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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

¹ Professora Enfermeira da rede Pública Estadual, participante do PDE/2013. [email protected] ² Professora Orientadora, doutora em Educação. Universidade Estadual de Maringá. http://www.uem.br

PORTFÓLIO COMO PRÁTICA DE AVALIACÃO NO CURSO TÉCNICO

DE ENFERMAGEM

Marta Elaine Santos dos Santos¹

Regina Taam²

Resumo: Este trabalho teve como objetivo verificar a conveniência da utilização do Portfólio como

prática de avaliação associada, ou não, a outros instrumentos avaliativos. A avaliação tem se

efetivado através de modelos e instrumentos que tendem a verificar o aprendizado dos conteúdos

mínimos, na maioria das vezes de forma quantitativa, em detrimento da qualidade do processo de

construção do conhecimento. Dentre os desafios do processo ensino-aprendizagem nos deparamos

com o desenvolvimento do estágio curricular supervisionado, momento em que o aluno irá

desenvolver as técnicas de enfermagem, com atenção individual ao paciente ou para a coletividade,

levando informações pertinentes às necessidades identificadas por este público, de promoção,

prevenção e recuperação de agravos para o indivíduo e/ou comunidade. O planejamento dos

instrumentos avaliativos das práticas curriculares apresenta um valor importante enquanto elemento

essencial do método didático, pois faz parte do plano de trabalho docente, assumindo, numa

concepção crítica, um caráter de maior flexibilidade para os envolvidos neste processo educativo. A

avaliação entendida como uma etapa do processo ensino-aprendizagem, não pode ter um aspecto

apenas classificatório; neste contexto, sua função é oferecer subsídios para uma tomada de decisão,

direcionando o aprendizado e conduzindo a ação. Conclui-se que a avaliação deve contribuir para o

êxito da ação pedagógica, embasada em orientações metodológicas que permitam espaço para a

interpretação e discussão, que considerem a relação do aluno com o conteúdo trabalhado, o

significado desse conteúdo e a compreensão alcançada por ele, através da implantação conjunta de

dois modelos de avaliação: o portfólio e a auto avaliação.

Palavras chave: Estágio. avaliação. formação técnica. enfermagem.

INTRODUÇÃO

A avaliação deve ser entendida como um processo contínuo, constante e

cumulativo, que tem como resultado os dados da aprendizagem e de seu próprio

trabalho, com as finalidades de acompanhar e aperfeiçoar o processo de

aprendizagem dos alunos, de acordo com Vasconcellos (2005, p.71) “avaliar na hora

que precisa ser avaliado, para ajudar o aluno a construir seu conhecimento”, bem

como, diagnosticar seus resultados e o seu desempenho, em diferentes situações

de aprendizagem.

Ao refletirmos sobre avaliação, surgem dúvidas visto que esta prática é

permeada por divergências. A avaliação tem se efetivado através de modelos e

instrumentos avaliativos que tendem a verificar o aprendizado dos conteúdos

mínimos, na maioria das vezes de forma quantitativa, em detrimento da qualidade do

processo de construção do conhecimento.

No meu entendimento, estudar a avaliação em uma perspectiva

transformadora significa situá-la como elemento de um ensino democrático,

reconhecendo o aluno e o professor como sujeitos dotados de identidade própria,

com gênero, raça, classe social, visões de mundo e padrões culturais próprios, a

serem levados em consideração nas práticas pedagógicas e avaliativas, tendo em

vista uma apropriação efetiva e significativa do conhecimento.

O currículo do curso técnico de enfermagem estabelece as disciplinas das

ciências biológicas e humanas, e as específicas do curso profissionalizante, sendo

nestas que o aluno desenvolve todos os procedimentos de enfermagem,

direcionadas ao paciente através de cuidados individualizados ou não, norteando a

atenção de acordo com as necessidades humanas básicas de sua saúde física e

mental.

O estágio curricular no curso técnico em enfermagem é indispensável na

formação profissional, pois permite ao estudante o conhecimento da realidade no

campo da saúde (âmbito preventivo, curativo ou restaurador), o relacionamento

multiprofissional, o contato com o sistema organizacional e com a funcionalidade das

instituições que prestam assistência a saúde; é ainda no estágio que ocorre o

desenvolvimento de técnicas específicas da enfermagem.

O Conselho Federal de Enfermagem (2010) considera o estágio curricular

como ato educativo, que deve contemplar situações de ensino e aprendizagem em

concordância com a proposta pedagógica do curso, que favoreça o desenvolvimento

e a formação de atitudes, produção do conhecimento necessário à prática educativa,

desenvolvimento de habilidades e competências que permitam o desempenho

eficiente e eficaz de atividades requeridas para o exercício da profissão.

Desta forma, os alunos do curso técnico em enfermagem devem passar pelos

campos de desenvolvimento das atividades de estágio sendo estes em instituições

hospitalares públicas e/ou privadas, unidades básicas de saúde, ambulatórios,

comunidade, escolas e demais serviços que possibilitem a arte do cuidar em

enfermagem; nestes momentos, ocorre a associação entre teoria e prática,

permitindo o aprofundamento dos conteúdos aprendidos na sala de aula.

A relação entre teoria e a prática na formação do técnico de enfermagem tem

como objetivo formar um profissional reflexivo, que desenvolva esforços em busca

de novos conhecimentos específicos na área da saúde; dividindo com os seus pares

as conquistas, os desafios, os acertos e as falhas no processo ensino aprendizagem

(SANTOS, 2005).

Santos (2005) acentua a necessidade de reflexão como exemplo de formação

individual e coletiva, tendo em vista ações que se tornem possíveis tanto ao nível

teórico quanto prático, abrindo espaço para uma nova maneira de olhar a formação

do técnico de enfermagem.

Durante minha experiência pessoal e profissional, no curso técnico em

enfermagem, em uma escola pública na cidade de Umuarama, Paraná, pude

perceber a fragilidade da avaliação no campo da prática curricular, muitas vezes

realizada de forma injusta e autoritária pelo professor supervisor, dificultando a

aprendizagem do aluno; muitos professores utilizam instrumentos, cujos critérios por

eles definidos, destoam do modelo de avaliação oficial do curso e nem sempre são

explicitados para o aluno; além disso, frequentemente são critérios diferentes para

cada aluno.

O modelo avaliativo utilizado no curso é quantitativo, apenas um único

instrumento, chamado de “Ficha de avaliação de estágio supervisionado”, fornecido

pela Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná (SEED/PR) para todas

as práticas curriculares, onde o aluno será avaliado a partir de critérios previamente

estabelecidos, quais sejam: desempenho afetivo e cognitivo, habilidade psicomotora,

controle de sinais vitais e medidas antropométricas, higiene, conforto, procedimentos

hospitalares, administração de medicamentos e estudo de caso.

Para cada critério uma nota é emitida (variando de 0,0 a 1,0), tornando o

procedimento avaliativo fragmentado em notas isoladas que, quando somadas, nem

sempre são capazes de refletir o verdadeiro aprendizado do aluno, tendo em vista

que mais do que a soma de notas, o aprendizado também deve ser captado por

meio das relações que o aluno estabelece, tanto entre os critérios estabelecidos,

como na relação com os professores, colegas e com a própria ciência.

No entendimento de Luckesi (1995), avaliar é um importante auxílio de

aprendizagem e de resultados, visto que o aluno se torna um dos sujeitos ao lado de

outros envolvidos, como o professor, a escola e a sociedade em sentido amplo. O

autor também afirma que, através da avaliação, é possível verificar se o sistema de

ensino está alcançando suas metas, assim como o grau de eficiência da prática

docente e o nível de aprendizagem em que o aluno se encontra.

Nessa perspectiva buscamos uma forma de avaliação mais democrática,

justa, qualitativa e não somente quantitativa. Diante desta constatação, propomos

investigar alternativas para as práticas tradicionais, que se mostrem mais adequadas

aos objetivos da disciplina de estágio curricular do curso técnico de enfermagem,

capaz de superar o modelo utilizado.

1 Breve percurso histórico dos cursos técnicos em enfermagem: da

regulamentação a consolidação prática

No decorrer de sua história, a enfermagem vem lutando para conquistar seu

espaço e reconhecimento científico. Como profissão, foi fortemente marcada por

concepções que a considerava um fazer manual/técnico, desta ausência de

pensamento crítico, observou-se a dificuldade da construção e consolidação da

profissão enquanto um campo científico, no qual se podiam conferir especificidades

de atuação.

No Brasil, a formação do enfermeiro é pioneira, tendo sido criada, em 1890, a

escola de enfermagem Alfredo Pinto, localizada no Hospital Nacional dos Alienados,

na cidade do Rio de Janeiro, com corpo docente formado apenas por médicos

daquela instituição (GERMANO, 1993).

Somente em 1923, também no Rio de Janeiro surge uma escola de

enfermagem no hospital São Francisco de Assis, que em 1926 passou a ser

chamada de Ana Néri, sendo a mesma financiada pela Fundação Rockfeller e sob

orientação de enfermeiras americanas. O interesse centrava-se na formação de

pessoal para atuar no combate das endemias e epidemias prevalentes no início do

século XX (SANTOS, 2005).

A partir da década de 50 houve uma multiplicação dos cursos de auxiliares de

enfermagem, pois a saúde pública atingiu seus objetivos no controle das endemias e

epidemias e ao mesmo tempo foi perdendo sua importância, e a necessidade do

mercado capitalista passou a se focar na formação de novos profissionais que

atuassem principalmente em hospitais, pois as ações que até então eram voltadas

para a promoção e prevenção da coletividade, passaram a ser individualizadas e

com enfoque no curativo (ALMEIDA, 1986).

O curso técnico em enfermagem surge nos anos 60, como uma proposição do

governo. As funções de supervisão de pequenas unidades hospitalares e de

cuidados a pacientes graves que não eram atendidos satisfatoriamente nem por

auxiliares, por falta de preparo técnico, e muito menos por enfermeiros, devido ao

número reduzido destes profissionais e que levou a Associação Brasileira de

Enfermagem (ABEN) a solicitar ao Conselho Federal de Educação (CFE) em 1965, a

regulamentação do curso técnico de enfermagem (OGUISSO, 2005).

De acordo com o referido autor os primeiros cursos técnicos foram criados

nas escolas de enfermagem Ana Néri e Luiza de Marrilac, ambas no estado do Rio

de Janeiro em 1966.

No Paraná, a primeira escola de formação de auxiliares de enfermagem, foi

criada em 1954, e a segunda no país, denominada Dr. Caetano Munhoz da Rocha

que hoje pertence à secretaria de saúde e tem o nome de Centro Formador de

Recursos Humanos Caetano Munhoz da Rocha.

Já em 1955, as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo criaram a escola

de auxiliares de enfermagem Catarina Labouré em Curitiba, autorizadas pelo

Ministério da Educação e Cultura, a funcionar a partir de 1956, e em 1966 o

Conselho Estadual de Educação do Paraná criou o curso técnico de enfermagem na

mesma instituição (PARANÁ, 2006).

Apenas em 1971 com a Lei nº 5.692, que consolidou as Diretrizes e Bases

para o Ensino de 1º e 2º grau e a oferta de cursos de profissionalização, o curso

técnico de enfermagem passou a compor o sistema educacional brasileiro em nível

de 2º grau, entretanto esse profissional somente foi reconhecido em 1986, com a Lei

Nº 7.498, regulamentada pelo Decreto Nº 94.406, de 1987, que discorre sobre o

exercício profissional da enfermagem, (COFEN, 2010).

A Lei Federal nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2010)

certifica que:

(...) a educação profissional assim concebida não se confunde com a

educação básica ou superior. Destina-se àqueles que necessitam se

preparar para seu desempenho profissional, num sistema de produção de

bens e de prestação de serviços, onde não basta somente o domínio da

informação, por mais atualizada que seja. Deve, no entanto, assentar-se em

sólida educação básica, ferramenta essencial para que o cidadão

trabalhador tenha efetivo acesso à conquista tecnológica da sociedade, pela

apropriação do saber que alicerça a prática profissional, isto é, o domínio da

inteligência do trabalho.

O município de Umuarama foi contemplado pela rede pública estadual através

da Resolução 5040/93, que autorizava o funcionamento do curso auxiliar em

enfermagem, no Colégio Estadual Profª Hilda T. Kamal e a Resolução nº 489/2002

autorizou o credenciamento do curso técnico em enfermagem subsequente – Área

Profissional: Saúde, isto é, para o aluno que conclui o ensino médio, com duração

de dois anos, já o funcionamento do curso técnico em enfermagem Integrado –

PROEJA, onde o aluno cursará o ensino médio e o profissionalizante no decorrer de

3 anos, ocorreu através do Parecer 598/08 (UMUARAMA, 2012).

A matriz curricular do curso técnico de enfermagem está, organizado por

disciplinas das áreas biológicas, humanas e as específicas do curso de

enfermagem, perfazendo um total de 1440h/a de teoria e 760h/a de estágio,

(PARANÁ, 2006).

A prática profissional supervisionada se dá concomitantemente com a teoria,

já no início do primeiro semestre, com o estágio de introdução em enfermagem,

sendo o mesmo realizado em hospitais, uma vez por semana, com carga horária de

seis horas/aula durante todo o semestre; nos semestres seguintes os estágios

permanecem na área hospitalar, e em unidades básicas de saúde, três vezes por

semana com carga horária que varia de cinco a quatro horas aula (UMUARAMA,

2012).

Dentre os desafios do processo ensino-aprendizagem nos deparamos com o

desenvolvimento do estágio curricular supervisionado, momento em que o aluno irá

desenvolver as técnicas de enfermagem, com atenção individual ao paciente ou

para a coletividade, levando informações pertinentes às necessidades identificadas

por este público, de promoção, prevenção e recuperação de agravos para o

indivíduo e/ou comunidade.

A Lei n. 11.788/2008, (2010) em seu artigo primeiro define o estágio como:

(...) ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de

trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educando que

estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação

superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial

e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da

educação de jovens e adultos.

Tendo, em vista, que o estágio curricular supervisionado das disciplinas

técnicas, comporta várias habilidades e competências, como também a formação de

conhecimentos específicos, a avaliação torna-se complexa no sentido de estar

garantindo a aprendizagem e preparando o aluno para seu futuro profissional e

inserção no mercado de trabalho.

Este trabalho foi desenvolvido em duas grandes etapas, sendo elas, pesquisa

bibliográfica e o projeto de intervenção pedagógica realizado no Colégio Estadual

Profª Hilda T. Kamal no município de Umuarama-PR, e do Grupo de Trabalho em

Rede (GTR) ofertado pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná, que teve

como objetivo desencadear uma reflexão acerca das práticas avaliativas

desenvolvidas até o momento, bem como propor verificar a conveniência da

utilização do Portfólio como prática de avaliação associada, ou não, a outros

instrumentos avaliativos.

O projeto de intervenção pedagógica teve como participantes 11 professores

enfermeiros do curso técnico de enfermagem e 01 pedagogo, não ocorrendo

nenhuma desistência no transcorrer do mesmo.

Foram realizados oito encontros (07 presenciais e 01 à distância), de cinco

horas cada um, às sextas-feiras, no período compreendido do dia 21/02/2014 a

06/06/2014, das 13h às 17h, perfazendo um total de 40h, no laboratório de

enfermagem do próprio colégio, sendo utilizados os seguintes recursos didáticos:

data show, papel, caneta, modelos de portfólio, técnica sociométrica, observação e

auto avaliação.

O grupo de trabalho em rede foi ofertado na forma on-line, tendo a

participação de 15 professores enfermeiros que ministram estágio e disciplinas

teóricas em cursos técnicos de enfermagem no Estado do Paraná, no período

compreendido do dia 01/04/2014 a 31/05/2014.

O planejamento dos instrumentos avaliativos das práticas curriculares

apresenta um valor importante enquanto elemento essencial do método didático.

Referem-se ao formato de ação e intervenção no campo da prática curricular, tendo

em vista o alcance dos objetivos propostos para a metodologia de ensino e

aprendizagem.

Para que a avaliação seja capaz de exercer suas funções (diagnóstica,

formativa e somativa), que a educação estabelece, faz-se necessário uso compatível

de diversos instrumentos avaliativos.

O intuito foi pontuar quais os instrumentos de avaliação que podem ou não

serem usados para aquisição de dados relativos ao aprendizado do aluno.

A escolha dos instrumentos avaliativos para a prática no estágio curricular

depende do campo da área de estudo, dos objetivos estipulados no plano de

trabalho docente, das condições de tempo do professor e do número de alunos por

grupo de estágio.

Os instrumentos avaliativos escolhidos devem, também, estar adequados aos

métodos e procedimentos usados nos campos da prática de estágio curricular

(material adequado, disponibilidade de espaço físico, aceitação do estagiário e

exemplos positivos da própria instituição concedente).

De acordo com Haydt (2004), os processos avaliativos podem apresentar

cada um deles, certas vantagens na sua praticidade, bem como algumas

desvantagens que não podem ser ignorados. Distinguir os aspectos favoráveis e os

desfavoráveis de cada instrumento pode colaborar com o professor no sentido

auxiliá-lo a eleger os recursos avaliativos mais apropriados, indicando os que são

mais harmônicos com o campo das práticas curriculares e os objetivos propostos no

plano de trabalho docente.

Há diferentes instrumentos de avaliação possíveis de serem usados nas

práticas de estágio: provas orais, provas escritas objetivas e dissertativas, relatórios,

portfólios, auto avaliação, teste de sondagem, debates, painéis, seminários, estudo

de casos, trabalhos individuais ou em grupo, provas elaboradas e resolvidas em

grupo e técnica sociométrica.

O surgimento de diferentes critérios e instrumentos de avaliação tem

provocado questionamentos entre os educadores na busca de novas estratégias e

ações diferenciadas para verificar a aquisição do conhecimento por parte dos alunos

e o próprio desempenho do seu trabalho.

Selecionamos para este estudo os instrumentos de observação, auto

avaliação, técnica sociométrica e o portfólio, haja vista serem instrumentos que se

revestem de grandes potencialidades educativas no curso técnico de enfermagem,

em consonância com a realidade dos campos de estágio já citados anteriormente.

A seguir apresentaremos os resultados dos dados obtidos, com base nas

experiências e depoimentos dos professores que acompanham o estágio curricular

no curso técnico em enfermagem.

2 Projeto de intervenção pedagógica (PIP):

Constatou-se que os professores do curso técnico em enfermagem que

participaram do PIP, ministram tanto aulas práticas como teóricas, e destacam a

relevância do tema, sendo que a avaliação faz parte do plano de trabalho docente,

assumindo, numa concepção crítica, um caráter de maior flexibilidade para o

professor e aluno neste processo educativo.

O tempo de serviço dos professores no curso variou de dois a onze anos.

Dentre esses professores entrevistados 58% são do quadro próprio do magistério e

ministram a mesma disciplina de estágio desde o seu ingresso no curso; 42% dos

professores são do processo seletivo simplificado, levando a uma alteração de carga

horária anual assim como uma variedade nas disciplinas práticas.

2.1 Significado e importância da avaliação

O significado de avaliação variou pouco na opinião dos professores, tendo

todos eles demonstrado noção acerca do tema, o que foi averiguado pela coerência

com as definições constantes na área educacional. Destacamos a seguir alguns

conceitos:

(...) no final de cada conteúdo aplicado, e em todo o período letivo (P 2). (...) tem como papel primário diagnosticar os conhecimentos prévios do aluno, para permitir o planejamento que atenda as necessidades do aprendizado (P 3). (...) primeiro verificar se o aluno aprendeu; segundo verificar se consegui passar o conhecimento (P 7).

(...) medir o nível de conhecimento do aluno (P 9).

Quanto à importância da avaliação no ensino-aprendizagem, os professores

foram unânimes em considera-la parte indispensável. O que pode ser evidenciado

nos trechos abaixo:

(...) constatar se ele aprendeu e se é capaz de manter esse conhecimento (P 1). (...) verificar o que ou quanto o aluno aprendeu dos conteúdos trabalhados na teoria e se aplica esse conhecimento em estágio (P 4). (...) avaliar a capacidade de interação professor/aluno (P 9). (...) permite avaliar o aluno, em seu todo (P 10).

2.2 Instrumentos de avaliação:

Os instrumentos avaliativos utilizados nas práticas curriculares têm um valor

importante, pois se referem ao formato de ação e intervenção no campo da didática,

tendo em vista o alcance dos objetivos propostos pela metodologia de ensino e

aprendizagem.

A avaliação faz parte do plano de trabalho docente, assumindo, numa

concepção crítica, um caráter de maior flexibilidade para os envolvidos neste

processo educativo.

2.2.1 Avaliação por meio de observação:

Dentro das concepções de Haydt (2004), é uma técnica de que o professor

dispõe para melhor conhecer o desempenho de seus alunos, identificando suas

dificuldades e avaliando seu comportamento nas várias atividades realizadas e sua

evolução na aprendizagem.

Assim como Villas Boas (2007), acrescenta que possibilita investigar as

características particulares do aluno e da sua conduta na coletividade, para a

identificação de suas potencialidades e fragilidades, assim como dos aspectos que

facilitam e ou dificultam o aprendizado.

De acordo com o relato dos professores que vem ao encontro dos teóricos, os

mesmos utilizam a observação formal e informal em suas atividades docentes

priorizando fragilidades, potencialidades e dificuldades; observam a todos, mas em

especial aos que apresentam mais dificuldades no transcorrer das atividades; o

mesmo ocorre através da interação com o grupo ou acompanhamento individual;

registrando as observações no diário de classe, no próprio trabalho escrito do aluno

ou no relatório diário que o aluno deve fazer.

O processo avaliativo por meio da observação é muito útil em todo o processo

de aprendizagem e de fácil utilização na educação profissional, pois o professor

permanece ao lado do aluno durante todo o período em que transcorre o estágio.

2.2.2 Avaliação por meio da técnica sociométrica:

Segundo Haydt (2004), a técnica sociométrica consiste em algumas

perguntas a serem respondidas pelos alunos, que permitem verificar como estão as

relações sociais no ambiente das práticas curriculares, reconhecer os alunos aceitos

e identificar os alunos que, por algum motivo estão marginalizados.

Este modelo de avaliação era desconhecido para a totalidade dos professores

do curso técnico de enfermagem, sendo assim, textos foram apresentados,

propondo aos professores maior conhecimento e proximidade com o instrumento.

Desta aproximação, os professores concluíram que a técnica fornece ao

professor informações úteis sobre o relacionamento entre os alunos, tendo em vista

ser a interação um importante fator, que merece ser analisado com maior atenção e

em conjunto com outros dados oriundos de outras técnicas avaliativas como, por

exemplo, a observação.

O professor pode e deve utilizar esses dados orientando os alunos no sentido

de melhorar as relações sociais nas práticas curriculares, pois é um exercício para a

vida profissional, onde deverá formar hábitos e atitudes desejáveis de convívio

social.

2.2.3 Avaliação por meio da auto avaliação:

Segundo Villas Boas (2007) a auto avaliação é um processo, pelo qual, o

próprio aluno analisa sucessivamente as atividades por ele desenvolvidas e relata

ou descreve suas percepções e sentimentos.

De acordo com depoimentos dos professores, este instrumento é utilizado no

último dia de estágio, de forma oral ou por escrito, mas não existe o registro oficial

deste tipo de avaliação.

Quando questionados do por que fazer e não registrar os resultados da auto

avaliação, os mesmos afirmaram ser um exercício para o desenvolvimento do senso

de responsabilidade e do espírito crítico.

Os relatos acima vêm ao encontro do que Villas Boas (2007): nem sempre os

alunos são informados sobre o que é feito com os dados coletados. Esse

procedimento é um exemplo de prática avaliativa autoritária, que confunde os alunos

porque eles não sabem o uso a ser dado às informações por eles fornecidas.

A função primordial da auto avaliação não se articula com nota e/ou

conceitos; tem um significado emancipatório de permitir ao aluno pensar

sucessivamente sobre o processo da sua aprendizagem e ampliar a habilidade de

registrar suas percepções.

Compete ao professor estimular o exercício da auto avaliação pelos alunos e

aproveitar as informações fornecidas para reorganizar o trabalho pedagógico

(HAYDT, 200).

2.2.4 Avaliação por meio do Portfólio:

A origem do portfólio na escola surgiu nos anos 90, nos Estados Unidos,

como uma forma de avaliação, muito utilizada na área das artes, com o objetivo

contribuir no processo ensino aprendizagem e que surge com a finalidade de instituir

um novo modelo de avaliação. No Brasil este instrumento de avaliação é utilizado

em algumas escolas na educação infantil e em poucas universidades, geralmente

nos estágios supervisionados, existindo poucas publicações sobre os resultados

conquistados, (ALVES, 2003).

Para Reinaldo, Gonçalves e Costa, (2012), este instrumento é a arte de

aplicar os meios disponíveis, explorando-os de forma proveitosa; é de grande valor

para a educação, pois o aluno pode incluir trabalhos individuais ou em grupo,

relatórios, desenhos, experiências, produções livres de uma maneira dinâmica, ou

seja, com uma descrição consistente sobre o que ele aprendeu (ou não) e sobre as

experiências realizadas.

Com reflexões semelhantes está a de Villas Boas (2007) que, define o

portfólio como um compêndio amplo em que os alunos iniciantes ou não, no campo

das práticas curriculares, colocam amostras de suas produções, as quais

apresentam os atributos e abrangência do seu aprendizado, de modo a serem

contemplados pelo professor, permitindo ao próprio aluno compreender o seu

processo de ensino aprendizado.

Para a maioria dos professores a avaliação por meio do portfólio era

totalmente desconhecida; o tema gerou muita inquietação, desconfiança, dúvidas;

tudo isso se desfez após esclarecimentos, à luz do que dizem os especialistas

(Alves; Reinaldo, Gonçalves e Costa; Santos; Villas Boas) e discussões sobre este

tema.

Desta forma os professores passaram a ver de forma positiva a construção do

portfólio, por entenderem que é um instrumento de avaliação que possibilita a

reflexão e o feedback das práticas curriculares em campo de estágio, assegurando a

construção do conhecimento, do desenvolvimento pessoal e profissional dos

envolvidos neste processo (aluno e professor).

3 Grupo de Trabalho em Rede (GTR):

O Grupo de Trabalhos em Rede faz parte de uma das atividades do Programa

de Desenvolvimento Educacional - PDE, constituindo-se numa interação virtual entre

o professor PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual, integrante do

Programa de Formação Continuada em Educação/SEED-PR.

As atividades propostas no GTR apresentaram o relato das experiências dos

professores quanto à avaliação em campo de estágio. Todos os professores

participantes são graduados em Enfermagem, ministram aulas teóricas e práticas,

nos cursos técnicos em enfermagem, com tempo de serviço como docente que varia

de um a nove anos.

Os instrumentos avaliativos utilizados pelas colegas do GTR são os

seguintes:

1) 53% utilizam o registro diário em campo de estágio;

2) 33% a ficha de acompanhamento de estágio ao final do mesmo;

3) 33% auto avaliação diariamente ou ao final do semestre;

4) 33% o portfólio;

5) 20% a observação em campo de estágio, havendo o registro destas observações

na pasta do aluno.

Em relação ao uso do portfólio nos estágios do curso técnico de enfermagem:

- 86% dos educadores consideram viáveis;

- 14% o consideram inviável tendo como justificativa insegurança em sua

aplicabilidade, mas, consideram um modelo inovador e que poderia ser utilizado em

conjunto com outros métodos avaliativos.

Freire (1993), para ensinar é preciso ousar. Neste sentido, no que diz respeito

ao processo ensino aprendizagem:

“...a tarefa do ensinante, que é também aprendiz, sendo prazerosa é igualmente exigente. Exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo... É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência... sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar... aprendemos, ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro... com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica. Jamais com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional”.

A amorosidade, a completude do ser não pode ser ignorada em nenhuma

etapa do processo pedagógico. É o que nos ensina Paulo Freire.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação entendida como uma etapa do processo ensino-aprendizagem,

não pode ter um aspecto apenas classificatório; neste contexto, sua função é

oferecer subsídios para uma tomada de decisão, direcionando o aprendizado e

conduzindo a ação.

Com o objetivo de superar uma prática puramente classificatória, o grupo

conclui que a avaliação deve contribuir para o êxito da ação pedagógica, embasada

em orientações metodológicas que permitam espaço para a interpretação e

discussão, que considerem a relação do aluno com o conteúdo trabalhado, o

significado desse conteúdo e a compreensão alcançada por ele, através da

implantação conjunta de dois modelos de avaliação: o portfólio e a auto avaliação.

Assim, os resultados comparativos obtidos após a implementação desta

proposta, possibilitaram um novo olhar e novos direcionamentos, em busca de um

repensar sobre as formas avaliativas utilizadas nas práticas curriculares.

Através do programa de desenvolvimento educacional foi possível constatar o

quanto é possível avançar em relação ao tema e respondeu às minhas expectativas

enquanto educadora. Essa experiência demonstrou que não há certezas em um

mundo em constante mudança, principalmente em relação às metodologias

educacionais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALMEIDA, M. Rocha O saber de enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez, 1986.

ALVES, Leonir Pessate. Portfólio como instrumento de avaliação dos processo de ensinagem. 2003. Disponível em: <www.anped.org.br/reunioes/2/trabalhos/leonirpessatealves.rt> Acesso em 20 abr 2013.

BRASIL, LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9.394/1996. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Cartilha esclarecedora sobre a lei do estágio: lei N. 11.788/2008. Brasília, 2010.

COFEN, Conselho Federal de Enfermagem, 2010. Disponível em <www.novo.portalcofen.gov.br/categoria/legislacao > Acesso em 25 abr 2013.

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar Imprenta: São Paulo: Olho d'agua, s.d. 1993.

GERMANO, Raimunda M. Educação e ideologia da enfermagem no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1993.

HAYDT, Regina C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 6ª ed. São Paulo: Ática, 2004.

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