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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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PLANILHA ELETRÔNICA: UMA FERRAMENTA PARA O ENSINO DA

MATEMÁTICA FINANCEIRA

Cesar Frederico Confortin1

Pedro Pablo Durand Lazo2

Resumo:

Este trabalho tem por objetivo apresentar a professores de matemática da rede pública Estadual do Paraná, o uso da planilha eletrônica como ferramenta para ensinar matemática financeira a alunos da educação básica. Para tanto, buscamos através da construção e manipulação de planilhas e gráficos, resolver questões cotidianas envolvendo empréstimos, financiamentos, sistemas de amortizações como PRICE e SAC, através da elaboração de material de apoio, a chamada: “produção didática pedagógica” e capacitação por meio de curso oferecido de professores da área. Visando sempre que nosso aluno se aproprie dos conceitos matemáticos e efetivamente tenha condições de bem administrar suas finanças.

Palavras-chave: Matemática Financeira. Planilha Eletrônica. Finanças

Abstract:

This work aims to present to the mathematics teachers of the public schools of Paraná State, the use of the eletronic spreadsheet as a tool to teach financial mathematics to students of Basic Education. Therefore, we seek, by building and manipulating spreadsheets and graphics, resolve everyday questions involving loans, financings, amortization systems as PRICE and SAC, through the development of support material, the called “pedagogical didactic production” and training through course offered to the teachers field. Always seeking our student to get appropriated of mathematical concepts and effectively has conditions to manage well his finances.

Keywords: Financial Mathematics. Eletronic Spreadsheet. Finances.

1 Professor de Matemática da Educação Básica do Estado do Paraná. Especialista em Educação

de Jovens e Adultos pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira – FETREMIS (2012). Especialista em Matemática pela FACIPAL - Faculdades Integradas Católicas de Palmas (2003) e Graduado em Ciências com habilitação em Matemática pela FACIPAL - Faculdades Integradas Católicas de Palmas (2002). E-mail: [email protected]. 2 Professor Orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE/PR. Doutor em

Matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996). Mestre em Matemática pela Pontificia Universidad Católica del Perú (1986). Possui graduação em Investigación Operativa - Universidad Nacional Mayor de San Marcos (1980) e graduação em Ciências Matemáticas - Universidad Nacional de Educación (1972). E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Neste artigo discutiremos a utilização da planilha eletrônica como

ferramenta para o ensino da matemática financeira, seguindo a linha de estudo

Tendências Metodológicas em Educação Matemática. O objetivo do estudo é

verificar até que ponto o uso da planilha eletrônica facilita a aprendizagem dos

conceitos de matemática financeira.

O presente estudo se justifica tendo em vista a importância deste assunto

no cotidiano das pessoas e a forma como ele é trabalhado em nossas escolas, de

acordo com a abordagem proposta nos livros didáticos.

Para melhor estruturação, este artigo foi organizado em quatro seções,

sendo a primeira, a presente introdução.

Na segunda seção, fazemos uma breve revisão de literatura. Na terceira,

exemplificamos algumas atividades trabalhadas na implementação do projeto, e

por fim, na seção derradeira apresentamos as considerações finais de nosso

trabalho.

2. DESENVOLVIMENTO

Nos dias de hoje os professores enfrentam desafios cada vez maiores,

dentre os quais está a importante tarefa de criar estratégias para tornar as aulas

de matemática mais interessantes e atraentes aos olhos dos alunos e lograr que

eles sejam capazes de construir seu próprio conhecimento. Estes são desafios

complexos que têm preocupado muito os nossos colegas educadores.

Para tanto, buscamos:

Enfatizar, através do desenvolvimento da prática pedagógica proposta, a

importância do conteúdo trabalhado na formação de cidadãos responsáveis

e críticos;

Subsidiar, metodologicamente, professores de Matemática para o uso da

planilha eletrônica Br Office Calc no ensino da matemática financeira, para

que possam utilizá-la em suas aulas;

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Utilizar o interesse natural dos educandos pelo uso da tecnologia para

transmitir os conceitos básicos da matemática financeira;

Mostrar que o uso da tecnologia pode facilitar a apropriação de

conceitos e a realização de cálculos, melhorar a compreensão e abrir

caminhos para o mercado de trabalho.

Sabe-se que a matemática financeira é um tema presente no cotidiano e

que, muitas vezes, é relegada ao segundo plano no ambiente escolar. Entretanto,

é um conteúdo importante para o desenvolvimento crítico dos alunos,

especialmente em se tratando de problemas relacionados ao dia-a-dia e ao

mundo de trabalho em que serão inseridos. Uma escola preocupada com a

formação de seus educandos para o exercício da cidadania, de forma crítica e

responsável deve preconizar o estudo de conteúdos que garantam tais

qualidades.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008):

É importante que o aluno do Ensino Médio compreenda a matemática financeira aplicada aos diversos ramos da atividade humana e sua influência nas decisões de ordem pessoal e social. Tal importância relaciona-se o trato com dívidas, com crediários à interpretação de descontos, à compreensão dos reajustes salariais, à escolha de aplicações financeiras, entre outras (DCE, 2008, p. 61).

Neste contexto pode-se dizer que a planilha eletrônica é uma ferramenta

capaz de auxiliar com eficiência o professor na tarefa de ensinar matemática

financeira aos alunos, de modo que no futuro possam usá-la para bem administrar

seus recursos financeiros.

Historicamente, a matemática financeira nos remete ao conceito de

comércio. Desde que os primeiros grupos humanos começaram a se comunicar,

iniciou também a troca de mercadorias. Aquilo que sobrava para um grupo era

trocado por outra mercadoria excedente de outro grupo diferente, conforme nos

descreve Ifra (1997):

o primeiro tipo de troca comercial foi o escambo, fórmula segundo a qual se trocam diretamente (e, portanto sem a intervenção de

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uma “moeda” no sentido moderno da palavra) gêneros e mercadorias correspondentes a matérias primas ou a objetos de grande necessidade (IFRAH, 1997, p.145).

A partir do escambo, o sistema foi evoluindo lentamente e algumas

mercadorias se destacaram como “moeda de troca”: sal, tecidos, gado, peles de

animais, grãos de cacau e metais preciosos, entre outros.

O ouro, por ser um metal que não se dissolve ou oxida, por manter seu

valor independente da origem e pela possibilidade de fracionamento, facilitando

assim as transações comerciais da época, assumiu o papel de principal “moeda

de troca”, iniciando, desta maneira, um novo conceito de comércio.

Já na idade média, com o aumento do comércio, nasce uma nova

modalidade de moeda, que segundo o BANCO CENTRAL DO BRASIL:

[...] surgiu o costume de se guardar os valores com um ourives, pessoa que negociava objetos de ouro e prata. Este, como garantia, entregava um recibo. Com o tempo, esses recibos passaram a ser utilizados para efetuar pagamentos, circulando de mão em mão e dando origem à moeda de papel (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014).

Este caminho nos trouxe ao sistema monetário vigente, no qual a

tecnologia nos apresenta diversas facilidades, que devem ser utilizadas com

responsabilidade: transações via internet, por meio de computadores, celulares e

smartphones, cartão de crédito e talão de cheques, entre outros.

A sociedade atual nos condiciona a consumir deliberadamente. No

consumo pelo consumo, não se analisa o que é necessário comprar, apenas

compramos. Esta tendência gera desequilíbrios financeiros, ecológicos e sociais.

Cerbasi (2006) nos alerta:

Nossa sociedade sedenta por dinheiro está erroneamente ensinando os jovens que o consumo e o “poder pagar” são prioritários em relação aos valores familiares e sociais [...] valores que são a base para o bom convívio em sociedade (CERBASI, 2006, p.56).

2.1 PROPOSTA DE TRABALHO

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Para implementar este projeto, propomos um curso para professores de

matemática da Educação Básica, realizado no laboratório de informática do

Colégio Estadual Professora Julia Wanderley da cidade de Cascavel-PR.

Apresentamos a planilha eletrônica, suas particularidades e características,

buscando assim uma uniformidade quanto ao manuseio desta ferramenta entre os

professores participantes.

Discutimos a forma como habitualmente trabalhamos a matemática

financeira em nossas aulas e também a abordagem dos livros didáticos sobre o

assunto. Retomamos os conceitos de matemática financeira, procurando enfatizar

sua relevância na formação de cidadãos conscientes. Buscamos entendimento

com os colegas professores, de questões relacionadas aos apelos consumistas

que nossa sociedade impõe, no sentido de distinguir aquilo que é necessidade

daquilo que é supérfluo. Sabemos que estas questões são relativas e dependem

de cada indivíduo, mas entendemos que esta discussão, levada para sala de

aula, servirá para reflexão de nossos alunos, tanto no que tange a sanidade

financeira quanto a questões sociais e ambientais influenciadas pelo consumo.

2.2 A PLANILHA ELETRÔNICA

A planilha eletrônica apresenta diversas possibilidades de uso. Em se

tratando de matemática financeira, por exemplo, é possível utilizar as funções da

própria planilha para chegar ao resultado dos cálculos. Embora possamos utilizar

este recurso, buscou-se enfatizar o desenvolvimento detalhado período a período,

facilitando assim, a visualização e a compreensão dos cálculos.

Esta forma de resolução sem o uso da planilha demanda um tempo

considerável, no entanto, ao utilizar a planilha, seus recursos possibilitam calcular

com relativa agilidade.

Neste trabalho utilizamos como ferramenta a planilha eletrônica do Libre

Office Calc, por ser um software livre e estar disponível nos laboratórios de

informática das Escolas Estaduais do Paraná e por apresentar boa

compatibilidade com outras planilhas eletrônicas, inclusive o Excel.

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A partir daí, desenvolvemos as atividades propostas na produção didática

pedagógica, elaborada durante o período da pesquisa. Estas que serão descritas

na seção que segue.

3. ATIVIDADES

3.1 JUROS SIMPLES

Em junho de 2014, Pedrinho emprestou para o seu irmão a quantia de R$

750,00 a juros simples de 1,5% ao mês. Se a dívida for paga em Janeiro de 2015,

quanto Pedrinho receberá? Utilize a planilha eletrônica para demonstrar a

evolução mensal da dívida.

Para criar a tabela, abra a planilha eletrônica e insira os rótulos como

mostra a figura1.

Figura 1: Juros Simples Fonte: Autor

Aqui é importante chamar a atenção para uma função que é muito

utilizada denominada “alça de preenchimento”, encontrada no canto inferior direito

da célula ativa. Com ela é possível preencher rapidamente as células vizinhas

com o mesmo valor ou com sequências criadas a partir dela, neste último caso

preenchendo duas células, ou ao clicar e arrastar, pressionar a tecla “ctrl”. Veja o

exemplo na Figura 2.

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Figura 2 - Alça de Preenchimento Fonte: Autor

Em seguida, nas respectivas células abaixo do Rótulo “Mês” e “Período”,

insira o mês em que o empréstimo foi efetuado e “0” para o período

correspondente, selecione e arraste preenchendo as linhas abaixo conforme a

Figura 3.

Figura 3 – Juros Simples Fonte: Autor

Definimos o capital como o valor do empréstimo, R$ 650,00, o juro de 1,5%

ao mês é calculado sempre sobre o capital inicial.

Sendo assim, na célula referente ao capital no mês de junho de 2014

completamos com 650,00. Por não ter passado um mês, preenchemos com zero

a célula C2, indicando que não há incidência de juro no período. Vejamos a

Figura 4.

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Figura 4 – Juros Simples Fonte: Autor

Na célula C3 digitamos o sinal de “=” (igual) para escrevermos a fórmula

que calcula o juro do período, ou seja, =$D$2*1,5% que é o capital inicial

multiplicado pelo taxa de juro, como mostra a figura 5.

Observação: O “cifrão” que inserimos antes de “D” e “2” na fórmula tem a

função de fixar a referência da célula D2 quando utilizarmos a alça de

preenchimento, a fim estendermos a fórmula as linhas abaixo.

Figura 5 - Cálculo do juro no período Fonte: Autor

Para obtermos o montante no mês de julho de 2014, somamos o capital

com o juro. Portanto na célula D3, digitamos “=D2+C3”, conforme a figura 6.

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Figura 6 - Somando capital ao juro do período Fonte: Autor

Nos períodos seguintes o processo é o mesmo, então, para não ter que

efetivamente escrever as fórmulas, utilizamos a alça de preenchimento e

completamos a planilha, como mostra a figura 7.

Figura 7 – Juros Simples Fonte: Autor

Podemos observar com clareza a evolução do capital ao longo dos

períodos. Concluímos que Pedrinho recebeu em Janeiro de 2015 o total de R$

718,25. Esta planilha nos permite verificar de imediato, por exemplo, quanto

Pedrinho receberia se a dívida fosse quitada em Setembro de 2014.

3.2 JUROS COMPOSTOS

Economizando, consegui juntar R$ 1800,00. Conversando com o gerente

do banco, ele me sugeriu aplicar este valor em uma aplicação com taxa prefixada

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em 0,9% ao mês. Seguindo seu conselho, quanto terei se aplicar minhas

economias pelo período de 20 meses?

Assim, seguindo os mesmos passos do exemplo anterior, vamos construir

a planilha. Primeiramente inserimos os rótulos: período, juro e capital. Ao inserir

os dados na primeira linha da planilha é importante lembrar que no período “0”

não há incidência de juros, portanto, na célula B2 preenchemos com “0”, na célula

C2 inserimos o valor referente ao capital no momento da aplicação.

Figura 8 – Juro Composto Fonte: Autor

A partir do período “1” teremos incidência de juros, portanto na célula B3

inserimos a fórmula “=C2*0,9%”, como mostra a figura 9.

Figura 9 – Juro Composto Fonte: Autor

Na célula C3 teremos o capital do período anterior somado ao juro do

período atual, “=C2+B3”, conforme a figura 10.

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Figura 10 – Juro Composto Fonte: Autor

Para os períodos seguintes, repetiremos as fórmulas utilizadas no período

“1”, então, podemos usar a “alça de preenchimento” para completar a tabela,

conforme ilustrado na figura 11.

Figura 11 – Juro Composto Fonte: Autor

Para melhorar a visualização da planilha, podemos diminuir o número de

casas decimas nas colunas B e C, formatando ambas as colunas para o formato

“moeda”.

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Figura 12 – Juro Composto Fonte: Autor

Na figura 12 (doze) podemos constatar que ao final dos 20 (vinte) meses

em que o capital de R$ 1.800,00 (Um mil e oitocentos reais) esteve aplicado

produziu um total de R$ 353,26 de juros que somado ao capital totaliza um

montante de R$ 2.153,26.

A solução deste tipo de problema através da planilha eletrônica possibilita

uma percepção mais explícita do que acontece período a período, facilitando a

aprendizagem.

3.3 FUNÇÕES DA PLANILHA ELETRÔNICA

A planilha eletrônica traz funções prontas que podem ser utilizadas para

resolver cálculos de diversas áreas. Estas funções funcionam como fórmulas

matemáticas, nas quais, a partir de um determinado problema, identificamos os

dados, definimos a função adequada e indicamos onde cada dado irá compor o

argumento da função.

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Quando utilizamos estas funções, obtemos o resultado do cálculo de forma

direta, no caso da matemática financeira, dificultando a visualização e a

compreensão do que ocorre a cada período, ou seja, a cada capitalização.

3.4 ATIVIDADE

Economizando, consegui juntar R$ 1.800,00. Conversando com o gerente

do banco, ele me sugeriu aplicar este valor em uma aplicação com taxa prefixada

em 0,9% ao mês. Seguindo seu conselho quanto terei se eu aplicar minhas

economias pelo período de 20 meses?

Identificamos os dados do problema como indicado na figura 13.

Figura 13 – Valor futuro Fonte: Autor

Em seguida, clicamos na célula E3, onde utilizaremos a função VF,

através do “assistente de função” como mostra a figura 14.

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Figura 14 – Valor futuro Fonte: Autor

Clicando no assistente de função, se abrirá a janela. No campo

“Categoria”, selecionamos “Financeiras” e no campo “Função” selecionamos “VF”,

conforme indicado na figura 15.

Figura 15 – Assistente de funções Fonte: Autor

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Clicando em “Próximo”, daremos início à indicação dos dados para compor

os argumentos da função. No campo “Taxa” clicamos na célula que contém esta

informação, que neste exemplo é a C3. No campo “NPER”, indicamos a célula D3

que tem a informação sobre o número de períodos. O próximo campo é “Pgto”,

que neste exemplo não é comtemplado, portanto podemos deixá-lo em branco.

No campo “VP”, indicamos a célula “B3”, que contém a informação sobre o capital

inicial.

Observação 1: Note que ao clicarmos nos campos: Taxa; NPER; Pgto...,

temos a descrição do campo na parte superior da janela “assistente de

funções”.

Observação 2: Na parte inferior da janela, visualizamos a construção da

função e seus argumentos, ou seja, a sintaxe da função. Que se torna uma

opção para utilizar a função sem utilizar o “assistente de funções”,

digitando estes valores diretamente na barra de fórmulas.

Observação 3: Se rolarmos a página da janela, encontramos mais um

campo: “tipo”. Que neste exemplo é opcional, mas teremos casos em o

parcelamento é antecipado (com entrada), que teremos que utilizá-lo.

Acompanhe pela figura 16.

Figura 16 – Assistente de funções Fonte: Autor

Barra de

fórmulas

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Clicando em “OK”, obteremos o valor gerado pela aplicação do capital no

período indicado. Como mostra a figura 17.

Figura 17 – Valor futuro Fonte: Autor

Observe que chegamos a um valor negativo, o que matematicamente é

uma incoerência. A “planilha eletrônica” internamente trabalha com conceitos de

fluxo de caixa, no qual toda saída de dinheiro terá sinal negativo e toda entrada

sinal positivo. Portanto, alterando o sinal do Capital inicial na célula B3, (capital a

ser aplicado, portanto considerado saída, sinal negativo) atendemos aos

princípios da convenção de fluxo de caixa e resolvemos o problema. Vejamos a

figura 18.

Figura 18 – Valor futuro Fonte: Autor

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3.5 AMORTIZAÇÃO

Quem deseja estudar, adquirir imóveis, carro, constituir seu próprio

negócio, entre outros, mas não dispõe de recursos financeiros, tem a opção de

buscar empréstimo junto a instituições financeiras. O mercado financeiro atual

oferece diversas operações de crédito, nas quais o capital deverá ser devolvido

com juros, durante o período pré-estabelecido. Dentre as formas de quitar este

tipo de empréstimo temos duas que são as utilizadas atualmente: Sistema de

Amortização Constante ou SAC e o Sistema Francês de Amortização ou PRICE.

No sistema SAC, a amortização da dívida acontece da seguinte forma:

divide-se o capital pelo número de parcelas pré-estabelecidas e a cada prestação

o juro é calculado com base no saldo devedor, fazendo com que as prestações e

os juros sejam decrescentes.

No sistema PRICE, as parcelas têm valores iguais, o que muda é a

porcentagem de juros e de amortização em cada parcela. Os juros decrescem e a

amortização é crescente.

Para calcular o valor das parcelas utilizamos a seguinte fórmula:

𝑃𝐺𝑇𝑂 = 𝑉𝑃. [(1 + 𝑇𝐴𝑋𝐴)𝑁𝑃𝐸𝑅 . 𝑇𝐴𝑋𝐴

(1 + 𝑇𝐴𝑋𝐴)𝑁𝑃𝐸𝑅 . 𝑇𝐴𝑋𝐴]

Onde,

PGTO= Parcela;

VP= Valor financiado ou Saldo devedor;

TAXA = Taxa;

NPER= Prazo do empréstimo.

3.6 ATIVIDADE

Um banco empresta R$ 10000,00, para a reforma na casa de Jonas. A taxa

de juros cobrada é de 6% am e o capital será amortizado em 25 parcelas.

Construa a planilha desta operação de crédito pelo SAC.

Iniciamos definindo os rótulos adequados à construção desta planilha:

Período, Saldo Devedor, Amortização, Juros e Parcelas. Conforme figura 19.

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Figura 19 - SAC Fonte: Autor

Utilizando a alça de preenchimento, inserimos os números de 0 a 25 na

coluna “Período”, digitando 0 e 1 nas células A2 e A3 respectivamente,

selecionamos estas células, posicionamos o cursor no canto inferior direito e

arrastamos até a células A27. Conforme a figura 20.

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Figura 20 - SAC Fonte: Autor

Na célula B3 digitamos o valor do empréstimo, ou seja, 10000. Como esta

linha representa o momento do empréstimo, ou o período zero, não há incidência

de juros, amortização e também não haverá pagamento de parcela. Portanto

deixaremos em branco as células C2, D2 e E2.

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Na célula B4 digitamos a fórmula: “=B2-C3”, que subtrai a amortização do

saldo devedor. Conforme a figura 21.

Figura 21 - SAC Fonte: Autor

A célula C3 calcula o valor da amortização, portanto o valor do

empréstimo dividido pelo número de parcelas. Para nos próximos passos

podermos utilizar a alça de preenchimento e completar a planilha, deveremos fixar

a referencia da célula “B2”. Podemos fazer isto de duas maneiras: digitando na

fórmula o “$” antes do “B” e antes do “2” ou ao digitar a fórmula, após clicar em

“B2”, pressionando a tecla “shift”, pressionar a tecla “F4”, ficando assim,

“=$B$2/25”, como nos mostra a figura 22.

Figura 22 – SAC

Fonte: Autor

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Para calcular o juro de cada período, multiplicamos o saldo do período

anterior pela taxa; então na célula D3 digitamos “=B2*6%”. Assim como mostra a

figura 23.

Figura 23 - SAC Fonte: Autor

A célula E3 calcula o valor de cada parcela, que é composto pela soma

da amortização e dos juros de cada período, portanto “=C3+D3”, conforme figura

24.

Figura 24 - SAC

Fonte: Autor

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A partir de agora os processos se repetem a cada período, possibilitando

a utilização da alça de preenchimento para completar toda a planilha. Para isso,

basta selecionar as células de B3 até E3 e levar o cursor ate o quadrinho em

destaque no canto inferior direito da seleção e pressionar o mouse arrastando ate

a linha 27, ou simplesmente dando um duplo clique. Como indica a figura 24.

Figura 25 - SAC Fonte: Autor

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Para melhorar a visualização, podemos formatar a planilha de acordo com

a especificidade de cada célula, linha ou coluna. Neste caso, selecionamos toda a

planilha da célula A1 até a E27 e clicamos no menu “alinhar ao centro na

horizontal”. Conforme a figura 26.

Figura 26 - SAC

Fonte: Autor

Podemos ainda fazer outra formatação entre as células B2 até a E27 e

clicar no menu de formato numérico “Moeda”. Conforme figura 27.

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Figura 27 - SAC Fonte: Autor

Na planilha é possível observar as características do SAC, parcelas e juros

decrescentes e amortização constante. A composição da parcela se dá pela soma

dos juros do período e a amortização. Dependendo da taxa de juros e do número

de parcelas o valor dos juros pode ser maior do que a própria amortização. O

professor pode explorando a planilha com seus alunos leva-los a reflexões

importantes, como: Quanto de juro Jonas pagou? Por que as prestações e os

juros são decrescentes? Se aumentar o número de parcelas, o valor da parcela

mudará?

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maneira como tradicionalmente temos trabalhado a matemática

financeira em nossas escolas e a abordagem dos livros didáticos tem se mostrado

insuficientes para a formação que devemos oferecer aos nossos alunos.

Pesquisas mostram um número elevado de pessoas endividadas, o comércio

pratica altas taxas de juros em vendas parceladas e financiamentos com juros

absurdos. Se existe este tipo de oferta é porque existem pessoas que aceitam tais

condições, o que mostra que a educação financeira precisa ser trabalhada de

forma mais incisiva, preparando melhor as pessoas.

Percebeu-se na aplicação deste trabalho que o uso da planilha eletrônica,

como ferramenta para o ensino da matemática financeira, é uma boa opção

metodológica, tendo em vista o interesse que desperta nos alunos e a agilidade

na realização de cálculos e organização de dados. Certamente para utilizá-la faz-

se necessário um planejamento minucioso, prevendo as possíveis dificuldades e

consequentemente as ações para superá-las, tanto no aspecto estrutural

(funcionamento dos equipamentos) quanto no aspecto didático.

REFERÊNCIAS: BRASIL, Banco do. Origem e Evolução do Dinheiro. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?ORIGEMOEDA>, acessado em abril de 2014. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática/Secretaria de Educação Fundamental. -Brasília: MEC /SEF, 1998.148 p. CERBASI, Gustavo. Filhos inteligentes enriquecem sozinhos. São Paulo: Gente, 2006. IFRAH, Georges. História universal dos algarismos: a inteligência dos homens contada pelos números e pelo cálculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: O novo ritmo da informação. São Paulo, 2007. (Coleção Papirus Educação)

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MARASINI, Sandra Mara. A matemática financeira na escola e no trabalho: uma abordagem histórico-cultural. 2001. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2001. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE) – Matemática Curitiba: SEED, 2008.