoluta. Diferem muito essas inscrições das pinturas que se encontram nou-tras serras e serrotes do Estado, feitas a tintas indelé-veis. Sobre o lajedo onde se encontram essas inscri-

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ções, no rio Seridó, foi construída a grande ponte de cimento armado, executada pela I.F.O.C.S., sob a di-reção do dr. Júlio de Melo Rezende, em colaboração com o Governo do Estado, inaugurada solenemente e entregue ao tráfego público, no dia 13 de março de 1927 (12)”. No 1º vol. do seu livro “Inscrições e Tradições da

América Pré-Histórica”, editado em 1930, o estudioso Ber-nardo de Azevedo da Silva Ramos interpreta os caracteres da Pedra Lavrada, copiados por Retumba, concluindo pela sua origem grega (13).

O historiador Luís da Câmara Cascudo, em artigo pu-blicado no Jornal natalense A REPÚBLICA, edição de 27 de junho de 1931, insurgiu-se contra os conceitos emitidos pelo Professor Schwennhagen, constantes do artigo “As inscrições petroglíficas de Jardim do Seridó”. Cascudo es-tava, mal informado sobre o assunto, pois o prof. Ludovico Schwennhagen realmente localizara a Pedra Lavrada, fato testemunhado por Nestor Lima. Assim, escreveu o mestre Câmara Cascudo:

“O Prof. Ludovico Schwennnhagen em sua rá-

pida nota sobre os petróglifos de Jardim do Seridó re-gistra dados inteiramente errados. Só posso culpar quem os forneceu porque o Professor austríaco não os

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poderia ter inventado. Passando o artigo sem uma pa-lavra de respostas, entende-se que a verdade é aquela, tanto assim que ninguém se atreveu a discordar. Fi-quei todo tempo esperando a palavra dos entendidos. Já era tempo de ter soado. Em falta de melhor e mais forte resposta, aí vai esta.

Resume-se o artigo do prof. Schwennhagen no seguinte: Em 1868 o engenheiro Francisco Pinto per-correu a região do Seridó e seu guia mostrou-lhe a- inscrição conhecida na literatura brasileira como a inscrição da Pedra Lavrada. O dr. Pinto copiou o pe-tróglifo e o enviou para o Instituto Histórico Brasilei-ro. Litografada a cópia, mandaram-na a Ernesto Re-nan que nela encontrou 54 letras fenícias. Ladislau Neto, o mestre incontestável da paleontologia brasi-leira, opinou que a inscrição era o passatempo de al-gum desocupado. O prof. Schwennhagen ajunta mais outras afirmativas. Que a zona da Pedra Lavrada não pertence à Paraíba e sim ao Rio Grande do Norte. Que naquele tempo não existia ainda a cidade de Jardim. Que o nome de Pedra Lavrada é a tradução de Itabai-ana. Que não encontrou inscrição célebre na vila de Pedra Lavrada na Paraíba.

Vamos separar isso tudo... Se há uma Pedra La-vrada na Paraíba? Há. Não é vila mas é povoação, no município de Picuí. Se o prof. Schwennhagen não a-

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chou a inscrição em Pedra Lavrada paraibana é por-que não quis procurar. Coriolano de Madeiros no ‘Di-cionário Corográfico da Paraíba’ ensina a respeito da povoação citada:

‘Seu nome vem de uma inscrição num bloco de granito, da qual há diversas cópias, sendo uma delas submetidas à apreciação de Renan e considerada de origem fenícia.’ (pág. 78).

Assim fica ajustado que existe uma Pedra La-vrada no Estado da Paraíba e foi justamente desta po-voação que seguiu a cópia conhecida pelo sábio Re-nan. Quanto a inscrição é fácil provar. Abra o prof. Schwennhagen a interessante monografia do enge-nheiro Luciano Jacques de Moraes, ‘Inscrições Ru-pestres no Brasil’, e encontrará na página 32 uma có-pia e descrição da visita que lá fez o referido enge-nheiro. Não bastando essa Pedra Lavrada a Paraíba inda possui outra que Luciano Jacques também visi-tou e copiou. Esta Pedra Lavrada número dois fica a cem metros do lugar ‘Poço Grande’. A descrição está na página 40.

Nós do Rio Grande do Norte temos a ‘Pedra La-vrada’. Demora a seis quilômetros a oeste da vila de São João do Sabugi. Luciano fotografou-a. Fica as-sentado os seguintes dados: existe uma povoação pa-raibana chamada Pedra Lavrada e foi daí que saiu a

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cópia tida por fenícia. O Rio Grande do Norte nada tem com isto.

O engenheiro Pinto não encontrou Jardim do Se-ridó em 1868 é porque andou com os olhos fechados. Dez anos antes Jardim do Seridó era vila. Lei número 407, de 1º de setembro de 1858...

Itabaiana não quer dizer em tupi ‘pedra lavrada’. Segundo Coriolano de Medeiros significa ‘morada das almas’, cemitério. Vem de taba e anga. Por minha vez informo que ‘pedra lavrada’ em tupi é itacoatiara ou ainda itaquatiá. Itabaiana é que não é...

Muito curioso que esse doutor Francisco Pinto ignore a Pedra Lavrada paraibana que, nove anos an-tes dele perambular pelo sertão, já era freguesia... 19 de agosto de 1859 (14)”. Em 1953, o padre paraibano Francisco Lima publicou

o artigo “Vestígios de uma civilização pré-histórica”. O referido padre tentou encontrar aquela inscrição da Pedra Lavrada, copiada anteriormente pelo engenheiro Retumba. Com tal intuito, o referido pesquisador Francisco Lima di-rigiu-se à cidade paraibana de Pedra Lavrada:

“Dou sobre a inscrição mais importante da Pedra

Lavrada o meu testemunho pessoal. Estive ao pé do rochedo onde ela se acha gravada, à borda de um po-

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ço que acumula as águas do riacho de que fala Corio-lano, e atesto in fide sacerdotis et gradus mei que lá estava a palavra Helios (Sol), conforme a interpreta-ção de Bernardo Ramos. Vi mais várias letras gregas destacadas ou conjugadas, mas perfeitamente legíveis, em baixo relevo, rasgadas em plena rocha.

Chamei no momento um rapazinho do local, mostrei-lhe a palavra Helios e lhe pedi que enunciasse as letras. Ele as enunciou claramente: um H (o eta grego), um A sem o traço do centro (o lambda grego), um I (o iota grego), um W (o omega grego). O sigma não era visível.

Conclusões deste trabalho: a inscrição mais no-tável da Pedra Lavrada na Paraíba, não está grafada em fenício (cananeu) mas em grego (15)”.

Àqueles que pretendam visitar a Pedra Lavrada, esclarecemos que o lajedo encontrado e examinado por Pinto, Retumba e Schwennhagen, no qual existe a célebre inscrição fica localizado na margem esquerda do rio Seridó, cerca de 3 quilômetros da cidade de Jardim do Seridó. Aquela possível inscrição fenícia encontra-se atualmente sob a areia de uma barragem, construída em local contíguo à chamada ‘Ponte velha’ do rio Seridó. Tal foi o melancólico destino daquela inscrição, considerada por Schwennhagen o mais im-portante petróglifo em território brasileiro!...

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___________________ (1) SCHWENNHAGEN, Ludovico. As inscrições Petroglíficas de Jardim do Seridó. (2) ADONIAS, Isa. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 150 anos, p. 53. (3) ALENCAR ARARIPE, Tristão de. Cidades Petrificadas e Inscrições Rupestres no Brasil, pp.234-237. (4) JOFFILY, Irenêo . Notas sobre a Paraíba, p.86. (5) COSTA, Cândido. As Duas Américas, pp. 42-43. (6) LYRA, TAVARES, João de. A Paraíba, pp. 162-205. (7) CARVALHO Alfredo de. Pré-História Sul-Americana, pp. 104-107. (8) MEDEIROS, Coriolano de. Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba, p.78. (9) MORAES, Luciano Jacques. Inscrições Rupestres no Brasil, pp. 26-27. (10) SCHWENNHAGEN Ludovico. As Inscrições da Pedra Lavrada e as Riquezas Minerais da Serra da Coruja. (11) __________. As Inscrições Petroglíficas de Jardim do Seridó. (12) LIMA, Nestor. Jardim do Seridó, o Município, pp. 172-173. (13) SILVA RAMOS, Bernardo de Azevedo da. Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica, Especialmente do Brasil, 1o vol. pp. XXVI e 263. (14) CÂMARA CASCUDO, Luís da. Sobre os Petróglifos de Jardim do Seridó. (15) LIMA, Pe. Francisco. Vestígios de uma Civilização Pré-Histórica, pp. 127-128.

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A Pedra Lavrada, redescoberta pelo prof. Schwennhagen, en-contra-se sob uma camada de areia, no interior da barragem vi-zinha à chamada “ponte velha” do rio Seridó. O local fica dis-tanciado três quilômetros da cidade de Jardim do Seridó RN.

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Gravura reproduzida do livro INSTITUTO HISTÓRICO E GE-OGRÁFICO BRASILEIRO, 150 ANOS, retratando a chamada “Inscrição da Pedra Lavrada, na província da Paraíba”. Na reali-dade, fica no sítio Pedra Lavrada – Jardim do Seridó RN. Dese-nho original à tinta preta, 20x30cm, de autoria do engenheiro Francisco Pinto (1864). A inscrição dada de 4 séculos anteriores à nossa era.

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Gravura reproduzida da Revista do Instituto Histórico e Geográ-fico Brasileiro, Tomo L, 1887, retratando a “Inscrição da Pedra Lavrada na Província da Paraíba”. Desenho de autoria do enge-nheiro Francisco Soares da Silva Retumba (1886).

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BERNARDO RAMOS, em seu livro “Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica”, II vol., pp.32-59, apresenta a sua inter-pretação da Pedra Lavrada de Jardim do Seridó.

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700 / Signos / Capricórnio / Pégaso / Peixe / Carneiro / Touro / Dióscros / Caranguejo / Leão / Virgem / Balança / Escorpião / Sagitário / Vênus / Serpentuário / Hidra / Serpente / Cisne / Staurus / Iléias / Hyades / Centauro / Baleia / Orion / Ursa Mai-or / Ursa Menor / Boeiro / Coroa (boreal) / Hércules / Lira / Eri-dano / Perseu / Águia / Cão Pequeno / Molossos / Lebre / Del-fim / Cérbero / Lobo / Íris/Flecha / Triângulo / Júpiter / Marte / Luz / Sol / Saturno / Mercúrio / Terra / Cocheiro / Taça / Corvo / Navio / Altar /.

Como verificamos, tudo relacionado com Planetas, Signos e Constelações...

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INTERPRETAÇÃO DOS PETRÓGLIFOS: Forte multi-

dão de pedra preciosa. Júpiter Deus Justo e Equitativo! Pois bem, seja Isis tão grande quanto considerável deusa. Deus tão grande quanto considerável.

Petróglifos copiados por Luciano Jacques de Moraes, constantes do seu livro “Inscrições Rupestres no Brasil”. Figuras encontradas em Pedra Lavrada, à época pertencente ao municí-pio paraibano de Picuí.

A interpretação das inscrições acima figura no livro “Ins-crições e Tradições da América Pré-Histórica”, de Bernardo Ramos, vol. II, pp. 70-71. As inscrições têm origem grega.

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TRADUÇÃO DOS PETRÓGLIFOS: Ao pobre indigente,

sem vida ou meios de viver é dado por Júpiter, Deus, Bens e Fortuna.

Petróglifos copiados por Luciano Jacques de Moraes,

constantes do seu livro “Inscrições Rupestres no Brasil”. Figuras encontradas em Pedra Lavrada, à época pertencente ao municí-pio paraibano de Picuí.

A interpretação das inscrições acima figura no livro “Ins-crições e Tradições da América Pré-Histórica”, de Bernardo Ramos, vol. II, pp. 68-69. As inscrições têm origem grega.

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AS PINTURAS RUPESTRES DA “CASA SANTA”,

EM CARNAÚBA DOS DANTAS

José de Azevedo Dantas, natural de Carnaúba dos

Dantas/RN, nasceu em 1878 e faleceu em 29 de junho de 1929. Entre os anos de 1924 e 1926, José de Azevedo Dan-tas realizou a extraordinária tarefa de copiar numerosas pinturas indígenas nas serras da região do Seridó. Autodi-data, o sertanejo elaborou um calhamaço de 307 páginas, intitulado “Indícios de Uma Civilização Antiquíssima”, no qual incluiu trezentas lâminas, por ele próprio desenhadas, reproduzindo as gravuras indígenas pesquisadas.

Falecido José de Azevedo Dantas, o seu irmão Ma-mede de Azevedo Dantas ofereceu o preciosíssimo manus-crito ao Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, por intermédio do Dr. Flávio Maroja Filho.

Em 1953, o cônego doutor Florentino Barbosa publi-cou o trabalho “Inscrições indígenas gravadas no rochedo do Bojo”, focalizando principalmente “um dos conjuntos mais interessantes e belos do estilo Seridó e provavelmente de toda a pintura rupestre brasileira”, no entender da arque-óloga Gabriela Martin.

Analisando os desenhos do rochedo do Bojo, Floren-

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tino Barbosa assim concluiu:

“Observando-se bem os desenhos, vê-se clara-mente uma mistura desordenada de animais de várias espécies e de homens, entre os quais alguns tentando subir por uns paus, em atitude de quem procura esca-par de algum perigo.

Além destas gravuras, encontram-se muitas ou-tras representando embarcações, tapetes e muitos ou-tros objetos semelhantes àqueles que Franz Lorenz colheu dos tempos do imperador Fu-hi, fundador do império chinês, quando a escritura era feita por meio de caracteres primitivos ou figuras de animais e obje-tos que lembram os sinais gravados nas pedras pelos nossos índios (1)”.

Em 1966, Oswaldo Câmara de Souza, então represen-

tante do IPHAN no Estado do Rio Grande do Norte, viajou à fazenda Logradouro, em Carnaúba dos Dantas/RN, à pro-cura da “Casa Santa”, situada à margem do riacho do Bojo, tributário do rio Carnaúba, afluente do rio Seridó.

Assim descreveu Oswaldo de Souza, os desenhos ru-pestres da “Casa Santa”, anteriormente visitados e copiados por José de Azevedo Dantas:

“À primeira vista, os desenhos de ‘Casa Santa’

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lembram caracteres da escritura dos antigos egípcios e fenícios, fazendo supor a existência de restos de uma civilização da pré-história, que ali deixara perpetuada uma escritura simbólica, até o momento, não decifra-da e cujo significado, pode descrever aspectos das emigrações de um povo antiquíssimo, que teria assi-nalado na pedra, aqui e ali, marcas dos seus itinerários e a lembrança de seus feitos. Vale assinalar, que esta manifestação artística ainda não foi estudada pelos arqueólogos brasileiros.

Esse desinteresse é responsável por uma infini-dade de interpretações apressadas, dando margem a teorias imaginárias, como é o caso de atribuírem às inscrições de ‘Casa Santa’ origem fenícia, quando, a nosso ver, não passam de uma pictografia indígena muito anterior à colonização”.

“As pinturas reproduzem cenas de caça, de pes-

ca, figuras simbólicas, barcas de feição egípcia; dese-nhos no feitio de pente carajá, figuras humanas, com lanças nas mãos, uma delas, em atitude de defesa, protegida por uma espécie de escudo, curiosa epigra-fia, que está carecendo da análise e decifração de um bom arqueólogo (2)”.

Em 1971, o pesquisador Oswaldo de Souza realizou

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uma segunda visita à “Casa Santa”, fazendo-lhe companhia o professor de arte fotográfica Carlos Lyra, que na ocasião colheu ótimos flagrantes dos desenhos existentes no roche-do do Bojo.

Em 1980, a professora e arqueólogo Gabriela Martin principiou uma importante pesquisa na “Casa Santa”, na qual foi auxiliada por um grupo de colaboradores. A pes-quisa desenvolvida por Gabriela Martin foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-nológico – CNpq (3) (4) (5) (6).

A professora Gabriela Martin batizou de “Grande Painel”, à maior concentração de pinturas. As demais pe-trogravuras espalhadas pelo abrigo foram estudadas por cenas, que são em número de treze. Segundo Gabriela, as gravuras formam uma “seqüência ininterrupta de usos e costumes do grupo humano retratado”. Os desenhos repre-sentam combates ou lutas, danças, caçadas e, até, um ato sexual.

No tocante às figuras antropomorfas existentes, apa-recem guerreiros, alguns pintados “numa cor vermelho es-cura” e outros, “na cor branca”. Também são retratadas mulheres e crianças.

Segundo Gabriela Martin, vêem-se indivíduos portan-do “antenas” sobre a cabeça; outros, com vastos cocares; e alguns, com “máscaras” semelhantes a longos chifres. Di-versos combatentes conduzem nos braços, pendurados, ob-

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jetos que lembram bolsas; outros personagens usam saias confeccionadas de fibra.

No que tange às armas portadas pelos guerreiros, apa-recem bordunas ou maças, arcos e setas.

No painel vêem-se armadilhas de caça. Também cin-co embarcações, de três tipos diferentes. A professora Ga-briela interpretou tais embarcações como sendo pirogas. Três delas apresentam características bem simples, sendo, ao que tudo indica, canoas impulsionadas a remo. Uma quarta embarcação é descrita pela arqueóloga Gabriela, como sendo “na cor vermelha com remos”. A quinta apre-senta um “desenho muito cuidado, em vermelho sobre branco”, “com desenho pintado no casco”.

No Grande Painel vêem-se também dois tapetes, “que imitam trançado ou pintado em vermelho e branco”.

Figuram no rochedo do Bojo: emas, papagaios e ara-ras; mamíferos, como veados e onças; e um animal que lembra um quelônio.

Segundo Gabriela Martin, “as pinturas do estilo Seri-dó foram realizadas com pincel muito fino e traço firme, geralmente com tinta vermelha; também foi utilizado o a-marelo, o branco e o preto em menor quantidade”. Aquela arqueóloga calcula que as inscrições encontradas no roche-do do Bojo tenham sido executadas em torno de 2000 e 1500 AP (de 50 anos a.C. ao ano 450 da era cristã), quando começava no Nordeste incipiente agricultura.

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No tocante à identificação dos responsáveis pela exe-cução das pinturas do estilo Seridó, esclarece Gabriela Martin: “Infelizmente não possuímos ainda elementos da cultura material dos grupos tratados. As sondagens realiza-das nos abrigos que apresentam algum sedimento foram infrutíferas. Os abrigos do estilo Seridó, até agora pesqui-sados, não eram de habitação e nenhum material arqueoló-gico foi achado por perto”.

Com o intuito de melhor identificar ou interpretar as pinturas existentes na “Casa Santa”, Gabriela Martin con-tou com a colaboração de uma artista plástica e de uma an-tropóloga cultural, “para evitar que predomine única e ex-clusivamente a visão do arqueólogo, possivelmente objeti-va demais”.

Alguns estudiosos discordam da interpretação dada pela professora Gabriela Martin, relacionada com as pintu-ras da “Casa Santa”, preferindo uma outra explicação, al-ternativa:

1 – Uma cena de combate destaca-se no chamado

“Grande Painel”. A presença de embarcações no local do combate, leva a supor tenha o mesmo ocorrido em uma praia marítima, pois os rios do Seridó devido à sua natureza intermitente, não permitiam navegação mesmo em canoas ou pirogas. É possível que os autores do “Grande Painel” tenham sido indígenas nômades, moradores no semi-árido

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seridoense, que teriam presenciado, ou talvez participado do mencionado combate. Os antigos relatos que descrevem a atuação dos indígenas moradores no semi-árido norte-rio-grandense, mencionam o fato de que os tapuias se dirigiam anualmente ao litoral da capitania, durante o período da seca, à procura de alimentação.

2 – As embarcações retratadas no “Grande Painel”,

identificadas como pirogas por Gabriela Martin, teriam possibilitado a um dos grupos envolvidos na batalha reali-zar o desembarque em uma praia litorânea. Na ocasião os adventícios teriam sido atacados por um grupo morador na praia, ou por uma cabilda de nômades de passagem pelo local. Uma das embarcações retratadas no “Grande Painel” ostenta um mastro preso por cordas (enxárcias). Outra em-barcação apresenta uma forte semelhança com galés fení-cias.

3 – Ao que parece, as “máscaras” podem ser capace-

tes, cuja finalidade era de proteger a cabeça dos guerreiros. 4 – Os objetos de formato arredondado portados por

alguns guerreiros, interpretados como “bolsas” por Gabrie-la Martin, mais parecem ser escudos, presos por uma cor-reia a um dos antebraços de seus portadores. Não é crível que um guerreiro ocupado em combate, insistisse em não

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se separar de sua “bolsa”, “teimosia” que lhe tolheria e em-baraçaria os movimentos físicos...

_________________________ (1) BARBOSA, Côn. Dr. Florentino. Inscrições indígenas gravadas no ro-chedo do Bojo, p.111; (2) CÂMARA DE SOUZA, Oswaldo. Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte, p.387; (3) MARTIN, Gabriela. “Casa Santa”: um abrigo com pinturas rupestres no estilo Seridó, no Rio Grande do Norte, pp.55-80; (4) MARTIN, Gabriela. Amor, violência e solidariedade no testemunho da arte rupestre brasileira, pp. 27 e 37; (5) _____________. Arte rupestre no Seridó (RN): o sítio “Mirador” no Bo-queirão de Parelhas, pp. 81 e 96; (7) MARTIN, Gabriela & AGUIAR, Alice. Arte pré-histórica dos índios do

Nordeste do Brasil, pp. 87-94.

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A montagem apresenta cinco embarcações que figuram nos pe-

tróglifos do “Grande Painel” da Casa Santa, em Carnaúba dos Dantas. Segundo Gabriela Martin, em seu artigo “Casa Santa, um abrigo com pinturas rupestres no estilo Seridó, no Rio Grande do Norte”, tais em-barcações seriam simples “pirogas com remos”.

Note-se a semelhança existente entre a 5a embarcações, pintada no Rochedo do Bojo, e uma galé fenícia (fonte: “História Universal”, de Guilherme Oncken, II volume, capítulo sobre os fenícios).

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Máscaras portadas pelos combatentes, ou capacetes? A segunda

hipótese parece mais plausível.

Simples bolsas conduzidas pelos guerreiro em combate, ou es-

cudos? Ficamos com a segunda hipótese.

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AS PINTURAS RUPESTRES DO SÍTIO MIRADOR,

NO BOQUEIRÃO DE PARELHAS Em 1972, Oswaldo Câmara de Souza, representante

do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Estado do Rio Grande do Norte, realizou uma visita às pinturas rupestres existentes na Fazenda Mirador, em Boqueirão de Parelhas, neste Estado. O professor Car-los Lyra, acompanhando Oswaldo de Souza na visita, fixou fotograficamente aquelas pinturas (1).

Em 1985, a professora Gabriela Martin publicou um estudo sobre a arte rupestre do Seridó, em que abordou as pinturas existentes no sítio Mirador. Gabriela Martin identi-ficou a presença no Seridó, em tempos remotíssimos, de grupos humanos conhecedores da navegação fluvial: “pelos desenhos de pirogas e remos, sabemos que eram grupos conhecedores da navegação fluvial e que decoravam suas embarcações com desenhos geométricos”. No mesmo estu-do, Gabriela Martin reproduz a figura de uma “piroga com dois remos”, encontrada na fazenda Mirador.

Data venia, a “piroga com dois remos” assemelha-se mais a uma barco de dois mastros, com suas cordoalhas (enxárcias). A referida “piroga” apresenta maior complexi-dade do que as duas embarcações pintadas no “Grande Pai-

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nel” da Casa Santa, em Carnaúba dos Dantas; pois estas somente ostentam um único mastro.

Gabriela Martin dividiu o sítio em cinco grandes pai-néis pictóricos, para maior facilidade no estudo e identifi-cação das pinturas.

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Gravura encontrada no Sítio “Mirador” (Parelhas/RN), interpretada por Gabriela Martin como representando uma “Piroga com dois re-mos”. Para alguns, seria uma embarcação de dois mastros, com suas cordoalhas (enxárcias). Fonte: Arte Rupestre no Seridó (RN): o sítio “Mirador” no Boqueirão de Parelhas, de autoria de Gabriela Martin, in. Rev. do Curso de Mes-trado em História, nº 7. ____________________ (1) CÂMARA DE SOUZA, Oswaldo. Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte, pp.411-415; (2) MARTIN, Gabriela. Arte Rupestre no Seridó (RN): o sítio “Mirador” no Boqueirão de Parelhas, pp.81-95.

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AS PINTURAS RUPESTRES NO SÍTIO PEDRA DO ALEXANDRE,

EM CARNAÚBA DOS DANTAS

A professora Gabriela Martin realizou pesquisas ar-queológicas no sítio “Pedra do Alexandre”, no município norte-rio-grandense de Carnaúba dos Dantas (RN). No chamado “Abrigo do Alexandre”, também conhecido como “Pedra do Chapéu”, no riacho do Ermo, tributário do rio Carnaúba, por sua vez afluente do Seridó, a equipe dirigida por Gabriela Martin encontrou, inclusive, grafismos repre-sentando pirogas, o que indicaria a presença, em épocas remotas, de rios navegáveis na região seridoense.

Gabriela Martin encontrou 12 representações de piro-gas, com dimensões diversas, algumas delas com figuras humanas. Uma dessas pinturas apresenta um grupo de 8 figurantes, dentre os quais destaca-se um indivíduo mais elevado, portador de um longo cocar, que parece chefiar o grupo (1). ____________________ (1) MARTIN, Gabriela. O Cemitério Pré-histórico “Pedra do Alexandre” em Carnaúba dos Dantas, RN (Brasil), pp. 43-57.

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Detalhes do painel existente na “Pedra do Alexandre”, representando embarcações. Fonte: “O cemitério pré-histórico ‘Pedra do Alexandre’ em Carnaúba dos Dantas RN (Brasil)”, por Gabriela Martin.

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