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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O TEXTO DE JORNAL NAS AULAS DE MATEMÁTICA NO ENSINO
FUNDAMENTAL
Carla Aparecida Melo Scheer1 Neila Tonin Agranionih2
RESUMO O presente artigo relata e discute os resultados alcançados em relação à proposta de inserção dos textos de jornal nas aulas de matemática como recurso para o trabalho com a resolução de problemas numa abordagem contextualizada apresentada na Unidade Didática: “O texto de jornal nas aulas de Matemática no Ensino Fundamental”. A intervenção pedagógica compreendeu a aplicação de roteiros de atividades explorando conteúdos matemáticos presentes em diferentes reportagens com o objetivo de promover a leitura e interpretação dos textos e dos dados numéricos nelas presentes. A utilização dos textos de jornal nas aulas de matemática possibilita trazer a atualidade para as aulas de matemática permitindo desenvolver uma série de conteúdos. Aproxima e analisa a realidade dos alunos explorando os conceitos matemáticos de forma contextualizada e desenvolvendo a interpretação de textos e dados matemáticos. Palavras-chave: Resolução de problemas. O jornal na sala de aula. Interpretação de textos matemáticos.
1 INTRODUÇÃO
É frequente a preocupação com o processo ensino-aprendizagem de
Matemática. É inegável a sua importância, pois a Matemática possibilita resolver
problemas do cotidiano e é instrumento indispensável na construção do
conhecimento nas mais diversas áreas, contribuindo para a formação de
capacidades intelectuais, estruturação do pensamento e desenvolvimento do
raciocínio lógico. Ao mesmo tempo, sabe-se da insatisfação diante dos resultados
negativos obtidos em relação à sua aprendizagem.
Muitos alunos não conseguem identificar os conhecimentos matemáticos
como meios que os ajudam a compreender e a atuar no mundo. Um dos entraves é
a resolução de problemas. A dificuldade de interpretação de textos tem sido
1 Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná
2 Professora do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná
colocada como um dos fatores que contribuem para a dificuldade de resolução de
problemas matemáticos.
Nas aulas de Matemática freqüentemente desenvolve-se apenas cálculos, de
forma descontextualizada e a leitura e a escrita de situações que envolvem
matemática são pouco exploradas. Diante disso a presença da leitura e da escrita
nas aulas de Matemática pode contribuir para a superação destas dificuldades.
Temos como objetivo nesse texto evidenciar os pontos altos do trabalho
realizado na aplicação da Unidade Didática: O texto de jornal nas aulas de
Matemática no Ensino Fundamental, as dificuldades encontradas no processo e as
possibilidades de trabalhar com conteúdos matemáticos a partir de textos de jornal.
Buscamos, também, investigar se a utilização de textos de jornal nas aulas de
matemática contribui para a superação desta problemática.
Inicialmente revisamos aspectos teóricos que fundamentam o trabalho com
textos de jornais na sala de aula, focalizando a importância da interface entre leitura
e interpretação de textos, ensino de matemática e resolução de problemas. A seguir
apresentamos o modo como o trabalho foi desenvolvido, apresentando as atividades
desenvolvidas, e em especial a atividade relativa à reportagem “Jovens saem da
casa dos pais cada vez mais tarde”.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Geralmente os professores referem que as dificuldades que seus alunos
apresentam na leitura e interpretação de situações-problemas em Matemática estão
ligadas às dificuldades com a língua materna. Entendemos que elas também estão
ligadas à falta de trabalho com o texto, nas aulas de Matemática. Conforme Smole
( 2001, p.29):
Organizar o trabalho em matemática de modo a garantir a aproximação dessa área do conhecimento e da língua materna, além de ser uma proposta interdisciplinar, favorece a valorização de diferentes habilidades que compõem a realidade complexa de qualquer sala de aula.
Realizar atividades com textos nas aulas de Matemática envolve o desafio de
relacionar as palavras e os símbolos matemáticos. A leitura do texto matemático
exige que se identifiquem as informações matemáticas necessárias na resolução de
situações problemas propostas.
Ler e escrever constitui instrumento essencial para a formação da autonomia,
que é essencial para aprender qualquer conceito, em qualquer tempo, nas diferentes
áreas. É imprescindível a leitura e a escrita para a aprendizagem em qualquer
disciplina, inclusive em Matemática.
A Matemática, apesar de essencialmente formal e precisa, se utiliza do
conhecimento da língua materna para desenvolver seus conceitos, numa relação de
reciprocidade, como sugere Machado ( 1993, p.10):
Entre a Matemática e a Língua Materna existe uma relação de impregnação mútua. Ao considerarem-se estes dois temas enquanto componentes curriculares tal impregnação se revela através de um paralelismo nas funções que desempenham, uma complementaridade nas metas que perseguem, uma imbricação nas questões básicas relativas ao ensino de ambas. É necessário reconhecer-se a essencialidade dessa impregnação e tê-la como fundamento para a proposição de ações que visem à superação das dificuldades com o ensino de Matemática.
É necessário conceber a Matemática como uma disciplina que se aproxima
da língua materna, principalmente na leitura, escrita e interpretação. Compreender
um texto requer o estabelecimento de relações entre diferentes ideias e
informações, como descrevem Smole e Diniz (2001, p. 82):
A leitura em matemática também requer a leitura de outros textos com grande quantidade de informações numéricas e gráficas. Eles podem ser encontrados em uma notícia ou anúncio publicados em jornais e revistas. Nesses casos, a leitura pode ser enfatizada quando propomos vários questionamentos que requerem várias idas até o texto para a seleção de informações que respondem às perguntas feitas. Esse tipo de atividade pode abranger o desenvolvimento de noções, conceitos e habilidades de matemática e do tratamento de informações.
O desenvolvimento da leitura acontece em diferentes situações de
comunicação e também na resolução de situações-problema matemáticos, pois na
problematização de situações, conceitos matemáticos são compreendidos e
construídos. A resolução de problemas aprimora as capacidades de leitura,
interpretação e comunicação.
É essencial que os professores concebam a Matemática como uma disciplina
de investigação, onde a resolução de problemas, a curiosidade e o desafio sejam as
molas propulsoras do processo de aprendizagem.
Ao tentar resolver uma situação problema o aluno precisa desenvolver
estratégias e explorar conhecimentos, dando significado ao conteúdo matemático,
desenvolvendo a criatividade e a autoconfiança, tornando a aprendizagem mais
significativa, ou seja, como descrevem Onuchic e Allevato (2004, p.223): “Resolucão
de Problemas coloca o foco da atenção dos alunos sobre ideias e sobre o dar
sentido. Ao resolver problemas os alunos necessitam refletir sobre as ideias que
estão inerentes e/ou ligadas ao problema”.
A resolução de problemas promove uma compreensão maior da situação, não
basta aplicar uma fórmula, fazer uma conta ou assinalar a resposta correta, é
preciso ir além, considerar dados, imaginar uma solução e verificar sua coerência,
isso acontece também na compreensão de um texto.
A utilização do jornal nas aulas de Matemática permite ao aluno fazer
inferências sobre o que lê em um processo em que o conhecimento se dá como
conseqüência da investigação e resolução de problemas, como descreve Stancanlli
(2001, p.111):
É importante, ainda ressaltar que a necessidade de entender uma situação, de considerar os dados fornecidos, de colecionar dados adicionais, de descartar dados irrelevantes, de analisar e obter conclusões a partir dos dados, de imaginar um plano para a resolução e, finalmente, de resolver e verificar a coerência da solução são procedimentos comuns tanto no entendimento de diferentes tipos de texto quanto nos problemas de matemática.
O jornal veicula uma diversidade de ideias e informações, estimulando a
reflexão e a discussão, desenvolvendo uma percepção maior da realidade e
promovendo o exercício da cidadania, como reforça Faria (2013, p.11):
A escola, como toda instituição, é um estabelecimento relativamente fechado e nela os alunos recebem (ou deveriam receber) instrução e formação. Dado o anacronismo, em parte inevitável, de sua estrutura e dos programas, os alunos ficam ali isolados da sociedade que evolui à sua volta. Um dos principais papéis do professor seria, pois, o de estabelecer laços entre a escola e a sociedade. Ora, levar jornais/revistas para a sala de aula é trazer o mundo para dentro da escola.
O jornal em sala de aula promove a cidadania, propicia a integração de
pessoas e ideias, promove a troca, o diálogo e o respeito às diferentes opiniões.
Trabalhar com o jornal em sala de aula é colaborar na formação de um cidadão
crítico, é proporcionar as ferramentas para a sua atuação consciente em sociedade,
através de um material acessível e atualizado.
O texto de jornal, além de desenvolver a leitura e a compreensão textual,
permite explorar uma infinidade de conceitos matemáticos. As atividades com os
textos jornalísticos promovem a atualização e a contextualização do conteúdo
matemático, integrando e aproximando o conhecimento formal do dia-a-dia das
pessoas, como sugerem Smole e Diniz (2001, p.82):
Além da atualidade que esses materiais trazem para as aulas de matemática, eles propiciam uma abordagem de Resolução de Problemas mais contextualizada, já que os jornais e as revistas apresentam temas abrangentes, que não se esgotam em uma única área do conhecimento.
O uso do jornal nas aulas de Matemática aproxima o conteúdo da realidade
do aluno, levando-o perceber que a matemática está presente em seu dia-a-dia, pois
o jornal faz parte de sua vida como fonte de informação. Contribui no
desenvolvimento do processo de aprendizagem dos conteúdos matemáticos,
através de atividades dinâmicas e interessantes, que permitem a
interdisciplinaridade e a contextualização do conteúdo. Proporciona a aproximação
entre o conteúdo e o aluno, pode tornar as aulas mais dinâmicas e os conteúdos
mais interessantes. Contribui para desenvolver a percepção global da realidade.
O jornal, enquanto meio de comunicação, inclui os mais variados temas de
interesse das pessoas, contribuindo para a formação geral do aluno com vistas à
conquista da cidadania.
3 TEXTOS DE JORNAL NA SALA DE AULA
A intervenção pedagógica referente à Unidade Didática: “O texto de jornal nas
aulas de matemática no Ensino Fundamental” se deu a partir da realização de seis
atividades das oito planejadas inicialmente. Foram realizadas com uma turma de 8º
ano do Colégio Estadual Prof. Júlio Mesquita envolvendo 35 alunos, no 1º semestre
de 2014.
A primeira ação aconteceu no mês de fevereiro e envolveu a socialização do
projeto de intervenção, com direção, equipe pedagógica, professores e alunos com
vistas a expor os objetivos da proposta de inserção dos textos de jornal nas aulas de
matemática como um importante recurso para o trabalho com a resolução de
problemas numa abordagem contextualizada. O projeto foi bem aceito por todos; os
professores reforçaram os benefícios e a necessidade de um trabalho com a
interpretação de textos e os alunos demonstraram entusiasmo e curiosidade com a
novidade.
As próximas ações da implementação da Unidade Didática consistiram em
aplicar as atividades da produção didático-pedagógica. A aplicação das atividades
se deu nos meses de março, abril e maio, sendo aplicadas duas atividades em cada
um dos meses citados. No mês de junho foi realizada a avaliação com os alunos a
partir da aplicação de um questionário respondido individualmente.
Na realização das atividades, foram utilizados exemplares originais do jornal
nos encaminhamentos iniciais, e na sequência das atividades foram disponibilizadas
aos alunos cópias impressas das reportagens obtidas no site do jornal Gazeta do
Povo (www.gazetadopovo.com.br). As atividades realizadas estão descritas no
Quadro1.
Quadro 1 – Atividades realizadas na intervenção pedagógica
Atividade 1
FAMILIARIZANDO-SE COM O JORNAL Esta atividade proporciona um primeiro contato com o jornal,
possibilitando aos alunos observar as características dos textos que o
compõe, e as semelhanças e diferenças entre os vários exemplares.
Atividade 2 “NO FLEX, ETANOL RENDE 32% MENOS QUE A GASOLINA”
A atividade foi elaborada a partir de uma reportagem veiculada
pelo Jornal Gazeta do Povo, em 14 de abril de 2013, com o título “No flex,
etanol rende 32% menos que a gasolina” de Fernando Jasper. A
reportagem examina as variáveis envolvidas na escolha do combustível no
momento de abastecer um carro flex, demonstrando como fazer o cálculo
para descobrir o combustível mais econômico em cada situação.
Atividade 3
“O BRASIL ENVELHECE A OLHOS VISTOS” A atividade foi elaborada a partir de uma reportagem veiculada pelo
Jornal Gazeta do Povo, em 20 de outubro de 2013, com o título “O Brasil
envelhece a olhos vistos” de Caroline Olinda. A reportagem enfoca o
envelhecimento da população brasileira, as conseqüências e os impactos
futuros dessa mudança no perfil populacional brasileiro.
Atividade 4
“JOVENS SAEM DA CASA DOS PAIS CADA VEZ MAIS TARDE”
A atividade foi elaborada a partir de uma reportagem veiculada pelo
Jornal Gazeta do Povo, em 30 de novembro de 2013, com o título “Jovens
saem da casa dos pais cada vez mais tarde” da Redação, com agências. A
reportagem descreve o estudo divulgado pelo IBGE em relação ao perfil da
população jovem do Brasil, envolve questões como educação, trabalho e
moradia.
Atividade 5
“BRASIL MELHORA EM MATEMÁTICA, MAS SEGUE ENTRE OS PIORES DO PISA”
A atividade foi elaborada a partir de uma reportagem veiculada pelo
Jornal Gazeta do Povo, em 04 de dezembro de 2013, com o título “Brasil
melhora em matemática, mas segue entre os piores do Pisa” de Rosana
Félix. A reportagem relata o desempenho brasileiro no Pisa, principal
avaliação internacional do ensino básico, em Matemática, Ciências e
Leitura.
Atividade 6
“UM QUARTO DOS ALUNOS TEM EXCESSO DE PESO NO PARANÁ” A atividade foi elaborada a partir de uma reportagem veiculada
pelo Jornal Gazeta do Povo, em 03 de dezembro de 2013, com o título “Um
quarto dos alunos tem excesso de peso no Paraná” de Antoniele Luciano,
correspondente. A reportagem divulga os resultados da pesquisa Paraná
Saudável, da Secretaria de Estado de Esportes e Turismo, que revela que
22,8% dos estudantes do estado estão com excesso de peso.
As atividades 1 (“Familiarizando-se com o Jornal”) e 5 (“Brasil melhora em
matemática, mas segue entre os piores do Pisa) foram realizadas individualmente.
As atividades 2 (“No flex, etanol rende 32% menos que a gasolina”), 3 (“O Brasil
envelhece a olhos vistos”), 4 (“Jovens saem da casa dos pais cada vez mais tarde”)
e 6 (“Um quarto dos alunos tem excesso de peso no Paraná”) foram realizadas em
duplas.
Na atividade inicial, “Familiarizando-se com o Jornal”, foi possível perceber
que alunos não tinham o hábito de ler jornais. Alguns disseram que os pais tinham
esse hábito, mas que eles não liam jornais. No desenvolvimento da atividade os
alunos curiosamente começaram a identificar a “matemática” presente no texto,
mesmo sem isto ter sido solicitado.
A maioria das reportagens despertou o interesse dos alunos, e ao mesmo
tempo, evidenciou dificuldades na interpretação e utilização dos dados matemáticos.
Alguns assuntos geraram discussões e debates maiores enquanto em outros as
dificuldades de interpretação exigiram maior tempo para realização das atividades e
mais intervenções por parte do professor.
A segunda atividade (“No flex, etanol rende 32% menos que a gasolina”),
despertou bastante interesse dos alunos devido ao tema da reportagem. Com
relação ao conteúdo matemático, a questão que envolvia cálculo de porcentagem
necessitou explicações e retomadas, pois os alunos apresentaram dificuldades na
resolução.
A terceira reportagem (“O Brasil envelhece a olhos vistos”), inicialmente não
despertou o mesmo interesse do tema anterior, mas, com o desenvolvimento das
atividades, muitas reflexões e questionamentos foram surgindo, motivando e
envolvendo os alunos. A temática da reportagem possibilitou perceber o
distanciamento entre as gerações e suas realidades. Muitos alunos, por exemplo,
desconheciam questões básicas relacionadas à aposentadoria e a previdência. As
relações de comparações entre valores solicitadas em algumas questões
representaram dificuldades de compreensão para boa parte deles. Análises mais
específicas dos gráficos, também geraram dificuldades, tornando necessário intervir
na realização de algumas questões.
Na quarta atividade (“Jovens saem da casa dos pais cada vez mais tarde”), a
reportagem utilizada despertou maior interesse que a atividade anterior, mas ao
mesmo tempo evidenciou maiores dificuldades de interpretação e utilização dos
dados matemáticos. As atividades que envolviam representações gráficas revelaram
dificuldades dos alunos que com certeza demandam um trabalho posterior mais
aprofundado. Novamente as questões envolvendo porcentagem necessitaram
intervenções. O fato de o texto ser mais curto que na atividade anterior facilitou a
resolução das atividades e as discussões.
A quinta atividade (“Brasil melhora em matemática, mas segue entre os piores
do Pisa”), despertou bastante interesse entre os alunos, o assunto gerou discussões
e debates. O texto não provocou dificuldades de interpretação e o trabalho com os
dados matemáticos transcorreu sem maiores dificuldades, evidenciando uma
possível familiaridade com o trabalho com os textos de jornal. O tema provocou
debates sobre a importância da educação e as diferenças entre os resultados dos
países e as possíveis causas dessa disparidade.
A sexta atividade (“Um quarto dos alunos tem excesso de peso no Paraná”)
deixou evidente a familiaridade dos alunos com o trabalho com o texto de jornal,
foram necessárias poucas explicações iniciais e intervenções. As dificuldades
iniciais com a porcentagem diminuíram e o trabalho com as representações gráficas
aconteceu com mais facilidade. O tema despertou o interesse dos alunos e o
envolvimento da turma com a atividade foi significativo. As dificuldades de
interpretação do texto praticamente não existiram.
De modo geral, as atividades que envolviam porcentagem necessitaram
explicações e retomadas, pois os alunos apresentaram dificuldades na resolução;
análises mais específicas dos gráficos geraram um pouco de dificuldade, e foi
necessário intervir na realização de algumas questões. Com o desenvolvimento
das atividades as dificuldades foram diminuindo, evidenciando uma possível
familiaridade com o trabalho com os textos de jornal.
A seguir apresentamos com maior detalhamento o desenvolvimento da
atividade 4: “JOVENS SAEM DA CASA DOS PAIS CADA VEZ MAIS TARDE” . A
reportagem descreve o estudo divulgado pelo IBGE em relação ao perfil da
população jovem do Brasil, envolve questões como educação, trabalho e moradia.
A reportagem encontra-se disponível no site do jornal Gazeta do Povo
(www.gazetadopovo.com.br) em link que disponibiliza as edições anteriores, é só
digitar a data e procurar pelo título da reportagem.
O acesso também pode ser feito direto pelo endereço a seguir:
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1429521&t
it=Jovens-saem-da-casa-dos-pais-cada-vez-mais-tarde (Acesso em: 02/12/2013)
A atividade teve como objetivos possibilitar aos alunos: - compreender as
informações matemáticas apresentadas no texto e nos gráficos; - identificar e utilizar
os valores presentes no texto e nos gráficos nos cálculos solicitados; - realizar os
cálculos de porcentagem e com as operações fundamentais nas atividades
solicitadas; - representar graficamente os valores apresentados, e, envolveu os
seguintes conteúdos: operações fundamentais, porcentagem, tratamento da
informação.
Inicialmente solicitamos aos alunos para fazerem a leitura do texto. Em
seguida para que verbalizassem suas impressões a respeito solicitando a
participação de todos para identificar o quanto conheciam e compreendiam o tema.
Após esta etapa inicial foi proposto um diálogo envolvendo algumas questões.
Nessa etapa inicial as questões propostas possibilitaram perceber o grau de
entendimento do texto por parte dos alunos e o nível de compreensão em relação ao
tema proposto.
As respostas a estas questões mostraram que a maioria dos alunos imagina
estar trabalhando ou cursando uma universidade quando estiverem na faixa etária
citada na reportagem. Evidenciaram a possibilidade de conquistar diferentes
objetivos nessa fase da vida, como por exemplo: ter um emprego, um carro, casa
própria, cursar pós-graduação, ter uma família, ter mais liberdade para viver a vida.
Em relação aos planos para o futuro, a maioria citou a intenção de estudar para ter
um bom emprego, dar uma boa educação para os filhos, fazer intercâmbio.
Ao serem questionados sobre o porquê que os jovens estão demorando cada
vez mais para sair da casa dos pais, várias foram as causas citadas. Por exemplo:
“... por causa do despreparo dos jovens em sua preparação para o futuro”; “...
preguiça de trabalhar, medo de responsabilidade”; “... porque na casa dos pais tem
tudo e lá não precisa trabalhar”; “... porque não estudam e não trabalham por isso
não tem dinheiro para arrumar casa”.
Em relação ao número grande de jovens que não estudam e nem trabalham,
alguns atribuíram à falta de interesse dos jovens, outros ao excesso de apoio das
famílias, outros à falta de oportunidades. As consequências disso são, na opinião
dos alunos a dependência das famílias e o despreparo para o mercado de trabalho.
Essas questões permitiram entender o conhecimento dos alunos em relação
ao tema, possibilitaram explorar as diferentes interpretações e opiniões sobre a
reportagem, geraram discussões e com certeza esclarecimentos sobre o assunto,
requisitos essenciais para o desenvolvimento das atividades envolvendo os
conteúdos matemáticos. Os textos de jornal nas aulas de Matemática possibilitam a
discussão de questões sociais e políticas, temas atuais próximos da realidade dos
alunos, contextualizando os conteúdos e contribuindo na formação da cidadania,
como alertam os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p.27).
Também é importante salientar que a compreensão e a tomada de decisões diante de questões políticas e sociais dependem da leitura crítica e interpretação de informações complexas, muitas vezes contraditórias, que incluem dados estatísticos e índices divulgados pelos meios de comunicação.
A matemática está no dia-a-dia, explorar essa relação permite aos alunos a
leitura e a análise crítica da realidade, possibilitando o interesse e o envolvimento
frente ao conhecimento matemático e às questões sociais e políticas.
Após as discussões solicitamos aos alunos que em duplas respondessem
algumas questões que envolviam conteúdos matemáticos presentes na reportagem.
Na resolução dessas questões várias dificuldades foram sendo percebidas, algumas
apareceram com freqüência, outras pontualmente. A atividade envolveu duas aulas.
Na aula seguinte retomamos a atividade, fazendo a correção conjunta das questões
e solicitamos aos alunos que identificassem e analisassem os erros, bem como os
possíveis fatores que os determinaram.
Apresentamos a seguir algumas respostas apresentadas pelos alunos a estas
questões, com o objetivo de evidenciar possibilidades de desenvolver conteúdos
matemáticos a partir de reportagens.
Perguntamos aos alunos, qual a diferença numérica de escolaridade entre os
jovens que demoram mais para sair de casa dos demais. A resposta esperada seria
0,9 anos, ou seja, quase um ano de estudo a mais e o cálculo envolveria uma
subtração entre os valores 10,8 e 9,9. Apesar de simples, a questão provocou
alguns enganos, devido à interpretação equivocada da questão. Por exemplo,
alguns alunos responderam que: “- são iguais”; “- 18 e 24 anos”; “- de 20,5% a
24,3%”; “- continuam na escola por mais tempo”.
Na retomada da questão, a maioria dos alunos creditou à interpretação do
texto os erros cometidos. Os alunos que responderam que eram iguais
“arredondaram” os valores por considerá-los próximos, muitos também deram como
resposta um ano, arredondando os valores. Os que responderam que continuam na
escola por mais tempo, não interpretaram corretamente a pergunta que pedia a
diferença numérica, apesar de ficar claro que entenderam o fato. Os alunos que
deram como resposta 18 e 24 anos e de 20,5% a 24,3% utilizaram valores que
apareciam na reportagem, mas que não tinham relação com a questão.
Perguntamos de quanto foi o aumento percentual de jovens, entre 25 e 34
anos, que ainda vivem com os pais. A resposta esperada seria 4% ou 3,8%, pois
nas informações presentes no texto o cálculo envolveria a diferença entre 20% e
24% e nas informações que aparecem nos infográficos a diferença entre 20,5% e
24,3%. Alguns erraram devido às dificuldades de interpretação ou de cálculo,
obtendo respostas como, por exemplo: “60%; “24%”; “19,6%”.
Na retomada da questão, de um modo geral os alunos justificaram a resposta
como erro de cálculo ou coleta de valores errados. Os alunos que responderam 24%
utilizaram o valor atual, o maior valor, interpretando como sendo o aumento. As
respostas 60% e 19,6% representam valores que aparecem na reportagem, mas
que não têm relação com a questão proposta, evidenciando problemas de
interpretação.
Perguntamos qual o percentual de homens entre 15 e 29 anos que não
estudam e nem trabalham em 2002. A resposta esperada seria 27,6% e o cálculo
envolveria a diferença de 72,4%, porcentagem referente às mulheres, em relação a
100%. A questão evidenciou dificuldades conceituais relacionadas à porcentagem e
também dificuldades de interpretação. Por exemplo: “9,6 milhões”; “19,6%; “20,2%”.
Na retomada da questão os alunos apontaram a porcentagem como causa
dos erros cometidos. Os alunos que responderam 20,2% colocaram o percentual
referente aos jovens de um modo geral e não à porcentagem específica dos
homens. Aqueles que responderam 19,6% colocaram o percentual indicado para os
jovens de um modo geral em 2012. Os alunos que responderam 9,6 milhões
demonstraram ter interpretado equivocadamente a questão, pois o valor representa
o total de jovens nessa faixa etária que nem estudam e nem trabalham, não um
valor percentual para referente aos homens.
Outra questão envolvia o calculo da porcentagem de jovens entre 15 e 29
anos, que estudam e/ou trabalham. A resposta esperada seria 80,4% e o cálculo
envolveria a diferença de 19,6%, que representa os jovens que não estudam e/ou
trabalham, em relação a 100%. Novamente a questão evidenciou dificuldades
conceituais relacionadas à porcentagem e também dificuldades de interpretação.
Por exemplo: “9,6 milhões”; “19,6%”; “20,2%”.
Na retomada da questão os próprios alunos apontaram dificuldades com a
porcentagem como causa dos erros cometidos. Os alunos que responderam 20,2%
colocaram o percentual referente aos jovens que não estudavam nem trabalhavam
em 2002. Aqueles que responderam 19,6% colocaram o percentual referente aos
jovens que não estudavam nem trabalhavam. Os alunos que responderam 9,6
milhões demonstraram ter interpretado equivocadamente a questão, pois o valor
representa o total de jovens nessa faixa etária que nem estudam e nem trabalham,
não um valor percentual.
Colocamos a questão: - Dos 9,6 milhões de jovens que não estudam e nem
trabalham 70,3% são mulheres. Quantas são as mulheres? A resposta esperada
seria de aproximadamente 6,7 milhões e envolveria o cálculo da porcentagem de
70,3% em relação aos 9,6 milhões. Apesar das dificuldades com a porcentagem
anteriormente demonstradas muitos acertaram a questão, o que evidencia um
desenvolvimento do conceito de porcentagem e do cálculo da mesma.
Com relação à desigualdade nos grupos de 20 a 24 anos, na taxa de
mortalidade, calcule a razão percentual para os grupos citados no texto?. Muitos
alunos não sabiam resolver a questão, deixaram sem resposta, outros colocaram um
valor qualquer presente na reportagem. Ficou claro o desconhecimento do conceito
de razão percentual.
A retomada da atividade possibilitou confirmar essa constatação na resposta
dada pelos alunos para explicar a resolução da questão. Por exemplo: “... não
sabíamos”; “... Nem sei, só coloquei uma resposta”; “... essa não sabia mesmo, mas
tentamos fazê-la”.
Solicitamos a explicação da representação gráfica utilizada para representar o
percentual de homens vivendo com os pais. A resposta esperada seria um
comentário em relação ao infográfico utilizado, pois foram colocados “bonecos” azuis
e rosas para representar a diferença percentual de homens e mulheres nessa
situação. As mais diferentes interpretações surgiram para essa questão, poucas
respostas se aproximaram do esperado. Por exemplo: “... 60% de 24,3% são
homens que moram com os pais”; “... homens estão demorando a sair de casa”; “...
quase um quarto de 25 a 34 anos”; “... percentual de educação dos homens”.
Na retomada da atividade a maioria dos alunos não soube explicar de que
forma haviam elaborado suas respostas. Percebemos que a maioria respondeu com
a “leitura” das informações presentes no infográfico.
Solicitamos que representassem graficamente as informações referentes à
educação e serviços destacando as variações ocorridas. A maior parte dos alunos
representou de maneira muito simples, utilizando barras ou colunas de forma meio
aleatória, sem qualquer preocupação com escalas ou medidas, demonstrando pouca
familiaridade com os gráficos, sinalizando que essas eram as formas de
representações gráficas que conheciam até o momento.
Questionamos também: a) De quanto foi a variação na renda de 2002 a
2012? b) De quanto foi o aumento no número de crianças de 4 e 5 anos estudando?
c) Qual o percentual de crianças de até 3 anos de idade que não estão em creches
ou escolas?). Nas letras (a, b e c) dessa questão as dificuldades de interpretação do
texto e principalmente dos dados matemáticos presentes no texto aparecem como
causa principal dos erros, em alguns casos o cálculo em si foi o problema. Ou seja,
repete-se o percebido nas questões anteriores.
Observamos durante o desenvolvimento dessa atividade, que o tema da
reportagem despertou maior interesse que as atividades anteriores, mas ao mesmo
tempo evidenciou maiores dificuldades de interpretação e utilização dos dados
matemáticos. As questões envolvendo representações gráficas revelaram
dificuldades dos alunos que com certeza demandam um trabalho posterior mais
aprofundado. Novamente as questões envolvendo porcentagem necessitaram
intervenções. O fato de o texto ser mais curto que na atividade anterior facilitou um
pouco as atividades e as discussões.
As atividades com textos de jornal possibilitaram o desenvolvimento de
conteúdos matemáticos e o aprimoramento da capacidade de interpretação, além de
aprimorar o trabalho com o Tratamento da Informação, pois as atualidades que os
textos trouxeram para a sala de aula facilitaram o envolvimento dos alunos e
aproximação dos mesmos com a Matemática, promovendo a aprendizagem. Como
ressalta Cândido (2001, p. 16): “... para que a aprendizagem ocorra ela deve ser
significativa e relevante, sendo vista como compreensão de significados,
possibilitando relações com experiências anteriores, vivências pessoais e outros
conhecimentos”.
3.1 DIFICULDADES ENCONTRADAS NO PROCESSO DE MODO GERAL
Durante o desenvolvimento das atividades dificuldades foram surgindo,
algumas previstas, como as dificuldades de interpretação e de conteúdo
matemático, outras não esperadas, como a falta de familiaridade com o jornal e o
distanciamento de temas do cotidiano. Dentre as dificuldades encontradas no
desenvolvimento das atividades desenvolvidas em toda a unidade didática,
destacamos:
a) Alunos não tinham o hábito de ler jornais
Ao iniciar o processo de implementação ficou perceptível que a maioria dos
alunos não tinha o hábito de ler jornais, ao contrário, era um tipo de texto com o qual
eles não tinham nenhuma familiaridade. Os alunos procuravam textos curtos para
realizar a atividade, evidenciando dificuldades com a leitura. Essa constatação
reiterou a importância das atividades realizadas, pois como descreve Faria (2013, p.
11): “Um dos principais papéis do professor seria, pois, o de estabelecer laços entre
a escola e a sociedade. Ora levar jornais/revistas para a sala de aula é trazer o
mundo para dentro da escola”.
b) Dificuldade de interpretação de textos
No decorrer do processo as dificuldades de interpretação de textos tornaram-
se evidentes, essas dificuldades revelaram a necessidade de maiores discussões e
esclarecimentos antes da realização das atividades. Essa necessidade foi
evidenciada por Smole e Diniz ( 2001, p. 82): “[...] a leitura pode ser enfatizada
quando propomos vários questionamentos que requerem várias idas até o texto para
a seleção de informações que respondem às perguntas feitas”.
c) Dificuldade na leitura de gráficos
A dificuldade na leitura dos gráficos e na identificação dos dados matemáticos
demandou maiores esclarecimentos das representações gráficas e revelou a
necessidade de um trabalho posterior mais aprofundado com a questão do
tratamento da informação. A importância do trabalho com as questões referentes ao
Tratamento da Informação é descrita pelas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica (Paraná, 2008, p. 60):
O Tratamento da Informação é um conteúdo estruturante que contribui para o desenvolvimento de condições de leitura crítica dos fatos ocorridos na sociedade e para interpretação de tabelas e gráficos que, de modo geral, são usados para apresentar ou descrever informações.
O Tratamento da Informação abrange uma infinidade de assuntos e propicia a
integração com as diversas áreas do conhecimento, por isso mesmo costuma
despertar o interesse dos alunos, facilitando o trabalho com esta importante
ferramenta de inserção na sociedade atual.
d) Não domínio de conteúdos e conceitos matemáticos envolvidos nas reportagens
Dificuldades com relação aos conteúdos matemáticos também dificultaram o
desenvolvimento das atividades tornando o processo um pouco mais lento, pois
foram necessárias muitas intervenções e explicações de conteúdos matemáticos,
fato descrito até mesmo pelos próprios alunos como causa de dificuldades e erros
na resolução das atividades.
e) Desconhecimento por parte dos alunos de temas do cotidiano
O desconhecimento dos alunos em relação aos temas do cotidiano foi
surpreendente, apesar de estarmos soterrados de informações das mais diferentes
formas, o distanciamento da maioria deles do seu próprio cotidiano é incrível. A
atividade 3 ( “O Brasil envelhece a olhos vistos”) possibilitou perceber o abismo
entre as gerações e suas realidades, os alunos desconheciam questões básicas
relacionadas à pessoa idosa, e demonstravam até mesmo alguns preconceitos
nessa questão. Algumas questões suscitadas na atividade 4 (“Jovens saem da casa
dos pais cada vez mais tarde”) também eram desconhecidas da maioria dos alunos,
dificultando discussões mais profundas em relação ao tema. Muitas vezes esse
distanciamento da realidade é reforçado pela própria escola e pelas metodologias
que adota como descrito nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 67):
Geralmente a escola se afasta desses dados reais e mesmo dos problemas aos quais eles estão associados com a intenção de facilitar os cálculos, quando ela deveria promover a aproximação da atividade matemática com a realidade em que se encontram esses problemas.
Aproximar o conteúdo da realidade dos alunos é uma das possibilidades da
inserção do texto de jornal nas aulas de matemática, pois ao utilizar dados reais e
atuais o conhecimento matemático passa a ter significado e importância para o
aluno.
3.2 PONTOS ALTOS NO DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
Ao dar início ao desenvolvimento das atividades previstas na Unidade
Didática tínhamos com objetivo evidenciar as possibilidades de trabalhar com
conteúdos matemáticos a partir de textos de jornal. Durante a realização das
atividades alguns destaques reafirmam essa possibilidade de trabalho:
a) Interesse dos alunos por alguns temas
Alguns temas provocaram um maior envolvimento por parte dos alunos, como
no desenvolvimento da atividade 2 (“No flex, etanol rende 32% menos que a
gasolina”), esse tema provocou um grande interesse dos alunos, muitos
conversaram com os pais e até com frentistas de postos de combustível para obter
maiores informações sobre o assunto e novas discussões surgiram durante as
atividades. A atividade 1 (Familiarizando-se com o jornal) também despertou
bastante interesse pois os alunos podiam escolher os textos.
b) Maior facilidade na realização das atividades no decorrer do trabalho
Com o desenvolvimento das atividades tornou-se perceptível o progresso dos
alunos, as dificuldades dos alunos com a leitura e interpretação diminuíram, e até
mesmo defasagens com os conceitos matemáticos parecem ter sido amenizadas. O
Tratamento da Informação aos poucos se tornou familiar, os alunos conseguiam ler
e representar com maior facilidade as informações estatísticas através de gráficos.
c) Maior autonomia dos alunos na realização das atividades
A autonomia foi sendo conseguida aos poucos, nas primeiras atividades
foram necessárias muitas intervenções e explicações na leitura e interpretação, nas
atividades com gráficos e nos conceitos matemáticos necessários para a realização
das atividades. Com o desenvolvimento do projeto percebeu-se que os alunos
adquiriram maior autonomia e iniciativa.
3.3 A VISÃO DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AO TRABALHO REALIZADO
Na avaliação realizada com os alunos pode-se perceber que a maioria achou
importante este tipo de trabalho, apesar de muitos dizerem que este tipo de
atividade não é Matemática. Para muitos a grande dificuldade das atividades foi o
trabalho com os textos. Alguns comentários confirmam essa percepção:
“ ...prefiro contas e problemas de matemática que não se baseiam em um texto”. “ ... eu acho que foge um pouco da matemática e entra mais na área de interpretação”. “ ... além de aprender o conteúdo mais fácil aprendemos várias coisas a mais”. “ ... diferente e trabalha a mente”. “ ... estimula mais a fazer matemática porque são coisas da atualidade que eu não sabia”. “ ... ajuda bastante a relacionar a matemática na vida real”.
A utilização dos textos de jornal em sala de aula possibilita aos alunos
perceberem que a Matemática está presente no seu dia-a-dia, torna as aulas mais
dinâmicas e interessantes e o conteúdo compreensível e significativo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, tínhamos como objetivo evidenciar os pontos altos do trabalho,
as dificuldades encontradas no processo e as possibilidades de trabalhar com
conteúdos matemáticos a partir de textos de jornal. Buscamos, também, investigar
se a utilização de textos de jornal nas aulas de matemática contribui para a
superação desta problemática.
Durante o desenvolvimento do trabalho alguns pontos positivos se
destacaram: o interesse dos alunos pelos temas desenvolvidos, a autonomia
conquistada durante o processo e a facilidade de realização das atividades
conquistada ao longo do trabalho.
Algumas dificuldades encontradas no processo também se destacaram: os
alunos não tinham o hábito de ler jornais, as dificuldades de interpretação dos textos
e na leitura dos gráficos, o não domínio de conteúdos matemáticos presentes nas
reportagens e o desconhecimento em relação a temas do cotidiano enfocados nas
reportagens.
O texto de jornal além de desenvolver a leitura, a escrita e a interpretação
possibilita explorar inúmeros conceitos matemáticos. As atividades desenvolvidas
evidenciam essas possibilidades. Para que ocorram mudanças significativas no
processo de ensino e aprendizagem precisamos conceber o conhecimento
matemático como ferramenta necessária ao aluno para compreender, explicar e
interferir em sua realidade.
O trabalho com textos de jornal nas aulas de matemática contribui de forma
efetiva na leitura e interpretação de textos e principalmente no desenvolvimento de
conteúdos matemáticos, além de colaborar na formação da cidadania. Os resultados
alcançados com esta intervenção nos permitem afirmar as diversas possibilidades
desse tipo de trabalho.
5 REFERÊNCIAS BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. de C. (Org.). Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC, 1998. CÂNDIDO, P. T. Comunicação em Matemática. In: SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (Org). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001 FARIA, Maria Alice. O Jornal na Sala de Aula. 11 ed. São Paulo: Contexto, 2001. FARIA, Maria Alice. Como usar o Jornal na Sala de Aula. 11 ed. São Paulo: Contexto, 2013. MACHADO, Nilson José. Matemática e Língua Materna: Análise de uma impregnação mútua. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1993. ONUCHIC, L. de L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino aprendizagem de Matemática através da Resolução de Problemas. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. de C. (Org.). Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (Org). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001. STANCANELLI, R. Conhecendo diferentes tipos de problemas. In: SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (Org). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.