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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

TURMA – PDE/2013

Titulo: REVENDO A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO

Autor Taíza Lira Ferrari

Disciplina/Área Pedagogia

Escola de implementação do Projeto e sua localização

Colégio Estadual Monteiro Lobato - EFM Av. Rubino Pasquetti, 555.

Município da escola Céu Azul

NRE Cascavel

Professor Orientador Alexandre Felipe Fiuza

Instituição de Ensino Superior

Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE

Relação Interdisciplinar História, Filosofia e Sociologia.

Resumo Esta Produção Didático-Pedagógica justifica-se devido a importância de conhecer a história do Movimento Estudantil brasileiro e a Legislação que criou os Grêmios Estudantis Livres. Será desenvolvida no Colégio Estadual Monteiro Lobato - EFM do município de Céu Azul-PR com alunos do Ensino Fundamental, séries finais e Ensino Médio. Busca-se com esta atividade contextualizar a trajetória de luta, as repressões sofridas durante a Ditadura Militar, o controle sobre as ações na organização do Movimento Estudantil e as principais conquistas, mediante uma reflexão crítica sobre a história e a atuação dos estudantes nas decisões políticas, sociais, econômicas e educacionais no Brasil. Almeja-se desvelar nestas linhas um ser ativo, autônomo participativo, provocando uma percepção no sentido político da participação. Serão realizados oito encontros destinados aos estudos sobre a história do Movimento Estudantil. Pretende-se ao final dos encontros, contribuir para com a construção de uma proposta que incentive os alunos à implementar projetos que fortaleçam as ações coletivas e estimulem a participação e manutenção do Grêmio Estudantil no estabelecimento de ensino.

Palavras-chave Estudante, Movimento, Grêmio, Agente de Transformação.

Formato do Material Didático Unidade Didática

Público Alvo Ensino Fundamental séries finais e Ensino Médio.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCAIONAL - PDE

TAIZA LIRA FERRARI

REVENDO A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO

Projeto apresentado à Secretaria de Estado da

Educação – SEED, Departamento de Políticas

e Programas Educacionais, para cumprir

exigências do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, sob a orientação do

Professor Dr. Alexandre Felipe Fiuza,

UNIOESTE – Campus de Cascavel – PR.

CASCAVEL – PR

2013

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1- APRESENTAÇÃO

O movimento estudantil foi um marco histórico da participação dos jovens

estudantes que lutaram por melhores condições políticas, sociais, econômicas e

educacionais para o País. Desta forma, contextualizar a vivência dos estudantes

e sua trajetória de lutas, as repressões sofridas durante a ditadura militar, o

controle sobre suas ações na organização do movimento estudantil e as principais

conquistas vivenciadas, são fundamentais para despertar a consciência histórica.

Respaldados por uma legislação que favorece a organização dos estudantes,

ainda que controlada, abre espaço para construir uma política de participação

mais democrática e entender a formação dos Grêmios Livres.

A ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDANTES E SUA TRAJETÓRIA POLÍTICA

A organização sistemática do movimento estudantil brasileiro se evidencia

a partir da criação da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 1937. Para

compreender sua origem não podemos esquecer os que a antecederam, pois

seria omitir a história de um movimento que marcou significativamente o Brasil.

Os estudantes participaram ativamente na história política do Brasil muito antes

da UNE, inclusive no movimento de independência do Brasil.

Importante ressaltar que esse movimento estudantil não foi específico do

Brasil, mas atingiu todo o continente latino-americano:

Suas raízes mais tenras podem ser identificadas na Carta de Córdoba (Argentina) de 21 de junho de 1918, impelindo a reforma universitária e a formação de federações nacionais de estudantes ou uniões entre 1920 e 1930 em que quase toda a América Latina – Chile, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela, México, estendendo-se mais tarde a Cuba.

( PORTANEIRO, 1978 apud FÁVERO, 1995, p. 11).

Os movimentos revolucionários não foram mal sucedidos, pois além da

renovação acadêmica, defendiam outros projetos significativos de reformas

políticas e sociais.

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A trajetória histórica do movimento estudantil brasileiro se iniciou com

estudantes que retornavam da Europa, filhos das classes mais abastadas no

período colonial, enviados por seus tutores e pais com o objetivo de terem acesso

às letras e à educação europeia. No velho continente, durante seu período

acadêmico, receberam influências dos modelos socioeconômicos de outros

países, o que provocou em alguns casos indignação e revolta no retorno ao

Brasil.

Segundo Poerner (1979), a primeira manifestação estudantil anotada na

história brasileira ocorreu no ano de 1710, quando os franceses invadiram o Rio

de Janeiro e foram encurralados por jovens estudantes de conventos e colégios

religiosos. Mais tarde, em 1786, José Joaquim Maia fundou no exterior um clube

secreto para lutar pela independência do Brasil; sendo que um dos membros

deste clube, o jovem Domingos Vidal de Barbosa, chegou a participar da

Inconfidência Mineira.

Irreverente ao falar sobre a história do país, Poerner assevera:

Ademais, ainda que nem sempre seja registrada no plano físico, é notória a participação estudantil no plano ideológico dos movimentos revolucionários brasileiros anteriores à independência. Os estudantes é que trouxeram da Europa as ideias revolucionárias de Voltaire, Rousseau e Montesquieu, e a eles coube - segui-las, através de suas sociedades e clubes secretos. Foram eles que serviram de veículo quase exclusivo para a introdução no Brasil, daqueles ideais, até que se concretizasse, em 1827, o sonho inconfidente da fundação de uma Universidade no País. (POERNER, 1979, p.60).

Deve-se também ao empenho dos estudantes a fundação da primeira

faculdade brasileira em 1827, como a Faculdade de Direito do Largo São

Francisco, que logo integrou as campanhas pela Abolição da Escravatura e pela

Proclamação da República.

Com a criação das primeiras faculdades brasileiras, os filhos da oligarquia

paulista e do latifúndio açucareiro pernambucano adentram as instituições de

ensino superior e rapidamente se engajam nas campanhas pela Abolição da

Escravatura e pela Proclamação da República. Há estudantes engajados também

na Revolução Farroupilha que ocorreu no Rio Grande do Sul e também na

Sabinada na Bahia (POERNER, 1979).

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A campanha abolicionista empolgou a juventude a criar associações em

prol da libertação de escravos, onde os estudantes escondiam os cativos em suas

repúblicas, antecipando assim a Lei Áurea em quatro anos. Neste contexto, foi o

Ceará a primeira Província a libertar os negros. Foi então que o jovem Castro

Alves produziu os poemas Navio Negreiro e Vozes d’África, que contribuíram para

apressar a tão almejada liberdade em outras regiões, a exemplo do Ceará. É

pertinente destacar que, com:

[...] a Campanha Abolicionista se produziu talvez a primeira greve de natureza política que a nossa História registra e quiçá a única greve política justa: a greve dos jangadeiros do Porto de Fortaleza [...] pretenderam os senhores de escravos salvar prejuízos [...] exportando os seus escravos para vendê-los no Sul, especialmente em São Paulo, onde alcançavam altos preços [...] a recusa dos jangadeiros em transportar os pobres pretos [...] não puderam efetuar as pretendidas exportações [...] fica eles homens livres na bendita Terra da Luz! (POERNER, 1979, p. 12).

Considerando a atuação dos estudantes que tiveram influência na política

brasileira, depois da Proclamação da República a participação da juventude

militar decaiu, pois não tinham conhecimento da situação em que o País se

encontrava, das dificuldades financeiras, dos empréstimos feitos no exterior,

surgindo o subdesenvolvimento o qual foi constatado após muitas décadas.

Também contribuiu para essa queda, segundo Poerner (1979), a eleição

do primeiro presidente civil, Prudente de Morais, em 1895, quando os jovens

militares perderam o apoio presidencial. Decorre dessa eleição a primeira

manifestação da juventude civil na Primeira República, cabendo destaque aos

estudantes de Direito da Bahia, quando em 1897 elaboraram um documento

dirigido à nação sobre os traumas da rebelião de Canudos na Bahia.

Nesse mesmo período, pela primeira vez na história republicana, um

candidato à Presidência, Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Bahia, percorreu

vários pontos do país em busca de votos, com a Campanha Civilista, tendo apoio

significativo dos estudantes, talvez por corresponder às suas expectativas para o

país. Porém, seu opositor, o militar Marechal Hermes da Fonseca, foi o vencedor,

apoiado por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Foi graças a Campanha Civilista

que o movimento estudantil que até então estava desorganizado ressurgiu

retomando o cenário de manifestações. No dia 22 de novembro, uma semana

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depois da posse de Hermes da Fonseca, a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro,

parecia anunciar que os próximos anos não seriam pacíficos. Hermes da

Fonseca pusera o Exército em cena nesse período histórico.

O poeta Olavo Bilac fundou a Liga Nacionalista em 1917, conclamando os

estudantes que dela fizerem parte, em virtude da eminência da I Grande Guerra,

o que trouxe para os jovens brasileiros um exacerbado espírito de nacionalismo e

civismo, e o receio da vitória alemã. Uma das bandeiras de Bilac em seus

inflamados discursos foi a campanha pelo serviço militar compulsório, pelo qual

muitos jovens aderiram. A Liga Nacionalista desempenhou também papel

importante no campo da educação criando cursos noturnos de alfabetização para

jovens proletários. Durante o governo Washington Luís “[...] foi o silêncio total da

juventude [...] talvez por isso, na campanha da sucessão presidencial os

estudantes penderam para o lado do oposicionista Getúlio Vargas” (POERNER,

1979, p. 106).

Certamente um dos períodos histórico mais tumultuado e oscilante foi a

Era Vargas, que derrubou o governo constitucionalista, esteve no poder por quase

duas décadas. Um tempo assim definido por D’Araujo:

Chama-se Era Vargas o conjunto das políticas econômicas e sociais introduzidas no país a partir de 1930, que marcaram de maneira indiscutível e indelével o processo de industrialização, urbanização e organização da sociedade brasileira. As repercussões dessas iniciativas foram tão fortes que, no limiar do novo século sua influência ainda é percebida. (D’ARAUJO, 1997, p. 7).

UNE - UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES: UMA TRAJETÓRIA DA

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ESTUDANTIL

Para descrever a fundação e instalação da UNE, buscamos informações

desse período histórico na obra de Poerner (1979), que recompõe a história do

movimento estudantil desde o Brasil Colônia, e no livro de Fávero (1995), que

também registra os fatos históricos relativos à participação dos estudantes nas

questões políticas educacionais, econômicas e sociais do país.

A UNE representa o marco da participação do movimento estudantil

brasileiro ao longo da nossa história, pois:

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[...] as organizações universitárias anteriores, [...] eram transitórias, visavam apenas problemas específicos, com curta duração, por isso não havia prosseguimento, [...] nasciam e morriam. Outro fator era a [...] regionalidade, favorecida pelos isolamentos entre os Estados. (POERNER, 1979, p. 127-128).

A atuação dos estudantes enquanto organização ficava somente no

interior das faculdades ou nos espaços daquelas que dispunham de sede, como

os centros acadêmicos, grêmios estudantis ou as associações de caráter literário

ou artístico, o que se traduzia em ações ocasionais e dispersas.

Entre todas as tentativas de organização do movimento estudantil, a

realização em São Paulo do I Congresso Nacional dos Estudantes, em 1910, não

trouxe maior consequência efetiva para o movimento, a não ser grandes debates

filosóficos. Os acadêmicos da Faculdade Nacional de Direito, impressionados

com a organização do movimento estudantil argentino, imbuíram esforços em

fazê-lo aqui também através da realização do I Congresso da Juventude Operária

Estudantil, movimento este iniciado pelos estudantes de Direito do Rio de Janeiro,

no segundo semestre de 1934, com a ideia de receber adesão de alunos de

outras faculdades e apoio de organizações operárias.

A Juventude Comunista teve um papel importantíssimo na organização

do Congresso, pois formaram uma frente única antifascista, sendo esse grupo

vencedor das eleições de 1932 para o diretório da Faculdade que contava com

mais de mil alunos e que demonstravam desinteresse pela política, assim mesmo

obtiveram 70 votos sendo sua bandeira principal de luta, a luta antifascista, pois

era um período de ascensão do nazismo.

Do I Congresso da Juventude surgiu a Aliança Nacional Libertadora

evidenciando a necessidade de se criar um instrumento que agregasse os

estudantes, para contribuir com a modificação da realidade nacional.

Da organização do I Conselho Nacional de estudantes nos dias 11,12 e

13 de agosto de 1937, Fávero descreve:

A instalação do I Conselho realiza-se na Casa do Estudante do Brasil, dirigida pela presidente vitalícia e fundadora daquela casa, Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça, contando com representantes de São Paulo, Ceará, Bahia, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais. Nessa reunião, logo de saída, é aprovada uma proposta de representante do Diretório Central dos Estudantes de Minas, proibindo expressamente a discussão de temas políticos no Conselho. No dia seguinte, dos assuntos levantados no plenário, o principal é a aprovação dos estatutos do novo órgão estudantil. (FÁVERO, 1994, p.17).

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Antecedendo o surgimento da UNE, temos a criação da Frente

Democrática da Mocidade, que foi extinta no Estado Novo, passando o país por

uma nova realidade do movimento estudantil que foi o surgimento da UNE.

Iminentes dificuldades foram criadas pela direção da Casa do Estudante

do Brasil, o que não impediu que a Diretoria da UNE realizasse o II Congresso

Nacional em 1938 com um caráter militante e discutindo o cenário da educação

brasileira.

O reconhecimento oficial e formal da UNE ocorreu no II Congresso

Nacional dos Estudantes:

Com a preocupação de oficializar a entidade que representaria o segmento universitário, discutir e elaborar propostas, é aberto solenemente o II Congresso em 05 de dezembro de 1938, contando com cerca de 80 associações universitárias e secundárias, ao qual compareceram professores e um representante do Ministério da Educação. (FÁVERO, 1994, p. 17-18).

Esse Congresso marcou a unificação do movimento, que ganhou forças

inequívocas em torno de bandeiras de âmbito nacional identificando e

caracterizando a UNE como uma instituição de movimento democrático. Tendo

caráter político-pedagógico empenhou-se, sobretudo, em defender a democracia,

promovendo e estimulando a transmissão do saber:

Ao encerrar o II Congresso Nacional além de a Diretoria eleita assumir a entidade, foi deliberado também o Plano de Reforma Educacional, que apresentava, na ocasião, cinco blocos de sugestões: 1º.) solução para o problema educacional; 2º.) solução para o problema econômico do estudante; 3º.) reforma dos objetivos gerais do sistema educacional brasileiro, no sentido da unidade e da continuidade; 4º.) reforma universitária; 5º.) organização extra escolares. (FÁVERO, 1994, p. 9).

Evidencia-se claramente a luta da UNE em prol da Educação e pela

liberdade de pensamento, contrariando o controle do Estado, conforme

preconizava a Lei nº 452, de 05 de julho de 1937, artigo 27: “Até que seja

decretado o Estatuto da Universidade do Brasil, o reitor e os diretores de

unidades serão escolhidos pelo Presidente da República dentre os professores

catedráticos e nomeados em comissão”. (FÁVERO, 1994, p. 20).

A preocupação da UNE enfatizava a autonomia e poder na Universidade

sendo pauta das principais discussões acadêmicas a eleição de reitor e diretores

pelos professores e alunos. O movimento não parou por aí. Extrapolou o campo

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da educação assumindo o papel nas reivindicações trabalhistas contra forças

nazifascistas, o que evidencia que em nenhum momento os estudantes foram

apolíticos, havendo confrontos com a polícia, como no que levou à morte em

Recife o estudante Demócrito de Souza Filho. A partir desse fato a posição da

UNE em relação ao Estado Novo foi de enfrentamento e discórdia. O movimento

afoito da UNE foi declinando após a queda do Estado Novo e durante o governo

provisório de José Linhares, em virtude dos objetivos de luta da UNE.

O Movimento Estudantil a partir da década de 1950 foi marcado por forte

repressão policial contrária aos movimentos dos estudantes, que tiveram ampla

participação na campanha o “petróleo é nosso”, onde nacionalistas, estudantes e

o presidente Getúlio Vargas, defendiam que todo petróleo encontrado em solo

brasileiro não passasse para a administração e exploração estrangeira. Nesse

período foi criada a PETROBRÁS – Petróleo Brasileiro S/A e instituído o

monopólio estatal na exploração do petróleo, logo:

A União Nacional dos Estudantes (UNE), engajada na campanha “o petróleo é nosso”, em 1947, já atuava no cenário político como defensora do nacionalismo. Nos anos 50, essa premissa fora reforçada na entidade e incentivada pela ideologia forjada no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Na década de 60, a UNE retomaria as discussões em torno da luta anti-imperialista, embora entre as teorias que informassem os debates travados no interior da entidade tomassem impulso as de cunho marxista-leninista (PELEGRINI, 1997, p. 29).

O movimento estudantil brasileiro pautou-se nesse período por uma teoria

e prática baseadas no nacionalismo, no desenvolvimento, muitas vezes

revolucionários encampando lutas pela reforma social. Afinal,

[...] a campanha do petróleo arregimentou todas as camadas urbanas, do operariado à burguesia, e foi, talvez, o único movimento do qual participou intensamente e de forma ampla e espontânea o povo brasileiro. E Getúlio Vargas era, na época, o próprio símbolo do nacionalismo. Em 1953, dois anos depois de sua posse, a Petrobrás tornou-se lei e o Estado passou desde então, a ter o monopólio da pesquisa e exploração do petróleo brasileira. (ROMANELLI, 1991, p. 52).

Os estudantes participaram também, de forma efetiva e maciça, contra o

fechamento do Partido Comunista e a cassação dos deputados comunistas

eleitos, além da participação no protesto contra o alto preço das passagens de

bonde.

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No XII Congresso da UNE houve uma divisão do movimento tendo como

candidatos militantes de direita, representando a organização fascista, e de

esquerda, os socialistas, ficando esse período conhecido como período negro,

pois houve luta física entre seus oponentes.

Compreende-se pelos relatos históricos que os estudantes tomados por

um potencial revolucionário e pela esperança de uma sociedade melhor e

objetivando com isso um mundo melhor, fizeram-se vultuosamente presentes na

luta pela reforma universitária e posteriormente na luta pelas reformas sociais.

A repressão do governo ao Movimento Estudantil durante a ditadura do

Estado Novo (1937-45), não desestimulou a organização dos estudantes em

manifestarem-se contrariamente às regras impostas pelo governo.

A história do Brasil foi marcada brutalmente pelo movimento golpista e

vitorioso de 1964, onde o Governo João Goulart foi destituído e os militares

ocuparam o poder. Significou um período de repressão ao Movimento Estudantil

que se opôs ao governo instituído, tão severo e ameaçador. Na canção Pesadelo,

de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, esse período foi assim narrado:

Quando o muro separa uma ponte une Se a vingança encara o remorso pune Você vem me agarra, alguém vem me solta Você vai na marra, ela um dia volta E se a força é tua ela um dia é nossa Olha o muro, olha a ponte Olhe o dia de ontem chegando Que medo você tem de nós, olha aí Você corta um verso, eu escrevo outro Você me prende vivo, eu escapo morto Abraça o dia de as amanhã, olha aí Perturbando a paz, exigindo troco Vamos por aí eu e meu cachorro Olha um verso, olha o outro Olha o velho, olha o moço chegando Que medo você tem de nós, olha aí O muro caiu, olha a ponte Da liberdade guardiã O braço do Cristo, horizonte Abraça o dia de amanhã, olha aí.

Ao interpretar os versos da música, vemos como o governo detinha poder

absoluto sobre as massas, poder este que encontrava legitimidade no Ato

Institucional nº 5,

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A existência de atos nitidamente subversivos oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, bem como a existência de guerra revolucionária, elementos que justificavam e obrigavam a tomar medidas para evitar a destruição do movimento de 64. [...] o AI-5 estabeleceu que o presidente da República poderia decretar, por Ato Complementar, o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras dos Vereadores, em estado de sítio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionarem quando convocados pelo próprio presidente da República; o presidente da República poderia, ainda, decretar a intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição; poderia suspender, também sem as limitações previstas na Constituição, os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais. Os cidadãos que tivessem os direitos políticos suspensos, simultaneamente teriam: cassação de privilégio de foro por prerrogativa de função; suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais; proibição de atividade ou manifestação sobre assunto de natureza política e aplicação, quando necessário, das seguintes medidas de segurança: liberdade vigiada, proibição de frequentar determinados lugares e domicílio determinado. Ficaram suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo. Não mais existiria a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica, social e a economia popular. Todos os atos praticados de acordo com o Ato Institucional nº 5 ficavam excluídos de qualquer apreciação judicial. (SANFELICE, 1986, p. 152).

LEI SUPLICY DE LACERDA

No período do governo de Castelo Branco foram criados instrumentos

legais para controlar o Movimento Estudantil. Para tal, o Congresso Nacional

aprovou a Lei nº 4.464 de 09 de novembro de 1964 que “dispõe sobre os órgãos

de Representação dos Estudantes e dá outras providências”. Publicado no Diário

Oficial de 11/11/1964, p.10.169, amplamente conhecida como a Lei Suplicy, de

autoria do então Ministro da Educação, Flávio Suplicy de Lacerda. Sobre este

acontecimento, Altino Dantas declarou:

[...] podemos relatar que antes da votação no Congresso Nacional, da Lei Suplicy, comissões de estudantes conversaram com quase todos os deputados, ficando com a nítida impressão de que a lei não seria aprovada, pois os parlamentares eram unânimes em prometer aos estudantes votarem contra. Ela foi aprovada por nove votos de vantagem. Começávamos a aprender como de fato funcionava uma ditadura. (VÁRIOS, 1980, p.32 apud SANFELICE, 1989, p. 80).

Uma censura que deixou os estudantes encurralados, que além de

reprimir suas ideias, deixou-os vulneráveis:

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A Lei Suplicy de Lacerda visou especialmente, a extinção do Movimento Estudantil brasileiro. Para acabar com a participação política dos estudantes, a Lei procurou destruir a autonomia e a representatividade do movimento, deformando as entidades estudantis em todos os escalões, ao transformá-las em meros apêndices do Ministério da Educação, dele dependentes em verbas e orientação. (POERNER, 1979, p. 231).

O repúdio a Lei Suplicy foi sempre muito elevado, pois seu art. 22,

legalmente extinguia a UNE, revogando o Decreto-lei nº 4.105, de 11 de fevereiro

de 1942, que reconhecia a UNE como entidade coordenadora e representativa

dos corpos discentes dos estabelecimentos de ensino superior de todo o país. A

repressão aos estudantes participantes nos movimentos sociais foi autoritária,

arbitrária e sangrenta, sendo assassinado seu último presidente Honestino

Guimarães, em 1973.

ACORDOS MEC-USAID

Durante nove anos a UNE foi considerada subversiva tendo que atuar na

clandestinidade, colaborou na realização do XXVII Congresso Nacional de

Estudantes, sendo o primeiro congresso da entidade após o golpe militar, tendo

como tema principal o boicote a Lei Suplicy de Lacerda. Em 1966, houve um

grande protesto contra o acordo firmado pelo MEC e a United States Agency For

International Development (USAID) que visava a implantação da reforma

universitária, seguindo a orientação do relatório de Anteprojetos de Concentração

da Política Norte-Americana na América Latina na Reorganização Universitária e

sua Integração Econômica feito pelo norte-americano Professor Rudolph Atcon,

em 1958. Esse relatório visava desenvolver uma filosofia educacional para o

continente latino-americano, onde a eliminação da interferência estudantil na

administração, tanto colegiada quanto gremial, era considerada essencial e

obrigatória.

Merece destaque a indignação dos estudantes a essa política de governo

o que para eles era justificável, pois nosso país subdesenvolvido estava sendo

entregue à direção e planejamento educacional dos norte-americanos que não

conheciam a nossa realidade. Importante relembrar que o acordo MEC-USAID

havia sido feito em sigilo em detrimento do próprio Conselho Federal de

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Educação, o qual, ao tomar conhecimento do documento, concordou com os

termos desnacionalizando dessa forma a educação brasileira. Como descreve

Cunha e Góes:

Os acordos MEC-USAID cobriram todo o aspecto da educação nacional, isto é, o ensino primário, médio e superior, a articulação entre os diversos níveis, o treinamento de professores e a produção e veiculação de livros didáticos. A proposta USAID não deixava brecha. Só mesmo a reação estudantil, o amadurecimento do professorado e a denúncia de políticos nacionalistas com acesso a opinião pública evitaram a total demissão brasileira no processo decisório da educação nacional. (CUNHA e GÓES, 2002, p. 33).

Uma das intenções implícita no acordo MEC-USAID era a de facilitar a

penetração dos Estados Unidos no Brasil e garantir dessa forma sua dominação

cultural, haja vista o sigilo e discrição com que foram feitas as negociações desse

acordo e também que dos 20 acordos, 15 abrangiam a esfera didático

educacional. Destes, o mais combatido pelo movimento estudantil, embora nem

todos os adendos e regulamentações fossem conhecidos, o que promovia a

mudança na administração das universidades ferindo sua autonomia.

Coube aos americanos definir aos brasileiros “tipos de currículos,

métodos didáticos, programas de pesquisa e serviços de orientação e informação

de estudantes, que permitam o máximo de eficiência da obtenção das categorias

desejadas de elementos de formação universitária”. (POERNER, 1979, p. 246).

Merece destaque que os estudantes empreenderam forças na luta

principalmente contra a repressão policial, muitos sucumbiram nesse intento,

como Edson Luiz de Lima Souto assassinado em 1968, no Rio de Janeiro no

restaurante Calabouço, reduto dos estudantes. Ele não era universitário e sim

secundarista, e foi assassinado durante uma manifestação. A morte do estudante

desencadeou várias passeatas sendo uma delas chamada de Passeata dos Cem

Mil. Estávamos sob a ditadura do Ato Institucional nº5, que fechou o Congresso

Nacional, iniciando um ciclo de quase 20 anos de repressão e morte. Jornalistas,

professores, padres, editores, parlamentares se uniram aos estudantes

denunciando a injustiça e opressão.

Muitos considerados pelo governo ditatorial como subversivos, foram

mortos, caçados pela repressão militar ou se exilaram em outros países. Nesse

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período, a música popular brasileira destacava-se com letras que falavam da

realidade brasileira como a de Geraldo Vandré, Para não dizer que não falei das

flores (Caminhando), de 1968:

Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não Nas escolas, nas ruas Campos, construções Caminhando e cantando E seguindo a canção Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer Pelos campos há fome Em grandes plantações Pelas ruas marchando Indecisos cordões Ainda fazem da flor Seu mais forte refrão E acreditam nas flores Vencendo o canhão... Há soldados armados

Amados ou não Quase todos perdidos De armas na mão Nos quartéis lhes ensinam Uma antiga lição: De morrer pela pátria E viver sem razão... Nas escolas, nas ruas Campos, construções Somos todos soldados Armados ou não Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não Os amores na mente As flores no chão A certeza na frente A história na mão Caminhando e cantando E seguindo a canção Aprendendo e ensinando Uma nova lição...

UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

Os estudantes secundaristas também marcaram presença no cenário

político brasileiro, estiveram presentes nas passeatas, campanhas em favor das

lutas sociais e educação de qualidade.

Marcados pela comoção das lutas, os estudantes secundaristas reuniram-

se para fundar sua própria entidade, em julho de 1948, no Rio de Janeiro com o I

Congresso dos Estudantes Secundaristas, tendo como local a Casa dos

Estudantes Brasileiros, espaço cedido pela UNE como contribuição para formar a

nova entidade.

Embora não tendo entidade própria, a organização dos estudantes

secundaristas data dos anos 1930. Os encontros realizados entre os estudantes

universitários e secundaristas foram a base para a organização, enquanto

entidade, do movimento secundarista A troca de experiências entre eles

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favoreceu o prestígio do movimento que só crescia. A UNE teve maior projeção

no âmbito nacional, porém o movimento dos secundaristas foi relevante no desejo

de mudanças.

A fundação da UBES foi instituída pelo I Congresso dos Estudantes

Secundaristas, onde foram aprovados os estatutos e eleita a primeira diretoria,

inspirados pela UNE a denominaram UNES (União Nacional dos Estudantes).

Como resultado desse congresso foi estabelecido no estatuto oito finalidades: 1) manter a unidade estudantil em torno de problemas; 2) desenvolver relações amistosas entre as unidades estudantis membros de sua organização. 3) cooperar com atividades representativas dos estudantes universitários e também de todas as organizações juvenis nacionais ou internacionais.4)“dispensar [...] assistência cultural, médica, jurídica, econômica e desportiva aos estudantes de todo o Brasil. 5) trabalhar pela solução dos problemas educacionais, econômicos, sociais culturais e humanitários de estudante e do povo em geral. 6) bater-se, especialmente, em favor da elevação do nível do ensino secundário. 7) pugnar pela democracia e pelas liberdades fundamentais sem distinção de raça, sexo, posição social, credo político e religioso. 8) promover e estimular as relações entre as organizações de jovens e particularmente os estudantes de todo o mundo (CINTRA, MARQUES,2009, p .43).

A UBES no início de sua fundação em 1948 teve dificuldades e

limitações, ficando instalada no endereço da UNE, mesmo assim foi um período

muito agitado, coincidindo com a campanha O Petróleo é Nosso. Os

secundaristas sempre presentes nas manifestações eram liderados por grêmios

livres, além de uniões municipais e estaduais, mas com a criação da UBES

fortaleceram-se ainda mais como entidade, defendendo e unificando as bandeiras

de luta.

Dentre as mobilizações, a mais exitosa foi a volta de Getúlio Vargas

como Presidente da República em 1951, com ideais nacionalistas, o movimento

posicionou-se em defesa da campanha “O Petróleo é Nosso”, criando uma

empresa estatal, pois não seria possível, que uma “[...] empresa como a

Petrobrás não seria jamais obra do governo entreguista de Eurico Gaspar Dutra

(1946-1951), de incomum subserviência aos Estados Unidos”.(CINTRA,

MARQUES, 2009, p. 49).

Durante o 2º Congresso dos Estudantes Secundaristas, em julho de 1949,

com o objetivo de eleger a nova diretoria, sendo presidente o estudante Carlos

Cesar Castelar Pinto, do Rio de Janeiro, optaram pela mudança de nome da

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entidade de UNES para UBES, sendo o primeiro muito semelhante a UNE o que

ocasionava confusões, pois usavam o mesmo endereço, mas continuavam

apoiados e inspirados pela UNE, que tinha representação em todos os estados, o

que a UBES também pretendia fazer.

Havendo passado no vestibular em janeiro de 1950, o presidente da

UBES, Carlos Cesar, deixou o cargo para o vice-presidente, José Teotônio

Padilha de Sodré (Bahia) e sua gestão foi marcada nas lutas contra as tarifas dos

bondes e para derrubar as taxas escolares. Em 03 de abril de 1950, liderada pela

AMES, ocorreu a “Convenção Nacional Contra o Aumento das Taxas Escolares”,

em todo o Brasil, sendo deflagrada greve em 20 de abril daquele ano.

No 3º Congresso Nacional dos Secundaristas, em julho de 1950, ano de

realizações históricas no país como a Copa do Mundo, as eleições presidenciais e

a inauguração da TV Tupi, Lúcio de Abreu é lançado candidato à presidência da

UBES, para evitar que houvesse divisão na entidade, causando divergência sobre

a candidatura de Sodré, por ser vice-presidente que assumira a presidência, mas

as diferenças acabaram em uma chapa única, tendo como presidente Lúcio de

Abreu, marcando a independência dos secundaristas.

As fortes e variadas correntes políticas valorizavam a UBES, mas

lideravam e ganhavam projeção os estudantes progressistas, pois não havia

unidade e no período de 1950 e 1956 as forças reacionárias existiam tanto na

UNE como na UBES, que articuladas queriam tirar os comunistas e seus aliados

da estrutura do movimento. Haviam estruturas organizadas atuando no

movimento, mas sem coordenação nacional, porém a UJC – (União da Juventude

Comunista) estava estruturada nacionalmente garantindo a preponderância deste

grupo na esfera nacional.

No 4º Congresso, houve o golpe, quebrando a hegemonia, em 25 de julho

de 1951 setores da direita liderados por Paulo Barbalho, tiveram confronto com os

integrantes da UJC e os opositores, sendo eles a minoria. Barbalho e seus

seguidores abandonaram o Congresso antes de término, e a eleição da nova

diretoria da UBES contou com uma chapa única, sendo eleito para presidente

Tibério César Gadelho.

Os estudantes que haviam abandonado o Congresso, ligados a UDN

(União Democrática Nacional) forjaram a documentação, criando um livro ata e

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registrando em cartório, tendo Paulo Barbalho como presidente. A chapa

vencedora ao chegar ao cartório, constatou o registro que a chapa golpista havia

efetuado, o qual foi considerado legal, tanto “as assinaturas como o livro ata”.

Assim ficou dividida a UBES.

Com a divisão do movimento os secundaristas não tinham o que

comemorar, após cinco anos do governo de Eurico Gaspar Dutra e o retorno à

Presidência da República de Getúlio Vargas (1951), mudando a história do Brasil,

não havendo reformas educacionais ou políticas públicas para mudanças no

ensino:

A mudança mais marcante ocorreu em julho de l953: o ministro da Educação, Ernesto Simões Filho, foi substituído pelo deputado Antônio Balbino- ambos do Partido Democrático (PSD), que compunha a base aliada do governo. Poucos dias depois, o Ministério da Educação e Saúde foi desmembrado em duas pastas, dando origem ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) e ao Ministério da Saúde. (CINTARA, MARQUES, 2009, p. 60).

Essas alterações beneficiaram somente o ensino superior, criando

“institutos e instituições de administração superior”, no segundo mandato, Vargas

teria deixado a desejar no que concerne à educação.

Pela divisão da UBES, ocorrida na 4º Congresso dos Estudantes

Secundaristas, após as manobras realizadas pelos golpistas, estes tinham apoio

das entidades estaduais, controlavam ainda a sede e a infraestrutura da Praia do

Flamengo.

A legítima diretoria tendo Tibério César Gadelha como presidente, lutava

pela legalidade, tendo os estudantes secundaristas duas entidades, sendo uma

liderada por tendências de esquerda e o PCB (Partido Comunista do Brasil) e os

golpistas, influenciados pelo Movimento dos Águias Brancas, travavam uma

batalha judicial, iniciando uma disputa para forçar cada entidade estadual a

posicionar-se em qual diretoria deviam apoiar.

Os golpistas alegavam a ilegitimidade do Congresso pela ausência das

delegações e suspeitando do resultado das votações, por outro, a direita,

alegando que a retirada das delegações de outros estados em protestos pelas

manobras que foram realizadas.

Em 19 de julho de 1951, deu-se a resposta,

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[...] jornais como O Popular publicaram [...] Manifesto em torno do Congresso dos Estudantes Secundários, assinado pela “mesa diretiva” do encontro e por “líderes de diversas bancadas. [...]” objetivo da diretoria legítima e seus aliados era “desmentir energicamente sucessivas notas divulgadas por uma pseudodiretoria” [...] “utilizando indebitamente o nome de nossa gloriosa entidade”. O manifesto esclarecia [...] 4º Congresso, uma comissão de inquérito impugnou [...] delegações de Pernambuco e do Estado do Rio. [...] as bancadas do Paraná, do Piauí e de Minas Gerais deixaram o encontro em solidariedade aos delegados impugnados. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 62).

Em nota, a legítima diretoria divulgou sob o título, “Desfazendo o embuste

de falsos diretores da UBES” um alerta sobre as manobras e asseverando que as

entrevistas dadas por Paulo Barbalho e Genival Souto seriam para enfraquecer e

dividir o movimento secundarista.

Entre tantas divergências a UNES, fundada em 1948, sendo a entidade

nacional legítima representante dos estudantes secundaristas, continuou as lutas

contra as recorrentes cobranças de taxas e de mensalidades.

No 6º Congresso Nacional, em 1953, concomitante ao 4º Congresso da

UPES na capital paulista, onde ocorreram mudanças no estatuto da UNES para

ampliar a participação, foi eleito presidente Dynaes como representante de

entidades municipais, tendo como primeiro vice Gianfrancesco Guarnieri, que se

destacaria posteriormente na dramaturgia e teledramaturgia brasileira, sendo

essa diretoria representada por lideranças de várias partes do Brasil.

Durante a gestão de Dynaes, e com o governo de Vargas politicamente

enfraquecido, despreocupado de vez com a educação, a luta dos estudantes em

defesa da reforma do ensino, como lembra o ex-presidente da UBES.

O ensino era assim: o ginasial que preparava para o colegial e o colegial que preparava para a universidade, pura e simplesmente. Uma das nossas batalhas foi o reconhecimento da Escola Normal, que formava professoras primárias, como curso secundário que não era reconhecido como tal. As escolas técnicas também não eram reconhecidas como tal. Então queríamos uma reforma de ensino, que abrangesse o conjunto e não ficasse só no ginásio, clássico e científico. (CINTRA, MARQUES, 2009, p.66 - 67).

As relações entre o governo Vargas e o movimento se dava através do

Ministro da Educação, Antonio Balbino de Carvalho, considerado aberto e

democrático, recebendo os estudantes para discutir as reformas educacionais, em

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suas reivindicações de oferta de ensino de qualidade. As pautas pela reforma de

ensino foram aderidas por outros segmentos sociais, culminando na aproximação

do movimento universitário, pois os alunos ao chegarem no ensino superior,

percebiam que os estudos que tiveram no colegial e científico não tinham

relação com a universidade.

No final do governo Dutra (1950-1953) e no segundo mandato de Vargas,

os estudantes secundaristas entre 18 e 19 anos de idade tiveram enfrentamentos

quanto às questões nacionais e o envio de tropas para a Guerra da Coréia, pelo

acordo firmado entre o governo Dutra e o governo norte-americano, e Vargas não

pode desfazê-lo. Essa medida atingia os estudantes secundaristas que estavam

na idade de servir o exército, pois os universitários tiveram como saída o próprio

curso universitário.

No 7º Congresso, realizado em Salvador, um mês antes do suicídio de

Vargas, foi reeleito Dynaes para presidir a UNES, sendo eleito no Rio de Janeiro

o gaúcho Carlos Salzano Vieira Cunha, pelos seguidores dos golpistas. Nesse

Congresso visualizou-se claramente as disputas entre UNES E UBES, com isso

foi eleito o sucessor de Dynaes, passando a liderar a UNES, Nissin Castiel, em

julho de 1955 em São Paulo. Quando anunciado que seria realizado o Congresso

da UNES, tendo como local a Biblioteca Municipal e no Centro de Professorado

Paulista, Aníbal Teixeira que comandava a diretoria da UBES solicitou a polícia

para não deixar a UNES realizar o Congresso em São Paulo, o qual foi suspenso

por dez dias, por considerarem os estudantes subversivos, mas houve pressão

sobre as autoridades que acabaram liberando, quando foram eleitos os demais

integrantes além de Nissin.

A UBES também reelege Carlos Salzano Vieira Cunha, no Rio de Janeiro,

e os dois congressos culminaram com a campanha de JK para presidente, que

venceu as eleições, assumindo o cargo em 31 de janeiro de 1956.

Por motivos pessoais, Nissin Castiel deixa a presidência da UNES e em

janeiro de 1956, no 8º Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas foi

aclamado o nome de Helga Hoffman para presidir a UNES sendo a primeira

mulher a dirigir a entidade nacional dos estudantes, sobre o qual ela afirma: “A

minha eleição foi uma coisa organizada de alguma forma, e eu não sei

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exatamente os detalhes, pelo Partido Comunista. Eu tinha 17 anos”. (CINTRA,

MARQUES, 2009, p. 71).

Apesar de ser uma breve gestão, o movimento caminhava para a

unificação. A UBES também mudou sua presidência, saindo Carlos Salzano e

assumindo José Luis Clerot, que foi também responsável pela unificação das

entidades.

Com as delegações participando tanto das atividades da UNES e da

UBES, reforçou a pacificação, Dyanes buscava saídas junto a Aníbal Teixeira,

como este defendia e buscava reformas para o ensino, foram discutindo as

diferenças, avaliando o que era possível fazer e caminhar juntos, buscando uma

unidade. Para os secundaristas, a reunificação era importante, pois divididos

perdiam forças. No começo do governo JK, meses antes da unificação das

entidades secundaristas, o setor educacional teve apenas 3,4% de investimentos,

abrangendo uma única meta, apesar de ter um compromisso com a democracia e

com o desenvolvimento e traçado um Plano de Metas, revelou-se um fracasso na

área da educação.

A unificação das entidades deu-se em meio à Greve dos Bondes, quando

a Light, empresa de transporte coletivo do Rio, aumentou a passagem dos

bondes. Os protestos continuaram, o que motivou ainda mais os presidentes da

UNES, Helga Hofman, e da UBES, José Luis Clerot, a decisão de unificar as

entidades, assim:

Em 24 de julho de 1956, o 9º Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas - também chamado Congresso da Unificação, acabou com a divisão do movimento [...] presença de delegações de entidades de todo o país [...] ocorreu no Instituto Parobé, em Porto Alegre (RS) [...] concordaram que o nome UBES prevaleceria [...] José Luis Clerot para presidir [...] o primeiro mandato pós-unificação.(CINTARA, MARQUES, 2009, p. 77).

Em 1964, os estudantes foram reprimidos pelo golpe militar, pois o Brasil

também passara por turbulências políticas e econômicas pelo governo

desenvolvimentista de JK e outros episódios como a Guerra Fria, breve mandato

do Jânio Quadros (1961) a implantação das reformas de João Goulart (1961-

1964), a cultura e a política influenciava na concentração entre “socialismo,

capitalismo, esquerda e direita”, o movimento estudantil estava bem articulado e

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unido quanto a seus “ideais progressistas, nacionalistas e ligeiramente

esquerdistas”, pois juntaram sua ações e seus interesses, sendo que para a

UBES e a UNE os anos de 1950 a 1964 foram considerados “anos dourados”.

O movimento secundarista se unifica, afinal, depois de

[...] cinco anos de divisão, tinha recuperado a unidade em 1956, no 9º Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas, em Porto Alegre. Ao mesmo tempo, escreve Artur José Poerner [...] encerrava-se “a fase de domínio direitista no movimento estudantil, também conhecida como Período Negro ou Policial da UNE, ou, ainda, simplesmente ‘o tempo de Paulo Egídio’. Quem passava a assumir a UNE era João Batista de Oliveira Júnior - que, segundo Poerner “promoveu um amplo movimento de politização estudantil, abalando, assim, o controle que o Ministério da Educação e Cultura exercia no que diz respeito a esse aspecto”. Sua gestão assinalou também, formação da primeira frente única de católicos e comunistas no movimento estudantil, autêntica precursora do pensamento ecumênico em nosso país”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 80-81).

A representação do movimento crescia, mas a UNE acabou ganhando

mais destaque, sendo os secundaristas considerados auxiliares, como infere a

última presidente a UNES ao MME, Helga Hofman: “Os secundaristas eram um

pouco auxiliares dos universitários, não tinham um autonomia e tal”. Mas o

jornalista Bernardo Joffily (UBES-1968-69 sempre achamos que os universitários

nos usavam pra bucha de canhão, porque) considera: “Nós, secundaristas, nas

passeatas, nós sempre éramos a imensa maioria, mas, na hora de levar a fama,

de aparecer no jornal, na televisão, eram sempre os universitários”. (CINTRA,

MARQUES, 2009, p. 81).

Porém, os secundaristas continuaram aderindo, realizando campanhas e

defendendo a democracia.

No final do mandato, JK teve como sucessor na Presidência da República

Jânio Quadros, apoiado pela União Democrática Nacional (UDN), eleito em 03 de

outubro de 1960, assumindo o governo em janeiro de 1961, permanecendo

apenas sete meses, de um mandato de cinco anos. Na curta trajetória, embora

dizendo seguir uma “política independente”, mas engajado economicamente aos

Estados Unidos, tinha tendências ao bloco socialista. Foi abandonado pela UDN,

com uma política inflacionária sem sucesso e sem apoio, Jânio renunciou em 25

de agosto de 1961, porém nunca se soube exatamente os motivos da renúncia.

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O breve mandato de Jânio não provocou mudanças na educação, porém

para os estudantes foi marcada, pela:

[...] criação do CPC e da UNE Volante, foi naquele mesmo ano que, pela primeira vez, uma liderança forjada na Igreja Católica chegava à presidência da União Nacional dos Estudantes. O feito coube a Aldo Arantes, da JUC (Juventude Universitária Católica) [...] depois ajudaria a criar a AP (Ação Popular), [...] ligada a setores católicos progressistas. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 89).

Em 1961, a principal ação do movimento estudantil foi a Campanha da

Legalidade, exigindo a posse de Jango na Presidência, quando os militares

contrários ao comunismo, rasgariam a Constituição para tomar o poder. Da “crise

de sucessão” originou-se a Campanha da Legalidade, quando o governador do

Rio Grande do Sul Leonel Brizola, liderou a campanha, com discursos no Palácio

Piratini e através das rádios, como a “Rede Radiofônica da Legalidade”

comunicando as “decisões de seu governo e a normalização do país”.

Envolvidos com a campanha, os estudantes saíram às ruas, e a adesão

foi aumentando, trabalhadores, intelectuais, escritores, inclusive a participação

dos times gaúchos Grêmio e Internacional.

A UNE transferiu-se para o Rio Grande do Sul, em parceria com a UEE-

RS (União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul) convocando

manifestações, montando uma “imprensa clandestina”, e ouvindo a rádio do

Brizola, de posse de um mimeógrafo passaram a imprimir as notícias em forma de

panfletagem e distribuída nos bairros, surtindo efeito. Em 02 de setembro

aprovado por emenda, o Congresso, instalou o sistema parlamentarista no Brasil,

que reduziu os poderes da Presidência, e em 07 de setembro de 1961, João

Goulart tomou posse, e de acordo com:

[...] “dados do IBGE: [...] Jango assume a presidência [...] encontra um Brasil com 70.779.352 habitantes, 39,5% de analfabetos, distribuídos nas faixas de 15 a 69 anos. Da população estudantil, 5.775.246 alunos estavam matriculados na rede de ensino primário, 868.178 no ensino médio, 93.202 no ensino superior e 2.489 nos cursos de pós-graduação”, escreve a historiadora Helena Bomeny, em artigo para o site do CPDoc-FGV. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 91).

Sendo aprovada a Lei de Diretrizes e Bases em dezembro de 1961,

Jango entusiasmado pelos programas de alfabetização de adultos, movimentos

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sociais e o ingresso ao ensino superior, deu espaço à “pedagogia da libertação”,

idealizada por Paulo Freire, educador pernambucano. No início dos anos 1960, o

sistema absorvia 9% das matrículas para jovens em idade secundarista. Neste

período, destacou-se o movimento estudantil, quando surgiu a (Ação Popular)

controlando a hegemonia da UNE até o golpe de 64. Outras forças de esquerda,

além da Ação Popular, destacavam-se, como o Partido Comunista Brasileiro

(PCB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e a Política Operária (Polop).

Com o esforço para promover as “reformas de base”, em 06 de janeiro de

1963, Jango ao comemorar o plebiscito, recupera o presidencialismo. Em meio a

crise política e econômica, a aproximação do presidente aos sindicatos e

movimentos sociais, amedronta a elite. As reformas propunham melhor

distribuição de renda, e a inflação disparava. Nesse período aconteceram os

Jogos Pan Americanos, em São Paulo, marcando o movimento secundarista, que

tinha voltado para ações junto à cultura e ao esporte.

Entretanto, o movimento estudantil e os sindicatos fortalecidos não

impediram os ataques direitistas, o que levou à derrocada do governo de João

Goulart no primeiro trimestre de 1964. Contra tal processo, Jango realizou uma

grande mobilização na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para o Comício

Central, ou Comício das Reformas, comparecendo mais de 300 mil pessoas de

“entidades estudantis, camponesas e sindicais”, para anunciar reformas:

As medidas anunciadas [...] ataque à propriedade privada, que impunha [...] exclusão e injustiça social. [...] nacionalização das refinarias de petróleo estrangeiras [...] ampla reforma agrária [...] desapropriação de terras improdutivas ao redor de rodovias, ferrovias e zonas de irrigação de açudes públicos e federais [...] reforma fiscal, bancária e administrativa [...] aluguéis tabelados, e os imóveis ociosos, desapropriados por utilidade social. Analfabetos e militares de baixa patente [...] direito ao voto. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 97).

Na semana seguinte, foi organizada uma “passeata anticomunista” com

participação de 300 mil pessoas, pedindo a cabeça do presidente “socialista”, era:

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, promovida pela Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) e pela Sociedade Rural Brasileira (SRB), com o apoio do Governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Compareceram [...] o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, e o governador da Guanabara, Carlos Lacerda. (CINTRA, MARQUES, 2009, p.98).

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Em 1º de abril de 1964, Dia da Mentira, apoiados pelas elites e pela

Central de Inteligência Americana (CIA), os militares tomaram o poder e houve

manifestações dispersas de trabalhadores e estudantes pró-Jango, além da

tentativa de uma greve geral dos estudantes. O presidente da UNE era o José

Serra, quando “[...] estudantes e todos os manifestantes, ao chegarem, viram que

o exército tinha mudado de lado”, depõe Artur José Poerner ao MME. Temendo

“derramamento de sangue”, e após alguns dias, o presidente não resistiu

exilando-se para o Uruguai.

Estando as bases políticas de Jango sem estrutura e à míngua, o

Congresso toma suas providências:

O Congresso, aliado aos golpistas, deu sustentação ao golpe e indicou em 2 de abril, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, para assumir interinamente a vaga de Jango. No mesmo dia, o General Costa e Silva declarou aos comandos militares que assumiria o cargo de Comandante-em-Chefe do Exército, autonomeando-se presidente do Brasil. Com o Ato Institucional 1 (AI-1), de 10 de abril, os militares cassaram direitos políticos de João Goulart por dez anos.(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 101).

A história da UBES foi marcada por muitas vitórias e derrotas, mas nada

foi pior que o Golpe de 1964, as entidades estudantis estavam desde o princípio

na “lista de morte” do regime militar (1964-1985). Com a destituição do governo

reformista de João Goulart e o golpe de 1º de abril de 1964 foi que,

Os militares intensificaram a perseguição às forças progressistas e democráticas. Conforme assinala Artur José Poerner, em O Poder Jovem: os estudantes “passaram, automaticamente, à condição de elementos de alta periculosidade para a segurança nacional, aos olhares ‘eternamente vigilantes’ das novas autoridades”. Ser estudante equivalia a ser ‘subversivo’. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 102).

As perseguições foram recorrentes e o enfrentamento marcou os

estudantes de forma brutal,

[...] declara ao MME o músico Carlos Lyra, um dos líderes de Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE. “No momento que nós entramos, nós começamos a ouvir as rajadas de metralhadora. Os caras estavam chegando e metralhando. E como havia um vão na parede de prédio da UNE, eles atiravam pelo vão para que as balas ricocheteassem e nos atingissem lá dentro. Então foi uma noite muito angustiante mesmo”.

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O Ato Institucional Número 1 (AI-1), editado pela ditadura, os militares mostram o autoritarismo, a cassação política dos opositores. A monstruosidade não para, como relata o artista plástico Ferreira Gullar, ex-integrante de CPC, “De repente ficamos parados em frente à sede da UNE, e, em volta de nós, uma multidão furiosa, com bombas de molotov e com revolveres, dando tiros e jogando bombas de molotov na sede. Como relatam as historiadoras Angélica Müller e Tatiana Rezende, “o regime assim, momentaneamente, ganhava uma batalha”. O prédio da UNE depois de incendiado, foi fechado. Em 1966 o governo decreta a Instalação do Centro de Artes da FEFIERJ (Federação das Escolas Federais Isoladas do Rio de Janeiro) que passava a funcionar na Praia do Flamengo, 132”. No regime militar foram cinco generais que marcaram duramente a vida dos estudantes e do povo brasileiro, sendo oprimidos pelas atrocidades cometidas pelos militares. O primeiro presidente do regime foi o general Humberto de Alencar Castelo Branco, que tinha como base de governo os decretos-leis e os atos institucionais, e os poderes Legislativo e Judiciário eram figurativos, embora não representasse a “linha-dura” em sua gestão na “longa noite” aconteceram “cassações, prisões políticas, censura, torturas e exílios.” A repressão militar causou pânico nos jovens estudantes que ficaram na mira dos militares, inclusive o afastamento de autoridades experientes. “A repressão policial militar, sofrida pelos estudantes sob o governo de Marechal Castelo Branco, além de tornar difícil a recapitulação de todas as violências contra eles cometidas, produziu um estado de perplexidade numa geração que só conhecia a ditadura de ouvir falar ou de ler nos livros”, escreve Poerner. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 102-104).

O trauma causado pela Lei Suplicy, acabando com a UNE, UBES e a AMES,

deixou profundas marcas na vida dos estudantes. Fragilizados pelas atrocidades

dos militares, os secundaristas foram os que mais sofreram com a ditadura, seus

líderes foram perseguidos, presos, tiveram suas sedes invadidas e depredadas,

além do envolvimento das entidades em Inquéritos Policiais Militares (IPMs), o

movimento estudantil secundarista foi desarticulado. Além da perversidade ao

movimento a Lei Suplicy na opinião do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi:

Um instrumento legal de repressão ao movimento estudantil. Aos estudantes secundaristas, o ministro Suplicy de Lacerda direcionou especialmente um parágrafo da lei: “Nos estabelecimentos de ensino de grau médio, somente poderão constituir-se grêmios com finalidades cívicas, sociais e desportivas, cuja atividade restringiria aos limites dos estabelecidos no regimento escolar devendo sempre ser assistido por um professor”. O governo Castelo Branco criou ainda os “ginásios para o trabalho” e limitava as manifestações culturais. “Há completa falta de bibliotecas, de publicações, exposições, de materiais esportivos. Não há estímulo à organização das bandas musicais, corais, teatros, programas culturais no rádio e TV, seminários e um verdadeiro mundo de outras coisas”, denunciava o Informe Secundarista. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 106-107).

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A Lei Suplicy criou um similar ao movimento secundarista, o DNE

(Diretório Nacional Estudantil), mas os secundaristas persistiram mantendo a

UBES funcionando mesmo na ilegalidade. Assim, as entidades secundaristas e

universitárias continuavam atuando abertamente, embora a UBES não tenha

conseguido realizar nenhum congresso nos anos de 1964, 1965 e 1966. Com

muita insistência as entidades mantiveram-se abertas e alguns grêmios de

escolas maiores atuavam com a supervisão das “autoridades educacionais”, não

tendo independência. Para os estudantes a alternativa que lhes restara era unir-

se contra a ditadura, por mais desfavorável que fosse:

A Lei Suplicy de Lacerda apresentou, contudo, um grande mérito: o de aglutinar, na luta pela sua revogação, o movimento estudantil, que atravessava naturalmente uma fase de reorganização, como consequência da perseguição aos seus líderes os membros da Diretoria que se encontravam à frente da UNE, sob a presidência de José Serra, em 1º de abri de 1964 estavam no exílio, na prisão ou desaparecidos. POERNER, 1979, p. 231).

Como a Lei Suplicy proibia os estudantes de se organizarem, estes

realizaram uma campanha para derrubar a lei e pela legalização das entidades.

Uma das ações foi o boicote às eleições do DNE e mobilizaram os estudantes

contra os acordos do MEC-USAID, que segundo Poerner: “constituíram o ponto

chave da política de desnacionalização do ensino brasileiro, mas não

representaram a única e nem a primeira tentativa norte-americana nesse sentido”

(POERNER, 1979, p. 233).

Os protestos continuavam crescendo, além da perseguição aos

estudantes foi extinto o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), no governo

Castelo Branco, e outras lideranças foram enquadradas na Lei de Segurança

Nacional:

O AI-2(outubro de 1965) detonou novas cassações, extinguiu os partidos e decretou eleições indiretas para presidente. [...] AI-3(fevereiro de 1956), disputas [...] governos estaduais [...] ficaram indiretas [...] prefeitos [...] nomeados. O descontentamento [...] se alastrava a mais setores da sociedade. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 110).

Em 1964, a UBES se organizava para programar suas ações para o ano

seguinte, embora sem diretoria, liderada “pelos quadros do PCB” e aderida pelos

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grandes colégios que defendiam as bandeiras de luta. Em 1966, na convocação

do Congresso da Ames, marcado no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de

Janeiro, houve reação da ditadura invadindo o encontro por agentes da Dops

(Departamento de Ordem Política e Social) não chegando ao fim, tendo a

entidade uma direção provisória.

Após quatro anos, a UBES realiza o Congresso Nacional dos Estudantes

Secundários (1967), tendo como local do encontro o restaurante Calabouço, para

enganar os órgãos de repressão, mas às vésperas da eleição o líder Fernando

Sarmento (PCB) foi preso e a presidência da UBES ficou a cargo de Tibério

Canuto de Queirós Portela.

Entre os protestos, o mais ousado contra o regime ocorreu no Aeroporto

de Guararapes, em Recife, quando da explosão de uma bomba que vitimou três

pessoas. As manifestações eram contínuas, sendo o presidente da República o

“linha-dura” Artur da Costa e Silva. Em seus primeiros meses de governo os

estudantes fragilizados e na clandestinidade, conseguem realizar encontros,

debates e manifestações, porém:

Os universitários promovem o 29º Congresso da UNE, renovando sua direção e elegendo Luís Travassos para presidente. Já a UBES [...] conseguiu finalmente realizar mais um Congresso [...] após três anos de espera. Os Secundaristas, [...] já davam algum sinal de fortalecimento antes de 1968. Protestos contra o ensino imposto pelos militares e o acordo MEC-Usaid pipocavam em vários estados [...] como a Bahia. [...] manifestações com 10 mil, 15 mil pessoas. [...] manifestações de manhã, tarde e noite, lembra o ministro da Cultura do governo Lula e ex-presidente da UBES, Juca Ferreira. Segundo ele, ‘1967 foi um ano de intensa manifestação do movimento secundarista na Bahia, [...] porque eram os que seriam mais afetados por aquela reforma de ensino’. “De setembro de 1966 até meados de 1968, as lutas estudantis [...] não assumiram mais caráter nacional”, escreve Artur José Poerner no livro O Poder Jovem. “De acordo com o escritor, outra novidade das manifestações, sobretudo as passeatas, era a “participação maciça” – e mesmo majoritária - de estudantes secundaristas”, o que refletia a composição do corpo discente no Brasil. Segundo o Censo Escolar de 1964, havia na época pouco mais de 1,8 milhões de secundaristas e apenas 137 mil universitários.(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 119 -120).

Os festivais foram a marca da rebeldia. A TV Excelsior promoveu o 1º

Festival de Música Popular Brasileira em abril de 1965, quando a:

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[...] vencedora foi Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. [...] ano seguinte [...] festival realizado pela TV Record [...] campeãs A Banda de Chico Buarque e Disparada composta por Geraldo Vandré e Teo Barros. [...] 3º Festival de Música Popular Brasileira, o “festival da virada” de 1967. Várias composições [...] Prêmio Sabiá de Ouro se tornaram clássicos da MPB, [...] Domingo no Parque (Gilberto Gil), Roda Viva (Chico Buarque) e Alegria, Alegria (Caetano Veloso) [...] as três músicas ficaram mais famosas até do que a Vencedora, Ponteio de Edu Lobo e Capinam. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 120).

Entre um festival e outro, em 1967, o governo de Castello Branco

extinguiu o Diretório Nacional dos Estudantes que havia substituído a UNE. O

Decreto-Lei 288 revogava a Lei Suplicy e proibia a organização de qualquer

entidade estudantil, deixando a situação mais difícil para os estudantes. O

ministro de Guerra Costa e Silva, em 8 de setembro de 1965, fez um depoimento

prometendo ao povo quando chegasse à presidência não “alijar os estudantes da

vida pública”, porém a arbitrariedade e a repressão da era Castello Branco se

intensificaram, inclusive das manifestações de 1968, iniciando a “fase sombria do

regime militar”. A repressão intensificou-se no governo de Costa e Silva.

O grande marco dos conflitos entre o movimento estudantil e a ditadura

militar foi a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, no Rio de

Janeiro em 1968, sendo assassinado em frente ao Restaurante Central dos

Estudantes, conhecido como Calabouço, durante uma manifestação. Os

subsídios repassados pelo Ministério da Educação no governo de Costa e Silva

diminuíram, a ponto de interromper a reforma do refeitório sem explicações, além

de ameaças dos militares com sua demolição para construir um viaduto. Os

protestos continuaram em “28 de março de 1968, uma quinta feira” os estudantes

organizavam uma passeata reivindicando melhorias para o Calabouço e fim da

ditadura militar, a polícia foi avisada com antecedência cercando o prédio e

criando um clima de guerra, e com ordens para atacar. “O Calabouço foi

metralhado sem parar”, quando:

Uma bala perdida atingiu o comerciário Telmo Matos Henrique. Dois estudantes foram atingidos – o próprio Edson Luís, no peito, e [...] Benedito Frasão Dutra, no braço e na cabeça [...] Edson Luís e Benedito Frasão Dutra [...] levados a Santa Casa de Misericórdia [...] nenhum sobreviveu [...] Edson Luís chegou ao hospital sem vida, vítima de um tiro[...] arma calibre 45 [...] aspirante da PM Aloísio Raposo. [...] marca da covardia [...] indefeso estudante. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 124).

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A mobilização era intensa, milhares de pessoas foram ao cortejo,

entoavam o Hino Nacional, acenavam bandeiras, as pessoas carregavam velas e

lanternas, pois parte da iluminação não tinha sido acionada. Para Artur Poerner

(1969), “foi o momento de apogeu do movimento estudantil. Os estudantes eram

naquele momento, a vanguarda de resistência à ditadura militar”. (CINTRA,

MARQUES, 2009, p. 128).

A reconstrução da UNE e da UBES, foi marcada por repressão,

crueldade e proibições do regime, contudo os estudantes buscavam a todo custo

reconstruir as entidades.

Em 15 de março de 1974, Ernesto Geisel assume a Presidência

substituindo o general Emílio Garrastazu Médici, o mais agressivo dos generais

da ditadura militar (1964-1985). A chegada de Geisel à Presidência prometera a

“distensão”, o partido do governo a Arena, já não era unânime, demonstrando

claramente que o povo embora amedrontado, procurava reagir, sinais de que o

regime militar estava chegando ao fim. As expectativas do governo de Geisel

eram otimistas, ensaiava o diálogo com a igreja, a oposição e setores intelectuais.

Em 24 de agosto de 1974, o presidente num discurso histórico assumiu que a

“distensão” seria “lenta, gradual, e segura”, mas Geisel não contava com o

crescimento parlamentar do MDB nas eleições do mesmo ano.

A política de “distensão”, segundo o deputado federal e ex-presidente da

Une Aldo Rabelo “funcionou como certo estímulo”. Em depoimento ao MME, Aldo

diz que:

para uma parte de juventude que tinha mais receio de participar da

política, receio de pai e mãe, essa política “distensionou” a vida política

dentro da universidade. Eu lembro que a gente não escutava o Geraldo

Vandré e o Chico Buarque, publicamente. Não queríamos que fosse

público o fato de ouvirmos cantores e compositores que contestavam o

sistema. Havia esse risco [...] passamos a fazer isso publicamente [...]

estimulamos festivais de música dentro da universidade. (CINTRA,

MARQUES, 2009, p. 189).

Enfim, em 1979 é Promulgada a Anistia o que possibilitou que os militares

envolvidos em casos de tortura, assassinatos e desparecimentos forçados não

fossem julgados pelos seus atos. Por outro lado, permitiu que a oposição ao

regime pudesse voltar ao país sem risco de prisão. O tema da anistia

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frequentemente volta à Justiça para que estes militares e civis envolvidos em

graves violações dos direitos humanos possam ser julgados e que a verdade

venha à tona. A transição política não foi tranquila, inclusive bombas foram

deflagradas por militares insatisfeitos com a abertura política, como nos atentados

ao Riocentro, à OAB e às bancas de jornal. Em 1984, grandes movimentos pelas

Diretas Já! para escolha do próximo Presidente não convencem os deputados e o

Colégio Eleitoral escolhe novamente o governante máximo do país por eleição

indireta. Desta feita, elege-se Tancredo Neves que não assume o posto, ao

falecer dá lugar a um velho aliado da ditadura, José Sarney, a quem coube dirigir

o processo institucional de democratização do país. A Censura, curiosamente só

terminaria 4 anos após o fim do regime autoritário.

Entre os anos de 1987 e 1989, acontecem mudanças nas duas entidades

estudantis, sendo que a UNE pela primeira vez elege um presidente do PT,

rompendo a hegemonia com os oito anos de hegemonia do PCdoB, desde o

Congresso de Reconstrução. Em 1989, a UNE usou o critério da

proporcionalidade para compor a diretoria e o PCdoB participou da direção, tendo

assumido a direção dois anos depois.

Para a UBES, o 26º Congresso, em Brasília, nos dias 16 a 19 de julho de

1987, foi muito:

[...] amplo e representativo [...] reuniu entidades populares, estudantis [...] parlamentares dos mais diversos partidos, em defesa de uma Constituinte progressista e do ensino público gratuito. [...] abraçaram o Congresso Nacional [...] uma bandeira da UBES [...] marcando presença [...] na elaboração do novo texto constitucional. [...] O congresso serviu [...] demarcar posições sobre a política nacional [...] um grupo de delegados liderados pelo MR8, defendia o apoio da UBES ao governo Sarney [...] demais forças, em lado oposto, acreditavam na autonomia da entidade operante o governo federal.(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 239-249).

Em 1988, um ano de grandes conquistas, apoiados pela UBES, os jovens

comemoraram a aprovação da Constituição Federal, conhecida como

“Constituição Cidadã” que expressa os direitos de participação dos cidadãos. A

Constituição foi aprovada com 355 votos a favor e 95 contra, mantendo a

obrigatoriedade do voto aos 18 anos, e estabelecendo aos jovens de 16 e 17

anos o direito ao voto facultativo. Segundo o IBGE, o Brasil estava com quase

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seis milhões de jovens que podiam desfrutar desse direito. “A Constituição

garantiu as eleições diretas para presidente, governadores, deputados federais,

estaduais, prefeitos e vereadores.” (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 244.245).

Apesar da UBES continuar dividida, foi durante o 28º Congresso Nacional,

que a situação mudou:

No 28º Congresso Nacional da UBES, em Santo André, em setembro de 1989, a União da Juventude Socialista (UJC), em que o PCdoB tem maioria, consegue reeleger o presidente Manoel Rangel. Mas em decorrência de cisão criada em 1987, o MR-8 havia criado uma UBES dissidente, situação que perdurou até 1992, quando um Conselho Nacional de Entidades Gerais reunificou as diretorias. (POERNER, 2004, p. 298-299).

No movimento estudantil atuavam diversas correntes políticas que de

certa maneira influenciavam ou participavam na organização e aproximação com

o governo. No movimento secundarista não era diferente, pois: “As principais

correntes políticas que atuavam no movimento secundarista eram o PCdoB, PCB,

MR-8, Libelu e a Convergência Socialista”. (ARAUJO, 2007, p. 263 apud PAIVA,

2011, p. 65).

Quanto ao Congresso de Santo André, a UBES promove antes das

eleições presidenciais de 1989 um debate entre os candidatos. A preferência que

a maioria da sociedade e as entidades estudantis tinham eram pelos candidatos:

[...] o metalúrgico do PT, Luiz Inácio Lula da Silva; [...] Leonel Brizola (PDT); Mário Covas (PSDB); [...] o peemedebista Ulysses Guimarães. [...] as elites [...] abraçou ostensivamente o governador de Alagoas [...] do recém-fundado PRN, Fernando Collor de Mello. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 246).

A disputa eleitoral no segundo turno entre Collor e Lula foi realizada em

dezembro, Collor que prometera governar para os “descamisados” e “pés

descalços” foi eleito com 35 milhões de votos, sendo “o mais jovem brasileiro

assumir a Presidência da República” em 15 de março de 1990.

Os estudantes voltam às ruas para uma das maiores manifestações,

sendo esta compartilhada com toda a sociedade brasileira:

[...] por patrões, profissionais liberais e trabalhadores, estudantes, professores e “tubarões” do ensino, jornalistas, editores e barões da

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mídia, artistas, produtores e empresários culturais, partidos de esquerda, de centro e até de direita. Instituições tradicionais como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa)-com histórico de resistência à ditadura (1964-1985)-engajavam-se agora na campanha do “Fora Collor”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 256).

Organizados como nos anos 60, os estudantes se sobressaíram, pintaram

o rosto com as cores da Bandeira Nacional e ficaram conhecidos como os “caras-

pintadas”, liderados pela UNE e UBES e demais entidades. Assim,

[...] foram os primeiros a sacar que os níveis de corrupção, enquadrilhamento e banditismo no alto escalão governamental haviam gerado um daqueles momentos decisivos da nação, em que não há justificativas para a apatia ou omissão de qualquer brasileiro. (POERNER, 2004, p. 299).

O processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello se

iniciou em 1992, com os indícios de uma gestão fracassada, com pouco mais de

dois anos de governo, de seu prestígio e a popularidade para a incapacidade. Um

governo eleito democraticamente, que prometia governar para os “descamisados”

e “pés descalços” e assumiu a Presidência aos 40 anos de idade, sendo o mais

jovem político brasileiro, tomando posse em 15 de março de 1990.

“Os materiais e depoimentos, as graves denúncias colhias pela CPI”,

incriminam ainda mais o presidente Collor, e o impeachment se torna realidade:

O Paraná foi o primeiro: a primeira manifestação de envergadura pelo impeachment aconteceu em 07 de agosto, em Curitiba, com o apoio do governador Roberto Requião e a presença do recém-eleito presidente da UNE, Lindbergh Farias, dos presidentes da OAB, Marcelo Lavenère, e da CUT, Jair Menegueli, bem como de políticos Franco Montoro, Luís Inácio Lula da Silva e João Amazonas. O ato coincidiu com a invasão estudantil a Reitoria da Universidade Católica do Paraná, em protesto contra aumentos abusivos das mensalidades. [...] o reitor ordenou [...] os funcionários abandonassem o prédio, a ocupação se prolongou durante um mês e meio [...] os estudantes não só administraram a reitoria como utilizaram a gráfica universitária para imprimir material de propaganda do impedimento. (POERNER, 2004, p. 299.300).

As manifestações ecoavam de norte a sul do Brasil, revoltosos pelos

escândalos os jovens liderados pela UNE e a UBES, foram às ruas juntamente

com “milhares e milhares de pessoas ‘trajados de preto’ pintaram o rosto de preto,

em luto contra Collor”. Coincidentemente a música Alegria, alegria de Caetano

Veloso era a trilha sonora da minissérie Anos Rebeldes que se referia ao

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movimento estudantil de 1968, na ocasião estava sendo “exibida pela TV Globo”,

passando a fazer parte das passeatas.

Com as boas graças da população em geral, indignados com os escândalos que espocavam quase todos os dias, a campanha dos “caras-pintadas”- aplaudida até pelo arqui-inimigo Erasmo Dias [...] PDS em São Paulo – foi crescendo que tingiu o Brasil de verde e amarelo, e às vezes, de preto enlutado. Levou centenas de milhares de pessoas às maiores passeatas dos anos 90-mais de 300 mil em São Paulo, em 25 de agosto, só acabou com a derrubada do presidente e a posse do seu sucessor, Itamar Franco, em outubro de 1992. (POERNER, 2004, p. 300).

A UNE recuperou o prestígio e com Lindbergh Farias (PCdoB)

representante na Câmara dos Deputados, tendo como sucessor Fernando

Gusmão sendo “vereador no Rio” retoma a terreno da UNE roubado dos

estudantes pela ditadura, situado na Praia do Flamengo, 132, fato histórico

comemorado em 17 de maio de 1994, quando Itamar Franco assina o protocolo

de devolução do terreno aos estudantes.

Os estudantes secundaristas após a derrubada de Collor e a ascensão de

Itamar Franco à Presidência, ficou a UBES mais unida e amadurecida para

continuar lutando pelos seus ideais.

MOVIMENTO ESTUDANTIL PARANAENSE

A atuação do Movimento Estudantil Paranaense, não difere da forma

como os demais estudantes brasileiros se organizaram, pois também buscavam

mudanças sociais, políticas e educacionais.

É importante ressaltar que a representatividade do movimento estudantil

conta com duas entidades como a UPE - União Paranaense dos Estudantes, “em

16 de setembro de 1939, é fundada U.E.E. - União Estadual dos Estudantes do

Paraná”, com a finalidade de organizar e ampliar a participação dos estudantes

nos debates sobre as questões educacionais e fortalecer a representatividade do

movimento.

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Uma das participações expressivas da UPE- União Paranaense dos

Estudantes foi na campanha o “Petróleo é Nosso” onde os estudantes publicavam

seus artigos na “Revista Paraná Universitário e no Jornal Flâmula”.

A ditadura militar marcou também os estudantes paranaenses, pois com a

criação do Ato Institucional nº 1 de 1964, que passou a restringir os movimentos

sociais, inclusive os movimentos estudantis, todo movimento estudantil

paranaense foi também atingido e também pela criação do Ato Institucional nº 4

de 01 de abril de 1969 que decretou a extinção da UNE e demais entidades

estudantis. Como relata Madson Oliveira, jornalista e ex-presidente da UPE 2001-

2003/2003-2004, “em 14 de junho de 1968 o Ministério Público Federal, moveu

uma ação de dissolução e liquidação da sociedade da UPE, com a justificativa [...]

que a entidade havia contraído dívidas, com fornecedores [...] que o patrimônio,

após liquidar as pendências, seria repassado a UFPR”. (OLIVEIRA, 2013, História

da UPE – ANEXO 01).

Nos anos 80, com a reconstrução de várias entidades inclusive a UNE,

para a UPE não foi diferente, que após a ditadura no congresso elegeu seu

primeiro presidente Vicente Palhares. Atualmente aos setenta anos de existência,

a UPE - União Paranaense dos Estudantes continua atuando e defendendo os

direitos dos cidadãos e dos estudantes paranaenses.

A entidade de representação dos estudantes secundaristas do Paraná,

fundada em 17 de junho de 1945 denominada UPES – União Paranaense dos

Estudantes Secundaristas e pelas pesquisas realizadas por Schmitt (2011),

descreve que:

Art.1º - A União Paranaense dos Estudantes Secundários – UPES [...] é uma entidade estudantil, de cunho assistencial, que visa a melhoria das condições de vida, a elevação de nível intelectual e o aumento das condições de estudos, do corpo discente dos Estabelecimentos de Ensino Secundário e do grau médio do Estado do Paraná, através de congregação dos Grêmios Estudantis e Uniões Municipais Secundaristas desta Unidade de Federação. (Pasta da UPES nº.2331, topografia 265 apud SCHMITT 2011, p. 110).

Os relatos da atuação e organização da UPES serão discorridos pela

pesquisa realizada por Schmitt (2011) nos documentos da DOPS, que segundo a

autora “devido as pastas da DOPS não estarem organizadas de maneira

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adequada para a realização da pesquisa”, o que dificulta uma sequência dos fatos

e da forma que se organizavam os estudantes secundaristas.

Durante a ditadura militar foram usados órgãos de repressão para

controlar a ação dos cidadãos, como as DOPS, para observar as pessoas que

supostamente ofereciam perigo ou atentavam contra o Estado ou a Segurança

Nacional, na visão da ditadura.

As instituições policiais tinham como objetivo controlar as pessoas e as

instituições que por suas ações podiam ser consideradas “comunistas” e ou

“subversivas”, como destaca: “perseguição aos movimentos da pessoa suspeita;

violação de correspondência; prisão sem culpa formada; acusações, inquéritos,

conclusões sem provas, entre outras” (MACIEL, 2000 apud SCHMITT, 2011, p.

89). Assim

“A organização e atuação das delegacias de ordem política e social cumpre um roteiro: a) investigação: ocorria por meio de coleta de dados e vigilância preventiva daquele considerado suspeito e os dados coletados poderiam ou não fazer parte de um prontuário de instituição ou indivíduo investigado; os documentos coletados eram: radiogramas, fotografias, recortes de jornais, entre outros; b) censura: caracteriza-se no procedimento adotado após a investigação ou paralela a ela, quando averiguada a existência de alguma atividade que representasse subversão, era então feito controle político-cultural ou de qualquer forma de expressão que significasse ameaça à ordem estabelecida; c) repressão: digamos que esta seria a última instância da polícia política e que ocorria após constatado que havia atividade subversiva, sendo que as ações poderiam ser a princípio através de perseguição política até a ações de castigos físicos, caracterizados como tortura”(RONCAGLIO, 1998 apud SCHMITT, 2011, p .89).

O controle sobre as pessoas e as instituições como forma de garantir a

“segurança nacional” não se extinguiu, apesar do fim da ditadura civil-militar,

[...] embora os registros das ações dos Dops estejam associados aos períodos de ditadura na República brasileira, esse Departamento, assim como outras instituições de informação política do Estado, nunca foi extinto. Sempre existiram, quer o governo fosse mais ou menos democrático ou mais ou menos ditatorial. A preocupação com a informação sempre foi uma “questão de segurança nacional”. O que demarca as diferenças são, entre outros aspectos, as formas de obter os dados, as informações sobre as condutas individuais; as nuanças de se respeitar os direitos civis. (KUSHNIR, 2002, p.561 apud SCHMITT, 2011, p. 89).

Nesse sentido, Fiuza relata que nesse período as atividades de vigilância

realizadas pela DOPS podiam acontecer “[...] ainda hoje por um dos setores das

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polícias estaduais, a chamada Polícia Reservada (P2)” (2006, p. 24, apoud

Schmitt, p. 90).

As DOPS ou os DOPS, durante a ditadura civil-militar atuaram em

momentos distintos e intensos como descreve Kushnir:

No papel acumulador e gerenciador de informações, fazendo-as circular e abastecendo órgãos de inteligência de dados, os Dops estaduais viveram em uma só década-de1968 a1979 (do AI-5 à Anistia) – seu apogeu, crise e início do processo de extinção. (KUSHNIR, 2002, p. 559 apud SCHMITT, 2011, p. 90).

O período de atuação dos órgãos de repressão foi intenso

Como é sabido, houve variações na intensidade da repressão durante a Ditadura Militar: em certos momentos, como na fase imediatamente posterior ao golpe ou na conjuntura que se iniciou em 1968, a repressão foi muito intensa; em outras fases, como no período seguinte às primeiras punições (junho de 1964 a outubro de 1965) e durante a “distensão” e “abertura” políticas promovidas nos governos Geisel e Figueiredo, o número de punições decresceu. (FICO, 2001, p.18 apud SCHMITT, 2011, p. 90).

Sete anos após a extinção das DOPS, que se deu por volta de 1984, os

arquivos e documentos da polícia política do Brasil, foram abertos às pesquisas,

mas pela forma inadequada de arquivar, o descaso na conservação e o local de

guardá-los, dificultou o acesso aos pesquisadores, assim:

Durante o ano de 1991, se efetivaram as devoluções aos órgãos de arquivo, dos acervos das polícias políticas dos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. E em cada um desses Estados havia uma situação peculiar quanto à tipologia documental, às datas-limite e, também quanto ao processo de recolhimento, propriamente executado. A devolução se fez graças à luta pelos direitos humanos consagrada, no texto constitucional em vigor, no princípio do habeas-data, expressão latina, que significa “tenhas a tua informação”. (DOCUMENTO DOPS RJ, 1996, p.19 apud SCHMITT, 2011, p. 90).

Para acessar os arquivos da DOPS, há uma legislação e normatização,

pois implica no passado das pessoas vítimas de tortura e repressão, como

também sobre o passado do país durante o período da ditadura.

No Paraná a legalidade foi instituída pelo Decreto Estadual nº 577, de 11

de junho de 1991, “[...] que extinguiu a Subdivisão de Segurança e Informação da

Polícia Civil – SSI, anteriormente denominada Delegacia de Ordem Política e

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Social – DOPS e transferiu o seu acervo documental ao Departamento Estadual

de Arquivo Público – DEAP”. (RONCAGLIO, 1998, p.41 (51) apud SCHMITT,

2011, p. 91).

Quanto ao acervo da DOPS no Estado do Paraná este é:

resultado de atividades de investigação, vigilância e controle feitas pela Chefatura da Polícia no começo do século, pelo Comissariado de Investigação e Segurança Pública na década de 1920, pelas Delegacias de Vigilância de Investigação e Delegacia de Vigilância e Capturas, na década de 1930, até transformar-se em Delegacia de Ordem Política e Social, criada pela Lei nº177, de 05 de março de 1937, com atuação até a década de 1990. (RONCAGLIO, 1998 apud SCHMITT, 2011, p. 91).

Para o pesquisador ter acesso ao acervo da DOPS, é necessário assinar

um Termo de Responsabilidade, que transfere ao pesquisador a responsabilidade

de utilização dos dados pesquisados junto ao Arquivo Público do Paraná, que é

normatizado pelo Decreto nº.4348 de 29 de junho de 2001.

Desta forma os documentos da DOPS, utilizados como realização de pesquisas,

tem algumas particularidades:

Vale ressaltar que a documentação dos arquivos dos DOPS somente foi liberada no início da década de 1990 e é possível que ela tenha sido dilapidada por setores dos governos estaduais e federais, bem como pelas polícias estaduais e pela polícia federal. Outro dado é que, apesar dos êxitos, os DOPS entre 1982 e 1983, os serviços de informação continuaram operando em sua tarefa de investigação política até o final da década de 1980, em particular, junto ao acompanhamento de sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais e estudantis, comunidades eclesiais de base, grupos de luta pela terra, entre outros. (FIUZA, 2006, p. 24 apud SCHMITT, 2011, p. 92).

Quanto a UPES, muitos documentos foram encontrados com informações

nas pastas/dossiês sobre os eventos e a organização dos estudantes

paranaenses, como descreve Schmitt:

[...] materiais diversos [...]-ofícios, fotos, relatórios dos eventos, recortes de reportagens, [...] tinha como objetivo demonstrar atos de subversão ou [...] justificar que os estudantes organizavam-se dentro da legalidade. Há documentos produzidos pela polícia política [...] pelos estudantes, os quais solicitavam permissão para realizar seus eventos, atestados de boa conduta, tanto da UPES, [...] membros da diretoria [...] informações sobre os eventos [...] convites para que as autoridades da polícia política participasse. (SCHMITT, 2011, p. 92).

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Os relatos da pesquisa nos documentos da DOPS-PR, Schmitt 2011 traz

relevantes informações que estão diretamente ligadas à atuação de UPES com

relação ao período de repressão da polícia política. (grifo nosso).

A expressão de como atuou a DOPS, apesar de não optar pela repressão

violenta a autora encontra

[...] nos arquivos da DOPS recorte (53) de uma reportagem do Jornal Correio de Notícias, de 21 de junho de 1979, na qual o então deputado estadual Nelton Friedrich questionava o governo do Estado sobre a destinação dos bens da entidade que representava os estudantes universitários no Estado, a UPE” (SCHMITT, 2011, p. 95).

Em relação a essa matéria Heller descreve:

No dia da eleição de Stênio Sales Jacob à presidência da UPE, o presidente Costa e Silva baixou decreto extinguindo a entidade. A polícia federal invadiu a sede, levando máquinas de escrever, uma estação de radioamador, objetos pessoais dos estudantes e muitos livros. (HELLER, 1998, p.299 apud SCHMITT, 2011, p.96).

Podemos observar que a polícia política e os estudantes universitários

paranaenses não tinham uma relação amistosa, pois a UPE foi invadida e extinta

como entidade de representação dos estudantes, tendo seus bens confiscados.

MOVIMENTO ESTUDANTIL NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ

Destacaremos o movimento estudantil paranaense, como um recorte de

estudo da região Oeste do Paraná, utilizando como referência a obra

“Encontros e Desencontros do Movimento Estudantil Secundarista

Paranaense (1964-1985)” de Silvana Lazzarotto Schmitt de 2011.

Devido à escassez de material de pesquisa esta obra define-se como um

trabalho de entrevista a alguns cidadãos que fizeram parte do movimento

estudantil no período de controle da ditatura e ainda estão vivos. Caracteriza-se

dessa forma que o movimento existiu. Foram entrevistadas pessoas residem em

Cascavel, Foz do Iguaçu, Palotina.

Não há nessa obra nenhuma citação de morte, tortura ou repressão ao

Movimento Estudantil, pois os arquivos liberados para pesquisa não dispunham

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desse material. Há que se considerar que, um Brasil autoritário, não abriu e quiçá

abrirá tão “espontaneamente e rapidamente” seus arquivos, embora podemos

considerar que numa democracia já se faz tardia tal ação.

O Movimento Estudantil na região Oeste do Paraná aconteceu em

Grêmios, legalmente constituídos nos colégios estaduais os quais realizavam

encontros, eventos com o objetivo de angariar fundos para compra de materiais

necessários às escolas. Evidencia-se nesses relatos que a polícia política do

Paraná tinha total controle das ações desses estudantes, os quais eram de certa

forma condescendente com os eventos, já que os mesmos não tinham caráter

revolucionário. Eram por assim dizer tímidos.

Como estamos revendo a história, nem sempre escrita, importante

relembrar que a história do Paraná não aconteceu em revelia ou

descontextualizada do restante do Brasil, outrora cabe afirmar que a

impossibilidade em tecer maiores comentários acontece devido a não existência

no momento de material para tal. Parafraseando Paulo Freire “a história

prossegue, as experiências prosseguem, prosseguir-se, educar-se para refazer-

se”. (FREIRE, 1997, p. 50).

GRÊMIO ESTUDANTIL - ESPAÇO DE DISCUSSÃO DEMOCRÁTICA

“Eu acredito é na rapaziada Que segue em frente e segura o rojão Eu ponho fé e na fé da moçada Que não foge da fera, enfrenta o leão Eu vou à luta com essa juventude Que não corre da raia a troco de nada Eu vou o bloco dessa mocidade Que não tá na saudade e constrói A manhã desejada”... (Gonzaguinha).

O movimento estudantil desde o seu surgimento até os dias de hoje

desdobrou-se em vários seguimentos como a UNE, a UBES e o Grêmio

Estudantil que teve sua origem no Brasil Colônia, porém na atualidade devido a

ditadura militar é pouco atuante e muitas vezes desprezado pelos

estabelecimentos de ensino e a sociedade.

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A partir da vivência que as contradições que o regime militar apresentava,

foram surgindo os movimentos dos grêmios como resposta da luta dos estudantes

pela liberdade, pela dignidade, pelo direito a educação, o direito de ir e vir e

finalmente pela democratização de um país alijado aos comandos absolutistas

dos governantes.

Os grêmios estudantis apresentavam um caráter político-social tendo

grande representatividade na sociedade, pois dele faziam parte jovens estudantes

de cursos universitários e secundaristas. Veemente reprimido pelo regime militar,

de acordo com Rodrigues:

Os grêmios estudantis existiram ou coexistiram com o período ditatorial militar no Brasil. No ano de 1968 foram extintos pelo Decreto-lei – AI-5 – Ato Institucional nº5, publicado em maio do ano supracitado. A substituição se deu por meio da criação dos Centros Cívicos. [...] as propostas do grêmio estudantil e dos centros cívicos existem importantes diferenças nas bases de suas formulações. Os grêmios [...] resultado da luta dos estudantes por maior liberdade, da

consciência política [...] adquirida a partir da vivência [...] as contradições

presentes no regime militar. Centros cívicos [...] ideia de culto à Pátria

[...] valorização de símbolos e signos ‘patrioticamente’[...] para figurar na

memória do estudante. (RODRIGUES, 2012, p. 124).

A Secretaria de Educação do Paraná apresenta na forma de gibi, que tem

como destaque de capa (1985), adolescentes representando a organização dos

estudantes, estimulando-os para que participem na formação e atuação dos

grêmios nas escolas, dando a ideia de que, essa formação livre resgata o sentido

democrático e o sentido político da educação.

Brasil! Mostra a tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim Brasil! Cazuza, 2012.

Ao analisar a letra da música, em quem o compositor buscou inspiração

para dar essa mensagem? Refletindo nos reportamos aos jovens que precisam

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apropriar-se da história, buscar esclarecimento sobre os fatos, fazer-se conhecido

e sujeitos da própria história.

Compreendemos que é no espaço escolar que se recebe os primeiros

princípios democráticos, haja vista a organização institucional e se incorpora as

novas formas de discussões que dão sustentação ao processo de participação

com base na cidadania e democracia. Entretanto o antagonismo de ideias que se

faz presente em cada espaço é o ponto de partida para os debates e embates

para a transformação social. Isso demonstra que viver em sociedade não é um

movimento mecânico, automático ou neutro e sim que as relações sociais

demandam confrontos, oposições, insatisfações que mexem com as estruturas

estabelecidas. E é no espaço escolar que isso acontece. Sob esse enfoque há

que assegurar um modelo de escola que cumpra sua função precípua que é a de

garantia dos conteúdos historicamente acumulados pela sociedade e dessa forma

a emancipação das classes populares que dela fazem parte.

Nas últimas décadas vem se falando em gestão democrática, mas o que

isso implica na relação dos sujeitos enquanto organização e participação? Implica

em organização o que está prescrito na Constituição Federal no inciso lV do artigo

206/1988, determina sobre a “gestão democrática na forma da Lei’, o que reforça

esse princípio a LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Lei

9394/96, estabelecendo em seu artigo 3º, inciso VIII, um dos princípios que rege o

ensino é a gestão democrática.

Para compreender essa relação, precisamos entender os conceitos de

cidadania e democracia, possibilitando aos sujeitos seus direitos e ao exercício

consciente da participação como forma de transformação, afinal:

Cidadania pressupõe o Estado de direito [...] da igualdade de todos perante a lei e do reconhecimento de que a pessoa humana e a sociedade são detentores inalienáveis de direitos e deveres. Processos participativos acentuam [...] a cidadania organizada [...[não a individual, por mais que esta também tenha a razão de ser. A organização traduz um aspecto importante da competência democrática.(DEMO, 2009, p. 70).

.

GRÊMIO ESTUDANTIL – QUAL NOSSA ORIGEM E A QUE VIEMOS?

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No pré-Golpe de 1964 e mesmo durante parte da ditadura, os grêmios

estudantis apresentavam um caráter político-social tendo grande

representatividade na sociedade, pois dele faziam parte jovens estudantes de

cursos universitários e secundaristas.

Em 1968, a repressão e a violencia abateram-se sobre o movimento

estudantil em todo o País, com a morte do estudante secundarista, segundo

Poerner “a morte de Edson Luís constitui um marco na história brasileira -

despertando forças de oposição e protestos até então aparentemente

adormecidas”.(POERNER,1979, p. 301).

Entre outras manifestações, merece destaque a Marcha de Protestos ou

dos Cem Mil, que gerou perspectivas de abertura democrática, onde livros foram

publicados, artigos denunciando o regime militar, canções de protestos como a de

Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores e Caminhando”.

(FÁVERO, 1994, p. 57).

Em 14/10/1968 a UNE-União Nacional dos Estudantes realiza o XXX

Congresso Nacional dos Estudantes. O Estado vivia um período de turbulência e

opressão, o que gerou reações militares severas:

[...] no dia 13/02/68 foi outorgado o AI-5, o mais drástico de todos os atos institucionais [...] fechamento do Congresso; intervém-se em estados e municípios e nomeiam-se os respectivos interventores; intensifica-se os decretos de suspensão de direitos políticos de oposicionistas pelo prazo de dez anos; cassam-se mandatos eletivos federais, estaduais e municipais [...] suspende a garantia do habeas corpus nos casos de crimes [...] a ordem econômica e social, e economia popular. (FÁVERO,1994, p. 57).

A população brasileira estava por presenciar os mais sombrios períodos

nunca antes vividos, sendo a submissão a total ditadura de seus governantes com

morte ou prisão de seus oposicionistas. Dessa forma o movimento estudantil

enfraqueceu. Reprimidos pelo regime militar

os grêmios estudantis existiram ou coexistiram com o período ditatorial militar no Brasil. No ano de 1968 foram extintos pelo Decreto-lei – AI-5 – Ato Institucional nº5, publicado em maio do ano supracitado. A substituição se deu por meio da criação dos Centros Cívicos. (RODRIGUES, 2012, p. 124).

GRÊMIO ESTUDANTIL – UM RESGATE HISTÓRICO

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O sistema educacional brasileiro tem suas origens firmadas na

organização político-administrativa do Brasil Colônia com os padres Jesuítas,

desde início uma “didática importada”. Com o desenvolvimento do Brasil, a

ascensão do movimento estudantil, e a criação da Constituição de 1938,

estabelecendo o ensino primário para difundir a educação básica, os estudantes

secundaristas que vinham se organizando a mais de um século exigindo

mudanças não parando com suas ações estratégicas e transitando de uma

organização recreativa para uma mais política:

Em 1902, surge o primeiro grêmio estudantil em São Paulo, que vai se fortalecendo. Mas eram grêmios sem caráter político, somente “recreativos, culturais, de lazer, de cultura”, conforme declaração de Apolinário Rebelo, presidente da UBES. Essa forma de organização perdurou por muitos anos, sendo atestada também por José Gomes Talarico, “o maior movimento estudantil antes foi através do esporte, inclusive o futebol, atletismo, natação”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 23).

Os estudantes sempre defenderam a bandeira da democracia onde sua

luta era constante, mesmo com dificuldades faziam suas reuniões e encontros

nacionais para se organizar e não mediam esforços. Qualidade essa destacada

na juventude que não queria submeter-se a decisões arbitrárias.

Em 1984, como afirmamos anteriormente, mesmo com a emenda Dante

de Oliveira derrotada, o Brasil poderia ter um presidente civil. Foi quando José

Sarney (PDS) deixou sua legenda e juntou-se a chapa de Tancredo Neves

(PMDB), sendo candidato à vice-presidente, com apoio dos estudantes. Quando

em 15 de janeiro de l985, eleito Tancredo Neves, que não conseguiu assumir o

cargo devido sua morte em 21 de abril de 1985, assumindo então Sarney o cargo

de presidente, dando por finalizada a ditadura militar.

As leis sancionadas por Sarney foram imprescindíveis no sentido de

estabelecer a democracia, tendo os analfabetos direito ao voto, eleições diretas

para presidente e permitiu o funcionamento dos partidos (PCB) e (PCdoB).Essas

conquistas já eram em anos antes da ditadura sonho e motivo de luta dos

estudantes.

Os estudantes secundaristas em 1985, durante Congresso da UBES

elegem a segunda mulher como presidente, Selma Suely Baçal de Oliveira, tendo

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a UNE em outubro de 1982, eleita a primeira mulher presidente Clara Araújo,

sendo um marco significativo na história do movimento estudantil e permitindo

vislumbrar a integração da mulher no processo democrático.

A grande conquista na gestão de Selma (UBES) foi a criação da Lei dos

Grêmios Livres, em 04 de novembro de 1985 pelo então Presidente José Sarney,

[...] a Lei Nº 7.398-1985, o u Lei do Grêmio Livre, proposta na Câmara pelo deputado federal e ex-presidente da UNE, Aldo Arantes. A medida sepulta para sempre os antigos centros cívicos e permite “a organização de grêmios estudantis como entidades autônomas representativas dos interesses dos estudantes secundaristas, com finalidades educacionais, culturais, cívicas, desportivas e sociais”. (CINTRA, MARQUES 2009, p. 229).

Outras legislações também contribuíram para a legalidade dos Grêmios

Estudantis como Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA disposto no

capítulo lV, artigo 53, inciso lV da lei nº. 8.069/90, tendo garantia a representação

dos estudantes.

No Estado do Paraná, a Lei nº 11.057 de 17 de janeiro de 1995, assegura

nos Estabelecimentos do Ensino de 1º e 2º graus, públicos e privados, a livre

organização dos Grêmios Estudantis, e o Artigo 3º - Aos estabelecimentos

paranaenses de ensino caberão assegurar espaço para a divulgação das

atividades do Grêmio Estudantil em local de grande circulação de alunos bem

como para reunião de seus membros.

A LDB 9394/96 de 20/12/96 – reza que a Direção deve dar condições aos

alunos na organização do Grêmio Estudantil, e a participação nos Conselhos de

Classe e Conselho Escolar.

A Secretaria de Estado da Educação reconhece a importância na

formação do Grêmio Estudantil e incentiva os gestores para dar suporte na

organização, valorizando a inserção dos jovens na ocupação dos espaços de

formação para a vida social, política e cultural, como meio para superar os

desafios . “A organização estudantil é a instância onde se cultiva [...] o interesse

do aluno, para além a sala de aula. A consciência dos direitos individuais vem

acoplada à ideia de que estes se conquistam numa participação social solidária.”

(VEIGA, 2007, p. 120).

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O Grêmio Estudantil é mais que uma entidade, pela representatividade

dos alunos passa a ser uma entidade autônoma, lembrando que autonomia não é

independência, e que estas não podem ser confundidas, que suas ações

favorecem as relações na escola entre a direção, equipe técnica e os demais

seguimentos escolares. A escola se fortalece com suas ações. O grêmio

estudantil não é um órgão contra ou a favor da direção escolar e sim um

instrumento de representação do corpo discente numa sociedade democrática.

Logo,

Para que aconteça uma verdadeira ação educativa na escola, essa deve, necessariamente, garantir a autonomia dos alunos que interagem no processo educativo. Para tanto, deve adotar mecanismos que levem em conta a importância da participação dos alunos e demais integrantes da organização do trabalho pedagógico. (VEIGA, 2007, p. 123).

O Grêmio Estudantil, por fazer parte das Instâncias Colegiadas, tendo

como princípio a Gestão Democrática, sendo uma das finalidades é apoiar a

direção da escola, embora não tenha fins lucrativos devem estar integrados às

ações que beneficiem à concretização dos projetos existentes na escola.

Essa representatividade e atuação devem ser assim definidas de acordo

com Cabral (2002) que assim classifica o Grêmio Estudantil:

Será que autoritária, não permitindo de forma concreta a participação dos colegas? Paternalista, que centraliza todas as ações e atividades em torno de uma pequena diretoria, subestimando a capacidade dos demais colegas em contribuir com as entidades? Liberal, que permite a participação de todos, mas ao mesmo tempo não dispõe de um programa mínimo administrativo que permita identificar uma linha de atuação? Grêmio festivo, que proporciona lazer, mas distancia das necessidades básicas do aluno e de sua formação política ou grêmio democrática, que busque a conscientização, participação e organização de todos os estudantes na construção de uma nova educação e de uma sociedade mais justa e igualitária. (CABRAL, 2002 apud MARTINS ).

GRÊMIO ESTUDANTIL COMO ESPAÇO DE CONQUISTAS E PARTICIPAÇÃO

A atuação do Grêmio na escola deve ser considerada pela Direção,

Equipe Pedagógica e demais setores da mesma, envolvendo a participação nos

planejamentos e as atividades que são inerentes a essa representatividade, onde

os resultados são mais coerentes. Assim,

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Se se pretende com a educação escolar, concorrer para a emancipação do indivíduo como cidadão partícipe de uma sociedade democrática e, ao mesmo tempo, dar-lhe meios, não apenas para sobreviver, mas para viver bem e melhor no usufruto de bens culturais que hoje são privilégios de poucos, então a gestão escolar deve fazer-se de modo a estar em plena coerência com esses objetivos. (PARO, 2012, p. 96).

Se o envolvimento do Grêmio Estudantil nas ações da escola viabiliza sua

participação, a integração social fará fortalecer essas ações num espaço de

interdependência cultural. As atividades desenvolvidas pelo grêmio estudantil fará

uma inserção com a comunidade, dessa forma o aspecto social estará

privilegiado.

Se ignora a categoria de ação recíproca, ou seja, que a educação é, sim, determinada pela sociedade, mas que essa determinação é relativa e na forma da ação recíproca - o que significa que o determinado também reage sobre o determinante. Consequentemente, a Educação também interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para sua própria transformação. (SAVIANI, 1991, p. 95).

2. IMPLEMENTAÇÃO

Esta Produção Didático-Pedagógica será desenvolvida no Colégio

Estadual Monteiro Lobato-EFME no município de Céu Azul, com o objetivo de

apresentar aos alunos recortes históricos do Movimento Estudantil brasileiro e

paranaense, enfatizar a importância da formação do Grêmio Estudantil na escola,

para entender que a representatividade deve ser construída como espaço de

participação, para efetivar a atuação dos alunos na organização do Grêmio Livre.

O projeto será desenvolvido com os alunos do Ensino Fundamental séries

finais e Ensino Médio do colégio, que além do conhecimento, irá despertar a

curiosidade dos fatos ocorridos na trajetória do movimento estudantil, com

interpretação de letras de músicas, estudo de textos sobre a história do

movimento estudantil, visualização de vídeos, debates, seminário, palestra e

elaboração de propostas como sugestão para as chapas que concorrerão às

próximas eleições do Grêmio Estudantil na escola.

A Produção terá uma carga horária de 112 h/aulas, sendo que 20 h/aulas

para preparação do material, 2 h/aulas para apresentação do material aos

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professores direção e equipe pedagógica, 3 h/aulas para o seminário, 3 h/aulas

para palestras, sendo 84 h/aulas para desenvolver as atividades com os alunos,

divididos em três encontros de 2 h/aulas cada turma, envolvendo alunos dos 9ºs

anos Ensino Fundamental e o Ensino Médio dos turnos matutino, vespertino e

noturno, perfazendo um total aproximado de 700 alunos.

Os encontros acontecerão semanalmente em dias alternados e séries

alternadas, tendo início na primeira quinzena de março de 2014 e término em

junho de 2014, totalizando 03 encontros em cada turma de cada turno. Os

encontros ocorrerão nos períodos diurno, noturno nas dependências do Colégio.

3- ENCAMINHAMENTO

Para esta Produção Didático-Pedagógica, serão desenvolvidas

atividades em forma de seminários, ou seja, “é uma técnica de aprendizagem que

inclui pesquisa, discussão e debate” (LAKATOS, 2003). Onde serão

desenvolvidos temas contendo textos dos relatos históricos sobre o movimento

estudantil brasileiro para fundamentação teórica, slides, vídeos, músicas com as

respectivas atividades a serem desenvolvidas pelos discentes.

4- ORGANIZAÇÃO DOS ENCONTROS

Primeiro Encontro:

Tema: Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica e Produção Didático-

Pedagógica a comunidade escolar: direção, professores, equipe pedagógica,

funcionários, APMF e Conselho Escolar.

Data: Semana Pedagógica – fevereiro de 2014

Objetivo: Socializar o tema Revendo a história do Movimento Estudantil Brasileiro

que será trabalhado com os alunos no ano letivo de 2014.

Desenvolvimento:

a) Apresentação de banner e exposição nas dependências da escola

contendo síntese do Projeto de Intervenção Pedagógica.

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b) Palestra aos profissionais da educação do colégio esclarecendo sobre a

aplicação do projeto utilizando slides.

c) Entrega de apostilas aos profissionais da educação do colégio com o

Projeto de Intervenção Pedagógica e a Didático-Pedagógica já publicadas

no SACIR.

Material utilizado: computador, multimídia, sala de reuniões.

Segundo Encontro

Tema: A organização dos estudantes e sua trajetória política.

Data: 06/03/14

Objetivo: Analisar o texto relacionado a organização dos estudantes brasileiros

antes da criação da UNE.

Desenvolvimento:

a) Dividir a turma em grupos a partir da distribuição de números de 01 a 06.

Os grupos serão formados juntando-se todos os que receberam o mesmo

número.

b) Ouvir a música: “Subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis,

disponível no endereço: <http://youtu.be/opFt_gLoA5A>. Fazendo uma

análise da letra e comentários nos pequenos grupos em seguida no grande

grupo.

c) Distribuir o texto “A organização dos estudantes e sua trajetória histórica

para os grupos”. Cada grupo deverá fazer a leitura do texto, destacando o

que mais chamou a atenção. Em seguida apresentar as considerações ao

grande grupo.

d) Criar um Gmail dos grupos para troca de informações e postagem das

conclusões a respeito do estudo realizado. Cabe também a compilação de

maiores informações pesquisadas pelos alunos.

Material utilizado: Computador, Multimídia e Sala de Informática.

Terceiro Encontro

Tema: UNE – União nacional dos estudantes: uma trajetória da participação

política estudantil

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Data: 11/03/14

Objetivo: Identificar quais os motivos que motivaram os estudantes a se

organizarem enquanto instituição estudantil.

Desenvolvimento: Assistir ao vídeo “Memória do Movimento Estudantil”,

disponível no endereço:

www.youtube.com/watch?v=hJunWTvQkcw

Fazer a seguinte análise:

a) Já tinha conhecimento do assunto apresentado no vídeo?

b) Identifique a mensagem do vídeo, descrevendo o que você entendeu.

Releitura do texto UNE – União nacional dos estudantes: uma trajetória da

participação política estudantil já enviado pelo g-mail aos alunos.

Em seguida discussão acerca da compreensão que tiveram a respeito do

assunto abordado.

Ouvir a música “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré

disponível em: http://youtube/7u_ra/7OWntg

Material utilizado: Data Show, Sala de Multimídia, computador.

Quarto Encontro

Tema: UBES-União brasileira dos estudantes secundaristas Data:17/03/14

Objetivo: Identificar os estudantes secundaristas como coautores/coparticipantes

dos movimentos sociais brasileiro.

Desenvolvimento: Apresentar a história da UBES em forma de power point,

destacando os seguintes aspectos: fundação, primeira presidenta, congresso da

unificação, Lei Suplicy de Lacerda.

Assistir ao vídeo Movimento Estudantil (documentário), disponível em

http://youtu.be/ZShp5P7zxJ8 analisando:

a) Já tinha conhecimento sobre o assunto abordado?

b) Você sabia da existência organização do movimento estudantil

secundarista? Se positiva de que forma tomou conhecimento?

c) O que mais chamou a sua atenção neste documentário?

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Abordar o impeachement do ex-presidente Fernando Collor de Mello,

destacando a participação dos jovens no movimento “caras- pintadas”, ilustrar

com o vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=WUS74-XdP7w

Material utilizado: data show, computador, sala de multimídia.

Quinto Encontro

Tema: Movimento estudantil paranaense

Data: 24/04/14

Objetivo: Conhecer a representatividade dos estudantes paranaenses e sua

trajetória dentro do movimento estudantil nacional.

Desenvolvimento: Aula expositiva abordando a história dos estudantes

paranaenses, destacando a fragilidade e disponibilidade de seus registros

históricos.

Apresentar a música: “Acredito na Rapaziada” de Gonzaguinha disponível em

http://youtu.be/HowYoMjyaYU, como forma de destaque e valorização dos jovens

estudantes paranaenses.

Apresentação de cópias de documentos sacaneados do DOPS-PR (Delegacia de

Ordem Política Social). Fonte: Schmitt, 2011- dissertação de mestrado.

Material utilizado: Sala de informática, data show.

Sexto Encontro

Tema: Grêmio estudantil – Espaço de discussão democrática.

Data: 06/05/14

Objetivo: Conhecer a história do Grêmio Estudantil e a legislação que criou o

grêmio livre.

Desenvolvimento: Responder antecipadamente ao questionário:

a) Sua escola tem grêmio estudantil?

b) Você faz/fez parte dele?

c) Conhece o estatuto do grêmio?

d) A atuação do grêmio do seu colégio acontece cotidianamente ou

esporadicamente e de que forma: promoções, formaturas, eventos da

escola, envolvimento em questões político-sociais? Cite outras.

Após analisar as respostas, estudar a legislação que criou o grêmio livre.

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Elaborar e apresentar sugestões de ações para o plano de ação do grêmio

em 2014.

Apresentar a música Brasil! Mostra tua cara de Cazuza. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=Gp35LvnRNHM

Material utilizado: Computador, sala de multimídia, data show, sala de

informática.

Sétimo Encontro

Tema: Palestra com historiador, professor ou integrante do movimento estudantil

paranaense sobre o mesmo.

Data: 28/05/14

Objetivo: Compreender que o Paraná enquanto Estado da Unidade Federativa do

Brasil fez parte da história nos períodos negros, da ditadura e teve sua juventude

representativa.

Desenvolvimento: palestra

Material utilizado: anfiteatro do colégio.

Oitavo Encontro

Tema: Proposta para o Plano de Ação do Grêmio Estudantil do Colégio.

Data: 09/06/14

Objetivo: Despertar a participação dos estudantes e sua mobilização propondo

ações para o grêmio estudantil do estabelecimento de ensino.

Desenvolvimento: Seminário envolvendo direção, equipe pedagógica, alunos,

representantes da sociedade civil.

Criação de um vídeo sobre a organização dos jovens no colégio e apresentá-lo no

encerramento do seminário.

Material: mídias, anfiteatro.

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5- REFERÊNCIAS

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Medida Provisória nº 2.208, de 17/08/2001.