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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – D PPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

CADERNO PEDAGÓGICO

A RELIGIOSIDADE AFRO-DESCENDENTE EM SALA DE AULA

CAMPO MOURÃO

2013

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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA – PDE/2013

Titulo: A RELIGIOSIDADE AFRO-DESCENDENTE EM SALA DE AULA

Autor Vera Lucia Belo da Silva Disciplina/Área (ingresso no PDE) História

Escola de Implementação do

Projeto e sua localização

Colégio Estadual José Alfredo de Almeida – Ensino Médio, Técnico e Profissional

Município da Escola Mariluz

Núcleo Regional de Educação Goioerê

Professor Orientador Prof. Drº. Frank Antonio Mezzomo

Instituição de Ensino Superior UNESPAR – Campus de Campo Mourão

Relação Interdisciplinar Arte e Geografia

Resumo Tendo como linha de estudo a história e cultura africana, afro-brasileira e indígena, o projeto de intervenção pedagógica busca discutir as manifestações religiosas afro-descendentes e problematizar as origens históricas de seu processo de estigmatização e discriminação no Brasil. Compreender as práticas religiosas numa abordagem cultural, parece compor elemento fundamental para entender a constituição das identidades brasileiras.

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Manifestações religiosas; Processo de estigmatização; Identidades brasileiras

Formato do Material Didático Caderno Pedagógico

Público Alvo Alunos do 1º ano do Ensino Médio

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VERA LUCIA BELO DA SILVA

CADERNO PEDAGÓGICO

A RELIGIOSIDADE AFRO-DESCENDENTE EM SALA DE AULA

Projeto apresentado à Coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em convênio com a Universidade Estadual do Paraná, Campus de Campo Mourão como requisito para o desenvolvimento das atividades propostas para o período de 2013/2014. Orientação do Professor Drº. Frank Antonio Mezzomo.

CAMPO MOURÃO

2013

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Sumário

Apresentação 5

Produção caderno pedagógico 5

1. Público alvo 5

2. Problematização 5

3. Objetivos 6

Objetivo Geral 6

Objetivos Específicos 6

Apresentação do projeto 7

Unidade I - Contextualizando o tema 8

Unidade II - Pesquisar as representações artísticas dos orixás 14

Unidade III - Estigmatização e Preconceito contra o Candomblé 19

Unidade IV - Igreja Católica e o Candomblé 28

Unidade V - Igrejas Neopentecostais e o Candomblé 34

Referências 38

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Apresentação

Este trabalho norteia-se nas propostas do PDE – Programa de

Desenvolvimento Educacional do Paraná, turma 2013. As atividades do

programa foram realizadas em parceria com a Universidade Estadual do

Paraná (UNESPAR), Campus de Campo Mourão, na área de História sob a

orientação do professor Drº. Frank Antonio Mezzomo, e problematiza o tema: A

religiosidade afro-descendente em sala de aula.

O trabalho tem como objetivo principal aprofundar mais conhecimento

da temática da religiosidade em sala de aula. Compreender algumas

raízes históricas das religiões afro-descendente, sobretudo do

Candomblé e discutir como estas manifestações foram historicamente

estigmatizadas no Brasil, e o problema central que será tratado nesse

trabalho.

Com esse trabalho, espera-se conscientizar os alunos sobre as

necessidades de mudanças de atitude, bem como estimulá-los a serem

multiplicadores dos conhecimentos sobre o tema.

Assim, para que este trabalho atinja seus objetivos, elaborou-se um

Caderno Pedagógico onde foram desenvolvidas as atividades que serão

trabalhadas com os alunos de 1º Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual

José Alfredo de Almeida – Ensino Médio, Técnico e Profissional – Mariluz –

Paraná.

Produção caderno pedagógico

1. Público alvo

Alunos do 1º ano do Ensino Médio, Professores do Colégio Estadual

José Alfredo de Almeida e sociedade mariluzense em geral.

2. Problematização

Compreender algumas raízes históricas das religiões afro-

descendentes, sobretudo do Candomblé, e discutir como estas manifestações

foram historicamente estigmatizadas no Brasil, é o problema central que será

tratado nesse trabalho. Os alunos, quando questionados por qual motivo

apresentam discriminação acerca da religião Candomblé, às vezes dizem que

tal religião, ou outras a ela associadas, praticam a macumba, feitiçaria,

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encomendam a alma dos vivos, entre outros. No entanto, percebe-se que não

se tem conhecimento de seus ritos, deuses e outras considerações históricas

acerca dessa crença e de suas etnias.

3. Objetivos

Objetivo Geral

Discutir as manifestações religiosas afro-descendentes e compreender

algumas origens históricas de seu processo de estigmatização no Brasil.

Objetivos Específicos

* Perceber as construções sócio-culturais das religiões afro-descendentes;

* Entender a participação das religiões afro-descendentes na cultura brasileira;

* Proporcionar aos alunos um contato com a cultura dos afro-descendentes,

enfocando o aspecto religioso, oportunizando momentos de desconstrução e

desinibição;

* Desenvolver o conhecimento sobre a história da cultura afro-brasileira.

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Apresentação do projeto

Para iniciar o desenvolvimento do trabalho, a Direção, Equipe

Pedagógica e Funcionários serão informados sobre o assunto abordado no

Projeto PDE 2013: Com o tema “Religiosidade na sala de aula”.

A partir da segunda semana de aula do ano letivo de 2014, os alunos

serão informados sobre o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),

do Governo do Paraná e o assunto que trabalharemos em conjunto.

Detalharemos as atividades que serão desenvolvidas no decorrer da

aplicação das atividades do caderno pedagógico, por meio de aulas

expositivas, e em seguida serão apresentadas as atividades tais como:

produção de texto, leituras, debate, visualização de filmes, imagens, confecção

de cartazes, desenhos e pesquisas feitas pelos alunos no laboratório.

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Unidade I

Contextualizando o tema

O objetivo dessa unidade é proporcionar ao aluno conhecer as

manifestações afro-descendentes, por meio de discussões e assim

compreender o processo de estigmatização no Brasil.

A primeira atividade consistirá numa aula expositiva acerca do

embasamento teórico produzido nesse trabalho. Após explicações,

argumentações e sanar as dúvidas que surgirem, serão apresentadas as

atividades, que deverão ser realizadas pelos alunos, conjuntamente com o

professor PDE.

Essa unidade será trabalhada com uso das seguintes metodologias:

aula expositiva, produção de textos sínteses e desenhos.

1. Produzir uma síntese (cerca de 15 linhas) a respeito da aula

expositiva e do embasamento teórico do trabalho intitulado: A Religiosidade

Afro-Descendente Em Sala de Aula.

2. Fazer um desenho livre sobre o texto.

3. Apresentar o desenho aos colegas da sala, explicando seu

significado.

4. Expor no mural do colégio, para que os outros alunos, professores,

funcionários e comunidade vejam os mesmos.

Atividade I

Discutir a Lei 10.639/03

Através da utilização da TV Pen Drive, discutir a importância da Lei

10.639/03. Após em pequenos grupos, produzir um pequeno texto (síntese)

sobre o que conduz a lei a respeito da religião afro-descendente.

A metodologia a ser utilizada nessa unidade é: transmitir a lei, na

integra aos alunos, através da TV Pen Drive, pela confecção de slides. Após

será proporcionada uma discussão, em pequenos grupos, com o objetivo dos

alunos compreenderem a importância de incluir no currículo nacional, as

seguintes temáticas: História e Cultura Afro-Brasileira.

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Quadro 1 – Trecho da Lei 10.639/03 Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Fonte: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 01 nov. 2013.

Responda as seguintes perguntas:

1) Por que foi necessário criar a Lei 10.639/03.

2) Qual é o nome do presidente que sancionou a Lei?

3) Na sua opinião, descreva o que você acha dessa Lei?

Atividade II

Texto sobre o Candomblé

Candomblé

Dança ritualística que invoca os orixás.

O candomblé é uma religião africana trazida para o Brasil no período em que os negros desembarcaram para serem escravos. Nesse período, a Igreja Católica proibia o ritual africano e ainda tinha o apoio do governo, que julgava

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o ato como criminoso, por isso os escravos cultuavam seus Orixás, Inquices e Vodus omitindo-os em santos católicos. Os orixás, para o candomblé, são os deuses supremos. Possuem personalidade e habilidades distintas, bem como preferências ritualísticas. Estes também escolhem as pessoas que utilizam para incorporar no ato do nascimento, podendo compartilhá-lo com outro orixá, caso necessário. Os rituais do candomblé são realizados em templos chamados casas, roças ou terreiros que podem ser de linhagem matriarcal (quando somente as mulheres podem assumir a liderança), patriarcal (quando somente homens podem assumir a liderança) ou mista (quando homens e mulheres podem assumir a liderança do terreiro). A celebração do ritual é feita pelo pai de santo ou mãe de santo, que inicia o despacho do Exu. Em ritmo de dança, o tambor é tocado e os filhos de santo começam a invocar seus orixás para que os incorporem. O ritual tem no mínimo duas horas de duração. O candomblé não pode ser igualado à umbanda. No candomblé, não há incorporação de espíritos, já que os orixás que são incorporados são divindades da natureza; enquanto na umbanda, as incorporações são feitas através de espíritos encarnados ou desencarnados em médiuns de incorporação. Existem pessoas que praticam o candomblé e a umbanda, mas o fazem em dias, horários e locais diferentes. Fonte : Brasil ESCOLA. 2013. Candomblé. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/religiao/candomble.htm>. Acesso em: 13 out. 2013.

Após realizar a leitura desse texto, responda as seguintes perguntas:

a) Durante a época em que o Brasil praticava a escravidão, a religião

Candomblé era proibida, sendo praticada de qual forma, por seus adeptos

negros escravos?

b) Como são considerados os orixás na religião Candomblé?

c) O que significa, linhagem matriarcal, patriarcal ou mista?

d) Descreva como é realizada a celebração ritualística do Candomblé?

e) Qual a duração desse ritual?

f) Evidencie a diferença entre a religião Candomblé e Umbanda?

Atividade III

Oração pela paz interior

Em noite de oração, Candomblé abordará a paz interior Vanda Munhoz Para o Candomblé, a 8ª Noite de Oração pela Paz, que acontecerá no dia 21, sintetiza a necessidade de união entre as religiões em busca de um bem comum, a paz. O Candomblé é uma das oito religiões que participam do evento e integram o

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Grupo de Diálogo Inter-religioso (GDI) de Maringá, fundado em março de 2007. "Como todas as religiões, nós buscamos a paz. Unindo-se, as religiões mostram que o povo deve se unir também", diz Maria de Lourdes Nascimento, a Mãe Lourdes, representante do Candomblé no GDI.

Arquivo/DNP

Para Mãe Lourdes, evento do dia 21 ajuda a vencer o preconceito

"Somos todos filhos de Deus, da Mãe Natureza e da Mãe Terra, então somos todos irmãos", sintetiza. Na avaliação dela, o evento além de buscar a paz, é uma oportunidade de as pessoas conhecerem o Candomblé. "É bom saber que estamos sendo aceitos e vistos com mais humanidade e menos preconceito. O Candomblé sofre preconceito e, assim, temos a oportunidade de mostrar que, como todo mundo, lutamos pela vida, pelo amor no mundo, pela paz. Se quisermos ter um mundo sem guerras é preciso que exista a paz entre as religiões", afirma. Na Noite de Orações pela Paz, o Candomblé versará sobre a paz interior. O tema mostrará que os homens devem, em primeiro lugar, ter paz dentro de si para depois irradiá-la entre todos os povos. "No GDI, temos a oportunidade de conhecer a outras religiões e debater temas importantes como a paz. Temos também a oportunidade de transmitir ao povo que a união faz parte da mudança mundial para melhor", completa Mãe Lourdes. Para ela, o evento do dia 21 alcança seus objetivos. "A cada ano, temos mais pessoas participando", observa. Fonte: odiario.com. Em noite de oração, Candomblé abordará a paz interior. Disponível em: <http://maringa.odiario.com/maringa/noticia/489616/em-noite-de-oracao-candomble-abordara-a-paz-interior/>. Acesso em: 13 out. 2013.

Após realizar a leitura do texto, responda as seguintes perguntas:

a) Conforme o texto, o que acontecerá no dia 21?

b) Qual o motivo primordial desse encontro?

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c) Qual é a outra oportunidade propiciada por esse encontro?

d) Para que o mundo viva sem guerras, o que afirma Mãe Lourdes?

e) O que o tema “Paz interior”, versado pelo Candomblé mostra aos

homens?

Atividade IV

Religiões Afro-Brasileiras

R E L I G I Õ E S Religiões Afro-Brasileiras

"O Portal Brasil®, independentemente de suas convicções religiosas, abre aqui um canal de informação sobre algumas religiões apenas para servir como

fonte de pesquisas e estudos. Quem quiser colaborar com matérias e informações, utilize a nossa central de

e-mails." Principais religiões afro-brasileiras, o candomblé e a umbanda têm forte penetração no país, especialmente em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e na Bahia. Em 1991, existiam quase 650 mil adeptos, de acordo com o censo do IBGE. Estudiosos dessas religiões estimam que quase um terço da população brasileira frequenta um centro. Esse número inclui tanto os frequentadores assíduos quanto os esporádicos, que muitas vezes estão ligados também a outras religiões. Candomblé - Religião afro-brasileira que cultua os orixás, deuses das nações africanas de língua ioruba dotados de sentimentos humanos como ciúme e vaidade. O candomblé chegou ao Brasil entre os séculos XVI e XIX com o tráfico de escravos negros da África Ocidental. Sofreu grande repressão dos colonizadores portugueses, que o consideravam feitiçaria. Para sobreviver às perseguições, os adeptos passaram a associar os orixás aos santos católicos, no sincretismo religioso. Por exemplo, Iemanjá é associada a Nossa Senhora da Conceição; Iansã, a Santa Bárbara, etc. As cerimônias ocorrem em templos chamados territórios. Sua preparação é fechada e envolve muitas vezes o sacrifício de pequenos animais. São celebradas em língua africana e marcadas por cantos e o ritmo dos atabaques (tambores), que variam segundo o orixá homenageado. No Brasil, a religião cultua apenas 16 dos mais de 300 orixás existentes na África Ocidental. Umbanda - Religião brasileira nascida no Rio de Janeiro, nos anos 20, da mistura de crenças e rituais africanos e europeus. As raízes umbandistas encontram-se em duas religiões trazidas da África pelos escravos: a cabula, dos bantos, e o candomblé, na nação nagô. A umbanda considera o universo povoado de entidades espirituais, os guias, que entram em contato com os homens por intermédio de um iniciado (o médium), que os incorpora. Tais guias se apresentam por meio de figuras como o caboclo, o preto-velho e a pomba-gira. Os elementos africanos misturam-se ao catolicismo, criando a

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identificação de orixás com santos. Outra influência é o espiritismo kardecista, que acredita na possibilidade de contato entre vivos e mortos e na evolução espiritual após sucessivas vidas na Terra. Incorpora ainda ritos indígenas e práticas mágicas européias. Fonte: Disponível em: <http://www.portalbrasil.net/religiao_religioes_afrobrasileiras.htm>. Acesso em: 17 nov. 2013.

Após realizar a leitura do texto, responda as seguintes atividades:

1) Em quais estados do Brasil as religiões afro-brasileiras, o

Candomblé e a Umbanda, têm forte penetração?

2) Em que século o Candomblé chegou ao Brasil?

3) Para sobreviver às perseguições o que os adeptos passaram a

associar?

4) Com qual Santa Católica, Iemanjá é associada?

5) Escreva o nome das duas religiões trazidas do continente Africano

pelos escravos?

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Unidade II

As representações artísticas dos orixás

O objetivo dessa unidade é proporcionar uma reflexão e acesso a outro

gênero musical diversificado de sua realidade atual, além de proporcionar que

se visualizem as representações artísticas dos orixás e também dos Santos

Católicos respectivos, para assim realizar a atividade solicitada (confeccionar

cartazes com as imagens de alguns orixás e os santos católicos respectivos).

Antes de iniciar efetivamente esta unidade, será transmitida a música

na TV Pen Drive: Salve as folhas, interpretada por Maria Bethânia e Sandra de

Sá, para reflexão dos alunos.

Levar os alunos ao laboratório de informática para pesquisarem sobre

os Orixás e os Santos Católicos. De posse dessa pesquisa, solicitar aos alunos

a confecção de cartazes para serem fixados no mural com a história dos Orixás

e dos respectivos Santos Católicos.

A metodologia utilizada nessa unidade é mediar as pesquisas

realizadas no laboratório de informática, com a finalidade dos alunos

visualizarem as corretas representações artísticas dos orixás do Candomblé.

Abaixo está a imagem do orixá Ogum, que é representado pelo santo

católico, São Jorge. Esse é apenas um exemplo de “disfarce” realizado pelos

praticantes do Candomblé, na época do Brasil Colônia, que oravam para

Ogum, mas proferiam palavras para o São Jorge.

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Orixá Ogum São Jorge Fonte: Disponível em: <http://acartomantepriscila.blogspot.com.br/2010/04/umbanda-e-candomblecatolicismo-ogum-e.html>; <http://cleofas.com.br/sao-jorge-e-santo-mesmo/>. Acesso em: 02 nov. 2013.

Atividade I

Filme: Kiriku e a feiticeira

O filme documentário é resultado de um trabalho de pesquisa de 4

anos em que, num período de 90 dias e numa extensão de 12 mil Km, foram

visitadas 69 comunidades negras do estado da Bahia. Neste documentário

encontram-se registradas as comunidades remanescentes de quilombos, suas

histórias, o cotidiano, a cultura e as estratégias de sobrevivência dos grupos.

Filme: Kiriku e a feiticeira

Diretor: Michel Ocelot

Produtora: CYMAX Group

Duração: 71 min.

Local da Publicação: França, Bélgica

Ano: 1998

Sinopse: Kiriku é um garoto pequeno, mas muito inteligente e com dons

especiais, que nasceu com a missão de salvar sua aldeia. A cruel feiticeira

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Karaba secou a fonte do lugar onde Kiriku mora com amigos e parentes e,

possivelmente, comeu o pai e os tios do menino. Encontrando amigos e seres

fantásticos pelo caminho, Kiriku vai resolver a situação. História baseada em

uma lenda da África Ocidental.

Após a exibição do filme, os alunos deverão responder as seguintes perguntas:

a) Qual era o nome da Feiticeira que secou a fonte?

b) Quem comeu o pai de Kiriku?

c) O que a feiticeira pediu para o tio de Kiriku?

d) Por que a feiticeira pensava que o chapéu era mágico?

e) O que a feiticeira queria das mulheres da aldeia?

f) Por que a aldeia de Kiriku está sem homens?

g) O que Kiriku fez para salvar os meninos da aldeia?

h) Visando a obter um registro do que foi trabalhado, será solicitado um

pequeno texto aos alunos, que devem evidenciar os aspectos religiosos e

entendimentos acerca do filme.

Atividade II

Oração ao orixá Ogum

Leia a seguinte oração ao orixá Ogum e responda as seguintes perguntas: Ogum: Ogunhê Ogum, laçai oxim mole. Salve poderoso senhor do ferro e do aço. Ó grande vencedor das demandas. Venho a vós, humildemente, pedir que dê a mim a sua bravura e valentia, para que eu atinja os meus objetivos. Ogum, guerreiro virtuoso, vencedor do mal. Patacori, meu pai, com sua espada de aço e sua lança de prata, abra meus caminhos. Me livre de tudo que seja mal, limpa minha cabeça, minha alma, dê-me seu Axé, grandioso orixá, para que, com sua ajuda, eu consiga (faça o seu pedido). Pelo poder do fogo e do aço, por Ogum eu venço, venci e sempre vencerei. Axé. Fonte: Disponível em: <http://candombl.blogspot.com.br/2007/10/oraes-aos-orixs_3584.html>. Acesso em: 01 nov. 2013. 1) É possível realizar alguma comparação com alguma oração religiosa ou não,

que você conhece? Descreva as semelhanças.

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2) Qual a maior diferença encontrada nessa oração e na oração “Pai-Nosso”?

Atividade III

Caça-palavras

Atividade IV

Visualizar documentário

Transmitir aos alunos, por meio da TV Pen Drive, um vídeo documento

intitulado “História das religiões: Umbanda e Candomblé, dispon ível no

seguinte link do You Tube:

<http://www.youtube.com/watch?v=KqqGr8ab5Jk>. Acesso em: 10 out.

2013.

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Após a visualização do vídeo, os alunos responderão as seguintes atividades:

1. Como era considerada a religião Candomblé para os colonizadores?

2. O que quer dizer Umbanda?

3. O que significa Orixás?

4. Como surgiu a religião afro-descendente Umbanda?

5. O que quer dizer Babalorixá e Ialorixá?

6. Quando ocorrer a morte do Babalorixá ou da Ialorixá, quem irá assumir o

terreiro? Explique o referido processo.

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Unidade III

Estigmatização e preconceito contra o Candomblé

O objetivo dessa unidade é mencionar a estigmatização e o

preconceito que os adeptos da religião afro-descendente Candomblé sofrem

diariamente, em tempos atuais.

A metodologia utilizada será a apresentação de fragmentos de textos e

reportagens retirados de sites na internet, finalizando com atividades a serem

realizadas pelos alunos.

Atividade I

A estigmatização ocasionada pela mídia

Após a leitura do seguinte texto, responda as atividades:

Terreiros na mídia: o que você diz sobre mim é o qu e eu realmente sou?

A mídia é um espaço de discussão e representação de diferentes modos de ser e pensar. A partir de uma profusão de redes, o que ela constrói sobre a realidade espalha-se por centenas de grupos sociais, também distintos entre si. A notícia, o produto simbólico que circula por aí, é uma representação de algo ou alguém, que legitima valores – sejam eles positivos ou negativos. No início do mês de março, veículos de comunicação locais e nacionais noticiaram a morte de uma professora, em um suposto terreiro de candomblé, no bairro do Cordeiro, no Recife. O que aconteceu é bem mais complexo do que esta simples descrição, mas vamos utilizá-la como ponto inicial de uma discussão sobre a representação que meios de comunicação fazem das religiões de matriz africana. Religiões como o candomblé, a jurema e a umbanda dificilmente são vistas

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livres de preconceito e estereótipos, muito em decorrência de um estigma construído por séculos, que permeia o imaginário daqueles que pouco ou nada conhecem dos cultos, de suas práticas, crenças e história. Há pouco mais de cinco décadas, a prática do candomblé era proibida por lei; terreiros eram destruídos pela força policial, e seus adeptos sofriam perseguição frente à hegemonia de religiões cristãs, atreladas ao poder do Estado. Os anos de intolerância podem até ter passado (embora há quem diga que não). Suas marcas simbólicas, porém, continuam bastante vivas e visíveis. A representação Nas notícias veiculadas sobre a morte da professora, foi descrito um ritual, conduzido por três pessoas — duas delas denominadas por alguns veículos como “mãe” e “pai” de santo —, que a teria levado à morte. Dentre as matérias que pesquisamos, as publicadas no PE 360 Graus, no Tudo na Hora e no Portal Terra, sem hesitar, afirmam que a morte realmente ocorreu em um terreiro, tendo como um dos suspeitos a mãe de santo. Alguns textos utilizaram o termo “ritual de magia negra” associado à prática do candomblé, reforçando uma representação negativa da religião que não condiz com seu rito. Na mesma semana em que a notícia foi amplamente divulgada, o NE 10 , antigo JConLine, noticiou que a Secretaria Executiva de Promoção da Igualdade Étnico-Racial do Estado e adeptos das religiões de matriz africana realizaram um encontro para discutir o fato em questão e se posicionarem sobre ele. Nesta matéria, o secretário executivo Jorge Arruda fala que recebeu muitas ligações de representantes de terreiros de candomblé, umbanda e jurema de Pernambuco, falando que não tinham o registro da mãe de santo nem do pai de santo envolvidos no caso. Neste momento, o Diário de Pernambuco foi além em suas apurações. Fez uma excelente reportagem na qual diz que o terreiro não era reconhecido e esclarece, com falas de Mãe Elza — representante do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial — e de Tarcísio Torres, os princípios do culto do candomblé e o erro ao associar o caso às práticas da religião. Entretanto, por que ainda associar “ritual de magia negra” e o assassinato ao candomblé, como feito em outras matérias? Amauri Cunha, jornalista e filho de santo do Ilê Axé Airá Adja Osso, terreiro que fica no Alto José do Pinho, acredita que “o domínio do estabelecimento pelas religiões judaico/cristãs, sejam elas quais forem, sempre apontará a descendência africana como algo primitivo e selvagem. Daí o caminho curto para redações preconceituosas, elaboradas pela falta de conhecimento por parte de quem as redige”, opina o filho de santo ao analisar as matérias veiculadas sobre a morte da professora.

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Amauri fala de conteúdos (saberes e julgamentos) construídos e compartilhados socialmente sobre a religião de ascendência africana que levariam ao preconceito, baseados em atributos que a marcam negativamente. Sendo a mídia nosso espaço público de discussão, é nela que se reflete e se propaga a representação social que se tem do candomblé, neste caso, uma representação advinda do estigma que pesa sobre a crença e que, infelizmente, pode gerar discriminação. No que diz respeito às matérias analisadas, percebemos que as notícias publicadas no Tudo na Hora, n’O Dia Online, no PE 360 Graus e no Portal Terra amplificam esta representação depreciativa. Mas nossos jornalistas não precisam ser reféns de estereótipos, muito pelo contrário. Enquanto mediadores de culturas e formas de viver diversas, devem lutar contra os modelos previamente criados e fixados. Nesta luta, o jornalista deve experienciar o encontro e a escuta. Seu olhar deve ser mais cuidadoso (de respeito e tolerância) ao se deparar e ter de escrever sobre mundos diferentes do seu. Amauri ainda relembra, “o jornalista devia, no mínimo, pesquisar sobre o que desconhece”. Fonte: Disponível em: <http://www.ombudspe.org.br/analises/terreiros-na-midia-o-que-voce-diz-sobre-mim-e-o-que-eu-realmente-sou/>. Acesso em: 22 nov. 2013.

a) O texto menciona uma notícia que ocorreu num terreiro de

candomblé. O que relata essa notícia?

b) O que significa uma notícia para a mídia?

c) As religiões afro-descendentes (Candomblé, Umbanda e Jurema)

são discriminadas por qual motivo, segundo o texto?

d) Houve uma época em que a prática do Candomblé era proibida por

lei. O que acontecia com seus terreiros e adeptos nessa época?

e) Quando relatado o modo de morte da professora, qual o termo

utilizado que reforça uma representação negativa das religiões afro-

descendentes?

f) O que esclarece as falas de Mãe Elza, sobre do caso de

assassinato?

g) Qual é a interpretação do jornalista Amauri Cunha, a respeito de

associar “ritual de magia negra” às religiões de matrizes africanas?

h) Conforme Amauri, o que a mídia reflete e propaga em seus

noticiários?

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i) O jornalista deve ter olhar mais cuidadoso ao se deparar e ter de

escrever sobre mundos diferentes do seu. Acerca dessa temática, o que

comenta Amauri?

Atividade II

O Candomblé nas redes sociais

O Candomblé nas redes sociais Por: Pai Paulo de Oxalá em 31/10/13 É impossível imaginar o cotidiano moderno sem as redes sociais. Existem milhares de sites que mesclam tradição e tecnologia. Atualmente encontramos online, grupos e comunidades de todas as religiões, e com o Candomblé não é diferente. O Candomblé é uma religião brasileira, originária da África onde a cultura da oralidade dos seus fundadores foi importante para proteger as tradições que serviram de base para a formatação desse culto. Por outro lado, as redes sociais também têm desempenhado um papel fundamental para a perpetuação da cultura afro-brasileira. De acordo com Cristina de Luca, editora especialista de assuntos na Web do Grupo Now! Digital e comentarista de assuntos sobre tecnologias do Jornal da Rádio CBN 2ª edição, "mais do que entreter, quando bem utilizadas, as redes podem se tornar ferramentas de interação valiosas para auxiliar na divulgação das religiões". Ela complementa que "os sites religiosos são mais culturais, porém as redes sociais tornam-se espaços de confraternizações, pois com as divulgações de eventos e festividades dos terreiros de forma instantânea, os adeptos podem interagir e optar quais os eventos e terreiros a visitar". Já para o escritor e professor de língua yorubá, José Beniste, não só as redes como a internet de um modo geral, vêm contribuindo para uma nova captação de seguidores para o Candomblé. "Temos que absorver ensinos positivos e não compartilhar os assuntos não proveitosos". O Babalorixá e diretor da Anma (Associação Nacional de Mídia Afro), Márcio de Jagun, destaca que as redes sociais vieram mostrar para o mundo a beleza do Candomblé, desmistificar o estigma de gueto, vencer os preconceitos e avançar na luta pela igualdade religiosa. Para o também Babalorixá, professor de língua portuguesa e fundador da Abl-Afro (Academia Brasileira de Letras e Artes da Cultura Africana), Marcos Penna, as redes fazem parte desta nova realidade onde a tecnologia pode servir de canal para um diálogo construtivo em um espaço realmente democrático. O fato é que todos são unânimes que, quando bem usadas, as redes sociais

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potencializam e ampliam o conhecimento cultural, ajudando assim na divulgação e preservação religiosa. Wà láàyè ìdásílè ní ìtenumó! (Viva a liberdade de expressão!) Axé! Fonte: Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/pai-paulo-de-oxala/o-candomble-nas-redes-sociais-10612301.html>. Acesso em: 23 nov. 2013.

A primeira atividade deve ser refletida e respondida pelos alunos, antes

da leitura do texto acima. As demais deverão ser respondidas conforme o texto,

após sua leitura.

1. Ao longo das últimas aulas, foi evidenciado a estigmatização das

religiões afro-descendentes, que ainda sofrem preconceitos e descriminações.

Dessa forma, comente suas opiniões acerca do fato dessas religiões,

atualmente, criarem páginas em redes sociais, como o Facebook, visando a

divulgar suas crenças a seus adeptos e novos visitantes.

2. Conforme o texto, como é mencionado por Cristina de Luca, as

redes sociais?

3. Por meio das redes sociais e internet, é possível captar novos

seguidores do Candomblé? Justifique sua resposta.

4. Com base nas redes sociais, como o Candomblé será

beneficiado, segundo o Babalorixá, Marcio de Jagun.

Atividade III

Identidade cultural por meio do Candomblé

A identidade tem se destacado como um elemento central nas

discussões contemporâneas, em vários contextos atuais de emergência e re-emergência identitária quer seja de cunho nacional quer étnicas, cruzando as esferas individuais e coletivas.

As casas de cultos afro-brasileiros são chamadas de terreiros e geralmente são afiliadas a duas vertentes religiosas, a saber: a umbanda e o candomblé. O terreiro Ilê axé Iemanjá Oba omi é ligado à nação Nagô-Egbá, que segue a tradição Yorubá e é dirigido pelo babalorixá conhecido como “pai Walter”.

O candomblé foi, historicamente, bastante confundido com a macumba, a feitiçaria e a quimbanda. Em termos do campo das religiões afro-brasileiras, o candomblé se situa no cume, ao passo que a macumba ocupa uma posição bastante inferior. São cultos simbolicamente hierarquizados e diferentes em alguns aspectos. De acordo com Lapassade (1972), no candomblé são cultuados os deuses da natureza, e esses podem ser os orixás, os caboclos, os preto-velhos, os exus e as pomba-giras.

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Celebra também as forças da natureza, tais como a floresta, a cachoeira, a mata, as águas, o mar, o raio, os animais, os encantados, etc. As divindades estão bem próximas da mitologia grega.

Cerqueira (2007) enfatiza que os grupos de candomblé se reuniam em casas ou sítios. Em geral, esses eram espaços de sociabilidade dos negros, um lugar onde podiam fazer seus cultos, realizar suas cerimônias fúnebres, e também local onde prestavam serviços e davam ajuda aos que necessitavam dela. “Sentindo-se abandonados ou desprezados, os desprotegidos refugiam-se nos adoratórios tradicionais em busca de alívio e socorro ao mesmo tempo buscando armas de defesa ’’(BASTOS, 1979, p.221).

O candomblé nagô ganhou esse nome de acordo com a nação de Negros africanos que vieram ao Brasil e cuja língua falada era o nagô. Foram introduzidos ao Brasil entre fins do século XVIII e meados do século XIX. Rodrigues afirma que os Nagôs são os africanos mais numerosos e influentes no Brasil e que vieram de quase todas pequenas nações iorubanas e que eles foram introduzidos não só depois dos trabalhos de limitação do tráfico ao sul da África (em 1817), mas ainda por muito tempo após a proibição total do tráfico (1831). Muitos escravos fugidos buscaram ajuda do candomblé como forma de resistência (1977).

Cunha (1985) apresenta o processo do tráfico de escravos como um fator decisivo para que o negro perdesse a sua personalidade, sua representatividade, sua cultura e sua história. Essa perseguição dos negros é oriunda desde a época da escravidão e se reflete até hoje na questão da perda de identidade.

Bastide declara que “a escravidão destruiu toda a organização social dos negros africanos...mas deixou intacto o mundo dos valores,das idéias e das crenças religiosas”; e também que “a escravidão causou uma censura entre as superestruturas e as infra-estruturas. As estruturas sociais africanas foram quebradas,os valores foram conservados...As superestruturas tiveram que secretar a sociedade”(BASTIDE, 2001, p. 211 e 212).

A partir das reflexões feitas por Cunha(idem) sobre o processo escravista no Brasil e a aparente perda identitária relacionada a tal fato é que pensamos em levantar dados sobre eventuais usos que os participantes do terreiro acima mencionado e das práticas religiosas klá na construção e afirmação de sua identidade negra, inclusive enquanto prática de resistência a processos estigmatizantes em curso na sociedade envolvente Nossa perspectiva está informada pela concepção de Bastide, segundo a qual “a resistência se torna religiosa quando não pode tomar a forma política,que a religião é a única via aberta, quando todas as outras saídas estão fechadas”(BASTIDE,1985, p. 220).

Podemos dizer que esta construção e afirmação de uma identidade étnica pode também ser pensada como uma forma de luta política pelo poder, de modo a afirmar a diferença, indo além de um “resgate” da tradição negra. Esta construção reflete possivelmente a criação de um “nós coletivo” (cf. NOVAES, 1993), na formação de um grupo que está, sobretudo, interessado em reivindicar uma maior visibilidade social face ao apagamento a que foi submetido. Essa construção de uma identidade negra a partir de religiões afro-brasileiras pode ser encarada como um fato significativo para a construção desta identidade, aparecendo no prefácio de “Vovó Nagô e Papai Branco” (DANTAS, 1988), no qual Peter Fry apresenta o Candomblé como uma forma

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de “resistência cultural”, pela qual os negros mantém sua identidade própria, sempre num processo constante de construção e afirmação. Dessa forma, tal identidade pode ser entendida em um corpus coletivo, haja vista que ela pode ser encarada como “resistência cultural”, ou seja, a maneira pela qual negros afirmam sua própria identidade, opondo-se à cultura dominante. É uma identidade, um corpus coletivo que contrasta com os demais. Fonte: Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1299116919_ARQUIVO_projetodepesquisadoterreitodopaiwalter.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2013.

Após a leitura do texto, responda as seguintes atividades:

a) Quais as duas vertentes das religiões afro-brasileiras?

b) Sendo confundido com a Macumba, o Candomblé está em qual

situação em termos do campo das religiões afro-brasileiras?

c) O que é cultuado na religião afro-brasileira Candomblé?

d) Os terreiros são os locais onde os grupos de candomblé se reúnem.

Além de servir de local de culto, esses terreiros apresentam outras finalidades.

Escreva sobre todas as finalidades do terreiro do Candomblé?

e) Os Nagôs são os africanos mais numerosos e influentes no Brasil.

Dessa forma, qual é a origem do Candomblé Nagô?

f) Ao longo do texto, como é mencionada a forma do negro perder sua

personalidade, representatividade, cultura e história?

g) Apesar de destruir a organização social dos negros africanos, o que

a escravidão não conseguiu destruir?

h) Porque o Candomblé é considerado como uma forma de resistência

cultural?

Atividade IV

Estigmatização dos adeptos do Candomblé

Este estudo foi realizado em um terreiro de candomblé, na cidade de Vitória da Conquista, Bahia, cujo grupo é composto por pessoas de classes sociais, formações culturais, idades e níveis escolares distintos.

Percebeu-se que as pessoas inseridas, ou seja, participantes do específico grupo de Candomblé, sentem que a religião transformou suas vidas, tornando-as realizadas. A religião tem um sentido positivo, é fonte de força espiritual, onde todos formam uma família partilhando a igualdade, respeito mútuo, boa convivência. A semelhança existente entre os “irmãos” (adeptos da casa) está na busca de um mesmo objetivo, através da convivência mútua. Esses adeptos têm um sentimento de que as pessoas fora do grupo têm olhar preconceituoso para com eles, ou seja, os veem como “macumbeiros”, praticantes de “magia-negra”, “pessoas que praticam todo tipo de mal para os outros, mas se mostram extremamente passivos em relação a tais

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comentários, ou seja, convivem com várias pessoas das mais diversas religiões e alguns não se assumem perante eles, se calando e deixando-os continuarem com estas estigmatizacões. Isto é percebido em algumas das falas das entrevistas realizadas como: “...trabalho em uma instituição educacional aqui em Vitória da Conquista onde todos são católicos e pensam que também sou católica e, não os desminto revelando a minha real religião que é o candomblé...”, tal relato confirma que sofrem preconceito quando assumem ser do candomblé.

Outro fato que esclarece o cuidado quanto a religião, foi que o Pai Ruddy não se apresenta solícito no primeiro contato com a equipe, somente até ser-lhe exposto o real objetivo da pesquisa. Seu comportamento é explicado, pois muitas são as pessoas que investigam a casa sem fins científicos, apenas por curiosidade. Contudo, os adeptos afirmam que o preconceito não os impede de prosseguir na fé que professam e não o faz alimentar o mesmo sentimento em relação a outros grupos ou religiões. O grau de satisfação em relação à escolha religiosa é alto, nenhum dos entrevistados deixaria o grupo, nem se destinaria a participar de outra religião. Os mesmos, através da orientação do babalorixá e do convívio com os irmãos, exercitam as virtudes da paciência, tolerância, amizade, união, comunhão fraterna, harmonia, solidariedade, companheirismo, ou seja, predominam entre eles aspectos familiares. Os motivos que sustentam a permanência de todos são a fé e o amor ao Orixá. Outros ressaltam que, neste grupo, não se sentem excluídos ou menosprezados por causa da opção sexual, classe econômica, cor da pele ou escolaridade, todos são iguais e compartilham diversas virtudes.

A equipe iniciou o trabalho com certo receio, em parte devido ao desconhecimento e em parte devido ao preconceito adquirido pela influência das religiões cristãs. Também o desconhecimento acerca da história agiu como barreira inicial, contribuindo com a formação da idéia de ser o candomblé uma religião politeísta, onde as pessoas permanecessem em transe constante, usassem dos conhecimentos adquiridos com os africanos para praticarem o “mal” através da “macumba”, com a intenção de, somente, prejudicar outras pessoas. Fonte: Disponível em: <http://www.google.com.br/url? Acesso em: 24 nov. 2013.

Após a leitura desse fragmento de texto, referente ao trabalho

intitulado: “Adeptos do Candomblé e sua representação social intergrupal”, que

relata um estudo no terreiro de candomblé, na cidade de Vitória da Conquista,

Bahia, acerca de seus adeptos e das estigmatizações, realize as seguintes

atividades:

a) Aos adeptos do Candomblé, o que essa religião de matriz africana

proporciona em suas vidas?

b) Qual é a sensação dos adeptos do Candomblé, em relação a outras

pessoas, fora do grupo religioso?

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c) Para evitar estigmatizações e preconceitos, o que alguns adeptos

realizam?

d) Qual foi o comportamento do Pai Ruddy, conforme relatado no início

da pesquisa?

e) Apesar de sofrerem preconceitos, o que afirmam os adeptos do

Candomblé, segundo o texto?

f) Quais são as virtudes exercidas pelos adeptos, juntamente com a

orientação do babalorixá e dos irmãos?

g) Conforme evidenciado no texto, acerca do desconhecimento da

história, o que essa falta acarreta?

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Unidade IV

Igreja Católica e o Candomblé

O objetivo desta unidade é mencionar a perseguição, união e opinião

da Igreja Católica sobre a religião afro-brasileira Candomblé.

Acerca das metodologias, será utilizada a exibição de um vídeo na TV

Pen Drive, na apresentação de fragmentos de textos e em atividades para

serem respondidas pelos alunos.

Atividade I

Juntos pelo Bonfim

Antes de apresentar aos alunos o seguinte texto, peça aos mesmos

que respondam a primeira atividade:

1. Com base em seu conhecimento, qual a atitude da Igreja Católica

em relação à religião afro-brasileira, Candomblé?

A Lavagem do Bonfim é um ritual católico ou do cand omblé? Na Bahia, na segunda quinta-feira depois do Dia de Reis, duas religiões que sempre viveram às turras se unem para um ritual religioso em comum – a lavagem da escada da Igreja de Nosso Senhor do Bonf im , no bairro Bonfim, em Salvador. Nesse dia, católicos e adeptos do candomblé percorrem juntos 8 km de ruas baianas, cantando hinos de adoração às duas principais divindades de cada crença, Nosso Senhor Jesus Cristo e Oxalá , configurando um dos maiores exemplos brasileiros do fenômeno de fusão de religiões conhecido como sincretismo . Mas o mais curioso da festa é que o centro do ritual, a escada, tem apenas 10 degraus, em torno dos quais cerca de 1 milhão de pessoas se reúne anualmente.

Milhares de pessoas percorrem 8 k de ruas para a lavagem das escadas do Bonfim

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A inusitada parceria entre as religiões tem origem na época da escravatura, quando portugueses e escravos, juntos, preparavam a capela para a festa de encerramento da novena de devoção ao Nosso Senhor do Bonfim. A imagem do homenageado é uma réplica em madeira de 1,06 metro de outra do Cristo que é venerada em Setúbal (Portugal) e foi trazida ao Brasil em 1745 pelo capitão de Mar e Guerra Teodósio Rodrigues de Faria, português devoto. Ela foi instalada primeiramente na Capela de Nossa Senhora da Penha de França, em Itapagipe (MG), durante a Páscoa, e lá ficou até ganhar uma igreja em 1754, em Bonfim, em Salvador (Bahia), terra que lhe rendeu o nome. Em 1804, foi instituída pelo papa Pio 7 a novena ao Nosso Senhor do Bonfim. A duração de nove dias é uma referência ao intervalo entre a ascensão de Jesus Cristo ao céu após a ressurreição e a descida do Espírito Santo narrada na Bíblia. Nesse período, os fiéis se reúnem em missas noturnas com música e orações. A novena culmina em uma missa festiva na manhã do último dia, o segundo domingo depois da Festa de Reis.

Multidão acompanha a celebração do Bonfim Na quinta-feira anterior à festa de encerramento, os senhores portugueses faziam seus escravos prepararem o templo juntamente com os fiéis, limpando e enfeitando a igreja por dentro e por fora. Vindos da África, os escravos eram obrigados a aderir ao catolicismo, a despeito de sua crença de origem, segundo Josildete Consorte, antropóloga e pesquisadora de sincretismo afro-católico. Para manter suas tradições religiosas, eles faziam associações entre divindades cristãs e entidades do candomblé. Assim, a preparação da igreja foi transformada em ato de louvor à principal entidade do candomblé: Oxalá, o orixá associado ao Nosso Senhor do Bonfim. Até o fim dos anos 1950, a tradição tinha uma característica popular, e a igreja era efetivamente lavada pelos participantes. A partir da década de 60, quando a Bahia se transformou em pólo turístico e o ritual começou a reunir multidões, por razões de segurança, a lavagem passou a ser simbólica e a acontecer apenas do lado de fora da igreja, que mantém suas portas fechadas no dia, deixando acessível apenas a escada de acesso. Além dos fiéis, participam bandas, grupos de manifestação folclórica, turistas e curiosos. Muitos se vestem de branco para a ocasião, que é a cor de Oxalá. Mulheres trajadas de baianas, com vestidos brancos, turbantes e braceletes,

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lideram o cortejo, que sai da Igreja da Conceição da Praia, no bairro Dois de Julho em Salvador (BA), por volta das 10 horas da manhã, após o término de uma missa. Elas seguem carregando vasos com a água perfumada que é derramada nos degraus da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

Baianas vestidas a caráter carregam a água perfumada que é usada no Bonfim

O líquido é preparado nos terreiros de candomblé de um a sete dias antes do rito. O perfume vem de folhas e ervas cheirosas, como laranjeira, manjericão, macaçá e alfazema e de água de levante, explica a Mãe de Santo Benizaura Rocha de Almeida, do terreiro Luanda Junça (Salvador, BA). A mistura fica em repouso em uma sala sagrada de culto para a materialização da força do orixá até o dia da festa, segundo o babalorixá (sacerdote) Alexandre T´Ogun Olumaki (Alexandre Soares de Almeida Sampaio Leite), do terreiro Ilê Axé Ogun Atojá, em São Paulo. Além de servir para lavar os degraus da capela, a água é usada também para ungir pelo caminho os participantes que buscam proteção espiritual. O ritual termina em festa, animada por música e comidas e bebidas típicas vendidas nas barracas que são montadas ao redor da igreja. Apesar do clima de confraternização, o cientista religioso Afonso Soares, da Pós-Graduação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), explica que este tipo de equilíbrio entre as duas crenças não é fácil, pois existem atritos entre as religiões cristãs e as afro-brasileiras. Existem, inclusive, movimentos no sentido contrário ao sincretismo, que visam a separar o candomblé do catolicismo. A razão para tal tolerância na lavagem das escadas é que o evento é considerado mais uma festa profana com forte apelo turístico que um rito religioso , segundo a prefeitura soteropolitana. O evento reúne todos os anos cerca de 1 milhão de pessoas , segundo dados da prefeitura de Salvador, e é o segundo maior da cidade, perdendo apenas para o Carnaval. Fonte: Disponível em: <http://pessoas.hsw.uol.com.br/lavagem-do-bonfim.htm>. Acesso em: 23 nov. 2013.

Após responder a primeira atividade, os alunos deverão ler o referido

texto e então responder as demais atividades:

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2. Com base no texto, uma vez por ano, a religião Candomblé e a

Igreja Católica se unem para realizar qual ritual religioso?

3. Como é chamada essa fusão de religiões?

4. Os escravos no Brasil eram proibidos de expressarem suas

convicções religiosas, devendo-se aderir ao catolicismo. No entanto, eles

encontraram um meio de manter suas tradições religiosas. Dessa forma,

descreva o meio utilizado pelos africanos escravos, para manter suas tradições

religiosas.

5. Até o fim dos anos 1950, a igreja de Bonfim era efetivamente lavada

pelos participantes. Porque essa tradição não perdurou a partir da década de

1960? Descreva ainda como é realizado esse ritual religioso a partir dessa

data.

6. Como é preparada a água perfumada que é derramada nos degraus

da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

7. Por qual razão, ainda existe esse sincretismo religioso?

Atividade II

O que a Igreja Católica deve pensar a respeito do C andomblé

Primeiramente, será apresentando um vídeo intitulado: O que

devemos pensar a respeito do candomblé? Após a exibição desse vídeo na

TV Pen Drive, será apresentado aos alunos, o seguinte texto, acerca desse

vídeo, visando, ao final, a responder as atividades.

O que devemos pensar a respeito do candomblé? Normalmente, dentro da Igreja duas são as atitudes corriqueiras frente ao candomblé e às religiões pagãs e animistas. A primeira é de indiferença : elas existem, mas não é preciso dar atenção a elas. A segunda atitude é do medo , pela possibilidade de alguma influência demoníaca. Estas duas atitudes remontam aos primeiros séculos do Cristianismo, quando São Paulo teve que enfrentar e responder aos questionamentos dos primeiros cristãos acerca do consumo das carnes imoladas aos ídolos. Ambas atitudes são comuns. Assim, a abordagem proposta neste episódio será a de compreender o candomblé desde dentro e, com os próprios princípios dele, entender a grande diferença que existe entre o Cristianismo e as religiões pagãs sem demonizá-las, inicialmente, mas buscando entender o que existe por trás delas.

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O candomblé, aparentemente, é uma religião rudimentar, sem princípios lógicos. O mesmo conceito aplicado ao Cristianismo no seu início, ou seja, era muito difícil para as pessoas daquela época entenderem como se propunha que o Deus supremo fosse adorado, pois Ele é imutável e, como tal, é perfeito, não se rebaixando ao nível da criatura. Eles entendiam ainda que somente os deuses – com “d” minúsculo – é que podem ser adorados, pois são forças e princípios cósmicos, mutáveis e estão à disposição do homem . No candomblé é a mesma coisa. O “Deus” maior não pode ser cultuado, mas somente os orixás, divindades menores que regem a vida de cada homem de acordo com a personalidade. Da mesma forma que nas antigas religiões greco-romanas, existe no candomblé um “deus”, uma força cósmica para cada característica humana. E, igualmente, o “Deus” criador de todas as coisas não pode ser adorado, visto não ser possível manter nem um tipo de relacionamento com o homem, dada a perfeição e imutabilidade daquele. Embora exista uma lógica inegável tanto nas antigas religiões pagãs quanto nas afro-brasileiras, pois, de fato, o Deus criador parece realmente estar muito além do homem, habitando em luz inacessível, o Cristianismo tem algo que o difere das demais religiões . Deus Criador, o imutável, o perfeito, o sumo bem desceu dos céus e veio habitar entre os homens, através do seu filho Jesus. Para os cristãos, Jesus é o próprio Deus que se fez homem . Por meio da revelação divina é possível perceber que a lógica dos pagãos não é tão lógica assim, pois apesar de Deus ser imutável, Ele não está engessado na sua própria imutabilidade, pelo contrário, o Deus Criador é um Deus Vivo, que tem a perfeição da imutabilidade, mas ao mesmo tempo tem a perfeição d a vitalidade, da dinâmica . Para as religiões pagãs, o conceito de imutabilidade faz com que o deus deles caiba em suas mentes, explicá-los. Tais religiões foram vítimas da lógica humana que relacionam a imutabilidade com algo morto, o que não ocorre com o Deus que revelou-se aos cristãos. Deus Onipotente, manifesta sua força e onipotência na mais paradoxal das circunstâncias: a impotência da Cruz. Ele morre, mas a sua morte destrói a Morte desde dentro. Deus é Perfeito, habita em Luz inacessível, mas a grande novidade cristã é a de que Ele não é indiferente ao homem , pelo contrário é “amigo” do Homem e quer que este participe de sua vida bem-aventurada. Este é o grande acontecimento que o Cristianismo apresenta e faz com que todas as demais religiões se tornem transitórias e fúteis, perdendo a sua consistência, pois, qual o sentido de cultuar criaturas quando o própri o Deus Criador se importou com o homem, transpõe o abismo que os sepa ra e se faz “Emanuel – Deus Conosco” . O paganismo é incompleto, pois procura cultuar deuses cósmicos para conseguir um bem estar cósmico, o que não satisfará nunca o coração humano, pois este procura a felicidade perfeita, que soment e o Deus Perfeito, Criador do céu e da terra pode proporcion ar. Fonte: Disponível em: <http://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-devemos-pensar-a-respeito-do-candomble>. Acesso em: 23 nov. 2013.

O vídeo foi extraído da mesma fonte que o texto acima!

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1. Quais as atitudes da Igreja Católica frente ao Candomblé e demais

religiões pagãs e animistas?

2. Descreva o aspecto em comum entre o Candomblé e o

Cristianismo?

3. Quem é adorado na religião afro-descendente Candomblé: o “Deus”

maior ou os orixás?

4. Descreva como o “Deus” criador é considerado na religião

Candomblé e na Igreja Católica.

5. Porque no texto é descrito que as demais religiões tornam-se

transitórias e fúteis?

6. Porque o paganismo é incompleto, segundo o texto?

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Unidade V

Igrejas Neopentecostais e o Candomblé

O objetivo desta unidade é evidenciar os ataques que a religião afro-

brasileira Candomblé, sofre das religiões neopentencostais.

Como metodologia, serão utilizados fragmentos de textos retirados da

internet, pois esses serão a base para a resolução de questões discursivas.

Atividade I

Neopentecostais contra o Candomblé

Após a leitura desse fragmento de texto, responda as seguintes

atividades:

Neopentecostalismo e religiões afro -brasileiras: Significados do ataque aos símbolos da herança religiosa africana no Brasi l contemporâneo O neopentecostalismo, em consequência da crença de que é preciso eliminar a presença e a ação do demônio no mundo, tem como característica classificar as outras denominações religiosas como pouco engajadas nessa batalha, ou até mesmo como espaços privilegiados da ação dos demônios, os quais se "disfarçariam" em divindades cultuadas nesses sistemas. É o caso, sobretudo, das religiões afro-brasileiras, cujos deuses, principalmente os exus e as pombagiras, são vistos como manifestações dos demônios. Uma outra face desse processo é, paradoxalmente, a "incorporação" da liturgia afro-brasileira nas práticas neopentecostais de algumas igrejas. Neste trabalho, pretendo analisar as relações de proximidade e antagonismo existentes entre estes dois campos religiosos, o neopentecostal e o afro-brasileiro, e suas consequências na transformação de certo imaginário brasileiro construído a partir dos valores aí existentes. Fonte: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93132007000100008&script=sci_arttext>. Acesso em: 19 nov. 2013.

a) O que as igrejas neopentecostais têm como características em

consequência da crença de que é preciso eliminar a presença e a ação do

demônio no mundo?

b) Como são vistas pelos neopentecostais as religiões afro-brasileiras,

cujos deuses principalmente os exus e as pombagiras?

c) Descreva com suas palavras a discriminação da religião afro-

brasileira na atualidade?

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Atividade II

Religiões em constante ameaça

Reportagem Religiões em constante ameaça Vistos com preconceito, candomblé e umbanda são cada vez menos representativos da religiosidade do brasileiro. A contribuição das crenças afro-brasileiras para a identidade nacional é, no entanto, inegável.

As religiões afro-brasileiras, ao longo de sua trajetória histórica, ganharam reconhecimento tanto por seu papel na preservação e reinvenção da herança africana como por sua contribuição para a cultura nacional. Na capoeira, na religiosidade particular que se expressa em festas como as de São Cosme e Damião ou do Divino Espírito Santo, nas manifestações musicais como o samba, o afoxé, o jongo ou o maracatu, nas esculturas de Mestre Didi ou nas pinturas de Rubem Valentim, múltiplos são os diálogos dessas religiões com a diversidade cultural do Brasil. Mas a luta histórica dessas religiões contra o preconceito continua. Cada vez mais ameaçadas por um cenário de intolerância religiosa crescente, as concepções, os rituais e o panteão de religiões como o candomblé, ainda são um patrimônio desconhecido para muitos brasileiros. Muitas vezes, é esse desconhecimento que dá margem ao preconceito contra essas religiões e seus adeptos. O sociólogo Reginaldo Prandi, em artigo publicado na revista Estudos Avançados, chama a atenção para o fato de que o segmento das religiões afro-brasileiras (candomblé, umbanda e outras denominações) está em franco declínio em comparação com outras religiões. Segundo o Censo de 2000, apenas 0,3% dos brasileiros declararam-se pertencentes a uma das religiões afro-brasileiras, o que corresponde a pouco mais de 470 mil seguidores. Em 1980, os adeptos do candomblé e da umbanda correspondiam a 0,6% da população brasileira, e em 1991, a 0,4%. Intolerância religiosa Dentre as razões que explicariam o declínio estariam a concorrência com as outras religiões, principalmente as neopentescostais. O ataque ao candomblé e à umbanda seria constitutivo da própria identidade dessas igrejas. Já há alguns anos, contudo, estaria havendo uma mobilização contra esses ataques. Um dos casos mais recentes de intolerância religiosa envolve a Igreja

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Universal do Reino de Deus. Em julho desse ano, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia condenou a igreja e a Editora Gráfica Universal a pagar, cada uma, uma indenização no valor de 480 mil reais à ialorixá Jaciara Santos Ribeiro e aos membros de sua família, do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado no bairro de Itapuã, em Salvador. Além da indenização, a gráfica da Igreja Universal deverá publicar a sentença, em duas edições consecutivas, na capa do seu jornal cuja tiragem alcança quase um milhão e meio de exemplares. A igreja e a gráfica foram processadas por danos morais e uso indevido da imagem de Mãe Gilda no Jornal Universal que, numa edição de 1999, publicou uma foto da ialorixá (retirada de um exemplar da revista Veja de sete anos atrás) com uma tarja preta sobre os seus olhos e a seguinte frase: “macumbeiros e charlatães lesam bolso e vida do cliente”. Depois da publicação da foto, o terreiro se tornou alvo da violência de alguns evangélicos que chegaram a invadi-lo numa tentativa de “exorcizar” Mãe Gilda, que faleceu em janeiro de 2000, um dia depois de assinar uma procuração para iniciar a ação contra a Igreja Universal. Sua filha, Jaciara, deu prosseguimento ao processo. A igreja recorreu da decisão judicial e o caso deverá ser tratado, agora, no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Mercado religioso Além da intolerância religiosa, características constitutivas da própria organização das religiões afro-brasileiras desfavoreceriam sua concorrência no “mercado religioso”: o candomblé e a umbanda se organizam a partir de pequenas comunidades, com cerca de 50 membros, que se congregam em torno de uma mãe ou pai-de-santo, acima dos quais não há nenhuma autoridade. A autonomia de cada terreiro ou casa de culto tende a dificultar o estabelecimento de estratégias comuns entre eles para lidar com as outras religiões. Em contraposição a esse perfil comunitário e familiar da umbanda e do candomblé, igrejas neopentecostais - ou mesmo a ala da Igreja Católica conhecida como Renovação Carismática - apresentam-se como religiões de massas, que reúnem milhares de adeptos. “Fragmentada em pequenos grupos, fragilizada pela ausência de algum tipo de organização ampla, tendo que carregar o peso do preconceito racial que se transfere do negro para a cultura negra, a religião dos orixás tem poucas chances de se sair melhor na competição – desigual – com outras religiões. Silenciosamente, assistimos hoje a um verdadeiro massacre das religiões afro-brasileiras”, alerta Reginaldo Prandi. À perseguição e ao preconceito contra os cultos afro-brasileiros somam-se os problemas cotidianos do povo-de-santo que, como a maioria dos brasileiros, precisam enfrentar a pobreza e outras dificuldades resultantes das desigualdades sociais. “Na Bahia, a qualidade de vida das pessoas negras e pobres é muito ruim. Muitos estão morrendo de fome ou padecendo de epidemias que já deviam estar superadas como a tuberculose. Há um

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genocídio contínuo de jovens negros entre 14 e 22 anos, que são freqüentemente assassinados por grupos de extermínio. Não se pode separar a preocupação com a memória e o patrimônio da preocupação com a qualidade de vida das pessoas”, afirma Ordep Serra, antropólogo da Universidade Federal da Bahia. Nesse contexto é que a transversalidade nas políticas culturais se mostra importante. No caso dos terreiros de candomblé e das comunidades remanescentes de quilombos, por exemplo, a continuidade e a preservação de sua cultura são inseparáveis do seu território. Por isso, a propriedade da terra é imprescindível para essas comunidades.

Fonte: Disponível em: <http://www.labjor.unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=45>. Acesso em: 24 nov. 2013.

Após a leitura da reportagem, responda as atividades:

1. O que as religiões afro-brasileiras, ao longo de sua trajetória

histórica, ganharam?

2. O que dá margem ao preconceito contra as religiões afro-brasileiras,

como o Candomblé?

3. O que o sociólogo Reginaldo Prandi, em artigo publicado na revista

Estudos Avançados, chama a atenção?

4. Como se organizam a religião afro-brasileira o Candomblé e a

Umbanda?

5. Por que a gráfica e a Igreja Universal foram processadas?

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Referências Brasil Escola. 2013. Candomblé. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/religiao/candomble.htm>. Acesso em: 25 maio 2013. Brasil Escola. 2013. Escravidão no Brasil (1530 – 1888). Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/escravidao-no-brasil.htm>. Acesso em: 30 abr. 2013. MEZZOMO, Frank Antonio. Nos e os outros: proselitismo e intolerância religiosa nas Igrejas Neopentecostais. Revista de História e Estudos Culturais Fênix , vol. 5, ano V, jan./mar. 2018. Disponível em: <http://www.revistafenix.pro.br/PDF14/Artigo_14_Frank_Antonio_Mezzomo.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013. Munanga, Kabengele. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2006, p. 139-147. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Sua Pesquisa.com. 2013. Escravidão no Brasil. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/escravidao.htm>. Acesso em: 30 abr. 2013.