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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

IMPLANTAÇÃO DE HORTA ESCOLAR ORGÂNICA COMO OBJETO

DE ESTUDO VISANDO À CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A

IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Autor: Amilton Roberto Agnolin 1

Orientador: Carlos Moacir Bonato 2

Resumo

A escola contribui no processo de inserção de crianças e jovens, oferecendo instrumentos de compreensão da realidade e favorece a sua participação em relações sociais diversificadas e cada vez mais amplas. Visando a formação de cidadãos solidários, conscientes e participativos, a educação deve relacionar teorias e práticas. Para tanto é necessária a busca contínua de informações como processo que auxílie a construção de valores que lhe são significativos. A escola é um espaço privilegiado para a promoção da saúde e desempenha papel fundamental na formação de valores, hábitos e estilos de vida, entre eles o da alimentatação. Objetivando a formação de cidadãos solidários, conscientes e participativos, implantou-se a horta escolar orgânica, visando criar condições para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, propiciando aulas práticas, agradáveis, contribuindo para a socialização da turma e construindo experiências valiosas para a vida. A utilização do espaço escolar para o cultivo da horta organica, conscientizando sobre hábitos alimentares mais saudáveis, proporcionou a mudança de comportamento, permitiu contato direto com o ambiente natural e propiciou o estudo concreto, levando à reflexão da necessidade de conservação dos recursos naturais. Além disso, o projeto oportunizou o conhecimento sobre a homeopatia vegetal, como mais uma ferramenta para produzir alimentos saudáveis a custos relativamente baixos e impacto ambiental nulo.

Palavras-chave: Hortaliças; manejo de horta; educação ambiental.

____________________

¹ Participante do Programa PDE, turma 2013. Professor do C.E. do Campo Santo Rei – EFM e C.E.

Professor João Farias da Costa - EFM de Nova Cantu-Pr. Especialista em Educação Matemática pela Faculdade FECILCAM de Campo Mourão-Pr., e Educação do Campo pela Faculdade DOM BOSCO de Curitiba-Pr. Email: [email protected]

² Orientador do Programa PDE. Professor da Universidade Estadual de Maringá – Maringá - PR.

Departamento de Biologia. Doutor em Fisiologia Vegetal pela Universidade UFV de Viçosa-MG. Email: [email protected]

1 INTRODUÇÃO

A instituição escolar é responsável pela formação de cidadãos,

proporcionando conhecimentos e possibilidades voltados para a ação reflexiva,

tornando possível, através de dados, teorias, reflexões e práticas, construir no

coletivo, amplo projeto de mudança social e cultural. Para ter ação competente e

socialmente comprometida, precisa ter clareza sobre sua função social, ou seja, que

tipo de homem se quer formar. Cabe à escola, garantir aprendizagem de certas

habilidades e conteúdos que serão necessários para a vida em sociedade e o

exercício de sua cidadania. A escola pode contribuir no processo de inserção de

crianças e jovens, ao oferecer instrumentos de compreensão da realidade e

favorecer a sua participação em relações sociais diversificadas e cada vez mais

amplas.

A disciplina de ciências tem como objeto de estudos o conhecimento científico

que resulta da investigação da natureza. Do ponto de vista científico, entende-se por

natureza o conjunto de elementos integrados que constitui o universo e toda a sua

complexidade. Ao ser humano, cabe interpretar racionalmente os fenômenos

observados na natureza, resultantes das relações entre elementos fundamentais

como tempo, espaço, matéria, movimento, força, campo, energia e vida (DCE –

Ciências, 2008).

A ciência é uma atividade humana complexa, histórica e coletivamente

constituída, que influencia e sofre influência de questões sociais, tecnológicas,

culturais, éticas e políticas (KNELLER, 1980; ANDREY ET AL., 1998).

As relações entre os seres humanos com os demais seres vivos e com a

natureza ocorre pela busca de condições favoráveis de sobrevivência. Contudo, a

interferência humana sobre a natureza possibilita incorporar experiências, técnicas,

conhecimentos e valores produzidos na coletividade e transmitidos culturamente.

Sendo assim, a cultura, o trabalho e o processo educacional asseguram a

elaboração e a circulação do conhecimento e estabelecem novas formas de pensar,

de compreender a natureza e de se apropriar de seus recursos.

Visando a formação de cidadão consciente e participativo, a educação no

ensino de ciências, deverá estar sempre relacionando teoria e prática, permitindo ao

educando compreender o mundo científico ao redor. Para tanto é necessária a

busca contínua de informações, como processo de auxílio de valores que lhe são

significativos. A escola é um espaço privilegiado para a promoção da saúde e

desempenha papel fundamental na formação de valores, hábitos e estilos de vida,

entre eles o da alimentação.

A promoção de alimentação saudável no espaço escolar subentende a

integração de ações de estímulos à adoção de hábitos alimentares, através de

atividades educativas que informem e motivem as escolhas individuais, abordando

entre outros, questões como: problemática na alimentação, contaminação do

alimento e consumo consciente.

Assim, observando a crescente curiosidade dos alunos em relação aos

alimentos naturais saudáveis, e consciente de que o tema deve ser inserido nas

práticas pedagógicas, se justificou a elaboração de um projeto simples, porém

significativo para a construção de hábitos alimentares mais saudáveis.

2 REVISÃO DE LITERATURA

As Diretrizes Curriculares de Ciências para a Educação Básica, do Estado do

Paraná, propõe-se formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que

compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que,

pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e

transformadora na sociedade (PARANÁ, 2008).

2.1 O ensino de Ciências

As aulas de Ciência devem colaborar para a compreensão do mundo e suas

transformações, entendendo o ser humano como indivíduo participativo e integrante.

Os conceitos da área de ciências contribuem para a ampliação das explicações

sobre os fenômenos da natureza, para o entendimento e o questionamento das

diferentes maneiras de nela intervir e, ainda, para o entendimento das mais diversas

formas de utilizar e reutilizar os recursos naturais.

2.2 A horta escolar orgânica

A conscientização para a implantação da horta orgânica na escola ou em

casa requer mudança de atitude e esforço, porém, não é difícil construir. Basta um

espaço disponível onde incida bastante luz. A partir daí, é só construir os canteiros,

planejar o que vai ser cultivado, selecionar a adubação e as sementes à serem

utilizadas. Com isso, pode-se obter hortaliças (legumes, temperos entre outros),

conhecendo sua origem e certificar-se de que são saudáveis para o consumo

humano. No entanto, é preciso preparar a terra, espalhar e incorporar o adubo no

solo e irrigar os canteiros. Além de fácil condução, a horta é uma fonte barata de

alimentos, servindo também como satisfação a quem cuida e produz parte de seu

alimento.

Na horta, aprendemos sobre os ciclos alimentares e integramos os ciclos naturais dos alimentos aos nossos ciclos de plantio, cultivo colheita, compostagem e reciclagem. Através desta prática, aprendemos ainda que a horta como um todo está inserida em sistemas maiores que também são redes vivas, com seus próprios ciclos. Os ciclos dos alimentos integram com esses ciclos maiores – o ciclo da água, o ciclo das estações e assim por diante, que são todos filamentos da rede planetária da vida. (CAPRA, 2003 , p. 27).

2.3 Meio Ambiente

A possibilidade de tratar o Meio Ambiente como tema transversal, através do

espaço horta orgânica, é fortalecida com a promulgação da Lei n° 9.795/99, que

dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação

Ambiental. A presença da horta escolar orgânica pode significar a existência de um

espaço onde o ensino e o exercício de algumas atividades, auxiliariam a

administração e a assimilação de conteúdos, procedimentos e atitudes, na

direção da conscientização de hábitos alimentares saudáveis por meio do

manuseio.

2.4 Horta escolar orgânica e a alimentação saudável

Os vegetais da horta orgânica escolar podem ser colhidos em estádio correto

e consumidos frescos, permitindo melhorar o sabor e o seu valor nutritivo. Os

alimentos com o tempo perdem sua qualidade, um processo natural, por esta razão,

colher e consumir as hortaliças frescas trazem grandes benefícios para a saúde

humana.

Hortaliças são plantas ou partes destas, como raiz, tubérculos, folhas, flores e frutos, que são utilizados para a complementação da nossa alimentação básica. Estas possuem em sua constituição vitaminas, sais minerais e fibras que são essenciais para o bom funcionamento do organismo humano. As principais vitaminas encontradas nas hortaliças são as seguintes: vitamina

A, vitamina C, vitamina B, vitamina K; e os sais são: cálcio, fósforo e ferro. (ARAÚJO, 1986, p.13).

Esses alimentos devem estar presentes diariamente nas refeições, pois

contribuem para a proteção da saúde e a diminuição do risco de ocorrência de

doenças.

As hortaliças estão inseridas no grupo dos alimentos chamados de

reguladores e recebem esse nome porque regulam as funções do organismo, como

facilitadores da digestão, da absorção dos demais nutrientes, protegem a pele, a

visão, os cabelos, os dentes, aumentam a resistência contra infecções, melhoram o

funcionamento intestinal, entre outras.

A conscientização de hábitos alimentares saudáveis no contexto de horta

escolar orgânica, precisa refletir sobre fatores que envolvam as relações físicas,

químicas, biológicas e ecológicas na produção de alimentos. A vida que existe no

interior do solo é a base da produção vegetal e animal. O universo não visível

articula milhões de organismos vivos, sendo matéria prima na produção de alimento,

se estiver em condições adequadas.

Segundo LEFF (2005, p. 324):

A qualidade de vida depende da qualidade do ambiente para chegar a um desenvolvimento equilibrado e sustentável (a conservação do potencial produtivo dos ecossistemas, a valorização e preservação da base de recursos naturais, a sustentabilidade ecológica do habitat) [...].

Refletir sobre ações praticadas que permeia o desenvolvimento sustentável é

fundamental para que as mudanças possam efetivamente ocorrer.

BRANCO (2002) relata que com aumento da população será necessário o

aumento da produção de alimentos, mas que isso só é possível com o aumento da

produção de alimentos por área cultivada, isso tem levado ao uso indiscriminado de

produtos químicos. Segundo o autor:

A aplicação de produtos químicos, várias vezes ao ano, em cada metro quadrado de lavoura, tornou-se, evidentemente, o melhor e o mais seguro negócio possível para quem os produz e vende. Como resultado, cada grão, folha ou fruto ingerido pelo homem neste planeta contém uma dose desses produtos. A carne, o leite e os ovos acham-se igualmente contaminados, uma vez que os animais que os produzem também ingerem vegetais submetidos ao mesmo tratamento. Basta dizer que o Brasil consome mais

de 80 mil toneladas de agrotóxicos por ano, para se ter uma ideia do que está sendo continuamente agregado ao meio ambiente, alterando sua composição. Parte desse material incorpora-se às plantas; outra ao solo. Grande parte é transportada aos rios pela chuva; outra é degradada no próprio ambiente por microrganismos capazes de transformá-la em compostos menos nocivos. (BRANCO, 2002, p. 69-70).

Diante deste cenário, a alimentação saudável está seriamente comprometida,

colocando em risco a qualidade dos alimentos produzidos.

Segundo BROWN (1992 apud TAMOIO, 2002, p. 23), a “Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente considera que a solução dos problemas

ambientais passa obrigatoriamente pela educação”. Diante da carência de

sensibilidade das pessoas em produzir alimentos orgânicos saudáveis, a educação

se faz ainda mais necessária, no sentido de se promover mudança de valores e

atitudes.

De acordo com MOREIRA (1999, apud PARANÁ, 2008, p. 62):

As relações que se estabelecem entre o que o estudante já sabe e o conhecimento específico a ser ensinado pela mediação do professor não são arbitrárias, pois dependem da organização dos conteúdos; de estratégias metodológicas adequadas; de material didático de apoio potencialmente significativo; e da “ancoragem” em conhecimentos especificamente relevantes já existentes na estrutura cognitiva do estudante.

Ainda segundo TAMOIO (2002, p. 35):

A escola deve desempenhar, junto à comunidade, a função social de transformação e auto-superação, no qual o processo de elaboração destes com o seu espaço natural e social é vital para uma Educação Ambiental comprometida com as transformações do contexto sociocultural.

Para tanto, entende-se que práticas de conservação do solo e diminuição do

uso de agrotóxicos devem ser adotadas para garantir a sustentabilidade e o

equilíbrio na natureza.

2.5 Homeopatia Vegetal

A homeopatia vegetal é uma dessas práticas que, além de garantir a sanidade

das plantas, pode levar a um aumento significativo na produção de orgânicos. Esta

tecnologia social é um método que apresenta baixo custo, além de ser

ecologicamente aceito e correto, atendendo aos critérios da produção de orgânicos.

Sendo uma ciência, a homeopatia não tem dono, e pode ser utilizada de diversas formas por todos, e em todos os seres vivos, sejam eles o homem, os animais, as plantas e os microrganismos presentes no solo e em outros locais. (BONATO, 2010, pag. 6).

A homeopatia aplicada à horta orgânica pode ser mais uma ferramenta de

grande valor para produzir alimentos saudáveis, a custo relativamente baixo e

impacto ambiental nulo.

Diante disso, é importante contemplar no Ensino Fundamental, a produção de

alimentos orgânicos para garantir alimentação saudável e com o solo em equilíbrio,

formando assim, cidadãos capazes de agir contra a degradação do meio ambiente e

como consequência melhorar a qualidade de vida.

3 DESENVOLVIMENTO

A Implementação do projeto da horta escolar orgânica como objeto de estudo

visando a conscientização sobre a importância da alimentação saudável, foi

desenvolvido através de unidade didática, com os alunos do 8º ano da disciplina de

ciências do período matutino do Colégio Estadual do Campo Santo Rei – EFM,

distrito de Santo Rei, Município de Nova Cantu – Pr., e com a comunidade, visando a

conscientização de que alimentos saudáveis proporciona melhoras significativas na

qualidade de vida das pessoas.

Inicialmente foi apresentado a proposta de intervenção pedagógica para a

direção, equipe pedagógica, professores, funcionários, pais e alunos, explicando os

objetivos e o que seria trabalhado no decorrer do projeto.

Com a finalidade de conhecer a realidade dos alunos envolvidos, foi

disponibilizado questionário para ser preenchido com a família sobre: onde mora;

possui horta em sua residência; quantas vezes na semana consomem hortaliças nas

refeições, para fazer o comparativo no final do projeto de aspectos relacionados ao

hábito alimentar.

Foram realizadas pesquisa, sobre os temas: o que se entende por horta

orgânica; que tipo de vida existe no solo; quando uma alimentação pode ser

considerada saudável; é possível produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos e o

que é homeopatia vegetal.

A apresentação dos trabalhos foi organizada em forma de seminário, com

exposição de cartazes com imagens e frase de efeito. Cada grupo apresentou o

resultado da sua pesquisa para os demais grupos.

Os alunos pesquisaram junto às merendeiras quais hortaliças (legumes,

temperos e/ou ervas medicinais) seriam mais comuns o uso na comunidade escolar.

Realizou-se pesquisa sobre nome popular e científico das hortaliças

(legumes, temperos e/ou ervas medicinais) que poderiam ser cultivadas na horta

orgânica da escola.

A organização dos canteiros, ocorreu de acordo com o espaço disponível,

sendo 12 m de comprimento e 1,40 m de largura, com espaçamento de 0,60 m entre

os canteiros.

A preparação dos canteiros foi orientada por membros da própria

comunidade, convidado para falar aos alunos envolvidos no projeto sobre a

importância da preparação e adubação do solo para o bom desenvolvimento das

plantas. Foi utilizado esterco bovino e de aves, recolhidos das propriedades

próximas à escola para o preparo dos canteiros.

A semeadura de diversas hortaliças ocorreu nas bandejas preenchidas com

substratos, nas condições ambientais ideais para a germinação das sementes,

observando a profundidade e a época do plantio.

O transplante ocorreu em dia nublado, juntamente com a identificação dos

canteiros de cada hortaliça para acompanhamento. Com o cuidado de retirar as

plantas invasoras dos canteiros, afofar a terra, nivelar e fazer as covas de acordo

com o espaçamento recomendado. Escolhida as mudas maiores e mais saudáveis

para o transplante, retirando-as da bandeja com cuidado. Fixou-se cada planta no

solo, deixando levemente pressionada ao redor da muda, em seguida molhamos

todos os canteiros. Neste momento pode ser observado pelos alunos, o

desenvolvimento da plântula, o seu enraizamento e o formato das raízes, bem como

a função de absorção de água e nutrients do solo.

As mudas de plantas aromáticas e medicinais foram acondicionadas nos

canteiros de forma que se tornaram atrativos e/ou repelentes naturais dos insetos

invasores.

O acompanhamento do desenvolvimento das hortaliças, tomou-se os devidos

cuidados para seu crescimento sadio, com visitas periódicas de observação,

molhando e retirando as plentas invasoras, cuidando bem da saúde dos vegetais

cultivados.

A colheita e consumo observou-se o ciclo de vida dos vegetais e relacionou

os nutrientes que se fazem presentes em diversos tipos de vegetais, bem como os

benefícios para a alimentação humana. Retirando com cuidado as folhas e/ou

plantas mais desenvolvidas, tendo cuidado para deixar em boas condições as

demais para colheitas posteriores.

Durante o desenvolvimento das plantas aconteceu pesquisas diversas sobre

homeopatia vegetal e à utilização da homeopatia para melhorar a qualidade e

baratear custos de produtos produzidos organicamente.

Os alunos descreveram em relatos, as atividades desenvolvidas. Estes relatos

conteve descrições e análises com ponto de vista das atividades realizadas e

possibilitou a reflexão e a ação do educando na comunidade.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A educação ambiental efetivou-se como preocupação no âmbito da educação

mundial. Ao lançar um olhar sobre a evolução da humanidade, percebe-se que o

homem, ao longo dos tempos, colocou em ação sua capacidade de construir

tecnologias que levasse a sua emancipação social e econômica. Por outro lado,

provocou modificações no espaço natural, tornando-se gerador de transformações

no meio em que vive.

É fundamental o surgimento de nova percepção da realidade, que promova a

revitalização das comunidades educativas, comerciais, políticas, de assistência à

saúde e da vida cotidiana, de modo que os princípios ambientais se manifestem

como princípios de educação, de administração e de política (CAPRA, 1994). Dessa

forma, o âmbito educacional como espaço de construção e socialização de

conhecimentos tem o papel essencial de formar cidadãos comprometidos com os

problemas do mundo no qual habitam.

Os gráficos 1, 2 e 3 apresentam os resultados referentes às respostas dos

estudantes aos questionários ocorridos antes e após as atividades propostas

relacionadas ao tema em discussão, ou seja, implantação de horta escolar orgânica

como objeto de estudo visando a conscientização de alimentação saudável. As

questões aplicadas antes das atividades, mostrou equilíbrio entre alunos residentes

na área rural e no distrito. Por outro lado, observou aumento no número de famílias

com horta em suas residências, juntamente com o consumo de hortaliças em mais

dias na semana. A conscientização e a abordagem metodológica, utilizada no

desenvolvimento das atividades, propiciou mudanças significativas na produção das

hortaliças e nos hábitos alimentares mais saudáveis, como observa-se nos gráficos a

seguir:

Gráfico 1 – Local da residência dos estudantes, antes e depois das atividades propostas relacionadas à implantação de horta escolar orgânica como objeto de estudo visando a conscientização da alimentação saudável. Fonte: Questionário 2013

Gráfico 2 – Número de estudantes que possuem horta, antes e depois das atividades propostas relacionadas à implantação de horta escolar orgânica como objeto de estudo visando a conscientização da alimentação saudável. Fonte: Questionário 2013.

Gráfico 3 – Número de dias na semana em que os estudantes consomem hortaliças, antes e depois das atividades propostas relacionadas à implantação de horta escolar orgânica como objeto de estudo visando a conscientização da alimentação saudável. Fonte: Questionário 2013.

Dispor da horta orgânica no quintal de casa é o meio mais seguro de garantir

a procedência e o frescor do alimento à mesa. Muitos lamentam não ter espaço

amplo e iluminado o bastante para cultivar suas próprias frutas, verduras e legumes,

porém basta um pequeno espaço de terra com incidência de luz direta por algumas

horas ao dia, para criar uma horta produtiva e isenta de agrotóxicos e insumos

artificiais. Hortaliça cultivada organicamente é sinônimo de alimento mais saudável e

com sustentabilidade, afinal, seu plantio contribui para a preservação da fertilidade

do solo, da qualidade da água e dos demais recursos naturais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A possibilidade de utilizar o espaço escolar para o cultivo da horta organica,

visando a conscientização de hábito alimentar saudável, se torna mais uma

metodologia de ensino para acontecer de fato a mudança comportamental relativo a

alimentação. Desenvolver projeto sobre Horta Orgânica no Estabelecimento de

Ensino propicia o resgate dos saberes dos alunos, em relação ao conteúdo que se

pretende trabalhar, constituindo-se o ponto de partida para o processo de ensino e

aprendizagem com o manuseio de produtos orgânicos, desde o plantio até a

colheita. Nosso dever enquanto educador é promover situações que despertem o

interesse nos alunos em relação à qualidade de vida e muitas vezes não nos damos

conta de como é importante as pequenas atitudes.

A horta orgânica na escola, permite o contato direto com o ambiente natural,

proporcionando o estudo concreto, despertando a responsabilidade com o mesmo,

pois a horta é um espaço cheio de organismos vivos.

Torna-se importante desenvolver nos alunos, a consciência e a reflexão dos

problemas ambientais vivenciados. A prática sustentável da Horta Escolar Orgânica

favorece a discussão da viabilidade de implementação nas escolas, levando o aluno

a entender que é necessário alimentação saudável para ter qualidade de vida. É

papel da escola formar multiplicadores que ajudem a cuidar do meio ambiente.

A importância do presente projeto para a Escola Pública, reside,

principalmente no fato de trazer informações pertinentes a alimentação mais

saudável, através dos produtos orgânicos cultivados na horta escolar, além de serem

utilizados na merenda escolar, os alimentos produzidos em excesso podem ser

repassados para famílias carentes. Também há o incentivo para que os alunos

levem para casa aquilo que aprendem sobre a alimentação saudável, como montar

uma horta, querer repassar essa aprendizagem para os pais e construir a horta

orgânica em sua residência. Podendo no mínimo, produzir tempero verde, sem

precisar recorrer aos supermercados, podendo estar se alimentando com qualidade.

A importância de se ter alimentação saudável, envolve conhecimentos

essenciais a serem adquiridos e também valores e atitudes a serem desenvolvidos

pelos alunos, além disso, a horta na escola propicia aulas práticas e agradáveis.

Através de projetos como este, oportuniza aos alunos conciliar teoria e prática,

aplicando o que aprende em aula, levando uma experiência valiosa para a vida. A

participação nas atividades do projeto, melhora a socialização da turma e também

leva os mesmos a reflexão da necessidade de conservação dos recursos naturais,

sem contar as pesquisas sobre os alimentos e valores nutricionais, receitas que

podem ser feitas e elaboradas junto com as merendeiras.

O cultivo dos legumes e hortaliças preferidos pela maioria acrescenta muito

mais na merenda da escola, agregando mais sabor e saúde na mesa e na vida dos

alunos. Os alunos consomem os produtos cultivados sem agrotóxicos, enriquecem a

merenda escolar, fica em contato direto com a natureza e assim aprende a respeitá-

la e preservá-la.

A alimentação escolar é um direito de todos os estudantes e com o projeto

horta orgânica e alimentação saudável, pode-se buscar e valorizar o meio ambiente,

propondo pequenas mudanças ao longo do processo educativo, levando e

ampliando o conhecimento além da escola, trazendo mudanças de hábitos

saudáveis ao seu dia a dia, utilizando o reaproveitamento das plantas em alimentos

saudáveis. Tais atividades auxiliam no desenvolvimento da consciência de que é

necessário se adotar estilo de vida menos impactante sobre o meio ambiente, bem

como a integração dos alunos com a problemática ambiental vivenciada a partir do

universo da horta escolar orgânica. Tudo isso é possível e colocado em prática, se

adotar-se o papel de cidadão ativo em favor da Educação Ambiental, resgatando

valores culturais, morais, saudáveis, noções de cidadania, entre outros aspectos que

conformam a totalidade social.

Não pode desanimar diante de obstáculos, perseverando sempre. Projetos

como este, devem ser incentivados para a melhora da qualidade de ensino da

escola pública. Mais do que fornecer informações, o ensino em seu todo, deve partir

da visão de que considera o aluno como sujeito que faz parte de um grupo social

amplo e que está envolvido com diferentes tipos de conhecimentos, que muitas

vezes interpreta esses conhecimentos partindo de suas ideias, seus valores e

crenças, os quais provém de seus avós, pais e de seu meio sociocultural.

Possivelmente ter-se-á dificuldades, críticas e desafios, porém na educação se está

sempre objetivando novas maneiras de melhorar o processo do ensino

aprendizagem.

10 REFERÊNCIAS

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BRANCO, S. M. O meio ambiente em debate. 26 ed. São Paulo: Moderna, 2002. CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix , 1994. CAPRA, F. Alfabetização ecológica: desafio para o século 21. in: TRIGUEIRO, A. (org). Meio ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Sexante, 2003. CARNEVALLE, M. R. Jornadas.cie – Ciências - 8º ano (Ensino Fundamental). 2. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2012. EMATER-PR. Como fazer sua horta caseira.10º ed. Editora Secretaria da Agricultura e do Abastecimento - Governo do Paraná. Curitiba, 2000. FREIRE-MAIA, N. A ciência por dentro. Petrópolis: Vozes, 2000. KOVALSKI, M. L., OBARA, A. T., BONATO, C.M. O Conhecimento Científico e Popular das Plantas Medicinais. Maringá: Massoni, 2011. KNELLER, G.F. A ciência como atividade humana. Rio de Janeiro: Zahar; São Paulo: EDUSP, 1980. LEFF, E. O. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. LEI Nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,

institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 22. mai. 2013. MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa. Brasília: UnB, 1999. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica de ciências. Paraná, 2008. TAMOIO, I. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação ambiental. São Paulo: Annablume, 2002.