os dias e a matrix

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7/23/2019 Os dias e a matrix http://slidepdf.com/reader/full/os-dias-e-a-matrix 1/2 Os dias e a matrix O sistema não brinca em serviço, aliás, está sempre trabalhando. Ele criou os dias “especiais” sob a batuta das mais avançadas ferramentas comportamentais para indução de consumo. Assim, temos o dia da mãe, dos pais, das crianças, dos namorados, do amigo, da mulher (do homem ainda não tem)... e, agora, o “Dia dos Avós”. Em breve, teremos o “Dia dos Bisavós”, o “Dia dos Netos”, dos bisnetos, e dias sobre dias, sempre inculcando o consumismo exacerbado, cujos produtos de descarte poluem a Terra, nossa casa comum. Interessante notar que o sistema também criou o dia dos seus escravos, o 1º de Maio, “Dia Mundial do Trabalho”, quando todos cruzam os braços... Ora, não precisamos da ação dos marqueteiros para nos lembrar que nossa mãe é de todos os dias, que nosso amigo é de todas as horas, que a mulher segue junto, que as crianças cresçam livres e todos os dias são seus dia; que os namorados se servem de qualquer pretexto para sempre estarem juntos com lua ou sem lua, enfim, todos os dias são especiais enquanto estamos vivos e cada ser, em sua particularidade, deve ser respeitado. Será que no “Dia dos Namorados” se eu não meter a mão no bolso serei defenestrado pela namorada e vice-versa? E se eu esquecer de telefonar para a mamãe no seu “Dia”? Certamente, pelo marketing de anos, serei visto com um filho ingrato, mesmo que tenha telefonado durante o ano inteiro! “Esqueceu de sua mãe, né?” São essas miríades de teias que prendem o ser humano à Matrix, aos reptilianos, entretendo-o durante o tempo todo para evitar que pense por si próprio. A TV e outras mídias impõem suas escolhas na moda, na alimentação, no lazer... nas eleições, em tudo! Nada mais jocoso de que uma peça de roupa feminina bombar e a gente ver na cidade um monte de mulheres na “moda”. Assim com uma bolsa que custa mais de vinte mil dólares simplesmente pela marca, pois uma artesanal carrega as mesmas coisas e é tão mais “in” que a marca famosa. Paga-se uma fortuna por uma peça de roupa e nega-se um prato de comida a um faminto! Aff! O minimalismo é a solução! Quanto menos posses tivermos, mais liberdade teremos. Lembro de uma máxima dos irmãos nambiquaras: “O que é seu é tudo aquilo que você pode carregar no xiri (balaio costal para cargas)”. 

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Os dias e a matrix

O sistema não brinca em serviço, aliás, está sempre trabalhando. Ele criou os dias

“especiais” sob a batuta das mais avançadas ferramentas comportamentais para

indução de consumo. Assim, temos o dia da mãe, dos pais, das crianças, dos

namorados, do amigo, da mulher (do homem ainda não tem)... e, agora, o “Dia dos

Avós”. Em breve, teremos o “Dia dos Bisavós”, o “Dia dos Netos”, dos bisnetos, e dias

sobre dias, sempre inculcando o consumismo exacerbado, cujos produtos de descartepoluem a Terra, nossa casa comum. Interessante notar que o sistema também criou o

dia dos seus escravos, o 1º de Maio, “Dia Mundial do Trabalho”, quando todos cruzam

os braços...

Ora, não precisamos da ação dos marqueteiros para nos lembrar que nossa mãe é de

todos os dias, que nosso amigo é de todas as horas, que a mulher segue junto, que as

crianças cresçam livres e todos os dias são seus dia; que os namorados se servem de

qualquer pretexto para sempre estarem juntos com lua ou sem lua, enfim, todos os

dias são especiais enquanto estamos vivos e cada ser, em sua particularidade, deve ser

respeitado.

Será que no “Dia dos Namorados” se eu não meter a mão no bolso serei defenestrado

pela namorada e vice-versa? E se eu esquecer de telefonar para a mamãe no seu

“Dia”? Certamente, pelo marketing de anos, serei visto com um filho ingrato, mesmo

que tenha telefonado durante o ano inteiro! “Esqueceu de sua mãe, né?” 

São essas miríades de teias que prendem o ser humano à Matrix, aos reptilianos,

entretendo-o durante o tempo todo para evitar que pense por si próprio. A TV e outras

mídias impõem suas escolhas na moda, na alimentação, no lazer... nas eleições, emtudo! Nada mais jocoso de que uma peça de roupa feminina bombar e a gente ver na

cidade um monte de mulheres na “moda”. Assim com uma bolsa que custa mais de

vinte mil dólares simplesmente pela marca, pois uma artesanal carrega as mesmas

coisas e é tão mais “in” que a marca famosa.  Paga-se uma fortuna por uma peça de

roupa e nega-se um prato de comida a um faminto!

Aff! O minimalismo é a solução! Quanto menos posses tivermos, mais liberdade

teremos. Lembro de uma máxima dos irmãos nambiquaras: “O que é seu é tudo aquilo

que você pode carregar no xiri (balaio costal para cargas)”. 

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Jane Birkin pede que Hermès retire seu nome da bolsa, que custa a bagatela dee R$74

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