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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
DANÇA NA ESCOLA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PAUTADA NA
PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
Autor: Angela Glória Piano Toigo
Orientadora: Drª Carmem Elisa Henn Brandl
Resumo
Dentre os vários conteúdos que trabalhamos na escola, a dança é o que mais contribui na construção de realidades diferentes daquelas que vivenciamos cotidianamente. Ela proporciona a formação de indivíduos mais sensíveis, críticos, criativos e transformadores. A dança é um campo de aprendizagem privilegiado, porém enquanto objeto de ensino-aprendizagem, tem deixado muito a desejar e, em alguns momentos, devido a vários motivos, tem sido esquecida dentro do ambiente escolar. Optou-se pela Pedagogia Histórico-Crítica, acreditando que através dela pode-se trabalhar os conteúdos de forma contextualizada, em função das necessidades sociais a que estes devem responder. Este estudo objetivou identificar as possibilidades e dificuldades em trabalhar com dança nas aulas de Educação Física. A metodologia constou da aplicação de uma proposta pedagógica. O público objeto de intervenção deste projeto são alunos dos 6ºs Anos do Ensino Fundamental. Para a avaliação do projeto foi realizado um diário de campo para o relato e análise das ações. O resultado das ações demonstrou várias possibilidades assim como algumas dificuldades. Diante dos resultados conclui-se que a Educação Física enquanto disciplina que trata da Cultura Corporal por meio da dança, deve garantir aos alunos o acesso ao conhecimento dessas manifestações de forma contextualizada e reflexiva, levando o aluno a perceber-se como um sujeito histórico, social e político. Para isso, o professor precisa ousar e propor novos conteúdos e novas metodologias sempre bem planejados e sempre amparados por referenciais.
Palavra-Chave: Educação Física, Dança, Metodologia de Ensino.
1. INTRODUÇÃO
A dança é um campo de aprendizagem privilegiado, pois através do
movimento corporal desenvolve-se nos educandos a sensibilidade, a criatividade, a
imaginação e a improvisação, promovendo também a expressão das emoções,
ideias e valores. É uma prática corporal que pode ser expressa sem utilizar nenhum
material, apenas o corpo e seus movimentos. Porém, enquanto objeto de ensino-
aprendizagem, tem deixado muito a desejar e, em alguns momentos, devido a vários
motivos, tem sido esquecida dentro do ambiente escolar.
Ao longo de minha carreira como docente pude perceber que a cada ano que
passa nossos alunos estão ingressando no Ensino Fundamental II – 6ºs anos – com
menos habilidades motoras, mais dificuldades de socialização, pouca iniciativa,
criatividade e autoconfiança durante a execução das atividades. Talvez um dos
fatores seja o fato de que as aulas de Educação Física no Ensino Fundamental I no
município de Cascavel acontecem somente uma vez por semana e não são
ministradas, na maioria das vezes, por professores formados em Educação Física.
Neste contexto, a Educação Física em nosso município é tratada como projeto para
ocupar o tempo dos alunos nos momentos da hora-atividade do professor regente
de classe, portanto não como componente curricular obrigatório e sim como simples
atividade.
Constatou-se também que o conteúdo Dança fica muito restrito ao
planejamento ou simplesmente não é trabalhado como forma de produção de
conhecimento, e sim como reprodução artística em eventos escolares. Mesmo
nestes casos, muitas vezes estas danças são realizadas de forma automática e
mecânica, desprovida de sentido, nas quais o aluno não precisa e nem deve
questionar, simplesmente executar e assimilar os movimentos e a coreografia pré-
determinada. Marques (2007, p.31) reforça dizendo que “em princípio a escola
estaria mais engajada com as danças criadas com finalidades e intenções artísticas
[...]” A autora ainda comenta que “na grande maioria dos casos, professores não
sabem exatamente o que, como ou até mesmo por que ensinar dança na escola. ”
(p.22)
Também Barreto (2005, p.49) afirma que:
O educador-artista precisa comunicar seus conteúdos através de metodologias que viabilizem os objetivos da escola palco, porém, isso não é tudo. É necessário também saber falar com simplicidade sobre coisas complexas e ouvir com humildade e atenção as idéias e as propostas destes educandos, afinal, a relação educador-educando estrutura-se na democracia, no respeito e na amizade. (sic)
Outro grande empecilho para adoção da Dança como conteúdo formal nas
aulas de Educação Física reside no fato de convivermos com questões
historicamente construídas no que se refere à esportivização, fazendo com que os
alunos entendam as aulas de Educação Física como sinônimo de esportes e muitas
vezes se negam a participar de outros conteúdos. Isto ocorre pelo fato da escola, ao
longo dos anos, sofrer fortes influências das instituições esportivas. Soares (1993,
p.54) relata que “essa influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude
que temos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. ” Além
disso, Lovisolo (apud DARIDO e RANGEL, 2008, p.74) “argumenta, com base em
um amplo levantamento de opiniões, que a comunidade entende Educação Física
na escola a partir justamente desses dois fenômenos sociais: o esporte e a
ginástica. ”
É importante destacar relatos de autores que reforçam a ideia da necessidade
da variação dos conteúdos nos ambientes escolares. Kunz (2004, p.67), afirma que
“a Educação Física deve estudar o homem que se movimenta, relacionando a todas
as formas de manifestação deste se-movimentar, tanto no campo dos esportes
sistematizados, como no mundo do movimento [...] que não abrange o sistema
esportivo. ”
Para facilitar a adesão dos alunos às práticas corporais seria importante diversificar as vivências experimentadas nas aulas para além dos esportes tradicionais (futebol, voleibol ou basquetebol). Na verdade, a inclusão e a possibilidade das vivências das ginásticas, dos jogos, das brincadeiras, das lutas, das danças podem facilitar a adesão do aluno na medida em que aumentam as chances de uma possível identificação (DARIDO E SOUZA JÚNIOR, 2007, p.18).
Outro problema observado para se trabalhar com dança em sala de aula
acontece pelo fato de não encontrarmos um grupo homogêneo, pois cada aluno
possui um grau de desenvolvimento “bio-psico-social”, apesar de terem a mesma
idade. Pertencem também a meios socioculturais diferentes, despertando interesses
variados em relação às atividades propostas e relacionando-se com os outros de
formas diferentes. Dependendo do enfoque metodológico que o professor utilizar,
esta diversidade de culturas pode se tornar novas possibilidades para o
desenvolvimento deste conteúdo.
Justifica-se a escolha da dança, pois dentre os vários conteúdos possíveis de
se trabalhar na escola, a dança é aquele que mais me desafia no sentido de buscar
a construção de realidades diferentes daquelas que vivenciamos cotidianamente.
Realidades que possam contribuir para a formação de indivíduos mais sensíveis,
críticos, criativos e transformadores. Além de considerar a dança um dos conteúdos
mais difíceis de serem trabalhados, principalmente no momento de planejar os
estilos, a música, enfim, na hora de planejar as aulas.
Barreto (2005, p.83) afirma que “Dançar é essencial à formação humana, e
seu ensino na escola tem o potencial de contribuir para a construção de um
processo educacional mais harmonioso e equilibrado. ”
As Diretrizes Curriculares de Educação Física (DCE) do Paraná é o
documento oficial que norteia o nosso trabalho no momento de elaborarmos na
escola a Proposta Pedagógica Curricular (PPC) e posteriormente o Plano de
Trabalho Docente (PTD).
Segundo a DCE de EF do Paraná:
O plano é o lugar da criação pedagógica do professor, onde os conteúdos receberão abordagens contextualizadas histórica, social e politicamente, de modo que façam sentido para os alunos nas diversas realidades regionais, culturais e econômicas, contribuindo com sua formação cidadã (PARANÁ, 2008, p.83).
Em virtude dessas considerações, tornou-se imprescindível trabalhar com o
conteúdo de forma mais específica vinculado à realidade e às necessidades das
diferentes turmas. Para tanto, é essencial conhecer bem as culturas que envolvem a
realidade na qual a escola está inserida, sem perder de vista a dimensão dos
conteúdos e conhecimentos a que os alunos têm direito, já especificados na DCE e
PPC da escola.
No contexto escolar que vivemos, temos que planejar e estruturar nossas
aulas sempre pensando na realidade cultural em que vive o educando. Por outro
lado, temos a obrigação enquanto educadores de mostrar para o aluno outras
realidades culturais, e a dança, mais do que qualquer outro conteúdo, pode propiciar
o acesso a estas experiências das quais ele dificilmente teria acesso em outro
ambiente fora da escola.
Neste sentido, percebeu-se que temos que manter um diálogo constante com
nossos alunos, pois eles podem contribuir significativamente na superação dos
limites e das diferenças corporais e culturais. Ao problematizar questões importantes
e necessárias que envolvam a corporeidade, como por exemplo; respeito ao
próximo, aceitação do diferente, questões de gênero, o toque, entre outros, o
professor deve promover reflexões, com argumentos teóricos que sejam adequados
as expectativas, anseios e também possa refletir a realidade dos educandos
envolvidos no processo educativo.
Sendo assim é viável que todo conteúdo de Dança a ser trabalhado em sala
de aula deve ser abordado com um bom embasamento teórico, acerca de suas
origens, seus significados, a representação simbólica daquela determinada
coreografia e as possibilidades de movimentos que a mesma permite. Desenvolver
uma metodologia de trabalho que permita uma interação dos educandos entre si e
os mesmos com o seu professor pode proporcionar um enriquecimento significativo
no decorrer do processo ensino-aprendizagem, trazendo resultados positivos.
Optou-se pela Pedagogia Histórico-Crítica, acreditando que através dela
pode-se trabalhar os conteúdos de forma contextualizada, em função das
necessidades sociais a que estes devem responder.
Sobre a Pedagogia Histórico-Crítica, Gasparin (2003, p.03) ressalta que: “O
ponto de partida do novo método não será a escola, nem a sala de aula, mas a
realidade social mais ampla. A leitura crítica dessa realidade torna possível apontar
um novo pensar e agir pedagógicos. ”
Sendo assim, sentiu-se a necessidade de trabalhar com os educandos – nos
6ºs Anos – o conteúdo Dança, utilizando mecanismos capazes de desenvolver a
Cultura Corporal, quando a emoção, sensibilidade e criatividade estão presentes,
auxiliando no conhecimento de si próprios e de seus semelhantes, integrando-os no
contexto sócio cultural no qual encontram-se envolvidos, com maior facilidade.
De acordo com as considerações acima, o objetivo geral do trabalho foi
identificar possibilidades e dificuldades em trabalhar a dança através da
implementação e avaliação de uma proposta para os 6ºs anos do Ensino
Fundamental.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Aspectos Sociais da Comunidade Escolar.
A escola pública é um lugar privilegiado onde as crianças e jovens podem
ampliar os seus saberes em face da complexidade da sociedade contemporânea, e
assim tornarem-se capazes de exercer a sua condição de cidadãos em um país
marcado por profundas desigualdades sociais. Diante deste contexto é necessário
pensar quem são os sujeitos da escola pública? De onde eles vêm? Que referências
sociais e culturais trazem para a escola?
Segundo a DCE (Paraná, 2008: p.14), “Um sujeito é fruto de seu tempo
histórico, das relações sociais em que está inserido, mas também, um ser singular,
que atua no mundo a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possível
participar. ”
Diante da complexidade do sistema escolar, bem como da sociedade na qual
estamos inseridos, percebe-se a necessidade de refletir e entender melhor a
comunidade da escola, pois o processo de ensino e aprendizagem vai além da
produção ou reprodução de conteúdo. Compreendemos que a ação do educador
não se dá somente em sala de aula, mas em todos os espaços da escola, inclusive
com a comunidade externa.
Para entendermos melhor os alunos, é necessário compreender os aspectos
sociais que envolvem a escola.
O Colégio Estadual Professora Júlia Wanderley – Ensino Fundamental e
Médio está situado na Rua Jorge Lacerda, 1420, bairro Claudete, região oeste do
município de Cascavel. Atualmente o colégio conta com aproximadamente 1.140
alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de
Jovens e Adultos. Nosso público alvo neste projeto são os alunos dos 6ºs anos do
Ensino Fundamental. O colégio conta com cinco sextos anos – aproximadamente
130 alunos – que são atendidos no período vespertino.
A PPC do Ensino Fundamental do colégio se fundamenta no conhecimento
profundo do alunado, suas necessidades e expectativas e sua situação
socioeconômica. A proposta tenta articular a garantia da aprendizagem significativa
dos conteúdos, com a realidade que se apresenta todos os dias, em cada
dificuldade encontrada dentro das salas de aula.
Para tanto, a escola torna-se um espaço em constante mudança, pronta para
transformar em saber as ansiedades que os alunos trazem. Deve-se enxergar a
escola de Ensino Fundamental como uma preparação para a vida. As necessidades
dos alunos e suas relações com o meio em que vivem é que norteiam o trabalho
educativo dentro das escolas, onde o conhecimento é construído gradativamente
porque é visto como um conjunto de relações que aos poucos se tornam
significativas para cada um deles.
2.2 A Educação Física Escolar
Por razões historicamente determinadas temos sido levados a pensar a
Educação Física, e consequentemente a Educação Física Escolar, de forma muito
estreita. Privilegiamos os fatos observáveis e mensuráveis e lhes desprovemos de
valores, trabalhamos o corpo dicotomizando-o, separando de sua essência e assim,
abraçamos o corpo físico e desprezamos a corporeidade dos alunos.
Diversos autores em seus estudos fazem uma reflexão sobre a Educação
Física relacionada ao movimento e a corporeidade. Para Oliveira (1983), o que não
se discute é o compromisso da Educação Física em estudar o homem em
movimento. O que também se aceita é a ginástica, o jogo, o esporte e a dança como
instrumentos para cumprir os seus objetivos. Kunz (2004, p.27) comenta que “O
homem é um ser com inerente necessidade de se movimentar. ” Medina (2001,
p.34), relata que a Educação Física é “entendida como disciplina que se utiliza do
corpo, através de seus movimentos, para desenvolver um processo educativo que
contribua para o crescimento de todas as dimensões humanas. ” Verderi (1998,
p.120), aponta que a Educação Física é “uma área do conhecimento diretamente
relacionada com a corporeidade do educando, ou seja, com o movimento humano
consciente e sua capacidade de movimentação. ” Soares (1993, p.50), reforça que
“a Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza
formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança e ginástica,
formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de
Cultura Corporal”.
Para Darido e Souza Júnior (2007), ao longo da história priorizaram-se os
conteúdos em uma dimensão quase que exclusivamente procedimental; o saber
fazer, e não o saber sobre a Cultura Corporal ou o como se deve ser.
Atualmente trabalhamos com a proposta das Diretrizes Curriculares da
Educação Básica, nas quais se entende a Educação Física como uma área de
conhecimento da Cultura Corporal e a Educação Física Escolar como uma disciplina
que introduz e integra o aluno na Cultura Corporal de movimento. Assim, formando o
cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para
usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em
benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida.
De acordo com Darido e Souza Júnior (2007, p.14):
Um ponto de destaque nessa nova significação atribuída à educação física é que a área ultrapassa a ideia de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais que isso, cabe ao professor de educação física problematizar, interpretar, relacionar, analisar com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal, de tal forma que estes compreendam os sentidos e significados impregnados nas práticas corporais.
Ainda nesta perspectiva, a Educação Física Escolar destaca-se por entender
o homem como um ser em movimento. Observa-se também, reflexões de vários
estudiosos que procuram compreender a problemática da corporeidade inserida na
totalidade da existência humana. Nessas reflexões, buscam-se os fundamentos para
pensar a Educação Física Escolar como fenômeno educativo e cultural.
Soares (1993, p.40) aponta, que:
A expectativa da Educação Física escolar, que tem como objetivo a reflexão sobre a cultura corporal, contribui para a afirmação dos interesses de classe das camadas populares, na medida em que desenvolve uma reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade substituindo individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos – a emancipação – negando a dominação e submissão do homem pelo homem.
A Educação Física como educação, como uma prática que pretende agir
sobre o homem transformando-o, só tem sentido se for compreendida como um
momento da totalidade concreta. No âmbito de seu trabalho como educador, por
meio de métodos e conteúdos a serem desenvolvidos com os alunos, o professor de
Educação Física tem inúmeras possibilidades de oferecer-lhes experiências em que
eles possam adquirir um código de ética, dentro de uma vivência da
responsabilidade de suas ações diante do outro que lhe está próximo e diante da
realidade social como um todo.
Para Darido e Rangel (2008, p. 28), “a partir de uma preocupação com o que
se deve ensinar em Educação Física, surgiu a proposta da Cultura Corporal de
Movimento, representando uma perspectiva que fundamentaria a intervenção
pedagógica do professor”.
Neste sentido, segundo as mesmas autoras, nas aulas de Educação Física o
professor deve buscar desenvolver uma reflexão pedagógica das formas de
representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer na história,
exteriorizadas pela expressão corporal, sob as formas de ginástica, dança, lutas,
jogo e esporte, onde estas formas, expressões corporais do homem em suas
relações sociais, são identificadas como modo de representação simbólica de
realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas, beneficiando o exercício crítico da cidadania.
Nanni (1995) reforça dizendo que os conteúdos não devem passar só pela
transmissão pura e simples do conhecimento teórico, mas pela assimilação ativa por
parte do educando e pela possibilidade de constante reavaliação crítica destes
conteúdos trabalhados.
A educação que buscamos deve possibilitar autoconhecimento, compreensão de si mesmo e de seu mundo, prazer, contato com o lúdico e desenvolvimento de uma consciência crítica, favorecendo e incentivando o aluno a manifestar suas ideias através de um agir pedagógico coerente, para que a partir daí o aluno possa expressar sua corporeidade e sua capacidade de adaptação [...] (VERDERI, 1998, p.28)
Portanto, a Educação Física Escolar contempla os elementos que
representam as manifestações da Cultura Corporal. A dança é considerada um
desses elementos, portanto conteúdo estruturante do currículo. Segundo a DCE de
EF do Paraná (Paraná, 2008), a Cultura Corporal norteará o trabalho com os
conteúdos estruturantes, constituindo, portanto, seu objeto de ensino. Assim, o
trabalho pedagógico deve visar às reflexões sobre as representações do homem no
mundo e pode ser manifestado através da expressão corporal com o conteúdo de
dança.
2.3 Dança
A dança acompanha o homem praticamente desde os primórdios da
humanidade. Os povos antigos dançavam pelas mais diversas motivações, estando
ela presente nos principais acontecimentos das sociedades antigas.
Para Oliveira (1983, p.14):
Uma das atividades físicas mais significativas para o homem antigo foi a dança. Utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, era praticada por todos os povos [...] A dança primitiva podia ter características eminentemente lúdicas como também um caráter ritualístico, onde havia demonstrações de alegria pela caça e pesca feliz ou a dramatização de qualquer evento que merecesse destaque como os nascimentos ou funerais.
Nanni (1995, p.8) relata que “desde os tempos imemoráveis, a dança como
atividade humana é forma de manifestação, a primeira, também como comunhão
mística do homem com a natureza e com os Deuses”. Verderi (1998, p.35) ainda diz
que “o homem primitivo dançava por inúmeros significados: caça, colheita, alegria,
tristeza, exorcismo de um demônio, casamento, homenagem aos deuses, à natureza
etc.” Oliveira (1983, p.15) complementa afirmando que “as danças representavam
um papel fundamental no processo da Educação, na medida em que se faziam
presentes em todos os ritos que preparavam os jovens para a vida social. ”
Ainda, Nanni (1995) trata a dança como arte conceitual, portanto, é forma de
comunicação e expressão, é uma das manifestações inerentes à natureza do
homem, presente nos acontecimentos de sua vida. Ela estabelece íntima relação
com as emoções e sentimentos humanos; antecede como forma de comunicação à
própria linguagem falada, característica hoje tão escassa ao homem
contemporâneo.
Diante disso, Verderi (1998) também faz alguns apontamentos sobre a dança
utilizada para expressar a corporeidade dos alunos e dos homens deste mundo.
Hoje, graças a evolução que a ela ocorreu ao longo dos tempos, podemos usufruir
de seus movimentos, de sua magia, de sua expressão e plasticidade para
aprimorarmos os movimentos, a magia, a expressão e a criatividade dos alunos.
Nesse sentido, “ela é uma possibilidade de expressão e também de comunicação
humana que, através de diálogos corporais e verbais, viabiliza o autoconhecimento,
os conhecimentos sobre os outros, a expressão individual e coletiva e a
comunicação entre as pessoas. ” (BARRETO, 2005, p.101)
Nanni (1995, p.182) corrobora afirmando que “a Dança, tendo como fator
fundamental o movimento, transmite e reflete valores sociais do contexto no qual se
acha engajado e, portanto, poderá contribuir para o processo de renovação e
transformação do ser humano. ”
Na sociedade contemporânea, na qual a escola está inserida, é
imprescindível que se busque formas de educação que considere os movimentos,
gestos, sons, luminosidade, sensações, ações, emoções, enfim, tudo aquilo que se
vive em casa, na rua e em outros espaços. Enquanto se ensina Dança é possível
estimular os educandos para isto que nos parece tão simples e óbvio, mas ainda
assim fica esquecido na maior parte das propostas de ensino de Dança. (BARRETO,
2005)
Assim, na escola é importante oferecer ao aluno a oportunidade de elaborar
seus próprios movimentos e ser agente do conhecimento. A dança pode
desenvolver a iniciativa e a autonomia, qualidades voltadas à liberdade de ser e
estar no mundo. Os seres humanos estão sendo padronizados, principalmente por
influência dos meios de comunicação, hoje impregnados pela globalização. Isso
rotula as formas das pessoas agirem, tornando-as igual no dançar, vestir, sentar etc.
(BREGOLATO 2007)
Diante dessas considerações é oportuno destacar que a dança nas aulas de
EF não deve priorizar a execução de movimentos corretos e perfeitos dentro de um
padrão técnico imposto, gerando a competitividade entre os alunos. Deve partir do
pressuposto de que o movimento é uma forma de expressão e comunicação do
aluno, objetivando torná-lo um cidadão crítico, participativo e responsável, capaz de
expressar-se em variadas linguagens, desenvolvendo a auto expressão e
aprendendo a pensar em termos de movimento (SCARPATO, 2001). Movimento
este que é nato no ser humano. Barreto (2005, p.78) nos diz que “é interessante
olhar para o universo e imaginar que tudo nele tem movimento, ritmo, forma,
harmonia, enfim, tudo tem uma expressão, e mesmo sem ter consciência disso, tudo
dança. ”
O movimento, portanto, revela evidentemente muitas coisas diferentes. É o resultado, ou da busca de um objeto dotado de valor, ou de uma condição mental. Suas formas e ritmos mostram a atitude da pessoa que se move numa determinada situação. Pode tanto caracterizar um estado de espírito e uma reação, como atributos mais constantes da
personalidade. O movimento pode ser influenciado pelo meio ambiente do ser que se move (LABAN, 1978, p.20).
No contexto desses conhecimentos, cumpre-nos assinalar que ao iniciar um
novo conteúdo, deve-se levar em conta as características do grupo, o meio
sociocultural e principalmente o desenvolvimento e interesse do aluno, para que a
resposta dada pelos mesmos seja a melhor, superando assim as dificuldades em
relação ao ensino e a inserção dança no ambiente escolar.
Nanni (1995) faz uma reflexão acerca da inclusão dos elementos de cultura
regional ou local em um programa de Dança – Educação com a implementação de
fatos históricos que exclui a hegemonia da cultura dominante permitindo a
participação mais ativa e dinâmica dos alunos nas aulas de dança. Oferece a
descoberta de possibilidades, de formas, de movimentos pela percepção dos
componentes de seu corpo social e cultural, cujas características individuais e da
coletividade se fazem evidentes, e consequentemente veicula o engajamento no
comprometimento social como consequência da ação e emancipação da dança
contextualizada.
Através dos tempos, com as mudanças culturais sofridas pelas comunidades, a dança vai também acompanhando o processo evolutivo, adaptando-se, às vezes, espontaneamente como uma aquisição do próprio homem, outras vozes quase que impostas por culturas dominadoras. Assim, a dança se modifica muitas vezes, tornando-se algo totalmente importado, desvinculada das raízes do homem que está praticando (NANNI, 1995, p.75).
Para que tal intuito seja modificado, é importante que nas aulas de dança o
aluno possa desempenhar papéis sociais e também promover reflexões, analisando
as culturas dominantes impostas pela mídia e relacioná-las à sua cultura local e ou
regional na qual ele encontra-se inserido dentro da sociedade, seja ela qual for.
Diante dessas considerações, é oportuno destacar que no processo de
ensino-aprendizagem o professor de Educação Física deve apresentar mecanismos
capazes de desenvolver ações, criando situações satisfatórias de aprendizagem e
enriquecendo os conteúdos de suas aulas. As atividades devem contemplar técnicas
de conscientização, expressão corporal, apreciação de vídeos com espetáculos de
dança, textos informativos sobres os diversos tipos de dança e atividades rítmicas,
estimulando assim, a criatividade e a criticidade dos educandos e cativando-os para
a realização das atividades.
Barreto (2005) destaca que ao dançar, construímos “realidades” diferentes da
realidade que experienciamos cotidianamente, contribuindo para a formação de
indivíduos mais sensíveis, críticos, criativos e transformadores.
Assim, destaca-se que a inclusão da dança no currículo escolar acaba por se
transformar em uma maneira de desenvolver e aprimorar o ser humano de todas as
classes sociais, e não mais privilégio de uma única classe. Percebe-se então, que a
dança tem muito a contribuir com a EF para atingir os objetivos propostos em seus
documentos norteadores.
A dança pode contribuir para a EF através de diferentes objetivos, porém
para Marques (2001), o maior objetivo das aulas que abordam o conteúdo dança
resume-se em transformar os alunos em melhores pensadores de arte, melhores
consumidores e espectadores. É considerar a dança como fonte de
autoconhecimento, e não como técnica acabada.
Quanto à metodologia para o ensino de Dança nas escolas pode-se destacar,
que de forma abrangente, o professor trabalha visando a autonomia, a liberdade e o
potencial criador dos educandos, incorporando métodos de ensino de Dança que
promovam as experiências dos mesmos, vivenciando aspectos da sua própria
realidade e que os permitam transcender a ela, recriando-a e transformando-a.
Por concluinte, destaca-se que a verdadeira educação deve formar o homem
para a vida, devemos a nossos alunos formação de valores e de metas. Espera-se
formá-lo criticamente sobre os diversos assuntos. Em se tratando deste componente
curricular que o vivencie, saiba valorizá-lo e apreciá-lo cada vez mais e melhor.
2.4 Metodologia de Ensino
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96 trouxe profundas
mudanças para o Sistema Educacional Brasileiro, refletindo a realidade das grandes
transformações pelas quais toda a sociedade atravessa neste início de século,
tornando mais evidente que a ação pedagógica é determinante na formação do
indivíduo autônomo e construtor de um mundo em constante transformação.
Neste contexto podemos discorrer que a Educação Física transitou em
diversas perspectivas teóricas, desde as mais reacionárias até as mais críticas.
Baseando-se nestas teorias, tornou-se possível sistematizar e pensar em uma nova
proposta, com vistas a avançar sobre a visão hegemônica aplicada à Educação
Física.
Sendo assim, os pressupostos das teorias críticas fornecem todo
embasamento para configuração da Educação Física na atualidade, esta que tem
como objeto de estudo e ensino a Cultura Corporal – relacionando o movimento
humano, historicamente constituído, ao cotidiano escolar em todas as suas formas e
manifestações culturais, políticas, econômicas e sociais.
Nesta proposta didática, baseada na Pedagogia Histórico-Crítica, deve-se dar
oportunidade a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades de
forma democrática e não seletiva, visando o domínio teórico dos conteúdos em
função das necessidades sociais a que deve responder.
Para Gasparin (2003, p.10):
Em seu conjunto, essa metodologia de ensino-aprendizagem apresenta três características desafiadoras: 1) nova maneira de planejar as atividades docentes-discentes; 2) novo processo de estudo por parte do professor, pois todo o conteúdo a ser trabalhado deve ser visto de uma perspectiva totalmente diferente da tradicional; 3) novo método de trabalho docente-discente, que tem como base o processo dialético: prática-teoria-prática.
A elaboração do PPP da escola evidencia a intencionalidade da escola
pública, ou seja, a de propiciar ao aluno, uma educação sustentada por um ensino-
aprendizagem de qualidade, garantindo seu acesso e permanência, visando
contribuir com seu desenvolvimento, sua formação de cidadão.
Segundo Gasparin (2003) a didática para a Pedagogia Histórico-Crítica
apresenta cinco passos em sua metodologia.
O primeiro passo é a Prática Social Inicial que, é o ponto de partida de todo o
trabalho docente. Consiste este passo, no primeiro contato que o aluno mantém com
o conteúdo trabalhado pelo professor. Ao dialogar com seus alunos sobre o tema a
ser estudado mostrará a eles o quanto já conhecem sobre o assunto, evidenciando,
que a temática desenvolvida em sala de aula, está presente na prática social, ou
seja, em seu dia a dia.
Já a Problematização, segundo passo, constitui o elo entre a prática e a
instrumentalização. A problematização é o fio condutor de todas as atividades que
os alunos desenvolverão no processo de construção do conhecimento. “Representa
o momento do processo em que essa prática social é posta em questão, analisada,
interrogada, levando em consideração o conteúdo a ser trabalhado e as exigências
sociais de aplicação desse conhecimento” (GASPARIN, 2003, p.36). Relata ainda
que os conteúdos devem ser trabalhados em várias dimensões, tais como:
Conceitual ou Científica, Histórica, Social, Econômica, Religiosa, Política e Estética.
Identificando estas dimensões e discutindo com os alunos sobre os principais
problemas postos pela prática social e pelo conteúdo. (GASPARIN, 2003)
A Instrumentalização, terceiro passo do método, realiza-se através de ações
didático-pedagógicas para a aprendizagem. Gasparin (2003) cita que os educandos
e o educador agem no sentido da efetiva elaboração da aprendizagem, através da
apresentação sistemática do conteúdo por parte do professor e por meio da ação
intencional dos alunos de se apropriarem desse conhecimento.
A Catarse é a fase em que o educando sistematiza e manifesta o que
assimilou dos conteúdos e dos métodos de trabalho usados na fase anterior
Gasparin (2003). Segundo o autor, é o momento em que devem ser retomados os
objetivos propostos na Prática Social Inicial e trabalhados nas fases subsequentes,
verificando se foram atingidos pelos alunos. Esta fase pode ser traduzida em dois
momentos: Elaboração teórica da nova síntese: este é o momento em que o aluno
manifesta para si mesmo o quanto aprendeu; Expressão prática da nova síntese:
este é o momento da avaliação que traduz o crescimento do aluno, que expressa
como se apropriou do conteúdo, como resolveu as questões propostas, enfim,
como reconstituiu seu processo de concepção da realidade social (GASPARIN,
2003).
A Prática Social Final, último passo proposto por Gasparin (2003), representa
a nova proposta de ação a partir do conteúdo aprendido. Professor e alunos se
modificaram intelectualmente e qualitativamente em relação as suas concepções
sobre o conteúdo que reconstruíram, passando de um estágio de menor
compreensão científica, social e histórica a uma fase de maior clareza e
compreensão.
A Prática Social Final é a confirmação de que aquilo que o educando somente conseguia realizar coma ajuda dos outros, agora o consegue sozinho, ainda que trabalhando em grupo. É a expressão mais forte que de fato se apropriou do conteúdo, aprendeu, e por isso sabe e aplica. É o novo uso social dos conteúdos científicos aprendidos na escola (GASPARIN, 2003, p.146).
É fundamental despertar nos alunos a capacidade de saber pensar, mas é
inadequado impor o que se deva pensar. Do educador espera-se que saiba motivar
esse processo de questionamento crítico e criativo. Necessitamos de um esforço
teórico que promova a análise e reflexão sobre nossa prática e nos leve a respostas
sobre questões pertinentes à nossa tarefa. Que tenhamos novos olhares para os
corpos dos alunos, para nossa sala de aula e para nosso agir pedagógico, e assim,
realizar a emergência de novas possibilidades educacionais.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) que foi previamente
apresentado à direção do colégio e às instâncias colegiadas em reunião pedagógica
na escola. Neste momento foi explicado o desenvolvimento, aplicação e relevância
do projeto, sendo explanado também aos membros do Conselho Escolar que
fizeram a análise do mesmo e posteriormente deram a autorização para a sua
aplicação. Esta proposta do PDE – Turma 2014 foi composta por três fases distintas.
A primeira fase aconteceu com a realização de pesquisa bibliográfica. A
segunda, com base na pesquisa realizada, produziu-se o Material Didático
Pedagógico (MDP), no qual foram definidas todas as ações e atividades a serem
realizadas com os educandos no início do ano letivo de 2015.
O MDP propôs estabelecer uma sequência, que viesse oferecer subsídios
teóricos e práticos, favoráveis ao desenvolvimento do conteúdo de Dança – para os
alunos dos 6ºs anos – possibilitando a reflexão acerca dos significados e dos
objetivos deste conteúdo nas aulas de Educação Física, contribuindo assim para o
desenvolvimento de novas possibilidades de aprendizagem. A metodologia de
ensino foi pautada na Pedagogia Histórico-Crítica.
O MDP teve como objetivos:
Proporcionar ações pedagógicas que despertassem no aluno o interesse
em dançar;
Disseminar o conhecimento de diferentes tipos de dança;
Desenvolver e ou aprimorar a expressão corporal e a criatividade com
autonomia e sensibilidade, através de aulas mais dinâmicas e práticas;
Oportunizar a integração do grupo, permitindo aos alunos um melhor
relacionamento, respaldando assim o sucesso das atividades;
A produção do MDP pretendeu também oferecer condições de despertar o
interesse dos profissionais da área para que experimentem a dança em suas aulas
de Educação Física, para que vivenciem com os alunos as oportunidades que ela
pode proporcionar quando trabalhada de forma sistematizada, organizada e
planejada.
Na terceira fase, a aplicação da proposta, esteve respaldada pelo MDP. Foi
aplicado para vinte e dois alunos do 6º Ano – Turma B, do Ensino Fundamental –
Colégio Estadual Professora Júlia Wanderley, no período de março a outubro de
2015. O trabalho estava previsto para realizar-se em trinta e duas horas, porém
abrangeu quarenta horas de atividades realizadas com alunos e comunidade
escolar.
Para a avaliação do projeto foi realizado um diário de campo com o relato das
ações previstas, sempre identificando o que foi possível ser realizado, bem como as
dificuldades que surgiram no decorrer do processo. Também se realizou uma
amostra de dança para a comunidade escolar, com as coreografias produzidas pelos
alunos.
4. RESULTADOS - RELATO DE EXPERIÊNCIA
O relato de experiência foi pautado no diário de campo e serviu de apoio para
identificar as dificuldades e possibilidades encontradas.
Neste diário foram registradas todas as aulas e situações importantes sobre
as dificuldades e avanços alcançados durante todo o processo. Através do diário de
campo, avaliamos e observamos normas, valores, atitudes tomadas perante as
situações e atividades propostas, cooperação com os colegas, solidariedade,
inclusão, questões de gênero e resolução de conflitos.
Iniciou-se a implementação a partir do primeiro passo da Pedagogia Histórico-
Crítica: A Prática Social Inicial, definida como Tema 01 – Diagnóstico da Realidade.
4.1 Diagnóstico da realidade.
A primeira atividade foi a aplicação de um questionário como instrumento para
diagnosticar como a dança está inserida no ambiente escolar e o significado para os
alunos enquanto conteúdo de ensino. Pretendeu-se também verificar que visão os
estudantes apresentam sobre dança, a importância da mesma para sua formação,
analisar as concepções e dificuldades em relação à dança como conteúdo nas aulas
de Educação Física, e assim ter respaldo para conduzir de maneira mais eficiente as
aulas.
O resultado do diagnóstico obteve as seguintes implicações:
Na primeira questão perguntou-se o que eles entendem por dança. Os alunos
citaram em seus questionários que: “Dança é movimento, liberdade, parceria e arte.
Dança é um conjunto de movimentos que é acompanhado pelo ritmo da música em
uma determinada coreografia. É quando você usa vários movimentos e forma uma
sequência que vira dança. Citaram ainda que existem vários estilos de dança e que
dançar é uma forma de deixar as pessoas mais agitadas e mais alegres. A dança
propõe confiança, soltar nosso corpo deixando-o mais livre em movimentos
elevados”.
Analisando estas afirmações pode-se perceber que a maioria dos alunos tem
um conceito formado sobre dança. Refletiu-se e verificou-se que dentro de um
universo tão vasto de informações, torna-se difícil conceituá-la devido à imensidão
de conhecimentos que permeiam a dança, contudo, através dos depoimentos, os
alunos demonstraram o essencial, a dança como uma possibilidade de expressão e
de comunicação humana, que através dos movimentos viabiliza o
autoconhecimento, o conhecimento sobre os outros, a expressão individual e
coletiva e a comunicação entre as pessoas.
Na sequência questionou-se se eles gostam de dançar. Cinco alunos
responderam que não gostam, pois não sabem dançar ou não acham muita graça.
Dezessete alunos responderam que sim, justificando “que dançar é muito legal,
exercita nosso corpo e nos alegra. Dançam com os amigos para movimentar e
aquecer. Aprenderam a dançar com a família. Umas danças são difíceis, mesmo
assim é bom dançar”. Pode-se observar que a maioria dos alunos gosta de dançar,
e isso é um ponto relevante neste diagnóstico, pois espera-se boa aceitação dos
mesmos em relação as atividades propostas.
Em seguida indagou-se se eles costumam dançar em seu dia a dia e se isso
ocorre, em que local. Oito alunos responderam que não dançam no dia a dia. Doze
responderam que sim. O local mais citado foi suas casas, no chuveiro, no quarto, na
cozinha, com o vídeo game e também em festas e casamentos. Uma das alunas
dança nas aulas de balé. Dois alunos não responderam. Podemos verificar que a
dança faz parte do cotidiano dos alunos de forma singular, bem como está presente
nos acontecimentos sociais e religiosos que envolvem as famílias dos mesmos,
através das festas e casamento que foram citados por vários.
Na próxima questão perguntou-se se eles já vivenciaram a dança na escola e
em que momento isso ocorreu. Apenas dois alunos responderam nunca terem
dançado na escola e vinte que sim. A grande maioria dos alunos respondeu que
“vivenciaram a dança através de apresentações em datas específicas como, Dia dos
Professores, Dia das Mães, Festa da Primavera e principalmente nas Festas Juninas
com as quadrilhas”, citadas por dezesseis alunos. Uma pequena parcela citou que “a
dança era trabalhada no início da aula como aquecimento e durante as aulas de
Educação Física. ” Através destas respostas confirmou-se o que já foi citado na
introdução, a dança sendo utilizada como sinônimo de apresentações em eventos
escolares e não como conteúdo sistematicamente desenvolvido nas aulas.
Posteriormente questionou-se se caso tivessem vivenciado este conteúdo nas
aulas de Educação Física, de que forma ele foi abordado. Quase todos os alunos
responderam que “não vivenciamos este conteúdo nas aulas de Educação Física”.
Alguns destacaram que “vivenciaram como aquecimento”, ou que “a professora
colocava música e a gente dançava. ” A maioria dos alunos tiveram dificuldades em
responder a esta questão justamente por não terem tido esta experiência nas aulas
de Educação Física no Ensino Fundamental I.
A próxima questão indagou de que forma eram realizadas as atividades
práticas nas aulas de Educação Física. Responderam que era “de forma repetitiva,
com esportes, jogos e brincadeiras em grupos”. “Com aquecimentos, alongamentos
e relaxamentos, dinâmicas, jogos e competições na quadra de esportes, com o uso
de materiais como: bolas, cordas, cones, etc.”. “A professora dava a bola para nós
brincarmos”. “Vivenciamos com mais atividades esportivas e futebol”. “Em aulas
livres na quadra de esportes”. Nesta questão pudemos observar uma variedade de
respostas, porém sempre com ênfase nos conteúdos de jogos, brincadeiras e
esportes.
Perguntou-se também o que pensam sobre o ensino da dança nas aulas de
Educação Física e qual a sua importância. Poucos alunos citaram que “não acham a
dança muito importante”. “É um conteúdo e deve ser trabalhado”. “É um exercício e
ajuda no desenvolvimento do corpo, ajuda a desenvolver o equilíbrio e ritmo além de
várias outras coisas”. “A dança faz o corpo movimentar-se, remexer-se e
desenvolver-se”. Muitos responderam que “acham legal e divertido, pois terão a
oportunidade de aprender novos passos e movimentos e aprender a gostar de
outros estilos de dança”. “Através da dança podemos expressar nossos
sentimentos”. “É uma oportunidade de confiar em você mesmo e ajudar seu corpo a
exercitar-se e desenvolver-se”. “Pode virar uma profissão, para quem se interessar”.
“Já fiz balé e sou apaixonada por dança”. “Dançar para mim é importante porque me
sinto livre. Dançando me sinto muito feliz. A dança nos deixa feliz”. Outros
responderam que é bom, mas preferem praticar esportes e alguns falaram que não
tem muita importância para eles. Se por um lado as respostas mostraram o quanto
os alunos gostam de dançar e reconhecem a importância da dança nas aulas de
Educação Física e os benefícios que ela pode trazer ao nosso corpo, por outro há os
que precisam ser conscientizados da sua importância.
Para finalizar perguntou-se quais as dificuldades que eles encontram no
momento de dançar. Responderam que “encontram dificuldade em ritmos muito
rápidos, muita movimentação”. “É cansativo, trabalha muito com os músculos”. “Os
passos e movimentos às vezes são difíceis, bem como algumas coreografias”.
“Tenho dificuldade de memorizar os passos. Às vezes, os colegas começam a rir por
ter errado algum passo”. “Tenho dificuldade com o ritmo das músicas”. Apenas
alguns alunos responderam que não tem nenhuma dificuldade em dançar.
A partir das respostas pode-se perceber mais uma vez que a dança, quando
praticada na escola, ou mesmo em casa, possivelmente foi imposta, através de
coreografias e movimentos prontos nos quais o aluno não tem a oportunidade de
expressar seus movimentos, sentimentos, bem como despertar sua criatividade
através de uma proposta que privilegie tais aspectos.
Nesta fase a intenção foi de proporcionar um momento de diálogo inicial com
os alunos com o objetivo de investigar o conhecimento que os mesmos já possuíam
em relação ao conteúdo que foi ensinado.
Ainda neste processo de conhecimentos dos alunos, propomos uma vivência
rítmica com alongamentos, aquecimento e atividades ao ritmo da música,
explorando vários movimentos. Durante a realização desta atividade houve grande
participação. Ficaram um pouco agitados ao desenvolver atividade com música,
porém as expectativas em relação às atividades foram superadas de forma positiva.
Pode-se observar um bom relacionamento entre os alunos e com a professora.
Neste processo de diagnóstico da realidade, percebemos uma boa receptividade da
turma, acreditando assim, que as atividades futuras pudessem ser desenvolvidas
com qualidade.
Na sequência da implementação apresentamos aos alunos o Tema 2 –
Contextualizando a dança – fase definida como Problematização.
4.2 Contextualização da Dança
Neste momento foram abordados os principais problemas diagnosticados na
Prática Social Inicial do conteúdo, tais como: a presença da dança na escola apenas
como apresentações em datas específicas, a falta de vivências corporais deste
conteúdo nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental I e a forma
mecanizada com que a dança é trabalhada, através de passos repetitivos, difíceis de
serem memorizados com coreografias prontas sem significados para os mesmos.
Inicialmente foi realizada uma fala sobre Dança, utilizando alguns slides, fotos
e vídeos. Buscou-se a conceituação do termo Dança, pois através dos
questionários observou-se que os alunos têm uma definição sobre o assunto, porém
alguns ainda apresentam conceitos limitados sobre o mesmo. Neste sentido tornou-
se necessário reforçar conceitos já intrínsecos no cotidiano dos alunos, destacando
que a melhor forma de conceituar a dançar é sentindo-a ou dançando, haja vista que
a dança é uma forma de manifestação humana no mundo, assim é possível dizer
que ela é uma maneira de vivenciar a corporeidade, integrando o sensível e o
racional, o pensamento e a ação, no corpo que se expressa e comunica.
Posteriormente buscou-se instigá-los a pensar sobre os diversos tipos de
danças que eles conhecem, citando outros estilos, sempre buscando destacar a
cultura popular e as danças que estão relacionadas nas DCEs. Deu-se continuidade
abordando as questões referentes ao preconceito, discutindo questões de gênero,
questões relacionadas à inclusão, biotipo, etnia e nível de habilidade. Destacou-se
ainda, aspectos econômicos da prática da dança – observando que na escola a
dança é para todos! Buscou-se refletir como a dança esteve inserida ao longo dos
tempos, nas diversas atividades sociais e de cunho religioso. Finalizando a fala,
destacou-se a dança como arte, expressão do corpo, na qual podemos demonstrar
todos os nossos sentimentos sem utilizar palavras.
Ainda tendo como base as respostas dadas pelos alunos no questionário-
diagnóstico, foi organizada a atividade “Fala Sério ou Com Certeza” que teve como
objetivo principal promover a reflexão, o debate e uma visão diferenciada e mais
abrangente em relação ao conteúdo, através de uma forma descontraída,
favorecendo o diálogo entre educador e educandos.
Pode-se afirmar que esta atividade foi um sucesso, pois a sala toda participou
de forma entusiasmada e com bastante atenção às afirmações que vieram para
desmistificar alguns conceitos equivocados ou limitados sobre a dança. Algumas
destas questões foram descritas e utilizadas para confecção de um painel –
atividade que foi desenvolvida com os alunos.
Como atividade prática, sugeriu-se a vivência das Cantigas de Roda Mazu Mazu e
Escravos de Jó, na forma de dança circular. A cantiga Escravos de Jó foi vivenciada
com mais facilidade, pois a maioria dos alunos já conhecia a música. A cantiga Mazu
Mazu, foi uma novidade para os alunos, todos participaram, mesmo com um pouco
de timidez e certa resistência a princípio na execução dos movimentos.
Após problematizar o tema, iniciamos a fase da Instrumentalização,
denominada de Tema 3 – Conhecendo Danças.
4.3 Conhecendo Danças
Esta fase teve como objetivo ampliar o conhecimento dos alunos em relação
ao conteúdo proposto. Várias atividades teóricas e práticas foram desenvolvidas
para aquisição dos novos conhecimentos. Dentre elas exibição de um vídeo sobre a
“História da Dança” e estudos dos textos “Evolução Histórica da Dança” e “Tipos de
Dança”. Como atividade prática desenvolveu-se a “Dança das Cadeiras”. O objetivo
desta atividade foi trabalhar com várias informações sobre as danças folclóricas,
danças de salão, danças de rua e danças circulares. A atividade previa a não
exclusão dos alunos, ao ficarem sem a cadeira eles deviam ler algumas informações
sobre as danças e posteriormente voltar para a atividade. Estas informações foram
anexadas pelos alunos no painel em construção.
Os alunos fizeram as atividades com muito entusiasmo e euforia, tornando o
exercício bem proveitoso, porém ao final foi necessário realizar a atividade retirando
as cadeiras até chegar a um único vencedor. Isso demonstra que nossos alunos
ainda são bastante competitivos, sendo necessário fortalecer a cooperação entre os
mesmos. Durante o trabalho com os textos foi necessária uma atenção maior com
alguns alunos, pois os mesmos não demonstraram o mesmo interesse em relação
às demais atividades, dispersando-se com mais facilidade e apresentando algumas
dificuldades principalmente na leitura dos textos.
Durante o processo de instrumentalização, propôs-se aos alunos fazer uma
entrevista com seus pais, tios, avós, vizinhos ou algum membro da comunidade,
objetivando verificar quais eram as danças praticadas pelos membros da
comunidade, qual o significado da dança para eles e na atualidade se os mesmos
dançam e ou continuam dançando. Obtivemos quinze mães entrevistadas, sete pais
e uma avó. Os resultados da pesquisa foram os seguintes:
A primeira questão perguntava quais danças eram praticadas no seu tempo
de adolescência. Os entrevistados responderam que dançavam Quadrilha,
Sertanejo, Samba, Lambada, Discoteca, Pop, Pagode, Axé, Hip-Hop e
principalmente danças de salão, como: Vanerão, Valsa, Forró e Xote. Pode-se
perceber que os entrevistados representam um público bem diversificado, que
vivenciou variados estilos de dança.
Em seguida questionou-se se eles dançavam no espaço escolar ou em outros
locais. A maioria dos entrevistados respondeu que não dançavam na escola e sim
em outros locais, tais como, salões de baile e discotecas, festas, academias e até
mesma na fazenda onde moravam. Alguns citaram que dançavam na escola apenas
nas Festas Juninas. Apenas um citou que não dançava. Estas respostas
demonstram que a dança esteve pouco presente nos espaços escolares dos
entrevistados, no entanto presente na cultura dos mesmos.
Dando continuidade, perguntou-se qual era o significado da dança para eles.
As respostas foram bem variadas. A maioria respondeu que dançar é “movimentar o
corpo, divertir-se com os amigos, alegria, disposição, lazer, terapia, prazer, festa e
distração. Dançar é arte, é um momento mágico, é colaborar com o outro”.
Posteriormente indagou-se como era a participação das pessoas nos
momentos de dançar. “Participação positiva, em comunidade, dançando juntos, em
grupos, separados ou com um par. Muitos dançavam bem e ensinavam alguns
passos aos outros de uma forma bem respeitosa. As pessoas ficavam unidas, os
casais participavam bastante e divertiam-se dançando”. Confirmou-se o que muitos
autores citam: que a dança está presente na cultura dos povos e comunidades e
continua perpetuando-se como forma de interação social.
Finalizando a entrevista questionou-se como eles praticam a dança nos dias
de hoje. Infelizmente a maioria citou que já não praticam dança atualmente. Uma
minoria respondeu que “faz aulas de dança nos clubes, dançam em alguns eventos,
como bailes e festas, ou em casa. ” Observou-se que com o passar do tempo as
pessoas deixam de dançar, mesmo tendo consciência do bem-estar que ela
proporciona.
Após a pesquisa realizada, pautando-se nas informações presentes nas
entrevistas, promoveu-se um debate com a intensão de abordar e discutir assuntos
referentes às principais danças praticadas pelos adolescentes nos dias atuais, como
estas danças poderiam estar inseridas no contexto escolar e como estas seriam
capazes de transpor os muros da escola e estender-se a comunidade, favorecendo
a integração entre os estudantes e demais membros da comunidade. Estas
reflexões entre professor/alunos serviram não apenas para o enriquecimento das
aulas de dança, mas também para reflexões sobre a cultura e o dia-a-dia dos
próprios alunos.
Dando sequência na Instrumentalização e com base na informação da
pesquisa junto aos familiares, visto que se observou que grande parte dos
entrevistados citaram as danças de salão, realizou-se a vivência de uma coreografia
de estilo forró, com a música “QUI NEM JILÓ” de Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira. Esta atividade teve por objetivo uma maior integração – socialização entre
meninos e meninas, já que os mesmos formaram duplas para a execução da
coreografia. Todos os alunos participaram, porém alguns demonstraram certa
resistência justamente no momento de dançar juntos, em pares. Foi o momento de
abordar questões conflitantes, principalmente aquelas relacionadas a gênero,
discutindo assim as relações entre meninos e meninas, pois no momento da prática,
nesta atividade na qual o contato corporal foi mais intensificado, estas questões
afloraram, gerando assim conflitos e discussões.
Para o conhecimento teórico dos alunos apresentamos um texto denominado
Elementos Estruturantes da Dança: Fatores de Movimento – Tempo e Ritmo,
Espaço, Peso e Fluência. Realizou-se a leitura deste texto, no qual cada tópico foi
discutido, citando exemplos práticos para um melhor entendimento dos alunos.
Finalizando a fase de Instrumentalização, realizaram-se algumas vivências
rítmicas com o intuito de oportunizar aos alunos o contato através da prática com os
elementos estruturantes da dança: Tempo, Espaço, Peso e Fluência. Estas
atividades foram abordadas de forma lúdica, utilizando os jogos rítmicos como
instrumentos de aprendizagem, fornecendo assim subsídios aos alunos que
posteriormente pudessem criar suas próprias coreografias de dança de acordo com
suas preferências, tornando assim as aulas mais produtivas e prazerosas.
Buscou-se diversificar os espaços das atividades proporcionando
possibilidades de variação quanto ao espaço, acústica entre outros fatores
presentes durante as aulas. Utilizou-se a quadra de esportes, pátio, auditório e
saguão da escola. Realizaram-se atividades com a utilização de objetos/acessórios
e pudemos perceber que o estímulo em realizar a atividade aumentou.
Algumas atividades em grupos apresentaram destaque durante as aulas, tais
como as atividades: Construindo Esculturas, Coreografia com a música “País do
Futebol” – Mc Guimé, e Coreografia seguindo o ritmo da música – Barbatuques, com
exploração de formas corporais como ondas, giros e circundações. Destacando que
estas pequenas coreografias foram desenvolvidas e elaboradas pelos alunos
durante a aula e apresentada aos demais colegas.
Realizaram-se fotografias dos alunos durante as atividades sendo estas
posteriormente analisadas quanto ao posicionamento de cada um, a diversidade de
formas, o conjunto da obra, fazendo questionamentos do que poderiam estar
melhorando, aguçando assim criatividade dos alunos. Estas fotos foram utilizadas
também para confecção do painel.
Alcançamos a última etapa da implementação – a Catarse, definida como
Tema 4 – Produzindo Danças.
4.4. Produzindo Danças
A Catarse é o momento para que o professor identifique se os alunos
conseguem reelaborar o conhecimento que já possuíam e qual a interferência das
estratégias de ensino utilizadas nessa reelaboração, buscando averiguar se estas
foram significativas e propiciaram uma melhor compreensão sobre o assunto.
Iniciamos esta fase orientando os alunos na elaboração de suas próprias
coreografias. Utilizamos o texto “Posturas Corporais e a formação de grupos”, o qual
foi apresentado aos alunos no ginásio de esportes com demonstrações práticas das
possibilidades na formação de grupos para o desenvolvimento de uma coreografia.
Posteriormente trabalhamos com um roteiro para que os alunos pudessem criar
suas próprias coreografias. Este roteiro teve como objetivo principal definir qual
mensagem a coreografia deveria transmitir, eleger o tema que iria nortear as
coreografias, escolher as músicas que seriam utilizadas nas danças e delimitar o
número de participantes em cada coreografia. É importante destacar que todos os
alunos participaram das coreografias, definiram seus grupos e após a seleção de
algumas músicas, defiram uma para cada grupo. Em seguida foi elaborado um
cronograma de ensaios – durante as aulas de Educação Física – no qual os grupos
iniciaram a montagem das coreografias, utilizando suas próprias experiências,
sempre com a supervisão de professora. Nesta fase conseguiu-se perceber alguns
conflitos entre os alunos, principalmente no momento da escolha dos passos
básicos, nas formações grupais e suas variações e na movimentação dos membros
do grupo nos diferentes níveis. Foram orientados então, para que as decisões
fossem tomadas em grupo e que as sugestões dos colegas fossem ouvidas e
analisadas antes de decidir utilizá-las ou não.
Neste momento tivemos a oportunidade de discutir e refletir com os alunos
um pouco mais sobre aspectos referentes aos valores de homens e mulheres,
enquanto indivíduos que vivem e convivem juntos na sociedade. Bem como respeito
ao próximo e as diferenças, permitindo assim um melhor relacionamento entre os
alunos, favorecendo então o desenvolvimento das atividades em grupos.
Após alguns ensaios das coreografias, foram realizadas as apresentações.
As coreografias possibilitaram os alunos demonstrar toda expressividade,
criatividade, improvisação e trabalho em grupo, bem como suas habilidades
motoras, ritmo e empenho nas execuções das coreografias. Este momento
possibilitou e estimulou os alunos a vivenciarem em conjunto novas práticas
corporais em Educação Física, proporcionando aos mesmos mostrar o que tinham
aprendido a fazer com seu corpo, assim como tiveram condições de enfrentar e
superar seus medos, preconceitos, além de adquirirem confiança para se
comunicarem livremente com sensibilidade, criatividade e imaginação.
4.5 Avaliando o Processo
Para avaliar o aluno durante todo o processo utilizou-se as informações
descritas no diário de campo. O propósito deste diário foi informar o professor e os
alunos sobre a aprendizagem, além de localizar algumas dificuldades que surgiram
durante o processo, refletindo sobre as transformações da realidade que as ações
produziram, realizando assim uma análise de suas compreensões.
Para avaliar as atividades práticas realizadas durante todo o processo foi
necessário um trabalho contínuo de observação do aluno, no individual e no coletivo,
sempre considerando a individualidade de cada um, comparando seu resultado
consigo próprio e não em relação aos outros. As avaliações práticas aconteceram
durante todo o processo de implementação, através das vivências rítmicas, ensaios
de coreografias e apresentações finais.
Outra forma de avaliação foi a elaboração de um painel com algumas
atividades realizadas, utilizando informações importantes sobre a Dança e os passos
utilizados durante a implementação – tendo como base os textos utilizados durante
as aulas – assim como projeções, figuras e algumas fotos dos alunos. Os alunos
demonstraram grande satisfação durante a realização desta atividade, pois puderam
visualizar o trabalho realizado após várias etapas.
O resultado dessa avaliação demonstrou que os objetivos propostos no MDP
foram atingidos na medida em que foram proporcionadas ações pedagógicas que
despertaram nos alunos o interesse em dançar, disseminando o conhecimento de
diferentes tipos de dança. Conseguiu-se também aprimorar a expressão corporal e a
criatividade dos alunos com autonomia e sensibilidade, através de aulas dinâmicas e
práticas, oportunizando a integração do grupo, permitindo aos alunos um melhor
relacionamento, respaldando assim o sucesso das atividades.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaborou-se do material didático-pedagógico com base nos passos
sugeridos pela Pedagogia Histórico-Crítica abordando, o conteúdo Dança,
possibilitou a observação da necessidade de se repensar sobre as práticas
pedagógicas desenvolvidas nas aulas de Educação Física no momento de se
abordar um conteúdo.
A implementação do material didático-pedagógico, estimulou a expressão dos
educandos, por meio da dança, reconhecendo-a como uma manifestação cultural
que possibilita a descoberta de movimentação do corpo, através de experiências e
vivências, oportunizando a liberdade no momento de criar novas formas
coreográficas, com diferentes temas e ritmos. Verificou-se que as atividades
propostas possibilitaram a ruptura dos padrões socialmente construídos em relação
aos movimentos pré-estabelecidos por conteúdos específicos, porém sem
significado aos alunos. Ao término da implementação, foi possível observar que os
alunos estão mais acessíveis a novas aprendizagens, que os levam a refletir sobre
outras possibilidades que podem ter no cotidiano escolar e nas suas vidas, além das
que já conhecem.
Pode-se afirmar que algumas atividades foram um sucesso, pois a sala toda
participou de forma entusiasmada e eufórica tornando as atividades bem
proveitosas. Observou-se também, que durante a realização das atividades de um
modo geral, houve grande participação dos alunos com um bom relacionamento
entre eles e a professora.
Diversas atividades foram abordadas de forma lúdica, com a utilização de
jogos rítmicos como instrumento de aprendizagem, fornecendo assim subsídios aos
alunos para que posteriormente pudessem criar suas próprias coreografias de dança
de acordo com suas preferências, tornando as aulas mais produtivas e prazerosas.
Em vários momentos os alunos foram os protagonistas da aula,
principalmente em atividades de grupos, nas quais criaram pequenas coreografias
durante as aulas e apresentaram posteriormente aos demais colegas. Pode-se
perceber que o estímulo em realizar a atividade aumentou com a utilização de
alguns objetos e acessórios.
Fotografias produzidas dos alunos durante as atividades foram
posteriormente analisadas; quanto ao posicionamento de cada um, a diversidade de
formas, o conjunto da obra, fazendo questionamentos do que poderiam melhorar,
aguçando assim a criatividade dos alunos.
No momento da elaboração de um painel com algumas atividades realizadas,
os alunos demonstraram grande interesse e satisfação, pois puderam visualizar o
trabalho realizado após várias etapas. Nesta perspectiva, pode-se considerar a
necessidade de diversificar as atividades voltadas a Cultura Corporal, valorizando o
trabalho dos alunos, enfatizando aspectos de sensibilidade, cooperação, emoções,
superação de limites e maior integração, tanto consigo mesmo, quanto em relação
aos colegas.
Durante boa parte da implementação, visualizou-se a possibilidade de
retomada do conteúdo com outra perspectiva, reconhecendo assim a importância
dos conhecimentos tratados, bem como a metodologia utilizada pelo professor nas
suas ações pedagógicas. A partir destas considerações, entende-se que a dança faz
parte dos conteúdos da Educação Física, e a dança criativa é uma das
possibilidades no trato desse conhecimento que pode ser trabalhado de forma
sistematizada, a partir da Pedagogia Histórico-Critica, enfocando a pluralidade
cultural que permeia os diferentes ritmos, para contextualizar e dar significados aos
movimentos propostos para cada um deles.
Assim como houve várias possibilidades na implementação das atividades,
também apresentou-se algumas dificuldades que foram sanadas ajudando os alunos
a enfrentarem seus temores e adquirirem confiança para se comunicarem livremente
com sensibilidade e imaginação.
As principais dificuldades diagnosticadas na Prática Social Inicial foram: a
presença da dança na escola apenas como apresentações em datas específicas, a
falta de vivências corporais deste conteúdo nas aulas de Educação Física no Ensino
Fundamental I e a forma mecanizada com que a dança é trabalhada, através de
passos repetitivos, difíceis de serem memorizados com coreografias prontas sem
significados para os mesmos.
Em algumas atividades com música, os alunos ficaram bastante agitados,
dificultando um pouco o trabalho, porém as expectativas em relação às atividades
foram superadas de forma positiva.
As atividades desconhecida pelos alunos, como por exemplo, as cantigas de
roda, embora todos tenham participado, inicialmente apresentaram um pouco mais
de timidez e certa resistência na execução dos movimentos.
Percebeu-se durante a atividade “Dança das Cadeiras”, que nossos alunos
ainda são bastante competitivos, sendo necessário fortalecer a cooperação entre os
mesmos.
Durante o trabalho com os textos foi necessária uma atenção maior com
alguns alunos, pois os mesmos não demonstraram o mesmo interesse em relação
às demais atividades, dispersando-se com mais facilidade e apresentando algumas
dificuldades principalmente na leitura dos textos.
Com atividades em duplas (meninos e meninas), observou-se certa
resistência, justamente no momento de dançar juntos em pares. Neste momento
tivemos a oportunidade de discutir e refletir sobre aspectos referentes aos valores de
homens e mulheres enquanto indivíduos que vivem e convivem juntos na sociedade,
respeito ao próximo e as diferenças, permitindo assim um melhor relacionamento
entre os alunos, favorecendo então o desenvolvimento das atividades em pares.
No momento da elaboração das coreografias, perceberam-se alguns conflitos
entre os alunos, principalmente no momento da escolha dos passos básicos, nas
formações grupais e suas variações e na movimentação dos membros do grupo nos
diferentes níveis. Orientou-se então, para que as decisões fossem tomadas em
grupo e que as sugestões dos colegas fossem ouvidas e analisadas antes de decidir
utilizá-las ou não.
Diante dos resultados conclui-se que a Educação Física enquanto disciplina
que trata da Cultura Corporal por meio da dança, deve garantir aos alunos o acesso
ao conhecimento dessas manifestações de forma contextualizada e reflexiva,
levando o aluno a perceber-se como um sujeito histórico, social e político.
Para isso, o professor precisa ousar e propor novos conteúdos e novas
metodologias sempre bem planejados e sempre amparados por referenciais
teóricos. Conseguindo isso, propicia-se que os alunos tenham consciência de seu
próprio potencial criativo e do potencial de seus colegas; que eles aprendam a
respeitar-se, aí então teremos conseguido um êxito considerável na nossa missão
educativa. Este êxito é o que justifica desenvolver a educação através da dança.
Enfim, esperamos com este estudo contribuir para uma reflexão sobre a
manifestação cultural dança e a possibilidade do trato desse conhecimento nas
aulas de Educação Física. Ressaltamos ainda a importância de novas pesquisas na
área, para ampliar os referenciais teóricos acerca da dança no contexto escolar.
REFERÊNCIAS
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