os dez equívocos do teatro infantil
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8/3/2019 Os dez equvocos do teatro infantil
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Os dez equvocos do teatro infantil
Dib Carneiro Neto
Leia a lista dos vcios mais freqentes presentes em peas dirigidas
a crianas e adolescentes
A seguir, uma lista dos defeitos mais comuns.
1) Excesso de intenes didticas - No preciso ser explcito,
criana capaz de entender sugestes, simbologias. Arte feita de
alegorias, de metforas. Estranheza saudvel. Criana temcapacidade de interpretar o que v.
2) Uso de humor fcil e grosseiro - Muitos autores lanam mo de
bordes televisivos para fazer a platia rir ("da hora", "falasrio", "faz parte"). Isso cria no autor um falso retorno de
aprovao do humor da pea. Essa facilidade de recorrer a bordes
chulos e vazios da TV um recurso pobre, que s escancara aincapacidade do autor de criar situaes engraadas por elas mesmas.
3) Excesso de efeitos multimdias - Muitos autores ficaram com idiade que, para atingir o jovem no teatro, basta levar para o palco os
recursos tecnolgicos a que esse jovem est acostumado a lidar, ou
seja, a linguagem de videoclipe, a rapidez da internet, as cenas pr-
gravadas em vdeo e exibidas em teles em cima do palco. Mesclarlinguagens artsticas diferenciadas uma atitude at coerente com o
universo adolescente. Mas abusar disso lamentvel e afasta os
autores das especificidades da carpintaria dramatrgica.
4) A obsesso pela lio de moral - Teatro infantil no tem a
obrigao de encerrar em si uma bela lio construtiva. Em vez dodedo em riste e da lio de moral, vale mais a pena, e at mais
honesto, tentar contar livremente uma histria e deixar que a criana
se identifique, que a criana a vivencie por si mesma. No necessrio invadir o imaginrio da criana com regras de conduta.
5) Edulcorao dos contos de fadas - Os contos de fadas nasceram
muito mais realistas, muito mais cruis do que eles so hoje.Hollywood e os estdios de Walt Disney transformaram tudo em final
feliz, valorizando excessivamente o triunfo do amor e da bondade.
Reduziram o poder transformador de um conto de fadas, minando neles acapacidade de fazer uma criana amadurecer. Um conto de fadas oferece
significados em muitos nveis diferentes e enriquece a existncia da
criana em muitos modos.
6) Participao forada da platia - At hoje, muitos autores de
teatro infantil reproduzem aquela velha cena em que um personagem se
esconde do outro e quem procura se dirige platia com a infalvelpergunta: "Pra onde ele foi?" A garotada e at os pais entram no jogo
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e l se vo uns dez minutos de "Foi pra l", "No, foi por
ali", "Agora, est aqui" e assim por diante. O autor fica feliz
porque acha que conseguiu promover uma interao do espetculo com opblico. Quem foi que disse que, para estar interagindo com o
espetculo, uma criana tem de berrar, sapatear, gritar? O profundo
silncio de uma platia, muitas vezes, a maior prova da interao,da comunicao com o espetculo.
7) Obsesso pela segmentao - Existe hoje uma tendnciamercadolgica castrante e limitadora, que segue distribuindo rtulos
em profuso s manifestaes artsticas, enquadrando tudo em faixas
etrias, dividindo o mundo em categorias fechadas, acomodando a arteem gneros estabelecidos. Teatro infantil , antes de tudo, teatro. E
como tal, no mximo, pode ser classificado por sua boa ou m
qualidade.
8) Uso abusivo e despreparado da linguagem dos clowns - Proliferam
pelos palcos montagens em que os autores encaixam uma bola vermelha
na ponta do nariz e acham que isso, por si s, j faz um espetculoteatral. A linguagem do clown difcil, especializada, deve ser
trabalhada com rigor, com muito critrio e criatividade. As crianas
so submetidas no palco a tpicos shows de palhaos de festinhas deaniversrio e os pais saem achando que levaram o filho ao teatro
infantil. Isso tambm vale para os espetculos de bonecos. No bastar
comprar fantoches no loja da esquina e montar um espetculo. Artistas
estudam anos e anos para entender da arte de manipulao de bonecos.
9) Dilogos mal escritos e ineficientes - Dramaturgia antes de tudo
literatura e, por isso, deve ter todos os compromissos com aprofundidade e a criatividade da literatura, sem perder o p da
oralidade. O discurso teatral uma expresso artstica que tem de
ser encarada com responsabilidade, porque o texto dramtico tem acapacidade especfica de reproduzir as falas sociais, as aspiraes,
os sonhos e as esperanas. Pea infantil com dilogos descuidados,
frases mal construdas, idias truncadas, um mau teatro.
10) Mercantilizao do espetculo teatral - H quem no seja to
rigoroso com relao a esse aspecto, mas realizar sorteios de
produtos no final dos espetculos um desvirtuamento da funo doteatro, um mercantilismo desnecessrio. A criana tem de levantar
da poltrona concentrada no que viu, na arte que desfilou pelo palco o
tempo todo e no preocupada se o nmero de sua poltrona vai ser onmero sorteado para ganhar os brindes. Teatro no programa de
auditrio.
--Conceio Rosire