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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO E

DO CONHECIMENTO COMO PROMOTORES DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

ELONI DOS SANTOS PERIN1

ZÉLIA MARIA LOPES MAROCHI2

Resumo: As políticas educacionais brasileiras incentivam a gestão democrática e participativa na escola. Nesse contexto, o trabalho em tela, teve o objetivo de investigar os usos da informação e comunicação, a partir de ambientes virtuais colaborativos, identificando nestes ambientes, ações que favorecessem a comunicação interna, promovendo a participação da comunidade na gestão escolar, propiciando conhecimento e discussões sobre as políticas públicas e os problemas que permeiam o cotidiano escolar. Para tal, foi analisado o uso de ambiente virtual colaborativo, onde foram socializadas informações e experiências em um curso bimodal, sendo presencial e à distância. Como resultado, observou-se uma melhora na comunicação interna da escola, sensibilizando para o conhecimento das políticas públicas em andamento e propiciando engajamento da comunidade interna da escola, na luta pela qualidade social da educação demandada pela sociedade. Palavras chave: Políticas educacionais, Gestão Escolar Democrática, Gestão do Conhecimento, Ambientes Virtuais.

Introdução

O que nos propomos a relatar neste artigo, é o trabalho desenvolvido no

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, referente à gestão da

informação e do conhecimento, como forma de gestão democrática, em uma

instituição pública de ensino. O trabalho é resultado de pesquisa-ação,

1 Professora PDE 2013. SEED – Secretaria de Estado da Educação PR. 2Orientadora Professora Dra. UEPG- Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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desenvolvida num Colégio pertencente a Rede Estadual de Ensino, sendo que o

projeto de implementação da proposta ocorreu em ambiente virtual, utilizado como

estratégia de formação e de comunicação.

O Colégio em questão é jurisdiscionado ao Núcleo Regional de Educação de

Ponta Grossa, que tem como entidade mantenedora a Secretaria de Estado da

Educação do Paraná, coordenadora do PDE.

Ao longo do processo, o marco referencial observado foi a gestão escolar

como forma de gerenciamento institucional, com desconcentração de poder, uma

vez que o gestor escolar possui autonomia relativa para executar ações, que devem

estar pautadas nos princípios constitucionais da Administração Pública. Geralmente

estas ações são definidas pelo órgão ao qual se vincula a unidade de ensino, que

toma decisões pautadas nas políticas públicas traçadas pelo Estado ou pela União,

normatizadas por Decretos, Resoluções, Instruções, Atos Administrativos, Editais,

dentre outros. A autonomia da gestão de uma unidade de ensino, portanto, é

relativa, limitada às políticas e as determinações delas decorrentes, embora na

execução dessas políticas, existam espaços que podem ser utilizados pelas equipes

de escolas e colégios, desde que atendam outras determinações legais, de modo

especial aquelas que definem a função social da escola.

As políticas públicas desenvolvidas no Brasil a partir da década de 1990,

norteiam as ações das instituições educacionais através das concepções de gestão

democrática, resultantes do gerencialismo. No entanto, a democracia não pode se

resumir às decisões do contexto da prática escolar, mas deve ser capaz de

influenciar o contexto da elaboração das políticas.

Por isso, faz-se necessário conhecer as políticas educacionais e as suas

interferências no cotidiano da escola, na cultura organizacional e no seu contexto

social. É também necessário que o trabalho do gestor escolar, embora tenha

atribuições, compromissos e responsabilidades diante do Estado, não esteja apenas

atrelado ao seu poder, mas seja alguém envolvido com a comunidade, na qual a

instituição de ensino está inserida.

Para o auxílio à gestão na discussão de propostas, elaboração de planos e

projetos, bem como à formação continuada de professores e como ferramenta de

apoio ao ensino e aprendizagem, uma opção são os ambientes virtuais, que são

cada vez mais difundidos e assumem ampla função social no espaço escolar. Assim,

poderá contribuir com a gestão escolar adotada nas escolas e colégios, a criação de

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mais um espaço de comunicação, democratizando o acesso às informações e

promovendo a participação social através de ambientes virtuais, como o moodle e

as redes de comunicação (internet).

Quanto mais esclarecida, educada e informada for a sociedade, mais cresce

a demanda por serviços públicos em quantidade e qualidade. Conforme conceito de

governabilidade discutido por Préve, et at:

Na sociedade da informação, o povo sabe muito bem o que quer e do que precisa, passando a exigir com naturalidade que instituições burocráticas e

obsoletas sejam substituídas por organizações ágeis e flexíveis (PRÉVE, et at., 2010, p.153).

Nesse contexto, as novas instituições devem centrar-se nas necessidades

dos usuários, buscando constante transformação. A gestão coerente está portanto,

mais próxima da mudança do que da estabilidade.

A gestão democrática, neste aspecto, deve considerar que a sociedade

precisa conhecer as políticas públicas que norteiam as ações escolares, bem como

participar efetivamente dessas ações e perceber o resultado do trabalho coletivo. Da

mesma forma, os ambientes virtuais devem agilizar as trocas de informações entre

indivíduos e organizações, assim como entre ambas, podendo com isso contribuir

para melhorar o clima da organização e transformar o sistema de comunicação

informal em um sistema formal (PRÉVE, et al., 2010).

Conforme Albuquerque (2011), é importante que a escola tenha uma

proposta de gestão do conhecimento, que busca compreender e desenvolver

técnicas e metodologias que possam ampliar as experiências, as habilidades e as

competências da sociedade e dos envolvidos com os sistemas de ensino.

Também é importante observar que o gestor público deve desenvolver

ações que estejam de acordo com os princípios da Administração Pública: a

legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência (art. 37, CF,

1988).

A partir de uma gestão democrática, baseada nos princípios constitucionais

da gestão pública, nas políticas educacionais vigentes, na gestão do conhecimento e

da informação e com auxílio dos ambientes virtuais, desenvolvemos um estudo

investigativo para identificar a realidade escolar e a cultura que a permeia,

pesquisando ainda mecanismos que promovessem a participação autêntica e

democrática da comunidade.

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Nossa referência foi o entendimento de que a gestão participativa ou

democrática, incentivada pelas atuais políticas educacionais, deve levar em

consideração que o gestor escolar não possui ou possui apenas autonomia relativa

para modificar estas políticas, pois não cabe a ele gerenciar determinadas situações,

como por exemplo, a escolha e a contratação de seus profissionais.

Neste aspecto, duas situações se apresentaram para a discussão, ilustrando

a impossibilidade de interferência imediata da unidade escolar: a falta de concurso

público que exige contratações de servidores temporários, que ficam na instituição

por período curto de tempo – alguns dias ou apenas alguns meses e o fato daqueles

professores que, mesmo admitidos por concurso público, precisam trabalhar em

mais de uma escola pra cumprir com sua carga horária de trabalho, impedindo-os de

uma participação mais efetiva na instituição, devido a compromissos obrigatórios na

outra.

A pouca participação social dos pais e responsáveis pelos estudantes é

outra questão que foi discutida, concluindo que numa sociedade que prioriza o

consumo, concebido como “apropriação coletiva” conforme CANCLINI, apud LYRA

(2001), em que só interessa aquilo que trouxer vantagem ao indivíduo, há de se

esperar que a participação da comunidade nas questões educacionais seja restrita a

uma condição minimista.

Nos encontros presenciais, houve destaque para o fato de que as mudanças

das políticas públicas também afetam as decisões, uma vez que as limitam de

acordo com as verbas liberadas e os programas de gestão de cada governo. Essas

situações podem acarretar falhas na comunicação e falta de comprometimento ou

de interação/participação da comunidade escolar com as questões específicas da

instituição, o que dificulta a tomada de decisões compatível com a gestão

democrática e participativa.

Levando em consideração o entendimento referente às indicações dos

profissionais da escola, algumas questões se apresentaram como desafio aos

envolvidos: como melhorar a comunicação interna a eficácia da gestão democrática,

através da cultura de socialização de informações e das políticas educacionais nas

instituições públicas de ensino? Os ambientes virtuais contribuem para melhorar a

interação e participação da comunidade escolar?

Assim, foram traçados os objetivos do trabalho como segue:

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Identificar em ambiente virtual colaborativo, ações que favoreçam a

comunicação interna, promovam a participação da comunidade na gestão escolar e

propiciem conhecimento e discussões sobre as políticas públicas externas e os

problemas que permeiam o cotidiano escolar.

Para fundamentar o trabalho desenvolvido, a título de revisão de bibliografia,

apresentamos uma breve discussão de alguns autores cujos estudos se destacam

nos temas que nos interessam neste registro: políticas educacionais, gestão escolar

democrática, incluindo ainda, gestão da informação e do conhecimento.

AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E OS USOS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PARA A GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

O Brasil desde a década de 1990, evidenciou o desenvolvimento e o

crescimento das instituições democráticas. No contexto das políticas públicas

brasileiras instituídas a partir deste período, a Administração Pública Gerencial ou

também chamada de gerencialismo, modelo de administração do serviço público

resultado de políticas de ideologia neoliberal, o Estado destitui-se de sua

responsabilidade financeira, passando-a para a sociedade civil. No entanto, o

Estado manteve seu controle nas questões administrativas e estruturais.

Segundo Souza (2010), na década de 1990, pacotes de “reformas” atreladas

ao liberalismo que favoreceriam empresários da educação e da indústria, elaboradas

por organismos internacionais, como a Organização de Cooperação e

Desenvolvimento Econômico – OCDE, foram propostas para serem implantadas

pelos ministérios de educação de diversos países que, em troca, obtinham

financiamento para a Educação.

O desenvolvimento humano tomado por políticas de contenção à pobreza; a formação contínua ou educação ao longo da vida garantindo espaços para a reprodução do capital, especialmente através da educação à distância (EaD); tecnologias da informação e comunicação (TICs) para justificar o desemprego; a democracia significando liberdade de acordos entre diferentes esferas do poder e frações burguesas, de modo que os termos cidadania e sociedade civil fossem, também, ressignificados a partir da economia corporativa; e, por fim, a avaliação dos sistemas de ensino como a nova estratégia de gestão (SOUZA, 2010, p. 5).

Também as discussões sobre as políticas públicas de articulação e

fortalecimento dos sistemas de ensino através do “Seminário Internacional Gestão

Democrática da Educação e Pedagogias Participativas”, promovido pelo Ministério

da Educação –MEC, em 2006, resultaram que essas políticas têm como princípio e

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como preceito legal a Gestão Democrática da Educação, que possibilitam a

participação da sociedade civil na formulação, avaliação, definição e fiscalização das

políticas educacionais, implementadas pelos diversos sistemas de ensino do País.

As discussões sobre as políticas educacionais abordam as políticas neoliberais que

predominam no Brasil e no mundo.

Afirma Sader, (2006, p. 21) que “é sabido que o neoliberalismo é forte, não

pela economia, é forte pela ideologia que ele propaga”, ao se referir às políticas

brasileiras que privilegiam uma pequena parcela da população em detrimento das

massas populares, resultando em aumento da desigualdade social e tirando o direito

das pessoas nas decisões políticas que afetarão suas vidas.

Assim, as políticas públicas elaboradas na concepção do Estado gerencialista

ou Estado mínimo, tem como característica a descentralização, pois estimulam a

participação dos cidadãos nas decisões da escola e propagam a ideia de gestão

democrática.

Porém, como afirma Santos (2010), a gestão educacional no Brasil é mais

uma transferência de responsabilidades para níveis mais micros do que uma

descentralização. A autora a caracteriza como ‘economicista instrumental’ ou

desconcentração. A descentralização teria aspecto ‘democrático-participativa’, se

houvesse coerência entre democracia e gestão, ao partilhar o poder nas decisões

sobre os processos educativos, na esfera política.

As políticas públicas brasileiras foram efetivadas pela Constituição Federal de

1988 e trouxeram propostas de participação da sociedade civil em diversas

instâncias da administração pública. Os conselhos de educação como

representação da sociedade foram constituídos baseando-se nos princípios da

gestão democrática do ensino público e da garantia de qualidade (art. 206, inc. VI e

VII), na afirmação da educação como direito público e subjetivo (art. 208, § 1º) e na

descentralização administrativa do ensino (art. 211).

Aos conselhos compete estabelecer a relação entre a sociedade e o Estado,

articulando propostas que contemplam os interesses sociais, pois:

Como órgãos da esfera pública, os conselhos possuem uma estrutura mista, que conta com a presença da sociedade civil, vinculada ao Estado. Essa composição cria a possibilidade de uma ação mais articulada e global das organizações e define as bases para uma ação política sobre as esferas de decisão do poder (TEIXEIRA, 2004, p.702).

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De certa forma, é através da participação social que a democracia se efetiva e

é na escola que o processo democrático se inicia. No discurso das políticas

neoliberais, quanto maior for a participação da comunidade, melhores os resultados

educacionais. Com a inspiração de Araújo e Moraes (2009), entendemos que a

gestão democrática está presente no discurso da escola e das políticas, mas não

acontece no cotidiano da escola, pois ela funciona mecanicamente, apenas

reproduzindo os interesses dominantes e não contempla as contradições dos

interesses de classes.

Apesar disso, a escola que está inserida no contexto da prática das políticas

públicas, encontra-se em constante busca da superação de desafios no seu sistema

de ensino e na sua transformação. O gestor escolar assume um papel de

fundamental importância para que essa transformação ocorra, atuando como

norteador das ideias a fim de alcançar mudanças, instigando a participação mais

efetiva por parte de pedagogos, professores, funcionários, alunos, pais e

comunidade.

O trabalho do gestor envolve a infusão de atitudes e culturas nas quais os/as trabalhadores/as se sentem, eles/as próprios/as, responsabilizados/as e, simultaneamente, comprometidos/as ou pessoalmente envolvidos/as na

organização (BALL, 2001, p. 5).

Para o alcance deste comprometimento, segundo Silva (2010), é preciso

considerar que os indivíduos possuem comportamentos diante de outros indivíduos

em um processo de interação recíproca, que se produz quando as pessoas realizam

juntas seus papeis sociais, sendo estes resultantes de uma construção cultural.

As organizações públicas, inclusive a escola, em sua maioria possuem

culturas diferentes, de acordo com o clima organizacional, que pode mudar devido à

influência dos vários atores (indivíduos, coletividade), que chegam ou saem da

organização. E como cita Marchiori (2006), a comunicação é a ferramenta de

desenvolvimento de cultura, pois a comunicação estratégica é a forma pela qual as

pessoas se relacionam, criando valores para a organização.

Conhecer e compreender a cultura no seu contexto, portanto, permite que as

mudanças estruturais de uma organização sejam efetivas a longo prazo. Conforme

Silva (2010, p. 53), “(...) as pessoas em sua sociedade ou em seu local de trabalho

estão sujeitas à inércia social”. O autor considera inércia social a característica das

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estruturas sociais, que ocorre quando um conjunto social estável tende a rejeitar

alterações que possam modificar sua situação.

Com relação ao desenvolvimento da tecnologia na sociedade, o mesmo

pensamento pode ser identificado:

A cultura implica padrões, repetição, consolidação. A cultura comunicacional e educacional, também. As tecnologias permitem mudanças profundas já, hoje, que praticamente permanecem inexploradas pela inércia da cultura tradicional, pelo medo, pelos valores consolidados. Por isso sempre haverá um distanciamento entre as possibilidades e a realidade (MORAN, 2007, p.6).

Para o autor, as tecnologias se desenvolvem e evoluem mais rapidamente

que a sociedade e sua cultura.

Assim, o “futuro aponta para uma educação que se servirá, cada vez mais, de

todos os espaços sociais, presenciais e virtuais, expandindo-se para além das salas

de aula” (MORAN, 2004, p. 8).

Neste sentido, as organizações públicas carentes de mudanças e inovações

em suas estruturas e sistemas, as alternativas que se apresentam perpassam pela

cultura, que se modifica a medida que crescem os usos da informação e

comunicação através dos ambientes virtuais.

Resultados

Foi realizada pesquisa exploratória de abordagem qualitativa. Por meio de

observação participante no desenvolvimento de um curso à comunidade escolar,

fez-se uma análise qualitativa, da comunicação efetivada durante a utilização de

uma ferramenta de comunicação virtual.

Um ambiente virtual, na plataforma Moodle, foi criado com a finalidade de

discutir com a equipe participante, temas específicos de Gestão Escolar. Para isso,

foi desenvolvido um curso com formato bimodal, ou seja, com etapas presenciais e

etapas à distância, com carga horária de 32 horas em cada uma das etapas. O

curso tinha como objetivo testar um sistema virtual de comunicação, onde os

participantes pudessem interagir e discutir temas de Gestão Escolar. Para as

discussões, o material utilizado foi o Caderno Pedagógico elaborado para a

implementação do projeto PDE – turma 2013, intitulado com o mesmo nome deste

artigo.

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Os temas discutidos no decorrer do curso foram sobre Políticas Educacionais,

Gestão Democrática e Gestão da Informação e do conhecimento em instituições

públicas de ensino.

Na etapa presencial, formaram-se duas turmas de 20 participantes cada

uma. Os encontros presenciais foram marcados de acordo com a disponibilidade

dos participantes e de acordo com o calendário escolar de 2014 previsto para o

estabelecimento de ensino. Cada encontro presencial teve duração de 4 horas.

Nesses momentos, a metodologia utilizada foi leitura dos textos do caderno

pedagógico, seguida de debates, no coletivo ou em pequenos grupos. Ao final dos

encontros em que os debates ocorreram em pequenos grupos, as discussões foram

socializadas com todo o grupo. Os encontros presenciais ocorreram às segundas à

noite e aos sábados, conforme o acordo entre os participantes, conforme o

calendário escolar da instituição e a carga horária prevista para o curso.

Na etapa à distância, as atividades foram desenvolvidas individualmente, de

acordo com o programa previsto no caderno pedagógico. Cada atividade foi

desenvolvida através do ambiente virtual moodle, criado para essa finalidade e

gerenciada por uma equipe técnica de execução, composta pela professora PDE,

por professores e uma acadêmica da área específica de Informática da UEPG –

Universidade Estadual de Ponta Grossa, que serviu de apoio para instalação e

utilização do ambiente virtual, ferramenta ainda pouco conhecida e utilizada pelos

profissionais da escola. Os cursistas inscritos foram cadastrados e obtiveram um

nome de usuário e senha individuais para acesso ao sistema.

A demanda de alfabetização tecnológica é grande e urgente, sendo que esse

curso caracterizou-se como uma oportunidade para formação continuada dos

profissionais da escola, favorecendo a comunicação e o uso da informação e do

conhecimento. Além disso, um dos focos privilegiados deste trabalho trouxe

contribuições para o exercício e a percepção da gestão democrática na escola.

Durante o curso, as discussões em torno da Produção didático pedagógica,

promoveram debates sobre temas como políticas educacionais, gestão democrática

e gestão da informação e do conhecimento.

Nos debates, os participantes puderam entender as relações entre os

programas ofertados pelo governo e as práticas educacionais desenvolvidas.

Percebeu-se que há necessidade de tempo para a pesquisa, para a divulgação de

trabalhos e participação na elaboração de políticas e nos debates sobre gestão. Foi

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questionada a autonomia da gestão da escola, onde o poder de decisões está

limitado às políticas. O grupo concluiu que o gestor, em conjunto com os

profissionais da escola e as instâncias colegiadas são responsáveis pelas

articulações com a comunidade e o desenvolvimento da instituição.

Inevitavelmente, se abordaram temas da gestão da escola, como eleições de

direção, APMF, PROEMI – Programa Ensino Médio Inovador, além de movimentos

sindicais, ações governamentais para a educação e a participação social por meio

do CONAE – Conferência Nacional de Educação, em suas etapas municipais,

estaduais e nacional, ressaltando a importância da participação social nas

discussões sobre as políticas educacionais.

O uso de ambientes virtuais no curso desenvolvido, promoveu maior

integração e comprometimento das pessoas com a escola. Porém,

lamentavelmente muitos dos participantes que iniciaram o curso, não conseguiram

permanecer nele. Os motivos apresentados para a desistência foram em maior

parte, por motivos pessoais decorrentes de compromissos inalteráveis como por

exemplo, incompatibilidade de horário devido à reposição de aulas pelos docentes

decorrente da greve estadual, deflagrada no Paraná.

Apesar da disposição de todos, percebemos a dificuldade do manuseio dos

meios tecnológicos, confirmando nosso entendimento de que isso requer formação

continuada das pessoas. Destacamos, portanto, a grande dificuldade de

alfabetização tecnológica das pessoas, devido à falta de prática de uso da

tecnologia e a importância de intensificar essa aprendizagem, pois em muitos

momentos do curso, foi necessário fazer o trabalho individual de orientar sobre o

acesso e uso do sistema e de programas, como editor de texto, salvar arquivo,

anexar arquivo e enviar as tarefas através do sistema moodle. No entanto, ao final

do curso, já se percebia certa habilidade para o uso da tecnologia, além de ter

reduzido o medo e a insegurança dos participantes, relatado por alguns, no início do

curso.

Outra questão apresentada pelos participantes foi a dificuldade de acesso ao

ambiente virtual. Concordamos com os participantes pois para o funcionamento do

sistema moodle, quando interrompida a energia no servidor, para que o sistema

voltasse a funcionar, foi preciso recolocar os programas em funcionamento, sendo

eles o Apache e o MySQL. O trabalho técnico da acadêmica do curso de Informática

foi importante nesse processo, para a solução dos problemas do sistema. O

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trabalho técnico de manutenção do sistema moodle foi realizado em alguns

momentos de forma presencial, em outros de forma remota, através do TeamViewer.

E apesar de, em todos os momentos, o restabelecimento do sistema ter acontecido

de forma rápida, houve o transtorno pois impedia o participante/cursista de atuar

naquele momento.

Esta se caracteriza como uma das dificuldades do gerenciamento de

atividades feitas à distância. Tais dificuldades no entanto, longe de desanimarem a

coordenadora dos trabalhos e os demais participantes, reafirmaram nosso

entendimento de que isso pode ser ultrapassado a partir de investimentos em

equipamentos que suportem um grande fluxo de dados, computadores com

capacidade de gerenciamento de informações na própria escola, integrados a uma

rede que forneça uma conexão de dados mais estável, além de um trabalho efetivo

desenvolvido por uma equipe de profissionais técnicos e pedagógicos.

Conclusão

A temática discutida neste trabalho contemplou um sistema de gestão que

tinha como objetivo favorecer a comunicação institucional interna e externa,

buscando a participação dos pais, alunos e professores na discussão das políticas

públicas educacionais e incentivando a gestão democrática nas instituições públicas

de ensino.

A observação, em consonância com a teoria, trouxe elementos que

apontaram para a relevância dos sistemas de comunicação como promotores de

participação social na elaboração e implementação de políticas públicas.

A partir do trabalho de implementação de um sistema virtual de comunicação,

desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, percebemos a

importância e a necessidade do uso da tecnologia a serviço da comunidade, como

auxiliar à gestão democrática e como ferramenta de comunicação e para formação

dos profissionais da escola.

Os ambientes virtuais podem e devem ser mais utilizados como espaços de

interação e socialização de informações e conhecimentos, como ferramenta que

busca o envolvimento de todos os segmentos da comunidade escolar.

Principalmente numa época em que as pessoas estão sem tempo e bastante

ocupadas, uma ferramenta que proporcione uma comunicação mais ágil e flexível,

foi o que se buscou com este trabalho. No entanto, é uma difícil tarefa da gestão

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envolver a comunidade e, por isso, os meios que possam favorecer a participação,

devem ser experimentados e utilizados com toda sua potencialidade.

Todas as nuances da implementação deste trabalho reafirmaram nossa

convicção de que a função da gestão escolar consiste na organização de um

ambiente favorável para efetivação de práticas democráticas. Para tal, no entanto,

percebemos que os ambientes virtuais necessitam de profissionais, ainda não

alocados nas escolas, para cuidar da parte técnica do sistema, sua manutenção e

atualização, favorecendo a participação de todos.

A utilização de um ambiente virtual construído com a colaboração efetiva dos

profissionais da educação, constituiu-se neste trabalho, como uma ferramenta que

não apenas auxiliou os profissionais da escola na formação tecnológica, bem como

favoreceu a comunicação e interações entre os envolvidos, constituindo-se assim,

como uma metodologia alternativa para amenizar os principais problemas derivados

das falhas de comunicação institucional. Com isso, possibilitou uma aproximação

das pessoas e maior participação das pessoas nas ações da gestão, tornando-a

mais democrática, consequentemente mais eficaz.

Pudemos comprovar que, apesar da era tecnológica em que vivemos, ainda

não temos uma forma efetiva de comunicação com a comunidade. No entanto, as

ferramentas virtuais utilizadas neste trabalho se revelaram eficazes no auxílio à

gestão, tornando possível compartilhar pelo menos com a comunidade interna,

aquelas informações necessárias e que nem sempre chegam a todos.

Para que houvesse a disseminação de informações, foi relevante o trabalho

desenvolvido por um profissional preparado para essa função, bem como para a

manutenção do sistema e a mediação/capacitação dos profissionais da escola. Com

a mediação tecnológica, percebeu-se um clima favorável à comunicação, pois as

pessoas com níveis diferentes de escolaridade se sentiram, não apenas objeto, mas

sujeitos integrantes da gestão, na busca de soluções para as ocorrências da escola.

Por isso, a principal questão no desenvolvimento deste trabalho foi estudada

ao longo de todo o processo, sob nossa coordenação, com os participantes,

perpassando os conceitos de gestão do conhecimento e da informação. Mas para

entender essa questão, houve necessidade de um olhar mais atento sobre o

contexto da escola diante das políticas educacionais, como também, refletir

coletivamente sobre o que é e como a gestão democrática, na unidade de ensino,

pode ser construída por todos.

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Neste espaço de tempo possível do PDE, foi possível perceber uma

mobilização dos profissionais do colégio para discutir as políticas públicas e a

corresponsabilidade na gestão da escola e com as condições de trabalho

necessárias à qualidade social da educação, tão esperada pela sociedade e

necessária no mundo tecnológico em que vivemos hoje.

Percebemos também no desenvolver do trabalho, que as dificuldades para a

efetivação da gestão efetivamente democrática, na escola, são muitas. A primeira

delas constatou-se na dificuldade da comunidade interna da escola compreender o

seu papel no processo de gestão democrática pretendido. Muitas vezes, a função da

gestão não é identificada pela equipe escolar, muito menos pela comunidade mais

ampla. E o desconhecimento dessa questão gera a pouca participação nas ações de

gestão, sendo que as pessoas preferem deixar unicamente sob a responsabilidade

do gestor da escola, o poder de tomar decisões.

Assim, podemos registrar que com o uso das tecnologias utilizadas, melhorou

a compreensão dos participantes sobre o papel do gestor no processo democrático,

favorecendo também a comunicação institucional. Por isso, este trabalho propiciado

pelo Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE trouxe contribuições

importantes para aprimorar a gestão da informação e do conhecimento no colégio,

podendo servir talvez, de referência para outras ações nas diversas instituições,

redes ou sistemas de ensino.

A avaliação positiva da implementação do projeto de intervenção do

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, reafirma a nossa convicção

inicial sobre a visão da gestão escolar e das políticas educacionais, que consolidam

a gestão democrática no sentido de planejar, executar e avaliar as políticas públicas.

Enquanto educadora, o desenvolvimento deste projeto possibilitou-me

condições de perceber o trabalho de gestão escolar como um processo democrático,

estreitando relações com o coletivo escolar, em busca de solução das dificuldades.

Do ponto de vista profissional, podemos afirmar que o Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, trouxe-nos contribuições valiosas, pela

possibilidade de afastamento do objeto de estudo, promovendo uma reflexão crítica

sobre a realidade vivenciada, aprimorando os conhecimentos científicos,

experimentando e comprovando hipóteses a respeito do uso da tecnologia da

informação, em benefício da comunicação, no ambiente escolar.

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A partir das análises realizadas, verificou-se que há viabilidade para

implementação de sistemas virtuais nas instituições de ensino, ainda carentes da

transformação exigida pela evolução tecnológica, favorecendo assim as mudanças

estruturais, a troca de informações e a formação continuada, que são essenciais no

cumprimento da função social da escola pública, oferecendo uma educação

democrática e libertadora, de qualidade para todos.

Destacamos que o Programa de Desenvolvimento Educacional PDE se

revelou eficaz, contribuindo para inúmeras melhorias, atingindo os objetivos

propostos no trabalho desenvolvido. Concluímos que a tecnologia por si só não é

suficiente, naquilo que compete à escola, para as transformações sociais, pois são

também necessárias as mudanças administrativas e financeiras, investimentos em

equipamentos, bem como as mudanças culturais da sociedade e da escola como um

todo, melhorando também a formação dos envolvidos no processo educativo.

Para isso, entendemos que não basta apenas o esforço coletivo, a disposição

da escola, mas é preciso também investir em equipamentos e na formação contínua

dos educadores (professores ou agentes educacionais) e também da comunidade

externa, somando forças e dividindo dificuldades.

Nossa expectativa é de que este trabalho continue na unidade de ensino onde

foi implementado, podendo sempre ser aperfeiçoado e talvez possa servir de

referência para outros estudos, de outras escolas e colégios, ultrapassando os

limites atingidos até aqui.

Referências

ALMEIDA, M. E. de B. Gestão de tecnologias na escola: possibilidades de uma prática democrática. Blog Mídias na Educação. Disponível em: <http://midiasnaeducacao-joanirse.blogspot.com.br/2009/02/tecnologias-para-gestao-democratica.html>. Acesso em: 18 jun 2013.

ARAÚJO, R. H. P. de, MORAES, R. de A. Informática educativa e gestão democrática – uma história de incongruências. VIII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas: História, Sociedade e Educação no Brasil. UNICAMP, 2009. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/trabalhos.html. Acesso em: 20 mai 2013.

ALBUQUERQUE, J. C. M. de Sistemas de Informação e Comunicação no Setor Público. Florianópolis: UFSC; Brasília: CAPES:UAB. 2011.

BALL, S. J. Diretrizes Políticas Globais e Relações Políticas Locais em Educação. Currículo sem Fronteiras, v.1, n.2, pp.99-116, Jul/Dez 2001.

15

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 29 jul. 2012.

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