os desafios da escola pÚblica paranaense … · a contaÇÃo de histÓrias como gÊnero oral...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO GÊNERO ORAL ENSINÁVEL

MEDIADO PELA LEITURA DA OBRA

TRISTÃO E ISOLDA

Professora PDE: Carmen Lorenzetti1

Professora Orientadora: Karin Cozer de Campos2

Resumo: Contar e ouvir histórias é uma arte que agrada a todas as idades e, por concordar com

essa afirmativa, levou-se para o contexto do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Mário de Andrade – Ensino Fundamental, Médio Normal e Profissional a contação de histórias. Entende-se que os alunos do Curso de Formação de Docentes precisam conhecer e compreender a importância da contação de histórias para trabalharem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Portanto, através da narrativa oral da obra Tristão e Isolda, contada em prosa e em versos, os alunos sentiram-se motivados a serem também contadores de histórias. Para isso, discussões técnicas e teóricas sobre a arte de contar histórias, como também o estudo acerca dos recursos utilizados, as técnicas orais e corporais, a escolha da narrativa mais adequada à faixa etária e série, fizeram-se necessárias e culminaram com as contações de histórias selecionadas pelos alunos. Diante do proposto pode-se afirmar que o processo ensino-aprendizagem a partir da contação de histórias contribuiu sobremaneira para o enriquecimento do curso de Formação de Docentes e, principalmente, no que se refere à leitura de obras literárias.

Palavras-chave: Leitura. Contação de Histórias. Obra Tristão e Isolda. Oralidade. 1. Introdução

É por meio das linguagens presentes no universo que o homem se

humaniza, elabora ideias, pensamentos, amplia interações, apropria-se de discursos

que circulam na sociedade, cria, recria e organiza um mundo que não é somente

feito de projeções e representações individualizadas por meio da língua, mas fruto

de práticas sócio-interativas. É através da língua que as pessoas, de diferentes

maneiras e formas, se relacionam e esta só existe em função do uso de seus

locutores e interlocutores em situações concretas de comunicação. E, é nesse

exercício de interação constante e contínua com os enunciados individuais dos

1 Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Graduada em Letras pela Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas (FAFI). Especialista em Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Atua no Colégio Estadual Mário de Andrade – Ensino Fundamental, Médio Normal e Profissional e no Colégio Estadual do Campo Paulo Freire – Ensino Fundamental e Médio. 2 Professora Orientadora, docente do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – UNIOESTE, Campus de Francisco Beltrão. Doutoranda em Educação pela UFSC.

outros que a experiência discursiva de qualquer pessoa se forma e a comunicação

acontece (BAKTHIN, 2003, p. 294).

Por isso, a língua é uma atividade constitutiva, criativa, dinâmica e presente

no desenvolvimento do homem, desde o princípio da criação. Ao sentir necessidade

de trocar informações, de socializar descobertas e inventos, o homem utilizou-se da

linguagem que, segundo Bakthin (2003), foi sendo construída a partir do

pensamento e da troca com o outro, numa relação dialógica. A linguagem, neste

contexto, é vista como um constante processo de interação mediado pelo diálogo.

A construção da comunicação ocorre no interior das relações entre os

indivíduos e, através da fala, trocam papéis; ora sendo ouvintes, ora falantes. Na

necessidade de comunicarem-se, os homens compreendem-se mutuamente,

expõem suas memórias, tradições, culturas e estilo de vida de seu grupo social. É

na interatividade que eles se conhecem e, simultaneamente, participam do processo

de constituição da língua, por este motivo, a língua vive e evolui historicamente na

comunicação verbal concreta e sendo viva, também se modifica, sofre mudanças e

adaptações de acordo com a necessidade de cada um, ratificando não ser neutra,

estanque, acabada e pronta e sim constitutiva, criativa e dinâmica.

Toda a atividade humana está ligada ao uso da linguagem e ela só vive e se

concretiza na comunicação dialógica daqueles que a usam. O sujeito, para Bakhtin

(2003), adquire conhecimento na interlocução, na troca, na interação verbal, pois

ouvindo ou lendo uma história ele será capaz de refletir, questionar, comentar e

construir seu pensamento a partir do pensamento e da troca com o outro e, a

contação de histórias, nesse trabalho, seguramente, está em consonância, com a

compreensão de relação dialógica da linguagem defendida por Bakhtin.

Compreender a contação de histórias como gênero oral ensinável, é acreditar

que procedimentos apropriados de fala e de escuta precisam estar presentes nas

aulas de Língua Materna e, dificilmente ocorrerão, se a escola não tomar para si a

tarefa de ensiná-los.

Dessa forma, pensou-se num projeto, que contemplasse estratégias de

contação de histórias e a contação propriamente dita, com o objetivo de estimular a

escuta, a oralidade, a leitura e a capacidade expressiva e criativa dos alunos do

Curso de Formação de Docentes para o ato de contar histórias. “Se as crianças

escutam histórias desde pequeninas, provavelmente gostarão de livros” salienta

Coelho (1994, p.12). Por isso contar histórias poderá ser um recurso auxiliar

valiosíssimo para instigar a leitura, como também desenvolver, na criança, a

atenção, a imaginação, a observação, a memória, a reflexão e a linguagem e, por

esses motivos, ler e contar histórias, deverão estar presentes na prática pedagógica

de professores da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pois é

no início da escolarização, que muitas crianças terão o primeiro contato com o

universo das histórias, através da leitura ou da contação.

É primordial ampliar a capacidade leitora em todas as modalidades de ensino.

Contudo, no Curso de Formação de Docentes, faz-se necessário ampliar essa

capacidade, haja vista o compromisso que devem ter com o ato de ensinar o aluno a

ler. Por isso, é extremamente importante que o professor goste de ler, demonstre

isso e, através da sua experiência com a leitura, possa ajudar os alunos a também

estabelecerem laços afetivos com ela.

Um leitor é formado, sobretudo, pelo exemplo e motivação, por isso a

necessidade de um trabalho mais consistente voltado para a leitura, com os alunos

do Curso de Formação de Docentes, pois ela, para eles, tem duplo sentido: ler para

eles mesmos e ler para ensinar, pois, somente se aprende a ler em ambientes

convidativos e também através da interação com leitores que leem frequentemente.

Incentivar os alunos, que serão professores, a contarem histórias, lerem os

clássicos da literatura universal e literatura infantil é criar mecanismos metodológicos

para que descubram sobre a arte literária, o mundo e os recursos linguísticos da

língua. Por isso, o Projeto de Intervenção tem como objetivo principal incentivá-los a

atuarem como contadores de histórias e oferecer-lhes suporte teórico-metodológico

que contribua para a sua formação acadêmica e profissional.

2. Importância da contação de histórias na formação do jovem leitor e do

professor em formação

O homem, como ser social, transmite de geração em geração suas histórias,

conhecimentos e ensinamentos usando as várias linguagens presentes no seu dia a

dia. Desde o início da civilização, teve a preocupação de registrar, a princípio,

através da linguagem oral e gestual, depois através do desenho, pintura e escrita,

fatos importantes, experiências, costumes, cultura, rituais, mitos, crenças e

conhecimentos acerca de fenômenos naturais e sobrenaturais que marcaram sua

passagem pelo tempo e pelo espaço.

Como a maioria do povo era analfabeto e não conhecia a escrita, o homem

tinha somente a memória como recurso para armazenar as histórias e a voz para

repassá-las às futuras gerações (BUSATTO, 2003, p.10). Sobre isso, Meireles

(1979, p.41) assevera que contar histórias é um ofício antigo e “por ele se perpetua

a literatura oral, comunicando de indivíduo a indivíduo e de povo a povo o que os

homens, através das idades, têm selecionado da sua experiência como mais

indispensável à vida”. Diante disso, comprova-se o quanto a memória e a oralidade

são importantes e fundamentais à história de um povo.

Em muitas comunidades, a identidade do grupo, suas histórias e descobertas

eram passadas e repassadas, através da oralização. Há, no entanto, incontáveis

narrativas que foram eternizadas, porque além de transmitirem a herança cultural de

determinado grupo e em determinada época, ainda apregoavam valores e saberes

indispensáveis à sobrevivência individual ou coletiva de determinada comunidade.

Em razão disto, a prática de contar histórias é bem antiga, ocorrendo em todas as

culturas. O homem descobriu que as histórias narradas, além de prender a atenção,

exerciam um grande fascínio, conquistavam e encantavam os ouvintes, por isso, o

contador de histórias tornou-se figura indispensável pelo prazer que suas narrativas

proporcionavam (TAHAN, 1964, p. 17).

Ainda, segundo Malba Tahan “não existe povo algum que não se orgulhe de

suas histórias, de suas lendas e seus contos característicos” (TAHAN, 1964, p.15).

Os contos são, neste contexto, a mais pura expressão cristalina e simplificada de um

povo, pois eles transmitem valores e costumes, como também relatos de

acontecimentos reais ou ficcionais que atravessaram séculos e séculos, porque

correspondem a características próprias e imutáveis do ser humano.

Embora, os tempos modernos ofereçam novas histórias disponíveis nos mais

sofisticados aparatos tecnológicos, nada se compara àquelas contadas pelos nossos

antepassados e iniciadas com “Era uma vez…, ou outra de qualquer forma que

agrade ao contador e aos ouvintes...” (ABRAMOVICH, 1994, p.21) e que, ainda hoje,

chega, prazerosamente, aos ouvidos atentos de uma criança, através dos pais,

avós, babás ou do professor.

De modo que, “tanto as crianças de outrora, como as de hoje e o homem

primitivo se sentem presos de encantamento ao ouvir as histórias maravilhosas que

começavam com as palavras mágicas „antigamente‟, „era uma vez...‟” (GÓES, 1984,

p.67). E ao pronunciar tais palavras, o narrador convida seus interlocutores a

viajarem pelo mundo do encantamento e da magia.

Um incalculável número de narrativas “nasceram na alma do povo” (GÓES,

1984, p.67) e por apresentarem características atemporais, ainda hoje, essas

narrativas envolvem e permitem que a imaginação do leitor ou do ouvinte aporte e

permaneça, por algum tempo, em lugares inimagináveis. Por conviver e identificar-se

com alguns personagens e enredos, o leitor ou o ouvinte reporta-se para outros

mundos, o mundo do imaginário, do ficcional, do fantástico, enfim, o mundo criado

pelo autor. “À medida que ouvimos a história, somos transportados para „lá‟, esse

local desconhecido que se torna imediatamente familiar” destaca Machado (2004,

p.23). Assim, contar histórias tornou-se uma forma de conhecer outras culturas,

propagá-las a todos os povos e nações, gerando um momento propício de prazer e

estímulo à leitura.

Era costume, “nos velhos tempos, o povo sentar ao redor da fogueira para se

esquentar, conversar ou contar histórias” (CASASANTA, 1974, p.51). O fato é que

ouvir histórias tornou-se um acontecimento indescritível e, continua despertando o

interesse das pessoas de todas as idades que, ao ouvirem ou lerem histórias, são

capazes de refletir, comentar, duvidar e discutir sobre ela, realizando, assim, a

interação verbal, tal como a teoria bakhtiniana preconiza. Sobre isso, Abramovich

enfatiza, com veemência, que “contar histórias é uma arte... e tão linda!!! [...] seja

numa tarde de chuva, num feriado ou domingo, ou antes de dormir, [...] o importante

é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário” (ABRAMOVICH, 1994, p. 17-

18).

Bakhtin (2003), ao defender uma língua viva e interativa, reporta-nos à sala

de aula - espaço rico e privilegiado de transmissão de conhecimentos como também

de interação entre professor/alunos e alunos/alunos, que buscam, além da troca de

informações, conhecimentos e experiências, subsídios extremamente benéficos para

aprimorarem a oralidade, a leitura e a escrita. O domínio da linguagem oral e escrita

é essencial para a participação do homem na sociedade, a leitura; imprescindível,

necessária e relevante para o seu desenvolvimento e, ler ou ouvir histórias, alimento

e mimo para a alma.

A contação de histórias, como gênero oral ensinável, apresentou-se como

recurso pedagógico capaz de desenvolver e aperfeiçoar, nos alunos do 3º ano do

Curso de Formação de Docentes, as linguagens oral e escrita, estimulando-lhes a

criatividade, a imaginação e o prazer pela leitura. As Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná (DCEs, 2008) destacam a importância do trabalho com a

oralidade em Língua Portuguesa e apontam a contação de histórias como uma

prática adequada no desenvolvimento da conversação e argumentação.

Tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, as possibilidades de trabalho com os gêneros orais são diversas e apontam diferentes caminhos, como apresentação de temas variados (histórias de família, da comunidade, um filme, um livro); depoimentos sobre situações significativas vivenciadas pelo aluno ou pessoas do seu convívio; dramatização; recado; explicação; contação de histórias; declamação de poemas; troca de opiniões; debates; seminários; júris-simulados e outras atividades que possibilitem o desenvolvimento da argumentação (PARANÁ, 2008, p.66).

Cabe à família e à escola ensinar a criança a ouvir, ler e a gostar de histórias.

Não há como ignorar a importância da contação de histórias na formação do leitor e

dos futuros professores, alunos do Curso de Formação de Docentes. Ela (a

contação de histórias) é capaz de estimular o aluno a interessar-se pela leitura, uma

vez que o interesse e o hábito é um processo constante, que se inicia muito cedo,

em casa e é aperfeiçoado na escola. Abramovich corrobora essa ideia ao destacar a

importância de ouvir histórias na formação de qualquer criança. Para ela, “escutá-las

é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho

absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo” (ABRAMOVICH,

1994, p.16).

Inegavelmente as histórias formam o gosto pela leitura. Quando a criança

gosta de ouvir histórias contadas ou lidas, certamente será atraída para o universo

dos livros e a contação de histórias pode contribuir para a entrada e permanência da

criança nesse universo. Fanny Abramovich, em uma de suas obras afirma que, as

histórias têm como valor específico o desenvolvimento das ideias, e cada vez que

elas são contadas acrescentam às crianças novos conhecimentos, pois: “ouvir

histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o

imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma

história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!” (ABRAMOVICH, 1994, p. 23).

É perceptível que o ato de contar histórias também colabora para que o leitor

se forme em sua plenitude, pois ao ler, ele constrói sua memória discursiva, através

da qual irá buscar novos sentidos, ocorrendo, assim, novas aprendizagens, uma vez

que, através da leitura e da escuta de histórias, reformulará seus conhecimentos e

sua visão de mundo. É contando histórias que podemos enriquecer as experiências

infantis, propiciando situações para que as crianças desenvolvam diversas formas

de linguagem, ampliando o vocabulário, o imaginário e a capacidade de

confabulação que possuem.

Contar histórias servirá como um elemento didático para os alunos do Curso

de Formação de Docentes utilizarem na formação dos pequenos leitores, como

também na relação teórico-prática para a efetivação da leitura em sala de aula,

conforme preconiza Bakhtin (2003) em relação ao discurso, ou seja, para que o

mesmo ocorra é importante a relação dialógica entre enunciador, enunciado e

contexto de uso da língua.

3. A prática da contação de histórias com os alunos do Curso de Formação de

Docentes

Contar histórias para os alunos do Curso de Formação de Docentes e motivá-

los à leitura era o nosso objetivo inicial, incentivá-los a serem contadores de histórias

com o desejo de aperfeiçoar a oralidade era nossa finalidade e, através desses

contadores de histórias em formação, motivar os pequenos leitores a imergirem no

universo encantado da leitura e permanecer nele por muito tempo é nossa vontade.

É imprescindível que o professor leia muito para orientar e formar novos

leitores, porém a constituição do professor-leitor começa pela sua formação escolar.

Com base nisso, a Proposta Didático-Pedagógica propunha, por meio da contação

de histórias, contribuir com a formação deste aluno, futuro professor, como forma de

ampliar as suas experiências com a linguagem e com a leitura, uma vez que uma

história bem contada pode estimular o ouvinte a interessar-se pela leitura e o

narrador aperfeiçoar, através da narração, a oralidade, a leitura e a escrita.

Uma das maneiras mais apreciadas de tomar contato com narrativas é ouvir

alguém contando histórias. Para que os alunos do Curso de Formação de Docentes

conheçam a arte de contar histórias e, quando docentes, contem histórias para seus

alunos é que se decidiu contar uma história como estratégia pedagógica para

estimular-lhes o prazer pela leitura e pela narração.

Se contar histórias é uma arte, então “é bom saber como se faz. Afinal, nela

se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a

sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo

como uma canção...” (ABRAMOVICH, 1994, p.18). Contar histórias possui segredos

e técnicas que precisam ser estudadas e compreendidas. Para contar uma história o

narrador precisa saber o que contar (história escolhida), como contar (técnicas e os

recursos), quem vai ouvir (ouvinte), em que ambiente (local) e quais suas intenções

(objetivos). Tudo isso se faz necessário em função de quem vai ouvir as histórias.

“Cada recurso tem suas vantagens específicas e requer uma técnica especial”

(COELHO, 1994, p.31), por isso conhecer técnicas e recursos de contação é

essencial para o sucesso do “contar histórias”.

Outro fator que cativa o ouvinte é estar num ambiente preparado,

especialmente, para o momento da contação. O local deve ser agradável,

aconchegante e decorado de acordo com o tema da história. E para que o prazer, o

desejo e a emoção aflorem no público ouvinte, o contador precisa, antes de tudo,

gostar da história que irá contar, conhecê-la em seus mínimos detalhes, utilizar

algumas técnicas, gestos, tom de voz adequado, posição corporal, além de muita

emoção. É a emoção, passada pelo contador, através dos gestos e, principalmente,

pela voz que seduzirá o público para o mundo apresentado na narrativa.

Assim, num espaço preparado, especialmente, para a contação, iniciou-se a

narrativa, para os alunos do Curso de Formação de Docentes, da obra Tristão e

Isolda (1997), escrita no século XII, no auge da Idade Média, quando as novelas de

cavalaria eram a representação dos fatos heróicos vividos pelos cavaleiros

medievais. A história foi escolhida atendendo à faixa etária e o interesse dos

ouvintes, como também o estilo e gosto pessoal do narrador. “Se a história não nos

desperta a sensibilidade, a emoção, não iremos contá-la com sucesso” (COELHO,

1994, p.14).

Entre todos os recursos disponíveis para que o narrador envolva o

interlocutor, Coelho afiança que “a simples narrativa é a mais fascinante de todas as

formas, a mais antiga, tradicional e autêntica expressão do contador de histórias.

Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador, de sua

postura” (COELHO, 1994, p.31). E assim, usando recursos e técnicas sugeridas por

Coelho, abriu-se a oficina de contação da história de Tristão e Isolda. Os alunos e

convidados foram recepcionados com audição de música, cartões com mensagens

referentes à história e com alunos caracterizados de personagens dos contos de

fadas, recitando poemas e contextualizando a história no tempo e no espaço. Foram

08 (oito) aulas de escuta e 02 (duas) para a gincana com questões referentes à

história.

O depoimento3 de uma aluna retrata, fielmente, esse momento:

Estar num ambiente agradável, aconchegante e decorado, cativa os ouvintes. [...] O cenário estava deslumbrante e adequado ao tema da história que foi contada. O que me deixou encantada foram aqueles painéis enormes mostrando o castelo e a sequência de fatos marcantes vividos pelos personagens – TRISTÃO E ISOLDA. A história foi muito bem escolhida, porque fala de um verdadeiro amor. [...] A entonação de voz da professora foi o motivo que fez com que a narrativa não ficasse cansativa. A gincana foi muito boa, pois serviu para descontrair e divertir a turma. A oficina mostrou a importância da contação, que é um meio pelo qual o ouvinte desenvolve a imaginação, assim como seu repertório de vocabulário. Além disso, melhora a escrita e a oralidade e induz na formação de novos leitores. (ALUNA, 2014).

Nestas primeiras experiências, ficou bastante evidente que os alunos do

Curso de Formação de Docentes reconhecem a importância da leitura tanto na sua

formação profissional quanto pessoal. Aspecto esse que ficou claro, durante as

leituras, discussões e realização das atividades.

Após essa primeira etapa, destinada à contação e à gincana sobre a história

de Tristão e Isolda, iniciou-se uma atividade em grupo. Os alunos produziram

diferentes gêneros – notícia, cartazes, carta familiar, propaganda, receita, bula,

poema, paródia – referentes à história ouvida e socializaram as produções com o

grupo. O trabalho em grupo contribuiu para a interação e sociabilidade. A produção

atendeu a estrutura composicional, estilo, conteúdo temático e as especificidades de

cada gênero. Assim como relata outro participante:

Foi importante a explicação sobre os gêneros que iríamos produzir. Entendemos que cada gênero tem suas particularidades e é preciso conhecer isso para depois produzir um texto. Gostamos porque produzimos um texto referente à história que já conhecíamos e não escrevemos um texto do nada. O trabalho em grupo foi importante, porque um componente do grupo complementou a ideia do outro e juntos escrevemos um bom texto. (ALUNO, 2014).

Por este trabalho foi possível perceber que a língua é viva e interativa e,

partindo desse pressuposto bakhtiniano, a relação entre professor/aluno vai além da

3 Adotaremos este modelo de citação, tamanho da letra e fonte, para todos os depoimentos e relatos

do trabalho a fim de diferenciar tais excertos das citações bibliográficas.

troca de experiências. A mesma é fundamental para o domínio da linguagem oral e

escrita.

Na sequência, três vídeos sobre a importância e a arte de contar histórias

foram exibidos, com o objetivo de motivar os alunos a falarem a respeito da

presença das histórias em suas vidas, como mostra o relato de uma aluna: “Desde

muito nova sempre tive boas experiências diante de histórias e leituras, pois sempre

fui muito incentivada a essa questão tendo muitas pessoas com o hábito da leitura

em minha família”. Já outra aluna recorda-se que, “Todas as semanas minha

professora organizava uma contação de histórias e, além da contação, ela também

distribuía livrinhos de histórias em uma mesa e permitia que cada criança pegasse o

livro de sua preferência”.

Esses relatos confirmam a importância da leitura no espaço familiar para a

formação do futuro leitor, bem como o quanto ouvir e contar histórias desenvolve o

prazer de ler.

À medida que cada um relatava suas primeiras experiências com a leitura,

ficava evidente a importância de usar a oralidade com fluência, entonação e

desinibição. Ressaltou-se também que o sucesso de várias atividades depende de

uma boa expressão oral - falar em público e com o público - por isso, na prática

pedagógica diária dos professores de Língua Materna, faz-se necessário abrir

espaços para que os alunos contem as histórias lidas ou ouvidas na infância.

Após ouvir depoimentos sobre a iniciação de cada um no universo encantado

das histórias, cada experiência relatada recaiu em torno da infância, pois a maioria

viveu a contação de histórias narradas pelos pais, avós, irmãos mais velhos, como

também pelos professores das séries iniciais.

Feitos os relatos, um aluno leu a reportagem jornalística de Rosely Sayão

sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola em relação à

leitura. Depois os alunos responderam ao questionário. Os vídeos, a leitura e

questões referentes às atividades permitiram o debate, a interatividade, a leitura e a

escrita. A apresentação da produção para o grupo gerou discussão, favoreceu a

interação e a troca de experiência sobre a importância da contação de histórias na

formação do leitor.

A seguir, como motivação para o início das oficinas teórico-práticas sobre a

arte de contar histórias, assistiu-se ao filme “O contador de histórias”, cujo

protagonista mostra a importância dos estudos como fator de mudanças sociais,

culturais e econômicas e a leitura e a contação de histórias fundamentais para

reviver aspectos históricos, sociais e individuais importantes para o desenvolvimento

da humanidade.

Foram cinco oficinas com duração de três aulas cada, para ouvir, ler,

selecionar textos e aprender técnicas de contação. Discutiu-se sobre quais técnicas,

recursos internos e externos devem ser utilizados, que histórias devem ser contadas

para cada faixa etária, como manter a atenção da plateia, como lidar com as

interrupções e interferências e o mais importante: o que queremos, o que

pretendemos e por que contamos histórias.

Através desse estudo e pela experiência do trabalho desenvolvido, foi

possível constatar que os futuros contadores ficaram mais confiantes e tiveram

melhor domínio das histórias. Porém, segundo Coelho “contar histórias requer certa

tendência inata, uma predisposição, latente, aliás, em todo educador, em toda

pessoa que se propõe a lidar com crianças” (COELHO, 1994, p.50). Certamente, os

alunos do Curso de Formação de Docentes têm uma responsabilidade muito grande,

ou seja, além de formarem leitores, ainda precisam ler e ler muito, pois se não forem

bons leitores também não serão bons contadores.

Lendo Ruth Rocha, Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Ziraldo, entre

outros, os alunos, futuros professores, tornar-se-ão grandes contadores. Mas, além

das leituras, é necessário ensinar-lhes técnicas de contação de histórias, motivá-los

à leitura de muitas obras e, principalmente, orientá-los quanto à escolha das obras

que serão trabalhadas com as crianças, evidenciando que a utilização desses

recursos, como auxiliar da prática pedagógica, potencializará o aprendizado e

contribuirá para o desenvolvimento da personalidade dos alunos de maneira

significativa.

Para cada história o contador pode utilizar um recurso ou uma apresentação

diferenciada dando riqueza e tornando esta mais viva, mais rica e interessante. Para

Tahan (1964, p.126), “a apresentação da história pode ser feita de várias formas, de

acordo com os artifícios ou recursos empregados pelo narrador”. Assim, o narrador

pode e deve utilizar-se de variados recursos e técnicas a fim de chamar a atenção e

cativar o seu expectador. O autor destaca ainda que: “o êxito de uma narrativa

depende, muitas vezes, da maneira pela qual é feita, aos ouvintes, a sua

apresentação” e “a forma dessa apresentação vai depender de certas circunstâncias

que irão influir de maneira decisiva para o maior ou menor brilho e interesse da

narrativa” (TAHAN, 1964, p.128).

Após o estudo das técnicas e recursos, os alunos escolheram as histórias,

discutiram e decidiram quais recursos e técnicas utilizariam para contar suas

histórias e passaram a estudá-las. Estudar a história, segundo Coelho, “é ainda a

melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la” [...] “Cada recurso tem

suas vantagens específicas e requer uma técnica especial”. A autora ainda enfatiza

que “a simples narrativa, é sem dúvida, a mais fascinante de todas as formas”, pois

“não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador, de sua

postura” (COELHO, 1994, p.31).

Neste contexto, observou-se que os dias que antecederam a contação de

histórias foram de ansiedade e expectativa. Na medida em que os alunos foram

decorando os textos, escolhendo recursos internos e externos (roupas, acessórios

cênicos, objetos...), os futuros contadores se sentiram encorajados e confiantes.

Compreenderam que o contador precisa ter técnica e que ela é também necessária,

pois leva o contador a escolher o melhor modo de contar a partir de uma intenção e

do uso de recursos.

As técnicas e os recursos selecionados e utilizados pelos alunos contadores

encantaram a plateia. Alguns pesquisaram outros recursos disponíveis em páginas

da web e em diferentes biografias. Muitos se prepararam cuidadosamente,

estudando suas histórias, produzindo cenários, utilizando vestimenta adequada e em

consonância com o enredo; ainda outros utilizaram somente da voz para contarem

suas histórias, porém pouquíssimos deixaram a desejar e não sensibilizaram

totalmente seus ouvintes. Através da contação de cada aluno, a turma pode avaliar

a atuação dos contadores, os recursos de interpretação usados, o ritmo, a

entonação e pronúncia das palavras, os gestos, as expressões faciais, corporais,

entre outros.

No término das apresentações foi possível ouvir e tecer comentários sobre o

interesse e participação dos alunos durante a contação da história Tristão e Isolda -

a primeira história contada - e nas atividades desenvolvidas nas oficinas. O

comprometimento nos trabalhos orais e escritos, individuais e em grupo também foi

motivo de discussão. Após todos esses apontamentos ficou a certeza de que a

implementação da Proposta com os alunos do 3º ano do Curso de Formação de

Docentes foi importante e contribuiu para que eles se encantassem pela contação

de histórias e compreendessem que é importante se apaixonar pela leitura a fim de

poder transmitir essa paixão e formar leitores.

Portanto, a contação de histórias possui importância crucial no processo de

formação de leitores. Para isso, faz-se necessário criar condições para que os

alunos percebam o quanto ler é interessante. E essa leitura começa pelo ato de

ouvir histórias contadas pelos professores. Cabe ao professor, então, criar o

contexto e o momento propício para a contação, como também é dele o papel de

oferecer às crianças o prazer de ouvir uma história contada com prazer

(GIRARDELLO, 2004, p.130).

A partir da Produção Didático-Pedagógica realizada percebeu-se dos alunos

do 3º ano do Curso de Formação de Docentes, uma significativa melhora na

oralidade, transpuseram algumas dificuldades na leitura, em sala de aula, fazendo

pausas, pontuações e entonação com mais precisão e demonstram uma acentuada

melhora em relação à escrita. Muitos deles já atuam como professores estagiários

nas escolas municipais e puderam demonstrar na prática o que vivenciaram durante

esse período.

4. Participações, interações e troca de experiência com o Grupo de Trabalho

em Rede – GTR

O homem é um ser social que se constrói e se constitui através das

interações e, por meio delas, ele discute, opina, reflete e troca experiências com

seus pares. E o objetivo do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) é socializar, com os

professores de Língua Portuguesa e Pedagogos, o Projeto de Intervenção e a

Unidade Didática, a fim de trocar informações e fundamentos teóricos relacionados à

Contação de histórias e ao Ensino e Aprendizagem de Leitura.

Buscou-se junto deles verificar de que forma a contação de histórias poderá

contribuir para a formação dos jovens leitores e no que “ouvir histórias” auxiliará as

crianças no desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e oralidade. Refletiu-

se sobre a importância do professor ser exemplo de leitor competente para atrair

seus alunos para o universo da leitura e de como contar histórias pode fortalecer o

trabalho do educador e possibilitar às crianças um desenvolvimento mais completo,

visto que a grande maioria delas tem contato com os livros somente na escola.

Segundo Abramovich (1994) o ato de escutar histórias é o início para a

aprendizagem de se tornar um leitor. Assim, contar histórias para as crianças

significa capacitá-las para que possam desenvolver todas as suas potencialidades,

possibilitando avanços no processo de ensino e aprendizagem. Os professores

participantes do GTR comungam dessa ideia, conforme se lê nos depoimentos a

seguir:

[...] a contação de histórias favorece o desenvolvimento da criança em diversos aspectos como abrir espaço para a imaginação e criatividade, pois, através das histórias a criança constrói suas próprias imagens. (PARTICIPANTE A, 2014).

Contar histórias contribui para a formação de leitores, principalmente se desde as séries iniciais os professores valorizem esse recurso metodológico. Pois [...] ouvindo histórias num ambiente agradável, a criança desenvolve a imaginação e vai formando a própria identidade social e cultural. (PARTICIPANTE B, 2014).

Sabe-se, que a escola é o local mais apropriado para se aventurar no campo da leitura e da escrita, principalmente se o professor tiver prazer em ensinar, mas para isso é necessário que o próprio professor já tenha instalado em si mesmo o gosto pelo ato de ler. (PARTICIPANTE C, 2014) Podemos dizer que a contação de histórias é uma excelente ferramenta de formação de leitores, pois leva o aluno a conhecer histórias e desperta sua curiosidade para a busca de outras. Uma história bem contada, dramatizada, interpretada, prende a atenção e leva o ouvinte a perceber e desenvolver habilidades de leitura, oralidade e consequentemente a escrita. (PARTICIPANTE D, 2014).

Através dos depoimentos dos professores, confirmou-se a importância da

contação de histórias na formação do jovem leitor, por ser essencial para o bom

desempenho da linguagem oral e escrita e, sua prática, deverá ser constante nas

aulas de Língua Materna. Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que

desperta o interesse das pessoas de todas as idades. “Ouvir histórias é viver um

momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos melhores... É encantamento,

maravilhamento, sedução...” (ABRAMOVICH, 1994, p. 24).

Além de contar para encantar, faz-se necessário contar histórias a fim de

formar crianças que gostem de ler, escrever e através da escuta e da leitura possam

desenvolver todas as suas potencialidades dentro da língua materna.

Após leitura e análise da Produção Didático-Pedagógica os professores

participantes do GTR refletiram e posicionaram-se sobre a relevância do projeto, das

atividades e sugestões apresentadas, como também sobre a viabilidade da

implementação em suas escolas. Sobre isso, alguns professores registraram que:

É importante ressaltar que as atividades propostas contemplam a apreciação e o conhecimento de princípios de contação de histórias, os quais, são os objetivos da proposta de trabalho com o Curso de Formação de Docentes. Também, destacamos que são atividades que perfeitamente podem ser aplicadas em sala de aula de todas as escolas. (PARTICIPANTE E, 2014).

A decisão de trabalhar contação com os alunos do Curso de Formação de Docentes é fundamental, uma vez que sabemos da importância de fazer com que esses futuros professores saibam valorizar a oralidade e, em particular, aprendam a contar histórias. (PARTICIPANTE F, 2014). É evidente, como afirma o presente projeto, que os futuros professores, alunos do Curso de Formação de Docentes, precisam conhecer e compreender a importância da contação de histórias a fim de poder utilizá-la como um recurso metodológico, uma vez que o fracasso escolar referente ao desenvolvimento pelo gosto da leitura e formação de leitores recai sobre a forma como o professor trabalha a relação do livro com o aluno. Por isso, quando surge um projeto de incentivo à leitura como “A Contação de histórias como gênero oral ensinável mediado pela leitura da obra Tristão e Isolda” é extremamente relevante que ele seja colocado em prática, uma vez que essa proposta de trabalho surge como uma alternativa para que os alunos tenham um contato positivo com a leitura e não algo imposto pelo professor. (PARTICIPANTE G, 2014).

Os professores, participantes no Grupo de Trabalho em Rede, através de

depoimentos e de suas práticas pedagógicas, contribuíram, nesse espaço interativo,

para o debate, reflexão, troca de experiências e na busca de novas metodologias

para trabalhar o “ensino e a aprendizagem da leitura” em nossas escolas.

Partilharam estudos, reflexões e posicionamentos, compartilharam experiências e

sugestões de atividades possíveis de serem aplicadas e incorporadas às nossas

práticas pedagógicas.

É importante ressaltar que as experiências e sugestões compartilhadas por

cada participante avivou, isto é, coloriu as demais experiências nos dando a certeza

de que contar histórias forma leitores e ouvintes, como também desperta, no

expectador, o prazer e a consciência da importância da leitura na sua vida pessoal,

acadêmica e profissional.

5. Considerações Finais

As histórias passam de geração para geração, nascem e renascem

diariamente e ganham vida, pois é também através delas que a palavra deixa de ser

insignificante e passa a ser vivificante, criativa e carregada de sentidos. As histórias,

segundo Benjamin (1994), transportam as pessoas que falam e escutam para dentro

do campo da correspondência, pois se a voz é presença, a narração oral é memória.

A prática de contar histórias vem se perdendo na sociedade de informações,

a qual é dominada pelos modernos meios de comunicação, desde celulares às

redes sociais, porém há que se ressaltar que projetos de incentivo à leitura e à

contação de histórias estão sendo desenvolvidos em nossas escolas com o objetivo

de formar leitores encantados pelos livros, pois quando a história é “bem escolhida e

bem orientada, pode servir como viga-mestra na grande obra educacional” (TAHAN,

1964, p.15).

A arte de contar histórias permanece no mundo contemporâneo e se oferece

como meio pedagógico importante na formação do leitor. Foi dialogando, contando,

lendo e ouvindo histórias que os alunos do 3º ano do Curso de Formação de

Docentes compreenderam a importância da oralidade, através do gênero oral

contação de histórias.

Constataram que a leitura não é apenas uma das ferramentas mais

importantes para o estudo e o trabalho, é também um dos grandes prazeres da vida.

É necessária em todas as áreas do conhecimento, pois ler é muito mais que decifrar

e é através dela que se ampliam horizontes de conhecimento e as deficiências da

oralidade e da escrita poderão ser sanadas. Ler é perceber, sentir, entender,

compreender, emocionar-se, sensibilizar-se com esse mundo que se desvela e se

descortina diante dos que são apaixonados pela leitura, ou seja, pelos livros.

É pela e na literatura que escritor e leitor realizam sonhos, alimentam

fantasias, desejos e utopias, fascinados pelos enredos, personagens, cenários e,

como diz a escritora Regina Machado “as histórias produzem efeito em diferentes

níveis de apreensão: podem intrigar, fazer pensar, trazer descobertas, perguntas,

questões, provocar o riso, o susto, o maravilhamento” (MACHADO, 2004, p. 32).

Realizar a Implementação Pedagógica tendo como objeto de ensino a

contação de histórias a partir da obra Tristão e Isolda, demonstrou que a leitura e a

escrita estão intimamente ligadas ao ato de ouvir e contar histórias. Além disso, ao

realizá-la, os alunos passaram a questionar, refletir, decifrar, interrogar e, segundo

seus depoimentos, passaram a entender a leitura de uma forma mais dinâmica e

que exige compromisso por parte do educador.

6. Referências ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 4ª Ed. São Paulo: Editora Scipione, 1994. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BENJAMIN, W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nicolai Leskov. In: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. BUSATTO, C. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. CASASANTA, T. Criança e literatura. Belo Horizonte: Vega, 1974. COELHO, B. Contar histórias – uma arte sem idade. 5ª Ed. São Paulo. Ática, 1994. GIRARDELLO, G. Baús e chaves da narração de histórias. Florianópolis: SESC/SC, 2004. GÓES, L. P. Introdução à literatura infantil e juvenil. São Paulo: Pioneira, 1984. MACHADO, R. Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.

MEIRELES, C. Problemas da literatura infantil. São Paulo: Summus, 1979. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares estaduais do Paraná. Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008. SAYÃO, R. Leitura nos olhos dos outros. Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/1180449-leitura-nos-olhos-dos outros.shtml> Acessado no dia 05/09/2013. TAHAN, M. A arte de ler e contar histórias. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1964.