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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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A QUÍMICA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS: UMA PROPOSTA DE

EXPERIMENTAÇÃO E INVESTIGAÇÃO

Luciana Schuster 1

Conceição de Fátima Olguin2

RESUMO: Muitos temas que fazem parte do cotidiano do aluno, podem ser utilizados em sala de

aula, na disciplina de Química. Dentre eles destacam-se a Química dos óleos essenciais. Tema este

que foi escolhido como ferramenta para o ensino da Química Orgânica, dentro de uma perspectiva

investigativa. As atividades foram organizadas em três momentos: no primeiro momento foi explorado

a história e a composição dos perfumes, a partir de atividades de pesquisa, e da organização de uma

exposição com perfumes e materiais do cotidiano, encerrando com uma atividade experimental de

extração de óleos essenciais, no segundo momento foi priorizado a pesquisa bibliográfica como

metodologia para a busca dos conceitos químicos: representação dos compostos e a sua

classificação. E por fim no terceiro momento para o estudo das funções orgânicas presentes nas

estruturas das substâncias dos óleos essenciais foi utilizado uma atividade lúdica, com cartelas com

as cadeias dos óleos essenciais impressas. De maneira geral houve uma boa participação dos alunos

nas atividades propostas, demostrando que quando trabalhamos os conteúdos a partir de temas do

cotidiano, e de uma metodologia que priorize a participação do aluno, o processo se torna mais

significativo para o aluno e a sua participação nas aulas de química se torna mais efetiva.

PALAVRAS - CHAVE: Experimentação; Investigação; Pesquisa bibliográfica; Óleos essenciais;

Química orgânica.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, vivenciamos uma crise no sistema de ensino, de um lado o que

ensinamos e de outro, o que de fato é importante para nossos alunos apreenderem.

Segundo relatos da Promedlac IV (Projeto Principal de Educação da América Latina

e do Caribe, 1991 apud TORRES, 1994, p. 13) “há um esgotamento do velho

modelo educativo, que cumpriu sua função, mas que não atende mais todas as

necessidades” emerge assim a necessidade de uma mudança profunda e integral,

1 Professora PDE 2013-2014 - Colégio Estadual Pato Bragado., Formação: Ciências com habilitação em Química.

2 Orientadora, docente da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

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não só dos conteúdos que fazem parte da grade curricular, mas a forma como são

apresentados e trabalhados no contexto escolar.

Nos últimos tempos, verifica-se que os alunos apresentam dificuldades na

aprendizagem, e que costumam ter aversão aos conteúdos das áreas de exatas,

dentre elas os de Química, por considera-la sem sentido e de difícil compreensão.

Isto porque, atualmente o ensino de química vem sendo marcado pela memorização

de uma grande quantidade de informações que lhes são cobrados para uma

posterior aprovação, estando distante assim do cotidiano do aluno.

Uma das grandes barreiras no aprendizado da química é a dificuldade de

correlacionar os conceitos vistos em sala de aula com o cotidiano, além da

abstração desses conteúdos. Dentre muitos fatores, a metodologia de ensino

apenas discursiva, baseada apenas no mero repasse de informações, é apontada

como um dos motivos de desinteresse e do pouco aprendizado dos alunos. Isto nos

leva a refletir sobre nossa prática de ensino e de como podemos utilizar a didática

para melhorar o processo de ensino aprendizagem.

Segundo Guimarães (2009, p.13):

A aprendizagem se dará por meio de uma metodologia que promova a ação do estudante, no sentido de refletir, buscar explicações e participar das etapas de um processo que leva á resolução de problemas, análise de experimentos, leitura e comparação de diferentes textos, elaboração de seminários e exposições orais e escritas, ou seja, por meio de atividades pelas quais os educandos, mediados pelo professor, possam construir o conhecimento.

A teoria da aprendizagem significativa determina que professor e aluno

desempenham uma participação ativa no desenvolvimento do conhecimento,

cabendo porém ao professor a escolha dos recursos didáticos apropriados.

Com o grande avanço tecnológico, a Química vem ocupando um lugar de

destaque dentro de nossa sociedade. E cada vez mais, se faz necessário aos

homens terem conhecimentos químicos para atuar e agir dentro desta sociedade.

Como Santos e Schnestzler (2003, p. 50) afirmam:

A química do ensino médio não pode ser ensinada com um fim em si mesma, senão estaremos fugindo do fim maior da educação básica, que é assegurada ao indivíduo a formação que o habilitará a participar como cidadão na vida em sociedade. Isso implica um ensino contextualizado, no qual o foco para o exercício consciente da cidadania.

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Desta forma “o ensino de química no contexto de formar cidadão, deve

prepará-lo para que compreenda e faça uso das informações básicas para a sua

participação na sociedade” (SANTOS; SCHNESTZLER, 2003, p. 94). Dentro deste

contexto, a escolha da investigação como metodologia para o desenvolvimento

deste projeto, visa o incentivo dos alunos do ensino médio a se interessar pelo

conhecimento químico. Dentro deste caráter investigativo, foram propostas

atividades de experimentação, pesquisa e atividades lúdicas, como instrumentos

para favorecer a apropriação efetiva do conhecimento.

A experimentação é muito importante, pois consegue atrair a atenção do

aluno e segundo Santos e Schnestzler (2003, p. 107), “a inclusão da

experimentação no ensino de química, se justifica em função do seu papel

investigativo e pedagógico de auxiliar o aluno na compreensão dos fenômenos

químicos”.

A pesquisa se constitui numa ferramenta interessante pois atualmente as

fontes de informações estão muito presentes no cotidiano dos nossos alunos, cabe

ao professor aproveitar este vasto acervo de informações e utilizá-las como fonte de

pesquisa nas aulas de Química.

A utilização de atividades lúdicas neste processo, serve de estímulo á

resolução de problemas, pois a partir da exploração das possibilidades se cria um

clima adequado para a investigação e a busca de soluções. E de acordo com

Soares (2008, p.48) “a ideia de jogo educativo quer aproximar o caráter lúdico

existente no jogo à possibilidade de se aprimorar o desenvolvimento cognitivo”.

As Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, na disciplina de Química

(PARANÁ, 2008, p. 28), chama a atenção para a importância da práxis no processo

pedagógico, destacando que a mesma contribui para que o conhecimento ganhe

significado para o aluno, de forma que aquilo que lhe parece sem sentido seja

problematizado e aprendido.

Muitos temas que fazem parte do cotidiano do aluno poderiam ser utilizados

como tema central para o desenvolvimento deste projeto. Dentre eles, foi escolhido

as fragrâncias e as essências, pelo fato de ocuparem um lugar de destaque, uma

vez que atualmente, na sociedade em que vivemos a beleza e o bem estar são

muito valorizados.

Os perfumes são soluções que contém substâncias químicas aromáticas com

cheiro agradável, que podem ser obtidas a partir de óleos essenciais extraídos de

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fontes naturais ou a partir da síntese orgânica. Assim, a proposta deste projeto é

trabalhar com alguns conteúdos de Química Orgânica a partir da Química dos Óleos

Essenciais, numa perspectiva investigativa, através da experimentação, pesquisa e

atividade lúdica.

2 METODOLOGIA

Este projeto foi desenvolvido com 21 alunos de uma turma de 3ª série

matutina do Ensino Médio do Colégio Estadual Pato Bragado. Para facilitar a

organização do trabalho pedagógico, as atividades foram organizadas em três

momentos: Conhecendo os perfumes, Pesquisando conceitos químicos e

Reconhecendo as funções orgânicas presentes nos óleos essenciais.

No início de cada atividade, ocorreu uma discussão orientada pelo professor,

sobre o tema proposto. O objetivo foi uma sondagem dos conhecimentos prévios

dos alunos a cerca do assunto a ser trabalhado, bem como o registro destes

comentários para uma posterior análise e avaliação. Ao final de cada momento, foi

proposto aos alunos uma atividade complementar com o objetivo de verificar a

apropriação dos conhecimentos químicos estudados.

Os aprofundamentos teóricos foram realizados na forma de slides, textos ou

vídeos.

Primeiro momento: Conhecendo os Perfumes.

Foram desenvolvidas as seguintes atividades:

Aprofundamento teórico, a respeito do sistema olfativo e da definição de

perfumes e sua classificação.

Exibição de vídeo sobre a História do Perfume: localizado no link:

http://youtu.be/k0ihBZlWnlw.

Exposição de perfumes organizado no laboratório da escola, com

perfumes das diferentes famílias olfativas( floral, amadeirado, cítrico, frutal,

ervas, doces), e materiais do cotidiano, como flores, frutas, doces, ervas e

madeiras.

Pesquisa bibliográfica.

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Atividade prática de extração dos óleos essenciais: Para esta, optou-se

por um experimento realizado a partir de materiais alternativos. A atividade

prática encontra-se descrita no texto localizado no link:

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc11/v11 a10.pdf.

Neste trabalho foi utilizado: hortelã, eucalipto, cravo e laranja, por serem

de fácil localização em nossa região.

Segundo momento: Conhecendo os compostos químicos.

Optou-se por uma pesquisa bibliográfica em livros didáticos, orientada a partir

da distribuição das seguintes questões:

1- Todas as plantas são formadas por substâncias químicas?

2- Por que nem todas são utilizadas para produção de perfumes?

3- Como são chamadas as substâncias que formam as plantas e todos os

seres vivos?

4- Será que estas substâncias só podem ser produzidas nos seres vivos?

5- Qual o conceito de Química Orgânica?

6- Quais os elementos formadores dos compostos orgânicos?

7- Dentre estes elementos, um deles é o mais abundante. Qual é este

elemento e quais as propriedades que possibilitam este elemento formar

tantos compostos diferentes?

8- Para que os cientistas pudessem organizar e compartilhar seus

conhecimentos, por convenção é adotada uma única representação para

os compostos. Pesquise quais são as formas de representar um composto

orgânico, e o que esta representação significa.

9- Estes compostos possuem propriedades diferentes se estiverem

organizados de forma diferente. Por isso, os químicos classificam os

compostos segundo a sua organização. Quais são estas classificações, e

quais critérios foram utilizados para a realização desta classificação?

Terceiro momento: Reconhecendo as funções orgânicas presentes nos

óleos essenciais.

A metodologia adotada para o desenvolvimento deste momento foi uma

atividade lúdica-investigativa, a partir de um jogo de cartelas contendo as estruturas

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de algumas substâncias presentes nos óleos essenciais, onde foram escolhidas as

estruturas que contemplassem as funções oxigenadas e também hidrocarbonetos.

Estas cartelas foram confeccionadas antecipadamente, conforme

especificação abaixo:

Cartelas do tamanho de 5 cm de largura, por 7 cm de comprimento.

Em cada cartela foi impressa a estrutura de um composto presente nos

óleos essenciais, observando para que todas as funções oxigenadas e os

hidrocarbonetos saturados e insaturados fossem contemplados.

Foi preparado um jogo de 16 cartelas para cada grupo de 4 alunos,

conforme mostra a figura 1.

Figura 1 - Modelo das cartelas da atividade lúdica

Após a distribuição das cartelas aos grupos, foi solicitado aos alunos que

analisassem as estruturas dos compostos impressos nas cartelas e respondessem

as seguintes questões:

1- Os compostos orgânicos são formados basicamente pelos mesmos

elementos CHONS, mas eles são diferentes uns dos outros. A que se

deve esta diferença?

2- Analisando as estruturas apresentadas nas cartelas é possível agrupar os

compostos em dois grandes grupos? Se for possível, qual a principal

diferença entre eles?

3- Qual o critério utilizado pelo grupo para esta primeira divisão?

4- Analisando as estruturas das substâncias desses grupos, ainda podemos

dividi-los em grupos menores? Quais as características destes novos

grupos?

5- Para que os químicos pudessem estudar os compostos eles foram

agrupados conforme as suas propriedades. Será que existe alguma

relação entre cadeia carbônica e propriedade dos compostos orgânicos?

EUGENOL

ALDÉIDO CINÂMICO

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Na sequência, foi realizado o aprofundamento teórico sobre o conceito de

grupo funcional e identificação dos grupos funcionais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CONHECENDO OS PERFUMES

A atividade se deu a partir de um levantamento dos conhecimentos prévios

dos alunos sobre o conceito de orgânico e sobre o conceito de perfume e como

sentimos os cheiros.

Pois segundo, Santos e Schnestzler (2003, p. 121):

Os procedimentos metodológicos recomendados são aqueles que se enquadram em uma perspectiva construtivista de ensino-aprendizagem, o que significa levar em conta os interesses e os conhecimentos prévios dos alunos e que o processo de ensino seja desenvolvido de forma a possibilitar que o aluno construa e reconstrua o conhecimento.

A maioria dos alunos manifestaram suas opiniões, que foram registradas e

entregue ao professor. Quando os alunos foram questionados a respeito do conceito

de orgânico, apenas um aluno fez referência ao elemento Carbono, todos os demais

relacionaram orgânico com natural, ou a ausência de agrotóxicos no processo de

produção dos alimentos, como pode ser observado nos recortes apresentados no

Quadro 1.

Quadro 1 - Recortes de alguns registros, sobre o conceito de orgânico

Aluno 1

Aluno 2

Aluno 3

Fonte: Dados da pesquisa – 2013-2014

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Quanto á composição dos perfumes, a grande maioria desconhece o conceito

de perfume e a forma de produção dos mesmos, porém eles demostraram ter a

noção de que é uma mistura de várias substâncias, entre elas, as essências.

Após a sondagem dos conhecimentos prévios, foi apresentado aos alunos o

funcionamento do sistema olfativo, a definição de perfumes e sua classificação.

Estes conceitos foram desenvolvidos a partir da exibição de slides, de uma

animação sobre o funcionamento do sistema olfativo e da exibição do vídeo sobre a

História do perfume. O objetivo foi o de reforçar o entendimento dos alunos a cerca

do funcionamento das células olfativas e da importância dos perfumes ao longo da

História e também na atualidade.

Na sequência, os alunos foram convidados a visitar uma exposição

organizada no laboratório de ciências, com materiais do cotidiano e também com

amostras de diferentes perfumes, das diferentes famílias olfativas, conforme

apresentado na figura 2.

Figura 2 -Exposição das famílias olfativas

Fonte: SCHUSTER, 2014

Pois segundo Bizzo (2009, p. 51):

é muito importante que o professor planeje atividades nas quais o aluno possa ter a oportunidade de realizar observações de maneira autônoma [...] isso possibilita desenvolver a capacidade de registros dos estudantes e lhes permite elaborar modelos e explicações de complexidade crescente.

Nesta exposição, os materiais e as amostras de perfumes estavam dispostos

de forma aleatória, para que os alunos sentissem os aromas e conseguissem

relacioná-los com os materiais ali presentes, como por exemplo: rosas, frutas

cítricas, chocolate, plantas aromáticas. Inicialmente, os alunos se mostraram tímidos

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e inseguros em relacionar as amostras de perfumes com os materiais ali dispostos,

mas aos poucos foram se soltando e na sequência da aula, os alunos tiveram uma

boa participação, se tornando assim um momento riquíssimo de troca de ideias, de

conhecimentos e de discussão de possibilidades de classificação das amostras. Ao

final da atividade, os alunos conseguiram chegar a um consenso sobre as

possibilidades de classificação das amostras de perfumes. Por ser uma atividade

que mexe com as emoções dos alunos, esta atividade se confirmou como um

momento prazeroso e de boa aceitação e participação por parte dos alunos. Ao final

da exposição, os alunos expressaram verbalmente suas opiniões, dentre elas se

destacam: “Que legal, os perfumes são feitos com coisas do nosso dia a dia”, “Como

os químicos conseguem tirar o cheiro das coisas e fazer perfume?”, “Será que é

difícil fazer perfume?”, “Nunca imaginei que tinha relação os perfumes com um

pedaço de madeira”, “Por que a gente gosta de um tipo de perfume, e não de

outro?”.

Esta exposição foi organizada levando em consideração o que diz Moran

(2007, p. 8), “não basta colocar os alunos na escola, temos de oferece-los uma

educação instigadora, estimulante, provocativa, dinâmica, ativa desde o começo e

em todos os níveis de ensino”. Se não for assim, ela se torna pouco atraente para os

alunos, e é um dos motivos que leva a evasão escolar no Ensino Médio.

Posteriormente, foi solicitado aos alunos que realizassem uma pesquisa a

partir de questões abertas sobre a composição dos perfumes, a utilização de plantas

no processo de fabricação e quais os métodos mais comuns de extração de óleo

essencial.

As questões abertas, dentro do processo investigativo são importantes, pois

segundo o que afirma Azevedo (2006, p. 29) “levam o aluno a selecionar e organizar

informações para enfrentar situações-problema”.

O resultado da pesquisa foi socializado pelos alunos, houve um momento de

debate sobre os diferentes métodos de extração do óleo essencial, onde os alunos

concluíram que a metodologia a ser utilizada para a extração depende da parte da

planta utilizada no processo.

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Pois, segundo Pozo (2009, p.188)

aprender química não é somente dominar a linguagem e os procedimentos da química; requer também dominar a lógica e os procedimentos de aprendizagem, sabendo procurar e incorporar a informação, interpretá-la, traduzindo-a de um código ou formato para outro, entendendo o seu significado e estrutura, sendo capaz de compreender uma explicação, mas também de dar uma explicação compreensível.

O encerramento deste primeiro momento se deu a partir do experimento de

extração de óleos essenciais. Houve uma participação expressiva dos alunos, que

se envolveram totalmente na atividade, trazendo o material solicitado e na execução

do experimento, conforme pode ser observado na figura 3.

Figura 3 - Fotos do desenvolvimento da atividade prática

A: extração do óleo essencial da casca da laranja, B: montagem do condensador, C: conjunto de destilação do óleo essencial do cravo.

Fonte: SCHUSTER, 2014

Demostrando o que Hodson (1988) descreve ao relacionar o comportamento

do aluno nas atividades de experimentação palavras como: motivação; habilidade;

manipulação; estimulo; incentivo; reflexão; etc.

A escolha de material alternativo para a realização deste experimento,

justifica-se pela dificuldade das escolas disponibilizarem vidrarias adequadas para o

desenvolvimento das atividades, e segundo Oliveira (2010, p. 3):

A B C

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A troca de experiências em sala de aula pode ser uma rica fonte de aprendizado. Portanto, a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento de alunos com a experimentação a partir de material alternativo, em substituição ao material técnico de laboratório, geralmente indisponíveis nas escolas da rede publica, poderá ter nítida função

pedagógica e psicológica.

Ao término do experimento, os grupos registraram a sua opinião,

respondendo a alguns questionamentos, entre eles: Qual a avaliação do grupo

quanto ao desenvolvimento da atividade prática? As respostas a este

questionamento podem ser observadas no quadro 2:

Quadro 2 - Respostas dos grupos sobre a avaliação da atividade prática

Grupo 01

Grupo 02

Grupo 03

Grupo 04

Fonte: Dados da pesquisa – 2013-2014

Confirmando o que diz Guimarães (2009, p.44) “as atividades experimentais

devem permear as relações de ensino-aprendizagem , na área das Ciências, uma

vez que elas estimulam o interesse dos alunos em sala de aula”.

3.2 CONHECENDO OS COMPOSTOS QUÍMICOS

Nesta etapa, o objetivo é foi o de a partir das atividades desenvolvidas

anteriormente, os alunos se sentissem motivados a conseguirem localizar nos livros

didáticos os conceitos químicos referentes a escrita dos compostos orgânicos, a sua

representação e a classificação das cadeias quanto á disposição dos átomos, a

presença de insaturações e quanto a presença de heteroátomos. Além disso, que

eles conseguissem compreender que os conhecimentos científicos são resultados

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de uma construção humana e que estão organizados de forma a serem transmitidos

a outras pessoas.

Na sondagem inicial dos conhecimentos prévios, sobre o conhecimentos dos

alunos sobre os compostos orgânicos, ficou claro que a grande maioria já tinha

noção de que as plantas são formadas por substâncias, porém eles não

conseguiram relacionar as características das substâncias com a sua utilização na

fabricação dos perfumes. Foram disponibilizados, aos alunos alguns livros didáticos

para a realização da pesquisa.

Para o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica foram propostas questões

abertas sobre a composição, estrutura e classificação dos compostos, visando o

desenvolvimento da argumentação e da redação das mesmas, como um processo

de aperfeiçoamento de domínio da língua portuguesa e do uso da linguagem

científica, além da organização das informações e conhecimentos, instigando os

mesmos a buscarem os símbolos e linguagem utilizados pelos cientistas para

representar os compostos presentes nos óleos essenciais.

Como diz Paulo Freire (2003, p. 22 apud MORAN, 2007, p. 43) “Ensinar não é

transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua

construção”. Diante desta situação o papel do professor é ajudar o aluno a

interpretar dados, relacioná-los e a contextualizá-los, mobilizando no aluno o desejo

de aprender, a partir de uma didática que possibilite ao aluno entender a importância

dos conhecimentos adquiridos.

Inicialmente, os alunos encontraram muitas dificuldades em localizar nos

livros didáticos os conteúdos que deveriam ser pesquisados, neste momento houve

uma interferência do professor para ajudar no processo da pesquisa, demostrando

assim que os nossos alunos não costumam realizar pesquisa bibliográfica no seu dia

a dia, onde os livros são substituídos pela internet na grande maioria das vezes.

Ao ser orientado a buscar informações, o aluno automaticamente passa por

várias ações, procedimentos e aquisições de habilidades, entre elas o pensar,

compreender, interpretar, descrever e analisar, conforme enfatizado por Moore

(1995).

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E, segundo Bezerra (2004 p. 90)

concomitantemente a esta ação, faz com que o educando tome uma atitude de autonomia e questione uma solução de problemas, e, assim, desenvolva habilidades de: levantar e buscar informações; consultar fontes de informações; localizar no texto o que for pertinente; selecionar no texto o que for proposto

Ao final da pesquisa foi realizado o momento de socialização dos resultados

obtidos, onde foram retomados os conceitos pesquisados esclarecendo as dúvidas

que os alunos ainda tinham.

Houve uma boa participação dos grupos na atividade de pesquisa nos livros

didáticos, conseguiram atingir o objetivo proposto com algumas interferências ao

longo do processo, por apresentarem dificuldade de interpretação dos conceitos e

de localização dos mesmos.

E como atividade de encerramento deste segundo, momento foi proposto aos

alunos que resolvessem algumas atividades com o objetivo de relacionar o

conhecimento adquirido com as atividades propostas.

Estas atividades se desenvolveram a partir das estruturas do mentol e do

geranial apresentados na figura 4.

Figura 4 - Mentol

(A): componente do óleo essencial de menta e geranial (B): componente do óleo essencial do gengibre.

Foram realizadas questões sobre a classificação das cadeias a partir do

critério de presença/ausência de heteroátomo, presença/ausência de insaturações,

disposição dos átomos, e a interpretação das fórmulas de traços e a sua transcrição

para a fórmula estrutural.

A B

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Observou-se que os grupos que se dedicaram mais ao processo da pesquisa

obtiveram melhores resultados, por terem entendido o uso dos símbolos e da

linguagem química na representação dos compostos, confirmando o que diz

SANTOS et al. (2013, p. 4) “É importante considerar que no processo de ensino e

aprendizagem em sala de aula a pré-disposição em aprender é um requisito

fundamental para a promoção de aprendizagem significativa nos alunos”.

3.3 RECONHECENDO AS FUNÇÕES ORGÂNICAS PRESENTES NOS ÓLEOS

ESSENCIAIS

Para trabalhar a identificação e reconhecimento das funções orgânicas optou-

se por uma atividade lúdica, como meio de despertar o interesse do aluno em

aprender este conteúdo, dando sentido ao conhecimento.

Pois segundo Soares (2008. p. 24):

Atividades como jogos e/ou brincadeiras, podem ser usados para apresentar obstáculos e desafios a serem vencidos, como forma de fazer com que o indivíduo atue em sua realidade, o que envolve, portanto, o despertar do interesse e a motivação que vem a seguir.

A atividade foi desenvolvida em grupo, onde cada um recebeu um conjunto de

16 cartelas. Posteriormente, foi solicitado aos grupos, que observassem as

estruturas dos compostos presentes nas cartelas e agrupasse os mesmos em dois

grandes grupos, de acordo com as semelhanças entre elas. Todos os grupos

conseguiram realizar esta etapa, utilizando como critério os tipos de cadeia: aberta

ou fechada.

Posteriormente, houve a interferência do professor, que chamou a atenção

para os diferentes átomos presentes nas estruturas dos óleos essenciais, e solicitou

novamente a organização das cartelas em dois novos grupos.

Pois segundo Soares (2008, p. 50) “o benefício do jogo está na possibilidade

de estimular a exploração em busca da resposta e em não se constranger quando

se erra”.

Nesta nova organização, os alunos utilizaram como critério a presença do

átomo de oxigênio e realizaram a separação em dois grupos, um com a presença do

átomo de oxigênio e outro sem a presença do átomo de oxigênio. Posteriormente, as

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cartelas contendo o átomo de oxigênio foram analisadas e reagrupadas de acordo

com o tipo de ligação do átomo de oxigênio.

Houve um aprofundamento teórico, onde foi apresentado aos alunos o

conceito de grupos funcionais e entregue a eles uma tabela contendo os diferentes

grupos funcionais. Com a tabela em mãos, os alunos analisaram novamente as

cartelas e identificaram os diferentes grupos funcionais presentes nas estruturas dos

óleos essenciais.

Todos os grupos conseguiram realizar a atividade proposta com relativa

facilidade, demostrando a compreensão da classificação das funções orgânicas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As essências fazem parte do cotidiano dos nossos alunos, sejam nos

perfumes, cosméticos, aromatizantes ou alimentos. Por ser um tema tão presente no

cotidiano do aluno e por mexer com as nossas sensações e emoções é que a

Química dos Óleos Essenciais foi tema central deste projeto.

Todas as etapas propostas, foram extremamente importantes para o sucesso

do projeto.

A sondagem dos conhecimentos prévios antes de dar início as atividades, se

apresentou como um momento importante de troca de experiências e vivências,

ajudando assim a dar significado aos conhecimentos trazidos pelos alunos dentro de

uma aprendizagem significativa.

Outro momento muito importante dentro do processo de ensino-

aprendizagem, foi a exposição dos materiais do cotidiano e das amostras de

perfumes, pois se configurou num momento enriquecedor do processo de ensino

aprendizagem, por que possibilitou aos alunos questionar, refletir sobre os

conteúdos estudados e além disso, despertou a curiosidade dos mesmos em

aprender como são produzidos os perfumes.

Os momentos de pesquisa, foram organizados em grupos e são de

fundamental importância dentro do processo de aprendizagem, pois se justifica por

ser um momento de busca de informações, conhecimentos e de troca de

informações entre os grupos nos momentos de socialização, desenvolvendo as

habilidades de registro e de redação dos argumentos defendidos pelos grupos.

Neste momento, também se verificou a importância do professor para o sucesso

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deste processo, desempenhando papel de mediador, organizador da pesquisa com

perguntas claras e esclarecendo eventuais dúvidas que possam surgir.

No desenvolvimento da atividade experimental, verificou-se atitudes de

interesse pela atividade, motivação e comprometimento dos alunos na organização

do material, bem como no seu desenvolvimento, mostrando que os momentos de

atividades práticas aproximam o aluno do objeto a ser estudado sendo portanto uma

ferramenta para dar significado ao processo de ensino aprendizagem

A atividade lúdica escolhida para o estudo dos grupos funcionais foi

interessante, pois envolveu os alunos, além de auxiliar na aprendizagem também

teve características lúdicas que deixaram o processo mais prazeroso, sem no

entanto deixar de cumprir seu papel pedagógico. Ficou claro que a atividade lúdica

pode ser um aliado no processo de ensino aprendizagem por despertar o interesse

do aluno.

Assim, ao término do desenvolvimento do projeto, podemos concluir que

diferentes metodologias podem ser utilizadas para a organização do trabalho

pedagógico, desde que leve em consideração os conhecimentos prévios dos alunos,

valorizando a sua vivência, e possibilitando que o educando seja um agente passivo

na construção do seu conhecimento dentro de uma perspectiva de aprendizagem

significativa. E que trabalhar com o tema Química dos Óleos Essenciais foi

prazeroso e interessante, pois possibilitou contextualizar os conhecimentos

adquiridos na disciplina de Química Orgânica.

REFERÊNCIAS

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Page 18: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · RESUMO: Muitos temas que fazem parte do cotidiano do aluno, ... Química orgânica. 1 INTRODUÇÃO Atualmente, vivenciamos uma

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