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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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Contribuição da Educação Física na Educação das Relações Étnico-Raciais,

Através de Jogos e Brincadeiras.

Autora: Edenilce Aparecida Oliveira1

Orientadora: Gabriela Chicuta Ribeiro2

RESUMO

O presente trabalho vem salientar a importância de contextualizar os jogos e

brincadeiras, da cultura africana e indígena, inserindo nos conteúdos das aulas de

Educação Física. Através de abordagem teórico-prática na realização das atividades,

buscou-se entendimento das origens de cada jogo e brincadeira, oportunizando essa

vivência, com objetivo de minimizar questões discriminatórias étnico-raciais,

presentes no cotidiano escolar. Efetivando a inclusão no currículo da temática

“História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”; imposta pela Lei 11.645/08. Fazendo o

relato das práticas contextualizadas, expor um material de pesquisa para que os

educadores possam incluir em seus planejamentos, algumas das atividades

desenvolvidas com o educando.

Palavras-chave: Educação Física; jogos e brincadeiras; relações étnico-raciais.

ABSTRACT

This work is to emphasize the importance of contextualizing the games and pranks , African and indigenous culture by inserting the contents of the Physical Education classes . Through theoretical and practical approach in carrying out the activities , we sought an understanding of the origins of each game and play, providing opportunities this experience , in order to minimize ethnic and racial discrimination issues , in everyday school life . Committing to the inclusion in the curriculum theme "History and Afro -Brazilian and indigenous " ; imposed by Law 11.645 / 08 . Making the reporting

1 Professora de Educação Física na rede estadual de ensino do Estado do Paraná, desde 1998 e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – turma 2014/2015, com lotação na Escola Estadual Costa Vianna – Ensino Fundamental, Médio e Profissional – São José dos Pinhais, NRE – Área Sul. Endereço Eletrônico: [email protected] 2 Professora de Educação Física na rede federal de ensino, no Instituto Federal do Paraná – Campus Colombo, desde novembro de 2015 e professora orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – turma 2014/2015. Endereço Eletrônico: [email protected]

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of contextual practices , expose a research material so that educators can include in their planning , some of the activities developed with the student . Keywords: Physical Education; games and activities ; ethnic-racial relations .

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJETO

Este projeto foi desenvolvido durante o Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), o que vem a ser uma política pública de Estado regulamentado

pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010, oportunizando um diálogo

entre professores do ensino superior e os da educação básica, através de atividades

teórico-práticas, promovendo o conhecimento, para mudanças qualitativas no espaço

escolar.

A preocupação em articular um trabalho teórico-prático nas aulas de

educação física do 6° ano, contextualizando jogos e brincadeiras da cultura africana

e indígena, evitando situações discriminatórias no resgate dessas culturas surgiu após

discussões na semana pedagógica entre professores de Educação física, na escola

Angelina Annamaria Cônsolo do Prado3. Desta maneira, analisou-se as práticas já

executadas pelos alunos e efetivação na implementação da Lei 11.645/08, que

estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial

da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e

Indígena”.

Com objetivo de promover ao educando vivenciar, conhecer e respeitar as

expressões culturais negras e indígenas, através do lúdico em práticas

contextualizadas e inseridas no planejamento anual. A realidade hoje mostra a prática

desses alunos restrita apenas a execução motora, sem descartar a importância do

lúdico, o que torna relevante a efetivação deste trabalho teórico-prático, na busca de

uma aprendizagem mais significativa a realidade do educando.

A Educação Física permite que se vivenciem diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais. Permite também que se perceba como essa variada combinação de influências está presente na vida

3 Colégio estadual localizado na rua Dr. Muricy, n0 3421, bairro Costeira, em São José dos Pinhais – PR.

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cotidiana . Particularmente no Brasil, as danças, os esportes, as lutas, os jogos e as ginásticas, das mais variadas origens étnicas, sociais e regionais, compõem um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. O acesso a esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não preconceituosa e não discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais (religiosos, econômicos e de diferentes origens regionais) e das pessoas que deles fazem parte.(BRASIL, 1998, p.38)

Nesse sentido, o relato tem por objetivo socializar a experiência da

implementação, do desenvolvimento e dos resultados, das práticas com jogos,

brinquedos e brincadeiras de origem africana e indígena, realizados com alunos do 6º

ano do ensino fundamental.

2. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO SOBRE AS

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

2.1Relações étnico-raciais na educação

A educação precisa visualizar quem são os sujeitos concretos do cotidiano

escolar, bem como, articular sua vivência sociocultural ao processo de ensino

aprendizagem a que estará proposto.

Segundo LOPES, (2006) apud TRINDADE, (2013, p.101) “nos dados do IBGE

e do Censo Escolar, quase metade da população em geral e escolar é constituída por

negros”.

Os Movimentos Negros da década de 70 foram fomentadores de uma preocupação particular sobre a problemática da educação e das relações interétnicas. A partir destes movimentos sociais surgem educadores e pesquisadores trabalhando as temáticas dos afrodescendentes nos sistemas de produção e transmissão da cultura; (CUNHA JR.,1999,apud TRINDADE, 2013, p.70)

Quando estudamos as sociedades africanas, buscamos novos aprendizados,

pretendendo ampliar uma visão de mundo. Para ROCHA (2011, p. 23) [...] a cultura

brasileira se materializa no cotidiano de forma espontânea, por intermédio do esporte,

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da música, da literatura, da dança, das artes em geral, da economia, das organizações

populares e outros”.

Deve ser compromisso do educador possibilitar aos alunos brasileiros/as a

aproximação dos valores afro-civilizatórios, que fazem parte de nossa formação

cultural, visto que:

A tradição africana atualizada pelos afrodescendentes é autêntica na medida em que é fiel à sua forma cultural, original na medida em que advém da experiência (ética) coletiva dos africanos. A tradição cria identidade pois ela é o manancial dos valores civilizatórios e dos princípios éticos (filosóficos) que singularizam a história dos afrodescendentes. A legitimidade da tradição africana dá-se, exatamente, por ela não ser memória fossilizada no passado, mas uma experiência atualizada no calor das lutas dos afrodescendentes. (OLIVEIRA, 2003, apud ROCHA, 2011 p. 23 ).

O que ainda está presente em nossa sociedade, são sentimentos de

superioridade, com grau de dominação. Em contrapartida, estão os grupos que se

sentem inferiorizados e ou discriminados, tendo como causas as desigualdades

sociais. Nas instituições de ensino também estão evidentes tais sentimentos; na busca

de posturas antirracistas, os educadores vêm construindo ações para promoção da

cidadania, valorizando as culturas dos diversos grupos sociais, principalmente

indígenas e negros. Neste sentido “As formas de discriminação de qualquer natureza

não têm o seu nascedouro na escola, porém o racismo, as desigualdades e

discriminações correntes na sociedade perpassam por ali.” (BRASIL, 2004, p.14)

Reconhecemos o quanto é necessário intervir e analisar a questão das

desigualdades e dos preconceitos existentes no espaço escolar. Segundo TRINDADE

(2013, p. 12) “[...] a escola e a sociedade estão marcados por essa problemática que

afeta, não só os afro-brasileiros, mas a outros grupos humanos”.

Para a valorização dos grupos discriminados, torna-se necessária uma

reformulação no currículo, para que haja maior reconhecimento e valorização das

diferenças.

Cultivar as manifestações culturais tradicionais na escola pode contribuir para a realização do projeto de construção de uma pedagogia voltada à aceitação e ao dialogo intercultural. Tais práticas contêm elementos valiosos que revelam a história do país, as situações políticas, históricas e econômicas

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enfrentadas por diversos grupos ao longo dos séculos. (NASCIMENTO, 2009, p. 34)

As alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN,

propostas pela Lei 10639/08, geraram uma série de ações do governo, objetivando

sua efetivação. Quando o Conselho de Educação das Relações Étnico-raciais

estabelece condições para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana

(Parecer CNE/CP n°03/2004), apontando conteúdos a serem incluídos e trabalhados,

e também modificações nos currículos escolares em todos os níveis e modalidades

de ensino.

O Parecer n° 03/2004 abordou com lucidez e sensibilidade a questão da implementação da Lei, reafirmando que a educação deve concorrer para a formação de cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial, qualquer que seja este, cujos direitos devem ser garantidos e cujas identidades devem ser valorizadas. (RANGEL, 2013, p. 25)

A inserção destes conteúdos relevantes, não deveria acontecer em caráter de

obrigatoriedade, imposto por uma política pública. Mas, sim com a percepção de nós

educadores, quanto a relevância de promover nas instituições escolares as culturas

afro-brasileiro e indígena, permitindo assim fazer com que o educando possa entender

e até se sentir pertencente a uma determinada cultura, valorizando e preservando a

cultura do nosso país.

Para RANGEL (2013, p.26) “Esta Lei corrobora com o entendimento de que

negros e indígenas convivem com problemas da mesma natureza, embora em

diferentes proporções”; o que reforça ainda a importância de levar essa discussão

para dentro da escola, com a necessidade de combater o racismo e a discriminação,

já que uma das funções da escola é a formação de cidadãos críticos. Mostrando

também, que a cultura afro-brasileira deve ser trabalhada principalmente nas áreas

de Educação Artística, Literatura e História Brasileira.

Para que o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial na educação se efetivem, são necessárias metodologias, métodos e técnicas que promovam a mudança de olhar diante das desigualdades, novos saberes sobre a história e cultura afro-brasileiras, mudanças de atitudes diante das situações de racismo e alteração da realidade. (NEVES, 2008, p.81)

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Dentro dos conteúdos que a disciplina de Educação Física apresenta no

currículo escolar, a cultura afro-brasileira e indígena poderá ser articulada com as

diversas manifestações culturais; evidenciando a importância da socialização entre as

diversas culturas, evitando atos e situações discriminatórias. (BRASIL, 1998).

Uma educação física escolar que considere o princípio da alteridade saberá reconhecer as diferenças – não só físicas, mas também culturais – expressas pelos alunos, garantindo assim o direito de todos à sua prática. A diferença deixará de ser critério para justificar preconceitos, que causam constrangimentos e levem à subjugação dos alunos, para se tornar condição de sua igualdade, garantindo, assim, a afirmação do seu direito à diferença, condição do pleno exercício da cidadania. Por que os homens são iguais justamente pela expressão de suas diferenças. (DAÓLIO, 2007, p.100).

Alguns aspectos culturais podem ser trabalhados dentro das práticas

corporais, seja através da dança, das brincadeiras, dos esportes, da ginástica, das

lutas; contextualizando cada uma destas manifestações. (BRASIL, 2004).

Entende-se que é necessário contextualizar o conhecimento a ser ensinado, já que é sabido que, para um determinado saber ser apropriado pelo educando, antes de qualquer coisa, o conhecimento passado deve ter algum significado para sua vida. A tarefa principal é de permitir que os alunos vivenciem na escola práticas advindas de sua própria origem, de suas raízes. (RANGEL, 2013, p. 66)

2.2 Procedimentos metodológicos

Esta pesquisa caracterizou-se por uma pesquisa-ação, por buscar tentativas

de solucionar problemas coletivos, o que vem a ser um:

[...] processo no qual os atores implicados participam junto com os pesquisadores, para chegarem inteiramente a elucidar a realidade em que estão inseridos, identificando problemas coletivos, buscando e experimentando soluções em situação real. (THIOLLENT, 2009, p.2)

Na primeira fase deste estudo, realizei um levantamento de jogos, brinquedos,

brincadeiras afro-brasileiras e indígenas e, a partir de material bibliográfico e da

internet, produzi uma apostila(produção didática) contextualizando cada atividade

proposta.

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O segundo momento, da fase de implementação deste material, ocorreu da

seguinte forma: explicação do projeto e seus objetivos às turmas de 6º ano (Colégio

Angelina Annamaria Cônsolo do Prado); apresentação de vídeos sobre a cultura

africana, indígena e os Jogos Indígenas, também chamados de Olimpíadas Verdes;

também do filme “Vista a minha pele” , a partir do qual foram discutidas questões sobre

discriminação, racismo e preconceito em sala de aula e na sociedade em geral; a

confecção de alguns materiais (brinquedos) para realização das práticas. Antes da

realização de cada atividade prática, foi abordado todo referencial teórico da origem e

organização das regras, para execução das mesmas, finalizando com discussões e

questionamentos acerca do conhecimento ou realizações prévias pelos alunos. O

desenvolvimento das atividades seguiu um cronograma pré-estabelecido,

transcorrendo nos meses de março, abril, junho, julho, agosto e início de setembro.

O educando nesta fase do ensino fundamental (6º ano), apresenta uma

satisfação e um desejo de brincar muito intenso, tanto nos jogos e brincadeiras

espontâneos como nos dirigidos. O trabalho com lúdico tem extrema importância e

necessidade para a formação integral criança; Negrine sustenta em relação a esta

questão, que:

As contribuições das atividades lúdicas no desenvolvimento integral indicam que elas contribuem poderosamente no desenvolvimento global da criança e que todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança.(1994, p.9)

2.3 Resultados e discussão

Durante o trabalho com as atividades lúdicas, a motivação e envolvimento dos

alunos ficaram mais evidentes, durante as apresentações das brincadeiras, dos jogos

e dos brinquedos. Foi possível identificar, através da contextualização das práticas,

um conhecimento significativo da pluralidade cultural do nosso país, vivenciando e

identificando as origens de cada atividade proposta, bem como discutindo e

questionando a fundamentação teórica das mesmas.

Inicialmente os alunos foram questionados sobre o conhecimento prévio

referente ao continente africano. Neste momento, seus relatos restringiram-se a

população apenas da cor negra, desertos, safáris e miséria predominante, vistos em

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filmes ou reportagens na TV. Após assistirem aos vídeos4 do tema em questão,

conheceram um pouco da cultura, infraestrutura e a população de alguns estados

africanos, desmistificando as informações que possuíam deste continente.

As contribuições dos povos africanos não se restringem apenas a cultura, mas

também na formação social e demográfica do povo brasileiro.

No campo da cultura, são inúmeras as experiências de politização das expressões culturais negras, no sentido de fortalecimento da identidade étnica e racial da população negra, tais como as oriundas dos terreiros de candomblé, das bandas de rap ou dos blocos afro. (TRINDADE,2013,p.30)

Na apresentação dos Jogos Indígenas, conhecido como “Olimpíadas Verdes5”

e a comparação com os Jogos Olímpicos, os alunos questionaram inicialmente se as

premiações eram semelhantes, somente após o termino do vídeo, foi identificado o

caráter apenas participativo e comemorativo, que esta festividade indígena envolve.

Organizado pelo Comitê Intertribal Indígena, com apoio do Ministério do Esporte, os Jogos dos Povos Indígenas têm seguinte mote: “O importante não é competir, e sim, celebrar”. A proposta é recente, já que a primeira edição ,dos jogos ocorreu em 1996, e tem como objetivo a integração das diferentes tribos, assim como o resgate e a celebração dessas culturas tradicionais. (Ministério do Esporte/apresentação, s/d).

Ao realizarem outras atividades propostas na produção didática, os alunos

fizeram comparações significativas de algumas delas, por exemplo:

_ Jogo do Shisima6, jogado num tabuleiro com 6 peças, três para cada

participante, ter semelhança com o jogo de trilha;

_ Jogo do Ronkrã7, jogado por duas equipes com bastões e bola, os fez

lembrar do fut-pano (realizado aos pares com bastão e pano);

4 Apresentados na produção didática e, disponíveis em:

http://www.youtube.com/watch?v=Q3RRk8AoX1E&feature=related e

http://www.youtube.com/watch?v=3vllE0-Xuo0&feature=related

5 É considerado um dos maiores encontros esportivos, culturais e tradicionais de indígenas da América. 6 Originário do país africano Quênia. 7 É um esporte coletivo, de origem indígena, praticado pelo povo Kayapó, do estado do Pará e semelhante ao hóquei sobre grama.

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_ Jogo da Onça8, jogado em dupla, num tabuleiro com 14 peças

representando os cachorros e uma que seria a onça, ter mesma regra para captura,

como jogo de damas;

_ Pegue a Cauda9, realizado em colunas tendo o último um lenço preso na

calça, com o rabo de gato (realizado individualmente com uma tira para cada aluno).

Mas, o relato de uma aluna em específico, foi significativo e motivador, pois

após criar o tabuleiro do jogo da onça, conhecer sua origem e aprender a forma de

jogar, levou esse aprendizado para casa, transferindo ao irmão que mostrou interesse

pela atividade.

Parafraseando RANGEL (2013, p.67) há a necessidade de fazer o aluno se

sentir pertencente a determinada cultura, buscando formas de proporcionar a prática

desta cultura fora do ambiente escolar, para que o conhecimento não se torne apenas

componente curricular. Sendo necessário resgatar possibilidades de vivência

extraclasse.

Evidenciei durante a realização das atividades, a preocupação exacerbada

com a execução motora apenas, pela própria disciplina ser entendida e visualizada

pelo educando, como predominantemente prática. Após o conhecimento adquirido

referente às origens de cada jogo ou brincadeira, acredito ter desmistificado um pouco

esta concepção, com o trabalho contextualizado.

Na confecção dos tabuleiros, a proposta inicial seria de um trabalho

interdisciplinar com a disciplina de Matemática, porém tal interação não ocorreu. O

que também sucedeu com a disciplina de Geografia, onde houve até uma conversa

inicial, de que pudéssemos relacionar o conteúdo da cultura africana, identificando no

mapa tal continente e as localidades originárias das brincadeiras, jogos ou brinquedos

apresentados. Mas, segundo relato do professor, a escola não dispunha de mapas do

continente africano, e este conteúdo poderia ser abordado somente em um próximo

trimestre. Com a disciplina de Arte, houve um ponto favorável de interação, pois este

elatou já utilizar o filme “Kiricu10”, como recurso didático, no trabalho de resgate da

cultura afro-brasileira.

8 Primeiro jogo de tabuleiro criado pelos povos indígenas e praticado no Brasil. 9 Tem sua origem na Nigéria e seu objetivo é capturar os lenços das outras colunas sem perder o seu. 10 Desenho animado, que conta a história de um pequeno herói africano.

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3.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o trabalho desenvolvido, os educandos puderam ter outra percepção do

continente africano e da cultura indígena, aprimorando o conhecimento desta

temática, através das práticas contextualizadas. Acredito ainda que a Lei 11.645/08,

que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, possa

ser efetivada, incluindo aos conteúdos da disciplina de Educação Física, de forma

lúdica, promovendo uma aprendizagem significativa e motivadora aos alunos.

A contribuição das práticas contextualizadas das brincadeiras, brinquedos e

jogos de origem afro-brasileiros e indígenas vem auxiliar no combate a discriminação

étnico-racial, despertando para conscientização e valorização dessa cultura.

De acordo com Cavalleiro, (2000, apud Rodrigues, 2014, s/p.) “O silêncio que

atravessa os conflitos étnicos na sociedade é o mesmo que sustenta o preconceito e

a discriminação no interior da escola”.

Percebi com este trabalho a importância para nossos alunos, de vivenciar e

discutir a diversidade de manifestações culturais, contribuindo para um novo olhar a

respeito das culturas afro-brasileira e indígena.

4.REFERÊNCIAS

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______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Afabetização e Diversidade. Diretrizes Curriculares Nacionais para a

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