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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

CONTOS E ENCANTOS AFRICANOS: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Telma Elisabete de Sá Vintecinco 1

Carlos da Silva 2

Resumo

O presente artigo é resultado da implementação da Sequência Didática intitulada “Contos e Encantos Africanos: Uma contribuição para educação básica” desenvolvida com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Doutor Marins Alves de Camargo Camargo-EFMP, apresentado como requisito obrigatório no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). O objetivo foi reconhecer a contribuição africana na formação da cultura do povo brasileiro, resgatando os valores, através da leitura de contos africanos. A Sequência Didática foi composta por quatro unidades, sendo que a primeira unidade abordou a história e a cultura da África, a segunda unidade trabalhou a estrutura composicional do conto, a terceira unidade trouxe a análise linguística do conto e para concluir, a quarta unidade inseriu a produção de textos. A prática educacional foi dinâmica e informativa, promovendo o efetivo exercício da cidadania, no resgate social e humano dentro da escola, com reflexos na família e na sociedade. Para tanto, utilizou-se de diferentes atividades, como oficinas de boneca Abayomi, música, vídeos, pesquisas orientadas, leituras de conto, produção textual, entre outras. E, dessa forma, essas atividades possibilitaram a construção do conhecimento pelo próprio aluno, desenvolvendo sua capacidade interpretativa de modo que fossem capazes de ir além da mera decodificação linguística. E, ainda, ressaltou a importância dos contos orais e escritos, africanos e afrobrasileiros, e sua contribuição para a língua portuguesa e na literatura brasileira. Os resultados obtidos por meio da leitura de contos de origem africana mostrou que é possível resgatar os valores culturais, éticos e morais dessa etnia tão presente e tão importante na formação da identidade cultural brasileira.

Palavras-chave: Gênero Discursivo. Contos. Cultura Afrobrasileira.

INTRODUÇÃO

O presente artigo se constitui como parte integrante das atividades previstas

no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de

Educação do Paraná (SEED) e também como resultado do aprofundamento teórico

e reflexões sobre práticas pedagógicas e da implementação da Sequência Didática

intitulada “Contos e Encantos Africanos: Uma contribuição para educação básica” ,

aplicada a alunos do 7º ano do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Doutor

Marins Alves de Camargo, no município de Paranavaí.

A escolha do tema visou atender além das disposições da Lei 10.639/03,

1Professora da rede pública de educação do Estado do Paraná. 2Professor da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR – Campus de Paranavaí. Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UNESP.

complementada pela Lei 11.645/08, as quais estabelecem a obrigatoriedade do

ensino da história e cultura afrobrasileira, africana e indígena do ensino fundamental

e médio, fomentou a leitura através dos contos africanos, resgatando os valores

culturais de um povo responsável por grande parte da identidade cultural brasileira.

Partindo do pressuposto que o professor precisa conhecer e valorizar os

elementos da cultura africana na sua prática pedagógica, a fim de que as escolas

sejam o ponto de partida para a desconstrução de mitos e preconceitos acerca da

cultura afro-brasileira, traçamos como objetivo geral reconhecer a contribuição

africana na formação da cultura do povo brasileiro, resgatando os valores, através

da leitura de contos africanos.

Pois de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua

Portuguesa, a leitura envolve demandas sociais, históricas, políticas e econômicas,

pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler o indivíduo busca as

suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,

religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem (PARANÁ, 2008, p. 56).

Diante do exposto, além dos aspectos legais, como imposição cultural, há que

se considerar o componente imaginário de que são formados os contos africanos: a

magia, o encantamento, as situações quase irreais de que são formados, os quais

contribuem decisivamente para o envolvimento do leitor que desconhece, quase

completamente, as condições espaciais e culturais que orientam a criação desses

contos. Questões que norteou o desenvolvimento deste estudo.

Como suporte metodológico, utilizou-se atividades que mostraram a história

e a cultura da África, a leitura de contos, a estrutura composicional do mesmo,

análise linguística, reprodução de contos e produção de textos. Como apoio

pedagógico, utilizamos a leitura do livro Obax, música, vídeos, mapas, oficina de

confecção de boneca Abayomi, pesquisa orientada, construção da árvore Baobá,

entre outros. Tudo isto visando estimular nos alunos a aceitação das diferenças que

constituem a esfera de relações entre indivíduos de diferentes concepções sociais,

culturais e étnicos.

Enfim, as atividades desenvolvidas visaram por meio do gênero textual conto,

resgatar a cultura africana possibilitando a sua devida valorização, como elemento

fundamental na formação da cultura brasileira, além de propiciar a redescoberta do

prazer de ler, hoje tão negligenciado pelos jovens alunos, tão distraídos e absorvidos

que se encontram pelas tecnologias digitais da informação e comunicação.

2 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Para maior compreensão dos desafios e necessidades referentes à

aplicação deste projeto foi essencial a revisão de alguns conceitos relacionados à

leitura de texto literário, à teoria geral do conto, à contribuição cultural africana na

formação da diversidade cultural brasileira, assim como os elementos característicos

dos contos africanos.

2.1 Conceito de leitura

Ler é um processo em que o leitor aprende a ler lendo, onde ele pode estar

em contato com os mais variados tipos de textos e, sendo assim, poder questionar

as coisas do mundo e de seu cotidiano para a aquisição de sentidos. Cada leitor, a

partir da sua experiência e conhecimento do mundo, interage com o universo textual,

desencadeia estratégias variadas para a construção dos sentidos que serão

construídos no momento da interação entre texto e leitor.

Sendo a palavra escrita o instrumento mais eficiente para expressão e fixação

da cultura e dos conhecimentos científicos e técnicos da sociedade, a leitura

constitui a mais importante atividade de aquisição de saberes. No mesmo princípio

de integração texto-realidade se baseia o método do educador brasileiro Paulo

Freire (1985):

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a

posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade

da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem

dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por

sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o

texto e o contexto. (FREIRE, 1985, p.32)

Desse modo, vislumbrar a leitura como ponto essencial para o exercício da

cidadania é compreender que a mesma está envolvida em elementos diversos que

fazem com que o leitor interprete e decifre signos sobre o texto escrito no momento

de sua produção, e que sua atividade constante estabelece comunicação com o

mundo tornando o indivíduo que a utiliza um agente de conhecimento.

E sobre essa questão, Rojo atesta (2004):

Ser letrado e ler na vida e na cidadania é escapar da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e avaliando ideologias e posições que constituem seus sentido; é, enfim trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela (ROJO, 2004, p. 2).

Dessa forma, a leitura não se restringe à “simples decodificação”, sendo

preciso que o aluno associe, relacione, generalize e abstraia elementos do texto,

evidenciando a perspectiva de leitura do leitor.

Vale ressaltar que a importância da leitura deve passar sempre pela

percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do que foi lido, o que não acontece

numa primeira e única leitura, é necessário que se façam várias leituras. A

compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção

das relações entre o texto e contexto de produção (FREIRE, 1985, p. 9).

Assim, o que se propôs foi utilizar a leitura de contos Africanos para

contemplar a diversidade cultural presente no Brasil, visando contribuir para

construção de identidades negras dentro da sala de aula, sendo que os contos

sempre trazem a presença dos elementos míticos e sobrenaturais sobre a cultura, e

assim construir valores morais e ensinamentos sobre seus ancestrais, amparada

pela lei 10.639/03.

2.2 A Teoria Geral do Conto

Por meio da implementação deste Projeto de Intervenção Pedagógica,

pretendeu-se resgatar o prazer de narrar, demonstrando aos alunos, através da

leitura e interpretação dos contos africanos, as características narrativas desse

gênero textual e, sobretudo, que é possível sim, escrever atendendo à norma culta

da língua portuguesa.

O conto é uma narrativa curta, em prosa, com reduzido número de páginas.

Possui poucos personagens, nunca apresentados detalhadamente. Os

acontecimentos são breves, sem grandes complicações de enredo, há apenas um

clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge. O tempo e o espaço são

elementos secundários, podendo até não existir. Podem ser divididos em cinco tipos:

ação, romance, aventura, suspense e ficção (PEDROCHE, 2010).

Contar, narrar, assim como ouvir narrativas, faz parte da formação intelectual

do indivíduo. Para Coelho (2010) o conto como gênero discursivo, é tão antigo

quanto a vida em comunidade e o ato de contar é inerente à natureza humana.

Conforme ensina Nádia Battella Gotlib (1988):

[...] sob o signo da convivência, a estória sempre reuniu pessoas que

contam e que ouvem: em sociedades primitivas, sacerdotes e seus

discípulos, para transmissão dos mitos e ritos da tribo; nos nossos

tempos, em volta da mesa, à hora das refeições, pessoas trazem

notícias, trocam idéias e ... contam casos. Ou perto do fogão de

lenha, ou simplesmente perto do fogo [...] (GOTLIB, 1988, p. 5).

Os contos em sentido amplo, falam de valores importantes, com personagens

intrigantes e enredos carregados de metáforas e desfechos surpreendentes, eles

estão por toda a parte sejam orais ou escritos por meio de símbolos e ensinamentos

com várias temáticas que podem ser trabalhados pelos professores durante todo o

ano letivo e não somente no dia da consciência negra, em que muitas escolas só

desenvolvem projetos nesse período sendo que se faz necessário a implementação

durante todo ano letivo.

A Literatura Africana e Afrobrasileira permitem o contato com os valores

culturais, mostrando como sujeito histórico personagens negros e seus contos

desconhecidos e marginalizados pela escola, que permite valorizar a África e romper

barreiras quanto a sua origem e ser utilizada como proposta didática que possibilita

educar independente de etnias, buscando a valorização e respeito à diversidade tão

presente na escola.

Nesse sentido, a proposta de trabalhar Contos Africanos buscou além de

promover discussões e leituras que possibilitaram aos educandos o conhecimento

sobre a cultura, a mitologia e a heranças de seus ancestrais, ainda resgatou o

prazer de narrar, por meio de leitura, interpretação e reescrita dos contos africanos,

conforme relatamos abaixo.

3 Sobre o Gênero Conto

O gênero Conto foi proposto por ser um gênero atrativo para os alunos, já a

temática escolhida aborda o encantamento e o imaginário dos Contos Africanos e,

dessa forma, foram resgatados os valores culturais, éticos e morais manifestados

pelos africanos.

Como encaminhamentos metodológicos, foram utilizados os contos afro-

brasileiros, os quais contribuíram decisivamente para o envolvimento do leitor que

desconhecia, quase completamente, as condições espaciais e culturais que

orientam a criação dos mesmos.

O material foi desenvolvido com alunos matriculados no 7o ano do ensino

fundamental, no período matutino, em encontros semanais, perfazendo um total de

32 horas de atividades, que se encontram relacionadas no quadro e que posteriormente

estão descritas:

Título/Tema Estratégias Carga

Horária

História e a cultura da

África.

Reconhecimento, a

contextualização histórica e

leitura de contos

Atividades de leitura, música, vídeos

e mapas e a confecção da boneca

Abayomi.

10 aulas

Estrutura composicional do

conto.

Leituras, reflexões e discussões,

pesquisas orientadas, vídeos e

reprodução de contos

10 aulas

Análise linguística do conto Leitura do livro Obax, pesquisas

orientadas, vídeos e produção

textual.

08 aulas

Produção de texto. Produção de um conto e a

construção da árvore Baobá.

04 aulas

3.1 Unidade 1

Essa etapa teve o objetivo de abordar a História e a Cultura da África e assim,

inserir a temática dos contos Africanos. Para tanto, foi exibido o vídeo “Oficina

Abayomi com Alejandra Pinel”, publicado em 17/05/2013. Disponível em: <

http://www.youtube.com/watch?v=z8NfFymBbv0>, que mostrou como confeccionar a

boneca Abayomi.

Na sequência, no laboratório de informática, os alunos pesquisaram o

significado da palavra Abayomi e conheceram modelos da boneca. Para concluir, foi

realizada uma oficina de produção da boneca, onde os alunos aprenderam a

confeccioná-las.

Após confecção, para que conseguissem dimensionar a distância percorrida

pelos navios negreiros que trouxeram os africanos para o Brasil, levou-se o Mapa

Mundi para a sala de aula e de forma oral foi mostrado onde fica o Brasil, onde fica

o continente Africano, qual a rota possível, para se chegar ao nosso continente.

Em seguida, foi entregue a letra da música “África” de autoria do grupo

Palavra Cantada. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=kKjsfsuxhsk, a

letra da música traz muitos termos africanos, e foram acompanhando a melodia em

um vídeoclipe exibido na sala de aula. As imagens desse vídeo eram todas

referentes à cultura Africana e ao continente Africano.

Após a exibição do videoclipe, com o objetivo de montar um glossário, de

forma orientada os alunos pesquisaram o significado de termos de origem africana,

como exemplo, Ijexá, Baobá, Oxalá, Alah, entre outras. Termos, estes, referidos na

letra da Música “África”.

A letra da música apresenta também o nome de alguns países africanos:

Sudão, Nigéria, Senegal, Tanzânia, Guiné-Bissau, entre outros. Assim, a próxima

atividade foi localizar estes países no Mapa do Continente Africano. Para tanto, foi

entregue aos alunos agrupados em quatro, o desenho do Mapa para que tentassem

localizar os países. Para auxiliar, o Mapa Mundi ficou em destaque fixado no quadro

negro.

Para completar a atividade, foi exibido o filme “Kirikú e a Feiticeira” que conta a

história de um menininho que morava em Senegal, na África, que defendeu sua

aldeia de uma malvada feiticeira utilizando a inteligência. Com esse filme, foram

apresentados mais alguns detalhes da África.

Após a exibição do filme, foram debatidos os pontos fantásticos da narrativa,

como o fato do garoto nascer falando ou crescer de repente. Foi explicado também

que o filme faz parte de outra cultura, diferente da nossa, mas que tem grande

influência no Brasil.

Para concluir essa primeira unidade, os alunos fizeram a primeira produção,

embasados no que se mostrou da África até o momento. Os alunos foram orientados

a mostrar de forma escrita ou ilustrativa uma aventura na África. Produção que foi

arquivada e utilizada no final da implementação na construção de um mural.

3.2 Unidade 2: Estrutura composicional do gênero conto

A segunda unidade teve como objetivo apresentar a estrutura composicional

do conto, como a introdução, o desenvolvimento da história e clímax e o desfecho.

Para tanto, os alunos inicialmente assistiram ao video Amigos, mas não para

sempre, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=wJt8Kg2xBRw, que

contou uma versão divertida da inimizade que existe entre o rato e o gato.

Na sequência, de forma dialogada, foram inseridas algumas questões

apresentando os personagens, as principais ações, o tempo e o espaço

apresentados no conto. Para completar, foi distribuído aos alunos, também em

grupos de quatro, o texto escrito do mesmo conto, onde fizeram primeiramente uma

leitura silenciosa, depois uma leitura dinâmica onde cada integrante da equipe leu

um parágrafo do conto e depois identificaram no texto, a parte da introdução, onde

estavam o conflito, o clímax da história e o desfecho final do conto.

Como o tema central aborda a alimentação, aproveitou-se para inserir a

culinária de origem africana, assim, cada aluno buscou uma receita na Internet e no

final montaram um livro com as melhores receitas selecionadas que foi reproduzido

e distribuído a todos os alunos da sala.

A próxima atividade foi a exibição de um vídeo onde a contadora de histórias

Ana Luísa Lacombe, declama o conto “Carne de Língua”, de Ilan Brenman. Após a

exibição do vídeo os alunos fizeram a leitura e reflexão sobre o conto e, em seguida,

preencheram um quadro com as características do conto: enredo, drama, clímax,

personagens, tempo, espaço e o desfecho.

3.3 Unidade 3: Análise gramatical do Gênero Conto

Esta unidade foi em torno do livro Obax do autor André Neves. A história de

Obax foi exibida no datashow, com a realização da leitura coletiva pelos alunos.

Após a leitura do livro, foram inseridas algumas questões sobre o uso da língua

materna no texto:

Você já conhece alguma coisa sobre esses tempos verbais?

Localize no texto e escreva os verbos nos tempos: Presente, Pretérito

e futuro

Reescreva um fragmento do texto como se a regra estivesse para ser

estabelecida no passado.

Reescreva o mesmo trecho no tempo presente.

O livro Obax se refere a uma árvore de flores que Obax viu em suas

aventuras; assim, a próxima atividade foi para despertar a imaginação dos alunos,

para tanto, pediu-se que ilustrassem segundo o próprio entendimento como

imaginavam a árvore de Obax.

Fizeram ainda uma pesquisa sobre a biografia e bibliografia do autor André

Neves e ainda produziram cartazes sobre as obras do autor. Na sequência,

pesquisaram imagens da árvore Baobá e, em equipes, reproduziram a mesma no

pátio da escola.

Para concluir, em equipes, reescreveram a história do livro de Obax, de

acordo com o que se lembraram.

3.4 Unidade 4: Produção Final

Nessa etapa, o alunos receberam uma imagem com personagens de origem

africana e produziram um conto, seguindo a estrutura composicional do mesmo. Na

sequência, no pátio da escola, na árvore produzida na atividade anterior, fixaram os

contos produzidos.

Vale ressaltar que todos os materiais produzidos durante a implementação,

foram exibidos no pátio da escola para socialização com os demais alunos do

colégio.

Enfim, ao concluir a implementação, pode-se dizer que os contos africanos

são cheios de magia e misticismo, presentes no imaginário dos jovens e podem ser

utilizados como forma de repudiar comportamentos discriminatórios, ainda tão

representativos no ambiente escolar que estão por toda parte, seja na música, no

cinema, em ritos religiosos, nas novelas e em nossa literatura. Portanto, existe um

vasto material para ser trabalhado com nossos alunos sobre a cultura africana nas

escolas públicas, trazendo para o educando uma contribuição fundamental na

formação de sua identidade.

4. RESULTADOS

Após a implementação do material didático, algumas considerações podem

ser feitas em relação aos seus resultados. A professora PDE apresentou aos alunos

o que seria o projeto e a motivação para a realização, aproveitando para fazer uma

investigação diagnóstica sobre os conhecimentos dos mesmos a respeito da cultura

africana e a obrigatoriedade nas escolas com a implantação da Lei 10.639/03.

Observou-se nesse primeiro diálogo que muitos alunos já conheciam o teor da lei,

por intermédio da professora de História, que já tinha iniciado um trabalho se

sensibilização sobre a necessidade de resgatar a cultura africana e sua influência

nos costumes afrobrasileiros. No entanto, relataram que nenhuma outra disciplina

havia abordado a temática.

A oficina de bonecas Abayomi despertou grande interesse por parte dos

alunos, tendo em vista que a arte de confeccioná-las é bem antiga e o significado do

nome vem da junção de duas palavras (abay= encontro e omi= precioso). Portanto,

abayomi significa encontro precioso. Assim, o misticismo que há na confecção das

mesmas contagiou a todos, pois na África antiga elas eram usadas como amuleto

para proteção espiritual.

Um dos momentos que merecem destaque foi a exibição e a reflexão do filme

Kirikou e a Feiticeira, onde foram debatidos os pontos fantásticos da narrativa, de

um menininho valente, em seguida foi feita o debate sobre a cultura africana e a

interpretação do filme, essa atividade proporcionou momentos de descontração na

sala. Os alunos demonstraram interesse no filme e entenderam o significados dos

valores presentes no filme.

A leitura do livro Obax, proporcionou o verdadeiro mundo imaginário, os

alunos entraram no mundo dos sonhos, as imagens e as cores do livro despertou a

curiosidade e destacou a cultura africana. Eles se encantaram com a personagem

principal pelo perfil sonhador e pela vontade de viver em um mundo irreal, porém em

sua imaginação tão real. Aqui, destaca-se a sensibilidade do autor em ter o cuidado

de não reproduzir estereótipos e valores etnocêntricos, ou seja, valorizou as

riquezas colocando o negro como protagonista da sua história.

De um modo geral, as apreciações feitas pelos alunos revelaram que

gostaram muito de participar do projeto, ainda mais por terem sido escolhidos para

expor todas as produções no dia 20 de novembro, quando se comemora o dia da

consciência negra no pátio da escola. Nesse dia, houve além da exposição dos

contos fixados na árvore Baobá, houve também uma oficina de produção de

bonecas Abayomi, ensinando aos visitantes sua história e como se faz o modelo.

Cada visitante recebeu ainda uma porção de canjica, alimento de origem Africana.

Enfim, pode-se acrescentar que há um vasto material para ser trabalhado

com os alunos sobre a cultura africana nas escolas públicas, e dessa forma,

trazendo para o educando uma contribuição fundamental na formação de sua

identidade.

Não se pode afirmar que não houve dificuldades durante a implementação,

como exemplo, a falta de hábito de se trabalhar em grupo, o período de greve, onde

o projeto foi interrompido, as conversas paralelas gerando um pouco de indisciplina,

entre outras. No entanto, tais dificuldades aos poucos, foram sendo superadas de

forma que se pode dizer que vale a pena continuar desenvolvendo esse material nos

próximos anos.

Para finalizar, é importante citar a participação dos professores no Grupo de

Trabalho em Rede (GTR) onde dos quatorze inscritos, onze concluíram o curso cujo

objetivo era socializar, interagir, discutir, trocar experiências e verificar a viabilidade

do nosso projeto na rede estadual de ensino do Estado do Paraná. Ressalte-se,

ainda, que os cursistas não só compreenderam a fundamentação teórica abordada

como as ações didático-pedagógicas sugeridas, como socializaram suas

experiências e contribuíram dando sugestões de atividades, demonstrando que o

presente projeto foi de suma relevância para sua prática pedagógica e poderá ser

aplicado em suas escolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho aqui apresentado buscou atender às disposições da Lei

10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura

afrobrasileira, africana e indígena nas escolas, aliado com a linguagem dos contos e

dessa forma ampliar os conhecimentos dos alunos no que se refere à leitura e

produção de textos sobre esse gênero.

O princípio geral que se buscou trabalhar foram os valores culturais de um

povo responsável por grande parte da identidade cultural brasileira, tendo em vista

que a escola é um espaço privilegiado onde se encontram todas as raças ou etnias,

credos, enfim, é um local de convergência da ampla diversidade que constitui a

sociedade. Pensando assim, a escola é o local ideal para se trabalhar todo tipo de

diversidade.

A primeira dificuldade encontrada na elaboração e aplicação do projeto foi

selecionar contos que referenciassem uma identidade positiva dos negros e as

especificidades da cultura africana, tendo em vista que a literatura reconhecida e

aceita pelo público intelectualizado e pelos críticos, antes da Lei 10.639/03, ficava

quase sempre restrita às obras de autores brancos, enquanto que uma grande

porcentagem da produção literária de autores afros, comprometidos com o resgate

da cultura africana sequer era abordada em sala de aula.

Assim, o que se propôs foi utilizar a leitura de contos africanos para

contemplar a diversidade cultural presente no Brasil, visando contribuir para

construção de identidades negras dentro da sala de aula, sendo que os contos

sempre trazem a presença dos elementos míticos e sobrenaturais sobre a cultura, e

assim construir valores morais e ensinamentos sobre seus ancestrais.

Além da fundamentação teórica e atividade de leitura, outros aspectos foram

desenvolvidos, como a compreensão textual, análise do uso da língua materna, a

produção, a reescritura e a circulação dos textos produzidos.

Ao concluir este estudo, observou-se que trabalhar o gênero conto dentro de

uma única temática exige do professor uma atitude menos tradicional e mais

conectada às novas concepções de ensino e aprendizagem, que conduzem a aulas

mais dinâmicas e interativas. Assim, os alunos tiveram oportunidade de experienciar

a aquisição de uma competência linguístico-discursiva que lhes propiciou o convívio

com diversidade de gêneros que circulam na sociedade contemporânea.

Enfim, esse não é um trabalho acabado, espera-se que o mesmo tenha

fomentado a participação reflexiva, crítica e criadora de cada professor que atua no

exercício do ensino da Língua Portuguesa.

É fundamental que o educador tenha o desejo de ensinar e inovar, buscar

novas possibilidades de estratégias para suas ações pedagógicas. Assim,

possibilitar a construção de conhecimentos e não apenas transmissão de conteúdo.

É necessário conhecer diferentes práticas pedagógicas, por isso, é preciso que o

professor se mantenha informado e atualizado, buscando sempre alternativas

metodológicas para dinamizar a sua aula.

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