os coronéis, as armas e a justiça - valmiro ferreira silva

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    Temporalidades Revista Discente do Programa do Programa de Ps-graduao em Histria da UFMG, vol. 3 n. 1. Janeiro/Julho de 2011 ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades

    Os coronis, as armas e a justia

    Valmiro Ferreira SilvaGraduado em Histria pela Universidade Estadual de Montes Claros UnimontesMestrando em Histria Social pela Universidade Federal de Uberlndia, bolsista CNPq

    Email: [email protected]

    PALAVRAS-CHAVE : Sedio; Eleies; PoderKEYWORDS : Sediction; Elections; Power

    Comentrios:

    Esta transcrio fruto de uma pesquisa realizada durante o ano de 2007 na cidade de

    So Francisco, Norte de Minas Gerais. Na ocasio, atuava como pesquisador bolsista FAPEMIGdigitalizando processos cveis e criminais do sculo XIX, sobretudo os que envolviam escravos demografia nos contornos da regio Norte de Minas.Sedio Januria do Amparo 1872 . 1 Oseguinte ttulo na capa do processo instigou-me para a leitura da fonte em portugus arcaico,revelador e surpreendente a cada folha. Das indagaes que vieram tona, a primeira foi tentardesvendar como um processo criminal do final do sculo XIX, ocorrido na cidade de Januria, sencontra em So Francisco, cidade vizinha? E qual a relao que circundavam essas cidades? Pque um documento daquela cidade estava em So Francisco desde o final do sculo XIX? Paraentender esta questo preciso esclarecer alguns pontos. O documento encontra-se nos arquivosda ONG Preservar, uma instituio que mantm e preserva documentos, processos cveis ecriminais datados a partir do incio do sculo XIX, e outros manuscritos. O objetivo da ONG auxiliar estudantes em pesquisa e trabalhos escolares. O acervo documental desta ONG riqussimo e variado. So documentos desde 1831 at meados de 2000. Nesse universo possve

    1 Esta fonte encontra-se no Ncleo de pesquisa e preservao do patrimnio cultural de So Francisco ONG PRESERVAR.

    Localiza-se na Avenida Olegrio Maciel, N 1021, Centro, So Francisco-MG. A fonte a seguinte:Sumrio de Culpa.Sedio. 1872 . Estante 04, Caixa 07, Documento 03. Do contedo da ONG j saram pesquisas de enormescontribuies, possibilitando novos debates com a historiografia, como teses de doutorado e ps doutorado,mestrado e inmeras monografias. Pesquisadores renomados j visitaram e pesquisaram nos acervos desta ONG. Tais como:- BOTELHO, Tarcisio Rodrigues.Projeto digitalizao, disponibilizao do acervo dos autos findos sculo XIX da comarca deSo Francisco (MG). EDT2874/06. Belo Horizonte/So Francisco. FAPEMIG, 2007.- CAMELO FILHO, Jos Vieira.Rio So Francisco: problemas e solues, uma questo de polticas pblicas. 408 fls. Tese (Ps-doutorado em Histria) - Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Estadual de CampinasSo Paulo, 2005.- LIMA, Marcela Telles Elian de.Pelas margens do So Francisco: trajetria histrica e ficcional de Antonio D. 108 fls.Dissertao (Mestrado em Histria) - Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal de MinaGerais, Belo Horizonte, 2006.

    - RODRIGUES, Rejane Meireles Amaral. Antonio D : um bandido social das margens do rio So Francisco 1910-1919. Dissertao (Mestrado em Histria) - Instituto de Histria, Universidade Federal de Uberlndia, Uberlndia2004.

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    encontrar documentos a respeito de escravos, demografia, arrolamentos, testamentos, diviso deterras, inventrios, sumrios de culpa, Atas da Cmara Municipal de So Francisco e da cidade d

    So Romo, desde o incio do imprio at a metade da repblica. O acervo desta ONG possibilitao acesso de estudantes em geral.

    Os documentos do sculo XIX compreendem, sobretudo, as cidades de So Francisco eSo Romo (antiga Comarca do Rio So Francisco). Isso porque, So Francisco no incio dosculo XIX pertencia ao municpio de So Romo. Entretanto, em fins do sculo XIX, a sedemunicipal foi transferida para So Francisco e a Vila Risonha de So Romo passou a fazer partdo municpio de So Francisco, (na ocasio, atendia-se pelo nome de Pedras dos Angicos). Coma transferncia dos foros administrativos, todo o corpo poltico e judicirio transferiu-se juntopara a nova sede, sendo que todos os documentos da jurisprudncia passaram a ser armazenadose julgados em Pedras dos Angicos. Nesse nterim, alguns episdios acontecidos na regio e oque haviam sido julgados em So Romo foram arquivados em So Francisco. Ou seja, o referidprocesso julgado em So Romo foi transferido para So Francisco junto com a administraoOutro ponto deve ser esclarecido, os documentos, incluindo este, no foram armazenados econservados por iniciativa pblica ou judiciria local. Muito pelo contrrio, os documentosseriam incinerados. Um membro da ONG Preservar recolheu-os do local onde estavam jogados

    e teve a iniciativa de coloc-los num prdio e disponibiliz-los ao pblico.Considero esta fonte de suma importncia, especialmente, para debates a respeito da

    transio do imprio para a repblica no interior do Brasil. Houve uma mobilizao de parte dosmoradores da cidade, prs e contra os sediciosos que eram vinculados ao Partido Liberaltentando romper uma supremacia Conservadora que dominava a cidade. Os liberais, alm delutarem contra os opositores tentavam armar a populao e comandar os rumos da cidade a partirdaquele episdio.

    Os movimentos ou adeptos de uma repblica no Brasil no ocorriam somente nosgrandes centros. Neste processo de sedio ficam explcitos os desejos de partidrios prs econtra a repblica. Alguns dos envolvidos possuam grandes prestgios na regio e at mesmo npas recorrendo algumas vezes a polticos de renome nacional para que interviessem na questoNuma parte do processo em que so explcitos os motivos e argumentos para punir os rus, apromotoria acusava-os de tiranos, comparando-os a Herodes, atemorizador de crianas e osclassificava como Republicanos tits que significava subversivo na poca.2

    2 CARVALHO, Jos Murilo de. A Construo da Ordem : a elite imperial. Teatro de Sombras: a prtica imperial. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. CARVALHO, Jos Murilo de.Pontos e Bordados : escritos de histria e poltica.Belo Horizonte: ed. UFMG, 1998.

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    Ao fim do julgamento no dia 18 de fevereiro de 1873, todos os rus foram absolvidos econsiderados inocentes por unanimidade. Pesquisando sobre a cidade de Januria em obras de

    memorialistas e cronistas da regio, encontrei vrias crnicas ou lendas que faziam menes aacontecimentos semelhantesa esta sedio. Ao que parece os boatos do motim e dojulgamento foram passando por geraes. Alm do mais, prevalece nesses estudos passagensobre um dos principais lderes polticos e cabea da sedio, o Tenente Coronel Manoel Caetanode Souza e Silva, que deixou uma herana poltica na cidade. Seu filho, Coronel Lindolfo Caetande Souza e Silva exerceu importantes cargos como os de Agente Executivo da cidade, DeputadoProvincial, Deputado Estadual Constitucional e Deputado Federal pelo Partido RepublicanoNacional em fins do sculo XIX e incio do sculo XX.

    Esta sedio pode estar ligada conturbada histria e formao poltica de Januria quedesde a formao de Vila estava acometida por disputas entre sedes administrativas e paroquiais A mesma localidade possua duas comunidades, Brejo do Amparo e Porto do Salgado que pordivergncias polticas de seus respectivos representantes alternaram na sede administrativa paroquial durante anos. Essas contendas de transferncias da sede administrativa entre ospovoados prolongaram-se at 1860, quando a Vila foi elevada categoria de cidade, tendo comosede Porto do Salgado e, em 1884 foi criada a Comarca de Januria. Acredito que o uso destafonte possa nos direcionar para outras esferas e fontes que esto se tornando disponveis a partirdo uso de multimdias. Grande parte dos processos-crimes que no so incinerados ainda estnos pores e necessita de olhares atenciosos tanto para sua preservao quanto para sua

    explorao abrindo leques para outras histrias a respeito de nossa sociedade.

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    Transcrio do documento:

    SUMRIO DE CULPA SEDIO 1872 [ capa ]

    Cidade de Januria 28 de Agosto de 1872 [ contracapa ]

    Sedio [ denncia ] Januria do Amparo, denncia apresentada pelo promotor pblico.

    Denncia contra o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva, Ricardo GomesLagoeiro, Alferes Marcelino Isidoro de Mello, Vicente Antonio de Castilho, Francisco de Ozed Alla, Tenentes Seraphim Barbosa da Silva, Jos Antonio Pereira de Meirelles, Alferes Martinian Jos Cabelludo, Antonio da Silva Couto, Linceste Alexandrino de Salles, Onofre Jos da CunhSucupira, e Joaquim Dias Moreira no Mocambo. [ fl. 1 ].

    No dia 19 do corrente ms de agosto, com armas hiam atacar o povo e as authoridades naPraa da Matriz do Porto de Januaria para as eleies. Foi premeditado e os fins conhecidos. Deh muito elles propalavo q pelas eleies do mesmo anno do dia 18 teriam de promover grandedesordens, derramamento de sangue, mortandade, desta forma haveriam de alcanar a vitria naeleies. Elles j estavam com bastante armas e j espalhavam boatos que deveriam aproveita

    qualquer occasio e motivo para praticar seus planos. [ fl. 2 ]. As 10 ou 11 horas da manh do dia 19 de agosto o Subdelegado procedia busca em uma

    casa ao lado da Matriz dizendo ser esta casa o canto dos scelerados devendo existir ahi grandporo de armas.

    Vicente Antonio de Castilho e o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silvaprocurando estraviar a busca blateravo contra as aucthoridades e executores da diligencia e saemprecipitados, correndo a rua Direita abaixo chamando o povo s armas, vo rua da Mangueira

    se armam. Vo casa de Ricardo Gomes Lagoeiro que as distribui ao povo, rene grande massde desordeiros. Cada vez mais se engrossa cerca de duzentas pessoas. Se encaminho para a praanunciando de morte a todos quantos chamo governistas. [ fl. 3 ].

    Enquanto se opera este movimento deste lado, do outro lado na rua do Comrcio outroaparato de ataque. O Tenente Coronel Seraphim Barbosa da Silva e Jos Antonio Pinto deMeirelles armaram seus apaniguados, de concerto para investirem a praa acommettendo osdependentes pela retaguarda. Enquanto os sediciosos preparam o ataque o Capito Jos Joaquimda Rocha aparece fardado em frente que guardava a embocadura da rua Direita e com revolve empunho insulta a todos com epitthetos injuriosos. O cidado Manoel Ferreira de Souza repelle-o

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    com receio de que o Capito fazesse uso do revolver contra elle, mas um soldado o torno.Controlo o Capito. [ fl. 3v ].

    Neste momento chega o Delegado Bertholdo Jos Pimenta que toma o Capito das mosdos soldados, acalma-o e em vista da atitude belicosa que achava todo o povo toma o acordo deleva-lo para casa. Ao chegarem em casa so cercados pela turba capitaneada pelo TenenteCoronel Manoel Caetano de Souza e Silva, Ricardo Gomes Lagoeiro e outros que hiam emdireo a praa. O Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva proclama o povo queprende o delegado a quem chama de anarchico. O delegado lana-os atentados que principio osediciosos. [ fl. 4 ].

    O delegado desarmado ordena o povo que desarme e no prossiga na marcha que cahiriatoda a responsabilidade do luto e carnificina em que mergulhariam todos com os atos q hiamcommetter. Os sediciosos insto com o delegado q parta a sua frente visto q estavo to bem emarmas toda a fora e o povo contrrio. O delegado resiste preferindo cair aos golpes de punhais eas balas de seus trabucos.

    Na praa estavo mais de 500 pessoas, aucthoridades, soldados e povo, armados, cadaqual, como pode defendio os pontos por onde tinho de entrar os sediciosos guardavam oquartel e as urnas e se mantinho dispostos a rechaarem os facciosos, resolutos a sustentarem-sna sua dignidade, e a no serem victimas passivas de scelerados. [ fl. 4v ].

    Em meio a choro de crianas, lamria de mulheres que saiam da Igreja, o Exmo. BispoDiocesano sai da Matriz e pede as aucthoridades a providencia para reestabelecer a paz. Alguncidados de ambos os lados polticos to bem pedem calma aos sediciosos e aconselho o povo amoderao e ordem. Tudo isso produzio o effeito de no consumarem os planos dos sediciososde se servirem da mortandade para se apoderarem da Mesa Eleitoral. [ fl. 5 ].

    Depois o Capito Francisco Antonio Serro e outros entenderam com os revoltosos que

    estes pediram ao delegado ordem por escripto para o povo se desarmar. Feito isto foi sedespersando os grupos e a ordem publica foi se restabelecendo. Isto ato criminoso incurso noartigo 111 do Cdigo Criminal, a promotoria requer q instaure o processo contra os cabeas desedio e convocadas as testemunhas e tambm intimado o Capito Jos Joaquim da Rocha noartigo 207 e 208 do mesmo Cdigo. [ fl. 5v ].

    Testemunhas:Manoel Antonio Ribeiro, Pedro Augusto Soares Manga, Benedicto Rocha, Linceste Jos

    Pimenta, Augusto Angelo e Silva, Dr. Otto Carlos Magnnam, Cabo Eduardo do Couto Moreno,

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    Sebastio Corra de Souza, Francisco Lima dos Santos, Antonio Jos Moreira Granja, ManoeLuiz Ferreira Gonalves. [ fl. 6v ].

    Promotor Paulino de Andrade Faria.

    O comando do Destacamento disse ter recebido denuncia de que havia armamento numacasa de frente a Matriz q seria destinada para ser o posto central do ataque dos sediciosos qtinho de investir contra a Mesa Parochial e as aucthoridades no dia 19 de Agosto de mesmoanno. No fosse a moderao das aucthoridades teria uma carnificina a depender da audcia deManoel Caetano e Vicente Antonio de Castilho por armarem mais de 200 pessoas e dar voz depriso ao delegdo que gritavam em alta voz Vingana e Sangue.

    Januria do Amparo 21 de Agosto de 1872 . [ fl. 7 ].

    Verso do delegado: Ao chegar a casa prxima a Matriz onde seria o deposito de armas dos sediciosos

    procedia regularmente a busca, quando apareceu Manoel Caetano e Vicente Antonio de Castilhoque pretendendo estouvar a diligencia declararam que haviam de mostrar onde estavam as armasReuniram mais de 200 pessoas com armas de fogo para atacar as authoridades. Quando o

    delegado dirigiu com o Capito Rocha encontrou o grupo dos sediciosos, tendo a frente RicardoGomes Lagoeiro, Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva, Vicente Antonio deCastilho, Martiniano, Antonio da Silva, Joaquim Dias do Mocambo e Linceste Alexandrino qumandaro o povo a prenderem o delegado e as demais authoridades. Apareceram o juiz deDireito e o de Paz ordenando o delegado a tomar posto, apareceram tambm o Bispo e os padresexortando a paz o que fez os revoltosos desistirem. Salienta tambm o delegado que o grupo deSeraphim Barbosa hia atacar as authoridades pela retaguarda. Felismente os planos de desordem

    fracassaram graas a interveno do Bispo, sem nenhum facto desastroso.Povoao de Januria 19 de Agosto de 1872 . [ fl. 9 ].

    Argumento do Tenente Honorrio Olympio Jos Pimenta. .

    Quando h iminente perigo da ordem publica com ameaas a paz do povo Januarense dever da justia e policia manter a paz e todas as foras se juntem para malograrem planos demalvadeza apaixonados pelo derramamento de sangue, h noticias de conhecimento do publicoem casas particulares, de mais de 250, em trs localidades, e pode haver mais outras. [ fl. 10 ].

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    O Juiz Municipal Jos do Couto Moreno manda intimar em Porto do Salgado ManoelCaetano de Souza e Silva, Ricardo Gomes Lagoeiro, Alferes Marcelino Izidoro de Mello, Vicen

    Antonio de Castilho, Francisco DOzeda Alla, Tenente Seraphim Barbosa e Silva, + Jos AntonioPinto Meirelles, Alferes Martiniano Jos Barbosa Cabelludo, Antonio da Silva Couto e AntoniSucupira para o processo no dia 31 do mesmo anno e ms, pelo crime de sedio. To bem oCapito Jos Joaquim da Rocha.

    O Tenente Coronel Manoel Caetano disse no se dar por intimado por estar no goso doendulto comedido pelo artigo 64 da lei de 19 de Agosto de 1846 aos eleitores de Parochia, masacataria a ordem do Juiz. [ fl. 13 ].

    Termo de Junta Aos 31 de Agosto de 1872 perante o Juiz Tenente Ignacio Jos do Couto e o promotor

    compareceram as testemunhas.1 testemunha, Benedicto Jos da Rocha 47 anos, natural da Villa do Juazeiro Bahia,

    morador de Porto do Salgado. Testemunhou sobre os Santos Evangelhos dizer a verdade. [ fl. 16 ].Inquirido sobre os factos, disse que estava a porta da Igreja Matriz quando ouviu algumas

    vozes de pessoas que estavam do lado de fora da Igreja na casa pertencente a Ricardo GomesLagoeiro, ocupada por votantes do Ricardo e do Tenente Coronel Manoel Caetano. Dirigindo aolugar viu que o Tenente Coronel Manoel Caetano contendia com o Tenente Olympio JosPimenta a no continuar a dar busca na casa dizendo ser um desaforo em conseqncia chamouo povo que o acompanhou. Disse que voltou a sua casa na rua do Sucego e depois de um quartode hora voltou e j viu uma multido na porta da casa do Capito Rocha para atacar a polciaDisse ter ouvido dizer que, outro grupo liderado por seraphim Barbosa, Antonio Pinto Meirellesdistribuiu armas com o povo. [ fl. 16v ]. Perguntado sobre o facto envolvendo o Capito Rocha,

    disse ser verdade, sobre se viu o delegdo ser cercado pelo bando respondeu ser verdade e o grupodeu voz de priso ao delegado. [ fl. 17 ].

    2 testemunha, Francisco Lima dos Santos, morador do Porto do Salgado, natural da Villada Barra Bahia. Soube que havia grande movimento na praa, vendo a fora publica e o povoarmados na praa, o povo de cacete, armas hiam em imbocadura na rua Direita. Sobre o CapitoRocha, s sabe que estava com o cidado Manoel Ferreira. O pessoal do Manoel Caetanoprendeu o delegado. Nada sabia se Seraphim e outros distriburam armas com o povo. [ fl. 18 ].

    3 testemunha, Antonio Jos de Miranda Granja, natural da Villa de Xique Xique, Bahia,morador de Porto do Salgado. Viu a busca na casa em frente a Matriz, Manoel Caetano e Lincest

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    Castilho queriam [ ilegvel ] e impedir, a diligencia, sahiram convocando o povo as armas pela ruaDireita. Depois foram a casa de Ricardo Loagoeiro e reuniu grande nmero de gente armada,

    foram a Matriz, depois a casa de Manoel Joaquim Gonalves e o alferes Marcelino e outroscercaram o delegado dando lhe ordem de priso e retirada da Fora que estava na embocadurapara conter os sediciosos. [ fl. 19 ]. Viu ainda o Capito Rocha ameaar a Fora e alguns cidadosque hiam atacar quando chegou o delegado e o prendeu. Acredita a testemunha que os sediciosofaziam grande estrago porque h hora que planejavam a desordem e grande ajuntamento dearmas e disiam publicamente q nas eleies haveria grande mortandade de gente do Governo:tanto que o Alferes Marcelino e Juvencio Suares disseram q em lugar do delegado ser o Juizinterino Luiz Affonso fosse aprisionado e disse a mim testemunha q fosse se ajuntar com osoutros camaradas para morrerem todos de uma s vez porquanto Marcelino comandava muitoboa gente. [ fl. 19v ]. Perguntado sobre Jos Antonio Pinto Meirelles, Seraphim Barbosa da Silva,disse q os ditos distribuam armas ao povo pra pegar pela retaguarda a Fora e elle e o CaboEduardo foro athe la eram 20 ou 30 pessoas, mas aumentou com os barqueiros. [ fl. 20 ].

    4 testemunha, Dr. Otto Carlos morador da cidade natural do Imprio da Alemanha.Disse q inimigo do Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva [ fl. 20v ].

    Disse q os reos tinho inteno de depois das eleies assaltarem com um grupo armado

    a Igreja do Porto, assassinar o Juiz de Direito Luiz Affonso Fernandes Junior e outras pessoasdesta cidade dispersar as Foras votantes Conservadoras e fazer a eleio a seu bel prazer. No sadmira quando viu proceder busca numa casa ao lado da Matriz onde seria o deposito dearmamento. Poucos minutos depois da chegada da Fora entrou o Tenente Coronel ManoelCaetano dentro cerco da tropa e gritou acompanhe-me meu povo quem tiver vergonha e correucom Vicente Antonio de Castilho q hiam se armar porque um despotismo se rebateo com outroneste. A testemunha foi guardar o Quartel. [ fl. 21 ]. Voltando viu o Capito Rocha fardado de

    Guarda Nacional desfeixar um tiro contra o Manoel Pereira de Souza o q teria feito se no fossecontido por um paisano e um soldado, depois puxou um punhal e tentou ferir o dito Manoel,mas no conseguiu. [ fl. 21v ]. No mesmo tempo vinho 100 a 200 pessoas armadas capitaneadaspor Manoel Caetano com inteno de agredir a Fora legal. Disse ainda, que o delegado foiextorquido pelo grupo armado e uma ordem por escripto do comandante para retirar as Forasdo posto disse soube por uma pessoa que viu.

    Viu to bem Jos Antonio Meirelles Pinto, Seraphim Barbosa, soube ainda por Guardas qos dois estavo na rua do Comercio dando armas e cartuxames ao povo. Ento espalhou-se oboato q elles vinho atacar pela retaguarda com grande poro de gente. [ fl. 23 ].

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    5 testemunha, Luiz Pereira Gonalves morador de Cruz Matus da Freguesia deMorrinhos deste Districto. Disse q estava a conversar com alguns camaradas quando viu o

    alvoroo. Viu to bem o incidente do Capito Rocha. A testemunha tentou ajudar os Guardas aconte-lo e foi ferido na mo. Concorda com os demais sobre a voz de priso ao delegado. [ fl. 24 ].Ouviu dizer q outros distribuam armas ao povo.

    6 testemunha, Linceste Jos Pimenta, natural de Januria, estava no Quartel quandosoube da busca, dirigiu para l e viu os denunciados, ouviu o Tenente Coronel Manoel Caetanode Souza e Silva Chamar quem tiver vergonha na Companhia. O capito Rocha apareceoinsultando: dizia, canalha, vil, infame, no fao caso desta Fora tico tira. [ fl. 25 ]. O delegadopara acalmar os nimos apareceo desarmado perante o povo armado. Apareceo reforo dapolicia, ento os revoltosos fizeram um acordo: o delegado retirava a Fora da praa e elles sedispersario. [ fl. 26 ]. Disse q os sediciosos queriam apoderar da Mesa Eleitoral e fazerem aseleies como querio. Disse ser de h muito tempo q preparavo armas e cacetes.

    7 testemunha, Sebastio Correa de Souza, natural de Januria. Estava na praa, viu abusca na casa, onde era o deposito de armas e capangas ao lado da Igreja. Os capangas estariona embocadura e quando o Manoel Caetano e Ricardo Lagoeiro dessem o grito de: fora a

    mesa, elles a tomario de assalto. Vicente de Castilho aparece entre os soldados tentando

    impedir a tal busca. quando aparece, Manoel Caetano incitando o povo. Vicente de Castilhopronuncia as seguintes palavras: eu j lhes venho dar a resposta quem tiver vergonha meacompanhe. A Fora to bem d ordem ao povo que estava na praa para as eleies que secolocassem na defesa nas embocaduras das ruas no Quartel e Matriz e para repelirem osrevoltosos que a vinho atacar. [ fl. 28v ]. Viu tambm o Cap. Rocha sair de casa armado e ossediciosos sabiam que seriam mal sucedidos no ataque pois a praa estava guarnecida porauthoridades e povo do lado desta. Alm do mais viu a testemunha alguns armados de espada

    em grande alarido tirando piruetas. Algumas mulheres avisaram as authoridades de que ossediciosos estavo armados para atacarem a Matriz. [ fl. 29v ].

    8 testemunha, Manoel Antonio Ribeiro da Silva, natural de So Romo. Padrinho deRicardo Gomes Lagoeiro. Mas disse, ele, que isto no seria impedimento para falar a verdadeElle ia para a Igreja tratar dos trabalhos das eleies. Pois um dos membros da Mesa Parochial Viu e ouviu o Manoel Caetano correndo e gritando em voz alta q todos o acompanhace, ellescorrendo entraro ainda pelos muros abertos da Dona Benedicta para chegar a casa de ManoelCaetano q ficava por detraz daquela, viu tambm o povo armado. [ fl. 30 ]. O bando subiu a ruaacima ath a porta do Cap. Rocha queriam atacar a Fora q estava garantindo a ordem, a paz e o

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    voto livre da eleio, os sediciosos demoraram em frente a casa do Rocha, marchariam para sede, depois voltaram para trs. Perguntado qual o motivo desses homens terem se debandado?

    Dizia ter sido, por ouvir dizer por estar o delegado na casa do dito Rocha. [ fl. 31 ]. Qual o motivoda sedio? Foi por ordem do Subdelegado dar ordem de busca na casa e q Manoel Caetanoqueria vencer as eleies ainda q houvesse muitas mortes. Pois elle era membro da MesaEleitoral. [ fl. 32 ].

    Concluso As testemunhas concordaram com a denuncia e que tem provas para enquadr-los no

    artigo 111 do Cdigo Criminal. Onofre da Cunha Sucupira, Joaquim Dias, Linceste Alexandrinde Salles, Antonio da Silva Couto, Martiniano Jos Cabeludo, Jos Antonio Pinto de MeirelleSeraphim Barbosa, Francisco DOzeda Alla, Vicente Antonio de Castilho, Marcelino Isidoro de

    Mello, Ricardo Gomes Lagoeiro e Manoel Caetano de Souza e Silva, como chefes da sedio. ORocha no artigo 207 e 208 por ameaas. [ fl. 34 ].

    Diz o Auto q no ato da vistoria compareceu o Tenente Coronel Manoel Caetano deSouza e Silva tentando desviar a ateno e direo da busca na casa, q seria seu deposito declaroformalmente q hia lanar mo as armas. Correu com capangas e depois foi a casa do Ricardo

    Gomes Lagoeiro. Distribuiu 150 armas de fogo ao povo. O Capito Joaquim Jos da Rochaameaava os Praas, paisanos e authoridades. O povo estava chefiado por caudilhos. [ fl. 35 ]. Diziaque os sediciosos queriam tirar do posto quem investiu nele legal. Indicia os rus no artigo 111 cabendo no 34. Faz o mandado de priso na forma da lei.Cidade do Amparo 5 de Setembro de 1872.

    O promotor Paulino de Andrade Faria.

    O Capito Rocha pagou fiana.Diz q o crime do afianado um dos exceptuados no artigo 102 e 103 e deve conced-lo.

    Fiana de quatrocentos mil ris. Amparo 8 de Setembro de 1872.

    Os rus Manoel Caetano, Antonio Castilho, Martiniano, Francisco DOzeda se entregam.

    Interrogatrio Juiz Municipal Luiz Affonso Fernandes Junior.

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    Manoel Caetano de Souza e Silva, 52 anos, filho do Capito Manoel de Souza e Silva, eDona Anna Maria da Costa, falecidos. Casado, negociante, brasileiro, natural de Villa do Rio d

    Conta, Bahia. Mora em Januria h 32 anos. Vicente Antonio de Castilho, filho de Luiz Antonio de Castilho e dona Felippa Bernardes

    Lisboa, 32 anos, solteiro, criador, brasileiro, natural de Januria.Martiniano Jos Barbosa Cabelludo, filho de Antonio Jos Barbosa Cabelludo, e Jesuina

    Maria do Sacramento, 33 anos, casado, negociante, brasileiro, da Bahia.Francisco deOzeda Alla, filho de Lino de Ozeda Alla e Anna Ferreira da Silva, 53 anos,

    casado, lavrador e criador, brasileiro, natural de Januria. [ fl. 40 ]

    Interrogatrio de Manoel Caetano de Souza e Silva.Disse q no dia dezenove estava indo a casa de Ricardo Gomes Lagoeiro por volta das dez

    horas mais ou menos quando o Excelentssimo Senhor Bispo a missa uma fora armadacomposta quase de todo destacamento acometeu e forou a entrada na casa de Ricardo GomesLagoeiro, onde residia Joo Ribeiro de Castro Pestana. Sem mandado algum quando Vicente Antonio de Castilho chegou e tentou impedir comandantes de entrar na casa por boas maneirasque deichasse aparecer o morador, o Manoel Caetano to bem pediu ao Tenente OlympioPimenta em ateno ao ato religioso como em respeito da ordem e da lei suspendesse a diligenciaQ parecia pretesto para aterroar o povo votante q j haviam muitos presos. [ fls. 52-53 ]. Ocomandante disse estar cumprindo ordens, o ru disse-lhe q ordens illgais no devia cumprir. Eem vozes altas disse ao povo q quizesse resistir ao despotismo q o acompanhasse at sua casaonde se armaro e dirigiro para outro canto da cidade onde estavo aquartelados os votantes deseu partido. Fizero o mesmo sem inteno alguma de agredir, mas somente defender qcontinuasse as violncias da fora no propsito de [ ilegvel ] e dispensar os votantes de sua

    parcialidade poltica. O Juiz interroga q mesmo aps a ordem do delegado de retirar a Fora, oreo insitou o povo a pegar em armas q foi imediatamente atendidas. [ fl. 53v ]. O Manoel Caetano,entrou com o delegado para a casa do Capito Rocha, onde, segundo ele, amigavelmentecombinaro os meios de se restabelecer logo a ordem e a tranqilidade publica q o artigo 108 dalei regulamentar das eleies de 19 de Agosto de 1846 prohibia armamento de tropa ou qualqueoutra ostentao de Fora militar no dia de Eleies e aviso de 4 de Maio de 1848 declarou q npodia existir destacamento no lugar em q se d o ato eleitoral. [ fl. 54 ].

    Argumento de defesa de Manoel Caetano de Souza e Silva

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    Em vista disso entendeo o interrogado q rezistira as buscas ordenadas pelas aucthoridadesem semelhante ocazio sem as formalidades da lei no era um procedimento criminozo, e antes o

    exercicio de hum direito, tanto mais quando elle no embaraou em couza alguma as pretenese ordens do delegado de policia o qual j tinha indisposto bastante com algumas prizesanteriormente feitas sem as formalidades legais. Que elle interrogado, e alguns companheiros dprocessos se consideravo acobertados com as imunidades q a lei eleitoral citada nos artigos 2845, 64, consede aos membros da Mesa e aos eleitores da Parochia aqueles por secenta, e estes poquarenta dias, dentro de cujo prazo no podia ser intentado contra os mesmos qualquer acosivel ou criminal nem to pouco serem prezos a no ser em flagrante delicto e q por isso pede omeritssimo Juiz q primeiro q tudo atenta para essa nulidade do processo. [ fl. 55 ].

    Interrogatrio de Vicente Antonio de Castilho.Estava no Porto do Salgado e ignorava as pessoas do processo.Martiniano Cabelludo, estava em Januria no dia do crime disse ter motivos particular

    para a denncia. [ fl. 56 ].Francisco de Ozeda disse q estava em casa. E que tinha motivos particular para a

    denuncia e no conhecia a testemunha Luiz Ferreira. [ fl. 57 ].

    Os rus entram com recurso, baseado em conformidade do pargrafo primeiro do artigo17 de Decreto 33 de 20 de setembro de 1871. [ fl. 58 ].

    O recurso foi tomado endereando a sentena do Juiz Municipal do segundo Districtopara o Juiz de Direito da Comarca, 17 de outubro de 1872. [ fl. 58v ].

    Recorrncia, razes do recurso.

    Em primeiro lugar, os reos passo a mostrar q no houve base alguma para um processo desedio e q a denncia do senhor promotor publico no era admissvel, por que o crime desedio para se julgar comettido necessrio q se dem as treis casas seguintes exigidas pela l(Cdigo Criminal artigo 111) reunisse 20 ou mais pessoas armadas para o fim de obter a posse demprego publico, ou para privar do exerccio do seu emprego, ou para obter a execuo ecumprimento de qualquer acto ou ordem legal de legitima authoridade, o q no se do e nemconsta dos authos. Os reos no se oppusero a busca embora injusta ordenada pelo subdelegadoe dada sem as formalidades legais na casa de residncia de Joo Ribeiro de Castro, e o ter pedidos reos ao comandante q suspendesse a Fora enquanto se findara a missa e viesse assistir a busc

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    o dono da casa que estava na Igreja, no podia significar um rompimento, por quanto, estandoelles reos desarmados, e mettidos entre grande numero de soldados armados estando os

    comandantes e o subdelegado q ordenou as buscas, necessariamente prenderio os reos se ali seapresentassem bruscamente, como depuzero testemunhas inimigas dos reos. [ fl. 60 ].

    Quanto a ter o reo Manoel Caetano de Souza e Silva convidado ao povo para resistir asordens ilegais e violentas e ter o povo se armado por cerca de meia hora, enquanto a Fora estavafora dos quartis, e corria o boato q no se recolhia sem q deixasse a cadeia cheia de votantesliberais, e tanto mais era crvel esse boato, quando j estavo presos sem motivo justificvePedro de Ozeda, Morcolino Ferreira, Francisco Ignacio, Romualdo de Oliveira Castro, Plcido dSouza Santos e outros. Sendo igualmente notrio o plano de serem presos alguns dospronunciados, varejadas suas casas, como de feito terio sido no dia 16, se o Exmo. Preladosenhor. D. Joo, no intercedesse o seu valimento para com o senhor Juiz de Direito interino edelegado de policia. Ora se dando to aterradores fatos no dia da eleio primaria e que a le(artigo 108 da lei de 19 de Agosto de 1846) prohibe qualquer ostentao de fora no lugar em qse procede a eleio e no qual nem mesmo permitido estar o Destacamento de fora publica(aviso de 4 de maio de 1848). Confiadas as oposicionistas de situao dominante que asauthoridades civis e policiais observassem a lei, e as circulares do Exmo. Ministro, presidente dconselho, e do Exmo presidente da Provincia, ordenado que se abstivessem de qualquerinterveno vexatria no pleito eleitoral, e que antes protegessem a liberdade do votto, ficaroestupefactos ao presenciar as ameassas publicamente feitas aos votantes pelas authoridades, arequisies de fora de G. N. o seu aquartelamento, e finalmente a priso de muitos votantesdesde o dia 17 ath a noite do dia 18, todas estas circunstancias influiro no animo do povo pararesistir a tais violncias ocazio para isso, pela providencial interveno do virtuoso Bispo o Sr. Joo, que foi atendida pelos coraes magnnimos dos chefes do partido dominante que

    desistiro do plano temerrio de fazer a eleio a viva fora. [ fl. 61 ]. A docilidade q o senhor delegado de policia encontrou no animo dos recorrentes e do

    povo desde q declarou q no era de seu agrado e nem expedidas por elle essas ordens de buscas prises q comessava a proceder a Fora Publica, a promessa de fazla recolher ao Quartel, edeixar correr livre as eleies foi bastante pra fazer o povo depor as armas no mesmo momento emostrar-se ao mesmo tempo ordeiro, mas seloso de seus direitos de cidados votantes e capaz desacrificar-se pelo patritico e sagrado dever de resistir aos ataques do despotismo, ou violnciadirigidas contra as suas mais importantes garantias. [ fl. 61 ]. Desde, pois q sem haver a registrar-seo mais pequeno desastre ou offensa phisica a viva alma e a tranqilidade publica foi restabelecid

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    no era de esperar que o digno rgo da justia ao menos se lembrasse de empunhar a suacadeira, uma denuncia to injusta e extempornea, na qual porm no provou qual o mandado ou

    ordem de authoridade legitima q os reos se propusessem a abstar porquanto, pedisse por bonsmodos ao official de uma diligencia q no a execute sem as formalidades legais, no por certocommetter um crime, nem mesmo de ameassas, quanto mais de sedio. E quando o nobrepromotor entendesse, como entendo q o facto denunciado de se apresentar o povo armado parafazer eleio com terror fosse real, no passaria do crime classificado no artigo 100 do CdigoCriminal, mas nunca o de sedio porque so os reos accusados. No houve portanto base paracrime no procedimento dos reos. As testemunhas q depusero, conquanto muitas dellas sejoinimigas dos reos, e mostrassem grande desejo de lhes fazer carga, todavia nenhum peso devemter porquanto o meretissimo Juiz de quem foi testemunha ocular de todos estes factos. [ fl. 61v ].

    Em segundo lugar passo os recorrentes a mostrar q o processo recente-se de umaincurvel afeco de nulidade desde o seu bero. Contra alguns dos reos que foro eleitosmembros das Mesas Parochiais nas eleies de 18 de Agosto e de 7 de 7bro no podio o senhorpromotor publico dentro do praso de 60 dias dar denuncia de crime, e nem to pouco o senhor Juiz processante a quem no era oculto esse facto, processar como inadvertidamente o fez em vista do disposto dos artigos 28 e 45 da lei de 19 de Agosto de 1846. Da mesma forma no podi

    dentro do praso de 40 dias serem mettidos em processo os Eleitores da Parochia da Freguesia deNossa Senhora das Dores, a contar do dia que foro proclamadas tais pela Mesa Parochial,conforme dispe o artigo 64 da lei citada, e no bastando para obstar esta quantia dos Mezarios eEleitores, a oppnio de authoridades suspeitas para o caso, conforme se collige do aviso de 3 defevereiro de 1857 paragrafo primeiro em tais termos, a excepo de dous, Joaquim Dias de Souze Onofre Sucupira comprehendidas nos dous casos acima apontados, claro, que nullo tendotodo o processo. Os reos acredito q o Juiz processante no por menospresar a lei, mas por no

    ser jurisconsulto, no observasse nesta parte a previdente lei supra citada, e q mais bem advertidfora ainda em tempo justia aos reos. [ fl. 62 ].

    Os reos chamam ateno do illustrado senhor Juiz de Direito para a promoo do senhorpromotor publico de fazer, na qual o illustre rgo da justia parece haver se equivocado com aconcisa disposio do artigo 55 pargrafo segundo do Decreto 22 de 9bro de 1871, supondo queo recurso de que trata este artigo seja aplicvel ao caso dos reos, quando para assim ser, seriamister que fossem derrogados os artigos 69 pargrafo quinto da lei de 3 de dezembro de 1841 eos artigos 438 pargrafo terceiro, e neste caso a lei da mesma forma que declarou revogado oartigo 281 do Cdigo do processo Criminal terio feito o respeito destes que dero recursos as

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    partes nos crimes communs da pronuncia ou no pronuncia, e que esto em seu perfeito vigorcom pequena alterao a favor dos accusados. No caso vertente, no cabia e nem cabe o recurso

    de que trata o pargrafo segundo do artigo 55 citada pelo digno rgo da justia por ser da classedos necessrios, e nos crimes communs, como o dos reos, continuo como dantes os

    pronunciados, estando em tempo recorrem da pronucia para o Juiz de Direito da Comarca e osreos no descobrem na reforma judiciria ultima e nem no cdigo do processo, lei de 3 dedezembro e seu regulamento, disposio alguma que ordem ao Juiz de Direito sustentarpronuncias do Juis municipal em crimes communs sem ser por via de recurso emtreposto oupelas partes interessadas, queixosos, ou reos, ou pelo rgo da justia, e nem era crvel que a novreforma judiciria que foi elaborada no sentido de suavisar a sorte dos pronunciados, muitas vezes victimas. Innnocentes do capricho, e da bendicta, em vez de melhorar, provasse suassortes, dificultasse o recurso de mostrarem sua innocencia obrigando os recorrentes a hirem amais de 200 legoas pedirem ao Tribunal da Relao sua absolvio, tanto no , Ilustrissimosenhor necessrio o recurso permittido pelas leis citadas ao crime porque foro os reospronunciados que o pargrafo 1 do artigo 17 da lei de 20 de septembro a respeito destesrecursos s alterou os outros j citados, mandando que seguissem nos prprios authos na ultimaparte do mesmo pargrafo trata dos recurso necessrio que o Juis de Direito ou municipal foro[ ilegvel ] expedir mas da pronuncia dos reos, lei alguma authorisou ao digno Juiz Municipal pararecorrer como fez para V S. os recursos necessrios pertencem a outra classe, e de que osrecorrentes ignorantes como se confesso, no se arrojo a explicar a V S. [ fl. 63 ]. Juis intelligentee proficiente em tais matrias. E tanto no pertence este recurso a classe dos necessrios que seos reos no fossem pronunciados, e o digno promotor no julgasse de acerto recorrer para o juissuperior no incorria em responsabilidade: portanto, parece aos reos que o illustrado promotor,se engana profundamente quando em sua promoo afirma que os juises municipais pela nova

    reforma se tornaro exclusivos fornecedores de culpa nos crimes communs, quando o artigo 4da lei (citada contra procedente pelo mesmo senhor) diz claramente que fica exclusivamentepertencendo-os juises municipais a pronuncia nos crimes communs. Assim to bem relevaponderar a V S. que o douto rgo da justia no comeo de sua impugnada promoo paressaestar convencido erroneamente de que a lei citada de 20 de 7bro de 1871 veio derrogar as leisanteriores que regulavo formao de culpa, os quais alis, permanessem em vigor com levealteraes que ainda mais enobrecem a sapincia de nossos legisladores. Os reos protesto contrtodos os pontos e tpicos da pronuncia do illustre promotor por no ser baseada nas novas leiscriminais vigentes, e espero que V S. lhes far recta e imparcial justia. [ fl. 63v ].

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    Amparo 18 de outubro de 1872 .Dizem os reos que o juiz instaurou o processo de sedio a elles e demais eleitores, sendo

    que, apesar de V S conhecer que os denunciados so eleitores ultimamente nomeados e ossupplicantes membros da Mesa Parochial a favor dos quais a lei previdente de 19 de Agosto de1846 buscou salvar guardar suas garantias e dirigido no artigo 45 da mesma ley que equiparou omembros da junta de qualificao na conformidade do artigo 28 da mesma ley. Sabe V SIllustrissimo promotor que a eleio primaria desta Parochia correo, seos tramites legais, e aindquando assim no fosse s a Camara dos Deputados poder conhecer de sua legalidade e nooutro qualquer tribunal, em vista pelo do exposto os supplentes requerer a V S que unida esta e odocumento junto aos autos do processo. Os recorrentes pedem ao juis que reveja a ata daseleies primarias do dia 18 de agosto de 1872, e vejam os nomes dos eleitores e funcionrios. [ fl.66 ].

    O secretario da Cmara certifica a lista que contm os nomes de todos os sediciosos etantos outros poderosos, o Manoel Caetano de Souza e Silva eleitor e mesrio. [ fl. 67 ].

    Amparo 02 de setembro de 1872.

    Manoel Caetano de Souza e Silva

    Ricardo Gomes Lagoeiro

    Marcelino Isidoro de Mello

    Vicente Antonio de Castilho

    Francisco de Ozeda Alla

    Seraphim Barbosa da Silva

    Jos Antonio Pereira de Meirelles

    Martiniano Jos Cabelludo

    Antonio da Silva Couto

    Linceste Alexandrino de SallesOnofre Jos da Cunha Sucupira

    Joaquim Dias Moreira

    Dizem os abaixo assinados eleitores desta Parochia de N S das Dores da cidade de Januaria que sendo hontem intimados para virem se processar no dia 30 do corrente por crime desedio que nunca os supplicantes sonharo commetter, ocorre que V S talvez ignorando o factode ter sahido os supplicantes eleitores na eleio primaria que ultimamente se procedeo na Matridesta Parochia, bem como outros cidados envolvidos no mesmo processo e como supplicantes

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    se os mais eleitores se acho acobertados com o artigo 64 da lei de 19 de Agosto de 1846, que dio seguinte: ficaro suspensos por espao de 40 dias contados da nomeao dos eleitores, todos o

    processos em que os mesmos forem authores ou reos, querendo: vem por isso os supplicantes,por si e por seus companheiros constantes da certido junta, requerer a V S que em atteno a lecitada se digne sobrestar no referido do processo att que se finde o praso da lei, e que V S sesirva mandar juntar esta aos authos crimes ou de denuncia do Sr. Promotor. [ fl. 68 ]. Manoel Caetano de Souza e Silva

    Ricardo Gomes Lagoeiro

    Marcelino Isidoro de Mello

    Vicente Antonio de Castilho

    Francisco de Ozeda Alla

    Seraphim Barbosa da Silva

    Jos Antonio Pereira de Meirelles

    Martiniano Jos Cabelludo

    Antonio da Silva Couto

    Linceste Alexandrino de Salles

    Onofre Jos da Cunha Sucupira

    Joaquim Dias Moreira

    Autos Conclusos Juntada

    A promotoria faz sua defesa dizendo ser ela o representante dos demais rgos e diz estarcom grande peso nos hombros. [ fl. 72 ].

    Dada a isto pelo artigo 438 paragrafo 4 da lei de 31 de janeiro de 1842 o recurso seinterpe do despacho que sustenta ou revoga a pronuncia. [ fl. 72v ].

    Por isso fica liquido, que havendo V S dado sua deciso em gro de recurso, sustentandoa pronuncia lavrada nestes autos pelo juis municipal o que se v a f incontestvel dever -sedessa deciso recorrer para a relao pelas leis prescitadas.

    Agora, pois, que pela direco do presente recurso, e rases dos recorrentes, impugnandoa competencia do Tribunal da 2 instancia para os julgar, v esta promotoria o af, cem que ellesse esquivo de submetter-se considerao de juises to conspcuos, como sejo os sbios,provectos e imparciais desembargadores do Imprio, os actos reputados, criminosos e que, alis

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    dizem elles ser justificveis, pensa com raso que os recorrentes queiro [ ilegvel ] o juis municipaldo termo para tornar-se sua victima expiatria. [ fl. 73 ]. Sabendo que essa auctoridade no sendo

    bacharel nem advogado versado em princpios de direito poder se convencer das suas allegaepara elle especiais, mas q para outras resolvem claramente um fundo de malicia de inexactides calunias que compromettem a si prprias, mas que elles considero armas hervadas, sotteradaque podero trazer as auctoridades a gaugrema e a morte, illudido, dever-lhes-h afrouxar-lhes grilho da justia, para mais logo seo costume amarrarem lhe ao poste do despotismo palavrade que estendo homorisar-se mas que ordenrio traduz -se em actos pelos factos de estupendaarbitrariedade, que commettem. Por isso, esta promotoria persuadida de que no se deve amanarao carro, para como leitor ficar exposta s vistas de expectadores impassveis, sabendo que tudoat abra o juis incompetente nullo, e que somente s leis e no opinies que se deve cingiesta promotoria se dirige ao Tribunal da Relao do Districto acompanhado o recurso interpostopelos reos j ditos para que esse egrgio Tribunal, se convena pelos autos de que os recorrentespretendendo justificar-se do crime que comettero no fizero seno confessaren-o com o arrojodo que so capazes. Com virtude do que o Illustrssimo senhor juis de Direito as rases quepassa-se a expedir, sero para serem apreciadas por V S como juis a que o como queira deo aultima deciso, e subsequentemente pela Relao do Districto, segundo a lei. [ fl. 74 ].

    JuntadaSenhor, a interposio do presente recurso que intendero os recorrentes reos, mais

    uma prova que do do abuso que costumo praticar das prescripes das leis de N. Magestade oImperador. Da masuetude das aucthoridades locaes, e de suas tendncias para continuarem aanarchisar o lugar com seos actos desregrados, altamente criminosos, por quanto, quando nopodem dispor dos elementos necessarios para livremente, commetterem os mais repulsivos

    attentados contra a liberdade e propriedade dos indivduos, arresto todas as armas da culunmiapara enredarem as auctoridades e a populao ordeira da Januria com os poderes do Estado,afins de que no prevaleso contra elles e seos apaniguados as notas ms que os Cdigos setraduzem por crimes. O de que hoje recorrem estes criminosos hum facto, de que osrecorrentes no se pejo de confessarem no respectivo interrogatrio e nas rases, quesubmettem indevidamente apreciao do juis municipal, j tem jurisdio no caso vertentedepois do acto do juis de direito de f cuja deciso sustentou a sua pronuncia baseada no artigo111 do Cdigo Criminal com referencia ao 34 do mesmo Cdigo. Ora, assim por elle confessadoo crime, ocioso pretenderem os recorrentes innocentar-se. Presuma-se, que, quaes sipais

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    estavo em ponto de ser victimados os recorrentes, na qualidade de republicas com outros seusfanticos espadachins, pelas foras disposio das auctoridades, que aqui mantinho a ordem

    publica: o que isto prova? O que elles cumprio fazer? [ fl. 74v ].Os recorrentes no apresento prova alguma de que para as eleies de agosto, houvesse

    a mnima disposio de coaco votantes, prises preventivas para amedrontar o povo, nem asinculcadas perseguies alguns delles, nem mesmo que o facto da busca de uma ca sa no dia 9tivesse relao com esse chavo, com que pretendem abrir as portas da opinio publica, decoaco ou amedrontamento de votantes. Ao contrario, os recorrentes h muitos dias, haviamesmo mezes antes da poca da eleio que ostentosamente ajuntavo armas, assalariavocapangas, e no se pungio de dizer s claras, que haverio de vencer as eleies custa de vidacomprazendo-se de dizer que querio fartar-se na expectao de terem estendidos porta daMatriz cincoenta ou mais dos proeminentes seguidores do Governo. [ fl. 75 ].

    A promotoria publica fora de se repetirem taes noticias afficiou ao Juis Municipal, 1supplente ento em exerccio (o que se v dos autos) solicitando providencias, bem dasegurana publica. Aquele prudenciou. Suas previses hoje se confirmaro pelo artigo do jornaReforma, no artigo N 213 que offerece como documento em que os recorrentes alardeavo opropsito de se fazerem em pastas, antes de cederem s violncias das aucthoridades.

    Essa linguagem irnica envolve a mais terrvel ameaa. Ningum crer, que os recorrentese quizessem fazer os innocentes, immolados pelo famigerado Herodes. Ero, no imbelles Judeus, crianas, mas chefes de partido, fortes, Republicanos, que no transigem comConservadores, nem com Liberais. So Gigantes, Titaes passantes. [ fl. 75v ].

    E tanto assim que depois de armarem-se tomarem todas as providencias de, em tempoconcertado, por qualquer motivo, atacarem as auctoridades, massacrarem a Fora publica eassaltarem a Mesa para o seo bel-prazer fazerem a eleio, que no hesitaro de porem-se em

    opposio formal ordem da auctoridade legitima, para no se proceder diligencia na casasuspeita de guardar se armas, e ser o coito de faccionaras, que terio de investir contra a MesEleitoral quando acenados por esses mandes innocentes, no tendo elles interesse algum emzelar direito alheio fora dos termos da lei; os recorrentes patentearo suas intenes dederramarem sangue, commetterem graves attentados com o fim de fazerem presso ao povo,apoderar-se da Meza Eleitoral, inutilizar as auctoridades para os servios da justia. [ fl. 76 ]. E istoagora o confesso. As prises preventivas ameaas e outras ocas allegaes de arbtrio no sresponde. Os jornais podem repercutir as grosseiras invenes de gente azada a propalarcalunnias. Aqui no cabem boletins fabulosos, nem gracejos grotescos, tudo srio.

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    culpados, Maximo aquelles que influencio a maa popular para, com elles, commetter os maigraves attentados. [ fl. 78 ].

    Os recorrentes so reos confessos. O crime por que foro pronunciados no foi uma levee involuntria tentativa somente. Todos os requisitos do artigo 111 do Cdigo Criminal se achoinsertos nas provas dos autos por elles assellados no interrogatrio. Nem um artigo de lei nemuma circunstancia favorvel seos intentos de innocentar-se reconhece-se. Por isso de esperaque prevalea a deciso do juis de Direito que sustentou a pronuncia do juis firmador da culpaPara punio dos reos, segurana da ordem publica moralidade e exemplo bem da sociedadecomo a de J.

    Assinado,

    O promotor publico interino,

    Paulino de Andrade Faria . [ fl. 79 ].

    Autos conclusosRevogo a pronuncia de f. [ ilegvel ] j pela falta de provas necessrias para se considerar

    comettido o crime de sedio que so os reos accusados. Por no se darem as circunstanciasexigidas no artigo 111 do Cdigo Criminal que so os elementos constitutivos do mesmo crime ej por ser manifestamente nullo o procedimento official em face dos documentos de f. 65 e f. 70Que provo terem sido elleitos alguns dos acusados membros das Mesas Parochiais de 18 deagosto e 7 de septembro p. p. e acto dos mesmos nomeados eleitores de Parochia na dita eleioPor dito no poderia instaurar este processo dentro do prazo marcado nos artigos 28, 45 e 64 dalei de 19 de Agosto de 1846, que clara internamente e prohibe sendo incompetente o juzocriminal, para conhecer da nullidade ou legalidade dos actos eleitorais que naquellas datas sdero conforme a doutrina do livro de 3 de fevereiro de 1857. Portanto reformado o despaxo de

    pronuncia de f. mando que d se baixa na culpa aos recorrentes e mais acusados que se achofora da priso aos quais fao extensivo os effeitos deste despacho como permite a lei. Passa-sealvar de soltura aos mesmos recorrentes se por no estiverm presos, pagas pela municipalidadas custas, e cu-term-se as partes.

    Januria 22 de 7bro de 1872 . [ fl. 81 ]

    No dia 23 de 7bro de 1872 o promotor recorre da despronunciao dos reos e pede aojuiz que reveja a pronuncia baseada no aviso N 172 de 13 de 10bro de 1847, de conformidadecom o artigo 72 e seguintes da lei de 3 de 10bro de 1841.

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    O promotor publico

    Paulino de Andrade Faria . [ fl. 82 ].

    Os recorrentes se abstem de por em relevo os perigos, que corre a administrao Pca.(Parochial) com abusos de tal ordem calcadas acintosamente as leis que devem ser o pharol daaces de todos os bons cidados, verdadeiros patriotas, e com todo escrpulo, das auctoridadesde cujos actos defender a boa ou m sorte da sociedade, a sua felicidade ou desgraa. Basta qainda esta vez o recorrente patenteie que sem justia no se poder gosar de ordem nem de paz A justia porm no seja considerada a cega da fabula, ou symbolisada por saturno, devoradodos prprios filhos, e mais ainda Jano bifronte, ou Marte bellicoso. A justia a providencia, estsupremo Ente benfazejo, justo clemente para os mansos, severo para os mpios. [ fl. 84 ].

    A V S. Sr. Juis de Direito, o recorrente no leva outras rases que fundamentem seorecurso, alm das expendidas (na jusceste) que tomou em o recurso interposto pelos reos, mas sedirigindo o recorrente Relao do Districto, como se v ex. f. 71 e esq. Ad. 79. Julgando, quetem satisfeito sua obrigao, o recorrente espera da alta intelligencia e justia de V S. reparo grandes desconveniencias em gro de recurso, lavrou o juis recorrido, se dignado V S reformaseo despacho e fazer prevalecer a pronuncia de ff. Como de J

    Assinado,

    O promotor publico da Comarca,

    Paulino de Andrade Faria [ fl. 84v ].

    Vistos estes autos q dou provimento ao recurso interposto pela promotoria publica para ofim de reformar a sentena de f. Que considero destituda de fundamento jurdico e contraria sprovas do sumario e no podia o juis qu julgar inesistentes os elementos constitutivos do

    crime especificado no artigo 111 do Cdigo Criminal quando, alm das declaraes unssonas datestemunhas, d-se a ingnua confisso dos prprios reos no interrogatrio e rases f. ahiconfesso elles que, reunindo cerca de 200 homens armados, tractaram de abstar a execuo deuma ordem emanada do subdelegado de policia do districto do Porto, e que na mesma ocasioderam voz de priso ao delegado do Termo. Ora cada um destes dous factos importa acapitulao do delicto de sedio. Os reos, em relao ao primeiro facto socorreram-se circinstancias q sendo provadas trar-lhes-hia a iseno do artigo 14 paragrafo 5 do CdigoCriminal. Mas preceito de lei expressa que a justificao dos crimes no compete appreciado juiso da instruo e sem a do juiso plenrio. [ fl. 85 ]

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    Tambm a segunda hypothese formulada pelo juis qu para julgar nullo todo oprocessado, nenhum cabimento tem. Em primeiro lugar no de boa hermenutica considerar

    civalos de nullidade substancial os actos judiciais praticados contra os eleitores e membros dmesas parochiais, por quanto os artigos 45 e 64 da lei de 19 de Agosto apenas concedem-lhesuma excepo dilatria e de forma alguma a excepo peremptria da aco cvel ou criminaEm segundo lugar essa innullidade nunca poderia ser pelos reos allegada de que no em comcioregulares, mas em duplicata eleitoral, foro elles proclamados mesrios e eleitores de parochia.

    No seria um absurdo suppor que o passo que a Cmara temporria annullasse as eleiesa q disem os reos haver procedido gosassem estes dos privilgios e garantias inerentes aoeleitorado. [ fl. 86 ]

    Finalmente errou o juiz qu quando fez extensiva a atrolviao aos demais reospronunciados que se achavo em liberdade, pois que sendo o crime de que se tracta inaffianavenenhuma diligencia para o livramento podio esses reos fazer seno depois de presos (artigo de17 de julho de 1843).

    Em vista do expedido, revogando a deciso de f. 81, mando que subsista a pronuncia de f.35 e 36, que j foi por mim sustentada em gro de recurso necessrio.

    O escrivo: Lavrei novamente os nomes dos reos no rol dos culpados. Excripo-se osmesrios mandados para a priso dos mesmos e pagem as custas.

    Januria do Amparo 25 de 8bro de 1872 .Luiz Affonso Junior, Juiz Municipal . [ fl. 86 ].

    Serafim Barbosa e Silva, inquilino da casa, onde supostamente estavam as armas, foichamado a depor, negou os fatos e conhecia alguns de longa data, outros de recente data, e negouo crime. [ fl. 88 ].

    J do Amparo 4 de dezembro de 1872.

    LibeloO promotor publico apresenta a denuncia contra os rus e os argumentos. Segue passo a

    passo com isto pede-se que lhes impem as penas do artigo 111 do Cdigo Criminal.Cidade de Januria 5 de novembro de 1872.

    O promotor publico,

    Paulino de Andrade Faria . [ fl. 93v ].

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    O Juis deve julgar o ru e o condenar nas penas do artigo 117 por se dar as circunstanciasaggravante no artigo 16 paragrafo 4 do referido Cdigo Criminal. Pede-se que se proceda

    recluso o preso, inticmadas as testemunhas para o seu julgamento.Termo de Januria do Amparo 6 de 10bro de 1872.

    O promotor publico,

    Paulino de Andrade Faria. [Fls. 94v].

    Contrariando o Libelo do promotor publico,Disem os R R presos abaixo assignados. E. L. N.Primeiro. Os R R disem que no dia apenas pediro cortesmente ao comandante que

    suspendesse a busca, at terminar a missa e que os moradores assistissem a tal busca e estavamapenas Manoel Caetano e Linceste Alexandrino. Segundo, a Fora agiu com toda violnciaquebrando a casa do Ricardo Lagoeiro onde estavam hospedados muitos votantes e nos foiintimado o inquilino da casa Joo R. Castro conforme a lei no era legal a busca (cdigo doprocesso Criminal artigo 189, a 193 de 3 de dezembro de 1841 artigo 10 e Regimento de 31 dejaneiro de 1842, artigo 120). [ fl. 98 ].

    Terceiro, o Reo Manoel Caetano de Souza e Silva, prevendo que hio ser realisadas as

    ameaas que publicamente fasio as aucthoridades quer nesta cidade, quer na do Amparo e pelafasendas, citios e moradas dos vottantes, que seos Liberais intentassem disputar-lhes a eleio quas levario ferro e fogo, prevendo que os preparativos bellicos ostentados no dia da eleiocontra a esprea disposio da ley e as prises arbitrarias de muitos vottantes desde o dia anteriosignificava um manifesto attentado contra a liberdade do votto, e conseguintemente contra osmais sagrados direitos e garantias dos cidados e recomendao do Governo convidou o povoque se aglomerou estupefactos e indignado no theatro das buscas, que se quisecem com elle

    resistir ao despotismo da Fora publica e o acompanhace.Quarto, a este convite. P P. acompanhou ao mesmo reo Souza e Silva cerca de 300

    vottantes e a Fora no deu busca na segunda casa e quebrou a porta por que as chavesdemoraram aparecer em vista do que provado est que em nada este reo e os outros muitomenos obstaro as buscas. [ fl. 98v ].

    Portanto, em quinto, que alguns dos reos procuraro armar o povo, se a populao inteiratomou armas sem convite de algum para fazer conter o direito de votto livre, calando as pela leyas ordens do Governo Geral e do Exmo. Senhor presidente da provncia em nada alterou-se aordem publica com a nobre attitude do povo, e pelo contrario, tudo immediatamente serenou e

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    logo que o delegado tomou em considerao as arbitrariedades que a Fora publica por ordem vocal do subdelegado supplente Ancelmo de Campos Pinto Mendes praticava e

    conseguintemente, que o povo se reuniu esse numero superior a 500 pessoas tinha intenespassificas e mesmo com os dois tiros da Fora em provocao, o povo se manteve em ordem edesarmando-se logo que os homenz sisudos e respeitosos afirmaro no continuar as violnciasdas authoridades graas a intervenes de nosso virtuoso Prelado dos sacerdotes que com elle seachavam e do delegado. [ fl. 99 ].

    E mais, assim pois, os R R a ordem no tendo os R R intentado por acto algum privar anenhuma authoridade do exerccio do seo emprego no intentaro os R R se opor a posse deauthoridade alguma, portanto no commetero o crime de sedio de que trata o artigo 111pedido no Libelo contra os R R pela promotoria, visto como no se dero nenhum dos trs casosexigidos pelo artigo citado para constituir crime imputado. E mais, que tudo era a pressa e ointeresse das authoridades em processar e perseguir os R R que sendo alguns delles membros dMesa Parochial e quase todos eleitores da quela Freguesia por mais que requeressem ao Juisformador da culpa impetrando o indulto da lei de 19 de Agosto de 1846 artigos 28, 45, e 64 nofora attendidas escoltas que por veses varejaro suas casas e as tocalharo em diveras pontapara os prender com mais vigoridade ao procedido com os crimes de morte. Allega ainda, osreos, que nem elles, reos, nem o povo commetteram crime algum e que a lei permite qualquercidado portar armas para se defender suas vidas e direitos de a muitos dia ameaados. Porquantque muitos dias antes das eleies as authoridades procuravo armar com todo empenhocompravo plvora e chumbo e fendio ballas, fasio cartuxame de publico, e com todafranquesa disio que havio de vencer a eleio ou corrio rios de sangue no ficando h nessonas vsperas sahio em caballos as authoridades puliciais, juis municipal por diveros districtoameassando com prises e at com pancadas a quem se atrevesse a votar com a opposio da

    liberdade do voto livre, pudia deixar de se assustar-se privinir-se para se defender quando atacadem seos direitos. [ fl. 99v ].

    Assim to bem, que se as buscas dadas no dia 19 de Agosto em que se devia principiar achamada dos vottantes foi em virtude do officio do promotor publico que se v nos autos,dactados de 14 de Agosto ao juis municipal, porque tais buscas no fora logo dadas, e se deixasspara o dia em que pelo artigo 108 da ley eleitoral aviso de 4 de maio de 1848 no podia havedestacamento no lugar onde se dava a eleio? E como estando o digno promotor naquellacidade tendo a 5 dias requerido essas buscas nos fez que o subdelegado a quem coube a tarefa dfazer as violncias mandasse lavrar os competentes mandados para que ao menos as apparencia

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    fossem salvas? Para que depois das buscas dadas no fez que se lavrassem os mais termosexigidos na ley? Ainda mais, que o senhor delegado de policia juis de direito interino havendo n

    dia 16 prometido ao Exmo. Bispo que no se dario as buscas e prises projetadas, de que apopulao se achava to assustada, o povo com essa segurana foi surpreendido com ainesperada busca do subdelegado supplente, mormente estando presente o delegado de policia eachando-se to bem na cidade o subdelegado Tenente Olympio Jos Pimenta so, mdio, erobusto, bem como o delegado seu digno pai no quererio manxar suas authoridades com umacto a niqu, violento, e anti-religioso como o que se deo na hora em que o Exmo. Preladocelebrava a vinte passos do trabalho das buscas. [ fl. 100 ].

    Alguns reos no sahio de suas casas armados, elles contivero essas pessoas para se fosspreciso auxilialllos na defesa de suas pessoas, visto como os buatos espalhados pelos Gustavos outros que tais eram que a Fora publica no deixaria com vida um s Liberal.

    Os reos estavam auxiliando o povo e a perseguio do promotor fez com que acusasse-lhes de crime de sedio onde no havia base. [ fl. 100v ].

    O reo Manoel Caetano de Souza e Silva no prendeo o delegado, nem liderou o povo. Odelegado intimou o Manoel Caetano Souza e Silva para pedir ao povo que deposse as armas, eeste perguntando-lhe quem dava aquella ordem respondeu que o fasia como delegado e ento o

    reo Souza e Silva returquiu a elle pois se por ordem de V S que esto commettendo tantas violncias e despotismo, esteja preso a ordem do povo, e respondeu o mesmo delegado que notinha dado ordem alguma para buscas e nem para priso depois do que lhe disse o mesmoManoel Caetano de Souza e Silva, neste caso retiro a ordem de priso e V S coloque-se o mesmdelegado demorou na casa do Capito Rocha foi por livre vontade. E que no pediu ao delegadoordem por escripto para desfazer a fora policial. [ fl. 101 ]. Portanto, allegam que nocommetteram crime de sedio, nestes Termos os reos pedem absolvio.

    Manoel Caetano de Souza e SilvaRicardo Gomes Lagoeiro

    Marcelino Isidoro de Mello

    Vicente Antonio de Castilho

    Francisco de Ozeda Alla

    Seraphim Barbosa da Silva

    Jos Antonio Pereira de Meirelles

    Martiniano Jos Cabelludo

    Antonio da Silva Couto

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    Linceste Alexandrino de Salles

    Onofre Jos da Cunha Sucupira

    Joaquim Dias Moreira Januria do Amparo, 7 de 10bro de 1872 . [ fl. 101v ].

    Testemunhas de defesaCarlos Jos DAzevedo, Joo Ribeiro de Castro, Pedro Roiz Albano ex. praa do

    Destacamento, Quirino Pera. da Silva, Romualdo de Tal, Jos Theodoro. [ fl. 103 ]. J. do Amparo 11 de 10bro de 1872 . [ fl. 109 ]. Alegam que no estavam no local da busca, por isso no era sedio. O promotor acusa-

    os de cabeas de sedio e no Libelo de cmplices e exige que elles sejo julgados na Comarca Jequitahi. Os rus alegam perseguio. [ fl. 113 ].

    Na verdade como reconhece e dis Rossi: importa aos indivduos e a sociedade que tem odever de os proteger, sustar o crime em sua carreira e favorecer a desistncia voluntaria do maintencionado. E mais, o interesse q tem a sociedade h punio dos pequenos delictos explicaRossi, j to fraca, que elle se torna quase nullo, se no se tracta mais q de simples tentativa. [ fl.113v ]. Todo crime ou delicto compe-se de dois elementos, o elemento material que nos indicado pelas palavras aco ou omisso, e o elemento moral indicado pelo objectivoqualificativo voluntario. Rossi dis: os preparativos e o principio de execusso so cousasdifferentes por sua natureza. Como dis Ortolau: o tippo de delicto de sorte que, os outrostermos, que delle se aproximo mais ou menos sem attingir, no so de facto se no os seus

    diminutivos. [ fl. 114v ]. Ahi, entende o promotor, e o MM Juis municipal 2 substituto que decretou a pronuncia

    reccorrida pronunciado os reccorrentes em crime de tentativa de sedio em que nos fez lembrar

    de ter lido em Worne Toshe, celebre escriptor Ingles, achando-se presente na audincia quando ojuis acabava de pronunciar o autor uma canso por crime de sedio disse voltando-se para oacusado: se for eu o acusado, cantaria uma canso no tribunal, para que o Jury decidisse que sedio, que no se continha nas palavras e factos, tinha-se refugiado na musica. Porque s assimpoderia a vossa canso ser criminosa de sedio. [ fl. 115 ].

    Maldito o juis q a este recurso da malicia humana tira: dis o Conde de Merlin e com elle apraticas mais esclarecidas e esperimentadas nas matrias forenses ope e nos aconselho aseguinte mxima: As testemunhas para q mereo f devem ser integras, famos f. victa inculpat[ fl. 115v ].

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    Agora vai este processo ser conhecido e applicado com discernimento e critrio fcil terde ser desagravado a ley pelos Illustrados juises a que adquirio e respeitosamente acatados o

    foros dos reccorrentes e dos demais cidados injustamente presos em conseqncia dumapronuncia por um crime imaginrio, tendo certo ser de uma neccessidade patente a todas as vistas a improcedncia do presente processo por falta da base essencial da existncia do factocriminoso. Confiados os reccorrentes nas leis que garantem seos direitos e nos ministros de suaexecuo espero o triunfo da innocencia com favorvel provimento e justia. E assim

    Assinado,

    Antonio da Silva Couto,

    Onofre Sucupira,

    Linceste Alexandrino de Salles . [ fl. 116 ]. J do Amparo 15 de 10bro de 1872.

    Amparo 18 de 10bro de 1872.

    O promotor

    Paulino de Andrade Faria.

    As rases addusidas por parte dos recorrentes so inspeciosos e no procedem, a historia

    diz tudo: durante os comcios do ms de agosto havia grande excitao de espritos corria mesmo boato de que alguns partidistas protestavo triunphar, ainda q lhes fosse necessrio levar tudo aferro e fogo. [ fl. 118 ]. Com isto houve denuncia de armamento na casa mencionada, apareceu oSouza e Silva e convocou o povo, eram mais de 200 pessoas.

    E quando hio os criminosos prosseguir em mais graves attentados, quando hio investire fazer fogo contra as authoridades e a fora publica em seus prprios quartis, apparecofelismente o venerando Bispo da Diamantina, por cuja interveno e pedido vieram elles

    desarmar-se. [ fl. 118 ].Ora, o artigo 111 do Cdigo Criminal considera sedio o ajuntamento de mais de 200

    pessoas armadas todas ou parte dellas para obstar a execuo e cumprimento de qualquer acto

    ou ordem legal de legitima authoridade, ou para privar o empregado publico do exerccio de seuemprego. Fls. [ fl. 118v ].

    No derramaram sangue, no commettero homicdio algum. Subsiste porm, em todo ocaso o delicto de sedio, cujos elementos todos preencheram-se. [ fl. 119 ]. E mais todas astestemunhas provam ter visto os reos, e so provas phemissima e concludente.

    Januaria do Amparo 19 de 10bro de 1872.

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    Luiz Affonso Fernandes Junior Juiz Municipal.

    Em seguida o juiz faz a remessa dos autos ao escrivo do jury de Montes Claros, com o

    despacho de fls. 120v. [ folha em branco ]No dia 24 na cidade de Montes Claros Comarca de Jequitahy faz remessa dos autos ao

    escrivo do Jury de Itapirinaba, alegava o Juis ser o termo de Januaria incompetente para julgacrimes de sedio. [ fl. 125v ].

    Os ros pedem para serem julgados em Januria, pois o crime pertence mesma e no de Jequitahy. J. Amparo. 11 de 10bro de 1872.[ fl. 127 ].

    Os suplicantes dirigem se ao Juiz, informados tardiamente da remessa do processo para aComarca de Jiquitahy, e pedem q sejo julgados mesmo em Amparo, visto que j est tudopronto. [ fl. 128 ].

    Os reos presos contestam porque esto sendo remetidos para Montes Claros sendo que o mais distante Termo Jurdico na regio de Januria, pois est a 32 lgoas daquela cidade 30 vila do Carinhanha e 28 a Vila Risonha de So Romo, occorrendo mais q para qualquer dosltimos pontos tem a navegao por aga q em tudo facilita a viagem dos supplicantes, algundos quais no podem andar a cavalo como o OZeda Alla, q foi p para priso. Com estasconsideraes os supplicantes pedem ao Juis que os remettem para uma destas ultimas. Que lhefaria justia.

    Manoel Caetano de Souza e Silva

    Ricardo Gomes Lagoeiro

    Marcelino Isidoro de Mello

    Vicente Antonio de Castilho

    Francisco de Ozeda Alla

    Seraphim Barbosa da Silva Jos Antonio Pereira de Meirelles

    Martiniano Jos Cabelludo

    Antonio da Silva Couto

    Linceste Alexandrino de Salles

    Onofre Jos da Cunha Sucupira

    Joaquim Dias Moreira

    O Juiz nega alegando ser eqidistante as sedes destes municpios.

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    Amparo, 11 de 10bro de 1872. [ fl. 128v ].. [ fl. 129 ].Procurao bastante que faz Manoel Caetano de Souza e Silva, Que por este publico

    instrumento de nomeao e constituio por seos bastantes procuradores na cidade de MontesClaros e Corte do Rio de Janeiro aos senhores, doutores Antonio G. G. Chaves Junior, CapitoCezario Jos da Motta, doutor Theophilo Carlos Benedicto Ottoni com especialidade para cadahum de por cy defender o direito delles pronunciados pelo crime de tentativa de sedio emtodos os Tribunais do pas.

    Manoel Caetano de Souza e Silva [ fl. 130v ].

    No dia 24 de dezembro a remessa feita ao Termo de Januria e recebida no dia 02 dejaneiro. Fls. 132.

    O Juiso do Termo da Comarca de Jequitahy declarou incompetente para julgar os reos. [ fl.132v ].

    Trata-se de um crime de sedio verificado neste municpio, e segundo o preceito da lei

    de 3 de 10bro artigo 93 e foro competente para o julgamento o do Termo mais visinho. No Termo Comarca ou Provincia em que houver sedio ou rebellio e embaraada pelascircunstancias e extraordinrias para que se no paralise a administrao da Justia publica aauthoridades visinhas passo a ser competentes at para conhecerem desses crimes. Isto para odelictos de qualquer natureza para o de sedio ou rebellio porm que no possvel julgar-sem quanto est em acto o Jury local sempre suspeito, pois affutando o crime a ordem publica eenvolvendo grande numero de indivduos moralmente impossvel que algum deixe de esposa

    ou a causa do movimento criminoso, ou a da legalidade, como, porm, o nobre juis de direito deMontes Claros recusa-se a presidir ao Jury respectivo; ordeno ao escrivo que faa remessa doautos ao senhor Juis Municipal daquela Villa, afim de tratar dos ulteriores preparos e submetter

    opportunamente o processo julgamento. [ fl. 133 ]. J. Amparo 5 de janeiro de 1873.

    Luiz Affonso Fernandes Junior Juiz Municipal

    . [ fl. 133v ].

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    Os reos pedem ao Juis que julguem os factos e os devolvam a liberdade que j no lhespertence h mais de 4 meses. [ fl. 135 ].

    Manoel Caetano de Souza e Silva, Tenente Coronel Comandante da G. N. desta provnciapor S. M. o Imperador q Deos Guarde, faz uma procurao nomeando seus procuradores legaisem S. Romo os seguintes: Sr. Luis Mer= Gandra, Francisco Joaquim de Carvalho e UmbelinoGomes da Lus. [ fl. 137 ].

    Os reos sabendo da incompetncia de Montes Claros para julg-los pedem que sejaremettidos para a Comarca do Rio de So Francisco com sede em So Romo.

    O Juiz de Montes Claros no aceitou o caso porque alegou no haver crime de sedio. O Juiz de Januria no aceita tal fato e protesta. E ainda diz ser a Comarca do R. So Franciscocompetente para o caso. [ fl. 139 ].2 de janeiro de 1873. [ fl. 139 ].

    O Juiz de S. Romo diz ser o Termo competente.15 de janeiro 1873.No dia 21 de janeiro foi entregue ao escrivo uma petio pelo procurador do Manoel

    Caetano de Souza e Silva, Umbelino, despachada pelo 2 suplente Juiz Municipal HonrioHermitto dos Santos. [ fl. 141v ].

    Pelo procurador, Manoel Caetano de Souza e Silva diz que o Tribunal competente ficoupara o dia 15 prximo vindouro para a reunio do Jury, para fazer a requisio dele e dos co-reopara este Termo a fim de ser preterido qualquer forma de defesa na forma da lei.

    No dia 24 de janeiro foi entregue o Libelo acusatrio por parte do promotor. [ fl. 144v ].

    LibeloPresos, Manoel Caetano de Souza e Silva, Onofre Jos da Cunha, Alferes Marcelino,

    Francisco Vicente de Castilho, Serafim Barbosa, ausentes Ricardo Lagoeiro, Linceste

    Alexandrino, Francisco de Ozeda Alla, Joaquim Dias, Martiniano, Antonio da Silva Couto, Jos Antonio Pinto Meireles. Afianado o Cap. Jos Joaquim da Rocha. [ fl. 145 ].

    Por isso o promotor pede a condenao dos reos no grau Maximo do artigo. 111. [ fl. 146 ].Rol das testemunhas..

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    A lista foi divulgada e convida a todos os interessados a comparecerem no Consistorio daIgreja Matriz na Sala das Sesses do Jury no dia 15 as 10 horas da manh.

    O Juiz de Januria envia um oficio dizendo, no dia 1 de fevereiro saram os reos de Januria para So Romo, e estavam sob a guarda do Tenente Coronel Manoel Ferreira da Silv Wanderly. [ fl. 150 ].

    No dia 29 de janeiro o Juiz de Januria convoca as testemunhas a comparecerem no Termo de So Romo.

    .

    O carcereiro Infirino Nobre Leal recebe os reos no dia 13 de fevereiro de 1873.Foi entregue a todos os rus o Libelo de acusao, e pediu que eles entregassem a

    contrariedade por escrito. [ fl. 157v ].

    E L NContrariedade do Libelo por escrito

    Eles dizem que, tendo a Fora Publica constantes de 40 Praas do Destacamento e mais de 100indivduos de m catadura, entre estes alguns Guardas Nascionais sem ordem escripta deauthoridades alguma, prendido no dia 17 e 18 muitos votantes do partido da opposio, semmotivo legal occorreu que no dia 19 antes da primeira chamada dos votantes e na hora dacelebrao do Bispo na Matriz, essa mesma Fora em numero de 30 Praas investio a baionetcallada sercou e arrombou as portas das casas visinhas a Matriz, propriedade de Ricardo GomeLagoeiro, sem mandado e sem estarem presentes os inquilinos, varrijaro as duas moradas,

    arrombando portas e quebrando trastes como nunca visto furor a pretexto de procurararmamento, no sendo porm outro fino mais que o terror e escurraar os votantes hospedadosnaquellas casas. [ fl. 159v ]. Diziam ainda que tentaram convencer o Juiz de Paz presidente da Mesao Tenente Honorrio do Exercito, Olimpio Jos Pimenta, Juis de Paz Joaquim Ferreira de Souza,e pediram que respeitassem o ato religioso que se dava a 15 passos de distancia. Neste acto, o Tenente Joaquim Ferreira de Souza estava de espada e revolveu na mo e ameassava o reoCastilho que estava na porta que dava entrada para o interior da casa, abandonando porm aporta para no ser victima daquelle 2 Comandante. [ fl. 160 ].

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    P P, e mais, que em vista de to inexperadas violncias arbitrariedades, e depois de ter oscomandantes desenganado aos R R supra referidos de que no suspendio por um s minuto o

    acto das buscas e que pelo contrario tinho mais que fazer foi ento que o Reo Souza e Silvaprotestando em altas vozes no consentir que a ley fosse por tal forma postergada e os maissagrados direitos dos cidados calcados a paz convidou aos cidados amigos da ordem e daliberdade do voto, que o accompanhassem para tomar as armas obrigar a Fora Publica respeitara ley. [ fl. 160 ].P P que neste acto no apareceu authoridade alguma no conflito, mas quando os R R acimanomeados retiraro-se para suas casas chegou na porta da Igreja o Juis de Direito interino, Luiz Affonso Fernandes, de revolver em punho acompanhado de serca de 3 homens seoscompanheiros e amigos, armados de pistollas garruxas, faces e clavinas investindo, insultando provocando a quanto cidados exprobavo to inslito procedimento.E que a inteno era armar o povo dentro dos limites da ley para repelir as authoridades de atosarbitrarios e que no promovessem um cataclisma sanguinolento.E que o delegado agindo por influencia de amigos se dirigiu ao maior numero de votantes e pediupara que depusessem as armas, ento recebeu ordem de priso do reo Souza e Silva em nome dopovo e a bem da ley. O delegado no mesmo momento disse que no deu ordem nenhuma para aFora dar busca nem sahir do quartel e pediu para Souza e Silva pedir para o povo largar as armaque ele faria a Fora se dirigir ao Quartel, e deu sua palavra de honra. Dizem ainda que ambosforam para seus lugares e restaurou a ordem. Dizem que no teve nenhum acto de crime desedio exigido no artigo 111. [ fl. 161 ].Dizem que por motivo de fora maior as testemunhas no puderam comparecer a Villa de SoRomo e que intimem os cidados desta Vila que foram testemunhas ocular.P P que segundo os direitos os R R pedem a absolvio e para que assim se julgue offeressem

    presente contrariedade que espero seja recebida afinal julgada provada. P P R e C de Justia. Manoel Caetano de Souza e Silva

    Ricardo Gomes Lagoeiro

    Marcelino Isidoro de Mello

    Vicente Antonio de Castilho

    Francisco de Ozeda Alla

    Seraphim Barbosa da Silva

    Jos Antonio Pereira de Meirelles

    Martiniano Jos Cabelludo

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    Antonio da Silva Couto

    Linceste Alexandrino de Salles

    Onofre Jos da Cunha Sucupira Joaquim Dias Moreira

    Testemunhas, Fortunato Nunes Vasallo, Guerino Pereira da Silva, Jos Ignacio da Silva Villa de So Romo em custodia 13 de fevereiro de 1873. Assinado,

    Manoel Caetano de Souza e Silva,

    Vicente Antonio de Castiho,

    Marcelino Barbosa da Silva,

    Francisco de Ozeda Alla,

    Martiniano Jos Barbosa Cabelludo. [ fl. 161v ]. Antonio Vicente de Castilho pede do delegado de Januria que ele ateste se o mesmo foi presoinsultado pelo grupo e mais.

    Oficio

    Atesto e juro sendo necessrio q no dia 19 de agosto do corrente anno, conduzindo eu para suacasa o capito Jos da Rocha fui scercado no terreiro da caza por huma fora anarchica de 200homens mais ou menos capitaneada pelo Tenente Coronel Mano