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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Identificação da produção didático Pedagógica

Título: A experiência dos negros no Brasil: novos enfoques para uma nova história

Autora Tânia Salete Bughay

Disciplina/Área História

Colégio de Implementação do

Projeto e localização

Colégio Estadual São Cristóvão

Bairro: São Cristóvão-Rua: Júlia Amazonas. S/N

Município do colégio União da Vitória

Núcleo Regional de Educação União da Vitória

Professor orientador Professor Doutor Ilton Cesar Martins

Instituição de ensino Superior FAFIUV

Relação interdisciplinar Sociologia - Língua Portuguesa

Resumo O presente trabalho tem o intuito de trazer para a

sala de aula a nova historiografia sobre o sistema

escravista, que auxilie e permita ressignificar as

ações que os diferentes sujeitos tiveram frente à

escravidão. Igualmente queremos problematizar

as articulações e os meios encontrados pelos

negros escravizados, para negociar,

compreendendo os caminhos legais, para

reivindicar direitos consuetudinários. Sendo

assim, utilizando-nos das informações descritas

pelos autores Sidney Chalhoub, João José Reis,

Ilton Cesar Martins, Hebe Mattos, entre outros,

sobre o sistema de escravidão, à luz da atual

historiografia, podemos apresentar a história dos

escravizados, neste novo cenário, tendo em

mente a lei 10.639/03, que trata a história da

África e dos afrodescendentes brasileiros. Para

tanto, nos utilizaremos das ideias formuladas nos

relatos apresentados em artigos da revista de

História da Biblioteca Nacional e o jogo

“Detetives do Passado” desenvolvido pela

professora Keila Grinberg,da UNIRIO para

abordagem do assunto em sala de aula, cujos

objetivos, com maior eficácia, poderemos atingir.

Um deles é o debate mais equilibrado sobre a

história dos negros no Brasil e, a partir dele,

subsidiar a reflexão sobre a sociedade que temos

e queremos.

Palavras-chave Resistência – Escravidão – África - Estratégia.

Formato do Material Didático Caderno Pedagógico

Público Alvo Alunos e Alunas da 1ª Série do Ensino Médio

APRESENTAÇÃO

A nossa proposta de trabalho é discutir a escravidão sob um novo foco na

História do Brasil. Trazer para o debate, em sala de aula, um recorte histórico do

período de 1850, até a Lei Áurea de 1888. Debater a forma de como homens e

mulheres, dentro de um sistema escravista, posicionavam-se frente aos senhores.

E abordar esse clima de relacionamento que envolvia discórdias, violência,

negociações e barganhas, revelando assim como funcionava o sistema

escravista.

Com este recorte, trazemos à baila este debate, para demonstrar o outro

lado do sistema escravista do Brasil. Pois, ainda hoje, é muito comum o tema

História da África e Afrodescendentes ser introduzida nos currículos escolares e

livros didáticos, dando início ao estudo através da escravidão, onde os

escravizados aparecem como seres passivos e sem decisão, como se fossem

apenas marionetes dentro do sistema.

Sendo assim, pretendemos orientar os educandos através da

historiografia brasileira mais recente, que vai além do sistema escravista,

analisando as atitudes das pessoas que foram escravizadas e que encontraram

maneiras de lutar para manter sua cultura, como seres inteligentes que pensam,

tem sentimentos e que fazem parte da construção deste período histórico. Os

novos enfoques terão embasamento nos autores como João José Reis, Hebe

Mattos, Robert Slenes, Sidney Chalhoub, entre outros.

E, para que isto possa ser entendido e assimilado, textos de vários

autores serão lidos e discutidos, confrontando-se vários ângulos ou aspectos de

se abordar a “escravidão”, relegando para segundo plano a ideia de que o

escravo era uma mera mercadoria, que foi utilizada ao bel prazer por seus

senhores. Mas que, no final desse estudo e abordagem, esperamos ter

conseguido formalizar e mentalizar esta história, com outro sentido e com um

significado mais profundo e abrangente, quando podemos dizer: Escravo? Sim!

Mas, que com muita ginga souberam negociar.

A nossa proposta será posta a prova na 1ª série do Ensino Médio do

Colégio Estadual São Cristóvão, localizado no Distrito de São Cristóvão, no

Município de União da Vitória.

Assim, o tema - A experiência dos negros no Brasil: novos enfoques por

uma nova história - que será trabalhado nesta unidade didática, sustenta-se na lei

10.639/03 que inclui, no currículo oficial, a obrigatoriedade do ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira, seguindo as Diretrizes Curriculares Nacionais, para a

Educação das relações étnico-raciais. E, vamos mais além com esta exigência de

cumprimento, porque esta Lei estabelece ainda que os conteúdos referentes à

história e cultura afro-brasileira e africana também devam ser trabalhados, no

âmbito de todo o contexto escolar.

Dessa forma, para se trabalhar pragmaticamente, precisamos delimitar

este tema tão vasto, fazendo um recorte histórico, para tratar das ocorrências,

apenas dentro do período imperial de 1850 a 1888.

Inicialmente, precisamos focar o ser escravo que aqui chegava da África e

que, antes de tudo, era um ser humano, que na sua terra natal tinha sido uma

pessoa livre, que tinha uma família e uma língua própria para se comunicar com

seus semelhantes. Lá onde nasceu, aprendeu a cultura de seu povo. Praticava

algum tipo de religião, porque todo africano é muito sensível às ideias e cultos do

espírito. Isto sem falar de suas tradições.

Em seguida, ao se fazer uma explanação com mais detalhes, falando-se

das diferentes etnias, das diferenças em seus trajes e crenças, como acontecia

nas diferentes Áfricas que, naquele momento de desventura, encontravam-se

dentro dos porões dos navios e dentro de uma senzala, podemos perguntar quais

ideias e que sentimentos estariam sendo acometidos, no íntimo de cada africano.

Portanto, não podemos perder de vista que estas pessoas - homens,

mulheres, jovens e crianças - as quais vamos contemplar em nosso estudo,

tenham vindo de um continente imenso, com centenas de grupos étnicos ou

sociedades. Pois sua cultura não tem nada de primitiva, porque foi construída

numa trajetória milenar, sendo manifestada através de tantas matizes, quantas

etnias diferentes dela participaram.

Por essa razão, para podermos validar nosso debate sobre a África,

precisamos recorrer às publicações de vários autores, entre eles: Carlos Serrano

e Maurício Waldman, que tratam em seu livro “Memória D’África: A temática

Africana em Sala de Aula”; e Marina de Mello e Souza que publicou “África e

Brasil Africano”, entre outros.

Parafraseando o que Robert Slenes escreve em seu livro Na senzala,

uma flor, não queremos aqui dizer que a escravidão não tem seu lado, onde

seres humanos foram tratados como “coisa” e submetidos a maus tratos; mas,

sim, mostrar que os escravos transformaram a sua herança cultural, para encarar

e revolucionar as condições de seu cativeiro. Queremos discutir o cotidiano de

trabalho dos negros escravizados, no campo e nas cidades, assim como tratar

das múltiplas formas de sobrevivência e resistências que o escravo opôs à

escravidão. Pois, para transformar um ser humano em escravo, o senhor teria que

neutralizar todos os seus laços sociais, tornando-lhe a única ligação entre o

escravo e o mundo.

Para tanto, usaremos, como ponto central de nossas reflexões, um

debate renovado sobre a experiência da escravidão no Brasil, demonstrando que,

para além de um sistema, a escravidão de homens, mulheres, velhos e crianças

que amavam, sofriam, escreveram uma história de liberdade através de permutas

e conflagrações.

Nosso ponto de partida será considerar o conhecimento e

reconhecimento da própria história, como ponto para a construção de uma

realidade diferente. Daí a importância da lei 10639/03, como ferramenta

importante para o combate ao racismo, possibilitando às crianças negras o

conhecimento da própria história e às demais crianças, uma efetiva relação

intercultural.

Pensando, no contexto escolar, em uma turma de 1ª série do Ensino

Médio do Colégio Estadual São Cristóvão, nas aulas de História, podemos e

vamos nos apropriar do que o pesquisador alemão Jörn Rüsen diz sobre aprender

História, segundo ele:

A aprendizagem histórica é uma das dimensões e manifestações da

consciência histórica. Está articulada ao modo como a experiência do

passado é vivenciada e interpretada de maneira a fornecer uma

compreensão do presente e construir projetos de futuro. (PARANÀ, 2008, p.

57)

Para Rüsen, a “História” é exatamente o passado sobre o qual os homens

têm de voltar o olhar, a fim de poderem ir em frente em seu agir e de poderem

perspectivar seu futuro. É com esse pensamento que vamos desenvolver a nossa

produção didática, com a experiência do tempo passado, para discutir sobre o

tempo presente.

PARA COMEÇAR: TUDO É HISTÓRIA

“Os personagens deste trabalho são escravos. É a história de homens e

mulheres vivendo os seus limites.” (REIS, 1989, p.7)

Poderíamos começar nossa conversa, discorrendo sobre a vida, luta e

sonhos de tantos personagens que através de sua presença, deixaram marcas no

sistema escravista. Entre tantos, destaco Caetana, que realizou um feito

inusitado, para quem não acredita em coisas extraordinárias que poderiam

ocorrer com escravos, naquele período de plena sujeição, que foi a escravatura.

Então observe o que essa negra aprontou.

Como era costume, no sistema escravista, o dono de escravos decidia

com quem as jovens escravas deviam casar, atendendo razões, conforme

convinha, para satisfazer seu ego, demonstrando força e poder de que tudo

dependia dele, até mesmo naquilo que deveria ser de foro íntimo de cada escravo

a ele sujeito, para manter o controle de seu plantel.

Pouco importavam, ao senhor dos escravos, os relacionamentos de

amizades, de camaradagens e de socialização, que existiam dentro das senzalas.

Porém, observava com alguma apreensão as animosidades, e, com certo espírito

sádico, quanto aos relacionamentos amorosos, escolhia com quem este ou esta

devia casar, inclusive obrigando a seguir os preceitos legais, para consumar

definitivamente a união diante de um padre da Igreja Católica.

Pouco ou nada interessava saber, se os cônjuges ali conduzidos em

cortejo, para a igreja ou capela, tinham compatibilidade, se desejam casar ou não,

se havia alguma atração afetiva, como amor, entre ambos, ou não. E, dessa

maneira, muitos iam para o altar, como estivessem subindo o cadafalso.

Situação horrível como essa, a negra Caetana teve que se submeter,

sacramentando união matrimonial com um companheiro de senzala com quem

não simpatizava ou, pelo menos, não se compatibilizava. E os companheiros de

infortúnio, certamente festejaram, puderam comer um pedaço de bolo e tomaram

cachaça, comemorando com cantoria, no regaço da senzala, o casório que

parecia um acontecimento de rotina.

Depois da festa, Caetana mudou-se da casa de sua mãe para a casa de

seus padrinhos, com o marido Custódio. E continuou prestando serviços, durante

o dia, na casa grande de seu patrão Tolosa. E, já passados quatro noites, depois

do casamento, Caetana negava-se em permitir que o marido a tocasse e muito

menos que consumasse o casamento, cumprindo com seu dever de casada.

Custódio reclamou desse comportamento com todos os parentes e até com o

padrinho de Caetana que, no dia do casamento estava fora, transportando mulas,

e havia chegado. Este tentou convencer à afilhada e até ameaçou-a

Naquela noite, quando tudo recrudesceu com a fala severa do padrinho

Alexandre e, que dizem, ele teria até ameaçado em batê-la, Caetana não tendo a

quem recorrer, fugiu de casa e correu para a casa grande, pedindo arrego ao

patrão que a acolheu, reconhecendo seu ato ignominioso e deixando que lá

ficasse. Não insistiu para que ao marido voltasse. E ajudou-a a encaminhar o

pedido de divórcio diante das leis do Direito Canônico da Igreja Católica.

Daí, em diante, não mais se viu falar em Caetana. Sabe-se que a Igreja

não permitiu a anulação de seu enlace matrimonial. Mas, que destino deu à sua

vida, a partir desse momento, não se conhece. Entretanto, esse caso notabilizou-

se, entre os muitos causos, que enlevou o espírito e lavou a alma de escravos

libertos, reunidos em roda de batuque, no entorno de uma fogueira, distantes das

senzalas, mas soltos, fazendo parte de algum quilombo.

Como dizia, muita história com muitos personagens, alguns ilustres e

outros menos conhecidos, estão a referendar este estudo sobre as articulações e

prerrogativas que envolveram não só os escravos, mas também aqueles que

lutaram em sua defesa e que muito contribuíram na mudança de mentalidade até

que a abolição foi decretada a 13 de maio de 1888.

Desta feita, não posso dar continuidade nesta preleção, sem ao menos

mencionar o nome de Luis Gama que, na condição de rábula, deixou registrada

sua notável luta em favor dos escravos. Entretanto, não pretendo, neste

momento, abordar a luta pela libertação, mas relatar mais um caso, senão

curioso, porém interessante e até engraçado de uma mulher negra que, no século

XIX, foi contra todos os princípios de boa conduta e desafiou o sistema judiciário

da cidade paranaense de Castro.

Essa história mereceu fazer parte da tese de doutorado do professor Ilton

Cesar Martins, com o título: E EU SÓ TENHO TRÊS CASAS: A DO SENHOR, A CADEIA E

O CEMITÉRIO: CRIME E ESCRAVIDÃO NA COMARCA DE CASTRO (1853-1888), onde faz

o relato de uma personagem, que pode levá-los a conhecer o outro lado do

escravismo.1

Sendo assim, para iniciar esta unidade didática, onde vamos falar do ser

escravizado dentro do sistema escravista, nada melhor que sintetizar essa história

instigante, contada pelo professor Ilton Cesar Martins. Pois, trata-se de uma negra

que viveu no período pré-abolicionista, quando sobejavam escravos trabalhando

1 Professor/a A tese do professor Ilton Cesar Martins está disponível em: http://www.humanas.ufpr.br/portal/historiapos/files/2011/05/IltonCesar1.pdf A história de Caetana é do livro: Caetana diz não - histórias de mulheres da sociedade escravista brasileira de Sandra Lauderdale Graham – Companhia Das Letras. Mulheres negras – No Brasil Escravista E do Pós-Emancipação-de Giovana Xavier, Juliana Barreto Farias e Flávio Gomes (ORGS) – Selo Negro Edições.

em fazendas e em outros afazeres. Mas também era normal serem encontrados e

reconhecidos, pelos caminhos e nas cidades, negros escravos ou libertos, que

conseguiram sua alforria, ou que eram foragidos do cativeiro e esquecidos, ao

passar do tempo.

Contudo, um negro, com carta de alforria, devia ser reconhecido, como

cidadão, e gozar de todos os direitos de uma pessoa livre. E esse é o caso de

nossa personagem que punha em teste a autoridade legal da cidade de Castro,

no estado do Paraná, na década de 1860. Assim, esta história comprova-se,

como verdadeira, por constar nos registros oficiais da época. Antes, porém, situe-

se no espaço e coloque-se dentro da seguinte situação:

Esta é a Igreja Matriz de Nossa Senhora Sant´Ana, na cidade de Castro,

construída pelos padres carmelitas, em 1769. Mas, em 1861, nesse mesmo local

ainda estava erguida a primeira igrejinha, construída na forma de pau-a-pique, em

1851, pelo frei Bento Rodrigues de Santo Ângelo.

Figura 1

Disponível em: www.castro.pr.gov.br

E, aí, na antiga praça central, sentados nas escadas da velha igrejinha, os

desocupados e desprezados pela sociedade local estavam sempre reunidos.

Eram bêbados, desempregados e os renegados que passavam o tempo, tomando

cachaça. E, ali, comandando o encontro vespertino, sempre estava a Benedicta

Maria da Conceição, fazendo aquele alvoroço. Pois seu espírito reprimido, mas

não contido, através da maldita, dava-lhe coragem para desafiar a autoridade

local e a todos os “branquelas” que por ali passavam e olhavam o grupo com

desdém.

Era o ano de 1860, quando nossa ilustre personagem foi presa, pela

primeira vez, por bebedeira e arruaça, tendo que assinar um termo de bem viver

por 30 dias. Mas isto não lhe serviu de lição, para conter seu ímpeto em

manifestar seus desagrados, mesmo porque tinha seu próprio sustento, como

declarou em processo posterior, que era uma ex-escrava, liberta, e que tinha o

próprio ganho, como lavadeira de roupas e que exercia outros ofícios, dados

como próprios de mulher.

Não vamos descrevê-la, para que este relato não se torne uma obra de

ficção, porque estamos a narrar fatos que estão registrados nos documentos da

época, por ocasião de uma ação em seu favor e contra o delegado, quando

apenas foram apontados sua condição humana e seus atos pouco lisonjeiros.

No entanto, não é difícil de imaginar uma negra esbelta, bem asseada,

alta e soberba, caminhando na rua, de cabeça erguida, demonstrando altivez; e

cônscia de seu valor e prestígio, dado pelo sobrenome Maria da Conceição,

adotado de sua rica e poderosa ex-patroa Messia Maria da Conceição, conhecida

de todos, quando fora escrava. Também dá para acreditar, pelo efeito de seus

xingamentos e impropérios, em sua postura elegante, num olhar penetrante e

investigativo, nos gestos amplos e condenatórios, além de uma voz aguda e

desafiadora que trazia à tona palavras de cunho ofensivo e acusador, que tanto

incomodavam certo delegado.

Certo dia, o delegado Anacleto Pereira Bueno, ao passar no local,

certamente pela Praça Central, em frente da Igreja Matriz da cidade de Castro,

deparou-se com Benedicta, fazendo aquele show, no meio da bebedeira. E, este

não se conteve. Decretou imediata prisão da desventurada, cuja ordem fora

cumprida pelos guardas nacionais, que faziam o papel de policiais da cidade. E,

no caminho para a delegacia, cativa pelos braços, mas não dominada em sua

boca, sentiu-se com total liberdade para desafogar seu espírito, proferindo

xingamentos contra seu opressor, que também se fazia acompanhar.

O delegado não se conteve e desferiu-lhe algumas bofetadas, no

percurso daquele caminho. Furioso e deveras ofendido, no fundo de sua alma,

pelos impropérios da prisioneira, não queria mais comprometer-se pessoalmente

em aplicar um severo corretivo. Chegando à delegacia, tentou obrigar Francisco

Leite Cardoso, oficial da Câmara Municipal, que respondia pela aferição de pesos

e medidas do Município, que também pertencia à guarda nacional e que estava

presente no momento da prisão, para que a castigasse. Mas, Francisco Leite

negou-se terminantemente, dizendo que não se batia em mulher e que se

desobrigava em cumprir tal ordem, pois não vinha de seu comandante. O

delegado Anacleto conseguiu seu intento ao transferir suas ordens ao

subdelegado que obrigou Firmino Soares a aplicar severo corretivo, que provocou

lesão corporal a fim de realmente machucá-la, mantendo-a reclusa por dez dias.

E a seguir, expediu ordem de prisão contra o oficial da Câmara Municipal e

guarda nacional, considerando-o também criminoso, por desobediência. Contudo,

documentos da época não relatam como terminou o caso deste funcionário que

teve a ousadia em desobedecer a uma ordem e que, por essa razão, teve a sorte

de não responder criminalmente perante a lei.

Passados 10 dias, a 03 de maio de 1861, foi instaurado um auto de

averiguação contra o subdelegado por supostas lesões corporais em Benedicta,

filha de Maria Cacanje e de João José da Silva, da Província de São Paulo. E, a

13 de maio de 1861, passados dez dias, o auto de averiguação foi convertido num

processo por abuso de autoridade com a incursão nos artigos 145, 201 e 206 do

Código Criminal do Império.

O promotor Victor de Azambuja Cidade fez denúncia contra o delegado

Anacleto por autoria e a Firmino Soares, por cumplicidade, fazendo

considerações que Firmino teve ânimo fraco e era ignorante, não tendo força

suficiente para recusar-se, a fim de impedir que uma autoridade cometesse o

maior ultraje que se pode dar contra as liberdades públicas. Por isso aplicou-lhe o

castigo ordenado.

Quanto ao delegado Anacleto que estava acostumado a dar bofetadas em

todo e qualquer cidadão, que não respeitasse sua autoridade, tendo causado

vexames a tanta gente livre ou não, considerava sua atitude mais que normal, por

ser uma autoridade durona E, nessa hora, diante de jurados, frente a um juiz e ter

que ouvir calado as acusações do promotor, constrangia-se, sentia-se injustiçado

e frustrava-se, justificando que tudo ocorrera devido à bebedeira e insolência da

vítima que o destemperou. Acusava a denunciante de perturbar o sossego

público, que era uma mulher de conduta deplorável e reprovável, e que fazia parte

de companhias indecentes.

O promotor que conhecia muito bem as leis do Código Criminal do

Império e que sabia como aplicá-las com rigor, além dos artigos já incursos

mencionados, buscou em favor da desfavorecida o artigo 191, por ser uma ex-

escrava liberta, o mesmo direito que devia caber a todos os cidadãos livres,

mencionando a defesa contra os ultrajes às liberdades públicas.

Além do mais, lembrou que bêbados, mendigos, prostitutas escandalosas

e vadios eram da competência do juiz de paz, tanto no Código do Processo Civil

de 1ª. Instância, quanto na Reforma de 1841. Portanto, o delegado havia

extrapolado seu mando em detrimento da lei, causando danos em sua vítima, que

não sabia o porquê das bofetadas e de tamanha surra, pois não havia dado

motivos para tal. Alegou em sua defesa o depoimento de 11 testemunhas, todos

eles homens, sendo 7 solteiros, um viúvo e 3 casados. O viúvo era o juiz de paz

Joaquim José Borges, advogado, que se tornara protetor de Benedicta.

Para finalizar este caso, relatamos que o delegado foi destituído do cargo

e que Benedicta não se corrigiu de suas bebedeiras e arruaças. Continuou

fazendo seu teatro a céu aberto e sendo presa muitas vezes, isto é, em 1872 e

1873, por duas vezes, e em 1875, 1876, 1877, tendo seu último registro, em

1878, quando agrediu com pauladas Delfina Maria da Luz, com a ajuda de sua

irmã Barbina.

Fazer um diagnóstico do conhecimento prévio das/os alunas/os

sobre a temática da pesquisa

Fazer uma pesquisa na secretaria do colégio, se existem alunos

que se declaram negros no ato da matrícula.

Fazer uma pesquisa junto ao IBGE sobre o número da população

negra e afrodescendente em União da Vitória.

UNIDADE 1

Apresentar a pesquisa para as/os alunas/os e fazer um

diagnóstico do que conhecem sobre os negros no Brasil.

Professor/a

Levantar as ideias prévias das/os alunas/os, no momento inicial da

aula, sobre a temática, para, no final do projeto, retomar novamente a

temática, a fim de conferir, se houve compreensão das experiências

discutidas.

Para saber mais sobre aula oficina, ler o texto de Isabel Barca, disponível http://www.nre.seed.pr.gov.br/cascavel/arquivos/File/semana%20pedagogica%202010/aula_oficina_Projeto_Avaliacao.pdf

Afrodescendentes pedem

reconhecimento pleno como

cidadãos brasileiros.

Afrodescendentes pedem

reconhecimento pleno como

cidadãos brasileiros.

Introdução

A discussão está para começar. E isto é, buscar provas, fazer análise de

documentos, de livros e de pesquisas. E, por fim, fazer uma reflexão e discutir,

para então tirar nossas conclusões e uma lição para a vida. Isso é estudar e

fazer a História.

Assim iniciamos as nossas atividades, ouvindo a música, onde os sujeitos da

nossa temática anunciam que estão chegando e reivindicam cidadania plena.

Estamos chegando

Ouvir a música A de Ó (estamos chegando), de Milton Nascimento, de 1982.

Letra da Musica

UNIDADE 2

Levar a/o aluna/o a analisar a luta pelo reconhecimento dos

direitos dos afrodescendentes.

Estamos chegando do fundo da terra,

estamos chegando do ventre da noite,

da carne do açoite nós somos,

viemos lembrar.

Estamos chegando da morte dos mares, estamos chegando dos turvos porões, herdeiros do banzo

nós somos, viemos chorar.

Estamos chegando dos pretos rosários, estamos chegando

dos nossos terreiros, dos santos malditos

nós somos, viemos rezar.

Estamos chegando do chão da oficina,

estamos chegando do som e das formas, da arte negada que

somos, viemos criar.

Estamos chegando do fundo do medo, estamos chegando

das surdas correntes, um longo lamento nós

somos, viemos louvar.

A DE Ó

Estamos chegando

dos rios fogões, estamos chegando dos pobres bordéis,

da carne vendida que

somos, viemos amar.

Estamos chegando

das velhas senzalas, estamos chegando das novas favelas, das margens do

mundo nós somos, viemos dançar.

Estamos chegando

dos grandes estádios, estamos chegando da

escola de samba, sambando a revolta

chegamos, viemos gingar.

A DE Ó

Estamos chegando do ventre de Minas, estamos chegando

dos tristes mocambos,

dos gritos calados nós somos,

viemos cobrar.

Estamos chegando da cruz dos engenhos,

estamos sangrando a cruz do batismo,

marcados a ferro nós fomos,

viemos gritar.

Estamos chegando do alto dos morros,

estamos chegando da lei da baixada,

das covas sem nome chegamos,

viemos clamar.

Estamos chegamos do chão dos quilombos,

estamos chegando no som dos tambores,

dos Novos Palmares nós somos,

viemos lutar.

A DE Ó

(Disponível em: http://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/a-de-o-estamos-chegando.html#ixzz2dlR7J1yd)

A de Ó (estamos chegando)

1- Questões para debate.

a- Conteúdo

b- Crítica

c- Imaginário

d- Produção e recepção

e- Selecione dois versos que remetem ao passado e dois versos que

fazem referência ao presente.

f- Que trecho da música mais chamou sua atenção? Justifique sua

resposta.

Após o debate e análise da letra da música.

g- produza uma ilustração com a letra da música

Duração:

Compositor:

Intérprete:

Ano:

Álbum:

Gênero:

Gravadora:

4 minutos e 20 segundos

Milton Nascimento, Pedro Casaldáliga.

Milton Nascimento

1982

Missa dos Quilombos

MPB

Polygram

ATIVIDADES

Professor/a

Pode fazer o debate sobre o contexto da música, conteúdo,

crítica junto com as/os alunas/os, propondo que escolham outro

gênero musical com a mesma temática. Para saber mais sobre como

trabalhar com música em sala de aula, o livro de Circe Maria

Fernandes Bittencourt- Ensino de História: fundamentos e métodos,

onde há um texto, música e História.

Avaliação: Processual, realizada a partir das discussões e

debates.

Figura 2

A rainha com seu séquito de guardas e músicos, em desenho de 1622 do frei capuchinho Giovanni Antonio Cavazzi de Montecuccolo, contemporâneo de Nzinga.

UNIDADE 3

Reconhecer e valorizar a diversidade cultural africana.

Resistência

A GINGA É RAINHA DA RESISTÊNCIA

A ginga é o principal movimento da capoeira e dá sustentação e apoio

para o golpe. Na ginga, o capoeira defende-se com o auxílio das mãos e dos

braços, deslocando-se em qualquer posição, a fim de surpreender o adversário.

O nome é uma homenagem a N’Zinga Bandi, rainha da nação Bantu, que vivia

na região do Congo e Angola, no século XVI, e que foi responsável pela

resistência de seu povo, contra a opressão dos conquistadores portugueses.

(Texto extraído do livro: O jogo da História, de Flavio de Campos, Lidia Aguilar Regina Claro e

Renan Garcia Miranda, editora Moderna. Página14.)

1- A partir da leitura do texto, podemos ampliar as informações sobre a África e a

resistência dos povos africanos. Para complementar as informações sobre a

rainha africana, vamos ler o artigo da revista História da Biblioteca Nacional,

“Ginga, a incapturável” Mariana Bracks.

Vamos fazer análise da pintura de Rugendas.

Figura 3

Johann Moritz Rugendas- Jogar Capoeira ou Danse de Guerre- Painting by João Mauricio Rugendas, 1835. Disponível em: http://esquizofia.com/2012/08/30/devirdancar-60/-02/09/2013

ATIVIDADES

Sugestão para análise da pintura:

a- Por quem foi elaborado? Onde? Quando?

b- Qual o seu objetivo? Por quem e ou para quem foi feito? Qual a sua

importância para a sociedade que o fez?

c- Possui título? Existem pessoas retratadas? Quem são? Como se

vestem? Como se portam? Percebe-se hierarquia na representação? Que

objetos são retratados? Como aparecem? Que tipo de paisagem aparece? Qual

é o tempo retratado? Há indícios de tempo histórico na representação? É

possível identificar práticas sociais no objeto iconográfico retratado?

d- Qual é o material utilizado? Percebe-se relação/aproximação com a

sociedade ou período retratado?

2- A Capoeira é uma dança/luta que levanta as poeiras de nossas raízes

africanas. É uma das formas de resistência, dentro do sistema escravista. Você

sabia que o Brasil está tentando tornar a capoeira em esporte olímpico?

Professor/a

Vocês podem escolher outra pintura e organizar outras

questões para análise. Com relação à capoeira, podem fazer uma

apresentação com grupos de capoeiristas.

Figura 4

Disponível em:

http://antigo.acordacultura.org.br/livros/sites/br.livros/files/wallpaper_capoeira_1024%20X%20768_0.jpg

- Pesquisar a origem da capoeira.

- Pesquisar como está funcionando a propaganda para introduzir a

capoeira nas olimpíadas de 2016, como esporte olímpico.

Avaliação

Pesquisa produzida pelos alunos, testes e diálogo.

Proposta de atividade

Professor/a

Você pode conhecer mais como utilizar a pintura em sala

de aula, no livro de Circe Maria Fernandes Bittencourt - Ensino de

História: fundamentos e métodos.

“Os escravos não foram vítimas nem

heróis o tempo todo, se situando na

sua maioria e a maior parte do

tempo, numa zona de indefinição,

entre um e outro pólo”

(João José Reis)

“Os escravos não foram vítimas nem

heróis o tempo todo, se situando na

sua maioria e a maior parte do

tempo, numa zona de indefinição,

entre um e outro pólo”

(João José Reis)

Para os negros, o significado da liberdade foi forjado na experiência do

cativeiro. (Chalhoub, 2011 pag29)

ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA

UNIDADE 4

Conhecer e valorizar os movimentos e ações de resistência

dos sujeitos que foram escravizados

Assistir ao Curta Metragem “O Xadrez das Cores,”

(2004,21 minutos) dirigido por Marco Schiavon, Gênero Ficção-Elenco

Anselmo Vasconcellos, Mirian Pyres, Zezeh Barbosa, disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=NavKKM7w-cc .

O curta narra a história de Cida, uma mulher negra, que vai trabalhar

para Maria, uma mulher de oitenta anos, viúva e sem filhos. A relação entre as

duas começa tumultuada, com Maria tripudiando em cima de Cida por ela ser

negra. Em determinado momento, Cida percebe que pode negociar.

Realidade cotidiana das pessoas que sofrem discriminação, seus

sentimentos e formas de enfrentar a situação.

O jogo de xadrez precisa de estratégias, quando se pensa na próxima

jogada e, da mesma forma, é o que queremos dizer - debater. As estratégias de

ação, que os escravizados criaram, foram para enfrentar a escravidão e

conquistar pequenos espaços de liberdade.

Para os negros, o significado da liberdade foi forjado na experiência do

cativeiro. (Chalhoub, 2011 pag. 29)

A nossa nova historiografia está repleta de personagens que, com muita

ginga, souberam encontrar estratégias de resistir e mudar a sua história. São

tantos atores, neste novo cenário dentro do sistema escravista, que fica difícil

escolher os quais vão ser contemplados em nosso trabalho. Trazer estas

experiências contribui para compreender melhor a sociedade escravista, e

ressaltar que as pessoas escravizadas sabiam negociar e não foram seres

passivos que, muitas vezes, tentam mostrar. Para isso, vamos revisitar a história

através da historiografia renovada. Para iniciar as discussões e fazer refletir

sobre como os escravizados encontravam brechas para negociar e, reforçando

esta ideia, bebemos na fonte de Sidney Chalhoub que, em seu livro Visões da

Liberdade, descreve que os estudos nos dão acesso a todo um universo de

percepções dos escravos, a respeito de seus direitos, percepções essas que

fundamentam ações firmes no sentido de impor certos limites à ciranda de

negócios da escravidão.

2-Textos para debate

Senhora de si

Questão para pensar

Cartada final

Assediados por seus senhores, escravos recorreram à Inquisição para

frear os abusos sexuais que sofriam. (Ronaldo Vainfas)

Versos negros

Por meio de um manifesto intitulado ABC, uma seita cristã ensinava os

“morenos” a ler e questionava a dominação dos brancos. (Marcus J. M. de

Carvalho)

Crioulos no tribunal

Na tentativa de obter a liberdade, cativos entraram com uma enxurrada de

ações judiciais durante a colônia e o império. (Keila Grinberg)

Outros poderes

Ao criar novas organizações religiosas, africanos e crioulos viravam

líderes e promoviam revoltas (Maria Helena P. T. Machado e Flávio Gomes)

Os negros conseguiam impor, não sempre, mas tinham conhecimento de

alguns direitos adquiridos, e mostravam o que entendiam de cativeiro justo ou

pelo menos tolerável. (CHALHOUB, 2011 pag. 217).

3 - Após a leitura dos textos, notamos que, ao trabalhar com histórias individuais,

fica interessante, pois biografias nos dão a dimensão de estarmos falando de

indivíduos. Um escravo é, antes de tudo, uma pessoa que tem uma

personalidade, anseios e heranças e que veio de algum lugar. Antes de ser

escravizado, ele vivia livre.

Vamos confeccionar um mural, trazendo as biografias destes

personagens que, com maestria, sobreviviam dentro do sistema escravista e,

através de suas histórias, vamos conhecendo a África que eles trouxeram

consigo e que, aos poucos, foram transformando, que foram sendo incorporadas

pelas pessoas e que nós hoje utilizamos e não sabemos suas origens.

ATIVIDADES

Professor/a

Existem outros textos, com a mesma temática, que estão

disponíveis online no site da revista de História da Biblioteca

Nacional (http://www.revistadehistoria.com.br).

Avaliação

Solicitar que as/os alunas/os façam anotações sobre o vídeo, para

ser apresentada para as/os colegas. Produção de textos, a partir da

leitura dos sugeridos.

Conhecendo a África pela história dos escravizados

Com licença, mas eu preciso me apropriar deste conhecimento.

Coleção de documentos

Organização: Alberto Da Costa e Silva

Figura 5

UNIDADE 5

Conhecer um pouquinho da história da África.

Um Brasil, muitas Áfricas.

De que África teria saudades um africano no Brasil? De sua aldeia,

certamente. Ou do bairro da cidade, onde passou sua infância. No Brasil, deixou

de ser conhecido por sua terra natal, pelo nome que o seu povo dava a si

mesmo ou recebia dos vizinhos. Exceto para ele e para os conterrâneos ou

vizinhos que encontrava, no exílio, não mais era um iaca, auori ou gun: passara

a ser chamado de angola, nagô, ou mina, e africano, e negro. Na fazenda ou na

cidade, onde penava, podia haver quem falasse o seu idioma ou outro próximo,

e até quem fosse de seu vilarejo e seu malungo, ou companheiro de barco, na

travessia do Atlântico. Por toda parte, porém, encontrava gente estranha de

outras Áfricas que, não a sua, e que tinham tradições, crenças, valores,

costumes, saberes e técnicas diferentes.

Textos:

Um Brasil, muitas Áfricas - Alberto da Costa e Silva

Batalhas e batalhas-Marina De Mello e Souza

Sinhás pretas - Sheila de Castro Faria

O sonho da Bahia muçulmana - João José Reis

Camões com dendê – Yeda Pessoa de Castro

Para conhecer um pouquinho da nossa história através da leitura dos

textos, fazer um seminário para socializar o conhecimento. Após, pedir para que

os alunos elaborem uma síntese dos relatos apresentados pelos colegas.

Elencar os conhecimentos, trazidos pelos negros, como estão relacionados nos

artigos da revista, quando Alberto Costa e Silva explicita, no seu texto: quantas

nações foram mencionadas? Dança, profissões, alimentação, moradia, países

citados, vestimentas, fala da história de nações africanas. Marina de Mello nos

fala dos rituais trazidos da África.

1 Textos extraídos da Revista de História da biblioteca Nacional-Ano 7-nº 78-Março de 2012-

Pag.17 à 39

ATIVIDADES

Professor/a

Para saber mais sobre a história da África, você pode utilizar o

livro de Leila Leite Hernandez- A África na sala de aula - Visita À

História Contemporânea - Selo Negro Edições.

Para conhecer mais, de como trabalhar com dossiê temático, ler

o texto de Circe Maria Fernandes Bittencourt do livro Ensino de História

e Métodos.

África E Brasil Africano – Marina de Mello e Souza – Editora ática.

Avaliação

Síntese do seminário produzido pelas/os alunas/os.

Valorização da cidadania

Ao destacarmos a diversidade dos valores registrada em nossa memória,

em nosso modo de ser, na música, na literatura, na ciência, na alimentação e

religião, é a perspectiva em que vamos trabalhar a história das “Áfricas,” dos que

aqui chegaram e que hoje, pela mobilização dos grupos negros, trazem, para o

nosso cotidiano, a discussão de seus direitos e conquistas pela cidadania plena.

É pela positividade e também pela valorização que se acredita num passo

decisivo para a sociedade brasileira, quando vemos o outro de forma igualitária,

quando vemos a África no sentido próprio, quando percebemos o negro de outra

forma e conhecemos a beleza africana. Pois, integrar o continente africano, na

história da humanidade, é reconhecer que lá está o berço da humanidade.

UNIDADE 6

Destacar a África, na sua diversidade, pelos africanos e

africanas, trazidos ou que vieram para o Brasil, e seus

descendentes brasileiros, que implantaram, marcaram e

instituíram valores civilizatórios.

Valores civilizatórios

Energia Vital: Axé

Figura 6 Figura 7

(Disponível em: http://imagensface.com.br)

Figura 8 Figura 9

(Disponível em: http://greenstyle.com.br)

Axé, na língua iorubá, significa poder, energia ou força presente em

cada ser ou em cada coisa. Nas religiões afro-brasileiras, o termo representa a

energia sagrada dos orixás. O axé pode ser representado por um objeto ou por

um ser que será carregado com a energia dos espíritos homenageados em um

ritual religioso.

Dentro e fora do contexto religioso, axé é uma saudação, utilizada para

desejar votos de felicidade e boas energias.

Oralidade e Circularidade:

Figura 10 Figura 11

(Disponível em: portaldoprofessor.me.gov.br)

Figura 12

(Disponível em: http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/2010/02/grandes-reis-e-rainhas-da-africa.html)

As línguas tem grande importância para todos os povos do mundo. Na

África, com toda relevância, a língua falada é primordial. Pois é pela oralidade

que, ainda hoje, muitos conhecimentos são transmitidos de geração em geração.

O escritor malinês Amadou Hampâté Bâ (1901-19910) escreve sobre a

importância da oralidade na África: “o fato de não possuir uma escrita não priva a

África de ter um passado e um conhecimento”.

Sugestão de atividades: Pedir para que cada um leia um conto, fazer

uma roda e cada um vai contando o seu.

Corporeidade: Arrancados da sua terra e trazidos para o Brasil, este

povo aprendeu a valorizar o corpo.

Figura 13 Figura 14

(Disponível em: http://www.universidadedasquebradas.pacc.ufrj.br)

Uma das atividades que os jovens gostam é a dança. E ai está a

oportunidade de convidá-los para dançar. Selecione-se uma música, crie-se uma

coreografia e faça-se a apresentação. É aqui que se abre um novo espaço para

a pesquisa, trazendo, para a sala de aula, a cultura africana e afrodescendente,

como forma de agradecer e de louvar. Enfim, promovendo suas manifestações

culturais.

Figura 15

(Disponível em: portaldoprofessor.me.gov.br)

ATIVIDADES

ATIVIDADES

Musicalidade: A música brasileira é rica de cantores e canções. O povo

adora música, dança e canto, pois a brasilidade é marcada pelo som do batuque.

Para isso, vamos trazer, para a sala de aula, músicas feitas por compositores

brasileiros e afrodescendentes, que possuem um diálogo com as nossas

heranças africanas e que trazem pontos de vista sobre a condição da população

negra e mestiça. São muitos os cantores negros e as cantoras, assim vamos

trazer alguns como sugestão:

Samba

Clara Nunes

Cartola

Martinho da Vila

Neguinho da Beija flor

Outros gêneros:

Chico César

Luis Melodia

Milton Nascimento

Paulinho da Viola

Pixinguinha

ATIVIDADES

Pesquisar sobre estes artistas. Escolher uma música para apresentar

para a turma. E justificar o porquê da escolha.

Figura 16

Disponível em: www.ruadireita.com

Ludicidade: Brincar é alegria. Diversão é cultura.

Sugestão de atividades: Pesquisar as brincadeiras e jogos. Trocar as

informações. Organizar um repasse para a turma, onde cada grupo apresenta o

resultado de seu trabalho e deve ficar responsável pelos materiais necessários,

para as brincadeiras e jogos.

Figura 17 Figura 18

(Disponível em: portaldoprofessor.me.gov.br )

Cooperatividade: Resgatar a capacidade de cooperação e

compartilhamento - ocupar-se com o outro.

Figura 19

(Disponível em: portaldoprofessor.me.gov.br)

Professor/a

Neste site tem vários contos http://www.ciadejovensgriots.org.br

Livro:

Contos e lendas da África - escrito por Yves Pinguilly-

Cia Das letras

Terra Sonâmbula

Mia Couto

Companhia Das letras

Sugestão de filme

Kiriku e a Feiticeira

Ano: 1998 Direção: Michel Ocelot Gênero: cultura

Temática: cultura do povo africano

Pessoas que fizeram história e

deixaram exemplos de luta em favor

de uma etnia que vive a margem da

sociedade.

Pessoas que fizeram história e

deixaram exemplos de luta em favor

de uma etnia que vive a margem da

sociedade.

Quando tivermos no Brasil uma sociedade que também mostre toda

beleza negra e a mídia não somente apresente pessoas brancas, privilegiando

manequins, modelos e artistas, como se a cor da pele seja determinante para

definir padrão de beleza, os espectadores logo vão perceber que beleza tem

outros predicados, que se harmonizam e destacam-se na observação,

avaliando-se cada ser humano dentro de padrões característicos e universais,

assim como apreciamos as rosas, não só pelas cores, mas principalmente pela

formação e distribuição das pétalas e pelo seu perfume, fatores que as

caracterizam, como rosas, lindas e admiradas por entre outras flores, diferentes,

que também são lindas e admiradas por todos.

No esporte, seja no basquete, futebol ou em modalidades individuais,

ninguém mais nota ou faz distinção dos atletas pela cor.

UNIDADE 7

Conhecer personagens negras que fizeram história e deram

sua contribuição para formar atitudes de valorização do povo negro.

Assim, verdadeiros ícones ou ídolos, como na música, têm conquistado

seu espaço com destaque. E, aos poucos, se a mídia visual, como novelas,

cartazes e todo tipo de comunicação, não mais der destaque com exclusividade

para pessoas brancas, ninguém mais vai referir-se ao outro pela cor, da mesma

forma que nos referimos aos vizinhos, sem falar daquele negro ou moreno, pois

tal predicado não mais causará estranheza, nem mesmo essa característica

servirá como referência.

Enquanto essa realidade não atingir um grau igualdade, porque algum

resultado positivo já está ocorrendo, graças à luta de nível nacional, como

resultado da reação e manifestação de lideranças e da Lei 10.639/03, nós,

enquanto educadores, também precisamos contribuir com esse processo, de

maneira formativa, incutindo em nossos alunos essa nova mentalidade. E, para

que isso aconteça, sem chamar grande atenção para o processo, não custa

trazermos, para o cotidiano escolar, referências às pessoas negras que, dentro

de seu contexto, contribuíram na construção da sociedade brasileira, mas que

não são exaltadas ou referendadas por causa da cor de sua pele.

Ao fazermos isso, estaremos mostrando que, entre os grandes

personagens de nossa história, como escritores, poetas e tantas outras

profissões que são consideradas da elite branca, também precisamos lembrar a

participação de negros, cujo esforço nacional dependeu não só de heróis

brancos, mas de milhões de brasileiros, desconhecidos do grande público, que

deram sua contribuição na cultura e nas batalhas, não importando a origem ou

descendência e, muito menos quanto á cor, se eram de origem europeia,

africana ou nativa, que moldaram este grande país, amalgamando, no correr de

sua história, diversas etnias, para podermos considerar que hoje o Brasil é

constituído de uma única nação, miscigenada, buscando ser igualitária e que, a

grosso modo, chamamos de povo brasileiro.

O preconceito de cor no Brasil é uma herança da cultura europeia que

aqui aportou através dos colonizadores e dos imigrantes, sendo reforçado pela

situação humilhante da escravatura que esse povo passou, sem qualquer

atenção e apoio, após sua libertação, para que pudesse superar situação de

extrema pobreza, que o alijou de se beneficiar das benesses, como estudo e

oportunidades de ascensão profissional.

Para que possamos mostrar e conhecer estes personagens, vamos

começar por Luis Gama, que é uma das personalidades mais importantes do

Brasil. É o fruto de um romance entre um nobre com uma africana, do qual

nasceu livre, em Salvador, no ano de 1832.

Quando tinha 10 anos, o pai vendeu-o, como escravo, quando, por ironia

do destino, tornou-se um dos homens mais conhecidos na cidade de São Paulo.

O seu nome era reconhecido e venerado tanto por negros, como por

doutores da Academia de Direito de São Paulo.

Luis Gama aprendeu a viver no mundo senhorial e usava a ciência do

direito, como instrumento de luta pela liberdade dos negros escravizados.

Colocarei em prática esta atividade, reproduzindo a introdução do livro

de Elciene Azevedo com o título: Orfeu De Carapinha, que descreve o cortejo,

no enterro de Luis Gama.

Para mim, foi uma das introduções que mais me encantou e que fez com

que conhecesse o quanto este personagem fez pelos seus, no século XIX.

Figura 20

Luiz Gama (1830-1882)

Os personagens abaixo são sugestões, para que os alunos pesquisem e

tragam, para o cenário atual, pessoas que, de alguma forma, contribuíram e

ainda podem, ao serem lembradas, contribuírem para enaltecer a população

negra.

No final dessa pesquisa, os alunos deverão fazer um mural com breve

resumo sobre estes personagens.

Como exemplo, vou sugerir uma pergunta: Você sabia que o primeiro

presidente da província do Paraná Zacarias Goes de Vasconcelos (1853) era

mulato?

Figura 21

(Respectivamente, da esquerda para direita: Milton Santos (1926-2001); Pixinguinha (1897-1973); Mãe Menininha Do Gantois (1894-1986); Lélia Gonzalez (1935-1994); Chiquinha Gonzaga (1847-1935) e João Cândido (1880-1969))

Professor/a

Pode escolher outros personagens, que podem ser nacionais,

regionais e internacionais.

Avaliação

Material produzido pelas/os alunas/os. Exposição no Colégio.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, E. Orfeu De Carapinha. São Paulo: ed.Unicamp-1ª reimpressão-2005 CHALHOUB, SIDNEY. Visões da Liberdade – Uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais Educação-SEED. GRAHAM, S. L. Caetana diz não -Histórias de mulheres da Sociedade escravista Brasileira. São Paulo.ed Companhia das Letras-2005. MARTINS, I. C. E eu só tenho três casas: a do senhor, a cadeia, e o cemitério: Crime e escravidão na Comarca de Castro (1853-1888) .2011,250f Doutorado em História -Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná,Paraná,2011. MATTOS, H. M. Das Cores Do silêncio. Os significados da Liberdade no Sudeste Escravista -Brasil, séc. XIX. ed. Nova Fronteira 3ª Impressão – 1998. NEVES, Y. P. Negros e Currículo. Série pensamento Negro em Educação. 2. ed. Florianópolis. REIS J. J; SILVA E. Negociação e Conflito. A Resistência Negra no Brasil Escravista. Companhia das Letras 2ª Reimpressão – 2005 Revista de História da biblioteca Nacional-Ano 7-nº 78-Março de 2012- Pag.17 à 39 SERRANO, C WALDMAN, M. Memória D’África: A temática africana em sala de aula. 1. ed. São Paulo:Cortez,2010. SOUZA, M de M e. África e Brasil Africano. Editora Ática -2010