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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

O uso dos audiovisuais no estudo da paisagem resultante da exploração

econômica no Sudoeste do Paraná

Autora: Rosa Maria Nath1

Orientador: Prof. Dr. Clayton Luiz da Silva2

RESUMO

O espaço geográfico é o objeto de estudo da geografia. Através dele, o homem se apropria para

suprir suas necessidades e criar outras mais. Desta forma a paisagem vai sendo modificada pelas

ações do homem de acordo com interesses da sociedade em que está inserido. O presente trabalho

aborda a ocupação do Sudoeste do Paraná, historicamente sucedendo e/ou superpondo a sociedade

campeira, da madeira, da erva-mate, do tropeirismo e a da agricultura mecanizada. O uso do recurso

audiovisual como suporte no estudo da paisagem, das modificações socioespaciais, nas

investigações e na busca de respostas do por que deste espaço apresentar-se desta forma,

contribuiu para a construção do conhecimento. É um recurso que permite que o discente se aproprie

de alguns conceitos fundamentais da geografia e compreenda o processo de produção e

transformação do espaço geográfico contextualizando o conteúdo, possibilitando a formação de um

cidadão capaz de interferir na realidade de forma consciente e crítica.

Palavras-Chave: Sociedade campeira; madeira; erva-mate; tropeirismo; agricultura

mecanizada; audiovisual.

1. INTRODUÇÃO

As modificações da paisagem são derivadas da exploração econômica e

suas transformações ligadas a alterações climáticas, o intemperismo, provocado

pelos ventos, água e variações de temperaturas. Para estudá-las é necessário

considerá-las em sua plenitude espacial, onde as mudanças são determinadas por

interesses políticos, econômicos e sociais que naturalmente se alteram ao longo do

tempo. A paisagem é a materialização do momento histórico associado a aspectos

sociais que ganham vida num dado local.

A região, com sua teia de relações que alcançam o mundo, é o lugar onde

as coisas acontecem, é a superfície geográfica onde as produções econômicas se

realizam e, por conseguinte as modificações ocorrem.

1 Professora da Rede Estadual na disciplina de Geografia, no Colégio Estadual de Pato Branco –

EFMPEN. 2 Docente do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.

É no lugar que os eventos históricos ocorrem e modelam o subespaço através

das ações humanas que não acontecem isoladamente já que há uma continuidade

temporal e espacial.

Os eventos históricos ligam os lugares, dão significados e mudam ao longo do

tempo.

Neste sentido, constatou-se a necessidade de periodizar tais eventos na

região sudoeste do Estado do Paraná para melhor compreensão das modificações

socioespaciais desse espaço em detrimento dos aspectos naturais, em especial da

mata com Araucária. Logo, fizemos um recorte da totalidade dessa região

abordando um conjunto de eventos considerados relevantes para o entendimento da

exploração econômica tais como: os períodos do tropeirismo, da erva-mate, da

madeira, da agricultura mecanizada, fundamentais para o desenvolvimento

econômico e ocupação do sudoeste paranaense.

A metodologia compreendeu o uso dos audiovisuais, uma forma peculiar de

contar histórias através de suas narrativas e linguagens, expressando a realidade da

dimensão espaço-temporal. Estes assumiram o papel de problematizador para

pesquisas e formador de conceitos geográficos. Desta forma foi o ponto de partida

para o estudo, discussão e investigação, buscando responder “onde e por que”

determinado lugar é assim; levando os discentes à pesquisa e análise crítica.

Estudar as modificações socioespaciais e econômicas ocorridas em

diferentes períodos abordando a sociedade campeira, o tropeirismo, a erva-mate, a

madeira e a agricultura mecanizada, ocorridas na região do Sudoeste Paranaense

empregando como metodologia o uso de audiovisuais.

Desenvolveu-se o projeto com os discentes do ensino fundamental do 7º ano

do Colégio Estadual de Pato Branco.

A geografia é uma disciplina que busca a compreensão do espaço produzido

pela sociedade. Através da utilização de metodologias dos audiovisuais pode-se

possibilitar uma aprendizagem significativa para os discentes; os quais poderão ler,

olhar criticamente, refletir e analisar sobre posições filosóficas e políticas do espaço

geográfico, observando as mudanças ao longo do tempo e em diferentes lugares.

Santos (1999, p.25) referindo-se “às consequências sociais da revolução

técnico-científica, alinha quatro tipos de mudanças: econômicas, políticas, culturais e

sociais, as quais podem ocorrer em qualquer lugar do espaço geográfico”. Entende-

se nas Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE), o espaço geográfico como o objeto

de estudo da Geografia, o qual é produzido e apropriado pela sociedade, sendo

indissociáveis às ações humanas (naturais, culturais e técnico).

Incontestavelmente, a técnica utilizada influencia o espaço geográfico através

da ocupação do solo implicando transformações causadas pelo uso das tecnologias.

Novos recursos utilizados pela sociedade viabilizam a apropriação deste

espaço que suprirá suas necessidades já existentes e outras a serem criadas,

obviamente, muitas vezes, em situações de conflito entre os diferentes interesses

encarnados pelos distintos sujeitos sociais que compõem a sociedade. É a

otimização dos recursos para o desenvolvimento econômico e social, sempre

relacionado a um projeto que se sobrepõe, frente aos distintos projetos de futuro

existentes na sociedade. Assim, a paisagem vai sendo modificada pelas ações do

homem de acordo com os interesses da sociedade em que está inserido e vai se

envolvendo no processo histórico que imprime na paisagem seu sentido e condição

de existência. A paisagem, com suas formas e volumes, interfere, orienta, e dá

sentido as ações sociais que superpõem ao longo do tempo. O estudo das

motivações responsáveis pela construção das paisagens é importante para que os

estudantes possam compreender a sucessão das paisagens dentro de seus

respectivos contextos históricos, de modo a entender conjuntamente o eixo das

sucessões que constituem o arranjo histórico de um dado lugar, conectado a sua

região, sem esquecer as influências e interferências do mundo.

Santos (1996, p.67-70) afirma que “Os eventos, as ações, não se geografizam

indiferentemente. (...) O espaço geográfico deve ser considerado como algo que

participa igualmente da condição do social e do físico, um misto, um híbrido. “

Neste projeto foi utilizado o audiovisual como suporte com os discentes

buscando entender o processo de formação do lugar, o uso comercial da mata com

Araucária a partir do desenvolvimento econômico.

Na dimensão que foi trabalhado o problema, observou-se o envolvimento do

homem com a sociedade e a natureza, mostrando as relações geopolíticas,

ambientais e culturais, direcionadas por interesses socioeconômicos, locais,

regionais e globais.

O objetivo do trabalho foi voltado para entender as modificações

socioespaciais e econômicas ocorridas na região. Buscou-se uma aprendizagem

significativa, permitindo que o discente se apropriasse de alguns conceitos

fundamentais da geografia compreendendo o processo de produção e

transformação do espaço geográfico contextualizando o conteúdo para que ele

construísse o seu conhecimento, possibilitando a formação de um cidadão capaz de

interferir na realidade de forma consciente e crítica.

Gasparin (2005) em sua obra Pedagogia Histórico Crítica, afirma que “a

educação requer do docente uma nova atitude em que os conteúdos devem ser

enfocados de forma contextualizada em todas as áreas do conhecimento.“

Estando em conformidade com tal colocação é que se propôs este trabalho e

desejou-se que os discentes pudessem participar da sociedade em que estão

inseridos, compreendendo o espaço geográfico nas mais diversas proporções.

Gasparin (2005) afirma:

Quando se buscam mudanças efetivas na sala de aula e na sociedade, de imediato se pensa no mestre tanto do ponto de vista didático-pedagógico quanto político. Não se dispensam as tecnologias, pelo contrário, exige-se cada vez mais sua presença na escola, mas como meios auxiliares e não como substitutos dos professores. (GASPARIN, 2005, p.1-4)

É necessário instigar a motivação dos discentes proporcionando-lhes variados

recursos, metodologias, contribuindo para a construção diária de seu conhecimento.

Toda vez que somos convidados a participar de reflexões que envolvam a prática da geografia, submergimos no caráter teórico-metodológico desse campo do conhecimento para tecermos considerações contemporâneas. Para nós, a geografia deve buscar a compreensão do espaço produzido pela sociedade, que continua a apresentar desigualdades, contradições e tensões, e das relações de produção que nela se desenvolvem. (...) Portanto, a capitalização da natureza continua a ocorrer. (REGO, CASTROGIOVANI, KAERCHER E COLS, p. 42-43)

Para tanto, precisa conhecer e usar constantemente as ferramentas

tecnológicas, dominá-las e fazer surtir efeitos positivos almejados; as aulas poderão

ser mais atrativas, dinamizadas e facilitando a contextualização dos conteúdos.

As imagens sempre estiveram presentes em todo lugar. O homem através

dos séculos deixou indícios por onde passou desde os tempos mais remotos até

hoje. Estas imagens são carregadas de informações e significados, muitas delas

precisam ser decodificadas. Também precisam ser lidas, analisadas e interpretadas

criticamente. Elas se referem a representações gráficas e digitais oferecendo

suporte para análises.

Ribeiro (2008) nos diz que:

Linguagens, imagens e ações são transformadas em representações mentais e são ao mesmo tempo, elementos constituintes indispensáveis para a existência das representações mentais. Trata-se da complexa trama que se insere na construção do conhecimento. (RIBEIRO, 2008, p. 2)

Outro recurso que foi utilizado como estratégia para reflexão crítica foi a

música. Através dela, o discente poderá desenvolver a sensibilidade, imaginação,

curiosidade, percepção rítmica, estimulando o aprendizado e construindo conceitos

geográficos.

A música é uma arte carregada de emoção e é considerada uma

linguagem universal por tratar de diversos assuntos e peculiaridades.

Ongaro (2006, p.1) afirma que: “A música com maior ou menor intensidade

está na vida do ser humano, ela desperta emoções e sentimentos de acordo com a

capacidade de percepção que ele possui para assimilar a mesma”.

Cabe ao docente fazer uma escolha criteriosa averiguando a adequação das

músicas a serem trabalhadas buscando uma correlação com a temática proposta e a

significância relacionada aos conteúdos que podem ser: guerras, conflitos, fome,

miséria, violência, deficiência na infraestrutura das cidades, meio ambiente e outros

tantos temas. Para o nosso caso, enfocaremos a ocupação territorial do Sudoeste

paranaense.

2. A realidade do espaço regional

O espaço geográfico em estudo localiza-se no sudoeste do estado do Paraná

á margem esquerda do rio Iguaçu, nas divisas com a Argentina e o estado de Santa

Catarina. Está localizada totalmente no Terceiro Planalto Paranaense. Abrange uma

área de 17.064 km² que corresponde a 8,6 % do território estadual. Seu clima

predominante é o Subtropical Úmido, com variações de verões quentes ou amenos.

Considerado região de solos ácidos, porém de estrutura física favorável às

atividades agrícolas, razão que atraiu os colonos do Rio Grande do Sul e Santa

Catarina. A região do Vale do Iguaçu já recebeu por diversos autores o conceito de

possuir os solos mais férteis do mundo, sendo assim, é no setor agrícola que

constitui-se a principal atividade econômica desta região. Com uma agricultura

diversificada o estado do Paraná é considerado um dos principais estados agrícola

do país. A fertilidade dos solos do Paraná proporciona elevados índices de

produtividade, além de praticamente todo seu território ser agricultável, respondendo

por 22,6% da produção nacional de grãos destacando-se a soja dentre outros.

As maiores concentrações de precipitações pluviométricas estão

concentradas nos setores sul-sudoeste e as menores amplitudes nos setores

noroeste e leste do estado. Mesmo assim, o estado de uma maneira geral,

apresenta-se climatologicamente, com estações bem definidas.

É neste cenário que foi desenvolvido o presente trabalho, demonstrando que

a região é dinâmica com flutuações naturais por ação da intervenção humana.

Por isto, afirma-se que a geografia não é algo estático. Tanto o físico, o

natural e o social são dinâmicos, pois sofrem mudanças ao longo do tempo. Tudo é

produzido e apropriado pela sociedade através da ação humana.

A evolução tecnológica com a introdução de novos métodos de produção tem

influenciado de forma acentuada, acelerando as modificações no espaço geográfico.

2.1 A SOCIEDADE CAMPEIRA E A OCUPAÇÃO DO SUDOESTE DO PARANÁ

O Paraná iniciou a sua ocupação pelo litoral e o primeiro planalto, isto ainda

no século XVII.

Muito pouco até então repercutia economicamente, pois as lavouras tinham pequeno

significado e a criação de gado era extensiva e sem técnica.

O Paraná servia como passagem àqueles que buscavam o destino distante

de Minas Gerais e São Paulo, pelo tropeirismo, desviando da rota litorânea e isto

oportunizou a exploração dos campos de Palmas, Guarapuava, Campos Gerais pelo

traçado da estrada dos tropeiros.

A nova fase da ocupação do Paraná se deu quando a sua economia voltou-se

para a produção de alimentos com a modernização agrícola através da

mecanização.

O Sudoeste do Paraná foi praça de conflitos sociais entre posseiros e

companhias imobiliárias a partir do momento em que houve o traçado de estradas

com vistas ao escoamento das riquezas naturais, aliado as potencialidades

agrícolas, principalmente pela fertilidade dos solos da região.

O fluxo migratório foi intenso, sobretudo pela vinda de colonos descendentes

de italianos e alemães oriundos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, após a

criação da CANGO em 1943.

A distribuição de terras de forma gratuita contribuiu para intensificar a atração

de colonos para a região. Segundo Lazier (2003):

O processo de ocupação da Região Sudoeste do Paraná teve três

momentos significativos: - A criação da CANGO, em 1943 e sua atuação; a

ação da CITLA que, agindo como grileira 3 entre 1950 e 1957, tumultuou a

região; o funcionamento do GETSOP que entre 1962 e 1973 transformou

mais de 50.000 posseiros em proprietários. (LAZIER, p.148, 2003).

No inicio da década de 1960, após a revolta dos posseiros que aconteceu em

1957 e a criação do Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste- GESTSOP, que

determinou e oportunizou a regularização fundiária com a consequente titulação das

propriedades para os colonos, iniciou um novo ciclo no Sudoeste.

2.3 O TROPEIRISMO

O tropeirismo abriu os primeiros caminhos do Paraná e foi responsável pelo

início da ocupação do território fora de região litorânea. Assim, surgiram as cidades

de Ponta Grossa, Castro, Lapa, Palmeira, entre outras.

A passagem dos tropeiros não ofereceu grande impulso econômico ao

Estado, pois o comércio de gado que apenas tinha uma passagem pelo território não

exerceu influência nas demandas do produto. Porém, a ação tropeira quebrou com o

isolamento em que viviam os habitantes nos sertões. Voltolini (1996) nos conta que:

Chegar aos trilhos da estrada de ferro, para os desbravadores destas terras, não era nada fácil. Até ao final da década de 20, não existia estrada alguma. Só picadões, abertos, em parte, ainda pelo braço escravo e trilhas indígenas. O transporte era no lombo de muares, conhecido como tropa de cargueiro. Os tropeiros, além das dificuldades naturais, tinham ainda que enfrentar o perigo de ataques dos índios botocudos, sempre violentos, com saque de mercadorias, roubo de animais e até morte de integrantes das caravanas. (VOLTOLINI, 1996, p.35)

2.4 ERVA - MATE

3 Grileira: Mediante falsas escrituras de propriedade, procura apossar-se de terras alheias. Legaliza propriedades territoriais com títulos falsos. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=grileiro.

A extração de erva-mate, uma planta nativa do Paraná, deu suporte

econômico por longo tempo ao Estado. Por mais de 100 anos esta atividade foi

absoluta na nossa economia.

A parte extraída desta planta eram as folhas e os galhos finos. O corte que

era realizado pelos homens principalmente na estação de inverno - sem derrubar a

árvore. No verão, eram criados porcos que se alimentavam de frutas como o pinhão

e outras espécies existentes na floresta.

A importância econômica da erva-mate estendeu-se até o século XIX.

A busca constante da erva nativa motivou os caboclos para a interiorização, o

que levou então o habitante a receber incentivos também para a extração da

madeira, desacelerando assim a importância econômica da erva-mate.

Com a construção das primeiras estradas de ferro e estradas de rodagem e

ainda o aparecimento do caminhão, deu-se o início da exportação de madeira.

2.5 OS IMIGRANTES

Com os problemas vividos na Europa pelas transformações culturais,

revolução industrial e o avanço do capitalismo levaram muitos europeus migrarem

para a América.

Italianos, alemães, eslavos entre outros constituíram o grande movimento migratório

para o Brasil.

A serra gaúcha, vale do Rio dos Sinos, na década de 1820 foram porta de

entrada para muitos imigrantes europeus.

Do Rio Grande do Sul migraram para Santa Catarina, alcançando o oeste daquele

Estado e em seguida migrando para o Oeste e Sudoeste do Paraná.

2.6 A MADEIRA

A extração da madeira iniciou de forma absolutamente predatória. Muita

madeira se perdeu, pois sem mercado e sem estradas, os pinheirais e as madeiras

de lei, constituíam um obstáculo para o desenvolvimento das atividades agrícolas

como o cultivo de feijão, milho e a criação de porcos.

A partir da década de 70, a exploração de madeira passou a ser racional.

O ciclo da madeira evoluiu com o surgimento de novos meios de transporte e

a atividade foi rentável para a economia do Estado. Atraiu capital, inclusive

internacional, estabeleceu indústrias, sobretudo com vistas ao mercado exportador.

O produto com destino internacional era beneficiado e industrializado.

2.7 A MODERNIZAÇÀO DA AGRICULTURA NO SUDOESTE DO PARANÁ

Após a retirada da madeira a partir dos anos 60/70 e com a grande oferta de

crédito rural por parte do Governo Federal, iniciou-se a mecanização agrícola no

Sudoeste.

Taxas de juros zero, prazos longos de financiamentos foram os ingredientes

que impulsionaram a mecanização agrícola do Paraná.

A mudança rápida dos métodos de cultivo tradicionais que utilizavam serviços

manuais da família para os sistemas mecanizados levou à concentração fundiária.

Os colonos mais estruturados passaram a adquirir as terras no seu entorno

causando assim acentuado êxodo rural e por consequência o inchaço das pequenas

cidades.

O desencadeamento deste processo promoveu uma concentração

populacional urbana principalmente das cidades de Francisco Beltrão e Pato Branco.

A população urbana que na década de 1970 representava apenas 15 % nestas

cidades, atualmente está em 85 %, segundo dados do IBGE. Lazier nos afirma que:

Os dados compreendidos no período de 1970 e 1980 identificam um violento processo de êxodo rural combinado com uma baixíssima taxa de crescimento demográfico e com uma elevada taxa de concentração urbana. Entre os Estados da Federação, foi o Paraná aquele que sofreu a maior perda populacional no meio rural, atingindo 28,7 %, percentual que corresponde a 1 milhão e 300 mil pessoas. (LAZIER, p. 231, 2003).

2.8 RELATO DA IMPLEMENTAÇÃO

O grupo de trabalho utilizou-se de audiovisuais no estudo da paisagem

resultante da exploração econômica no Sudoeste do Paraná.

A implementação foi dividida em seis atividades distribuídas em 47 aulas de

50 minutos, onde os discentes se reportaram aos acontecimentos de ocupação e

exploração econômica do passado do Sudoeste do Paraná e assim discutimos o

tema proposto.

No desenvolvimento dessas ações foi oportunizado aos discentes conhecer

parte da história da região onde estão inseridos e puderam fazer as devidas

localizações, reflexões, discussões, produções, opiniões e questionamentos.

A proposta metodológica desenvolvida na implementação foi realizada

através de diferentes linguagens, em especial o uso de audiovisuais. Utilizamos:

mapas, fotos, Caderno de Registros, música, textos, reportagens, vídeos, pesquisas,

cartazes, painéis, slides, folder, capa de revista, saída a campo, exposição e

apresentação dos trabalhos realizados à comunidade escolar. Tudo isso baseado

nos conceitos e conteúdos geográficos.

Esta produção foi apresentada ao Corpo Docente, à Equipe Pedagógica, aos

Agentes Educacionais, aos Diretores da Escola, momento este que foi explanado os

objetivos, estratégias e ações que compunham a implementação.

Ao iniciar a implementação, cada discente ganhou da professora PDE, um

Caderno de Registros que foi utilizado durante toda implementação. Para cada

atividade desenvolvida, o discente recebeu um roteiro da atividade; este

previamente elaborado pela professora sobre o que seria desenvolvido na atividade,

especificando as ações que foram realizadas e as questões que deveriam ser

registradas por ele. Após a explicação colou no Caderno de Registros para que

tivesse uma sequência durante o processo.

Figura 1- Caderno de Registros Fonte: Rosa Maria Nath (2015)

Explicou-se o objetivo do caderno e orientado que fosse utilizado com

dedicação e cuidado, pois seria um instrumento de avaliação e nele seriam

registradas as atividades orientadas durante a realização da Intervenção

Pedagógica na Escola. Recolheu-se o Caderno de Registros, juntamente com os

outros trabalhos realizados pelos discentes, os quais compuseram uma exposição

final para a comunidade escolar.

As atividades propostas foram divididas em ações.

Na primeira atividade, explicou-se aos discentes a metodologia adotada e as

ações que compunham cada atividade, bem como sobre a avaliação a que seria

contínua durante a implementação e também sobre a socialização de tudo o que

produzissem em uma exposição final para a comunidade escolar. Neste momento

distribui o Caderno de Registro para cada discente. Foram orientados a responder o

questionário/diagnóstico fechado sobre o tema estudado, com o objetivo de

investigar o conhecimento prévio dos assuntos que seriam abordados pelo docente

ao longo da implementação e fazer a localização geográfica da região Sudoeste do

Paraná e assim que terminaram fez-se a localização através do uso de mapas

(mundi, continente americano, Brasil, Paraná, região Sudoeste do Paraná e o

município de Pato Branco), utilizou-se mapas através da Tv Multimídia. Distribuiu-se

cópias dos mapas para colar no Caderno de Registro e fazer as devidas

localizações neste por meio da pintura das áreas solicitadas na atividade.

Na 2ª atividade de aprofundamento dos conhecimentos foi utilizado textos,

reportagens, pesquisa, painéis

e mapas através dos quais os discentes observaram como se deu a ocupação do

Sudoeste do Paraná, como seria desenvolvida a atividade econômica do porco,

erva-mate e ainda o tropeirismo, sua influência na sociedade campeira. Explicou-se

que o Sudoeste do Paraná era uma região onde havia muito pinheiro, erva-mate e

outras madeiras de lei, uma região fértil e rica, que foi disputada; causando conflito

pela área. Essa desavença pela posse da terra envolveu a Companhia de Estradas

de Ferro São Paulo – Rio Grande, a CITLA, o governo Federal, o governo do

Paraná e principalmente posseiros e que o processo de ocupação da Região do

Paraná teve três momentos importantes: A criação da CANGO, em 1943 e sua

atuação; a ação da CITLA que, agindo como grileira em 1950 e 1957, tumultuou a

região; o funcionamento do GETSOP entre 1962 e 1973 que transformou mais de

50.000 posseiros em proprietários.

Os discentes assistiram a um documentário no data-show, o qual apresentou

entrevistas com historiadores e pessoas relacionadas ao conflito de terras ocorrido

no Sudoeste do Paraná em 1957. Na segunda ação da mesma atividade, houve a

distribuição de recortes de textos para leitura e reflexão: os safristas, exploração da

erva-mate consorciada com a criação de porcos em estações diferentes. Também

foram apresentadas imagens em Tv multimídia para análise.

Na terceira ação, período da erva-mate o estudo recaiu sobre a erva-mate.

Também com distribuição de textos os discentes tomaram conhecimento dos

diferentes períodos desta economia que durou cerca de 100 anos. Foi um ciclo mais

autônomo, prolongado e mais estável da história do Paraná. Além do texto esta ação

envolveu um documentário e pesquisas para confecção de painéis, sobre cinco

aspectos da erva-mate: Características da erva-mate; Fases do processo de

produção; Arborização de ervais; A erva-mate no Paraná desde 1930 a atualidade;

Produtos derivados da erva-mate.

O ciclo do Tropeirismo foi trabalhado na quarta Ação. Esse ciclo

culturalmente muito rico, mas economicamente de baixo significado, mas mesmo

assim teve importância porque iniciou o estabelecimento de algumas das principais

cidades do Paraná. Através de textos, mapas, reportagem, música, pesquisa e

confecção de cartazes foram desenvolvidas o tema.

Figura 2- Cartazes Fonte: Rosa Maria Nath (2015)

A 3ª atividade proposta abordou a questão dos imigrantes e sua importância

no desenvolvimento das atividades econômicas, principalmente a agricultura,

atividade em que praticavam em seus estados de origem, Rio Grande do Sul e

Santa Catarina. Como recurso didático foi utilizado imagem e texto. Iniciou-se uma

fase de desenvolvimento de atividades econômicas importantes para o Estado. Foi

utilizado imagem dos imigrantes e texto.

Na 4ª atividade de implementação o objetivo era conhecer o ciclo da madeira

e a exploração da mata com Araucária desejando que percebessem o

desenvolvimento econômico em detrimento da mata com Araucária na região

Sudoeste do Paraná, bem como as transformações na paisagem regional.

Os discentes na 1ª ação desta atividade constataram a importância do ciclo

econômico da madeira e do sistema de mobilidade, através de slides e texto

impresso.

No passo seguinte, através de slides foi trabalhada a questão da degradação

da mata com Araucária contendo imagens, mapas e texto. Pesquisaram sobre o

assunto abordado para posterior produção de um folder. Finalizando a atividade,

saíram a campo. A quarta e quinta ação envolveu o

Sistema de mobilidade, em que os discentes fizeram a leitura de um texto

percebendo a importância desse sistema para o desenvolvimento econômico; neste

caso, o Sudoeste do Paraná. Começou-se evidenciar a importância da construção

deste sistema para o transporte das riquezas que viriam a ser produzidas.

Sexta ação: abordou-se as serrarias de Pato Branco, onde os discentes

tomaram conhecimento sobre as serrarias em Pato Branco nas décadas de 40, 50 e

60, discutindo e refletindo sobre a transformação da paisagem local.

Sétima ação, saída a campo em turno contrário, onde os discentes

fotografaram a paisagem por onde passaram e iam fazendo suas considerações

pelo caminho. Foram visitados alguns locais próximos à Escola para observar a

modificação da paisagem e captura de imagens.

Figura 3- Saída a Campo Fonte: Rosa Maria Nath (2015)

Quinta atividade: foi trabalhado o período da Agricultura Moderna (1970) com

o objetivo de caracterizá-lo através de imagens organizadas em slides, pesquisa e

texto, nos quais os discentes notariam as grandes mudanças ocorridas na

agricultura a partir da década de 1970 - a chamada “agricultura moderna” devido a

utilização de tratores, colheitadeiras, semeadeiras e alguns novos implementos.

Também constataram que a partir desta agricultura houve grandes mudanças e

regularidades das safras.

A primeira ação desta atividade foi através de slides utilizando a tv multimídia

com imagens referentes ao assunto, textos para leitura e discussão sobre uma das

consequências da agricultura moderna: o êxodo rural

Na segunda ação da 5ª atividade abordou-se os problemas ambientais e

sociais, e os discentes em equipe, criaram manchetes.

Na ação três, utilizando-se de assuntos relacionados, os discentes

organizaram-se em grupos e foram orientados a criar uma capa de revista referente

a um dos temas abordados; para isso trouxeram pesquisa e imagens.

Figura 5- Capa de Revista Fonte: Rosa Maria Nath (2015)

Na 6ª e última atividade da implementação, na 1ª e 2ª ação foi revisto o

conteúdo com os discentes com o objetivo de finalizar os trabalhos.

Foi aplicado o pós-teste onde foi verificado que se constatou o avanço nos

conhecimentos. A partir dos conhecimentos adquirido os discentes elaboraram uma

Linha do Tempo, em que cada equipe desenhou e produziu a sua Linha d (dos

períodos estudados ao longo desta Unidade Didática) ordenando os marcos

históricos e geográficos acompanhados de imagens impressas ou recortes para

ilustração dos mesmos.

Figura 6- Linha do Tempo Fonte: Rosa Maria Nath (2015)

Finalizando os trabalhos com a organização de uma mostra à comunidade

escolar.

Figura 7- Discentes do 7º D Colégio Estadual de Pato Branco Fonte: Rosa Maria Nath (2015)

Dos encaminhamentos adotados na proposta PDE, uma das professoras do

GTR selecionou a Linha do Tempo porque esta atividade traz uma visão geral dos

conteúdos. Esta ação levou o aluno a aprofundar seus conhecimentos, pois o

registro escrito articulado com ilustrações promove uma compreensão maior. Para

esta ação pedagógica de acordo com sua realidade, propôs-se uma atividade aos

seus alunos do 9º ano da região de Curitiba, período da manhã, para trabalhar as

transformações pelas quais a cidade passou ao longo dos anos. Os

encaminhamentos adotados foram em História: visitas ao Centro Histórico, registros

escritos das observações feitas em Geografia, as transformações pelas quais o

espaço curitibano passou e o que isso trouxe de benefícios à população; pesquisas

de imagens sobre o início da emancipação paranaense, vídeo sobre a Curitiba de

ontem e de hoje, audição e interpretação oral da Música "Problemas Sociais" -

Legião Urbana. Ao término das aulas, os alunos montaram um painel ilustrado,

apontando quais os desafios sociais que merecem atenção governamental.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo se reveste de muita riqueza cultural, pois proporcionou

aprendizado não apenas aos discentes, também à coordenação dos trabalhos.

Pesquisa, leituras de textos, visita a campo, demonstraram a evolução da história e

economia desta região que é o Sudoeste do Paraná. É uma história recente, cheia

de dificuldades e obstáculos vivida pelos seus atores. O desbravamento da região

Sudoeste realizada em menos de um século comprova que o Estado do Paraná é

hoje o que foram os seus primeiros ocupantes, que se instalaram com as

atividades econômicas inicialmente extrativas e após, com o estabelecimento de

uma economia produtiva sustentável baseado numa agricultura moderna e

altamente rentável.

Importantes foram às contribuições dos cursista do GTR (Grupo de Trabalho

em Rede), que ajudaram a construir essa trajetória contribuindo com ideias,

documentos, e o seu tempo para enriquecimento dos assuntos abordados.

Não menos importante foi a participação dos discentes que se prenderam

aos temas e participaram do desenvolvimento com entusiasmo na busca de

informações, conteúdos e como coadjuvantes no desenvolvimento de todas as

tarefas que ao lado de empresários pioneiros como os madeireiros abrindo suas

antigas propriedades oferecendo imagens e detalhes históricos de como foram os

primeiros tempo da colonização desse rico espaço geográfico do estado do Paraná.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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