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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
Minorias Étnicas e Segunda Guerra Mundial
Sergio Engelmann
Professor do Colégio Florestal Estadual Presidente Costa e Silva
Núcleo Regional de Irati, PR, Brasil
Orientadora: Professora Nadia Maria Guariza
Resumo:
Neste artigo, apoiando-nos principalmente em reflexões de Eric
Hobsbawm, Mark Mazower, Hannah Arendt e outros autores,
serão discutidas ações realizadas no ambiente da Segunda
Grande Guerra em relação à discriminação dos judeus. Minoria
étnica, que sofreu diversos tipos de violência. Como e em que
medida é possível reduzir a discriminação em grupos sociais
que sofrem a violência, seja ela, física ou simbólica.
Trataremos do assunto sobre essas minorias, especialmente os
judeus da Segunda Grande Guerra. Faz-se necessário
problematizar e apresentar questionamentos, procurando dar
ênfase nos Direitos Humanos. O projeto foi desenvolvido a
partir de um projeto de implementação voltado para os alunos
do terceiro ano do Ensino Médio, onde o conteúdo
propriamente dito faz parte dos conteúdos nesse ano de
estudo, e aprofundar esse contexto histórico parece ser de
fundamental importância para a formação desses educandos.
Palavras-chave: Minorias – Discriminação – Violência - Direitos
Humanos
Introdução
Foi desenvolvido um estudo acerca da história dos judeus que foram
discriminados na Segunda Grande Guerra Mundial, e mais especificamente
voltado à história das minorias étnicas que sofreram diversos tipos de
discriminação, onde os Direitos Humanos foram deixados de lado.
O estudo se faz necessário tendo em vista a discriminação étnica
ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial, onde as minorias étnicas eram
desprezadas e colocadas à margem, não dando a devida importância que de
direito teriam, e buscando mostrar como e porque ocorreram essas situações,
no período da Segunda Guerra Mundial.
Para desenvolver este olhar no educando é preciso que se volte o olhar
para a trajetória histórica em que se desenvolveu este processo de
discriminação e formação da sociedade.
Desenvolver no educando mecanismos de aprendizagem para uma
melhor compreensão e visão de mundo, relacionados às minorias étnicas
durante a Segunda Guerra Mundial com a utilização de trechos de filmes que
contemplem mais uma forma para a compreensão do conteúdo apresentado.
Ao observar as questões pertinentes quanto à discriminação de alguns
povos quanto à sua origem e consideradas como minorias e muitas vezes
excluídas do contexto em que se encontram, faz-se necessário que estes
grupos sociais tenham seus espaços garantidos. No entanto, em cada situação
histórica os problemas quanto ao direito dessas minorias tem se agravado. São
colocadas à margem do contexto em que estão inseridas, e encontram
dificuldades para serem reconhecidas como cidadãos pertencentes dentro do
contexto da sociedade.
Dois grandes impérios se diluíram com o fim da Primeira Guerra Mundial
no ano de 1918, o Império Otomano e o Império Habsburgo multinacional e
surge o princípio da autodeterminação que é aquele que garante ao povo, seja
ele em qualquer país, o direito de se autogovernar e escolher o seu próprio
destino sem interferências externas e o objetivo é tornar as relações no
princípio de igualdade, o respeito e a busca pela paz universal, e a com o
avanço dessas minorias foram-se criando novas leis, sempre visando a
proteção dessas minorias (HOBSBAWM, MAZOWER).
A Sociedade das Nações ficou encarregada de cuidar da monitoração
quanto à proteção necessária das minorias existentes, e isso ocorre após o fim
da Primeira Guerra Mundial e países como Estônia e Finlândia a partir de 1921
1923 apresentam uma postura de apoio à proteção dessas minorias. A partir
daí passara a utilizar a língua da minoria em qualquer lugar (MAZOWER).
Após a Segunda Guerra Mundial as minorias étnicas passaram a ter
seus direitos garantidos individualmente e o principio da não discriminação e
igualdade com instrumentos que protegiam os Direitos Humanos.
Hitler, ao utilizar-se do poderio que constituiu ainda mesmo antes do
conflito da Segunda Guerra e o aumento deste poderio traz no bojo da
supremacia alemã, diversos meios para eliminar àqueles grupos de várias
nacionalidades que eram constituídos de culturas diferentes e advindos de
outras regiões do globo, e a partir do racismo nazista, a perseguição aos
judeus e possuir uma nação (alemã) formada exclusivamente por alemães,
pendendo para a crença de que era necessário manter pura a “raça alemã”.
Esses “estrangeiros” não eram considerados cidadãos da pátria. E não
interessavam em nada no que diz respeito ao modo como Hitler pretendia
implantar o seu modelo de dominação na Europa, Leste Europeu, União
Soviética e outros países.
É neste cenário que (...) “Os campos de extermínio faziam parte de um
‘universo de concentração’ em que a SS controlava milhares de prisioneiros,
numa rede que se espalhava pela Europa.” (MAZOWER, 2001, p. 178)
A operação Barbarossa realizado por Hitler que tinha como plano à invasão da União Soviética é considerado o mais radical e ambicioso por parte dos alemães. Ao conquistarem a Ucrânia e a Bielo-Rússia, logo foram apresentadas propostas para a criação de pequenas cidades alemãs em território Ucraniano. Esse plano tinha outras pretensões que num prazo de 25 anos houvesse uma colonização maciça que envolvendo a Lituânia e Criméia. (MAZOWER, p. 178 )
Durante a Segunda Guerra Mundial as minorias étnicas sofrem um
processo de exclusão, ou seja, passam a ser discriminados pelos nazistas. É o
nazismo que tem como fundamento discriminar todo aquele que não faz parte
da sua estrutura social, os judeus aqui considerados como minoria étnica em
solo alemão.
A partir dessa nova situação os grupos étnicos utilizaram como veículo a
formação de novos Estados ou até mesmo reclamar a independência nacional,
e assim surgiu a proteção das minorias e o reconhecimento dos seus direitos
no âmbito da política e serviu de proteção dos direitos das minorias e tornou-se
uma das condições para a obtenção da qualidade de membro do Conselho da
Europa. E a exigência da União Europeia para o restabelecimento das
condições diplomáticas entre a União e os novos Estados era a proteção das
minorias.
Neste sentido, para Hannah Arendt diz que
Não apenas a perda de direitos nacionais levou à perda dos direitos humanos, mas a restauração desses direitos humanos, como demonstra o exemplo do Estado de Israel, só pôde ser realizada até agora pela restauração ou pelo estabelecimento de direitos nacionais (ARENDT, 1989, p. 333).
A Primeira Guerra Mundial trouxe consequências jamais pensadas para
as populações envolvidas no conflito, e tiveram percas materiais e humanas
quase incalculáveis durante o período que levou muitos a ficarem sem pátria.
Nos anos de 1920 com uma aparente paz o conflito deixou grupos étnicos sem
lugar fixo. O cenário era todos contra todos, eslovacos contra tchecos, croatas
contra sérvios, ucranianos contra poloneses, eslovacos que perseguiam a
minoria húngara no seu próprio solo.
Segundo Arendt
Os criadores dos Tratados das Minorias, portanto, logo, tiveram de formular as suas reais intenções e dar uma interpretação mais precisa dos deveres das minorias em relação aos novos estados, verificou-se, então, que os Tratados haviam sido concebidos meramente como métodos indolor e supostamente humano de assimilação, e isso enfureceu as minorias. (ARENDT, 1989, p. 306)
Com essa configuração política, aqueles que estavam à frente das
grandes nações e que tinham grupos étnicos no Estado-nação, com o passar
do tempo deviam assimilar ou exterminar essas minorias.
No contexto mencionado, é possível verificar o quanto ainda há
necessidade de uma busca para a efetivação dos direitos das minorias étnicas.
Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.(Artigo XXI da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, (1948, p. 9- 10)
O problema perpassa por diversos contextos da natureza humana, e a
situação de determinados grupos que sofrem, por serem excluídos do meio em
que vivem. Passam a ser vistos como grupos que não deveriam estar ali ou
deveriam sair do local onde vivem, já que estariam ocupando o lugar daqueles
que se julgam os detentores do lugar.
“Se você me perguntar qual é minha pátria”, escreveu o dramaturgo Odon von Horvath, autor de Contos de bosques de Viena, “direi que nasci em Fiume, cresci em Belgrado, Budapeste, Pressburg, Viena e Munique e tenho passaporte húngaro; mas não tenho pátria. Sou uma típica mistura da antiga Áustria-Hungria: ao mesmo tempo magiar, croata, alemão e tcheco, minha terra é a Hungria; minha língua materna é o alemão.”(MAZOWER, 2001, p. 54)
Quando houve a conferência de paz de Paris em 1919 surgiu uma nova
política sobre os direitos das minorias, onde a luta entre essas diferentes
concepções de um Estado polonês independente se fundiram numa nova
política internacional. A França aparece no cenário dando apoio aos poloneses
e se mostra contrária aos alemães e aos bolcheviques – contrários às minorias.
Estes queriam e pretendiam que a Polônia tivesse um Estado soberano e que
este Estado não seria para os judeus. E por outro lado, via-se os ingleses com
uma postura menos arrogante. (MAZOWER, 2001 p. 63)
Os franceses se posicionam apresentando uma posição na qual
defendiam interesses humanitários, mas O SEU INTERESSE DE FATO ERA
geopolítico, onde o Estado polonês pudesse ser reconhecido como nação não
importando as minorias, isolando a Alemanha e a Rússia.
A partir de 1919 a Polônia era formada por dois terços da sua formação
étnica, pois havia na sua população quatro milhões de ucranianos, três milhões
de judeus e um milhão de alemães. Nesse interim temia-se uma Polônia
Imperialista, já que ela havia se apoderado de parte de territórios da Galícia e
da Ucrânia Ocidental (MAZOWER, 2001 p. 64)
Os problemas não se resolveram com as minorias traçando apenas as
divisões geográficas e a distribuição etnográfica. Os britânicos incentivavam
para que as minorias migrassem para o próprio Estado-nação, porém como
resolver questões relacionadas com as minorias que desejavam permanecer
no mesmo lugar? Os judeus e os ciganos também se encontravam em situação
de difícil solução já que era considerado um povo sem pátria. Ora, assim a
Polônia prefigurava naquele momento com o problema das minorias.
(MAZOWER, 2001 p. 64)
Nesse contexto em que a Polônia se encontra, a intolerância dos
poloneses poderia provocar uma guerra civil étnica e o risco de uma
instabilidade em toda a Europa oriental. Os protestos da população polonesa
para o reconhecimento de um Estado polonês permitiu por outro lado como
condição para o seu reconhecimento, o governo assinou alguns direitos para
as minorias através de um tratado que permitia a cidadania, igualdade de
tratamento perante a lei, liberdade religiosa, proteção adequada, acesso, enfim
a certas formas de organização coletiva, como escolas. (MAZOWER, 2001 p.
64)
Em agosto de 1941 Hitler proclamou: “A Europa não é uma entidade
geográfica. É uma entidade racial”. A Liga das Nações havia tentado conservar
as minorias onde elas estavam e assegurar a estabilidade por meio do direito
internacional; Hitler, ao contrário, não acreditava em direito e pretendia
assegurar a estabilidade deslocando populações. (MAZOWER, 2001, p. 163).
A Liga das Nações ou Sociedade das Nações era o nome de uma
organização internacional criada em 1919 e autodissolvida em 1946, e que
tinha como objetivo reunir todas as nações da Terra e, através da mediação e
arbitragem entre as mesmas em uma organização, manter a paz e a ordem
no mundo inteiro, evitando assim conflitos desastrosos como o da guerra que
recentemente devastara a Europa.
A Liga das Nações, órgão instituído para manter a paz entre as nações,
não conseguiu cumprir o seu papel, e esfacelou mediante a corrida militarista
preparada pelas nações inconformadas pela hegemonia política e militar
exercida pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial.
Sem possuir uma única razão, essa guerra foi consequência do
exacerbado desenvolvimento industrial das nações européias. De certa forma,
levando em consideração suas especificidades, a Segunda Guerra parecia
uma continuidade dos problemas da Primeira Guerra (HOBSBAWM, 2003).
Aqui mencionando os judeus que também enfrentam um problema de
expulsão em períodos remotos da história e que desde o ano de 1096 na
perseguição da primeira cruzada, a expulsão da Inglaterra em 1290 e 1492 a
expulsão da Espanha e em 1497 a expulsão de Portugal e por fim o Holocausto
na Alemanha. Para Hannah ARENDT “A igualdade de condições, embora
constitua o requisito básico da justiça, é uma das mais incertas especulações
da humanidade moderna”. (ARENDT, 1989, p. 76)
Percebe-se que as questões de igualdade aparecem como elemento de
discussão, mas que, no entanto a autora também vê como certa dificuldade em
solucionar e argumentar diante da problemática que a sociedade moderna
enfrenta esse problema. Segundo Arendt
Quanto mais tendem as condições para a igualdade, mais difícil se torna explicar as diferenças que realmente existem entre as pessoas; assim, fugindo da aceitação racional dessa tendência, os indivíduos que se julgam de fato iguais entre si formam grupos que se tornam mais fechados com relação a outros e, com isto, diferentes. (ARENDT, 1989, p. 76)
Os grupos que se identificam entre si, julgando-se iguais, acabam por
tornarem-se diferentes em relação às outras pessoas que não fazem parte do
mesmo grupo.
O nazismo e o fascismo como duas ideologias não respeitam a
integridade dos indivíduos, possuem no seu bojo o poder a qualquer custo.
Tanto Hitler e Mussolini fizeram na Europa um espaço de dominação, tanto
para dominar geograficamente, como para dominar o indivíduo de minoria
étnica e se estabelecer o medo como forma de dominação. O NAZISMO,
SOBRETUDO, ERA UMA IDEOLOGIA QUE ACREDITAVA QUE A HISTÓRIA
DA HUMANIDADE ERA MOVIDA PELA LUTA ENTRE AS RAÇAS,
COMPREENDENDO QUE AS ETNIAS MINORITÁRIAS DEVIAM SE
SUBMETER A MAIORITÁRIA.
Na definição de Robert Paxton
O fascismo tem que ser definido como uma forma de comportamento político marcada por uma preocupação obsessiva com a decadência e a humilhação da comunidade, vista como vítima, e por cultos compensatórios da unidade, da energia e da pureza, nas quais um partido de base popular formado por militantes nacionalistas engajados, operando em cooperação desconfortável, mas eficaz com as elites tradicionais, repudia as liberdades democráticas e passa a perseguir objetivos de limpeza étnica e expansão externa por meio de uma violência redentora e sem estar submetido a restrições éticas ou legais de qualquer natureza (PAXTON, 2007: 358 - 359).
O autor mostra que o Fascismo na Itália de Mussolini atrelado às elites
tradicionais têm se mostrado com várias características e entre elas a violência
contra as minorias, onde as liberdades democráticas são colocadas de lado. A
limpeza étnica passa a acontecer sem nenhuma preocupação de ordem ética.
Nos últimos 5.500 anos, em apenas 292 não houve conflitos e guerras;
no século XX mais de 300 – maiorias causado por questões étnicas (religião e
nacionalismo);
O Nacionalismo busca pelo reconhecimento de uma identidade nacional
através da negação de grupos que tenham pele, idioma ou religião diferente.
No mundo, existem mais de 21 milhões de refugiados.
Os Conflitos Étnicos envolvem questões religiosas, territoriais, políticas e
culturais. O embate entre grupos ou comunidades com características
diferenciadas muitas das vezes resulta em genocídio.
A lista de Conflitos Étnicos é enorme. Para o continente
europeu podemos citar: o Conflito nos Balcãs, que colocou em choque as
várias nacionalidades que compunham a Iugoslávia, levando ao seu
esfacelamento; o processo de independência da Bósnia, que colocou croatas,
sérvios e muçulmanos em conflito, resultando em uma limpeza étnica dos não
sérvios na região;
A Guerra do Kosovo de 1999, onde a população que ansiava por direitos
para a população de origem albanesa foi massacrada; a Questão Basca (1939
– 1975), no qual um povo com identidade e cultura própria no norte da
Espanha luta por sua independência; a Questão Irlandesa (1921), que deseja
conquistar a independência da Irlanda em relação ao Reino Unido; e
os Conflitos no Cáucaso (1990), que geram disputam entre as cerca de 50
etnias que vivem na região.
O termo Conflito Étnico identifica qualquer conflito que tenha em sua
essência o choque de pessoas com origens religiosas, raciais, culturais ou
geográficas. O enfrentamento violento está sempre presente e por vezes as
ações são tão extremadas que violam as determinações do Código de Guerra.
É o caso do genocídio, que leva a morte milhares ou milhões de
pessoas, sem distinção entre civis e militares, homens, mulheres ou crianças.
Em alguns casos, especialmente no Oriente Médio, o termo Conflito Religioso é
usado no lugar de Conflito Étnico porque os motivos religiosos são bem mais
destacados em relação aos demais.
Os povos que buscam seus direitos estão dentro de países onde os
conflitos ocorrem e se caracterizam assim por apresentarem diferenças étnicas
que podem ser religiosas, culturais, nacionalistas.
O Curdistão é o maior grupo étnico sem território, os curdos, de maioria
muçulmana sunita, não são turcos nem árabes nem persas. Espalham-se
principalmente por terras da Turquia, do Irã e do Iraque, onde sofreram duras
perseguições, embora ocupem também pequenas áreas da Síria e da Armênia.
Os Curdos são atualmente conhecidos por formarem a maior nação sem
pátria do mundo. Trata-se de uma etnia composta por mais de 40 milhões de
pessoas que habitam regiões do Iraque, Irã, Síria e Turquia. Os curdos sofrem
duras repressões dos países onde habitam. No Iraque, a ditatura de Saddam
Hussein executou milhares de curdos. Na Turquia, eles também sofrem muitas
repressões do Governo, que teme a perda de seu território.
Diante de tantos conflitos, pode-se perceber também que no próprio
processo dos conflitos que ocorreram desde a Primeira guerra, e depois a
Segunda Guerra Mundial, os conflitos de ordem étnica continuam em várias
regiões do planeta, e que já levaram muitas pessoas a se deslocarem de uma
região à outra tendo em vista as dificuldades de sobrevivência nestes locais de
conflito. Ocorre então um problema de ordem politica, econômica, social que
perdura até atualidade.
A dificuldade em relação às minorias no universo escolar necessita ser
enfrentada, e a possibilidade no enfrentamento desta, requer um trabalho de
PROBLEMATIZAÇÃO histórica para que o educando consiga perceber o
processo histórico em que os fatos ou eventos se deram. Os subsídios que
permitem ampliar o horizonte dessa compreensão histórica foi a exibição de
trechos de filmes que trataram das questões voltadas às minorias étnicas
especialmente o dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Trazer à tona esse assunto foi necessário produzir condições para que o
educando perceba que a história do passado pode construir o presente, e esse
presente que APRESENTA PERMANÊNCIAS DO que aconteceu no passado.
O assunto levou-os a refletir sobre a discriminação que permeia o âmbito
escolar e abriu um leque de discussões com os alunos produzindo um novo
olhar em relação às minorias. O trabalho se desenvolve com alunos do terceiro
ano do Ensino Médio.
A utilização de trechos de filmes é elemento fundante para a
compreensão daquilo que se pretende quanto ao conhecimento das minorias
étnicas desse período durante a Segunda Guerra Mundial.
A realização das atividades foi feita a partir de um projeto elaborado para
dar ênfase especialmente aos Direitos Humanos. Direitos esses que são o que
mantém a sociedade organizada para o melhor relacionamento e convivência
entre todos. Através dos direitos humanos se estabelece uma relação
convivência entre todos, onde cada um faz parte do todo e colabora para a
efetivação dos direitos.
A participação dos alunos durante a efetivação do trabalho foi de
fundamental importância quando se percebe que existe a necessidade em se
pensar de modo prático o quanto é preciso refletir sobre questões que
envolvem o ser humano em relação aos direitos que devem ser respeitados.
Quando da apresentação dos materiais pesquisados e apresentados
sobre o holocausto observou-se que houve um novo olhar por parte dos
educandos. O aprofundamento teórico para embasar aquilo que foi
apresentado foi de suma importância para efetivar uma compreensão daquilo
que aconteceu no período da segunda guerra, e que pode ser evitado nas
futuras gerações.
Os Direitos Humanos entraram pela porta da consciência, ou seja,
perceber que: ter consciência sobre os direitos do outro é algo que se faz
necessário evitando qualquer forma de violência e que ainda impera em nosso
meio.
Desta forma, Rusen nos chama a atenção para que a consciência
histórica não deva ser entendida apenas como um “simples conhecimento do
passado”, mas antes de tudo como um “meio de entender o presente e
antecipar o futuro”. Ela é, de forma sucinta, um “conjunto coerente de
operações mentais que definem a peculiaridade do pensamento histórico e a
função que ele exerce na cultura humana”. (RUSEN in BARCA et al. 2010, p.
36-37).
O colégio onde apliquei o projeto é um espaço no qual os alunos fazem
o ensino médio com grade curricular integral. Os alunos estão envolvidos com
diversas disciplinas do currículo além de disciplinas de ordem técnica e saem
com uma formação de “Técnico em Florestas”. São alunos que, muitos deles
estão em internato no próprio colégio.
Temos, portanto, alunos de diversas regiões do Brasil, e que sua vez,
conhecem diversas realidades, e certamente o projeto veio a incrementar a
convivência entre eles, e melhorando as relações entre eles, já que os direitos
não são exclusivos de algum grupo social, mas de todos, o envolvimento e os
efeitos permitem novos olhares por parte dos envolvidos.
O trabalho utilizando pequenos trechos de filmes, muitos deles originais
da época, mostrando como se deu a discriminação dos judeus durante a
guerra, e nos campos de concentração. Os “banhos” coletivos realizados em
grandes construções de maneira que a eliminação era feita através do uso de
gases tóxicos.
Os corpos estavam praticamente todos nus e eram transportados em
cima de caminhões e tratores e lançados em valas. Eram corpos sobre corpos,
ou seja, jogados nas valas como se joga entulho no lixo.
Esse era o modo de tratar os judeus, onde a grande maioria ou passava
por esse método de extermínio, ou morriam por desnutrição.
Ao Levantar a problemática da eliminação sistemática de judeus foram
elaborados trabalhos para perceber o quanto se faz necessário aprofundar nos
conteúdos referentes às minorias étnicas.
A participação dos educandos permitiu criar espaços de discussões e
debates que notavelmente percebeu-se que o trabalho desenvolvido produziu
novos elementos que podem ser observados a partir do trabalho realizado
anteriormente. Ao observar esses resultados é possível perceber o grau de
desenvolvimento obtido em relação às atividades propostas aos educandos.
O uso de trechos de filmes, tendo como defesa da prática pedagógica
para motivar e despertar o aluno para o desenvolvimento e o gosto pela
História foi o que motivou na aplicação das atividades e que trouxe diversos
elementos que colaboraram na compreensão do tema proposto.
O cinema em si permite trazer à tona diversos elementos que podem
colaborar para a compreensão do que aconteceu como o fato histórico, e por
outro lado levanta a possibilidade para refletir e trazer novas perspectivas de
compreensão, pois o elemento “imagem” produz uma viagem no tempo
permitindo perceber uma proximidade maior com para reconstruir a realidade.
Nesse sentido, a opção metodológica favorável à incorporação do
cinema ao ensino de História requer de nós, professores e
pesquisadores, o rompimento com a concepção de história escolar
como uma verdade; requer uma outra relação com as fontes de
estudo e pesquisa e não apenas a ampliação do corpo documental no
processo de transmissão e produção de conhecimentos. Demanda,
também, um aprofundamento de nossos conhecimentos acerca da
constituição da linguagem, das dimensões estéticas, sociais,
culturais, cognitivas, e psicológicas, seus limites e possibilidades.
Exige do professor uma postura interdisciplinar, o gosto pela
investigação, a busca permanente do acesso a esse universo da
produção cultural. Logo, o cinema deve ser parte da formação do
profissional de História. (GUIMARÃES, Selva 2013 p. 265 – 266)
Conforme Bittencourt, ao se utilizar de filmes para a sala de aula faz-se
necessário começar com uma reflexão, e observando quais tipos de filmes
assistem. Qual o método utilizado na escolha de filmes, e quais as
preocupações que levam em conta para a escolha, se é para produzir efeitos
emocionais dos sentidos ou sem nenhum propósito. Buscar essas informações
pode servir como elemento de questionamento por parte dos alunos para saber
o que estão assistindo, se os mesmos duvidem ou reflitam os as informações
cinematográficas.
Considerações finais
Ao finalizar o trabalho com os alunos foi possível perceber o quanto o
ser humano precisa ser valorizado e estar buscando essa valorização.
As imagens e vídeos utilizados trouxeram para os educandos um novo
olhar sobre a construção da sociedade. O impacto causado a eles configura um
novo modo de perceber a importância que se deve dar ao ser humano no
contexto social, político, econômico. Fez com que a vida deve ser vista com um
olhar de respeito, de cidadão, de pessoa. Os direitos humanos foram
considerados um elemento fundamental na construção de uma sociedade que
precisa valorizar o indivíduo, e desejam que tais acontecimentos não
encontrem espaço mais uma vez na história.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e
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GUIMARÃES, Selva. Didática e prática de ensino de História: Experiências
reflexões e aprendizados/Selva Guimarães. -13 ed. rev. E ampl. - Campinas,
SP: Papirus, 2012 .-(Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
HOBSBAWM, Eric. Era da Guerra Total. In: ____. Era dos Extremos: o breve
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fim-434540.shtml
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