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OS CONDICIONANTES FÍSICOS E A OCUPAÇÃO DO SOLO NA CIDADE DE ITAJUBÁ: UMA ANÁLISE DA PROBLEMÁTICA DA

OCORRÊNCIA DE ENCHENTES

Roseana Corrêa GRILOCelina FORESTI (in memoriam)

Maria Isabel C. F. VIADANA

Introdução

O aumento da população e a ampliação das cidades deveriam ser sempre acompanha-dos do crescimento de toda a infra-estrutura urbana, de modo a proporcionar aos habitantes uma mínima condição.

O processo de urbanização tem sido feito geralmente, provocando alterações na drenagem natural das águas pluviais. Essas mudanças ocorrem devido a fatores como: aterramento de cursos d’água e mananciais superficiais; desmatamento; ocupação de áreas de amortecimento de cheias; assoreamento dos recursos hídricos, como conseqüência da erosão do solo e dos lançamentos de esgotos e lixo; impermeabilização do solo; retificação e canalização de cursos d’água; execução de obras artificiais de drenagem (MOTA, 1999).

O objetivo geral desta pesquisa é avaliar os condicionantes físicos e a ocupação do solo na cidade de Itajubá, como fatores explicativos de ocorrência da enchentes, visando a uma proposta de desenvolvimento sustentável.

Como objetivos específicos temos: 1) Avaliar a estruturação do espaço urbano, pela elaboração do mapa do uso do solo com as respectivas classes de uso; 2) Estudar as carac-terísticas físicas da cidade para, junto com o mapa do Sistema Pluvial Urbano, contribuir com os estudos sobre os problemas ambientais relacionados com o escoamento superficial da área; 3) Monitoramento das alterações ocorridas na estrutura urbana associadas ao uso do solo e levantamento histórico de eventos de enchentes.

Fundamentação Teórica

O espaço urbano tem uma existência concreta e real enquanto materialização do trabalho social.

No entanto, aparece apenas em sua dimensão natural, como natureza, que na verdade é o fundamento inicial para a produção do urbano. Com o desenvolvimento da civilização, o homem se produz enquanto ser humano e social a partir da dupla relação natureza–homem de um lado e de outro da relação com os homens entre si, segundo Carlos (1994).

O trabalho de Gens E Tucci (1995) afirmam que os principais impactos decorrentes do processo de urbanização sobre o ciclo hidrológico resultam da ocupação do solo. No espaço

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urbano as atividades antrópicas diversificadas, contribuem para redução da porcentagem da água que infiltra no solo; a rugosidade das superfícies é reduzida; os pequenos canais da drenagem natural são substituídos por tubulações subterrâneas; os canais da drenagem natural são retificados e revestidos; e os planos de escoamento superficial são pequenos.

Considerando a cidade um sistema aberto, o processo de organização espacial tem como ponto fundamental o uso do solo, no qual a organização espacial é uma unidade inte-grada, composta por diversos elementos que se expressam na estrutura espacial e interagem pelos fluxos de matéria e energia, portanto é sistêmica.

Segundo Christofoletti (1980) a bacia de drenagem é definida como: “ [...] a área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial. A quantidade de água que atinge os cursos fluviais está na dependência do tamanho da área ocupada pela bacia, da precipi-tação total e de seu regime, e das perdas devidas à evapotranspiração e à infiltração.” As bacias hidrográficas integram uma visão conjunta do comportamento das condições naturais, que envolvem vegetação, solo, condições climáticas, fluxo fluvial, condições litológicas e o relevo da bacia constituído pelos topos de interflúvios, vertentes e fundos de vales bem como as atividades humanas nelas desenvolvidas, uma vez que mudanças significativas em qualquer dessas unidades podem originar alterações ou impactos ambientais ao longo da bacia, desde a entrada de energia até a saída dos fluxos energéticos.

As enchentes são fenômenos naturais que podem ocasionar a inundação de áreas ribeirinhas, quando a vazão ultrapassa a capacidade dos canais de escoamento. As inundações contribuem para a origem das planícies aluvionares, formadas pela deposição de material sólido, carreado por sucessivas cheias. Elas podem ser intensificadas pelo homem, em vis-ta de alterações no solo da bacia hidrográfica, como o desmatamento, o desnudamento, a urbanização e a impermeabilização do solo (BARTH; POMPEU, 1987).

Nos estudos de planejamento urbano, as técnicas de sensoriamento remoto tem sido utilizadas para o mapeamento do uso e ocupação do solo urbano e no diagnóstico dos pro-blemas ambientais urbanos, dando uma grande contribuição no adequado gerenciamento desse espaço.

No estudo do uso do solo urbano, Foresti e Hamburger (1991) comentam que as técnicas de sensoriamento remoto podem ser divididas em duas categorias a análise de informações orbitais e a análise de informações obtidas através de fotografias aéreas.

As fotografias pancromáticas correspondem a fotos em branco e preto, apresentam registro em diferentes tons de cinza e são sem dúvida as mais utilizadas em trabalhos de mapeamentos. Os autores Pereira, Kurkidjian e Foresti (1989) apresentam como principais vantagens: a facilidade de manuseio e processamento além do custo relativamente baixo. Porém, elas apresentam algumas desvantagens como: os objetos são registrados em tons de cinza; há ausência de limite de cores, o que diminui a percepção.

Outros trabalhos, com o uso de fotografias aéreas aplicadas em estudos urbanos, podem ser citados como: Jensen (1983), Pereira et al. (1989), Lombardo e Machado (1996), Zimmermann (1993).

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visões geográficas

Nos estudos geográficos a localização espacial é muito importante para definir ou individualizar um fenômeno geográfico, no contexto da superfície terrestre, pelo uso de um sistema de coordenadas.

Dessa maneira, os Sistemas de Informações Geográficas podem contribuir para estu-dos geográficos, pois um SIG é definido como um sistema de informações que utiliza dados referenciados por coordenadas geográficas ou espaciais, utilizando um meio computacional (STAR; ESTES, 1990).

Sob essa ótica de abordagem Câmara e Medeiros (1996), destacam a capacidade de um SIG integrar, numa única base de dados, informações espaciais provenientes de dados cartográficos, dados de censo e cadastro urbano e rural, imagens de satélite, redes e modelos numéricos de terreno; oferecer mecanismos para combinar as várias informações, através de algorítimos de manipulação e análise, bem como para consultar, recuperar, visualizar e plotar o conteúdo da base de dados georreferenciados. Sendo assim, os Sistemas de Infor-mações Geográficas voltados para aplicações urbanas, constituem uma especialidade dentro dos SIG como disciplina. O tratamento de informações georreferenciadas urbanas pode ter dois objetivos principais: o planejamento e o controle do solo para fins de tributação imobiliária (cadastro).

Caracterização da Área de Estudo

O município tem uma área de 281 km2 e localiza-se à 22º25’30” de latitude Sul e a 45º27’20” de longitude Oeste. Este município de Itajubá limita-se, ao norte, com os municípios de São José do Alegre e Maria da Fé; a leste, com Delfim Moreira; ao sul, com Venceslau Brás e Piranguçú; a oeste, com Piranguinho. Conta apenas com o distrito – sede que é o Lourenço Velho (GUIMARÃES, 1987).

O espaço urbano de Itajubá tem como coordenadas planas UTM, os pontos 457600m E; 448000 m E e 7522000 m N; 7517000 m N (Figura 1).

Analisando a geomorfologia da área, o município localiza-se, numa escala pequena, no Planalto Atlântico do Sudeste, do qual a serra da Mantiqueira é o bloco mais elevado e interiorizado e subdivide-se em três feições morfológicas distintas: as escarpas da serra, o planalto de Campos do Jordão e o Alto vale do Sapucaí. A feição onde se encontra Itajubá é a do Planalto de Campos do Jordão, onde os componentes do relevo tem áreas elevadas, porém apenas alguns trechos mantém-se semi - aplainados com morros com encostas con-vexas (KAEFER et al. 1979).

Guimarães (1987) comenta que, o espaço urbano de Itajubá está a uma cota média de altitude de aproximadamente 848 m, embora o município tenha cotas de altitude que variam de 800 m a 1300 m, aproximadamente. Em relação ao clima que predomina na área, Guimarães (1987) comenta que: “o clima da região é do tipo tropical mesotérmico – brando úmido, de temperaturas amenas durante todo o ano (a média anual varia em torno de 18ºC e 19ºC), o que explica pela orografia. Trata-se de clima Cwb, de acordo com a classificação de Koppen. A pluviosidade média é de cerca de 1400 mm por ano.” O período mais seco

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Figura 1 - Localização da Cidade de Itajubá - Minas Gerais

Org. Roseana Corrêa Grillo

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visões geográficas

também é julho, mês em que ocorrem as mais baixas temperaturas (em torno de 16,5ºC). A estação seca estende-se de maio a setembro e o mais chuvoso é, em geral, janeiro. Esse tipo climático também é denominado “tropical de altitude”, pois é característico de terras altas (KAEFER et al., 1979).

A cobertura vegetal primitiva da maioria dos estados do centro-leste do Brasil está sendo continuamente devastada, desde a época dos primeiros colonizadores, mas ainda hoje observa-se algumas manchas dessas primitivas florestas. Segundo Atlas Nacional do Brasil (1966), citado por Kaefer et al. (1979), a floresta mesófila pela localização, numa escala de 1:2.500.000, ocorre no município de Itajubá e trata-se de uma formação vegetal estacional, latifoliada, subcaducifólia, tropical pluvial. Itajubá é uma cidade de porte média do sul do Estado de Minas Gerais que em 1996 já contava com uma população de 78.444 habitan-tes. No início da sua fundação (19/03/1819) o desenvolvimento econômico se baseou nas atividades primárias agricultura do milho, arroz, feijão, fumo e café.

Com o passar dos anos ocorreu o processo de crescimento e expansão com o início do desenvolvimento industrial a partir da década de 70, com os ramos mecânico e eletro - eletrônico, várias fábricas se instalaram e dentre elas a IMBEL, Helibras, Gec Alsthom, T & D MASA S.A. – BATEAU, STABILUS, CABELAUTO e CABELTE.

Procedimentos metodológicos

Neste trabalho foi utilizado a perspectiva sistêmica, o espaço a ser analisado é compos-to pela cidade de Itajubá que é cortada por uma bacia hidrográfica, na qual os imputs e output de matéria e energia ocorrem entre os elementos que integram o sistema, e com o exterior.

Ao longo desta pesquisa foi realizado um expressivo levantamento bibliográfico, no início e durante as outras etapas do trabalho na medida que se fazia necessário, para a fundamentação teórico - metodológica.

Para esta pesquisa utilizou-se o seguinte material: Carta topográfica SF-23-Y-B-III-3, do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral – IBGE – Carta do Brasil, escala 1:50.000, 1971; Planta da cidade de Itajubá – MG com as quadras e a drenagem fluvial na escala 1:10.000 de 1992, atualizada em 1999, elaborada pela Prefeitura Municipal de Ita-jubá; Carta Altimétrica da cidade de Itajubá – MG de 1991, escala 1:20.000 elaborada pela Prefeitura Municipal de Itajubá; Planta do Sistema Pluvial Urbano de 1992, atualizada em 1999 na escala 1:10.000 e elaborada pela Prefeitura Municipal de Itajubá; Fotografias aéreas pancromáticas, escala 1:8.000, da EMBRAFOTO adquiridas na CEMIG (Centrais Elétricas de Minas Gerais); do Planejamento e Coordenação Geral – IBGE – Carta do Brasil, escala 1:50.000, 1971; Planta da cidade de Itajubá – MG com as quadras e a drenagem fluvial na escala 1:10.000 de 1992, atualizada em 1999, elaborada pela Prefeitura Municipal de Itajubá; Carta Altimétrica da cidade de Itajubá – MG de 1991, escala 1:20.000 elaborada pela Prefeitura Municipal de Itajubá; Planta do Sistema Pluvial Urbano de 1992, atualizada em 1999 na escala 1:10.000 e elaborada pela Prefeitura Municipal de Itajubá; Fotografias aéreas pancromáticas, escala 1:8.000, da EMBRAFOTO adquiridas na CEMIG (Centrais

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Elétricas de Minas Gerais); Programas de computador como o Auto Cad R-14, o Surfer 6, o IDRISI for Windows versão 2.0 e o Corel Draw versão 7; Jornais do Sul de Minas, de 1945 até 2000, que destacam eventos importantes de enchentes em Itajubá, dados levantados em trabalho de campo como documentação e entrevistas na Prefeitura de Itajubá; levantamento de dados junto a funcionários do SEBRAE de Minas Gerais, que trabalham no posto de atendimento de Itajubá; Medidas de marcas em pontos da cidade deixadas pela enchente de 2000. As cartas foram todas digitalizadas em AutoCad – R14.

Com as fotos aéreas realizou-se a fotointerpretação e obteve-se o mapa de uso do solo da cidade baseado nas propostas metodológicas de Pereira, Kurkidjian e Foresti (1989) além de Carrara (1992). As classes obtidas foram: 1)Residencial unifamiliar; 2)Residencial multifamiliar; Convencional serviços; 4)Uso Institucional; 5)Loteamentos; 6)Áreas desocu-padas; 7) Áreas com vegetação nativa (matas); 8) Industrial; 9) Cursos e Canais de Água; 10)Uso Agropecuário; 11) Transporte; 12) Solo exposto.

Foi em seguida, elaborada a Carta de Declividade com o auxílio do ábaco. Os dados da carta de curvas de nível da cidade em arquivo do AutoCad 14 dwg foram trabalhados no Surfer 6 , com o qual elaborou-se o Modelo de Terreno Digital e exportando os dados no arquivo grd para o Idrisi, foi construída uma carta de declividade da cidade. A carta em ábaco demonstrou melhor a realidade do terreno acidentado, se comparada com a carta produzida com a utilização do Idrisi.

A escolha das classes de declividade foi baseada na proposta de CRUZ (1974) para área com grandes declividades. As classes são as seguintes: Classe A: d £ 2%; Classe B: 2 < d < 5%; Classe C: 5 < d < 10%; Classe D: 10 < d < 20%; Classe E: 20 < d < 30%; Classe F: 30 < d < 40%; Classe G: d ³ 40%.

Numa nova etapa, elaborou-se o mapa geomorfológico da área com a fotointerpretação das 59 fotos aéreas para se obter as unidades geomorfológicas da área e assim, a própria delimitação da planície de inundação. As classes obtidas de unidades geomorfológicas obe-decendo a proposta de Tricart (1965), BRASIL (1983) e Guerra (1987) foram: 1.1– Relevo Degradado (K); 1.2 – Relevo Degradado (destaque para a ação antrópica (KA); 2– Relevos de Agradação (A); 2.1 – Acumulação de Planície e Terraço Fluvial (APTF); 2.2 – Acumu-lação de Planície Fluvial (APF); 2.3 – Acumulação de Terraço Fluvial (ATF); 2.4 – Terraço Fluvial (TF); 2.5 – Rampa de Colúvio (RC); 2.6 – Rampa de Colúvio e Terraço Fluvial (RC + TF); 2.7 – Rampa de Colúvio e Acumulação de Planície Fluvial (RC + APF); 2.8 – Rampa de Colúvio e Acumulação de Terraço Fluvial (RC + ATF); 2.9 – Zona de Colúvio (ZC); 2.10 – Leque de Acumulação Torrencial (LAT); 2.11 – Meandros Abandonados (MA). Esse mapa foi digitalizado em AutoCad R-14 e os dados foram exportados para o IDRISI 2.0.

Após a elaboração da Carta de Declividade com o uso do IDRISI 2.0, estes dados foram cruzados com os dados exportados para o IDRISI do mapa com as unidades geo-morfológicas de Itajubá. Além disso, foram cruzados com o auxílio do mesmo programa, os dados das classes da carta de declividade com os dados das classes do mapa de uso do solo de Itajubá. Numa outra etapa, usando o mesmo SIG (IDRISI) foram cruzados os dados das classes do mapa de uso do solo com os dados das classes de unidades geomorfológicas de Itajubá. Esses passos da pesquisa buscaram extrair resultados para melhor identificação

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visões geográficas

e análise da ocupação desse espaço. Foi elaborado também três perfis topográficos (A-B; C-D; E-F) do espaço urbano de Itajubá e numa última etapa elaborou-se o mapa com a localização das fotos da drenagem urbana e os pontos da enchente ocorrida em janeiro de 2000, destacando o rio Sapucaí e seus afluentes na cidade de Itajubá. Com todos esses dados em mãos, foi possível a realização deste trabalho.

Resultados e Discussão

A estruturação urbana, o uso do solo e os condicionantes físicos em Itajubá–MG

A cidade de Itajubá se desenvolveu ocupando principalmente a parte ao norte do rio Sapucaí, onde concentrou a grande maioria das funções urbanas, como: a Prefeitura Muni-cipal, Fórum, Hospital Santa Casa de Misericórdia, cinemas, hotéis, serviço telefônico, de energia elétrica e correio, comércio, terminal rodoviário, estação ferroviária, escolas entre outras funções. Num momento seguinte, a expansão urbana ocupou a parte ao sul do rio Sapucaí, onde outras atividades urbanas se desenvolveram como a expansão do comércio, o mercado municipal, a faculdade de Medicina, o Centro Comunitário, o SENAI, a estrada de rodagem (BR-459), que corta a cidade e interliga à Rodovia Fernão Dias (BR-381 – Belo Horizonte – São Paulo), saindo no sentido noroeste, e à Rodovia Presidente Dutra (BR-116 – SP-RJ), saindo à sudeste.

A estruturação urbana bem como o uso do solo, foram marcadas pelos condicionantes físicos naturais e vetores de atração (por exemplo o escoamento de produção através de estradas de rodagem e da ferrovia), que surgiram no decorrer dos anos, impulsionando a ocupação e conseqüente concentração da população na região central da cidade e linear, ao longo do curso do rio principal, o Sapucaí e seus afluentes.

O mapa do uso do solo do espaço urbano de Itajubá, tem doze classes de uso do solo bem distintas e demonstram, de forma clara e objetiva como o espaço itajubense foi ocupado até o período citado de 1981, como discuti-se a seguir: Classe 1-Residencial unifamiliar: Observa-se uma maior concentração desse tipo de moradia no centro e bairros próximos, como é o caso dos bairros Porto Velho, da Vargínia, do Oriente, do Morro Chic, do Pinhei-rinho, do Boa Vista e até do bairro Avenida; Classe 2-Residencial Multifamiliar: Classe extremamente reduzida, estando presente predominantemente na área central da cidade. Em 1981 o processo de verticalização de Itajubá estava no início, hoje, porém, devido ao desenvolvimento da cidade em anos mais recentes têm ocorrido grandes investimentos na construção de prédios e edifícios, contribuindo para a verticalização rápida da cidade; Classe 3-Comercial e serviços: Nessa classe são incluídos os hotéis, hospitais, prédios de órgãos públicos federais estaduais e municipais, rede bancária que tem crescido nos últimos anos, mercado municipal, agências de correios e escritórios de empresas privadas. A localização dos componentes dessa classe se concentram principalmente no centro da cidade; Classe 4-Institucional: A relativa parcela da classe institucional encontra-se no centro da cidade e em alguns outros bairros como por exemplo, o bairro da Vargínia, o bairro Oriente, o Cru-zeiro, o Porto Velho, a Avenida, entre outros; Classe 5 - Loteamento: Nessa classe foram

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consideradas como loteamento tanto as áreas em início de ocupação, como também as áreas, onde somente aparece demarcado o sistema viário sem nenhuma ocupação humana. Os loteamentos estão bem representados nos bairros periféricos como na Vila Póddis, no Santa Luzia, na Santa Rosa, na Vila Rubens, no Açude, no Santos Dumont, no São Sebastião, na Cantina , no Nossa Senhora de Fátima e no Rebourgeon; Classe 6 -Áreas desocupadas: Essa classe conta com áreas que estão presentes em vários locais da cidade, embora se destaquem mais na parte oeste da cidade. Como exemplo as áreas do bairro da Vila Póddis, do Distrito Industrial e das Nações; Classe 7-Matas: Constata-se que nessa classe, existem algumas poucas áreas com esse tipo de vegetação e que,em geral, são periféricas; Classe 8- Indus-trial: A concentração dessa classe localiza-se no bairro do Distrito Industrial, mais a oeste do centro da cidade, numa área periférica. Contudo, não se pode deixar de comentar que, na área mais a leste do centro existe destaca-se para a conhecida fábrica de armamentos da IMBEL e HORA S/A; Classe 9- Cursos d’água e Canais: O destaque nessa classe é para o curso fluvial principal que corta a cidade no sentido sudoeste – noroeste, que é o rio Sapucaí. Esse importante curso d’água tem quatro afluentes, que são, na margem direita, o ribeirão José Pereira e o Córrego da Água Preta e da margem esquerda, o ribeirão das Anhumas e o ribeirão Piranguçu; Classe 10-Uso agropecuário: Essa classe tem alguns representan-tes, que se localizam, em geral, em áreas mais periféricas, com pequena produção que vai abastecer, às vezes, o próprio mercado interno; Classe 11-Transportes: Entre algumas vias de circulação, nessa classe, destaca-se: a rodovia BR-459, que parte de Poços de Caldas e atravessa a cidade no sentido oeste – sudeste e vai até Lorena, no Vale do Paraíba. Além dela conta há outra rodovia, a MG- 290, que liga a cidade de Itajubá, passando ao Vale do Paraíba passando por Paraisópolis. Há também a rodovia que liga Itajubá à Maria da Fé. Também faz parte dessa dessa classe a Rede Mineira de Viação, que interliga Itajubá a Santa Rita do Sapucaí, a Pouso Alegre, a Pedralva, e a Maria da Fé; Classe 12 -Solo exposto: Essa classe, da qual existem alguns exemplos, é pouco expressiva. Dentre eles podem-se citar os do bairro do Santos Dumont, da Vila Rubens, do Açude, da Vargínha e do Morro Chic.

Na análise do processo de expansão da cidade, observando-se o mapa de uso do solo urbano de 1981 e correlacionando com o mapa do espaço urbano (Quadras) de 1999, constata-se que a expansão horizontal da área ocorreu não apenas ao longo do curso do rio principal (rio Sapucaí), mas, principalmente, em direção às vertentes íngremes do conjunto montanhoso que circunda o espaço urbano de Itajubá. Através de observações com o trabalho de campo, constata-se uma tendência da população mais carente ocupar áreas periféricas, nas vertentes elevadas dos vales fluviais que cortam a cidade.

No decorrer do seu curso, o rio Sapucaí inicia seu trajeto pelo espaço itajubense, a partir do bairro da Pedra Mamona, e este adquire na margem esquerda o ribeirão José Pereira e o Córrego da Água Preta; e na margem direita, os afluentes ribeirão das Anhumas e o ribeirão Piranguçu. Nesse lugar a cota de altitude é de aproximadamente 840 metros e, na planície de inundação, têm-se declividades que variam entre a classe A ( 0 a 2%) e a classe B (2 a 5%). No trajeto pela cidade o rio Sapucaí corta várias formas de relevo de agradação como: acumulação de terraço fluvial, terraço fluvial, acumulação de planícies e terraço fluvial acumulação de planície fluvial, meandros abandonados.

O rio Sapucaí deixa a cidade de Itajubá a uma cota de altitude de aproximadamente 830 metros, num trecho de relevo de agradação, do tipo terraço fluvial, quando este rio corta

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visões geográficas

os limites do Bairro do Novo Horizonte. No entorno da cidade de Itajubá observa-se a pre-sença do relevo degradado, com terrenos cristalinos do Pré-Cambriano. O desmatamento das vertentes do vale do ribeirão José Pereira que corta esse bairro é evidente.

Também pode-se constatar a forma de relevo degradado (o cristalino do pré-cam-briano), com a presença de vertentes com declividades em torno de 10% a 40% aproxi-madamente.

Além disso, observa-se na paisagem itajubense, na atualidade uma carência de vegetação não apenas no espaço urbano no geral, mas também nas vertentes e topos dos morros que circundam a cidade. Sendo assim, os sedimentos carregados pelas enxurradas, contribuirão para o entupimento do Sistema Pluvial Urbano, que acaba sendo incapaz de conter a velocidade do escoamento superficial urbano. Essa forma de relevo degradado está nesse local, praticamente sem vegetação, o que, em período de chuvas, principalmente no verão, contribui para a ocorrência de erosão e deslizamentos de terra.

O clima da área de estudo, que é do tipo tropical mesotérmico – brando úmido (Cwb, de acordo com a classificação de Koppen), com média de pluviosidade de cerca de 1400 mm por ano, tem na precipitação pluvial, um elemento de destaque nas análises espaciais. As chuvas que ocorrem nesse espaço, associados à carência de vegetação natural, devem contribuir para aumentar ainda mais os processos erosivos e, consequentemente, para o assoreamento dos canais do sistema fluvial da área de estudo.

Analisando-se a tabulação cruzada no IDRISI das classes da carta de declividade com as unidades geomorfológicas de Itajubá, constata-se que a unidade geomorfológica que tem maior área é o relevo degradado (cristalino ), contando com 19,84 Km2 distribuídos por todas as classes de declividades porém, na classe D (10-20%) e E (20-30%) o cristalino é mais representativo ocupando uma área de aproximadamente 13 Km2.

Destacam-se na cidade, outras unidades morfológicas como, por exemplo, a área de acumulação de planície e terraço fluvial com 7, 60 Km2 , a área de acumulação de terraço fluvial com 1,78 Km2 , a área de acumulação de planície fluvial com 1, 03 Km2 e a área de terraço fluvial com 0,98 Km2 . Os bairros do Cruzeiro, Estiva, Oriente, Rebourgeon, Santa Lúcia, Santo Antônio, Novo Horizonte, Capetinga , Vila Poddis são alguns exemplos de bairros com declividade variando de aproximadamente 20% a 40% em algumas áreas.

Desse modo, como foi discutido anteriormente, essas áreas de relevo degradado com declividades acentuadas e sem cobertura vegetal estão sujeitas à erosão e, com as chuvas, o consequente carreamento de sedimentos pelas enxurradas, o que contribuirá para o en-tupimento do sistema pluvial urbano, que acaba sendo incapaz de conter a velocidade do escoamento superficial urbano.

Na análise do Mapa de Uso do Solo Urbano de Itajubá de 1981, se compararmos a área da cidade que existia nesse período com a área do limite urbano mais atual (1999), pode-se constatar que continuou a ocorrer uma expansão ao longo da planície fluvial, mas houve também um crescimento ocupando as vertentes até com declividades de 30% ou mais, inadequadas para a estruturação e uso do solo urbano.

No espaço urbano de Itajubá, existem trechos de alguns bairros como, do Novo Horizonte, do Açude, do Pinheirinho, do Cruzeiro, da Estiva, do Oriente, do Santo Antônio

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e Rebourgeon, onde a declividade em alguns trechos desses bairros é mais acentuada (em torno de 30% ou mais), sendo considerada imprópria a ocupação. Contudo, apesar de existir toda uma exigência em relação ao cumprimento das leis federais, a cidade de Itajubá, nas administrações anteriores, teve Lei sobre o Uso e Ocupação do Solo Urbano de Itajubá ( Lei no 1551, de 26 de fevereiro de 1986, criada no governo de Ambrósio Pinto), que, na administração de Saulo Germiniani (Lei no 1988/ 94 ) foi modificada de tal forma, que a questão da ocupação e uso do solo de áreas inadequadas não recebeu a devida atenção do poder público.

As duas leis de Uso e Ocupação do Solo Urbano citadas acima, a Lei 1551, no seu artigo 4o, parágrafo III deixam claro que “em terrenos com declividade igual ou superior a 30%, não será permitido o parcelamento do solo”. Porém, os governo que assumiram a Prefeitura nos anos seguintes, até hoje, alteraram a legislação que existia correta e não cumpriram a Legislação Federal, no que se refere a ocupação adequada do solo urbano.

Na análise da Tabela 1 abaixo, resultante do cruzamento das classes de declividade com as classes de uso do solo, em Itajubá, a classe E de declividade ( 20-30%) ocupa uma área de 2,69 Km2 e a classe F de declividade ( 30-40%) ocupa uma área de 0,32 Km2 , de uma área total da cidade de aproximada de 18,71 Km2 , em 1981 . Nessas duas classes de declividade, foi considerado a área ocupada pelas classes de uso do solo : residencial familiar, residencial multi-familiar, comércio e serviços, institucional, loteamento e uso industrial. Então, a área ocupada pelas classes de uso citadas na E e G classes de declividade corres-ponde cerca de 2,76 Km2 do espaço urbano de Itajubá, no ano de 1981. Já nas classes A e B de declividade, tem uma área de aproximadamente 11,14 Km2 , que equivale a cerca de 59 % do total aproximado da área da cidade, nas classes residencial familiar, residencial multifamiliar, comércio e serviços, institucional, loteamento e industrial, localizadas no espaço da planície de inundação.

A dinâmica inter-relação existente entre as encostas e os vales fluviais, incluindo a calha do rio, permite constantes trocas de causa e efeito entre esses elementos da bacia hidrográfica. Dessa forma, mudanças do uso do solo nas encostas influenciam os processos erosivos que poderão promover a alteração na dinâmica fluvial. Por outro lado, alterações no comportamento natural dos canais fluviais em razão da construção de obras e do apro-fundamento dos leitos, com o intuito de diminuir a ocorrência de enchentes, são exemplos que modificam o nível de base local, gerando a retomada erosiva nas encostas.

O Sistema Pluvial Urbano, na área em estudo é insuficiente, principalmente nas áreas de vertentes mais íngremes, o que aumenta ainda mais o escoamento superficial, carreando os sedimentos para o fundo dos vales da drenagem fluvial nesse espaço.

Nesse sentido, analisando as condições do relevo da área de estudo, pode-se constatar na observação do modelo digital de terreno e mapa geomorfológico de Itajubá, que as formas de relevo identificadas com a construção desse modelo, confirmam as evidências das unidades geomorfológicas que se destacam na área de estudo. Dentre as unidades de relevo duas são preponderantes e correspondem a área de planície de inundação, onde existem os meandros abandonados e os terraços fluviais, como aspectos marcantes dessa planície que foi ocupada por vários bairros da cidade como boa parte do Santa Rosa, da Imbel, do Nossa Senhora de

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Tabela 1 - Cruzamento das classes da carta de declividade com as classes do mapa de uso do solo - Itajubá - MG*

A área urbana considerada foi de 1981.Fonte: Cruzamento dos dados de classes de declividade com classes de uso do solo - Idrisi 2.0.

Fátima, do São Sebastião, da Vargínha, do Pinheirinho, da Medicina, uma parte menor do centro da cidade, Vila Isabel, Vila Poddis e a maior parte dos bairros: São Vicente, Avenida, Boa Vista, Vila Rubens, Santos Dumont, São Judas Tadeu e Distrito Industrial.

A forma de relevo mais expressiva na classe 1 de uso do solo (residencial unifami-liar) é a classe de relevo degradado que corresponde ao cristalino e ocupa uma área de 17,76%. O relevo degradado é encontrado na maior parte da cidade porém, e sua ocupação tem sido maior nas duas últimas décadas (as vertentes), na cidade (19,86 Km2)

No perfil E—F, (sentido norte- sul), o sentido deste corta o bairro do Pinheirinho ( trecho da planície do ribeirão José Pereira), um trecho do bairro São Vicente com áreas um pouco mais elevadas variando de 840 m a aproximadamente 880 m de altitude , além

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do bairro da Medicina com altitudes variando de 860 m a 900 m.Com a visualização do modelo de terreno digital e dos perfis topográficos, pode-se

ter mais uma contribuição, na avaliação sobre os aspectos do relevo e correlacionar com a ocupação, da cidade de Itajubá. Dessa maneira tem-se condições de fazer novas análises para se concluir os estudos sobre os problemas ambientais de Itajubá.

O Monitoramento das alterações ambientais : a problemática das enchentes na cidade de Itajubá e as propostas de controle.

Com o levantamento do jornal “O Sul de Minas” e Região Sul, constatou-se que depois de 1945 quando teve uma grande enchente em Itajubá, em 1929, 1936, 1940, 1945, 1957, 1979 e 1991 e o que se conclui é que o intervalo médio das enchentes é de aproxi-madamente 10 anos.

Com a visualização do modelo de terreno digital e dos perfis topográficos, pode-se ter mais uma contribuição, na avaliação sobre os aspectos do relevo e correlacionar com a ocupação, da cidade de Itajubá. Dessa maneira tem-se condições de fazer novas análises para se concluir os estudos sobre os problemas ambientais de Itajubá.

O clima da área Cwb também é um outro fator que contribui para a ocorrência de enchentes.

Pois, a área está sujeita a ação da massa polar com a Tropical Atlântica o que propicia a ocorrência de chuvas orográficas, frontais e de convicção.

Em janeiro de 2000 teve uma enchente que foi a mais drástica com grandes prejuízos para a população e os bairros Nossa Senhora de Fátima, o São Sebastião, o Santos Dumont, o Cantina, o Pinheirinho, além da Boa Vista, Varginha, Porto Velho e Vila Rubens foram bastante atingidos.

A ocorrência de trombas d’água nas cabeceiras dos afluentes como o rio Bicas e o Santo Antônio, por exemplo, localizados a montante de Itajubá, pode, em conjunto, con-tribuir, eventualmente, para o transbordamento da calha maior do rio, no espaço urbano.

No início do mês de janeiro de 2000, nos dias 02,03,04,05 e 06 choveu muito e a água ficou quatro dias presa na planície de inundação, contribuindo para que os prejuízos fossem elevados. Um fato interessante a comentar é que, em geral, a população de baixa renda costuma ocupar as áreas mais alagadas ou sujeitas a enchentes e inundações, entretanto, em Itajubá uma das áreas de planície de inundação é ocupada pela estrutura do bairro mais valorizado da cidade, o Pinheirinho (BPS). Esse bairro, como já mencionado, foi um dos que mais sofreu com as cheias de janeiro de 2000.

A enchente ( janeiro/2000), no bairro Pinheirinho, variou de 1.90 m a 1.40 m. Em outros bairros, como nos terraços do Nossa Senhora de Fátima, os pontos da altura da en-chente variaram de 2.90 m a 1.70 m, o que demonstra que o evento do ano de 2000 trouxe muitos prejuízos e sofrimento para a população residente ness área relativamente ocupada.

Para o controle das enchentes várias medidas podem ser propostas como as medidas

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estruturais e não-estruturais comentadas por Barth e Pompeu (1987) e por Motta (1999), contudo essas propostas se completam. Baseado nisso, propõe-se as algumas medidas de controle de enchentes para Itajubá, uma cidade que como qualquer outro espaço do planeta tem suas próprias características, sejam de ordem natural com seus condicionantes físicos ou sejam de ordem de uso e ocupação do solo.

Nesse sentido, como medidas emergenciais: estabelecimento de um programa para desassoreamento do rio Sapucaí e dos afluentes, além dos canais, bueiros e tubulações que fazem parte do sistema de drenagem urbana das águas pluviais; realização de mutirões de limpeza de toda a região, compreendendo vias públicas e terrenos baldios; desobstrução dos vãos das pontes; realização de levantamentos e estudos para a correção dos pontos críticos do sistema de drenagem atual; implantação do Comitê da Bacia do Alto Sapucaí, já publicado no Diário oficial do Estado e Minas Gerais.

Como medidas a curto prazo e médio prazo: Desenvolvimento de Plano Diretor de Drenagem; realização de obras e ações com objetivo de melhoria do escoamento das águas, com alargamento da seção de pontes que, acabam por dificultar o escoamento das águas principalmente na estação das chuvas, numa área de clima tropical (Cwa) sujeito a chuvas convectivas, orográficas e frontais; implantação de obras visando a contenção de cheias, que possam reter as águas pluviais, de modo que o escoamento seja mais lento e chegue aos cursos d’água sem provocar transbordamento dos rios.

No contexto dessa medida estão: 1. canalização das ruas em declive com canaletas de topo e de pé de talude, rampas e escadarias hidráulicas além de galerias simples com bocas de lobo e tubulação nas áreas de menor declive; 2. nas áreas planas contrução de pequenos reservatórios para a coleta das águas de chuva; 3. Armazenamento e aproveitamento da s águas de chuva com a implantação de reservatórios em prédios e casas; 4. Ampliação de áreas verdes em casas, prédios calçadas e terrenos; 5. Remoção dos entulhos deixados pela construção civil e lixos jogados em terrenos; 6. Coleta eficiente de lixo urbano e periódica; 7. Manutenção das áreas de preservação como as áreas de matas, além do governo incen-tivar com diminuição da cobrança de impostos o reflorestamento das encostas; 8. Varrição periódica das ruas para retirar sedimentos porque apesar de se considerar como parte da limpeza pública muitas vezes não é realizado esse serviço; 9. Consideração de aspectos de drenagem no projeto de loteamentos em áreas de encostas; 10. Fiscalização e cumprimento da legislação existente sobre o uso e ocupação do solo urbano na bacia, com ordenação dessa ocupação, assim como a regulamentação legal do Plano Diretor; 11. Programa amplo de educação ambiental nas escolas e meios de comunicação, no sentido de esclarecer a população dos resultados drásticos que podem ocorrer com o tempo se os recursos naturais água, solo, ar , vegetação, como exemplo não forem adequadamente utilizados e portanto a necessidade de serem conservados pela população; Implantação de um Plano de Alerta contra as enchentes, que já é previsto no Convênio da FEPI com o IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas).

Como medidas de longo prazo: 1. Implantação de uma rede fluviométrica e plu-viométrica no rio Bicas, pela Imbel que é a proprietária ‘da Usina de Bicas e no rio Santo Antônio, acima do município de Delfim Moreira; 2. Estudo para implantação de uma rede de pequenas represas, à montante do rio Sapucaí, como medida atenuadora das cheias:

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Proibição e Fiscalização das atividades das dragas ao longo do curso do rio Sapucaí e seus afluentes; Implantação de programa de reflorestamento da mata ciliar e um trabalho econ-junto com os agricultores da área, com intuito de educação e uso de práticas de preservação ambiental ao longo dos cursos dágua da bacia do alto Sapucaí.

Com essas propostas de controle das cheias acredita-se que a ocorrência da enchentes em Itajubá poderão ser menos drásticas para a população e assim, poder haver uma contri-buição para uma planejamento mais eficiente, baseado na gestão ambiental que garanta os direito do cidadão em relação as sua condições dignas de vida.

Considerações Finais

No espaço urbano de Itajubá existem vários condicionantes físicos da paisagem como os aspectos do relevo, o clima e a vegetação que juntamente com a declividade, o escoa-mento superficial, o uso e ocupação do solo propiciam a ocorrência de enchentes na área.

Nessa área a declividade é elevada em partes da cidade, a vegetação das encostas é retirada, a ocupação desse espaço com novos loteamentos foi ocorrendo ao longo dos anos, sem uma orientação da população ou mesmo sem o cumprimento das leis federais. Sendo assim, além de um sistema pluvial que não atende as necessidades da área urbanizada, esses fatores comentados contribuem para a existência de problemas ambientais no espaço urbano de Itajubá ( as enchentes).

Dentro dessa ótica de análise, e a partir de inúmeras informações adquiridas no de-correr desse estudo, considera-se importante para o poder público, para a iniciativa privada e a comunidade que as propostas feitas no decorrer desta pesquisa sejam implementadas no espaço urbano itajubense como:

1. As enchentes são eventos naturais e que vão continuar ocorrendo, mas o problema deve ser discutido com a população, buscando uma educação ambiental que possa minimizar as perdas econômicas e sociais.

2. Os poderes públicos devem buscar planejar adequadamente a organização do espaço urbanizado, e procurar integrar uma equipe com participantes de todas as áreas urbanas envolvidas nesses problemas. Nesse sentido, gerir a bacia do Alto Sapucaí através decomissão de representantes do poder público e do povo, com intuito de adequar as medidas que sirvam aos interesses da população.

De acordo com as observações realizadas espera-se pela atuação dos poderes consti-tuídos e não apenas, a cidade como morada do homem, mas como o espaço de participação e construção do povo.

A aplicação das medidas estruturais e não - estruturais, discutidas neste estudo não tem a intenção de esgotar o assunto, mas dar uma contribuição para minimizar a problemática das enchentes na cidade de Itajubá. A busca por um desenvolvimento sustentável que garanta a qualidade de vida do povo deve ser o verdadeiro caminho para o bem da coletividade.

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