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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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TEMPOS DE FOLIA: representações do carnaval ponta-grossense.

Autora: Profª Ms Elisângela Ferreira Inglez1

Orientadora: Profª Drª Christiane Marques Szesz2

Resumo

O Carnaval em Ponta Grossa passou por momentos de grande destaque nos Campos Gerais, na década de 1930. O Corso ponta-grossense atraía turistas, aquecia o comércio e os clubes também apresentavam alternativas de alegria aos seus associados. Diante disso, esse artigo apresenta os resultados da intervenção pedagógica relacionada ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE/UEPG), abordar-se-á como uma comunidade se representa em manifestações culturais. Destaca-se também a necessidade do cumprimento da Lei 13.381/01 que contempla a obrigatoriedade do trabalho com conteúdos sobre a História do Paraná, possibilitando o resgate da História Local e também a identificação do aluno como sujeito no processo histórico. O público alvo foram os alunos do 8º ano A do ensino fundamental II do Colégio Estadual Polivalente. Sendo assim, objetivou-se criar condições para que os alunos se observassem como sujeitos históricos, com presença e atuação na comunidade como investigadores motivados, conhecessem a história do carnaval, seus significados, representações e sua importância como expressão cultural. Para tanto, foram propostas aulas expositivas com slides na TV pendrive, pesquisas e apresentações dos alunos a partir de fragmentos de textos, livros e artigos, pesquisas no laboratório de informática, confecção de máscaras, coleta e apresentação de fotografias da família e da comunidade, análise e comparação de manifestações carnavalescas, encerrando os estudos com apresentações e registro na produção didático-pedagógica. Dessa forma, realizou-se a pesquisa na perspectiva de uma metodologia qualitativa fundamentada por autores como Moscovici (2003), Burke (1989), Da Matta (1983), Sebe (1986) e Sohiet (1998). As atividades realizadas contribuíram para o envolvimento e repercussão na comunidade escolar, na formação histórica e social dos alunos, criando condições para que se observem como sujeitos históricos a partir da análise das representações de uma festa que ocorre durante todos os anos em todo o nosso país, inclusive em nossa cidade, se apresentaram como investigadores motivados por conhecerem melhor a História de Ponta Grossa e saber que a continuam escrevendo todos os dias.

PALAVRAS CHAVE – Carnaval. História Local. Ensino de História. Representações sociais.

1 Graduada em Licenciatura Plena em História pela UEPG, Especialista em História do Paraná pela

UEPG, Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG. Atua no Colégio Estadual Polivalente e Colégio Estadual 31 de Março. [email protected] 2 Doutora em História. Chefe do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta

Grossa. [email protected]

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Introdução

Este artigo apresenta a analise das representações do carnaval de Ponta

Grossa como possibilidade de intervenção didático-pedagógica. O Carnaval em

Ponta Grossa era uma festa muito significativa na sociedade ponta-grossense. Nos

anos de 1930, esta festa passou por momentos de grande destaque nos Campos

Gerais. O Corso ponta-grossense atraía turistas, aquecia o comércio e os clubes

também apresentavam alternativas de alegria aos seus associados.

Muitos carros particulares, geralmente abertos, circulavam com jovens fantasiados, cantando músicas alusivas à festa, alguns representando os clubes locais. Confetes e serpentinas, em grande quantidade, eram atirados de um carro para outro, ou sobre os populares, nas calçadas. As serpentinas uniam os carros, formando ‘cortinas’, e a torcida era para que não se rompessem, nas esquinas ou nas paradas. (LAVALLE, 1996, p. 104)

Os clubes sociais, além de promoverem bailes, participavam do corso,

organizando blocos e ornamentando carros alegóricos, que desfilavam juntamente

com a rainha e as princesas de cada sociedade recreativa. Na década de 1930 e

início da década de 1940 o carnaval ponta-grossense alcançou seu apogeu. As

dezenas de blocos carnavalescos contribuíram grandemente para isso, o carnaval

princesino3 era essencialmente popular.

Ensino de História local

O projeto foi motivado pela necessidade do cumprimento da lei n. 13.381/01

que contempla a obrigatoriedade do trabalho no Ensino Fundamental e Médio com

os conteúdos sobre a História do Paraná, visando à manutenção da memória

paranaense, possibilitando a identificação do aluno com o processo histórico como

sujeitos, sendo que o estudo da comunidade permite que o aluno se identifique com

as práticas sociais e culturais realizadas no cotidiano próximo a Ele. FONSECA nos

faz refletir:

Ela é história viva que está sendo construída por você, pelo grupo social que nela reside. A história da sua localidade está sendo registrada em livros? Está sendo ensinada em sua escola? Como? Por quê? A história não está longe de nós, fora de nós. Muitas vezes as pessoas não gostam de estudar a disciplina porque na escola só aprenderam nomes de reis,

3 A cidade de Ponta Grossa é considerada a Princesa dos Campos Gerais.

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rainhas, ou decoraram datas e fatos distantes. Para mudar é necessário compreender que nós fazemos a história. No meio social em que vivemos, construímos nossas histórias. (FONSECA, 2009, p.50)

Também amplia a possibilidade de utilização de diversas fontes de pesquisa

histórica como análise de imagens fotográficas, análise de documentos como

jornais, atas de clubes, livros publicados sobre a história local, letras de músicas,

elementos que simbolizam a festa, artigos científicos dentre outros. “O local e o

cotidiano como locais de memória são constitutivos, ricos de possibilidades

educativas, formativas.” (FONSECA, 2009, p.117)

Motivou-se também por ser uma forma de transpor o conteúdo obtido a partir

de pesquisas científicas acadêmicas para a utilização em sala de aula de maneira

dinâmica e interessante para os alunos. Consideramos que a maioria das pessoas

gosta de festas, musicas e fantasias, por mais que não participem de forma direta

gostam de saber sobre sua origem e significados para a vida cultural humana.

Para Boschi (...) o fundamento da História, seu para quê mais profundo: dar sentido à vida pela compreensão de uma totalidade da qual fazemos parte, dar sentido social primeiramente à comunidade que nos rodeia, depois à espécie humana como um todo e finalmente, num exercício de imaginação, à coletividade dos seres racionais e livres do universo. (BOSCHI, 2006, p. 25)

A escolha da temática se deve ao novo paradigma historiográfico

estabelecido a partir da década de 1980 a Nova História Cultural. Esta herda da

história das mentalidades os temas e problemáticas, porém em uma perspectiva de

análise, não apenas narrativa. Preocupa-se com a análise das estruturas, com a

história vista de baixo, valoriza outros tipos de fontes que não apenas documentos

escritos oficiais.

O carnaval é um objeto que se identifica com a Nova História Cultural, que

revela especial apreço pelas manifestações das massas anônimas, pelo informal e

popular, além de valorizar as estratificações e os conflitos socioculturais como objeto

de investigação. “O exemplo par excellence da festa como contexto para imagens e

textos é certamente o Carnaval.” (BURKE, 1989, p.206)

Problematizando nossa realidade

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Os estudos sobre Cultura, presente no paradigma historiográfico da Nova

História Cultural, será a base para esse trabalho. Isto porque a história cultural

possibilita a utilização de fontes variadas de pesquisa e permite retratar aspectos da

vida cultural de classes sociais diferenciadas, não se restringindo apenas em

estudar a cultura das elites. Sendo assim o problema apresentado foi:

Como uma comunidade se representa em manifestações culturais?

A problematização sendo relacionada diretamente com a comunidade que se

interage torna-se ainda mais significativa facilitando a observação da realidade

presente através da análise do contexto histórico humano, objetivo primordial aos

estudos históricos.

Ensinar e aprender a história local e do cotidiano é parte do processo de (re)construção das identidades individuais e coletivas, a meu ver, fundamental para que os sujeitos possam se situar, compreender e intervir no espaço local em que vivem como cidadãos críticos. (FONSECA, 2009, p. 123)

Objetivou-se criar condições para que os alunos se observem como sujeitos

históricos, com presença e atuação na comunidade a partir da atividade

investigativa. Verificar a atividade investigativa como possibilidade de motivação e

interação nas aulas de História. Conhecer a história do carnaval, seus significados,

representações e importância como expressão cultural. Analisar as fotografias dos

familiares da comunidade escolar na intenção de perceber as representações

construídas sobre as festas carnavalescas. Conhecer a trajetória do carnaval na

cidade de Ponta Grossa.

Fundamentação Teórica e Revisão Bibliográfica

O desenvolvimento desse trabalho foi norteado pelo paradigma historiográfico

da Nova História Cultural. Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais a

contribuição trazida pela Nova História Cultural foi à abertura para novos problemas,

novas perspectivas teóricas, e novos objetos desenvolvidos a partir das propostas

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historiográficas das gerações anteriores aos Annales4. Essa ampliação favoreceu o

olhar para aspectos culturais das sociedades e suas relações com outros aspectos

da vida humana.

A Nova História Cultural não nega a relevância dos estudos sobre o mental,

não recusa a aproximação com a Antropologia nem a longa duração, não rejeita os

temas das mentalidades e a valorização do cotidiano e da micro-história. Outra

característica é sua atenção no resgate do papel das classes sociais, se

apresentando como uma história plural, pois apresenta caminhos alternativos para a

investigação histórica.

A Nova História Cultural difere da antiga “história da cultura”, disciplina

acadêmica ou gênero historiográfico dedicado a estudar as manifestações “oficiais”

ou “formais” da cultura de determinada sociedade. A Nova História Cultural não

recusa as expressões culturais das elites, mas revela especial apreço, tal como a

história das mentalidades, pelas manifestações das massas anônimas, como é o

caso do carnaval, objeto desse estudo. “Revela uma especial afeição pelo informal

e, sobretudo, pelo popular.” (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 149).

Para Cardoso & Vainfas (1997) a pluralidade da Nova História Cultural pode

ser apresentada a partir das três maneiras distintas de tratar a história cultural. Carlo

Ginzburg, italiano, trabalha dentro da história cultural com noções de cultura popular

e de circularidade cultural presentes quer em trabalhos de reflexão teórica, quer nas

suas pesquisas sobre religiosidade. A história cultural de Roger Chartier, historiador

vinculado à historiografia francesa, trabalha com o conceito de representação. E a

história da cultura produzida pelo inglês Edward Thompson, especialmente na sua

obra sobre movimentos sociais e cotidiano das “classes populares”, na Inglaterra do

séc. XVII.

As perspectivas citadas, principalmente que trabalham sobre representação

social, foram o ponto de partida para as reflexões teóricas desse estudo. A festa

4 “Designa ao mesmo tempo: 1) uma revista fundada em 1929 por dois historiadores, Marc Bloc e Lucien Febvre –

professores da Universidade de Estrasburgo – para promover a história econômica e social e favorecer os contatos

interdisciplinares no seio das ciências sociais. 2) A rede de colaboradores e simpatizantes que se formou em torno da revista e

se transformou, depois da guerra, em instituição universitária, quando Lucien Febvre criou com Ernest Labrousse e Charles

Morazé a VI Seção da EPHE (Escola Prática de Altos Estudos). 3) A concepção da ciência histórica, de suas exigências

metodológicas, de seu objetivo, de suas relações com as outras ciências do homem que Bloch, Febvre e seus discípulos

desenvolveram na revista – o que chamam de ‘espírito dos Anais’ – e ilustraram em suas obras.” (BURGUIÈRE, 1993, p. 49)

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carnavalesca é repleta de elementos de representação, as letras das marchinhas

carnavalescas revelam a interferência governamental a partir de encomendas de

temáticas que exaltam o governo e o trabalho, a censura, as críticas sociais são

evidentes em períodos de democracia, os desejos humanos são revelados nas

letras e fantasias, as máscaras ocultam a identidade do folião que por vezes não

teria coragem de brincar e extravasar se estivesse sendo observado e julgado.

Diversos autores trabalham com o conceito de representação social, como

por exemplo: Jodelet, Mannoni, Mauss, Weber, Schutz, Marx, Gramsci, Lukás,

Bourdieu, Bakhtim, Chartier e Moscovici. Durkheim trabalha com uma variação deste

conceito, ou seja, o conceito de representação coletiva.

Estes autores possuem abordagens teóricas diferenciadas, a questão central

do trabalho não é o conflito de classes, como priorizam alguns autores e sim uma

análise cultural. O autor Roger Chartier possui concepções que melhor se adaptam

aos objetivos desse trabalho.

A realidade vivida é também representada, onde os atores sociais expressam

seus valores e estoques de conhecimento. Algumas representações sociais são

mais abrangentes como aquelas que expressam a visão de mundo da classe

dominante. As representações sociais não são necessariamente conscientes, nelas

estão presentes elementos tanto de dominação quanto de resistência.

O historiador francês Roger Chartier, nascido em 1945, foi um antigo aluno da

Escola Normal Superior de Saint-Cloud. Além disso, foi professor agregado de

História, professor assistente na Escola dos Estudos Superiores de Ciências Sociais

e diretor-adjunto do Centro de Investigação Histórica, sendo especialista em história

sociocultural.

Chartier propõe um conceito de cultura enquanto prática, e sugere para o seu

estudo a categoria de representação.

Assim, para ele,

[...] de um lado, a representação manifesta uma ausência, o que supõe uma clara distinção entre o que representa e o que é representado; de outro, a representação é a exibição de uma presença, a apresentação pública de uma coisa ou de uma pessoa. (CHARTIER, 2002, p. 74)

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A noção de representação é para Chartier, vista como a “pedra angular” da

Nova História Cultural e o conceito de apropriação é o seu “centro”. “Chartier afirma

que o objetivo da apropriação é ‘uma história social das interpretações, remetidas

para as suas determinações fundamentais’ que, insiste o autor, ‘são sociais,

institucionais, culturais”. (apud CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 154)

No conceito de representação de Chartier o social só faz sentido nas práticas

culturais e as classes e os grupos só adquirem alguma identidade nas configurações

intelectuais que constroem, nos símbolos de uma realidade contraditória

representada. “Chartier substitui a tirania do social, pela tirania do cultural”.

(CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 155)

A categoria de representação seria, pois, o elemento constitutivo de um novo

modelo de história. A realidade como conhecimento pode ser vista como uma

representação, e os indivíduos se relacionam com o mundo através de uma

complexa estrutura de representações (sociais, políticas, econômicas ou culturais)

que são utilizadas como um meio de comunicação e cabe ao cientista social

interpretá-las.

Chartier abandona os princípios fundadores da história social da cultura que

em sua versão clássica analisavam apenas as oposições sociais entre povo e elite,

dominantes e dominados. Segundo Chartier, outros princípios de diferenciação (por

sexo, por geração, por práticas religiosas, por solidariedades territoriais, etc.)

permitem uma melhor compreensão das diferenças culturais. (SILVA, 2000, p. 87)

Segundo Chartier (2002), com a História Cultural há um afastamento do

modelo utilizado para os estudos de história social dirigida ao estudo das lutas

econômicas.

É através do sistema de representações que se organiza ou estabelece

normas de conduta, afetivas e sociais de forma geral. Através das representações a

realidade é demonstrada, por meio da linguagem escrita ou simbólica, e também é

uma forma de se estabelecer como esta realidade deve ser constituída, não apenas

permanências, mas também as alterações necessárias, evidentes nas formas de

resistências.

O conceito de representação social normalmente é empregado no contexto do

conhecimento, assim como no contexto da teoria das representações sociais. O

conhecimento implica na ideia de assimilação ou interiorização de uma presença. De

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acordo com a psicologia cognitiva, o homem possui uma necessidade de

representar o mundo através de símbolos que permitam a interpretação das

representações.

A história simbólica é resultante das mudanças de paradigma que ocorreram

na pesquisa histórica a partir da década de 1980. Para o historiador deve haver a

separação do que é evidente ou explícito e o que há de consciente nas

representações, para compreender como o simbolismo pode agir na sociedade e

como esta sociedade utiliza-se das formas simbólicas para se comunicar.

Desta forma, através desta guinada interpretativa, que a pesquisa histórica

efetuou a partir da década de 1980 com a Nova História Cultural abandonou-se a

simples narrativa. A partir da história cultural pode-se estudar a organização e

hierarquização da própria estrutura social, a partir da qual se teria uma visão da

própria sociedade.

Sendo a representação social uma análise sobre o que conhecemos, a

realidade em que vivemos, nada mais apropriado que uma abordagem sobre a

história regional como recorte espacial de pesquisa, onde nosso modo de viver, de

ver o mundo, podem ser observados sob perspectiva científica. Segundo CAIMI:

Dentre as principais potencialidades da história regional/local se destaca a possibilidade de dar evidência a fontes, temas e sujeitos que não tiveram visibilidade no âmbito da chamada ‘macro-história’

5, contribuindo, assim,

para o conhecimento das diversas identidades que compõem a sociedade brasileira. (CAIMI, 2010, p. 64)

O conhecimento de diversas identidades, o uso de diferentes fontes, temas e

principalmente o aluno e sua comunidade sendo apresentados como sujeitos

históricos são fatores importantes para esse estudo.

O CARNAVAL: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS

Dentre os autores que escrevem sobre a temática pode-se destacar: Peter

Burke (1989), Raquel Sohiet (1998), Roberto Da Matta (1983) e José Carlos Sebe

(1986).

5 Cardoso (1997) situa a macro-história no contexto do paradigma iluminista, definindo-a pela sua preocupação

com a escrita de uma história científica, racional e global, com pretensões de construir narrativas históricas para explicar as sociedades a partir de modelos hipotético-dedutivos e visão holístico-estrutural.

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Não se sabe ao certo qual a origem do carnaval, assim como a origem do

nome continua sendo polêmica. Alguns estudiosos afirmam que a comemoração do

carnaval tem suas raízes em alguma festa primitiva, de caráter orgíaco, realizada em

honra do ressurgimento da primavera. “De fato, em certos rituais agrários da

Antiguidade, 10 mil anos a.C., homens e mulheres pintavam seus rostos e corpos,

deixando-se enlevar pela dança, pela festa e pela embriaguez.” (LAPICCIRELLA,

1996, p. 6)

Já outros estudiosos acreditam que tenha se iniciado nas alegres festas

egípcias. “Há uma raiz que procura mostrar o carnaval como uma das festas mais

velhas da história.” (SEBE, 1986, p. 9). Há milhares de anos os camponeses

realizavam festas, verdadeiros cerimoniais, rituais alegres e coloridos, agradecendo

assim, pela boa colheita. As festas eram movimentadas, os camponeses

mascarados, enfeitavam seus corpos e a alegria tomava conta de suas almas. As

festas conseguiram atravessar tempos e culturas, influenciando muitas sociedades.

“É bem verdade que os egípcios festejavam o culto à Ísis há 2 mil anos a.C.”

(LAPICCIRELLA, 1996, p. 6).

Ísis era o nome de uma jovem deusa, protetora da natureza. Em homenagem a ela, os mortais se reuniram, ciclicamente, para render graças à vida. Esta cerimônia ocorria sempre no período dos plantios (ou colheitas), abrindo uma nova era no ciclo anual. Segundo remotas tradições, os mortais deveriam dançar, brincar, festejar muito para que as sementes crescessem e os frutos fossem bons. (SEBE, 1986, p. 9 e 10)

Também o carnaval pode ser uma herança de festas pagãs, como as

Saturnais, Lupercais e Bacanais. As Saturnais eram realizadas em honra ao deus

Saturno da mitologia grega, as Lupercais em honra ao deus Pã da mitologia romana

e os rituais Bacanais ou Dionísicos em honra ao deus Baco da mitologia romana ou

Dionísio da mitologia grega.

A origem do termo também é objeto de discussão. Para alguns estudiosos

como Körting e Bér Essers o termo advém da expressão latina “carrun Novalis”

(carro naval), um carro alegórico em forma de barco carregando um imenso tonel

que servia vinho ao povo e com o qual os romanos iniciavam seus festejos. (SEBE,

1986, p. 31). Alguns pesquisadores a rejeitam por não haver fundamento histórico.

Uma interpretação comum, ligada ao cristianismo, é carnevale. “Segundo o

estudioso italiano Petrochi, a palavra carnaval viria do baixo latim cannelevamen que

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significaria “adeus à carne”, numa alusão à terça-feira gorda, o último dia do

calendário cristão em que é permitido comer carne.” (SEBE, 1986, p. 31).

Provavelmente a expressão “Dias Gordos” esteja ligada a esta hipótese de

terminologia, pois são os dias onde a ordem é transgredida e os abusos tolerados,

em contraposição aos sacrifícios da Quaresma.

Segundo Burke (1989), durante a Idade Média essas festas, consideradas

pagãs, foram toleradas pela Igreja. Mas, certos limites impostos adulteraram a

natureza dos festejos. A fixação do período carnavalesco gira em torno de datas pré-

determinadas pela Igreja Católica, antecedendo a Quaresma. No entanto, o uso de

máscaras sobreviveu. Apesar de que, por algum tempo, se restringiu às camadas

mais altas da sociedade, ou seja, à elite. O povo fazia sua festa nas ruas, sem muita

sofisticação. Mas, em meados do século XIII, os bailes de máscaras se tornaram

uma tradição. No Renascimento as festas ganharam mais espaço e as máscaras

voltaram a se popularizar, juntamente com as fantasias.

Com o passar do tempo o Carnaval foi sofrendo alterações. Batalhas de água

ou de bolotas de gesso foram incorporadas à festa. As pessoas atiravam farinha ou

confeitos umas nas outras.

A estação do Carnaval começava no início do ano, sendo que a animação ia

crescendo ao passo que a Quaresma se aproximava. Era um feriado, uma

brincadeira, uma ocasião de liberação. Um ritual sem dono, com atores e

espectadores compartilhando do mesmo espaço. Este ritual fundado no princípio

social da inversão fazia com que as pessoas além de se fantasiarem,

representassem papéis; ocorriam processos e casamentos simulados, além de

outras brincadeiras informais. (BURKE, 1989, p. 206)

Segundo Burke “Havia três temas principais no Carnaval, reais e simbólicos:

comida, sexo e violência. A comida era o mais evidente.” Para ele “Foi a carne que

compôs a palavra Carnaval.” (BURKE, 1989, p. 210). Assim, seu consumo era

considerável, maciço. As bebidas também eram um elemento importante nesta

festa. Mas, a carne também significava “carnalidade”, ou seja, o sexo. Era uma

época de atividade sexual intensa. Muitos casamentos eram realizados nesse

período.

Momento de ironia, revolta e até mesmo agressão, tudo o que provocava

insatisfação social era externado no período carnavalesco. “Cantigas com duplo

sentido eram quase que obrigatórias. A agressão verbal era permitida. Assim, o

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Carnaval também era sinônimo de violência, agressão, profanação e destruição.”

(BURKE, 1989, p. 210)

Críticas às autoridades, insultos a indivíduos não são práticas do carnaval

contemporâneo. Há tempos isso era comum, prática carnavalesca rotineira. As

melodias com duplo sentido transformavam-se em cantigas “normais”, o que não

poderia ser dito claramente em outras ocasiões. “Era hora de denunciar autoridade,

chamar um vizinho de “cornudo” ou “saco de pancadas da mulher”. (BURKE, 1989,

p. 211)

Inicialmente o Carnaval ia de 25 de dezembro – Natal, até o Dia de Reis.

Quando a Igreja o regulamentou6, determinou que a data dos festejos deveria

ocorrer sete domingos antes da Páscoa. Foi num desses domingos que o Carnaval

chegou ao Brasil, vindo de Portugal. Mas no Brasil não havia rigidez em relação a

data para realização da festa. O Carnaval poderia ser festejado em diversas

ocasiões, como por exemplo, na chegada de um personagem importante.

Foi, portanto, graças a Portugal que o entrudo desembarcou na cidade do Rio de Janeiro, em 1641. O termo deriva do latim que significa ‘introitus’ ‘entrada’, ‘começo’, nome com o qual a Igreja denominava o começo das solenidades da Quaresma. (LAPICCIRELLA, 1996, p. 7)

Porém, no Brasil a folia já chegou estigmatizada. Hábitos carnavalescos

portugueses transplantaram-se para a colônia. Eram barulhentos e violentos;

especialmente o do entrudo, que consistia em batalhas de cartuchos de pó, de

panelas de vários líquidos e de ovos crus. O entrudo português foi proibido devido a

sua selvageria, e de proibição em proibição foi decaindo até seu desaparecimento,

no início do século XX. Mas sua diluição não foi repentina, obedeceu a todo um

processo.

Primeiramente, os projéteis utilizados nas batalhas foram substituídos por

flores; as quantidades de água e pó deram lugar aos limões-de-cheiro, que

continham água perfumada em pequena quantidade. Essas modificações tornaram o

entrudo mais gentil e sentimental. Mais tarde, em 1906, o limão-de-cheiro foi

substituído pelo lança-perfume, um cilindro de vidro contendo na ponta um sifão, por

onde esguichava água cheirosa. Em pouco tempo, o lança-perfume se consagrou,

6 Não existem registros referentes a exatidão da data e local desta regulamentação, referem-se apenas a Idade

Média.

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pois era mais elegante e refinado. Outros recursos, como as serpentinas7, os

confetes8 e as brincadeiras, surgiram com o tempo, pela própria evolução do

Carnaval.

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO

Para Burke (1989), o carnaval é abordado como um ritual, no sentido de

ações que atribuem significados às ações cotidianas. Mesmo enfatizando a

existência de variações regionais, estabelece um “carnaval típico” como uma festa

popular realizada ao ar livre, com pessoas usando máscaras e fantasias, e

representando papéis sociais diferentes daqueles usualmente representados.

O carnaval é também percebido por Sohiet (1998) enquanto um ritual que,

independente de sua origem e simbolismo manifesto, foi adaptado para um novo fim,

cujos atos permitem a abolição de hierarquias e a criação de espaço para o

deboche, para a irreverência, para a subversão de valores oficiais, para valorização

do corpo, da comida, da bebida e da sexualidade.

Um ritual também para Da Matta (1983) um modo de refletir e expressar a

estrutura social brasileira, dramatizar o mundo. Através deste ritual a realidade

brasileira se desdobra diante dela mesma, mira-se no seu próprio espelho social e

ideológico e, projeta múltiplas imagens de si própria, na sua luta e dilema entre o

permanecer e o mudar. O autor compara o carnaval e o Dia da Independência como

rituais nacionais; ambos são considerados ritos fundados na possibilidade de

dramatizar valores globais, críticos e abrangentes da nossa sociedade.

Sebe (1986) apresenta dois grupos de estudiosos do carnaval que se dividem

quanto às explicações do seu significado na vida social dos grupos que vivem ou

viveram a festa: os “continuístas” e os “circunstancialistas”.

Os continuístas acreditam que o carnaval é uma festa muito antiga que vem

se adaptando e transformando parte de seu significado original. Esta corrente

salienta que o carnaval é uma comemoração que exalta a vida, é uma festa de

delícias, do prazer, do bem-viver e da beleza. A ideia do satírico, do escárnio, do

piadístico, teria entrado depois. A conjugação da beleza feminina (evidente no culto

7 De origem francesa, chegou ao Brasil em 1892 (LAPICCIRELLA, 1996, p. 9). Fita de papel colorido.

8 Procedente da Espanha, surgiu no Brasil também em 1892 (LAPICCIRELLA, 1996, p. 9). Rodelinhas de papel

colorido.

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ao corpo) e do prazer masculino (consumidor dos prazeres da carne evidente na

figura gorda do rei momo) obedece à afinidade proposta entre a saúde e

prosperidade e a ideia de fertilidade da terra. “A dramatização de rituais ligados à

origem e ao fim da vida, bem como a outros aspectos da existência individual ou

coletiva, permite pensar nas celebrações enquanto um modelo analítico de

diferentes grupos.” (SEBE, 1986, p. 28).

Para os continuístas o vinho passa a ser o símbolo da vida, e a bebedeira,

uma espécie de licença permitida para o sonho. O carnaval é o tempo da vida,

segundo o ritmo da natureza. É o período em que os seres humanos dramatizam o

fenômeno considerado como o mais significativo da natureza, a vida.

A corrente circunstancialista explica o carnaval pelos valores momentâneos

que transparecem na celebração, valoriza o carnaval como uma manifestação

continuada em diferentes áreas geográficas e diversas sociedades e procura

enfatizar dois aspectos: as identidades das intenções e a transferência simbólica

através dos tempos.

O carnaval seria uma festa renovável, se encaixaria num mosaico de festas

programadas e conteria um sem-número de significados religiosos, políticos e

econômicos, fatores que o explicariam independentemente de suas origens. É uma

festa nacional, permitida e programada pelos homens. Para este grupo, portanto, o

carnaval é um desafogo consentido pelos articuladores do funcionamento da vida,

dentro de um sistema sociopolítico.

O Carnaval no Ensino de História

O projeto de intervenção teve uma carga horária de 64 horas no total sendo

que em 32 horas sendo desenvolvida uma intervenção didática visando à produção

do conhecimento histórico, a aplicação ocorreu no Colégio Estadual Polivalente no

ensino fundamental II na turma do 8º ano A. As atividades tiveram início em fevereiro

e término em junho de 2014, foram desenvolvidas em cinco momentos:

No primeiro momento foi apresentada a História do carnaval e seus

significados, através de aula expositiva dialogada com slides na TV pendrive e

atividades em grupo, cada grupo recebeu um pequeno texto sobre a História do

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carnaval e suas modalidades e realizaram uma apresentação oral para a turma em

formato de Telejornal.

Durante o primeiro momento problemas foram levantados, articulando as

novas descobertas, aprofundando os conhecimentos sobre a História do carnaval

com a análise do contexto histórico que essa História foi construída. Segundo

SCHMIDT:

“O professor de História pode ensinar o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias; o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançar os germes do histórico. Ele é o responsável pro ensinar o aluno a captar e a valorizar a diversidade dos pontos de vista. Ao professor cabe ensinar o aluno a levantar problemas e a reitegrá-los num conjunto mais vasto de outros problemas, procurando transformar, em cada aula de História, temas em problemáticas.” (SCHIMIDT, 2012, p.57)

Em um segundo momento o assunto abordado foi o Carnaval como espaço

de Representações, o Rei Momo, a oposição à Quaresma, as máscaras e fantasias

sua história, espaços e representações, através de aula expositiva dialogada com

slides na TV pendrive e confecção de máscaras carnavalescas.

O terceiro momento foi constituído de análise e apresentações das

experiências carnavalescas dos seus familiares e da comunidade a partir das

fotografias coletadas pelos alunos, com familiares, membros da comunidade, jornais

e professores.

Agora sim como um pesquisador os alunos, sob orientação da professora,

realizaram uma análise sobre fotografias carnavalescas registrando na produção

didático-pedagógica, unidade didática, elaborada pela Professora junto com toda a

turma.

Em relação à transposição didática do procedimento histórico, o que se procura é algo diferente, ou seja, a realização na sala de aula da própria atividade do historiador, a articulação entre elementos constitutivos do fazer histórico e do fazer pedagógico. Assim, o objetivo é fazer com que o conhecimento histórico seja ensinado de tal forma que dê ao aluno condições de participar do processo do fazer, do construir a História. Que o aluno possa entender que a apropriação do conhecimento é uma atividade em que se retorna ao próprio processo de elaboração do conhecimento. (SCHMIDT, 2012, p. 59).

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A História das imagens é uma rica possibilidade de fonte de pesquisa

histórica inserida no paradigma historiográfico da Nova História Cultural. A

representação social, a partir da análise das fotografias, teve nesse momento

espaço privilegiado onde pudemos questionar se o carnaval revela aspectos da

comunidade onde acontece, o que representa esta festa para a comunidade, quais

as lembranças que se tem, e que todos nós podemos estar inseridos como sujeitos

da história.

O quarto momento foi direcionado para o carnaval em Ponta Grossa, sua

história e desenvolvimento através de fragmentos de textos de artigos de livros e

jornais, livros sobre a história de clubes e pesquisas científicas, como dissertação de

mestrado, sobre o assunto, com aula expositiva dialogada e atividades dos alunos

diretamente com as fontes citadas.

A aproximação dos alunos com os resultados das pesquisas científicas

produzidas sobre a História local, sendo Ele próprio parte da mesma. “...o ensino-

aprendizagem da história local configura-se como um espaço-tempo de reflexão

crítica acerca da realidade social e, sobretudo, referência para o processo de

construção das identidades destes sujeitos e de seus grupos de pertença.” (CAIMI,

2010, p. 69)

O quinto momento foi de apresentação do conteúdo aprendido durante as

intervenções, com suas modalidades, máscaras, fantasias, confetes e serpentinas.

A pesquisa pode ser classificada como qualitativa, já que pesquisa o homem,

pertencendo a um grupo social, suas representações, valores, crenças e

significados. Segundo a autora Edna Lúcia da Silva afirma:

[...] considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. (SILVA, 2001, p. 20).

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Parafraseando Gil (2007) quanto aos objetivos a pesquisa pode ser

exploratória, pois tem a finalidade de ampliar o conhecimento a respeito de um

determinado fenômeno, explora a realidade buscando maior conhecimento.

Através da observação participante, pois ocorre por meio do contato direto do

pesquisador com o fenômeno observado para se obter informações sobre a

realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. Para Mann a Observação

Participante é uma “tentativa de colocar o observador e o observado do mesmo lado,

tornando-se o observador um membro do grupo de modo a vivenciar o que eles

vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referência deles.” (MANN, 1970, p. 96)

Considerações finais

O estudo da cultura é “...uma preocupação contemporânea, bem viva nos

tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que

conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de

futuro.” (SANTOS, 1983, p.7). Através dos estudos culturais podemos observar uma

comunidade e analisar suas características, seu comportamento, valores e suas

ações como sujeitos históricos.

O primeiro contato com a turma foi positivo, receberam bem as intenções do

projeto de intervenção do Programa de Desenvolvimento Educacional, interagiram

diante das reflexões e problematizações, participaram bem da primeira atividade em

grupos e quando souberam que apresentariam para a turma ficaram receosos e

envergonhados, porém, a apresentação em formato de telejornal foi muito bem

aceita e realizada com sucesso. As informações sobre a História do carnaval foram

retomadas durante a realização do projeto, os alunos se mostraram curiosos sobre

as modalidades e detalhes que ainda não conheciam ou não haviam analisado.

O carnaval como espaço de representações foi rico em observações dos

alunos sobre o que representa os símbolos e o próprio carnaval e também sobre as

representações sociais que realizamos em todos os momentos de nossas vidas e

também em outras festas. Se apresentaram decepcionados durante os contatos com

a informática, durante a pesquisa sobre os personagens Pierrô e Colombina e

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também nos momentos de acesso, participação e contribuição para o Blog, que

contou com a internet bem lenta, com sequência de desconectividade e panes.

A análise das fotografias contou com a contribuição de Professoras do

Colégio, além das imagens de jornais antigos e atuais, poucos carnavais foram

registrados pelos familiares, mas, o material disponível foi suficiente para a análise

pretendida. A História do carnaval ponta-grossense foi apresentada através de

materiais diversos como artigos de jornais, livros sobre a História dos Clubes, artigos

científicos, monografias e dissertações acadêmicas. Observou-se um sentimento de

orgulho e satisfação pelo conhecimento da nossa História e o quanto nossa atuação

pode influenciar a construção da História Local.

Durante as apresentações dos materiais produzidos com o projeto me deparei

com a resistência, típica da adolescência, em se expor para outras turmas do

Colégio e também em se apresentar descontraídos e festivos, depois de uma

intensa e democrática negociação as apresentações ocorreram entre os próprios

membros da sala de aula, mas não menos brilhante e bem sucedida.

A realização do projeto favoreceu a reflexão da prática pedagógica no ensino

de História, a importância do planejamento e organização de materiais sendo

disponibilizados aos alunos, que em grupo ou individualmente podem participar

ativamente da produção do conhecimento. A promoção de práticas de

apresentações dos materiais produzidos não pode ser relevada a segundo plano,

marca a vida educacional, valoriza a produção dos alunos e auxilia no

desenvolvimento da oralidade e expressão corporal.

“Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me

educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a

novidade.” (FREIRE, p. 14, 2002). A pesquisa e reflexão sobre a prática são

essenciais para a melhoria da prática docente, porém, o espaço que devemos

conceder aos alunos para pesquisa, reflexão, produção do conhecimento e a relação

dessa produção com sua realidade, deve certamente ser ampliado, nossa

preocupação em oferecer mais informação e conceitos para os nossos alunos,

“dando conta” de apresentar tudo o que está previsto em termos curriculares ou

burocráticos não podem ser os aspectos mais determinantes no processo

educacional.

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