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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Peculiaridades sobre a História da higiene no Brasil até o século

XIX

Autora: Soilene Sabatovicz1

Orientador: Marcelo de Souza Silva2

Resumo

Este Artigo apresenta os resultados do trabalho realizado no PDE, o qual teve como objetivo instigar os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental a pesquisar e descobrir peculiaridades sobre a História da higiene no Brasil, bem como, informações que pudessem contribuir para seu aprendizado na disciplina, promovendo maior significado aos conceitos históricos, instigando-os a problematizar as situações estudadas, desenvolvendo assim suas habilidades e competências para compreensão do passado e consequentemente sua consciência cidadã. A metodologia empregada foi a pesquisa através da internet, livros, revistas e conversas com familiares, promovendo debates, comparações do presente com o passado e analisando alguns vídeos sobre o tema, pois as questões de higiene e os bons modos, vêm sendo do interesse humano desde a antiguidade e quando a corte portuguesa aqui chegou, trouxe consigo costumes europeus que foram seguidos pelos habitantes desta terra. Nesse período houve mudanças de atitudes com relação aos moradores das cidades brasileiras e a higienização teve destaque entre os programas do governo. Com este trabalho, os alunos construíram seu conhecimento e compartilharam o mesmo com seus colegas, chegando à conclusão que o estudo da História pode ser mais interessante do que imaginavam.

Palavras chave: História do Brasil. Higiene. Civilidade.

1. Introdução

O presente Artigo apresenta o resultado do trabalho realizado no PDE, sobre

as peculiaridades com relação à higiene ao longo da História, especialmente no

Brasil do século XIX, quando a preocupação com a higiene passou a fazer parte dos

programas de governo, seguindo modelos europeus de civilidade.

O tema escolhido teve origem nas observações de que os alunos

compreendem melhor o conteúdo estudado, quando este traz informações sobre o

cotidiano da época ao mesmo tempo em que o conhecimento adquirido tenha algum

significado para sua vida, pois um dos maiores desafios que os educadores

1 Professora PDE/2013-14 – História – Colégio Estadual João Cavalli da Costa-EFM – Palmital /PR

[email protected]

2 Professor orientador Dr. Marcelo de Souza Silva. Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro -

Guarapuava/PR

encontram atualmente é o de despertar nos adolescentes, a vontade de aprender.

Observa-se nos jovens um grande desinteresse pela disciplina de História,

pois os mesmos ignoram a importância deste saber perante os enfrentamentos dos

problemas sociais, bem como sua participação e atuação como cidadão ou cidadã

deste país, assim, na linha de estudo dos Fundamentos Metodológicos para a

Disciplina de História, optei por desenvolver um projeto com alunos do 8º ano do

Colégio Estadual João Cavalli da Costa, município de Palmital-PR, trabalho este

visando contribuir para o aprendizado dos alunos e voltado a despertar o interesse

dos mesmos, através do estudo das peculiaridades relacionadas a higiene na

história do Brasil e assim instigá-los à pesquisa e à socialização do saber, através de

debates e produções coletivas, onde eles puderam realizar comparações entre seu

presente e as descobertas que fizeram sobre o passado, percebendo que ainda é

possível perceber costumes há muitos séculos estabelecidos no cotidiano das

pessoas de sua convivência e notar que a História está presente em suas vidas a

todo momento. A escolha do tema deu-se pelo fato de que os costumes relacionados

a higiene, suas peculiaridades, e a influência destes na vida de D. João VI, são

temas pouco trabalhados em sala de aula. Nota-se que os alunos não se motivam a

estudar o período colonial, pois não há muita produção de entretenimento sobre a

época ( filmes, livros infanto juvenis, etc.) e, tampouco sobre a era imperial, tendo

em vista que muito do que se fala sobre o período é centrado na história política.

Os educandos foram avaliados com a efetiva participação em todas as

atividades propostas para o desenvolvimento deste projeto, sendo levado em

consideração o trabalho individual, bem como sua participação nas atividades em

dupla ou grupo e a participação nos debates e apresentações, enfim, os alunos

foram avaliados em todas as etapas, pois segundo as Diretrizes Curriculares de

História, do Paraná:

Assim, o aprendizado e a avaliação poderão ser compreendidos como fenômeno compartilhado, contínuo, processual e diversificado, o que propicia uma análise crítica das práticas que podem ser retomadas e reorganizadas pelo professor e pelos alunos. (Paraná, 2008, p. 79)

Levando em consideração a proposta das Diretrizes Curriculares de História,

do Paraná: “Para os anos finais do Ensino Fundamental propõe-se, que os

conteúdos temáticos priorizem as histórias locais e do Brasil, estabelecendo-se

relações e comparações com a história mundial” ( PARANÁ, 2008, p. 68). É

imprescindível que se trabalhe com temáticas sobre a história do Brasil de modo a

promover maior significado aos conceitos históricos entre os alunos, instigando-os a

problematizar as situações estudadas, desenvolvendo assim, suas habilidades e

competências para compreensão do passado e, consequentemente, sua consciência

cidadã, pois de acordo com Schimidt e Cainelli (2009, p.68), “ é necessário falar de

situações específicas do passado e realizar sua interpretação, ressignificando o

presente, do ponto de vista coletivo, de forma a construir uma orientação para a

ação e intervenção na realidade social.”

Percebeu-se a necessidade de trabalhar junto com o tema, textos que tragam

peculiaridades sobre a vida privada, levando em consideração que a higiene traz

uma grande influência na sociedade e na saúde da população e que estes assuntos

são pouco trabalhados em sala de aula, por falta de tempo em preparar textos,

vídeos ou leituras diferenciadas e porque seria necessária uma pesquisa mais

aprofundada para que os educandos fossem instigados a também pesquisar e

aprofundar os conhecimentos adquiridos na sala de aula.

2. Breve histórico sobre a higiene e suas peculiaridades

2.1. Civilidade: Bons modos que diferenciam a nobreza dos camponeses

Os costumes higiênicos na Europa, foram marcados por avanços e

retrocessos, relacionados a higiene pessoal, o que influenciou a população brasileira

que tinha contato com os europeus ou com os seus descendentes.

Na Europa durante a Idade Média até o século XVIII, dava-se muito valor a

aparência e aos bons modos a mesa, principalmente na vida cortesã, o que era visto

como uma “polidez de fachada.” Segundo Norbert Elias:

A humanidade tem interesse por questões sobre bons modos desde a Idade Média, a antiguidade greco-romana e até mesmo em épocas anteriores já havia tal preocupação. Tanto que em seu livro, “Erasmo de Rotterdam trata sobre o comportamento humano em sociedade e fala com uma linguagem clara e com muita seriedade sobre a educação e os modos

que as crianças deveriam ser educadas” ( ELIAS, 1994, p. 69).

Entre os conselhos que Erasmo escreve em seu livro sobre como educar

crianças, ele fala de atitudes incivilizadas que os seres humanos deixaram de

praticar e de outras que são aceitas como naturais, dentre estes: “Não deve haver

meleca nas narinas, diz ele mais adiante. O camponês enxuga o nariz no boné ou

no casaco e o fabricante de salsichas no braço ou no cotovelo” (ELIAS, 1994, p. 69).

Na Europa, principalmente entre pessoas da corte, os bons modos, maneiras

estas diretamente ligadas à higiene, passaram a representar um sinal de civilidade,

contrário às maneiras rudes dos camponeses.

2.2. Higiene do corpo e do lar: Breve histórico

A higiene do corpo, como por exemplo o hábito de tomar banho todos os

dias, nem sempre existiu como acreditamos ser normal em nossos dias, pois, ao

longo da história houve alguns tabus com relação ao banho, como também os bons

modos a mesa nem sempre foram da forma como hoje são concebidos.

Os gregos e os romanos, desde antes de Cristo, apreciavam um bom banho

aquecido, o que para eles representava mais do que a simples higienização do

corpo, pois assim como afirma Paul Veyne: “O banho não era uma prática de

higiene, e sim um prazer complexo, como a praia entre nós” (VEINE, 1989, p. 193).

Os banhos públicos eram o prazer que os pobres poderiam desfrutar por um

preço muito baixo, porém, com o passar do tempo e a propagação do cristianismo,

os banhos públicos começaram a ser abolidos devido a exposição do corpo e o

prazer de banhar-se passou a ser visto como um pecado. “Os banhos romanos

mantiveram-se durante algum tempo até nos mosteiros, reservando-se, porém, cada

vez mais aos enfermos” ( ROUCHE, 1989, p. 438).

No início da Idade Média o hábito de tomar banho foi ficando mais raro, pois

“Os príncipes carolíngios trocavam de roupa e tomavam banho no sábado”

(ROUCHE, 1989, p. 438). Entre os cuidados com o corpo, já no final da Idade

Medieval, estava o hábito de lavar as mãos antes e depois das refeições.

Por volta dos séculos XIV e XV o ritual que antecedia o banho era destinado a

livrar-se dos indesejáveis piolhos, pois nessa época eles já causavam repugnância

por se proliferar rapidamente, no caso dos homens, infestando também a barba, e,

ter que raspá-la, significava perder a sua dignidade.

Já nos séculos XVII e XVIII, nota-se que havia uma preocupação com as boas

maneiras à mesa e isso incluía a limpeza apresentada, bem como algumas regras

quanto a não comer com as mãos e nem levar os alimentos diretamente das

travessas a boca.

Em se tratando do asseio corporal, os inadequados hábitos de higiene, nota-

se que os séculos XVII e XVIII, não seguem regras compatíveis com as boas

maneiras à mesa, pois como enfatizado:

A abundancia das referências a limpeza no século XVII sem dúvida é impressionante, especialmente nos textos relativos à cozinha e à mesa; e Georges Vigarello acaba de mostrar tudo que nossa atual concepção de higiene corporal deve a esse século que na verdade foi o mais sujo de nossa história (FLANDRIN, 1991, p. 268).

Reforçando o que foi citado podemos apontar trechos do diário de Héroard,

médico de Luís XIII, que em seus registros escreveu “Um corpo, mas sobretudo a

cabeça e o rosto, alterados pela má higiene alimentar […] pelos inadequados

cuidados de limpeza […] a 'sarna' que em janeiro afeta-lhe a cabeça inteira. (FOISIL,

1991, p. 361).

Ainda sobre Luís XIII, no diário de seu médico, é destacado que “no primeiro

ano de sua vida a palavra 'lavar' aparece só uma vez” (FOISIL, 1991, p. 361)

No século XIX na França é que a água chegará aos apartamentos e pisos

superiores, até então era necessário levar água até ele e livrar-se dela após usá-la,

assim como era preciso também eliminar os excrementos, no entanto, a limpeza e

higiene das casas mais simples no século XIX, na França, não eram muito diferentes

do que foi durante a Idade Média, segundo uma tese de medicina da época:

No mesmo reduto preparam-se os alimentos, guardam-se os resíduos que servem de ração aos animais e os pequenos utensílios agrícolas; em um canto encontra-se a pedra de lavar louça, em outro as carnes salgadas; ali se fermenta o leite e o pão; há até animais domésticos que, partilhando esta estrita morada, vem ter ali suas refeições e satisfazer suas necessidades físicas. (PERROT, 1991, p. 352).

No final do século XIX haviam alguns projetos de habitação para os

trabalhadores, que garantiam boas condições de segurança e higiene. Com relação

aos cuidados com o corpo nesse período também houve progressos, porém essa

higienização não estava livre de algumas regras: “Normas extremamente estritas

regulam a prática do banho conforme o sexo, a idade, o temperamento e a

profissão” (CORBIN, 1991, p. 442).

Convém ressaltar ainda que o progresso higiênico não acontecia da forma

que concebemos hoje em dia. “Lavam-se com frequência as mãos; todos os dias o

rosto e os dentes, ou pelo menos os dentes da frente; os pés, uma ou duas vezes

por mês; a cabeça, jamais” (CORBIN, 1991, p. 444).

Nesta época entendia-se ou confundia-se higiene com aparência, pois, “andar

sem manchas nas roupas, evitar modos grosseiros, pentear os cabelos e às vezes

lavar as mãos e mais tarde usar perfumes, bastava para os padrões higiênicos da

época” (CORBIN, 1991, p. 444). Na verdade, a ducha e o banheiro passaram a fazer

parte do cotidiano das pessoas a partir da metade do século XX.

2.3. Brasil: um novo mundo aos olhos dos europeus

Enquanto a Europa estava se desprendendo dos hábitos medievais, um novo

mundo estava sendo desvendado pelos marinheiros europeus: O Brasil.

No século XVI, quando o conquistador português chegou ao Brasil, se

escandalizou com o hábito do banho diário praticado pelos indígenas, mas aos

poucos foi se acostumando com isso, tanto que, com o tempo passou a se banhar

diariamente também. Como aponta Gilberto Freyre:

“Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A

higiene do corpo. […] O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de

pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de

coco, reflete a influência de tão remotas avós” ( FREYRE, 1998, p. 94).

Durante os primeiros séculos da colonização do Brasil, muitos viajantes

europeus estiveram neste país e documentaram em suas cartas ou diários, o que

presenciavam aqui. Segundo Gilberto Freyre (1998) um desses viajantes do século

XVI, foi o francês Jean de Léry que em seus relatos “ ficou encantado com a higiene

infantil e doméstica dos indígenas, que mesmo sem fraldas de pano, eram cuidados

pela mãe e cresciam com muita limpeza e asseio.” Já no século XIX, não se podia

dizer a mesma coisa da higiene das crianças descendentes de europeus, pois de

acordo com o relato de Luccock, viajante que esteve no Brasil nesta época, ao visitar

uma escola de meninos ficou impressionado com a falta de alegria destes e relata

“que os achou ainda por cima pouco asseados. Olhos remelentos e dentes sujos,

talvez” ( FREYRE, 1998, p. 412).

2.4. Brasil: A higiene do lar e o trabalho dos “tigres”

Também nos primeiros séculos da colonização brasileira, houve grande

influência dos costumes e hábitos dos africanos, que foram trazidos para o Brasil

para serem escravizados e que aqui sofreram grandes penas, como trabalhos

forçados e castigos físicos, além da diferença cultural entre eles e os europeus aos

quais tinham que obedecer. Dos trabalhos sujos que tiveram que realizar, o mais

destacado era o trabalho dos “tigres,” assim conhecidos os africanos escravizados e

que eram incumbidos de levarem os dejetos das casas de seus senhores, até a

praia, em barris, que quando cheios, vazavam o seu líquido e escorriam na pele

negra do escravo, dando um tom esbranquiçado e por essa aparência, o negro que

fazia este tipo de serviço, ficou conhecido vulgarmente como tigre. Os negros

realizavam o trabalho sujo, mas não por isso pode-se dizer que eram sem higiene,

pois, ainda segundo Freyre:

Barris que nas casas-grandes das cidades ficavam longos dias dentro de casa, debaixo da escada ou num outro recanto acumulando matéria. Quando o negro os levava é que não comportavam mais nada. Iam estourando de cheios. De cheios e de podres. As vezes largavam o fundo, emporcalhando-se então o carregador da cabeça aos pés. […] E é de presumir que o escravo africano principalmente o de origem maometana, muitas vezes experimentasse verdadeira repugnância pelos hábitos menos asseados dos senhores brancos ( FREYRE, 1998, p. 462).

As habitações dos ricos, proprietários de escravos ou a casa-grande, como

denomina Gilberto Freyre, não eram modelos de higiene, assim como seus

moradores também padeciam pela falta desta. Mas as casas mais simples também

não recebiam muitos elogios dos viajantes, que estiveram no Brasil no século XIX,

pois ao buscar abrigo, sempre atentos ao asseio e a higiene, eles apontam “a falta

de acomodações, o chão batido e a fumaça que enchia o único ambiente, em razão

da ausência de chaminés e das poucas janelas” ( ALGRANTI, 1997, p. 100). Com o

passar do tempo as casas foram sendo modificadas e passando a ter duas cozinhas,

uma ficava do lado de fora, assim, os alimentos mais demorados em seu preparo

eram ali cozidos, passando a ter menos sujeira e fumaça dentro de casa, mas, as

boas maneiras à mesa no Brasil, deixavam, ainda no século XIX, muito a desejar,

pois geralmente, comia-se com as mãos. “Por essa época, visitando Salvador,

Lindley observou que era 'costume do país comer com as mãos, mesmo que os

convidados fossem finos'” (ALGRANTI, 1997, p. 122). Porém alguns hábitos devem

ser destacados, como o de lavar as mãos antes das refeições e lavar os pés antes

de dormir, como enfatizado por Mary Del Priore(1997) “Desde o século XVIII, haviam

recomendações sobre lavar as mãos e o rosto com água fria pela manhã,

espreguiçar-se, pentear o cabelo e limpar os dentes” (PRIORE, 1997, p. 304).

2.5. A Família Real e a Corte portuguesa no Brasil

No século XIX, um acontecimento inusitado, trouxe profundas mudanças para

a população que vivia no Brasil: a chegada da Corte Portuguesa e da Família Real

no Rio de Janeiro em 1808. Ao desembarcar as mulheres portuguesas já traziam

sinais dos hábitos nada higiênicos, que lhes causara sofrimento durante a viagem

nos navios que os transportaram de Portugal até sua colônia na América. Seus

cabelos foram raspados pela infestação de piolhos durante a viagem e por isso

foram obrigadas a desembarcar usando turbantes na cabeça. Mas a figura que mais

se destaca entre todos era certamente o príncipe D.João, figura um tanto bizarra em

seus costumes, pois não tomava banho, menos ainda do que o restante da

população, o que acabava chamando a atenção da sociedade. Durante sua vida, há

relatos de ter se banhado duas ou três vezes. Andava com as mãos gordurosas e

usava suas roupas imundas, até apodrecerem no corpo, não as trocava, nem

mesmo quando estavam rasgadas, obrigando seus criados a costurarem as mesmas

enquanto ele dormia. “[...] um príncipe com poderes de rei, príncipe aburguesado,

porcalhão, os gestos moles, os dedos quase sempre melados de molho de galinha,

mas trazendo consigo a coroa; trazendo a rainha, a corte, fidalgos para lhe beijarem

a mão gordurosa mas prudente [...]” (FREYRE, 2004, p. 105).

2.6. A modernização do Rio de Janeiro e o trabalho dos médicos no combate

as epidemias do século XIX no Brasil

Após a chegada da Corte o Brasil passou por transformações, principalmente

a cidade do Rio de Janeiro deveria ser modernizada, ela seria a sede do governo

português, mas os problemas sanitários eram graves e os médicos não eram bem

aceitos pela população em geral, que confiavam mais nos saberes populares, das

benzedeiras ou curandeiros e nas sangrias praticadas pelos barbeiros. Os médicos

tiveram que fazer um trabalho junto as famílias para combater a falta de higiene,

causadora de várias doenças e para ganharem a confiança das famílias “O que a

higiene precisava desenvolver, como de fato o fez, era a ideia de que os pais

erravam por ignorância. […] no fundo eles desejavam para os filhos aquilo que a

higiene previa como correto e bom” (COSTA, 2004, p. 70-71). Como observado:

A medicina em sua atuação higiênica recebeu a herança desta oposição. A higienização das cidades, estratégia do Estado moderno, esbarrava frequentemente nos hábitos e condutas que repetiam a tradição familiar e levavam os indivíduos a não se subordinarem aos objetivos do governo. A reconversão das famílias ao Estado pela higiene tornou-se uma tarefa urgente dos médicos (COSTA, 2004, p. 30-31).

3. Metodologia

No 1º semestre do ano de 2014, no Colégio Estadual João Cavalli da Costa-

Ensino Fundamental e Médio, no município de Palmital-PR, foi implementado o

projeto elaborado durante o curso PDE, a turma participante foi o 8º ano do período

da tarde, onde de um total de 23 alunos, 02 residiam na cidade e 21 no meio rural, o

que não impediu a participação da turma no projeto, porém com algumas limitações

com relação às tarefas com pesquisas, pois no meio rural, os mesmos não poderiam

contar com internet, visto que o sinal não chega até suas residências.

A primeira ação do desenvolvimento do trabalho foi durante a semana

pedagógica, com a apresentação do Projeto de Implementação na Escola e do

Caderno Temático a equipe pedagógica e aos professores do referido colégio, para

que os mesmos pudessem estar cientes do trabalho que seria desenvolvido, os

alunos envolvidos e os objetivos pretendidos, bem como a justificativa para a

escolha do tema a ser estudado. Alguns professores deram sugestões e houve

apoio de toda equipe, para que esta implementação ocorresse com sucesso.

A segunda ação desenvolvida, foi a apresentação do projeto aos alunos da

turma escolhida para a implementação e esclarecimentos quanto a metodologia de

trabalho e avaliação dos mesmos. Para esta apresentação foi usado o aparelho

multimídia, onde foram preparados slides contendo o tema, a justificativa, os

objetivos e a metodologia, bem como o método de avaliação. Todos concordaram e

aceitaram participar deste projeto.

Após esta etapa da introdução foi distribuído um questionário individual,

visando verificar o conhecimento e o gosto pela disciplina de História. Não era

necessária a identificação dos alunos, para que os mesmos ficassem a vontade nas

respostas do questionário, onde eles responderam as seguintes perguntas:

1) Você gosta de História? Por que? Foram 20 respostas no total, sendo que

14 alunos responderam que gostam, pois é importante estudar sobre o passado e

adquirir novos conhecimentos e outros 6 alunos responderam que não, pois “acham

a matéria muito chata”.

2) O que você acha mais interessante nesta disciplina? Justifique. Sobre a

vida dos homens pré-históricos, por sua luta pela sobrevivência, foi a resposta de 7

alunos, outros 6 alunos responderam que a Grécia Antiga, pelo motivo da mitologia.

Escreveram sobre a Idade Média, e a vida nos castelos, 5 alunos e 2 alunos

escreveram que tirar boa nota na prova era interessante.

3) O que você acha menos interessante? Justifique. As respostas foram

variadas, pois 4 alunos responderam que eram as provas, pois tinha muita matéria

para estudar; 4 alunos escreveram que a Idade Média, pois era muito antigo para

saber; 2 alunos escreveram que não gostavam de ter que saber os séculos em

algarismos romanos; outros 2 que não achavam interessante saber do que os

castelos eram construídos; 3 alunos, que não havia nada menos interessante, pois

tudo era importante e outros 3 alunos não responderam;

4) O que você estudou no ano passado em História e que mais lhe chamou a

atenção? Por quê? O que mais lembra do assunto? Feudalismo, foi a resposta de 11

alunos, a vida nos castelos, a peste negra e a vida do servo, foram as respostas; 3

alunos escreveram sobre os Maias, Incas e Astecas; 3 alunos responderam que a

mitologia grega, por causa dos deuses; 1 aluno escreveu que Napoleão era

inteligente e 2 alunos não responderam.

5) O que você teve que estudar e não gostou? Você aprendeu alguma coisa

sobre o assunto? Sobre as navegações e a descoberta do Brasil, foi o assunto

menos interessante segundo 7 alunos e que não aprenderam nada sobre isso.

Sobre Pedro Alvares Cabral, 3 alunos não conseguiram entender. Sobre as teorias

heliocêntrica e geocêntrica, foi a resposta de 2 alunos, pois não lembravam o que

era. Sobre a Mesopotâmia, 2 alunos falaram que era muito chato. Sobre as guerras

e as mortes não tinha nada de interessante foi a resposta de outros 2 alunos. Os

outros 4 alunos não responderam a questão.

6) E sobre a História do Brasil, o que você estudou até agora e que consegue

lembrar? A descoberta do Brasil e os índios que moravam aqui, foi a resposta de 10

alunos. A escravidão no Brasil, foi respondido por 4 alunos. Que o Brasil tinha uma

grande natureza, foi a resposta de 2 alunos. A independência do Brasil foi citado por

2 alunos e 2 escreveram que não sabiam nada.

7) O que poderia mudar nesta disciplina para que ela se tornasse mais

interessante de se estudar? Fazer pesquisas na internet, foi a resposta de 12 alunos;

assistir filmes sobre os assuntos, foi citado por 4 alunos; escrever menos foi a

resposta de 2 alunos e estudar menos, no livro didático, foi citado por 2 alunos.

8) Como você gostaria de ser avaliado nesta disciplina? Sem provas, apenas

com trabalhos e participação nas aulas, fazendo as tarefas e tendo bom

comportamento foi a resposta de 16 alunos. Com 60% de trabalhos e 40% da nota

em prova foi a resposta de 3 alunos e com nota apenas nas atividades do caderno

foi o pedido de 1 aluno.

Ao responderem o questionário, os alunos tinham muitas dúvidas, em alguns

momentos confundiam o conteúdo estudado no ano anterior e pediam ajuda para a

professora. Um dos alunos chamou a atenção, pois ao ler a questão número 2 fez

um comentário em voz alta “ O que tem de interessante em História? Nada.”

A terceira ação foi dar início a implementação das aulas e levando em

consideração o objetivo de instigar no aluno o gosto pela disciplina e, assim,

melhorar seu aprendizado, deu-se início a aula com um vídeo de poucos minutos

sobre “as celebridades e seus péssimos hábitos de higiene” para que pudessem

perceber que alguns famosos da atualidade possuem pouca higiene. Os alunos

também receberam o material com um texto contendo algumas curiosidades sobre o

tema, a definição de higiene e saúde e algumas questões referentes ao mesmo para

serem respondidas individualmente, sendo que alguns alunos compartilharam suas

respostas com os colegas.

Nas próximas aulas o trabalho foi relacionado a higiene e a civilidade,

buscando facilitar o entendimento dos alunos sobre o assunto. Formaram-se grupos

para pesquisa no laboratório de informática sobre o tema “bons modos e polidez de

fachada”.

Concluído a pesquisa, voltaram para a sala de aula e assistiram ao trecho do

vídeo “Turma da Mônica – Boas Maneiras” e debatido o mesmo, relacionando este

com a pesquisa realizada. Após as considerações os alunos produziram um texto no

caderno, com o tema: pessoas civilizadas e não civilizadas.

As produções foram muito interessantes, pois alguns deram exemplos de

pessoas de sua convivência, as quais não possuíam bons modos.

Assim, foi dado continuidade as aulas, com a História da higiene pessoal, os

alunos receberam impressões com imagens sobre os banhos públicos greco-

romanos e assistiram trechos de um vídeo sobre esses locais e sua utilidade. Houve

comentários sobre o vídeo e análise das imagens. Com o conhecimento adquirido os

alunos relacionaram este local de banho mais ao lazer do que a necessidade de

higienização do corpo na antiguidade, alguns fizeram comparação com a praia.

Nas aulas seguintes os alunos estudaram sobre as mudanças que foram

ocorrendo com relação ao banho, os tabus relacionados ao corpo e as doenças que

atingiram a população medieval pela falta de higiene. Houve a realização de

pesquisa sobre as doenças causadas pela falta de higiene no período medieval, e

em seguida debate sobre peste bubônica, hanseníase, verminoses e contaminação

alimentar, etc, relacionando essas doenças com a sociedade urbana e rural da

época e sua interferência na economia, também comparando esses problemas

medievais com os atuais, onde os educandos perceberam que ainda permanecem

muitas doenças na atual sociedade e a causa está relacionada a falta de hábitos

saudáveis e de higiene e que isso poderia melhorar se houvesse conscientização

das pessoas e investimentos por parte dos governantes na questão de saneamento

básico. Os alunos confeccionaram cartazes com frases e imagens sobre o tema.

Para a aula seguinte, os bons modos à mesa foram destacados, assim como

a limpeza apresentada, que era comum entre a nobreza na Idade Moderna. Os

alunos debateram a frase “limpeza apresentada” e realizaram uma pesquisa no

laboratório de informática sobre os talheres, seu surgimento, seu uso e relação com

os bons modos a mesa, bem como com a saúde. Os alunos apresentaram os pontos

de maior destaque e confeccionaram cartazes sobre o tema.

Os educandos receberam textos com informações sobre a higiene do lar, o

qual foi analisado, comparado com suas residências e em seguida os alunos

reuniram-se em grupos, recortaram imagens de livros e revistas e montaram

cartazes, representando cenários da época. Após a confecção destes, os grupos

comentaram suas produções e fizeram exposição deste no mural da sala.

Continuando o trabalho com o tema, os alunos assistiram um vídeo sobre as

invenções relacionadas a higiene pessoal e organizaram-se em dupla para

pesquisar no laboratório sobre as invenções relacionadas a higiene e o uso do

chuveiro. Ao concluírem a pesquisa, reuniram-se em sala de aula e apresentaram as

descobertas comparando as habitações do século XIX com as do século XXI, e

comparando com a realidade do município em que vivem.

A partir da aula seguinte, iniciou-se o estudo sobre a História do Brasil,

partindo de uma revisão referente as grandes navegações, enfatizando as condições

de higiene nas embarcações durante a viagem e a chegada do europeu no Brasil, os

habitantes desta terra e o choque cultural no encontro entre indígenas e europeus,

destacando a questão da higiene desses povos.

Houve alguns comentários a respeito dos indígenas e de sua situação

atualmente, onde muitos tornaram-se andarilhos e sem possibilidade de alimentação

adequada, habitação e higiene, levando-os a serem excluídos da sociedade.

Após os comentários, os alunos receberam textos para leitura e foram até a

biblioteca, verificaram as obras na estante destinada a História, manusearam alguns

livros e revistas, como a História da Biblioteca Nacional e as obras de Gilberto

Freyre, Casa-grande e Senzala e Sobrados e Mucambos, além de outras obras,

levando algumas para sala de aula, onde analisaram e fizeram a leitura de vários

trechos das obras citadas, sendo enfatizado aos mesmos que durante a leitura,

deve-se levar em consideração a época em que as obras foram escritas.

Posteriormente ao estudo, os alunos produziram um texto fazendo um

comparativo da higienização indígena no século XVI e atualmente, chegando a

conclusão que o espaço e a natureza são de fundamental importância para o índio,

porém, pela falta destes estão levando uma vida precária.

Nas aulas seguintes, foi realizado uma revisão sobre a mão de obra escrava

no Brasil, utilizando slides com imagens de africanos escravizados e pesquisa sobre

o trabalho escravo, onde os alunos anotaram em seu caderno e apresentaram em

sala, o trabalho que estes realizavam na agricultura e mineração. Após, receberam

textos sobre as habitações e o trabalho do escravo doméstico, enfatizando sobre os

“tigres,” assim como analisando imagens e descrevendo as mesmas. Em seguida,

pesquisaram sobre o trabalho que estes negros tinham que realizar para seus

senhores, compartilharam as descobertas e apresentaram o tema em sala de aula.

Para a conclusão do assunto, produziram uma história em quadrinhos sobre

os “tigres” as quais foram expostas no mural da sala, para apreciação de todos.

Como o assunto era a higiene do lar, os educandos analisaram alguns

fragmentos de textos e observaram uma imagem que demonstrava uma família no

momento da refeição, sendo que após isso pesquisaram sobre os modos à mesa no

Brasil colonial e descobriram que era comum comer com as mãos, pois os talheres

eram raros nos primeiros séculos da colonização brasileira. Conversaram com seus

familiares, buscando saber se os hábitos pesquisados ainda permanecem em alguns

locais. Anotaram as informações obtidas e comentaram em sala, compartilhando

estas informações com os colegas, sendo que descobriram que ainda existem

residências de chão batido, onde as pessoas convivem com animais em seu interior

e que estas, também não tem banheiro, o que dificulta a boa higiene dos moradores.

Nas aulas seguintes, o assunto foi a vinda da Família Real para o Brasil, mas

para que os alunos entendessem o motivo desta mudança, formaram-se grupos para

pesquisar sobre a Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte, em seguida, o

resultado foi apresentado para os colegas e após esta atividade, o assunto foi

revisado pela professora, com imagens e explicação sobre o tema.

Os educandos também puderam conhecer e manusear o livro Dom João

Carioca e a Corte no Brasil de Lilia Moritz Schwarcz e posteriormente assistiram os

três primeiros vídeos que foram produzidos baseados neste mesmo livro. Após foi

apresentado a imagem de Dom João e comentado sobre ele e as mudanças

ocorridas no Brasil, após a chegada desta polêmica figura, enfatizando a criação da

Biblioteca Nacional.

Os alunos receberam textos com informações sobre o príncipe, os quais

foram lidos e comentados e em seguida assistiram mais três vídeos da série

baseada no livro Dom João Carioca de Lilia Moritz Schwarcz. Dando sequência às

informações sobre D.João VI, formaram-se duplas para a realização de pesquisa

sobre este, anotando as informações para apresentar aos colegas. Esta atividade foi

feita com pesquisa na internet, livros e revistas História da Biblioteca Nacional.

Seguindo com o tema, os alunos assistiram trechos do filme “Carlota

Joaquina, princesa do Brazil” de Carla Camurati (1995), e fizeram uma descrição das

cenas assistidas comparando estas com o que foi pesquisado sobre D. João VI e

comentando sobre as pessoas da nobreza. As cenas que mais surpreenderam e

foram comentadas são as da viagem, onde acontece a infestação de piolhos, a

chegada da Corte ao Brasil, onde as mulheres usavam turbantes para esconder o

cabelo e isso passou a ser copiado pelas brasileiras. Também foi comentado como

destaque, as comilanças do príncipe, suas roupas sujas, seus serviçais costurando

suas roupas e o momento em que ele manda parar a carruagem para “obrar”.

Como no início do estudo sobre a chegada da corte ao Brasil, comentou-se

sobre as mudanças pelas quais o país passou a partir deste fato e a preparação

deste para a independência, explanou-se sobre a vinda dos médicos higienistas ao

Brasil, com o fim de combater as epidemias, que pela falta de higiene, agravavam a

saúde da população. Os alunos formaram duplas para pesquisa sobre as

transformações ocorridas no Brasil, devendo conversar sobre estas mudanças e

suas contribuições para a independência do mesmo, e anotarem suas ideias sobre o

trabalho dos médicos e se a medicina preventiva é importante para a população.

Posteriormente, os alunos reunidos em sala, apresentaram o resultado de

suas pesquisas e conclusões sobre o trabalho dos médicos, sendo que observaram

que mesmo passados dois séculos da Independência do Brasil, e em meio a

tecnologias e novas descobertas na área da medicina, ainda existem pessoas que

preferem procurar benzedeiras e fazer simpatias ou chás com ervas medicinais,

antes de procurar recursos médicos e muitas vezes, a doença pode avançar

rapidamente, como no caso de um aluno que contou sobre seu avô, pois, estava

com tumor, procurou um benzedor e interrompeu o tratamento médico para fazer

simpatias e tomar chás, acreditando que ficaria curado. Duvidando da palavra do

médico, seu estado de saúde piorou e este veio a falecer. Este relato trouxe um

grande debate e os alunos chegaram à conclusão de que o trabalho preventivo é

muito importante e que os especialistas na área de saúde devem ser respeitados e

seus tratamentos levados a sério para que os resultados sejam positivos, mas ainda

existem pessoas que resistem aos tratamentos indicados por estes profissionais.

Como os problemas sanitários no Brasil do século XIX eram muitos, e a falta

de esgoto dificultava o controle de algumas doenças, os alunos, além de leituras

sobre o assunto, também pesquisaram sobre as epidemias causadas pelos

problemas sanitários no Brasil de hoje, pois, água tratada e rede de esgoto, ainda

não chegaram em todos os lares e como exemplo os alunos citaram a cidade de

Palmital. Ainda comentaram sobre as pessoas que moram no meio rural e bebem

água de minas sem saber se esta é apropriada para o consumo. Segundo a

pesquisa realizada, os alunos descobriram que as verminoses e outras doenças

ainda são muito comuns, principalmente nos bairros mais pobres, onde a população

não dispõe de água tratada e higienização adequada.

Para concluir o trabalho, foi revisado o que se estudou sobre a História da

higiene no Brasil até o século XIX e entregue aos alunos outro questionário

individual, visando verificar, a aprendizagem e o gosto pela disciplina de História,

depois desta implementação. Presentes 21 alunos e as questões respondidas foram:

1) Você gosta de História? Por quê? Todos os alunos responderam que sim.

Prevaleceu o motivo de aprender coisas novas e interessantes sobre o passado.

2) O que você acha mais interessante nessa disciplina? Justifique. Todos os

alunos citaram coisas sobre o Brasil, sendo que 4 deles escreveram que o estudo

sobre Dom João foi o mais interessante, 3 citaram o trabalho dos tigres, 3 acham

interessante a forma da professora trabalhar os conteúdos em geral, 2 sobre a

higiene dos indígenas, 2 sobre os gregos e romanos e os demais escreveram sobre

a higiene e as transformações com a humanidade.

3) O que você acha menos interessante? Justifique. Todos os alunos

responderam: “nada”.

4) O que você estudou neste ano em História e que mais lhe chamou a

atenção? Por quê? O que lembra sobre o assunto? 14 escreveram que a história de

Dom João foi o que mais lhes chamou a atenção, pelos seus hábitos de higiene e

por ser medroso. 3 alunos responderam que foi o trabalho realizado pelos escravos

tigres, pois eram obrigados a carregar os dejetos de seus senhores. A nobreza que

aparentava estar limpa, porém pouco tomavam banho, foi a opção de 2 alunos e

outros 2 citaram o estudo da história da higiene em geral.

5) E sobre a História do Brasil, o que você estudou até agora e que consegue

lembrar? Um aluno não respondeu a questão e os outros 20 responderam que

lembravam a história de Dom João e seus hábitos nada higiênicos e os indígenas e

sua higiene que surpreendia os portugueses.

6) Você acredita que se as aulas de História abordassem as peculiaridades da

História e com pesquisas na internet, estas seriam mais interessantes? Por quê?

Todos os alunos responderam que sim, pois na internet é mais fácil encontrar o que

se deseja pesquisar e além disso, também podem encontrar vídeos sobre o assunto.

7) Nas aulas sobre a história da higiene, o que mais lhe chamou a atenção?

Por quê? Entre as respostas, 19 alunos citaram Dom João e seus hábitos, além da

crença, durante a Idade Média, de que o banho poderia prejudicar a saúde das

pessoas e o costume de comer com as mãos. Um aluno respondeu que os escravos

tigres, e outro escreveu que os problemas sanitários e a falta de rede de esgoto.

O fato que chamou a atenção enquanto respondiam, é que havia grande

empolgação entre eles e o mesmo aluno que havia dito que nada era interessante

em História, comentou que “tudo nesta disciplina é bom de estudar”.

4. Considerações Finais

Os resultados alcançados com este trabalho, possibilitaram uma reflexão

sobre o que é significativo para os alunos do ensino fundamental na disciplina de

História e os desafios que existem e devem ser enfrentados pelo professor para que

esta torne-se interessante aos educandos.

Através desta pesquisa e da aplicação do projeto, percebeu-se que cabe ao

professor buscar novas metodologias para o ensino da disciplina, estando em

constante estudo e aperfeiçoamento, pois a inovação faz-se necessária frente ao

desinteresse presente muitas vezes entre os educandos e que instigar o mesmo a

buscar novos conhecimentos, torna o conteúdo mais atrativo e melhora seu

aprendizado, pois ele estará construindo seu saber e tendo a possibilidade de

compartilhar este com seus colegas, sendo isso mais significativo para o mesmo.

Segundo Schimidt e Cainelli (2009, p.34), ”Ensinar História passa a ser, então, dar

condições ao aluno para poder participar do processo de fazer o conhecimento

histórico, de construí-lo.”

Também, desta forma, ao divulgar este projeto, bem como o Caderno

Temático, elaborado para a implementação deste na escola, aos professores,

através do Grupo de Trabalho em Rede, buscou-se compartilhar com estes, práticas

pedagógicas que são possíveis, dentro dos recursos que existem nas escolas

públicas do Paraná.

O estudo realizado, bem como sua aplicação em sala de aula, trouxe

resultados satisfatórios, visto que demostrou que o conhecimento pode ser

construído individual e coletivamente, através de pesquisas e debates, pois estes

enriquecem muito o saber, sabendo que o mesmo tema pode ser pesquisado em

fontes diferentes e ao socializar o que aprendeu, o aluno também absolve novas

informações sobre o mesmo assunto, melhorando seu aprendizado.

Porém, faz-se necessário o investimento em novas tecnologias para as

escolas, como computadores com internet de boa qualidade, aparelhos multimídia

em maior quantidade e assistência técnica para a manutenção adequada destes,

pois nem sempre as aulas podem ser desenvolvidas como planejadas, pela falta de

eficiência nestes equipamentos.

Este trabalho é apenas uma forma de elaborar o ensino-aprendizagem, pois

ainda tem muito a se pesquisar, visto que professores, alunos, escolas e regiões,

tem suas características próprias e estas devem ser respeitadas, portanto, este é um

campo amplo de pesquisa para a História.

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