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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2014

Título: A Equipe Multidisciplinar e a Lei 10.639/03: enfrentando as dificuldades de

implementação

Autora: Adriana Aparecida Boaron de Souza

Disciplina/Área: Geografia

Escola de

Implementação do

Projeto e sua

Localização

Colégio Estadual Desembargador Clotário Portugal –

EFM

Município da escola Campo Largo

Núcleo Regional de

Educação

Área Metropolitana Sul

Professor Orientador Wanirley Pedroso Guelfi

Instituição de Ensino

Superior

Universidade Federal do Paraná - UFPR

Relação

Interdisciplinar

Língua Portuguesa, História, Língua Estrangeira

Moderna, Educação Física e demais envolvidas com a

Equipe Multidisciplinar

Resumo Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso conhecer, respeitar e valorizar a diversidade étnica e cultural que a forma. A lei 10.639 de 2003 deixa nítida a obrigatoriedade do ensino de conteúdos sobre a matriz negra africana na constituição de nossa sociedade e no âmbito de todo o currículo escolar. A intenção deste projeto é oportunizar aos professores integrantes da Equipe Multidisciplinar refletirem a realidade brasileira por meio da permanente presença cultural africana, possibilitando-lhes uma visão do Brasil, a partir de um polo da nossa formação, até agora pouco conhecido. Ao tomar consciência de seu papel revolucionário, o professor se torna peça fundamental na transformação de seus alunos, possibilitando a formação de cidadãos conscientes, sensíveis e aptos a desenvolverem ações para criar um país verdadeiramente democrático. Esta unidade didática irá propor atividades de conscientização, sensibilização e aprofundamento desse tema pelos

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professores nos seus planos de trabalho e na prática em sala de aula, visando auxiliar no alcance do verdadeiro objetivo da Equipe: contribuir para que o aluno negro mire-se positivamente, pela valorização da história de seu povo, da cultura, da contribuição para o país e para a humanidade.

Palavras-chave Equipe Multidisciplinar; Lei 10.639/03; sensibilização;

racismo.

Formato do Material

Didático

Unidade didática

Público Alvo Professores integrantes da Equipe Multidisciplinar do

Colégio Estadual Desembargador Clotário Portugal –

EFM

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1. Apresentação .......................................................................................... 4

1.1 Objetivos gerais ....................................................................................... 5

1.2 Objetivos específicos ............................................................................... 6

2. Atividades

2.1 Oficina 1 - Aprofundando o tema em questão... ...................................... 6

2.2 Oficina 2 - Entendendo a escravidão... .................................................... 14

2.3 Oficina 3 - Libertos do quê? ..................................................................... 20

2.4 Oficina 4 - Não fique alheio à Lei! ............................................................ 26

2.5 Oficina 5 - Mudar: antes tarde do que nunca!!! ........................................ 30

3. Referências ............................................................................................... 36

Sumário

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1. Apresentação

A presente unidade didática é uma das atividades previstas na

estrutura organizacional do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, a ser

desenvolvida no segundo período do programa e aplicada no terceiro período. Tal

unidade foi elaborada a partir da prática pedagógica, buscando desenvolver ações

que venham auxiliar os professores integrantes da Equipe Multidisciplinar do Colégio

Estadual Desembargador Clotário Portugal – EFM, do município de Campo Largo –

Paraná, na implementação da Lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de

conteúdos sobre a matriz negra africana.

Para combater o racismo e a discriminação na escola, inserindo no contexto

escolar estudos e atividades que promovam a educação das relações étnico-raciais

positivas, são necessários professores qualificados no domínio dos conteúdos,

sensíveis e capazes de colocar em prática o que sugere a Lei 10.639/03.

A criação desta Lei foi um avanço na luta anti-racismo, porém, a legislação

federal não se preocupa com a implementação adequada do ensino sobre História e

Cultura Afro-Brasileira. Conforme Santos (2005: 33), ela não se refere à qualificação

dos professores dos ensinos fundamental e médio para ministrarem as disciplinas

referentes à Lei, à necessidade das universidades reformularem seus programas de

ensino para formarem professores aptos a ministrarem o ensino sobre História e

Cultura Afro-Brasileira. Assim, parece que a lei federal, mesmo que indiretamente,

joga a responsabilidade do citado ensino para os professores, e vai depender de sua

boa vontade que o mesmo seja ministrado em sala de aula.

Em 2006, o Conselho Estadual de Educação – CEE, delibera Normas

Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações da Diversidade Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-

Brasileira e Africana, entre elas a criação das Equipes Multidisciplinares, onde:

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E

PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PARANÁ

GOVERNO DO ESTADO

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Art. 8º - Cada unidade escolar/instituição deverá compor equipe interdisciplinar que estará encarregada da supervisão e desenvolvimento de ações que dêem conta da aplicação efetiva das diretrizes estabelecidas por esta Deliberação ao longo do período letivo e não apenas em datas festivas, pontuais, deslocadas do quotidiano da escola (PARANÀ, 2006: 3).

Surge então a necessidade de criar possibilidades de formação e capacitação

para os professores dessa Equipe, sobre conhecimentos relativos à questão racial,

sensibilizando-os para a importância desse tema muitas vezes camuflado nas

escolas, sugerindo metodologias que poderão ser utilizadas em seu fazer

pedagógico com os alunos.

Por meio de oficinas com a Equipe Multidisciplinar do Colégio Estadual

Desembargador Clotário Portugal, estudaremos questões relativas ao racismo

dissimulado e perverso que ocorre no nosso país. Esta unidade didática irá propor

ações de conscientização, sensibilização e aprofundamento desse tema pelos

professores nos seus planos de trabalho e na prática em sala de aula, visando

auxiliar no alcance do verdadeiro objetivo da Equipe: contribuir para que o aluno

negro mire-se positivamente, pela valorização da história de seu povo, da cultura, da

contribuição para o país e para a humanidade. A utilização de atividades lúdicas

como prática pedagógica, isto é, que dão prazer e divertem as pessoas envolvidas

(os jogos, os brinquedos e as brincadeiras), garantem uma aprendizagem

significativa e tornam as oficinas mais prazerosas, pois as pessoas aprendem o que

lhes dá prazer.

Assim, os professores terão acesso a temáticas que não foram totalmente

absorvidas pela sociedade e a dados fundamentais para a reflexão da verdadeira

identidade do país. É também objetivo desse projeto fazer cumprir os dispositivos do

Art.5° da Constituição Federal: o reconhecimento de que não há desiguais, há

diferentes. Respeitando as diferenças, teremos uma sociedade mais justa,

democrática, marcada pela cidadania e pela inclusão.

1.1. Objetivo Geral

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Desenvolver ações que auxiliem a Equipe Multidisciplinar a conhecer e aplicar

a lei 10.639/03, visando minimizar o preconceito contra o negro e oportunizar aos

professores uma reflexão e sensibilização acerca da realidade brasileira por meio da

permanente presença cultural africana, para que possam absorver essa mesclagem

racial que forma nosso país, e fazer dela um fator de enriquecimento grupal.

1.2. Objetivos Específicos

Disponibilizar aos professores da Equipe Multidisciplinar alternativas teórico-práticas

de caráter didático-pedagógico, voltadas para um ensino pautado no respeito às

diversidades, particularidades e cultura do povo negro.

Reconhecer e valorizar a diversidade étnico-racial brasileira.

Repensar o currículo, as atividades pedagógicas, o ambiente escolar, as formas

racistas de ensinar, a relação professor/aluno, o material didático.

Analisar o processo de escravidão ocorrido no Brasil e as consequências de sua

abolição.

Estabelecer um diálogo com o passado, resgatando a trajetória histórica de exclusão

dos negros no campo educacional.

2. Atividades

Serão desenvolvidas oficinas com os professores da Equipe Multidisciplinar,

a fim de sensibilizá-los sobre o tema em questão. Dentro de cada oficina, as

atividades desenvolvidas com os professores servirão como alternativas teórico-

práticas de caráter pedagógico, onde poderão ser aplicadas pelos professores com

seus alunos em sala de aula, todas elas voltadas para um ensino pautado no

respeito à diversidade, particularidades e cultura do povo negro. Tais oficinas foram

elaboradas para serem aplicadas dentro de um período aproximado de 32 horas,

sendo que cada uma delas poderá ser desmembrada conforme a necessidade e

disponibilidade do horário. As oficinas se realizarão no Colégio Clotário Portugal, em

dias e horários a serem combinados com os professores.

2.1 Oficina 1

Racismo: contexto histórico

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Objetivos: a) Levar os professores integrantes da Equipe Multidisciplinar a fazer

uma reflexão acerca de questões relativas ao racismo dissimulado e perverso que

ocorre no nosso país, entendendo a situação no alunado negro no processo escolar.

b) Compreender como surge o conceito de “raça” na sociedade e porque

o mesmo remete ao racismo.

Recursos didáticos: preparar o ambiente com cadeiras, música ambiente (cd com

músicas afro), banner com a poesia: 20 de Novembro (Rosa Margarida de Carvalho

Rocha); confeccionar um marcador de página com a referida poesia para cada

participante e distribuir no final do encontro, cópia dos textos, canetas e papel para

anotações, computador com acesso à internet, cópia do trecho da letra da música.

Desenvolvimento:

Sejam todos bem-vindos para o nosso primeiro dia de oficina da Equipe

Multidisciplinar. Vamos ler todos juntos a poesia 20 de Novembro, de Rosa

Margarida de Carvalho Rocha, que está no banner:

“20 de Novembro

Criança morena

ou de pele bem negra

seu dia é hoje

é dia de raça!

Levante a cabeça

vislumbre as estrelas

acorde o Zumbi

que existe em você.

Seu povo carece

da força escondida

da esperança contida

em seu coração!” [...] Rosa Margarida de Carvalho Rocha

1º encontro - Aprofundando o tema em

questão...

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Agora, em breves palavras, cada um vai expor o que mais lhe chamou

atenção na poesia que acabamos de ler, lembrando do nosso ambiente escolar, da

forma racista de pensar e tratar os alunos...

Depois da família, a escola é a segunda instituição responsável pelas

relações de sociabilidade das crianças e dos jovens. Na escola, as regras e os

valores sociais são aprendidos sob a ótica do grupo, mediados pelo professor. As

experiências iniciais com a escola estruturam a sociabilidade escolar e a construção

de identidades. Ao sentir-se integrado e acolhido, o aluno constrói sua autoestima

positiva, elemento essencial para o sucesso escolar.

O texto que vamos ler, coletânea de autores como Hélio Santos, Eliane

Cavalleiro e Kabenguele Munanga, explica como é a experiência escolar dos alunos

negros:

Desde a primeira infância, os negros já acumulam uma desvantagem no que diz respeito às

oportunidades no campo do ensino. Segundo Santos (2001), estudos revelam que as crianças de descendência negra (pretas e pardas) enfrentam dificuldades escolares bem superiores as dos demais grupos étnicos, tendem a repetir mais vezes e são excluídas mais cedo da escola. O percurso escolar dessas crianças é mais acidentado, já que elas experimentam um número maior de saídas e retornos ao sistema de ensino. Pesquisas revelam as dificuldades por parte dos alunos negros em se integrar ao tipo de sistema de ensino atual: currículos e livros didáticos discriminatórios e equivocados. As figuras utilizadas pelos materiais didático-pedagógicos eram, até pouco tempo (não que isso hoje não ocorra!) praticamente só de pessoas brancas, sendo que a família negra simplesmente não aparecia. A figura do negro era vinculada ao folclore para ilustrar o processo escravista do Brasil-Colônia, ou ainda de desprestígio social. A utilização de recursos pedagógicos com esse caráter demonstra...

...uma socialização racista, marcadamente branco-eurocêntrico e etnocêntrico, que historicamente enaltece imagens de indivíduos brancos, do continente europeu e estadunidense como referências positivas em detrimento dos negros e do continente africano (CAVALLEIRO, 2005: 13).

Dessa forma, segundo Hélio Santos (2001:102), “...na medida em que a criança assume

uma identidade dissociada de sua especificidade, o futuro cidadão gerado por esse equívoco estará fora de sintonia com sua realidade...”, tendo como resultado a “baixa autoestima e um pesado encargo de ordem psicológica”. A necessidade de começar a trabalhar mais cedo para contribuir com o orçamento familiar reforça a evasão escolar.

Dados recentes apresentados pelo IBGE indicam que crianças negras deixam a escola mais cedo que crianças brancas pertencentes à mesma condição social, o que demonstra a baixa qualidade das oportunidades educacionais oferecidas às crianças e adolescentes negros (CAVALLEIRO, 2003). O cotidiano escolar se apresenta marcado por práticas discriminatórias que

Refletindo...

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submetem a uma percepção negativa das chances intelectuais dos negros e pardos, favorecendo a formação de pessoas com ideias e comportamentos subordinados às demais etnias.

Para Kabengele Munanga, professor de Antropologia da USP e defensor do sistema de cotas para negros nas universidades, ...

...o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade em lidar profissionalmente com a diversidade, somando-se ao conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às relações preconceituosas entre os alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado (MUNANGA, 2001: 8).

Como resultado dessa educação discriminatória e desigual, o baixo nível de escolaridade da

população negra projeta sua exclusão no mercado de trabalho, construindo um sentimento de inadequação ao sistema escolar e inferioridade racial. Hélio Santos diz que a sociedade, com a sua miopia, propicia todas as dificuldades ao negro, sem que para isso tenha que assumir, com todas as letras, esta já secular postura. Tal visão, basicamente, tem como origem o binômio-dilema: baixa renda/baixa capacitação. Esse par de dificuldades alimentou um sentimento para o qual a sociedade brasileira já estava, desde sempre, predisposta a aceitar devido ao seu racismo (2001). A realidade escolar está envolvida pelas lógicas de relações sociais e raciais desenvolvidas, em que professores e equipe pedagógica demonstram um pensamento influenciado pela estrutura racial da sociedade, no qual se nega a existência do racismo, não se reconhece os efeitos prejudiciais do mesmo para os negros, não se buscam estratégias para tratar todas as crianças de maneira igualitária, mesmo quando se sabe da existência da discriminação no cotidiano escolar. O silêncio sobre o racismo nas instituições educacionais auxilia para retratar os negros como sinônimos de seres inferiores. Eliane Cavalleiro afirma que:

...a existência do racismo, do preconceito, e da discriminação raciais na sociedade brasileira e, em especial, no cotidiano escolar acarretam aos indivíduos negros: auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldade no processo de aprendizagem; recusa em ir à escola e, consequentemente, evasão escolar. Para o aluno branco, ao contrário, acarretam: a cristalização de um sentimento irreal de superioridade, proporcionando a criação de um círculo vicioso que reforça a discriminação racial no cotidiano escolar, bem como em outros espaços da esfera pública (2000).

Vamos conversar??? 1) Conforme você acabou de ler, todas as crianças recebem as mesmas

oportunidades no ambiente escolar? Explique.

2) O racismo, o preconceito e a discriminação raciais acarretam que conseqüências

aos indivíduos negros, no cotidiano escolar? Explique.

Voltando ao texto, vamos ler e analisar mais alguns pontos importantes para

compreendermos como surge o conceito de “raça” na sociedade, agora sob os

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olhares de Nilma Lino Gomes, Carlos Moore Wedderburn, Eliza Larkin Nascimento e

Hélio Santos:

A partir de uma reflexão dos ensinamentos (explicações de professores e livros didáticos) acerca da espécie humana, identificava-se (e talvez ainda hoje!) a espécie com a imagem do “homem branco”, sendo o africano destituído de sua condição humana. Protagonista da civilização, o ser humano era tido como branco quase por definição. Porém, o conhecimento científico indica a África como berço da humanidade e da civilização.

Há quase dois milhões de anos, o Homo erectus, hominídeo e autor de importantes avanços na manufatura de implementos como o machado, saiu da África em ondas migratórias rumo à Ásia e à Europa, iniciando o povoamento do mundo (NASCIMENTO, 2006, p.33). Ainda conforme Nascimento, o consenso científico afirma que o homem moderno (Homo sapiens sapiens) também evoluiu na África e de lá saiu, há aproximadamente 150 mil anos, em uma segunda fase de ondas migratórias através da Eurásia. Assim, os humanos que saíram do continente africano deram início ao processo de intercâmbios genéticos que resultou no aparecimento de características novas às populações locais.

Carlos Moore Wedderburn afirma que a mais marcante das singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones terem sido os progenitores de todas as populações humanas do planeta, o que faz da África o berço único da espécie humana, afirmação esta baseada em dados científicos; e ainda...

“... as atuais diferenças morfo-fenotípicas entre populações humanas – as chamadas “raças”- são um fenômeno recente na história da humanidade ... e a ciência já descartou como anti-científica a idéia de que o morfo-fenótipo possa incidir de algum modo nos processos intelectuais de socialização ou de aquisição/aprimoramento de conhecimento”.

Cada novo descobrimento da paleontologia ou da antropobiologia no continente africano enfraquece cada vez mais os velhos mitos e esquemas preconceituosos: a história da humanidade começa precisamente com os primeiros seres humanos africanos, dotados de consciência, sensibilidade, e não somente de inteligência (WEDDERBURN, 2005. P. 136-137). Eliza Larkin Nascimento (2006) explica que, no Brasil, na década de 1970, foram encontrados em Minas Gerais restos dotados de uns doze mil anos atrás, de uma mulher que passou a ser chamada Luzia. Com feições nitidamente negroides, ela pertencia à mesma matriz populacional negra originária da África, surpreendendo a comunidade científica por contrariar a teoria de uma origem única dos povos das Américas em migrações vindas da Ásia pelo Estreito de Bering. A ideia de raças humanas, ainda segundo NASCIMENTO (2006), surgiu quando cientistas europeus quiseram categorizar as diferenças entre os seres humanos vindos de regiões afastadas da Europa. Aparências diferentes foram associadas a supostas diferenças biológicas, constituindo o conceito geográfico de “raça”. Pensava-se numa hierarquia da capacidade intelectual e civilizatória em que as raças não européias seriam classificadas como inferiores. A ideia da superioridade da raça branca, supostamente comprovada pela ciência, passou a justificar atitudes de dominação de outros povos, como a escravidão, a conquista, o colonialismo. Nilma Lino Gomes afirma que :

Essa reação tão diversa em relação ao uso do termo “raça” para nomear, identificar ou falar sobre pessoas negras deve-se, também, ao fato de que a “raça” nos remete ao racismo, aos ranços da escravidão e às imagens que construímos sobre “ser negro” e “ser branco” em nosso país (p.45).

E ainda...

O Movimento Negro e alguns sociólogos, quando usam o termo raça, não o fazem alicerçados na idéia de raças superiores e inferiores, como originalmente era usada no século XIX. Pelo contrário, usam-no com uma nova interpretação, que se baseia na dimensão social e política do referido termo. E, ainda, usam-no porque a discriminação racial e o racismo existentes na sociedade brasileira se

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dão não apenas devido aos aspectos culturais dos representantes de diversos grupos étnico-raciais, mas também à devido à relação que se faz na nossa sociedade entre esses e os aspectos físicos observáveis na estética corporal dos pertencentes às mesmas (p.45).

Aprendemos tudo isso na sociedade: família, escola, amizades, trabalho. A questão mais séria é: por que aprendemos a ver o negro como inferior devido a sua aparência e/ou atributos físicos da sua origem africana? Porque vivemos num país com uma estrutura racista onde a cor da pele de uma pessoa infelizmente é mais determinante para o seu destino social do que seu caráter, sua história, sua trajetória (GOMES, 2005).

Hélio Santos explica que em pesquisas realizadas por um grupo de biólogos considerando mais de 8 mil amostras colhidas em todo o planeta, constatou-se que não existem raças na espécie humana, mas infelizmente isso não faz os racistas desaparecerem. Segundo o chefe da equipe de estudos, não há raças porque as diferenças genéticas entre as diferentes etnias são mínimas, insignificantes.

O referido autor (2001) faz uma comparação entre racismo e preconceito racial. O preconceito racial é uma atitude antecipada e desfavorável contra algo, tomada em relação a um indivíduo, grupo ou ideia. A pessoa-alvo sofre uma atitude injusta por parte do preconceito. Já o racismo, sem dúvida, é mais amplo: ocorre quando se atribui a um grupo determinados aspectos negativos em razão de suas características físicas e culturais; enaltece as características do grupo racial considerado superior e rebaixa ou reduz a importância das do outro, a fim de se “justificar”. Ainda nesse contexto, SANTOS (2001, p.109-110) finaliza dizendo que “... o racismo é uma ideia burra que parte de um pressuposto irracional no qual determinado grupo humano inferioriza outro, tendo como base diferenças físicas ou biológicas.” Além desses conceitos, é oportuno apresentar mais uma definição a qual ajuda a compreender o conjunto de ideias que envolvem o tema em discussão. Etnocentrismo: coloca determinado grupo étnico como parâmetro para os demais; ele é o centro e, os outros, por serem diferentes, não têm importância. Ele alimenta o desejo de evitar e até mesmo transformar o outro, pois carrega em si o conceito de recusa da diferença, além de cultivar um sentimento de desconfiança em relação ao outro, visto como um inimigo potencial.

“Os sentimentos etnocêntricos estão enraizados na humanidade e por isso mesmo são tão difíceis de ser controlados. Porém, quando esse tipo de sentimento se exacerba, produzindo uma idéia de que o outro, visto como o diferente, apresenta além das diferenças consideradas objetivas, uma inferioridade biológica, o etnocentrismo pode se transformar em racismo (GOMES, 2005).

A invisibilidade da questão racial, segundo Hélio Santos, deve ser interpretada como um fato que não se nota, não se discute nem se deseja notar ou discutir. É como se não existisse. A história narrada nas escolas é branca, a inteligência e a beleza mostradas pela mídia também o são. Os fatos são apresentados por todos na sociedade como se existisse uma preponderância absoluta, uma supremacia definitiva dos brancos sobre os negros, mostrando que o lado bom da vida não é e nem pode ser negro.

Atenção para as perguntas !!!

1) É correto pensar na existência de raças superiores e inferiores? Justifique sua

resposta.

2) Por que aprendemos a ver o negro como inferior devido a sua aparência e/ou

atributos físicos da sua origem africana? Explique.

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3) A invisibilidade da questão racial, segundo Hélio Santos, deve ser interpretada

como um fato que não se nota, não se discute nem se deseja notar ou discutir.

Explique por que.

O trecho do vídeo que vamos ver agora nos leva a uma reflexão sobre o

impacto do racismo na infância, presente na literatura infantil. Enquanto vê as fotos,

reflita se você já identificou uma situação semelhante no seu cotidiano. Que tipo de

sentimento brota de seu coração vendo essas fotos?

Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=6Oa9UqqZk8Q. Acesso em 13/10/2014

Musicando... Agora vamos ler e ouvir um trecho da música Lavagem Cerebral, de Gabriel

O Pensador:

Racismo preconceito e discriminação em geral É uma burrice coletiva sem explicação Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união Mas demonstra claramente Infelizmente Preconceitos mil De naturezas diferentes Mostrando que essa gente Essa gente do Brasil é muito burra E não enxerga um palmo à sua frente Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente Eliminando da mente todo o preconceito E não agindo com a burrice estampada no peito [...]

Para refletir....

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Não seja um imbecil Não seja um ignorante Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante O quê que importa se ele é nordestino e você não? O quê que importa se ele é preto e você é branco? Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil somos todos mestiços Se você discorda então olhe pra trás Olhe a nossa história Os nossos ancestrais O Brasil colonial não era igual a Portugal A raiz do meu país era multirracial Tinha índio, branco, amarelo, preto Nascemos da mistura então porque o preconceito? Barrigas cresceram O tempo passou... Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor Uns com a pele clara outros mais escura Mas todos viemos da mesma mistura Então presta atenção nessa sua babaquice Pois como eu já disse racismo é burrice Dê a ignorância um ponto final: Faça uma lavagem cerebral [...] Você aprendeu que o preto é ladrão Muitos negros roubam mas muitos são roubados E cuidado com esse branco aí parado do seu lado Porque se ele passa fome Sabe como é: Ele rouba e mata um homem Seja você ou seja o Pelé Você e o Pelé morreriam igual Então que morra o preconceito e viva a união racial Quero ver essa musica você aprender e fazer A lavagem cerebral

[...] E de pai pra filho o racismo passa Em forma de piadas que teriam bem mais graça Se não fossem o retrato da nossa ignorância Transmitindo a discriminação desde a infância E o que as crianças aprendem brincando É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando Qualquer tipo de racismo não se justifica Ninguém explica Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma

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herança cultural Todo mundo é racista mas não sabe a razão Então eu digo meu irmão Seja do povão ou da "elite" Não participe Pois como eu já disse racismo é burrice [...] E se você é mais um burro Não me leve a mal É hora de fazer uma lavagem cerebral [...]

Que tipo de pessoas Gabriel O Pensador afirma que precisam fazer uma

lavagem cerebral? Justifique sua resposta.

Fazendo uma auto-análise, você acha que precisa fazer uma lavagem

cerebral conforme sugere a música? Por quê?

Compromisso...

A partir de hoje, vamos repensar nossa prática pedagógica,

analisando nosso comportamento perante os casos de preconceito e racismo

que acontecem na sala de aula, buscando um ensino pautado no respeito às

diversidades, particularidades e cultura do povo negro!

2.2 Oficina 2

Escravidão: contexto histórico

Objetivos: a) Levantar as principais características do processo de escravidão pelo

qual passaram centenas de africanos, compreendendo o porque deles serem “os

escolhidos” pelos europeus para serem escravizados, bem como as características

2º encontro: Entendendo a escravidão...

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do trabalho escravo no Brasil.

b) Analisar os padrões de beleza que se tornam dominantes na

sociedade, que muitas vezes levam à discriminação racial.

c) Compreender as conseqüências da diáspora africana

Recursos didáticos: preparar um ambiente acolhedor para os participantes com

cadeiras, cd com músicas afro, prato com cocadas, cópia dos textos, canetas,

papel para anotações, computador com acesso à internet.

Desenvolvimento:

Sintam-se todos bem acolhidos para participarmos juntos dessa segunda

oficina. Vocês sabem que doce é esse? Qual é a origem desse doce tão gostoso?

Saiba mais...

E essa receitinha é pra você testar em casa:

COCADA

Ingredientes:

4 xícaras de açúcar

1 copo de leite

2 xícaras de coco ralado

1 colher de sopa de manteiga

Modo de preparo:

Numa panela, misture bem todos os ingredientes. Com cuidado, leve a panela ao fogo

baixo e deixe cozinhar. Quando desgrudar retire do fogo. Coloque a cocada em

colheradas numa pedra de mármore até esfriar. Prove que delícia!

A Cocada é um doce tradicional de Angola e típico no Brasil, feito à base

de coco. As receitas variam, mas em geral levam gemas, leite e coco ralado. Algumas receitas utilizam leite condensado, rapadura, leite-de-coco, açúcar

e coco ralado queimado.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cocada.Acesso em 04/11/2014

Para dar sabores variados à cocada, são usadas polpas de frutas

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Enquanto vamos nos servindo desse doce tipicamente baiano, de origem

africana, que é a cocada, vamos ouvir a leitura de um trecho do livro de literatura

infantil "De onde vêm tantos cachinhos?", de Valéria Belém. Lelê vive a se

perguntar por que tem tantos cachinhos, e essa resposta ela encontra num livro,

em que descobre sua história e a beleza da herança africana. Enquanto ouvimos,

pensemos na seguinte questão:

E eu, me aceito como sou ou luto para me encaixar nos padrões de

beleza ditados pela sociedade? Gosto e aceito o meu jeito de ser para depois

poder gostar do outro?

Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=RriQiWMnDXU. Acesso em 13/10/2014.

O texto que vamos ler, coletânea dos autores Eliza Larkin Nascimento, Hélio

Santos e Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, vai nos apontar características do

processo escravista ocorrido a mais de 500 anos e que ainda hoje deixa sua

marcas na sociedade:

A África tem sido palco de alguns dos maiores avanços tecnológicos da história, como a prática agrícola, mineração, metalurgia, arquitetura, engenharia, medicina, avanço do conhecimento e da reflexão intelectual. Foi também centro do desenvolvimento de civilizações, uma das mais avançadas da experiência humana. Porém, a imagem de seus povos como não construtores do conhecimento ou da tecnologia, ainda molda o conceito comum da África como um continente sem história (NASCIMENTO, 2006). O olhar histórico voltado apenas aos últimos quinhentos anos reforça a imagem construída, recentemente, dos povos africanos como primitivos ou eternos escravos, deixando de lado 5.500 anos de desenvolvimento africano, os quais antecedem o período da escravidão. Fica encoberto o fato de que os africanos viveram uma pequena parte de seu tempo histórico presos à escravidão mercantil. Durante milênios, foram agentes ativos do desenvolvimento da civilização humana no mundo (Nascimento, 2006: 36).

Surge então uma necessidade de resgatar informações que possam construir um perfil das culturas africanas e do negro brasileiro na formação do território e no desenvolvimento do Brasil. Assim, compreender o tráfico, a escravidão e a “diáspora” africana como elementos formadores do mundo atual, constitui elemento fundamental para compreender o papel das culturas negras na configuração espacial e do território do povo brasileiro. No nosso país é tão forte a identificação da origem africana com a condição escrava que a palavra “negro” é sinônima de escravo. Porém, a escravidão atingiu vários povos do mundo. “Aliás, o vocábulo “escravo”, deriva de eslavo, em decorrência da escravidão de europeus de língua eslava, muito comum durante o Império Romano e a Idade Média (Nascimento, 2006: 36).” Vale destacar que a escravidão praticada na África era totalmente diferente da barbárie praticada pelos europeus. Na verdade, na África era praticada a servidão, baseada na captura de prisioneiros de guerra para serem servos, e essa condição era reversível e não reduzia o escravo como simples mercadoria. Era mantida intacta sua humanidade. Quando o servo saía dessa condição, podia elevar seu nível social. Como era proibido em alguns reinados comentar a origem servil de uma pessoa, um antigo servo poderia se tornar um chefe da sua aldeia.

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ANJOS (2006) faz um apontamento importante referente à Europa nos séculos XV e XVI. Com seu território de dimensões reduzidas, pobreza mineral e uma população insuficiente para ocupar e produzir nas “novas terras descobertas”, vai encontrar nas terras africanas os fatores de produção que lhes são escassos. Não era somente a terra e suas riquezas minerais que interessava aos povos europeus, mas também os seres humanos. Esse fator fez com que a África fosse transformada no maior reservatório de mão-de-obra escrava jamais visto e imaginado pelo homem.

A tradição dos povos africanos de bons agricultores, ferreiros, construtores, mineradores e detentores das mais avançadas tecnologias desenvolvidas nos trópicos foi fator essencial para o colonizador optar pela escravização dos negros africanos para construir o Novo Mundo.

Outro fator que justificava para o europeu a substituição do índio brasileiro pelo africano como escravo colonial era que, trocando na África produtos manufaturados por homens cativos, e na América estes por mercadorias coloniais, as classes dominantes das metrópoles da Europa apropriavam-se mais facilmente das riquezas aqui produzidas. Esse jogo de trocas estabelecido pelos europeus imprimiu relações precisas entre clientes e fornecedores dos dois lados do Atlântico e, estrategicamente, permitiu que a distribuição das populações africanas, de diferentes reinos e impérios, fosse realizada indiscriminadamente nos territórios da América (ANJOS, 2006: 60).

O tráfico de escravos da África para a América foi, segundo Anjos (2006), durante quase quatro séculos, uma das maiores e mais rentáveis atividades para os negociantes europeus, a ponto de tornar impossível a contagem precisa do número de africanos arrancados de sua terra natal, com sua bagagem cultural, para serem, injustamente, incorporados às tarefas básicas para a formação de uma nova realidade. Lutas sangrentas, violência, morte, crueldade, situações completamente novas de deslocamentos e adaptações, tudo isso concorreu para os efeitos multiplicadores do grande negócio que foi o tráfico de escravos.

Hélio Santos (2001) aposta em 10 milhões o número de almas que foram importadas da África para o resto do mundo, porém, há quem fale em 14 milhões de africanos raptados pelos escravagistas. O Brasil foi o país que maior número de escravos importou: cerca de 4 milhões de africanos foram trazidos pelos navios tumbeiros que aportavam às costas brasileiras. “A denominação dada aos navios negreiros– tumbeiro, de tumba (sepultura ou caixão) – já sinalizava bem o que poderia se transformar essa “viagem” (SANTOS, 2001:66)”. O mesmo autor afirma que 400 mil pessoas raptadas na África não chegaram ao Brasil e tiveram por túmulo o oceano Atlântico. Na travessia, os suicídios eram comuns.

Considerando o destino que esperava os negros aqui no Brasil, não podemos afirmar que os sobreviventes à travessia tiveram melhor sorte do que aqueles que ficaram pelo meio do caminho.

... o tráfico negreiro existiu por cerca de 320 anos, isto é, 64% do tempo de vida de nosso país. Isso significa que, para cada três anos de história, dois estavam preenchidos pelo vil comércio que negociava o corpo e a vida dos negros. Esses longos anos são o pior pedaço da construção do carma brasileiro. Depois, a viagem da África para as Américas era de um horror de fazer inveja aos filmes de terror...nos porões, os negros, amontoados como bichos (homens, mulheres e crianças), viajavam por mais de um mês para chegar ao Brasil. A fome, o calor, a dor, o medo, a incerteza, o cheiro, o absoluto desconforto, o cansaço, a saudade da pátria e dos que ficaram perdidos para sempre. Tudo isso, somado à crueldade da qual eram vítimas pelos seus raptores, fazia com que aquelas pessoas sofressem o que denominamos suma infelicidade. Experimentaram um pesadelo vivo que traumatizava para sempre (SANTOS, 2001:66).

Vamos conversar??? 1) Por que o europeu escolheu justamente o povo africano para fazer de

escravo? Justifique.

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2) Explique por que o tráfico de escravos era considerado um negócio rentável

para o europeu.

Para saber mais...

Hélio Santos explica que o que caracterizava a escravidão era o

direito de posse do senhor sobre o escravo. Do contrário, todos os negros iriam

embora. Esse direito do senhor era uma violência legalizada contra os negros e

havia, ainda, outras formas de violência. Escreva sobre elas.

Retomando o texto, vamos compreender melhor alguns pontos que não

ficam bem explicados quando estudamos a História do Brasil, no que diz respeito

ao povo negro escravizado em nossas terras:

... o que caracterizava a escravidão era o direito de

posse do senhor sobre o escravo. Do contrário, todos os

negros iriam embora. Esse direito do senhor era uma

violência legalizada contra os negros. [...]. A violência

tinha começo em pleno território africano, onde boa

parte dos raptados era sacrificada. Na travessia, parte

considerável da carga humana não resistia – há autores

que falam em 10% e outros que falam em até 25% (um

quarto dos negros embarcados!). O tempo de viagem

de Luanda a Recife, por exemplo, variava de 40 a 50

dias. Apesar da lei que determinava um limite de negros

a serem embarcados, a superlotação era praticada a

fim de compensar as perdas de “peças” durante a

travessia. A falta de absoluta higiene, a alimentação

exígua (um pouco de arroz fervido, farinha de

mandioca e um gole de água) e os suicídios eram os

principais responsáveis pelas baixas. Para que não

houvesse risco de perder, por doença, uma carga

inteira, era permitido que, por turnos, os negros fossem

ao convés respirar ar puro, enquanto os demais

lavavam a imundície dos porões (fezes, vômitos, sangue, urina) (SANTOS, 2001: 71).

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Santos (2001) explica que esse povo negro – cerca de 4 milhões de africanos mais os

“crioulos” (termo dado aos negros nascidos na Américas coloniais) – trabalhou muito, aliás, só trabalhou. Tudo o que na Terra de Santa Cruz tinha de ser construído: edificações, açudes, estradas, plantações, a mão negra tudo fez. A crença por parte dos invasores europeus da inferioridade dos negros legitimou o rapto destes da África. O entendimento por parte do português de que os negros se “adaptavam” melhor ao trabalho escravo deve ter funcionado como uma espécie de salvo-conduto para aliviar sua consciência católica.

Segundo Eliza Larkin Nascimento (2006), uma das consequências geográficas mais graves dos processos espaciais desencadeados pela diáspora africana (dispersão de um povo e sua cultura), foi a desestruturação dos antigos Estados políticos do continente, componentes fundamentais para a compreensão da amplitude das formas de organização social, política e territorial dos povos africanos.

Como a escravaria era formada por populações encarceradas, era muito difícil para os cativos terem uma família estruturada, afirma Hélio Santos (2001). Os grupos de negros que vieram para o Brasil provinham dos mais diversos lugares da África, falando línguas diferentes, fazendo parte de diferentes grupos étnicos que, às vezes, pertenciam a facções inimigas. A política dos escravagistas era realmente esta: impedir uma maior solidariedade entre os escravos, o que lhes possibilitava dominar mais amplamente a todos na senzala.

O trabalho exaustivo na senzala (mais de 12 horas por dia), a alimentação inadequada, as péssimas condições de sobrevivência, as chicotadas no pelourinho, a dor física e moral, faziam com que a expectativa de vida dos escravos ficasse entre 18 e 23 anos. Esse fato proporcionava uma alta substituição de escravos, assegurando uma equipe jovem e com força de trabalho para o senhor. Enquanto existisse “fartura de mão-de-obra africana para abastecer as Américas, negras e negros podiam “estourar” de trabalhar à vontade. Afinal, para cada “peça” tombada, providenciava-se uma nova” (SANTOS, 2001: 69).

Revoltados com a situação, muitos negros se aquilombavam em busca de liberdade. Fugindo, organizavam-se em quilombos, onde desenvolviam uma roça da qual retiravam seu sustento. O principal deles foi Palmares, uma verdadeira república que durou mais de 100 anos, tendo Zumbi, hoje considerado herói nacional, como principal líder. O escravismo no Brasil durou mais de 300 anos, e a tortura foi o que assegurou o direito dos senhores. O que era visto como rotina num sistema em que algumas pessoas se achavam donas de outras e a violência com que se lastreou a escravidão, resultou numa cultura que legitima relações de opressão/sujeição que, nos dias de hoje, nem todos percebem.

1) Explique o que Eliza Larkim Nascimento quer dizer com “diáspora africana”.

2) Escreva sobre os fatores que levavam os escravos a ter uma baixa expectativa

de vida.

3) O texto cita um parágrafo que explica e legitimação da cultura de

opressão/sujeição na qual vivemos nos dias de hoje. Localize e transcreva aqui.

Para refletir...

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Musicando... Em duplas, escolham uma música e criem uma paródia relembrando a

trajetória do povo negro escravizado no nosso país. Quando as equipes estiverem

preparadas, faremos a apresentação para o grande grupo!

No portal diaadiaeducacao.pr.gov.br está disponível a Web

Rádio-Escola. Vamos acessar o ícone Contos e Histórias, que contém arquivos de

áudios apresentados por meio da contação de estórias. Vamos ouvir Preto Velho:

Pai Francisco de Luanda. Uma característica muito marcante nas religiões de Matriz

Africana são os mitos e histórias relacionados aos orixás no Candomblé e as entidades

como o Preto Velho da Umbanda.

Enquanto ouvimos, faça uma ligação com os textos que estudamos na oficina de

hoje. O que mais chamou sua atenção nessa estória?

Você já viu alguma situação parecida nos dias de hoje? Conte para os colegas.

Compromisso...

A partir do aprendemos nesta oficina, vamos analisar se estamos tratando

de maneira justa e igualitária todos os nossos alunos. Vamos lembrar que o racismo

é uma criação humana, portanto pode e deve ser mudada!

2.3 Oficina 3

A Abolição em 1888 e a educação dos negros

Senta que

lá vem história...

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Objetivos: a) Entender a situação de marginalização do negro na sociedade

brasileira e, consequentemente seus reflexos na educação, após a abolição,

sensibilizando os professores em relação ao trato do tema racismo no âmbito

escolar.

b) Analisar as atitudes tomadas pelo governo para embranquecer a

população.

c) Reconhecer e valorizar a diversidade étnico-cultural brasileira,

respeitando a corporeidade dentro da visão africana, conhecendo e entendendo

mais sobre a capoeira.

Recursos didáticos: preparar um ambiente acolhedor para os participantes com

cadeiras, cd com músicas afro, cópia do texto, canetas, papel para anotações,

computador com acesso à internet, TV, DVD e trecho do filme Hotel Huanda;

agendar com o Mestre Pica Pau (Mestre de um grupo de capoeira de Campo

Largo) uma apresentação com seu grupo para este encontro.

Desenvolvimento:

Vamos acolher uns aos outros com um abraço caloroso para darmos início à

esse terceiro encontro...

O livro de literatura infantil Diversidade, escrito por Tatiana Belinki, nos

mostra através de versos e rimas, que cada pessoa é de um jeito. A colocação é

feita para a criançada, que aprende aqui a reconhecer e respeitar as diferenças.

Com belas ilustrações, essa lição é transmitida em forma de brincadeira.

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=21771.

Acesso em 20/10/2014.

3º encontro: Libertos do quê?

Senta que lá

vem história...

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Enquanto vemos algumas páginas do livro na tela, ao som de um trecho da

música Shimbalaiê, de Maria Gadu, vamos recordando de cada rostinho que

encontramos no colégio todos os dias, de como são diferentes, mas nas suas

diferenças, todos merecem ser tratados de maneira igual, com respeito e dignidade!

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nM-Hn5NOYi4música. Acesso em 19/10/2014

Depois, cada um comenta o que achou mais interessante e cita algumas

dessas diferenças que encontra na sala de aula...

No texto que vamos ler, veremos que, com a abolição que aconteceu em

1888, não ocorreram ações efetivas comprometidas em acabar com os efeitos

danosos da escravidão. Rosa Margarida de Carvalho Rocha e Hélio Santos

explicam melhor sobre o assunto:

Em 13 de maio de 1888 se deu a abolição, mas com ela veio simplesmente a libertação física dos escravos, não ocorreram ações efetivas comprometidas em acabar com os efeitos danosos da escravidão. É interessante a colocação de Hélio Santos (2001) sobre o dia seguinte após a abolição:

Mais de 700 mil pessoas foram colocadas de uma só vez em disponibilidade num mercado de trabalho fictício. Fictício porque, após 350 anos de escravidão, o que tínhamos no Brasil era um desemprego estrutural imenso. A magnitude numérica desse fato foi tão aguda que ainda hoje se faz sentir seus efeitos danosos à população negra (SANTOS, 2001: 79).

Depois da abolição, os negros partiram para as periferias das cidades ou continuavam

trabalhando nas fazendas, como ex-escravos, com péssimas condições de trabalho e sem nenhuma assistência médico-hospitalar. Com muita oferta de mão de obra, os salários eram muito baixos.Os trabalhadores livres e os empregadores não viam os ex-escravos como qualificados para as relações de trabalho livre. Da forma como foi articulado o fim da escravidão, só fez aumentar os problemas das cidades, com a multiplicação das favelas e cortiços, para onde, da senzala, o povo negro se dirigiu, e daí não saiu mais. Dois anos após a abolição, há um esforço nacional para embranquecer a população, abrindo espaço para a imigração europeia. A partir de 1808, com a abertura dos portos, a entrada do imigrante no Brasil é incentivada. Primeiro vieram os suíços, para os quais o governo concedeu favores para que se instalassem bem em sua nova moradia, depois os alemães que, além de receberem terras e apoio financeiro, tiveram ajuda material, entre outros benefícios.

Além de colônias, passagens foram concedidas aos imigrantes e créditos foram abertos aos europeus. O que deve ser destacado é que, para os negros livres e índios, nenhuma vantagem semelhante foi concedida. “Dois anos após a abolição, os recém-libertos continuavam entregues à sua própria sorte – eram negros soltos, não cidadãos” (SANTOS, 2001:44). Durante o período colonial até a República, Rosa Margarida de Carvalho Rocha (2011) explica que a grande maioria dos escravos não frequentava a escola, pois seu tempo era exigido quase que exclusivamente para a atividade produtiva. A Igreja Católica, na época, responsável pelos ensinos primário e secundário, possibilitava somente aos brancos e ricos receber esta formação. Filhos de colonos aprendiam a ler e escrever, progredindo no campo educacional.

Legalmente, a exclusão escolar da população negra brasileira foi oficializada com o Decreto nº1.331, de 17 de fevereiro de 1854, através do qual foi estabelecido que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos. E ainda pior, uma lei complementar de 5 de

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dezembro de 1824 proibia o leproso e o negro de frequentarem a escola pública. A educação foi levada em conta durante o processo de abolição do trabalho escravo, pois

era preciso formar trabalhadores necessários à sociedade livre. Nesse aspecto, a educação realizou-se de forma totalmente marginal: havia uma escola para atender à sociedade da época e outra para os trabalhadores, uns tendo acesso à riqueza material e outros não. Outro fator importante para entender a situação de marginalização do negro na sociedade brasileira e, consequentemente seus reflexos na educação, passa, segundo Rocha (2011), pelo entendimento da visão de mundo eurocêntrica. Esta, incorporada pelos intelectuais brasileiros apoiados em teorias “científicas” racistas emergentes naquela época, hierarquizava a participação da população brasileira, cabendo ao branco, nesta ideologia de supremacia racial, o protagonismo do progresso e da evolução da nação, e ao negro a posição de incapaz de pensar e interagir na sociedade.

Aos olhos da elite, era preciso branquear a população brasileira a fim de construir a nação brasileira de forma mais positiva, pois uma nação branca seria superior, física e culturalmente.

Portanto, esta postura racista de construção da nacionalidade assumida pela sociedade brasileira determinou o lugar do negro nesta sociedade, contribuindo efetivamente para o agravamento de seu estado de marginalização progressiva, não só como indivíduo, mas como camada social. Sob essa perspectiva, a população negra foi impedida de viver sua cidadania em função do racismo, da discriminação e dos preconceitos que a atingiram em todos os setores sociais (ROCHA, 2011: 18).

O Estado assumiu a responsabilidade do ensino, espalhando práticas discriminatórias e racistas do espaço social. Criou-se, então, segundo Rocha (2011), um currículo centrado na criança, mas como o currículo é fruto de uma opção teórica e política,a escola não era um espaço para o negro. As relações desiguais presentes na sociedade brasileira ocupam todos os espaços, principalmente o escolar, como comprovam os censos de 1940 e 1950 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Colocou-se na obscuridade a história negra e a trajetória histórica de luta por cidadania. Durante décadas, essa situação permaneceu estável, encoberta pelo mito da democracia racial. As crianças e os jovens negros não encontravam um ambiente acolhedor na escola, onde se garantisse um aprendizado prazeroso e a permanência sem que essa tensão fosse explicitada. Práticas pedagógicas e silêncios fizeram da escola uma reprodutora do racismo, conforme explica Rocha (2011).

Os movimentos sociais negros passaram a incluir em suas agendas reivindicações junto ao Estado Brasileiro referente à reprodução da discriminação racial contra os negros no sistema de ensino brasileiro, a inclusão do estudo da história africana, as lutas dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade brasileira. Parte dessa reivindicação já constava na declaração final do I Congresso do Negro Brasileiro, que aconteceu no Rio de Janeiro, entre 26 de agosto e 4 de setembro de 1950. Respaldados pela Constituição de 1988, Rocha (2011) esclarece que reivindicações e denúncias apresentadas por vários movimentos sociais e estudiosos da questão racial, começaram a ser ouvidas e essa história passou a tomar um rumo novo.

“ O Art. 210, da chamada “Constituição Cidadã”, preconiza: “Deve-se promover o respeito devido pela educação aos valores culturais”. Também o Art. 227 atribui ao Estado o dever de “colocar a criança a salvo de toda forma de discriminação”. O Art. 242, d 1º, estabelece que “o ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro” (BRASIL, 2000, p.131).

Atenção para as perguntas !!!

1) Por que mesmo após a abolição os negros continuaram sendo escravizados?

Justifique.

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2) Quais foram as atitudes tomadas pelo governo para embranquecer a

população? Explique.

3) Cite exemplo da postura racista da sociedade brasileira em relação ao acesso

dos ex-escravos à escola.

Claquete!!!

Hoje, vamos assistir um trecho do filme Hotel Ruanda. “Quando o mundo

fechou os olhos, um homem teve a coragem de fazer a diferença”. Enquanto

assiste, reflita sobre a dura realidade do povo negro em seu continente, pense

na realidade de discriminação vivida pelos negros em nossa sociedade, em

nossa escola, e se você tem coragem de lutar por eles e também fazer a

diferença!!!

Sinopse

Hotel Ruanda (EUA/Itália/África do Sul, 2004, dirigido por Terry George, Imagem

Filmes): Em 1994, um conflito político em Ruanda levou à morte quase um milhão de

pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram

que buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Este filme relata a história

real de Paul Rusesabagina, gerente de um hotel, que salvou a vida de 1268 pessoas

durante o genocídio de Ruanda. Neste trecho, Paul já abrigava inúmeros refugiados e,

ansioso, aguardava a chegada do exército de intervenção. Após a chegada do exército

belga, o gerente vai servir e conversar com o comandante das forças de paz da ONU e

é informado que o Ocidente não vai manter o exército no país e, tampouco, vai ajudar

os refugiados.

Disponível em: http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.

php?video=12117#. Acesso em 04/11/2014

Professor: seguem sugestões de outros filmes que você também

poderá estar levando para a sala de aula para assistir trechos com seus alunos,

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fazer análise e debates sobre os mesmos. Assista antecipadamente para saber o

qual é mais adequado para cada turma.

Entre dois amores (Out of África) (EUA, 1985, dirigido por Sidney Pollack,

Universal Pictures)

Quilombo (1984, 119min, dirigido por Cacá Diegues)

Um grito de liberdade (1987,157min, dirigido por Richard Attenbrougt)

Cobaias (1997, 118min, dirigido por Josep Sargent, EUA)

Crianças invisíveis (Itália, 2005, dirigido por Spyke Lee, Paris Filmes)

Vamos refletir...

Acessando o link

http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diversidade_apresentação.pdf, vamos

encontrar uma síntese dos principais resultados de uma pesquisa realizada em

2009, em várias escolas brasileiras pela Fundação Instituto de Pesquisas

Econômicas – FIPE e o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira - INEP, a qual analisou situações de preconceito e discriminação no

ambiente escolar. Vamos juntos analisar os resultados e tirar conclusões dos

dados, tentando observar a questão:

A pesquisa comprova a existência do preconceito e da discriminação no ambiente

escolar?

Um pouco mais de cultura africana...

A Capoeira é uma arte marcial com quase 5 séculos, desenvolvida no

Brasil por escravos oriundos da África, inicialmente como técnica de defesa.

Baseada em tradicionais danças e rituais africanos, estes escravos praticavam

Capoeira nos intervalos do trabalho, treinando quer o corpo quer a mente para

situações de combate. Devido à proibição de qualquer tipo de arte marcial pelos

seus donos, a capoeira continuou, mas encoberta como uma "inocente" dança

recreativa. Mais tarde, no século 17, alguns escravos fugitivos formaram

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"quilombos" (territórios escondidos e governados por escravos), na qual a arte

capoeirista foi aperfeiçoada.

Disponível em:

http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=154.

Acesso em 19/10/2014

Vamos até o pátio da escola que teremos uma surpresa: apresentação

do Mestre Pica Pau e seus alunos, onde vão fazer uma demonstração da

Capoeira para nossa apreciação!

Compromisso...

Vamos observar o material didático que estamos utilizando na sala de

aula. Se ele apresenta conteúdo e imagens que remetem ao racismo, como

vamos continuar utilizando, pois não vem de encontro com nosso propósito

de igualdade e respeito para com todos...

2.4 Oficina 4

A Lei 10.639/03 e o ensino da História e Cultura Africana e Afro-

Brasileira

Objetivos: a) Tornar conhecimento da Lei 10.639, sancionada e 9 de janeiro de

2003, que institui o ensino da História e da Cultura Africana e Afro-Brasileira no

currículo escolar do território brasileiro.

b) Reconhecer e valorizar a diversidade étnico-cultural brasileira por

meio do lúdico que respeite a corporeidade dentro da visão africana.

Recursos didáticos: preparar cadeiras; papel e canetas para anotações; cartolina,

cola, tesoura e canetinhas coloridas; cópias do texto para os participantes; agendar

o laboratório de informática antecipadamente para uso dos professores no horário

4º encontro: Não fique alheio à Lei!

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da oficina, preparar cartões com a frase de Nelson Mandela para distribuir aos

participantes; computador com acesso à internet; pedrinhas ou caixinhas de fósforo

vazias, cordas.

Desenvolvimento:

Sejam todos bem vindos para nossa quarta oficina. Vamos ler esse

cartãozinho com uma frase de Nelson Mandela:

Todos vocês sabem quem foi Nelson Mandela? Vocês conhecem a

biografia de outros africanos?

Que tal irmos ao laboratório de informática e, em duplas, pesquisarmos a

biografia de alguns líderes africanos? Cada dupla receberá cartolina e canetinhas

coloridas para registrar os principais dados da pessoa pesquisada. Podem usar a

impressora para obter a foto do mesmo. Após a pesquisa, as equipes apresentarão

o material que conseguiram no grande grupo e colocarão em exposição no mural

do colégio.

“Ninguém nasce odiando outra

pessoa pela cor de sua pele, por

sua origem ou ainda por sua

religião. Para odiar, as pessoas

precisam aprender, e se podem

aprender a odiar, podem ser

ensinadas a amar”.

Nelson Mandela

Refletindo...

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O texto a seguir vai nos orientar quanto a implementação da Lei 10.639/03

que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no

âmbito de todo o currículo escolar:

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) propiciou novas visões no que diz respeito à pluralidade cultural, quando no Art. 26, d 4°, aponta que “o ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia” (BRASIL, 1997, 15). Reconhecendo as importantes lutas empreendidas pelos movimentos negros, em 2003 é sancionada a Lei n° 10.639, em 9 de janeiro deste ano, alterando a Lei que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A Lei n° 9.394/96 passa, portanto, a vigorar acrescida dos seguintes artigos:

“[...]Art. 3° & 4° - O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígenas, africana e europeia. Art. 26A – Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre a História e cultura Afro-Brasileira. § 1° - O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2° - Os conteúdos referentes à História e cultura Afro-Brasileiras serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Art. 79B – O calendário escolar incluirá o dia 2º de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.

O estabelecimento destas leis foi um avanço no processo de democratização do ensino, bem como na luta anti-racismo. Ao que tudo indica, a lei considerou que era necessário não somente introduzir o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos ensinos fundamental e médio, como também qualificar os professores para ministrarem esse ensino. Analisando a legislação federal, Sales Augusto dos Santos (2005, p.33-35) considera alguns pontos negativos quanto à implementação adequada da Lei 10.639/06. Afirma que legislação não estabelece metas para a implementação da Lei, não se refere à necessidade de qualificar os professores dos ensinos fundamental e médio para lecionarem as disciplinas referentes à Lei, e considera o mais grave, a necessidade das universidades reformularem seus programas de ensino e/ou cursos de graduação para formarem professores aptos a ministrarem ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

Ou seja, é jogado aos professores, indiretamente, a responsabilidade do ensino supracitado, e vai depender da vontade e dos esforços destes para que o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira seja ministrado em sala de aula.

Aqui, pensamos que há um erro grave nessa lei, dado que as principais críticas às nossas relações raciais têm sido elaboradas principalmente no campo das ciências sociais e mais recentemente à História a Cultura Afro-Brasileira deveriam ser ministrados especialmente nas áreas de ciências sociais e de educação, parece-nos um grande equívoco, pois, ao que tudo indica, são estas áreas que estão à frente da discussão das relações raciais brasileiras. Pensamos que tais limitações da Lei podem inviabilizá-la, tornando-a inócua (SANTOS, 2005: 34).

É imprescindível que as universidades repensem os currículos das licenciaturas, a fim de que formem professores qualificados para uma educação anti-racista e não eurocêntrica, pois atualmente elas não são capazes de cumprir o que sugere a Lei 10.639/03. Os movimentos sociais e os intelectuais envolvidos na luta anti-racismo precisam

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pressionar constantemente o Estado Brasileiro para que esta Lei não se transforme em letra morta do nosso sistema jurídico. A lei por si só não garante sua execução. Os professores precisam fazê-la valer, tornando-a de fato um instrumento de combate ao racismo através da igualdade e da cidadania. O desafio é promover debates, seminários, atividades culturais sobre a diversidade racial, buscando alternativas, refazendo a história. Dessa forma, não serão só letras mortas no papel, mas a certeza da luta contra as discriminações históricas sofridas pelos negros no nosso país.

Para conversar... Em duplas, vamos discutir e anotar num papel o que podemos fazer enquanto

educadores para que esta lei não seja letra morta e acabe só no papel. Depois de

pronto, apresentaremos para o grupo!

Do que nós vamos brincar ??? Quem de nós ainda não guarda em suas memórias, brincadeiras de infância como

escravos de Jó, pega-pega, pular corda? Era divertido, não é mesmo? Essas são

brincadeiras de origem africana, incorporadas pela nossa cultura e até hoje fazem

parte dela. Vamos seguir as instruções e brincar:

Escravos de Jó

Brincadeira de roda guiada por uma cantiga. Para brincar, é

preciso no mínimo duas pessoas. Todos têm suas pedrinhas,

caixinhas ou qualquer objeto. No começo, elas são

transferidas entre os participantes, seguindo a sequência da

roda. Depois, quando os versos dizem “Tira, põe, deixa

ficar!”, todas fazem o que diz a música. No verso “Guerreiros

com guerreiros”, a transferência das pedrinhas é retomada,

até chegar ao trecho “zigue, zigue, zá!”, quando os

participantes movimentam as pedras que estão em mãos

para um lado e para o outro, sem entregá-las a ninguém. O

jogador que erra os movimentos sai da brincadeira, até que

fique um único vencedor.

Esta é a letra:

Escravos de Jó

Jogavam

caxangá

Tira, põe, deixa

ficar

Guerreiros com

guerreiros fazem

zigue-zigue-zá

Guerreiros com

guerreiros fazem

zigue-zigue-zá

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Pega-pega

O grupo escolhe quem vai ser o pegador. Os participantes correm tentando fugir do

pegador, que tenta pegá-los. Quando isso acontece, quem foi pego é o próximo

pegador.

Pular corda: pode ser praticada individual ou em grupo.

Duas pessoas seguram as pontas da corda e a movimenta para que um ou mais

participantes possam pular. Quem esbarra na corda sai da brincadeira, ou

simplesmente perde, e continua com outro participante!

Professor: nesse link você terá acesso a explicações mais

detalhadas sobre as brincadeiras de origem africana que acabamos de brincar! Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23638. Acesso em 25/10/2014

Compromisso...

Vamos refletir se nossos planos de aula estão contemplando um

ensino voltado para a valorização da cultura africana e afro-brasileira ao

longo do ano, e não apenas em datas pontuais!

2.5 Oficina 5

A função das Equipes Multidisciplinares

5º encontro: Mudar: antes tarde do que nunca!!!

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Objetivos: a) Levar os professores a uma reflexão sobre o papel da Equipe

Multidisciplinar, analisando o texto que se refere à criação das Equipes

Multidisciplinares no estado do Paraná, elaborando um plano de ação para 2015.

b) Fazer uma análise crítica dos materiais didáticos de cada disciplina,

dicionários e livros paradidáticos presentes na biblioteca do colégio.

c) Conhecer e valorizar a cultura afro através da dança

Recursos didáticos: cadeiras, papel e canetas para anotações; cartolinas e

canetinhas coloridas; cópias do texto para os participantes; agendar a biblioteca

antecipadamente para uso dos professores no horário da oficina; computador com

acesso à internet; convidar o professor de dança afro da Casa da Cultura para uma

mini aula com os professores da equipe.

Desenvolvimento:

Quero acolher com carinho a todos vocês para essa nossa quinta oficina, onde

estamos abordando o tema do racismo.

Muita coisa já aprendemos até agora. Então, vamos colocar as idéias

no papel! No grande grupo, vamos discutir ações que podemos estar

colocando em prática no nosso colégio visando tratar a todos de maneira

igualitária, valorizando a diversidade cultural brasileira. Peguem cartolina,

canetinhas e anotem essas idéias. Vamos fixar o cartaz na sala onde fazemos

nossos encontros para estarmos sempre lembrando das ações que estamos

nos propondo a desenvolver este ano! Sigam o modelo abaixo:

Plano de ações para 2015 Questão racial

no currículo

Expressão verbal

escolar cotidiana

Ambiente

escolar

Relação

professor/aluno

* * *

* * *

* * *

* * *

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Vamos fazer a leitura do texto que nos explica a formação e objetivos das

Equipes Multidisciplinares no nosso estado:

No estado do Paraná, em 2007, o Departamento da Diversidade (DEDI) constitui-se o primeiro espaço institucional responsável pela implementação da referida Lei, denominado Coordenação de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, situada na Coordenação dos Desafios Educacionais Contemporâneos. Em 2006, o Conselho Estadual de Educação – CEE, delibera Normas Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações da Diversidade Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, entre elas a criação das Equipes Multidisciplinares, onde:

Art. 8º - Cada unidade escolar/instituição deverá compor equipe interdisciplinar que estará encarregada da supervisão e desenvolvimento de ações que dêem conta da aplicação efetiva das diretrizes estabelecidas por esta Deliberação ao longo do período letivo e não apenas em datas festivas, pontuais, deslocadas do quotidiano da escola (PARANÀ, 2006: 3).

Em 2009, entre as coordenações do Departamento da Diversidade, institucionalizou-se se

o Núcleo de Educação das Relações Étnico-Raciais e Afrodescendência – NEREA, com a tarefa de orientar a inclusão da temática de história e cultura afro-brasileira e africana, as ações voltadas ao atendimento educacional das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Paraná e o enfrentamento às práticas de discriminação étnico-raciais na escola, assim como a pesquisa e produção de materiais pedagógicos. A partir dessas demandas, em 2010, foram realizadas reuniões técnicas com professores, técnicos pedagógicos dos Núcleos Regionais da Educação - NRE e representantes do Fórum Permanente de Educação das Relações da Diversidade Étnico-Racial - FPEDER, a fim de elaborar propostas para a regulamentação das Equipes Multidisciplinares.

De acordo com o previsto na Deliberação n° 04/2006 do Conselho Estadual de Educação-CEE, que institui as Normas Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos estabelecimentos escolares da rede estadual de educação básica, estabelece-se na Resolução 3399/2010–GS/SEED e na Instrução 010/2010 – SUED/SEED as normas que regulamentaram o funcionamento e a composição das Equipes Multidisciplinares em todos os estabelecimentos de ensino e NRE. Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e por meio da articulação das disciplinas da base nacional comum, as Equipes Multidisciplinares são constituídas como instâncias de organização do trabalho escolar, com a finalidade de efetivar a educação das relações da diversidade étnico-racial. Sendo assim, o objetivo da Equipe Multidisciplinar é desenvolver ações que positivem a presença de alunas/os negras/os, indígenas, quilombolas, bem como, sua história, sua cultura e sua religiosidade.

Nesse sentido, compreende-se que a abordagem adotada pelas Equipes Multidisciplinares, deve refletir sobre os processos de exclusão, racismo e preconceito vivenciados por negras/os, indígenas, quilombolas. Mais que isso, as ações pedagógicas propostas no plano de ação das Equipes, devem buscar possíveis soluções para dinâmicas e conflitos relacionais, que permeiam o cotidiano da escola e que visem a uma educação efetivamente democrática. Para o desenvolvimento do trabalho, a Equipe Multidisciplinar propõe uma dinâmica de encontros e seminários. Estas atividades são entendidas como formação continuada em educação das relações da diversidade étnico-racial. Todos os participantes são considerados concluintes dessa formação continuada, desde que participem e tenham frequência de 100 % (cem por cento) nos eventos obedecendo à carga horária sugerida, no início de cada ano letivo.

Refletindo..

.

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As escolas que têm sua Equipe Multidisciplinar dão um passo à frente no tocante à inclusão e valorização de seu alunado negro. O conhecimento do outro, de sua identidade étnica, cultural, histórica, possibilita uma verdadeira convivência pacífica, respeitando as diferenças fundamentais.

Em duplas, discutam quais são os pontos positivos e negativos da criação

das Equipes Multidisciplinares. Anotem num papel para expormos ao grupo a

seguir.

Analisando o material didático ... Agora vamos para a biblioteca onde em duplas, analisaremos o material

didático e paradidático quanto à questão racial. Cada dupla analisa três livros e um

dicionário.

Para cada obra, vamos completar a tabela que segue como modelo. A

seguir, vamos apresentar para o grupo.

Livro didático e paradidático

Autor, título e ano: ________________________________________________________

SIM NÃO

Os livros paradidáticos apresentam famílias negras ou personagens negros como protagonistas

As imagens e os textos apresentam preconceitos ou estereótipos de inferiorização do povo negro

Encontraram-se, nos textos, afirmações restritivas e abordagens simplificadoras. Relatam a ênfase na representação do negro escravo

Personagens brancos aparecem como representantes da espécie, muito mais freqüente nas ilustrações

Personagens negros aparecem menos freqüentemente em contexto familiar. Quando apresentada, a família é pobre.

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Dicionário

a)Autor, título e ano: ________________________________________________________________ b)Como aparecem as definições dos termos:

“branco”: ________________________________________________________________

“negro”: _________________________________________________________________

Pense que esse material está à nossa disposição e dos alunos em nosso

colégio. Vimos que ainda, em alguns deles, a imagem do negro aparece

envolvida de preconceitos. Então, como podemos utilizar esse material em

sala, se o mesmo não vem de encontro com nossas ideias de igualdade e

respeito para com todos? Vamos conversar sobre isso...

Quem “dança” seus males espanta!

A música e a dança afro são maneiras efetivas de apresentar aos alunos

uma novidade cheia de potencial educativo, pois no seu ensinamento se utiliza do

movimento consciente para expressar ideias, pensamentos e reflexões nos âmbitos

filosóficos, sociais e políticos, valorizando a cultura dos negros e de seus

descendentes.

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000016957.pdf. Acesso

em 03/11/2014.

Vamos acompanhar o professor que ministra aulas de dança Afro na

Casa da Cultura e em Curitiba, nosso convidado especial, para encerrarmos

nossas oficinas. Dançando, galera!

E assim, vamos encerrando nossas oficinas. Espero que tenha conseguido

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humildemente, apontar alguns caminhos para contribuir na elaboração de seus

planos de trabalho, mas mais que isso, que tenha conseguido sensibilizá-los para

uma reflexão sobre como tratar a questão racial, com a valorização dos alunos

negros, em especial, ensinando e tratando a todos com merecida igualdade e

respeito!

"Tudo é humano, bem diferente.

Assim, assado, todos são gente!

Cada um na sua e não faz mal,

Diversidade é que é legal!

Vamos, venhamos, isso é um fato!

Tudo igualzinho, ai como é chato!” Tatiana Belinki

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3. Referências

A Pesquisa sobre o Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar. 2009.

Disponível em:http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diversidade_apresentação.pdf.

Acesso em 19/11/2014.

ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. In: Brasil. Educação Africanidades Brasil.

Ministério da Educação. Universidade de Brasília, CEAD, 2006.p.53-66.

BELINKI, Tatiana. Diversidade. Quinteto, São Paulo, 1999.

BELEM, Valéria. O cabelo de Lelê. Ibep Nacional, São Paulo, 2012.

Comentário sobre o Livro Diversidade, de Tatiana Belink. Disponível em:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=21771. Acesso em

20/10/2014.

Conto africano. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br. Acesso

em 29/10/2014.

Desenhos. Disponível em: http://www.universodasdicas.com/2011/01/imagens-de-

dominio-publico.html . Acesso em 17/10/2014.

GOMES, Nilma Lino. In: Brasil. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei

Federal nº 10.639/03 / Coleção Educação para todos. Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade: MEC/BID/UNESCO. Brasília: Ministério da

Educação, 2005, p.45 a 48.

Jogos africanos e afro-brasileiros. Disponível em:

http://www.laab.ufpa.br/phocadownload/laabpublicacoes/Apostila%20Jogos%20infan

tis%20africanos%20e%20afro-brasileiros.pdf. Acesso em 17/10/2014.

MUNANGA, Kabengele. In: Brasil. Educação anti-racista: caminhos abertos pela

Lei Federal nº 10.639/03 / Coleção Educação para todos. Secretaria de Educação

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Continuada, Alfabetização e Diversidade: MEC/BID/UNESCO, 2005.p.43-44.

Brasília: Ministério da Educação, 2005, p.43-44.

NASCIMENTO, Elisa Larkin. In: Brasil. Educação Africanidades Brasil. Ministério

da Educação. Universidade de Brasília, CEAD, 2006.p.33-34.

Origem da cocada. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cocada. Acesso em

04/11/2014.

ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Educação das relações Étnico-Raciais:

pensando referenciais para a organização da prática pedagógica. Mazza, Belo

Horizonte, 2007.

SANTOS, Helio. A busca de um caminho para o Brasil. A trilha do círculo vicioso.

2ª edição, Senac, São Paulo, 2001.

SANTOS, Sales Augusto dos. In: Brasil. Educação anti-racista: caminhos abertos

pela Lei Federal nº 10.639/03 / Coleção Educação para todos. Secretaria de

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade: MEC/BID/UNESCO.Brasília:

Ministério da Educação, 2005, p.32-35.

Sinopse de Hotel Huanda. Disponível em:

http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo. php?video=12117#.

Acesso em 04/11/2014.

Trecho do livro Diversidade, de Tatiana Belinky.

Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=nM-Hn5NOYi4música. Acesso em

19/10/2014.

Trecho do vídeo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnoloigia –

Porto Seguro, sobre o racismo na literatura infantil. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=6Oa9UqqZk8Q. Último acesso em 13/10/2014

WEDDERBURN, Carlos Moore. In: Brasil. Educação anti-racista: caminhos

abertos pela Lei Federal nº 10.639/03 / Coleção Educação para todos. Secretaria

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de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade: MEC/BID/UNESCO.Brasília:

Ministério da Educação, 2005, p.135 a 137.