os canais de comercialização das principais frutas produzidas pela agricultura familiar na região...

87
OS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DAS PRINCIPAIS FRUTAS PRODUZIDAS PELA AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIÃO DO SALGADO PARAENSE. José Adriano Marini 1 I. INTRODUÇÃO O presente trabalho é o resultado de um estudo exploratório sobre as produções e as cadeias de comercialização, os tipos de mediação mercantil, as margens de agregação de valor e a participação dos diferentes elos na formação do preço final das frutas produzidas pela agricultura familiar na região do Salgado Paraense. Considerando a agricultura como uma base fundamental da sociedade, o seu desenvolvimento é de crucial importância para a sociedade. Dessa forma, um estudo que demonstre as relações de mercado existentes para os principais frutos produzidos na região do Salgado Paraense pela agricultura familiar permite estabelecer linhas norteadoras ao desenvolvimento rural, procurando estabelecer uma maior integração entre aqueles produtores e o mercado final de seus produtos. Inúmeras são as variáveis que condicionam ou afetam o sucesso de um empreendimento rural, a despeito da região 1 Mestre em Engenharia Agrícola (FEAGRI/UNICAMP) e Mestre em Planejamento do Desenvolvimento Rural Sustentável (NAEA/UFPA). Doutor em Desenvolvimento Socio Ambiental (NAEA/UFPA). Pesquisador da EMBRAPA Amapá titular da área de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural Sustentável.

Upload: adriano-marini

Post on 20-Nov-2015

10 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

O presente trabalho é o resultado de um estudo exploratório sobre as produções e as cadeias de comercialização, os tipos de mediação mercantil, as margens de agregação de valor e a participação dos diferentes elos na formação do preço final das frutas produzidas pela agricultura familiar na região do Salgado Paraense.

TRANSCRIPT

1

Os canais de comercializao das principais frutas produzidas pela agricultura familiar na regio do Salgado Paraense.

Jos Adriano Marini[footnoteRef:1] [1: Mestre em Engenharia Agrcola (FEAGRI/UNICAMP) e Mestre em Planejamento do Desenvolvimento Rural Sustentvel (NAEA/UFPA). Doutor em Desenvolvimento Socio Ambiental (NAEA/UFPA). Pesquisador da EMBRAPA Amap titular da rea de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural Sustentvel. ]

I. INTRODUOO presente trabalho o resultado de um estudo exploratrio sobre as produes e as cadeias de comercializao, os tipos de mediao mercantil, as margens de agregao de valor e a participao dos diferentes elos na formao do preo final das frutas produzidas pela agricultura familiar na regio do Salgado Paraense.Considerando a agricultura como uma base fundamental da sociedade, o seu desenvolvimento de crucial importncia para a sociedade. Dessa forma, um estudo que demonstre as relaes de mercado existentes para os principais frutos produzidos na regio do Salgado Paraense pela agricultura familiar permite estabelecer linhas norteadoras ao desenvolvimento rural, procurando estabelecer uma maior integrao entre aqueles produtores e o mercado final de seus produtos.Inmeras so as variveis que condicionam ou afetam o sucesso de um empreendimento rural, a despeito da regio geogrfica de explorao e do tipo de atividade desenvolvida. Uma varivel que pode significar diferenciao entre os resultados econmicos obtidos por membros de um grupo de produtores rurais a capacidade em acessar os mercados, o que pode vir a contribuir positivamente para o sucesso deste.As relaes comerciais pulverizadas entre um grande numero de produtores desorganizados e um pequeno numero de comerciantes, intermedirios ou atacadistas podem gerar ineficincia devido assimetria de informaes e ao limitado poder de barganha por parte dos produtores. De acordo com a ONU/PNUD (1999) nos mercados tradicionais, a maioria das empresas que mantm relaes comerciais com a agricultura familiar aproveita-se da disperso territorial dos produtores para estabelecer relaes comerciais desfavorveis a estes.Muitas iniciativas de comercializao de produtos oriundos da produo familiar costumam enfrentar srios problemas. Uma das causas dessa situao consiste na falta de conhecimento de mercado por parte dos envolvidos. Muitas vezes, a ideia simplesmente pular cadeias de comercializao, assim eliminando os intermedirios, sem compreender as funes que eles exercem. Alm disso, o fato de existirem ainda poucos estudos de caso que mostrem mais detalhadamente as estruturas de mercado, dificulta a formulao de estratgias de comercializao para a agricultura familiar (Drr, 2001).Diante destas perspectivas, a melhor alternativa, apontada por tcnicos e pesquisadores, para que as unidades de produo familiar se mantenham no mercado e se desenvolvam, o conhecimento dos processos e mecanismos dos canais de comercializao favorecendo assim a interlocuo entre aqueles produtores e os compradores diretos de sua produo.O maracuj uma cultura que, no Estado do Par, produz regularmente durante o ano todo, gerando um fluxo contnuo de renda e alocando mais adequadamente a mo-de-obra nas unidades de produo familiares, uma vez que cerca de 90% da produo realizada nos estabelecimentos de at 10 hectares (IBGE/SIDRA, 2007). O campo de influncia socioeconmica do maracuj na regio do Salgado Paraense amplo, pois se estende para alm da unidade de produo, chegando s agroindstrias, Centrais de Abastecimento - Ceasa, supermercado e feira livre local e nacional (frutos e polpa), e internacional (polpa congelada), da a importncia de se estudar a dinmica dessa atividade produtiva no que concerne sua produo e comercializao. Junto com o maracuj, este trabalho aborda tambm as culturas do abacaxi, cuja recente insero (2003) no municpio de So Joo da Ponta j o colocou na 10. Posio no ranking estadual de produo em 2006, e da melancia, tradicionalmente cultivada pela maioria das unidades de produo familiares agrcolas localizadas dentro da rea de pesquisa. Embora o IBGE/PAM (2006) sugira que dentro da rea produtiva deste estudo ocorram tambm produes significativas de laranja e coco, os levantamentos efetuados por esta pesquisa apontam que a laranja deixou de ser atrativa e, no municpio de Marapanim, onde se localizava o destaque regional, as lavouras ou esto em fase de replantio (substituio de plantas velhas por novas) ou foram abandonados ou foram substitudos por outras culturas, neste ultimo caso pelo plantio de dend para extrao de leo vegetal e pelo plantio de maracuj, seguindo a tendncia regional. A cultura do coco encontra-se atualmente restrita a pequenos produtores que abastecem a regio das praias, principalmente nas pocas de grande movimentao de turistas, nos meses de julho e dezembro/janeiro.Este estudo sobre a comercializao de frutas produzidas pela agricultura familiar da microrregio do Salgado Paraense buscou contribuir com informaes tanto sobre as formas de avaliao quanto as de gerao de procedimentos que visem atingir solues ainda no utilizadas ou suficientemente desenvolvidas na implantao de mecanismos que promovam uma melhor interao entre o agricultor e o mercado comprador. Poder, portanto, ser um importante referencial para os administradores municipais e demais agentes pblicos, servindo de instrumento de planejamento para traar polticas publica e projetos agrcolas.Partindo-se da hiptese de que a baixa sustentabilidade da Agricultura Familiar, definida em termos de instabilidade econmica e fraco desempenho produtivo, deve-se a baixa insero desta nos mercados consumidores e a forma de acesso a ele, problemtica reforada pelas hipteses secundrias: a) Os produtores tm pouco acesso informaes do mercado consumidor e b) Na implantao e conduo das atividades produtivas, provavelmente no se levam em considerao os riscos do empreendimento inerentes comercializao.A proposta deste trabalho foi a de demonstrar os principais canais de comercializao pelos quais passam as frutas produzidas na regio pela agricultura familiar e dessa forma fornecer uma importante ferramenta de analise e estudo para o meio acadmico contribuindo para pesquisas futuras dentro desta perspectiva e tambm servir como uma fonte de informaes a todos aqueles relacionados direta ou indiretamente com a produo em anlise.

II. METODOLOGIAEste trabalho buscou responder questes centrais tais como, quais os fatores determinantes no processo responsvel pela insero da agricultura familiar nos mercados consumidores e a forma de acesso a ele alm de compreender o acesso s informaes do mercado consumidor e como se considera os riscos do empreendimento inerentes comercializao. na implantao e conduo das atividades produtivas.O desenvolvimento desta pesquisa iniciou-se com pesquisa bibliogrfica, atravs do reconhecimento e analise de documentos e de banco de dados, no propsito de obter informaes mais abrangentes sobre a produo e comercializao de frutas pela agricultura familiar, em geral, e na regio de estudo, especificamente. O referencial terico adotado resultou da busca de conceitos, levantamentos sobre a agricultura familiar, dentro do enfoque macroeconmico e a importncia e o papel da agricultura familiar local em um processo de (re)estruturao produtiva, sendo que esta ao se inserir no processo de comercializao recebe os rebatimentos dos diversos atores do mercado que interagem mesmo estando posicionados em diferentes escalas. Ainda atravs do levantamento bibliogrfico foi possvel detectar instrumentos que viabilizam a resistncia do agricultor familiar no mercado competitivo.No sentido de confrontar a teoria com a prtica, buscou-se apoio em uma investigao sobre dados da produo da agricultura familiar atravs de uma pesquisa participativa, vivenciada em algumas agrovilas[footnoteRef:2] do municpio de Curu e tambm por investigaes participativas em agrovilas pertencentes aos outros municpios que compe este objeto de estudo. Com o auxilio dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais dos quatro municpios em estudo e tambm dos escritrios locais da EMATER/Pa foi possvel contatar tais produtores e, junto com eles, traar o inicio das Cadeias de Comercializao das frutas produzidas e de seus Sistemas de Produo. Foram vivenciadas realidades de 97 produtores no municpio de Curu e questionados mais 63 famlias produtoras nas outras localidades. Todas as informaes obtidas com estas investigaes in loco esto sintetizadas no Capitulo IV deste trabalho. [2: Agrovila: Modelo de urbanizao rural criado pela Unio Sovitica. (Freire, 1982). Nas agrovilas citadas neste trabalho a estrutura composta de algumas ruas caladas com piarra, casas de taipa, madeira ou alvenaria, templos Catlico e da Assembleia de Deus (1 de cada), uma escola de ensino fundamental, um ou dois telefones pblicos, algumas tabernas (pequenos mercados para atender as demandas de alimentos das famlias) e normalmente um pequeno posto de sade que utilizado em campanhas de vacinao. Outro elemento presente em todas as agrovilas o campo de futebol, normalmente todo gramado. Situam-se distante dos centros urbanos e so circundadas pelas unidades de produo familiares.]

O objetivo desta pesquisa foi analisar os processos de comercializao das frutas produzidas pelos agricultores familiares localizados na regio do Salgado Paraense, em particular nos municpios de Curu e Marapanim, alm de Terra Alta, desmembrada de Curu em 1991 e So Joo da Ponta, desmembrado em 1995 do municpio de So Caetano de Odivelas. A opo por esta regio se deu por conta de que no havia at ento estudos cientficos a respeito das produes locais, apenas levantamentos estatsticos, na maioria das vezes no aprofundadas, tambm pelo processo de diviso e criao de novos municpios a partir da dcada de 1990, alterando as relaes de poderes previamente institudas e consequentemente o enfoque das polticas publicas de incentivos agricultura. Alm disso, a regio Nordeste Paraense a principal produtora da maioria das frutas produzidas no Estado do Par com destaque para a microrregio do Salgado Paraense. Outro fator a ser considerado a recente estruturao de um Arranjo Produtivo Local voltado a cadeia produtiva e de comercializao das frutas produzidas na regio. Nesse sentido a pesquisa sobre a qual se discorre utilizou-se de dados plausveis de serem classificados - segundo a sua natureza - como quantitativos e qualitativos de forma conjunta e complementar. Esses dados esto expressos nos quadros estatsticos, nos documentos analisados, bem como nos discursos obtidos a partir das entrevistas realizadas. Recorreu-se entrevista, enquanto tcnica de pesquisa com o objetivo de obter-se a fala dos atores locais, e assim compreender-se o entendimento destes sobre o processo ocorrido.A analise desses dados est inserida em uma estratgia analtica, segundo a qual busca-se identificar a existncia de sustentabilidade por parte dos agricultores familiares, ou seja, responder a seguinte pergunta: esses agricultores dispe de uma base produtiva portadora de capacidade de atender as demandas da populao, particularmente as relacionadas a comercializao das frutas por eles produzidas?Para tanto foi realizado um estudo econmico que investigou as implicaes econmicas da produo frutfera no desenvolvimento da agricultura familiar da rea de estudo e as margens financeiras apuradas em cada elo da cadeia de produo.Para Cardoso (1986), a abordagem qualitativa permite estudar os fenmenos que envolvem os indivduos e suas relaes sociais, estabelecidas em diversos ambientes. Nessa perspectiva, um fenmeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e no qual faz parte, sendo analisado numa perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando captar o fenmeno em estudo a partir da percepo das pessoas, considerando todos os pontos de vista relevantes.Segundo Chizzotti (1991), a pesquisa qualitativa, baseada em opinies, sentimentos e motivaes, uma modalidade de pesquisa em crescimento no Brasil e antes desse tipo de anlise era difcil interpretar os resultados das pesquisas estatsticas e suas implicaes, j que a quantitativa expressa em nmeros que muitas vezes precisam ser correlacionados para identificar o porqu de sua ocorrncia.A escolha dessa abordagem deve-se ao fato de que a pesquisa qualitativa parte do pressuposto de que as pessoas agem em funo de suas crenas, percepes, sentimentos e valores, e seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que no se d a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado. Assim, a escolha dessa abordagem junto aos agricultores familiares fica entendida como essencial para a compreenso do fenmeno estudado.Para validao estatstica desta pesquisa, utilizou-se o mtodo da Amostragem Aleatria Estratificada, a qual permite subdividir a populao em estratos homogneos, segundo a varivel de interesse, a partir da, selecionar uma amostra aleatria simples de cada estrato. Neste caso, a estratificao se deu por categorizao de agricultura praticada. O universo da pesquisa representado por todos os grupos familiares que trabalham na propriedade rural e que possuam at 100 ha de rea, situados nos municpios de Curu, Terra Alta, So Joo da Ponta e Marapanim.Para o estabelecimento do tamanho mnimo da amostra (n), utilizou-se a frmula dada por:

onde: z = valor critico normal (valor tabelado) p = probabilidade de sucesso q = probabilidade de fracasso e = erro N = tamanho da populaoPara efeitos de clculo de n, trabalhou-se com os seguintes parmetros:

z = 1,28, ou seja, um nvel de confiana de 90%p = 90% de probabilidade de sucessoq = 10% de probabilidade de fracassoe = nvel de erro de 6%. (entre 5% e 10% esto os nveis de erro aceitveis)N = 1.428 Famlias na Agricultura Familiar na rea de pesquisa (Tabela 12).

Aplicando-se os valores na frmula, chegou-se ao resultado abaixo:

Como esta pesquisa abordou um numero total de 160 famlias de agricultores, seus parmetros tornam-na confivel do ponto de vista estatstico.III. OS CANAIS DE COMERCIALIZAO DA PRODUO FAMILIAR RURAL. O setor da comercializao de alimentos transforma a matria prima produzida pelos agricultores em alimentos, posteriormente adquiridos e consumidos pelos consumidores (em embalagens e caractersticas adequadas ao gosto deste). Os custos resultantes do armazenamento, do transporte e do processamento (quando necessrio) as transformaes de comercializao so uma componente integrante do processo de formao de preos dos alimentos. Uma vez que o produtor e o consumidor so indivduos tipicamente diferentes, os bens de consumo tm que passar de um dono para outro, e, com frequncia, muitas vezes, antes de chegarem mesa familiar.Com exceo das economias de pura subsistncia, estes trs tpicos encontram-se intrinsecamente ligados as funes produtivas de comercializao, o papel dos mercados como arena de trocas e a formao do preo dos alimentos ao qual a troca se realiza.Assim como a produo, a comercializao de alimentos constitui um meio para atingir um fim. Os objetivos que uma sociedade pode, razoavelmente, pretender atingir no que se refere ao seu setor de comercializao so idnticos aos quatro objetivos bsicos do sistema alimentar no seu todo: um crescimento econmico eficaz, uma distribuio mais equitativa dos rendimentos, o bem-estar nutricional e a segurana alimentar. Devido ao seu papel de ligao entre os setores da produo e do consumo, a comercializao pode contribuir para atingir os quatro objetivos atravs da eficincia segundo a qual faz mostrar aos tomadores de deciso sinais de escassez e de abundncia.Os mercados so a arena de duas atividades importantes, necessrias em todas as sociedades: as funes fsicas de comercializao e a comunicao aos produtores e consumidores de "sinais" relativos ao custo de adquirir alguma coisa ou aos benefcios de vend-la.Os mercados no funcionam sempre no melhor interesse da maioria dos setores de uma sociedade, particularmente nos pases pobres, onde as comunicaes e a capacidade de transporte so deficientes, os mercados so altamente segmentados e o acesso dos participantes no mercado grandemente restringido. A capacidade de negociao financeira fortemente desigual intervm muitas vezes na relao entre o comprador e o vendedor.Segundo FARINA e MACHADO (2000), o mercado de frutas e legumes frescos um dos menos desenvolvidos no Brasil, e entre os principais problemas encontrados est a falta de garantia de um suprimento regular de produtos de qualidade. Numa economia de mercado, uma escassez de alimentos significa preos mais elevados, caso em que apenas alguns (com dinheiro suficiente) os podem adquirir.Na formao de preos, o conhecimento do mercado traduz-se em poder no mercado. Uma das medidas mais importantes que os governos podem tomar para melhorar a equidade da formao dos preos de mercado, de modo que seja menos discriminatria relativamente ao pequeno agricultor, por um lado, e ao consumidor, pelo outro, a prestao de informaes atualizadas e precisas a estes indivduos sobre as condies reais do mercado.Um maior equilbrio de conhecimento proporciona uma distribuio mais equilibrada dos ganhos e uma formao de preos de mercado eficiente.Para encontrar o nmero de comerciantes que operam num sistema de comercializao, e em que pontos um determinado bem troca de mos, torna-se til esquematizar o seu fluxo atravs da cadeia de comercializao. A competitividade de um mercado e a estrutura da cadeia de comercializao esto, obviamente, relacionadas. Se, em qualquer ponto da cadeia, existir apenas um comprador ou vendedor nicos, torna-se provvel a ocorrncia de um comportamento no competitivo. Alternativamente, a presena de muitos compradores e vendedores ao longo de toda a cadeia transporta consigo um forte pressuposto de comportamento competitivo e de um desempenho eficiente do mercado.As margens elevadas de comercializao o afastamento entre os preos ao produtor e os preos ao consumidor podem ocorrer por duas razes: ou os custos reais de comercializao elevados determinam que os preos ao consumidor sejam muito mais altos do que os preos ao produtor, ou os elementos monopolistas do sistema de comercializao esto obtendo lucros excessivos.Cada produto agrcola chega ao consumidor final atravs de um canal de comercializao prprio, resultante de caractersticas prprias (perecibilidade, grau de transformao, caractersticas fisiolgicas dos vegetais etc.) e das regies produtoras (infraestrutura de apoio e escoamento da produo, clima, topografia etc.). Esquematicamente, adotando-se o modelo empregado por Arajo (2003), com algumas adaptaes, pode-se representar o segmento de comercializao dividido em nveis, compostos de agentes e canais de comercializao, que demonstram caractersticas prprias e, em muitos casos, interdependncia:O nvel 1, segundo Arajo (2003), o espao de produo primria, onde atuam os produtores rurais, suas associaes e cooperativas.De modo geral, os estratos produtivos que atingiram maior grau de organizao tm acesso a informaes mercadolgicas, conseguem melhores resultados nas vendas de seus produtos.Entretanto, a maioria dos produtores rurais tradicionais entregam os seus produtos para intermedirios (os chamados "atravessadores"), tendo em vista a precariedade ou inexistncia de canais de comercializao mais estruturados a nvel local e regional. O nvel 2 representado pelos intermedirios[footnoteRef:3], que, hierarquicamente, podem ser classificados como primrios, secundrios, tercirios, dependendo do tipo do produto e da infraestrutura e peculiaridades regionais. [3: Intermedirios so os atores que atuam na comercializao intermediando os contatos entre o produtor e o consumidor final. Intermedirio Primrio so aqueles atores que compram a produo diretamente no meio rural. Intermedirios Secundrios so aqueles que compram as produes agrcolas de um Intermedirio Primrio e, finalmente, os Intermedirios Tercirios so aqueles que adquirem as produes apenas dos Secundrios. Estes trs nveis podem ou no repassar os produtos ao consumidor final, dependendo da finalidade para o qual atuam. Quando em uma cadeia h a presena de Intermedirios Tercirios (ou superior) temos normalmente a presena dos agentes, que iniciam a cadeia de intermediao sob tutela destes (ver Nvel 4).]

Os agentes da intermediao comercial, na direo diretamente proporcional ao volume dos seus negcios, buscam se assenhorear de informaes estratgicas e das tendncias de mercado e, quanto mais capitalizados, financiam parcela crescente de empreendimentos rurais, o que de certa forma determina uma crescente subordinao do capital agrrio ao capital comercial. No nvel 3 esto canais de comercializao, onde os produtos oriundos do campo podem ser vendidos de trs formas: diretamente em "Mercados dos Produtores" aos consumidores finais locais ou a intermedirios secundrios, que levam essas mercadorias para outros espaos geogrficos; concentradores, que nada mais so do que grandes intermedirios indstrias de transformao primria ou secundria (agroindstrias), que, em suas estratgias de compra de produtos so influenciadas pela sazonalidade da oferta, variabilidade natural dos produtos e elevada perecibilidade da matria-prima e do produto final.O nvel 4, por seu turno, dividido entre representantes, distribuidores, vendedores e agentes, que se diferenciam em funo do porte do negcio, complexidade de relaes comerciais e infraestrutura operacional e de servios. Destaca-se neste nvel a presena dos agentes que intermediam as compras junto aos produtores familiares sob orientaes dos distribuidores.O nvel 5 o mais complexo dentre os canais de comercializao, por envolver inmeros atores sociais, em grande parte dispersos e diferentes modalidades de efetivao de negcios.Dentre os inmeros canais de comercializao, podemos citar: Atacadistas: so grandes firmas que mantm infraestrutura prpria voltada compra de produtos "in natura" ou processados por agroindstrias As Centrais de Abastecimento, que se constituem em importante canal de comercializao, podendo ser acessadas por produtores e suas organizaes produtivas ou ento os agricultores podem comerciar diretamente com os atacadistas ali estabelecidos, sem, necessariamente, dispor de infraestrutura predial.No Nvel 6, esto suas excelncias os consumidores, cujos padres de exigncias (inerentes aparncia, sabor, composio qumica, sanidade, preo, procedncia, presena ou no de resduos malficos sade), variam em relao a aspectos culturais, religiosos, ideolgicos e de sade.O mercado consumidor de frutas frescas no Brasil apresenta-se segmentado. Existem consumidores bastante preocupados com preo, nichos de mercado interessados tanto em preo baixo quanto qualidade e, tambm, nichos interessados em consumir frutas com servios incorporados[footnoteRef:4]. Este nicho de mercado est disposto a pagar mais por este produto, pois quer perder pouco tempo preparando sua refeio. Em funo deste segmento, esto surgindo canais de comercializao sofisticados de Frutas, Legumes e Verduras (FLV) tais como: butiques de verduras, feiras limpas e casas especializadas em comrcio de hortalias frescas (JUNQUEIRA, 1999). [4: As frutas minimamente processadas so aquelas que aps passarem por algumas etapas de processamento so oferecidas ao mercado consumidor de forma mais prtica e atraente ]

Entre os principais canais de comercializao de frutas, verduras e legumes frescos podem-se citar as feiras livres, os sacoles e varejes e os supermercados. Pode-se observar o aumento da importncia da seo de frutas, legumes e verduras (FLV) nos supermercados, onde a seo de FLV responde, em mdia, por 10% a 13% do faturamento das grandes lojas. Esta seo j possui maior importncia econmica do que outros setores, como frios, fatiados e charcutaria, e tem desempenho igual seo de venda de carnes (JUNQUEIRA, 1999).As grandes cadeias de varejo passaram a atuar comprando diretamente do produtor por meio das chamadas Centrais de Compra (CC). O objetivo de uma CC canalizar todas as operaes comerciais e financeiras para um nico espao. Desta forma, a CC exerce poder de compra proporcionado pelo aumento da escala (BELIK, 2000). Segundo SOUZA et al. (1998), os grandes supermercados varejistas montam suas prprias CCs, pois funcionam como opo as Centrais de Abastecimento Estaduais (Ceasas), comprando direto do produtor para toda a rede e fazendo a distribuio para as lojas. Ao atuar diretamente comprando dos produtores, atravs da CC, os grandes varejistas podem obter reduo dos custos que pode chegar at 30%. Ainda, segundo SOUZA et al. (1998), as CCs so montadas pelos varejistas quando se atinge um volume de compras de hortifrutigranjeiros superior a 2.000 toneladas/ms.

IV. A REGIO DO SALGADO PARAENSE: CARACTERIZAO SOCIOECONOMIA E INSTITUCIONALLocalizado ao norte do Estado do Par, limitando-se com o Oceano Atlntico, o territrio do Salgado Paraense uma Microrregio pertencente Mesorregio do Nordeste Paraense (Fig. 01) e composta por 11 municpios (Fig. 02). A referencia espacial de analise emprica foram os municpios de Curu e Marapanim, alm de Terra Alta, desmembrada de Curu em 1991 e So Joo da Ponta, desmembrado em 1995 do municpio de So Caetano de Odivelas. Estes municpios esto distribudos numa rea correspondente a 1.867 km2, totalizando uma populao de 72.869 mil habitantes (IBGE, 2006), dos quais 6 mil agricultores familiares (MDA/INCRA, 2000). O PIB regional para o ano de 2004 foi de 145 milhes de reais (0,5% do PIB estadual) (SEPOF, 2006).Esta pesquisa realizou grande parte de suas aes dentro da rea de Reserva Extrativista criada pelo INCRA em 2005 e que abrange grande parte dos municpios de Curu e uma pequena rea em Marapanim e So Joo da Ponta por estarem adjacentes as estas reas protegidas. Mesmo sendo transformada em uma rea de Reserva, a pratica das atividades rurais locais no sofreu quaisquer alteraes.

Figura 01: A Microrregio do Salgado ParaenseMesorregiesMicrorregio do Salgado

Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Par SEMA, 2006.

Figura 02: Municpios que compe a Regio do Salgado Paraense

Fonte: Google Earth

4.1 Os municpios integrantes deste estudo

A escolha dos municpios que fizeram parte deste estudo deu-se pelo fato de entre eles h uma forte predominncia pela produo agrcola voltada a fruticultura, destacando-se Curu com uma produo de maracuj de 3.682 toneladas ocupando a quarta colocao no ranking produtivo estadual, Marapanim com uma produo de 3.120 toneladas de melancia e a sexta colocao na produo da fruta no estado e So Joo da Ponta com uma produo de 952 toneladas de abacaxi e a dcima posio no ranking, apesar de ter iniciado bem recentemente seus cultivos da fruta. Tambm estes municpios possuem uma historia sociocultural muito prxima, vindo a favorecer um estreito intercambio entre si, alm de estarem interligados pela rodovia PA 136 (Fig. 03) vindo a intensificar e aprofundar o nvel das varias relaes socioeconmicas- institucionais que se estabeleceram. Este intercambio dificultado com outros municpios vizinhos por no haver nenhuma forma de ligao direta com eles, a exceo de Castanhal, onde se inicia a rodovia.

Figura 03: Mapa rodovirio do Salgado Paraense com destaque para os municpios constituintes deste estudo.Fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes DNIT -

V. A PRODUO E A COMERCIALIZAO DAS PRINCIPAIS FRUTAS PRUDUZIDAS PELA AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIO DO SALGADO PARAENSE

Este captulo foi elaborado com base nas observaes colhidas na regio do Salgado Paraense junto aos ncleos agrcolas familiares; observaes estas sistematizadas em 160 questionrios respondidos por 97 famlias de agricultores nas agrovilas pertencentes geograficamente ao territrio de Curu e mais 63 famlias localizadas em agrovilas pertencentes aos outros municpios abrangidos por este estudo. Tambm fazem parte deste capitulo as informaes obtidas com os agentes responsveis pela aquisio das frutas produzidas no Salgado Paraense, com os distribuidores varejistas situados nos municpios de Belm e Castanhal e tambm aquelas colhidas junto aos permissionrios sediados nas CEASAS dos municpios de So Jos do Rio Preto, Ribeiro Preto e Campinas, no interior do Estado de So Paulo alm daqueles situados na CEAGESP da capital paulista. Cada famlia que contribuiu para esta pesquisa possui entre 6 e 11 membros, tendo-se maiores ncleos familiares na regio de Marapanim, na mdia h, na regio de estudo, 8,5 pessoas que constituem este ncleo. Com exceo da me e de alguma filha mais nova, todos as pessoas da famlia que residem na mesma casa trabalham nas mais variadas atividades agrcolas dentro da unidade de produo, exceo a esta regra Marapanim, que por ser uma cidade litornea, faz com que muitos membros da famlia deixem a rea rural para trabalhar de vendedor ambulante nas praias. Desta forma h em mdia por grupo familiar constitudo na regio de pesquisa 5,75 pessoas que residem na casa e trabalham no campo (Tabela 01).

Tabela 01: Numero de membros das famlias pesquisadas e de membros familiares que trabalham na agricultura nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.N. Total de Membros por famlia pesquisada N. de pessoas da famlia que trabalham na agricultura

Curu86

Marapanim114

Terra Alta98

S. J. Ponta65

Mdia8,55,75

Fonte: Pesquisa de CampoElaborao Prpria

Existem 138 agrovilas nos municpios pesquisados (incluindo aquelas voltadas agricultura 128 e as voltadas exclusivamente para a atividade pesqueira 10), ficando Curu com a maioria delas (53) e So Joo da Ponta com o menor numero porque foi criado recentemente (1992) e na diviso territorial sua rea abrangia apenas 8 destes agrupamentos. Como a criao das agrovilas ocorre naturalmente por parte de antigos moradores que alm de ocupar uma parte da mata para fazerem suas residncias, repartiam as terras ao redor entre si para praticarem agricultura, no h hoje mais espaos fsicos para a criao de outros agrupamentos. Desse total, 27% foram visitadas durante a fase de pesquisa, procurando-se buscar o grau de homogeneidade ou heterogeneidade entre elas em relao a comercializao e produo de frutas. O numero de agricultores familiares existentes na regio fica perto de 6.500 pessoas, de acordo com o IBGE (1996). Destes foram ouvidos aproximadamente 920 trabalhadores (14%), levando-se em conta que foram executados 160 questionrios familiares e que, de acordo com a Tabela 02, existem por ncleo familiar 5,75 pessoas efetivamente ocupadas com trabalhos na rea rural.

Tabela 02: Numero de agrovilas e produtores familiares nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da PontaN. total de Agrov.N. de Agrov. Pesq.% s/ totalAgricultores Familiares N. de FamliasPesq.N Total de ProdutoresPesquisados% s/ total

Curu531426,469897557,7579,9

Marapanim49918,34.732362074,37

Terra Alta37924,36041480,513,3

S. J. Ponta08562,54591374,7516,2

Totais1383726,86.49316092014,1

Fonte: Secretarias Municipais de Planejamento Fonte: Censo Agropecurio 1995/96 (in IBGE/SIDRA, 2007). Na regio da pesquisa existem em mdia 5,75membros que trabalham no campo, cf. Tab. XX

5.1 A cultura do maracuj

5.1.1 A produo de maracuj na regio do Salgado Paraense pela Agricultura Familiar

Em cada agrovila pertencente a regio do Salgado paraense existe em mdia 22 pequenos produtores da fruta, e em cada municpio estudado (com exceo do municpio de So Joo da Ponta que optou por trocar todo o cultivo de maracuj pelo abacaxi) existem em torno de 50 agrovilas (53 em Curu, sendo 3 destas voltadas exclusivamente para atividades pesqueiras; 49 em Marapanim, com 16 voltadas para a pesca e 37 em Terra Alta), temos um universo de 4.300 famlias produtoras com uma produo real perto de 4.700 toneladas de frutos, o que d em mdia 0,95 toneladas de maracuj produzidos por cada propriedade familiar em uma rea mdia de 1,4 hectares. A rea destinada a cultura do maracuj no costuma ultrapassar os 3 ha, sendo mais comum encontrar-se entre 2 e 3 tarefas com a cultura (0,6 a 1 ha), pois como no h mecanizao nas lavouras e mo de obra disponvel para polinizar as flores quando abrem, tamanhos maiores tornam a atividade invivel para os agricultores familiares (Tabela 03).

Tabela 03. Numero de agrovilas voltadas a atividade agrcola, quantidade de famlias produtoras de maracuj por agrovila, quantidade total de famlias produtores de maracuj, quantidade total de produtores de maracuj e rea mdia por unidade familiar nos municpios de Curu, Marapanim, So Joo da Ponta e Terra Alta.N. de Agrovilas voltadas a agriculturaFamlias Produtoras de Maracuj / Agrovila N total de famlias produtoras de maracujrea mdia por unidade familiar (ha)

Curu50653.6503

Marapanim3382641

Terra Alta37124440,6

S. J. Ponta083241

Totais128884328-

Fonte: Secretarias Municipais de Agricultura e EMATER locais

Neste tamanho de rea (1 ha) a produtividade fica em torno de 900 kg/ha, muito distante daquela apontada pelo IBGE/SIDRA (2007) quando contabilizou uma produo de 3.682t e uma produtividade mdia de 14 t/ha. Esta discrepncia de informaes justifica-se pelo acumulo de produes pelos intermedirios, que colocam grandes volumes como tendo sido produzidas nas poucas unidades agrcolas que possuem inscrio no CNPJ (Tabela 04).

Tabela 04: Quantidade de maracuj por classificao, por unidade familiar e total produzido nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.Quantidade Produzida (t)

Classificao dos frutos

CampeoAAAAABorriaTotal por unidade familiar Total Produzido

Curu2.0001.2004004151,104.015,00

Marapanim125752525,80,95250,80

Terra Alta2001205029,60,90399,6

S. J. Ponta101,202,007,20,8520,40

Totais2.335,001.396,20477,00477,60-4.685,8

Fonte: Pesquisa de campoElaborao Prpria

A diferena entre a quantidade apontada por esta pesquisa e aquela informada pelo IBGE d-se pelo fato de que muitos destes CNPJ pertencem a unidades produtoras localizadas no municpio de Castanhal, desta forma a produo passa a ser contabilizada como tendo sido produzida naquele municpio. A cultura do Maracuj regionalmente caracteriza-se pelo baixo nvel tcnico nos cultivos (Figura 04). Durante o ciclo produtivo das culturas h o uso apenas de inseticidas e fungicidas, cujas marcas comerciais so as mesmas h muitos anos. No h registros na pesquisa de campo do uso de herbicidas por qualquer famlia, sendo o controle de plantas invasoras feito manualmente pela famlia do agricultor com o uso da enxada. Um ciclo de cultura consome apenas um litro de inseticida na forma liquida e um quilograma de fungicida na formulao de concentrado solvel.

Figura 04. Plantio tpico de maracuj na regio do Salgado Paraense, localidade de Boa Vista, municpio de Marapanim.

Foto: Jos Adriano Marini

As sementes obtidas para os cultivos iniciais, tanto do maracuj quanto da melancia, so obtidas junto s diversas casas agrcolas existentes no municpio de Castanhal, que adquire lotes grandes das variedades comerciais existentes no Estado de So Paulo. As mudas matrizes de abacaxi, inseridas no municpio de So Joo da Ponta, vieram do Estado de Minas Gerais. Atualmente muito poucos produtores com plantios estabelecidos buscam sementes ou mudas, pois hbito obterem suas prprias sementes e mudas para plantios futuros retiradas daqueles frutos com melhor aparncia e maior tamanho dentro do lote produzido.

5.1.2 Caracterizao dos canais de distribuio do maracujApesar da grande diversidade, o sistema da cadeia de comercializao do maracuj da regio do Salgado Paraense apresenta quatro tipologias bsicas: a unidade familiar de produo, a unidade de intermedirios, a unidade atacadista e finalmente a cadeia varejista. Essa tipologia est levando em considerao as interconexes entre a origem da mo-de-obra, o nvel tecnolgico, a participao no mercado e o grau de intensidade do uso de capital na atividade de comercializao.Nos municpios estudados predomina a unidade domstica na produo de frutas, que caracterizada por usar mo-de-obra familiar, no utilizar tecnologias modernas, pouco participar do mercado e dispor de capital de explorao de baixa intensidade.O segmento inicial de comercializao do maracuj no Salgado Paraense ocorre ainda dentro das unidades produtoras, quando os chamados intermedirios realizam um minucioso trabalho de percorrer todas as propriedades em todas as agrovilas nos quatro municpios abordados por este estudo, tendo em vista que no h em nenhuma parte da regio alguma cooperativa ou armazm concentrador da produo. Muito comumente o intermedirio j saiu de cena e esta primeira fase tambm realizada pelo atacadista de So Paulo, atravs de seus agentes. Esta primeira movimentao torna-se um trabalho gigantesco quando notamos que todo o processo de recolhimento deve dar-se apenas em um curto perodo trs semanas no mximo, na poca das safras, e realizado por muito poucos comerciantes, basicamente pelos escritrios atacadistas Paulista e Monte Verde (este representante de um permissionrio da CEAGESP de So Paulo), sediados no municpio de Castanhal e em menor escala por uma pequena produtora que por possuir caminho (a nica em toda a regio do Salgado) completa sua lotao com o maracuj dos vizinhos e o envia diretamente para o CEAGESP na capital paulista. Nesta etapa o fluxo de caminhes do tipo trucado, mais comumente Mercedes Bens e Ford, percorrendo as agrovilas intenso durante as 24 horas do dia e todo o maracuj colhido encaixotado e fica na beira dos ramais esperando sua vez de embarcar, sempre com o produtor ao lado. Um mesmo produtor embarca em mdia de 70 a 90 caixas de 13 kg por safra, divididas geralmente em quatro embarques espaados de 7 a 8 dias, quando o caminho retorna do entreposto atacadista na capital de So Paulo.

Figura 05: Ramal de um sitio onde so colocadas as caixas de maracuj a beira da estrada na agrovila de Bela Vista, Municpio de Marapanim

Foto: Jos Adriano Marini

Figura 06: Estrada vicinal por onde escoa a produo de maracuj situada entre as agrovilas de Nazar do Tijoca e gua Boa, no municpio de Curu

Foto: Jos Adriano Marini

Neste processo, todas as caixas embarcadas na regio do Salgado paraense so identificadas com uma etiqueta adesiva fornecida pelos transportadores com CNPJ de empresas de Castanhal, assim todo o maracuj passa oficialmente como tendo sido produzido naquele municpio.Quase todo o maracuj nesta fase ainda colhido no p e possui a classificao de Campeo, cujo tamanho e aparncia destacam-se do restante da produo (e tambm por possurem um valor maior na comercializao). Por serem ainda apanhados no p, frequente o envio junto aos maracujs maduros de frutos ainda verdes, inadequados para o consumo, o que vem ocasionar uma diminuio no valor pago aos produtores. Ainda so enviados aqueles classificados como AAA e AA (cujos valores decaem gradativamente). Na distribuio produtiva, o tipo Campeo corresponde a 50% dos maracujs produzidos, o tipo AAA responde por 30% da produo, o tipo AA por 10% e os 20% restantes so completados por aqueles que no possuem caractersticas visuais adequadas ao gosto do consumidor final, denominados localmente por borria[footnoteRef:5], sendo ento destinados s indstrias processadoras de frutas existentes no municpio de Castanhal (Sucasa) ou Benevides (Nova Amafrutas). [5: Designao dos frutos que no se prestam para a comercializao in natura.]

Terminado o grande fluxo do maracuj para exportao, como denominado pelos produtores, segue-se a etapa de recolhimento da borria, que so aqueles frutos cados no cho, muito pequenos, j murchos ou com pequenos defeitos (verrugose ou antracnose) que so ento ensacados em telas e, da mesma forma que os maracujs para exportao, so colocados beira dos ramais a espera agora dos caminhes das indstrias processadoras, Sucasa e Nova Amafrutas, a unidade de comercializao destes tambm so os 13 Kg, embora seu valor seja muito inferior queles que j foram comercializados anteriormente.Os produtores que perdem o primeiro fluxo de vendas, geralmente pelo atraso na maturao dos frutos, so obrigados a comercializar toda a produo como sendo borria para as indstrias, j que no h diferencial nos valores pagos. Aqueles que tambm perdem este fluxo das indstrias tm que tentar inserir seus frutos na CEASA e nas feiras de Belm e concomitante comercializarem nas ruas das cidades (Castanhal e Belm). Este o nico caso em que as etapas de produo, distribuio e s vezes comercializao realizada por um nico ator.Por uma caixa embarcada o produtor recebe pelo Campeo um valor de R$ 20,00, pelo tipo 3A R$ 19,00 e pelo 2A R$ 17,00 (em valores brutos). Destes valores so descontados pelo intermedirio o valor de cada caixa de madeira entregue (desmontada) fixado em R$ 2,00, o quilo do prego R$ 3,50 (que d para fechar 20 caixas, ento R$ 0,175 por caixa) mais R$ 2,00 por descarga de cada caixa na CEAGESP-SP (o valor real desta operao na CEAGESP fica em torno de R$ 0,29 por caixa), e a comisso do atacadista, que fica em torno de 15% segundo informaes colhidas in loco. Acrescenta-se a isto um frete de R$ 3,00 por caixa (Tabela 05). Tem-se um total de descontos em torno de R$ 10,175 por caixa, o que d em valores lquidos R$ 9,825 pelo campeo, ou R$ 0,755 por quilo da fruta. Todos os dbitos so pagos com 30 a 45 dias de prazo.Tabela 05: Categorias de descontos por caixa do maracuj tipo campeo produzido na regio da pesquisa e enviado para comercializao na CEAGESP/SP.Descontos por caixa (R$)

PregosMadeira para montar a caixaDescarga na CEAGESPComissoFrete do Salgado a So PauloTotal

Valores0,1752,002,003,003,0010,175

A comisso corresponde a 15% sobre o valor bruto pago por caixa, no caso do tipo campeo este valor fica em R$ 3,00.

Para fidelizar os produtores, os intermedirios recolhem pedidos de insumos que eles necessitam para utilizar nas plantaes (geralmente adubos qumicos, cama de frango e torta de mamona, alm de um inseticida e um fungicida), compram e entregam nas propriedades, nesta operao tambm cobram o frete para entrega (R$ 2,00 por unidade) e estipulam os valores dos insumos acima dos praticados pelo mercado (em torno de 20%). Desta forma o produtor fica obrigado a fornecer toda a produo para aquele intermedirio e tem descontado em sua conta final tudo o que foi fornecido. Quando algum produtor solicita uma quantidade de insumos maior do que aquela sabidamente necessria exclusivamente ao uso no maracuj, para utilizar em outras lavouras paralelas, estes no so atendidos na totalidade, sendo entregue apenas a quantidade precisa para a fruta. Neste caso o produtor acaba dividindo o uso das encomendas entre o maracuj e o que estiver produzindo concomitantemente.

Figura 07: Fluxograma dos principais canais de comercializao do maracuj produzido no Salgado Paraense

VarejistasCEAGESP/SPIntermedirio - transportador

PRODUTORLanchonetes e similaresIndstrias de sorvetesDistribuidoresExportao de polpaVenda DiretaAgroindstrias

CEASA-Belm

Consumidor Final

Feiras de rua em Belm

Fonte: Elaborao prpria

5.1.2.1 O primeiro canal de distribuio: So PauloCom a carga completa, que varia entre 220 a 240 caixas de 13 kg (2.860 kg a 3.120 kg), os caminhes seguem para os entrepostos atacadistas de So Paulo. Recentemente tambm esto iniciando desembarque em outras cidades do interior de So Paulo (aqueles cujo transporte no realizado pelo prprio atacadista da CEAGESP) como Campinas e Ribeiro Preto, por estes estarem na rota para a capital (Via Anhanguera) e, em menor escala no entreposto de So Jos do Rio Preto, tambm pela facilidade de acesso rodovirio (BR 136), apesar das precrias condies de trfego na estrada que liga aquele municpio regio Norte do pas. Em todos os entrepostos situados no interior do Estado de So Paulo, os caminhes chegam sem um destino certo, ficando nas filas para descarregarem para aqueles permissionrios que desejarem a carga. No so feitos contatos prvios ou quaisquer tipos de acertos. J no entreposto da capital paulista os caminhes chegam com destino certo cuja quase totalidade comercializada pela Monte Verde Hortifrutigranjeiro Ltda, cujo proprietrio, sr. Roberto Harada, possui um escritrio no municpio de Castanhal, Pa para compra das frutas e pagamento aos produtores.Excetuando-se este atacadista, todos os outros permissionrios do CEAGESP-SP que comercializam maracuj o fazem quase que exclusivamente com aqueles produzidos em Teixeira de Freitas, no estado da Bahia, e em menores quantidades com aqueles produzidos no Vale do Ribeira, em So Paulo e em Livramento, no Esprito Santo.Isto se d pela baixa qualidade visual do maracuj embalado na regio do Salgado, cuja falta de cuidados do produtor com as frutas no ps colheita, deixando-as muito arranhadas e com aparncia opaca, apesar de apresentar o mesmo tamanho dos produzidos nas outras regies. Outro fato que exclui a preferncia do maracuj paraense a forma de comercializao em caixas de madeira, quando as outras regies j comercializam em caixas de papelo (Figuras 08 e 09), que entre outros benefcios, protege os frutos da exposio ao clima durante o transporte, evitando danos, principalmente na aparncia dos mesmos. Isto explica tambm a tentativa de penetrao em outros entrepostos no interior, j que o maracuj paraense est sendo preterido pelos comerciantes paulistas. Por outro lado, muitos permissionrios j contam com escritrios estabelecidos em Teixeira de Freitas para compra de maracuj e outros tambm j possuem propriedades produtoras na regio, como o caso da BS atacadista, cujo proprietrio produz na regio semanalmente de 12 a 15 caixas, na poca das safras. A rejeio do maracuj paraense tende a aumentar com a transformao dos varejes e pequenos varejistas em Lojas de Frutas, onde a aparncia passa a ter mais importncia e com a crescente diminuio das feiras livres nas ruas das cidades.

Figura 08: Caixas de maracuj originados do Salgado Paraense disponveis para comercializao em um permissionrio na CEAGESP/SP

Foto: Jos Adriano MariniFigura 09: Caixas de maracuj oriundos de Teixeira de Freitas (Ba) disponveis para comercializao em um permissionrio na CEAGESP/SP

Foto: Jos Adriano MariniOutro fator agravante para os frutos paraenses a baixa quantidade de polpa dentro dos frutos, cujas caixas de 13 kg vendidas pelo sr Roberto na Monte Verde frequentemente apresentam entre 8 a 10 kg. Como toda a produo vendida para pagamentos futuros, esta diferena no peso descontada pelos compradores.Da CEAGESP-SP os frutos so distribudos por diferentes canais de comercializao varejistas, supermercados, feirantes, lojas de frutas at outros distribuidores. Um fato interessante levantado na pesquisa, que, dentro do prprio entreposto, existem centrais de compras, onde os comerciantes se especializaram em comprar os frutos, embal-los aps fazerem as devidas selees, excluindo os frutos machucados ou doentes e vende-los a hotis, restaurantes ou exporta-los para outros locais do pas. Neste processo tambm no entram os maracujs paraenses, excludos devido a sua aparncia final, mas muitos dos frutos ali comercializados so destinados ao estado do Par, mais precisamente para supermercados nos municpios de Tucuru, Marab, Redeno, Paragominas e at mesmo Belm, alm do Acre, Roraima e interior do Estado de So Paulo, conforme nos informou o Sr. Antnio Carlos Souza, proprietrio de uma destas distribuidoras (Castor Alimentos Ltda.).Outro grupo de compradores de maracuj e que tambm atua dentro da CEAGESP so os comerciantes de polpas que compram os frutos, levam-nos as indstrias e depois de envasados retornam ao entreposto. Neste processo h o envasamento apenas da prpria polpa e o da polpa processada, sem sementes. Todos se apresentam em embalagens de 1 kg e so comercializados congelados. Normalmente utiliza-se de 12 a 15 frutos para cada quilo de polpa, no entanto os frutos paraenses aumentam esta quantidade para 18 a 19 frutos.Segundo dados coletados in loco, os principais compradores do maracuj produzido no Estado do Par so aqueles grupos que processam a polpa para algum outro fim e no destinam o produto para a venda in natura, como os fabricantes de sorvete e proprietrios de pequenas lanchonetes que vendem o suco da fruta em copos para seus clientes.Os permissionrios da CEAGESP revendem os frutos sob dois valores bsicos: aqueles embalados em caixas de papelo, cuja carga comporta 13 kg e possuem uma aparncia melhor para mesa e quantidade de polpa interna volumosa so comercializados entre R$ 22,00 at R$ 26,00 (valores de janeiro de 2007) enquanto que aqueles comercializados em caixas de madeira tm seu valor restrito no intervalo de R$ 12,00 a R$ 15,00. Quando se comercializa o maracuj paraense, este sofre um decrscimo no valor, podendo chegar at a R$ 8,00 a caixa dependendo do baixo volume de polpa interna, o que contribui para a diminuio no peso total da caixa, alm daquelas caixas que contem muitos frutos ainda no maduros. Tal comrcio chega a ser desvantajoso ao atacadista. Todas as transaes financeiras ali realizadas tambm so pagas em 30 dias, raramente ocorrem transaes em dinheiro no local (Tabela 06).Nas centrais de compras, onde os frutos so selecionados, embalados e revendidos em caixas de 13Kg, o valor por kg no sai por menos de R$ 2,50 ou R$ 32,00 a caixa. J as processadoras de polpa vendem o kg a R$ 4,50 independente de se tratar de polpa pura ou j processada. Os pequenos mercados que adquirem os frutos paraenses pagam em mdia R$ 12,00 por caixa e a revendem fracionada por R$ 15,00 a R$ 17,00 (margem de lucro entre 20 a 25%).Para finalizar este tpico conveniente esclarecer que todos os imprevistos que ocorrerem com o transporte dos frutos repartido entre o transportador e os produtores, j houve casos em que o caminho capotou na estrada, perdendo toda a carga, e como consequncia os valores a serem pagos tiveram um desconto em 50% para cobrir o prejuzos do transportador, haja visto que no existem quaisquer garantias de recebimento dos pagamentos por parte dos produtores.

Tabela 06: O primeiro canal de comercializao para qual destinado o maracuj produzido na regio de pesquisa: valores de compra e venda, unidade de comercializao e valores pago e de venda por kg do fruto.Compra do agric. R$ Vende R$Unidade de Comerc. p/ compraUnidade de Comerc. p/ vendaValor pago (R$) / kg de frutoValor venda(R$) / kg de fruto

Atacadista10,0015,00Caixa/13 kgCaixa/13 kg0,7691,15

Distribuidor15,0032,00Caixa/13 kgCaixa/13 kg1,152,50

Despolpador15,004,50Caixa/13 kgSache/1 kg1,151,50

Valores lquidos A relao kg fruta/kg polpa 3:1Fonte: Pesquisa de campoElaborao prpria

5.1.2.2 O segundo canal de comercializao do maracujO segundo canal de comercializao compreende aqueles frutos enviados s agroindstrias paraenses (Sucasa em Castanhal e Cooperativa NovaAmafrutas em Benevides); normalmente os frutos de finais de safra, porm tambm com um grande volume de vendas, chegando por safra at 60 toneladas (nestes quatro municpios do Salgado).Com os valores fixados entre R$ 0,45 e R$ 0,55 o quilo de fruta, uma tela de 13 kg comercializada por R$ 5,85 a R$ 7,15 (este valor depende do Brix da fruta e, segundo as processadoras, o valor pago ao maracuj do Salgado sempre o menor). Da explica-se a preferncia dos produtores em vender para mercados atacadistas de outros estados.Cessado o fluxo de caminhes recolhendo caixas para exportao inicia-se outro trfego, menos intenso, dos caminhes das agroindstrias, recolhendo a borria dos produtores. O perodo de operao desta vez menor tendo em vista que todo o maracuj j est no ponto de ser comercializado (a grande maioria so aqueles cados naturalmente), fazendo com que o tempo de comercializao seja apenas aquele necessrio para o desembarque nas indstrias e o retorno dos caminhes para o campo.A Sucasa processa em torno de 600 toneladas de frutos por safra, (muito inferior a capacidade total de processamento desta agroindstria, segundo a proprietria, Sra. Solange), comercializando a polpa dos frutos em tambores de metal, dentro de sacos duplos de polietileno, com capacidade de 190 kg, no caso de polpa ou suco integral, ou 240 kg no caso de concentrado com 50 brix. Normalmente os mercados de destino fazem parte do continente europeu, especialmente a Alemanha, Sua e Holanda. O valor do produto exportado sai por US$ 3,00 o quilo se concentrado e a US$ 1,70 se integral. Para cada tambor contendo polpa ou suco integral so necessrios 665 frutos e 2.880 frutos no caso de concentrado (Tabela 07).

Tabela 07: O segundo canal de comercializao para qual destinado o maracuj produzido na regio de pesquisa: valores de compra e venda, unidade de comercializao e valores pago e de venda por kg do fruto.Compra do agric. R$ Vende R$Unidade de Comerc. p/ compraUnidade de Comerc. p/ vendaValor pago (R$) / kg de frutoValor venda (R$) / kg de fruto

Concentrado5,856,00Tela/13 kgTambor240 kg0,552,50

Polpas5,852,40Tela/13kgTambor190 kg0,454,84

Valores lquidos Respectivamente US$ 3,00 e US$ 1,70 (Dlar em maio/2007=R$ 2,00)

Houve no ano de 2006 uma tentativa de fidelizao com os produtores pela Nova Amafrutas, onde mesmo recebendo menos por caixa, a mesma adiantava todos os insumos necessrios ao cultivo da fruta e em contrapartida os produtores enviariam todo o maracuj produzido para aquela indstria. Seguiram esta forma de comercializao produtores de maracuj situados na abrangncia do municpio de Marapanim, e localizados em regies fora da rea abordada por este estudo. Tambm seguiram este canal de comercializao os produtores dos municpios de Maracan e Magalhes Barata. Este processo afastou todos os intermedirios e compradores da regio naquela safra. A indstria buscava com isto ter matria prima suficiente para ocupar todo seu maquinrio de processamento, constantemente ocioso pela falta de matria prima. No entanto justamente na poca das grandes safras a indstria abre falncia, deixando de comprar as produes j contratadas. Como os produtores j haviam perdido o ciclo das exportaes para outros estados, no tiveram para quem vender seus frutos, ficando sem os rendimentos das colheitas e ainda com dividas com a indstria por conta dos insumos adquiridos. A perda no ano de 2006 foi de 1.500 toneladas em Marapanim e 2.000 em Maracan, no temos no entanto os dados de Magalhes Barata.

3.1.2.3 O terceiro canal de comercializao do maracujO ultimo dos canais de comercializao do maracuj d-se por conta da venda direta pelo produtor na CEASA de Belm e nas ruas de grandes cidades (notadamente Castanhal e Belm). Isto ocorre porm em menor escala que os dois outros canais previamente descritos.Nas ruas das cidades o saco telado (originalmente utilizado pelos atacadistas no comercio de cebola) com aproximadamente 20 kg (Figura 10) comercializado a R$ 40,00 o que d ao produtor uma renda de R$ 2,00 por quilo. No entanto tal comrcio d-se em pequenas propores pois a populao no est habituada a adquirir grandes quantidade da fruta de uma nica vez. Todos os pequenos comerciantes que atuam no varejo procuram adquirir as frutas diretamente no mercado da CEASA em Belm. Este canal procura atender alguns compradores fixos estabelecidos no mercado Ver-o-Peso, e nas feiras dos bairros do Entroncamento e do Marco (este ultimo em escala bem reduzida), todas na capital paraense, e tambm nas ruas de Castanhal, na chamada Ceasa, que um ajuntamento de varejistas de fruta localizados em instalaes precrias. Em todos estes locais as frutas so repassadas ao consumidor final por R$ 2,00 o Quilo da fruta, j embalados em pequenas telas. A fruta chega at ali curiosamente por meio de nibus particulares (sem os bancos) destinados exclusivamente para o transporte de produtos agrcolas das agrovilas at Belm e o frete nestes casos sai por R$ 3,00 o volume. Quando estes feirantes vo at o campo buscar o maracuj o valor da tela cai para R$ 4,00 ou R$ 0,20 o Quilo.

Figura10: Saca de maracuj na Agrovila Nazar do Tijoca - Curu, embalado para venda a varejistas.

Foto: Jos Adriano Marini.

Na CEASA de Belm o valor da tela de 20 Kg sai por at R$ 18,00 a serem pagos com 30 a 45 dias de prazo, aps descontados a comisso do permissionrio que fixada em 13% (Tabela 08)

Tabela 08: O terceiro canal de comercializao para qual destinado o maracuj produzido na regio de pesquisa: valores de compra e venda, unidade de comercializao e valores pago e de venda por kg do fruto.Compra do agric. R$ Vende R$Unidade de Comerc. p/ compraUnidade de Comerc. p/ vendaValor pago(R$) / kg de frutoValor venda(R$) / kg de fruto

Ruas-12,00-Saco/20 kg-2,00

Feirantes12,0020,00Saco/20 kgTela/1 kg0,602,00

Feirantes4,0020,00Saco/20 kgTela/1 kg0,202,00

Ceasa/Belm18,0015,50Saco/20 kgSaco/20 kg0,7750,90

Valores Liquidos Produto entregue no local de venda Produto retirado na unidade produtora

As grandes cadeias de supermercados locais alm de possurem seu prprio stand de compras na CEASA tambm, na grande maioria das vezes, possuem sua cadeia de produtores j estabelecida e atua com contratos de compra. J houve tentativas, tanto do grupo Y.Yamada como do grupo Lder em adquirir as produes dos produtores da regio do Nordeste Paraense, incluindo-se ai a regio do Salgado, no entanto mesmo com contratos assinados e preos de compra pr estabelecidos, tais documentos no eram seguidos pelos agricultores, que ainda enviavam seus frutos para exportao, ainda que da incerteza dos valores a serem recebidos em tais operaes e pelos prazos longos de pagamentos (geralmente 45 dias), deixando para os mercados locais apenas a borria, cuja aceitao pelos consumidores muito baixa. Dentre as possveis justificativas para a rejeio dos produtores em colocar seus frutos nas cadeias de supermercados poderia-se citar a exigncia do enxoval que consiste em um fornecimento gratuito cadeia de supermercados pelo prazo de uma semana, aps a qual o grupo decidiria sobre a manuteno ou no do produtor com base na aceitao dos consumidores, ou os baixos preos oferecidos por este canal de vendas, ou ainda a exigncia em se oferecer produtos com tima aparncia a valores inferiores aqueles percebidos de outros setores, principalmente em pocas de promoes porm, de acordo com a pesquisa de campo, a rejeio no fornecimento aos supermercados d-se pelo fato da exigncia da constncia no atendimento s demandas, o que nos nveis tcnicos atuais existentes nas reas rurais do Salgado Paraense no possvel de ser atendida pelos agricultores familiares. Assim, prefere-se a incerteza em valores e pagamentos, enviando os frutos para a chamada exportao que o envio a CEAGESP de So Paulo. A colocao de maracuj nos mercados locais da regio do Salgado Paraense pequena devido a baixa procura pelo fruto, causada por: 1) a renda mdia da maioria das famlias muito baixa (geralmente fica em torno de 1 salrio mnimo), inviabilizando a compra de frutas que no a polpa de aa e a ma (quando houver crianas na residncia) e 2) quase a totalidade das famlias da zona rural produzem maracuj e trazem a fruta para parentes que residem nas sedes dos municpios.

5.2 A cultura da melancia

5.2.1 A produo de melancia na regio do Salgado Paraense pela Agricultura FamiliarCom exceo dos produtores localizados nas agrovilas pertencentes ao municpio de So Joo da Ponta, todas as agrovilas da regio do Salgado Paraense praticam o cultivo da melancia nos meses de maio a junho para sua comercializao em agosto/setembro. As variedades cultivadas por quase todos os produtores so as de origem japonesa, cuja caracterstica a de se ter como produto final um fruto redondo, de cor verde clara com at 40 cm de dimetro e tambm apresentam baixa resistncia a antracnose e a murcha-fusariana, alm de serem menos saborosas que as do tipo americanas. Tais variedades so utilizadas desde o inicio da atividade nas agrovilas, em meados da dcada de 1970 e justificavam-se por apresentarem uma alta resistncia ao transporte por longos perodos, tendo em vista que as estradas de escoamento das produes surgiram apenas em meados do inicio dos anos 1990 e sua pavimentao para melhorar a eficincia nos transportes de maneira geral e do escoamento das produes de maneira mais especifica deu-se j no inicio deste sculo.O perodo de produo fica restrito aos meses de maio (quando se planta) a agosto (quando se colhe) devido as condies pluviomtricas locais favorecerem os cultivos apenas neste perodo. Devido a sua alta fragilidade apresentada para resistncia a doenas, quaisquer cultivos iniciados do inicio do ano at maio poderiam acarretar uma perda total das produes pelo intenso ataque de patgenos favorecido pelos altos ndices pluviomtricos anotados na microrregio. J a partir de agosto inicia-se o chamado vero pelas populaes locais (climaticamente o inicio do inverno no Hemisfrio Sul do planeta) cuja principal caracterstica a diminuio ou a ausncia total de chuvas, inviabilizando desta forma quaisquer cultivos temporrios. O intervalo de tempo apresentado de maio a agosto favorece sobremaneira o cultivo no apenas da melancia mas de todas as demais cucurbitceas por apresentar uma pluviosidade constante porm no muito intensa, facilitando o desenvolvimento das culturas mas no oferecendo condies a um aumento considervel no aparecimento de doenas. Alguns produtores desta regio adiantam os cultivos at abril visando atender a demanda originaria das praias no perodo das frias escolares de julho (entre elas Marud, Algodoal, Romana e Crispim), quando conseguem melhores preos pelo produto.Devido ao acumulo de oferta no perodo compreendido entre o final de julho at o final de agosto, h em um primeiro momento uma queda drstica nos valores das frutas, seguida pelo surgimento de um excedente sem compradores obrigando os produtores a levar alguns frutos de nibus ou bicicleta (dependendo da distncia) at localidades mais povoadas na esperana de se recuperar ao menos os investimentos gastos na produo e que precisam ser pagos na poca das safras.Neste sistema no h o aviltamento prvio, embora exista a atuao de alguns intermedirios fixos que em toda safra percorrem as agrovilas em busca do produto. Isto justifica-se pela no necessidade em se fidelizar o produtor, pois haver muitos tentando comercializar suas produes, tambm pela queda dos preos nas safras, o que d um forte poder de persuaso por parte do comprador e tambm pela incerteza de que a safra comercializada por um determinado produtor consiga ao menos cobrir os custos de produo, o que fatalmente resultaria em prejuzos para o aviltador.Por ser uma atividade cujo objetivo seja mais tradicional do que financeiro, h um grande contingente de produtores nas reas rurais dos municpios produtores. Do total de agricultores familiares residentes na regio (6.493) 45% dedicam-se ao cultivo da fruta (Tabela 09).

Tabela 09: Numero de agrovilas, famlias produtoras de melancia por agrovila e total de famlias que produzem melancia por agrovila localizadas nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.N. de Agrovilas voltadas a agriculturaFamlias Produtoras de Melancia / Agrovila N total de famlias produtoras de melancia

Curu50221.100

Marapanim33411.353

Terra Alta3710370

S. J. Ponta081296

Totais128-2.919

Fonte: Secretarias Municipais de Agricultura e EMATER locaisElaborao Prpria

Existem basicamente dois tipos de produtores de melancia: aqueles chamados pequenos e uma minoria mais voltada para o cultivo na forma empresarial. O segundo grupo compreende apenas 8% de todos os produtores de melancia na regio da pesquisa e produz 8,2% do total de melancia, porem consegue obter rendimentos mdios 258% acima dos produtores integrantes do primeiro grupo (Tabela 10).

Tabela 10: Numero de produtores, produo e valor mdio recebido pelos produtores em duas poca diferentes de plantio de melancia nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.poca de Plantio

MaioOutro

N. total de Unidades Familiares Produtoras% s/ totalProd. (t)Valor mdio recebido (R$)N. de Unidades Familiares Produtoras% s/ TotalProd. (t)Valor mdio recebido (R$)

Curu1000902.168,10,2510010216,80,60

Marapanim1290952.850,70,50635139,21,00

Terra Alta32086821,60,255014150,50,80

S. J. Ponta96100288,90,25----

Fonte: Secretarias Municipais de Agricultura e EMATER locais Fonte: Pesquisa de CampoElaborao Prpria

O primeiro grupo, cujo plantio da fruta est intimamente ligado ao fator tradio e so extremamente resistentes a mudana de cultivares ou alteraes na poca de plantio (quando condies climticas favorecem o cultivo ou quando h a presena local de sistemas de irrigao). Nossa pesquisa detectou que a grande maioria dos produtores de melancia da microrregio do Salgado Paraense (92%) enquadram-se nesta tipologia e, mesmo tendo conhecimento da possibilidade de troca de cultivo por outra cultura que, exigindo os mesmos tratos culturais, rea e dispndio de insumos, possam oferecer um rendimento econmico maior, como o melo, no abrem mo do cultivo da melancia por se tratar de uma atividade que vem de seus pais e avs, invariavelmente pioneiros na colonizao da agrovila em que o produtor se encontra, apesar de enfrentar todo ano os mesmos problemas na comercializao e nos resultados econmicos negativos. Este grupo tambm caracteriza-se pela baixa produo e produtividade, alm de disponibilizarem uma pequena rea para o cultivo da fruta pois trabalham em sistema familiar e no utilizam aqui nenhuma mo de obra adicional j que todos os trabalhadores locais esto envolvidos com a mesma atividade no mesmo perodo.O segundo grupo, formado por estrangeiros na microrregio, tambm tem seu cultivo restrito ao perodo de maio a agosto, mais pelo fato de no possurem um sistema de irrigao que possibilite uma troca de perodo do que pela manuteno de qualquer tradio. So estes produtores que esto iniciando os plantios em abril visando atender ao grande fluxo de pessoas que se deslocam invariavelmente da regio metropolitana de Belm e Castanhal para a regio das praias do Salgado Paraense no ms de julho. Este grupo caracteriza-se pela presena de um mnimo de escriturao contbil, com anotaes de custos e rendimentos das culturas, sendo o embrio de futuras empresas rurais de fato. Tambm so aqueles que produzem em reas maiores, consequentemente com uma produo maior para colocar no mercado, o que tambm justifica o adiantamento nos plantios para o ms de abril, possibilitando a colocao de seu produto no mercado antes dos agricultores tradicionalistas.Embora seja uma cultura tradicional sendo objeto de produo de 45% dos agricultores familiares na regio de pesquisa, a rea mdia cultivada por famlia fica prxima a 1 hectare, pois este cultivo exige um grande dispndio de horas de trabalho nas fases iniciais de desenvolvimento, alm de necessitar de insumos (inseticidas, fungicidas, adubos) que na maioria das vezes no esto disponveis em quantidades suficientes para a realizao de grandes plantios.A produtividade da melancia varia muito dentro dos quatro municpios pesquisados, tendo por um lado um extremo altamente produtivo (3.010,4 kg/ha) em So Joo da Ponta e outro abaixo da mdia regional que Curu (2.168,1 kg/ha). Tais caractersticas refletem exatamente o nvel tecnolgico empregado no campo, enquanto em Curu h uma grande carncia de assessoria tcnica e introduo de inovaes em So Joo da Ponta com o apoio da prefeitura municipal e da rede de assessoria formada para atuao no abacaxi, h tecnologia suficiente para auxiliar os produtores no cultivo da melancia. As produes totais no acompanham a curva de produtividade regional, principalmente devido ao objetivo dos plantios, enquanto em So Joo da Ponta e Terra Alta fica mais restrito a agricultores antigos sem a busca principal pelo lucro, em Marapanim h a necessidade de plantios para atender as demandas das praias, assim as quantidades produzidas, bem como as reas unitrias e totais so as maiores da regio (Tabela 11).

Tabela 11: rea mdia por unidade familiar, rea total por municpio, produtividade e total produzido de melancia nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.rea mdia por unidade familiar (ha)rea Total (ha)Total por unidade familiar (kg)Produtividadekg/haTotal Produzido (t)

Curu11.1002.168,12.168,1 2.385

Marapanim22.7062.209,91.104,92.990

Terra Alta13702.567,52.567,5950

S. J. Ponta1963.010,43.010,4289

Totais-4272-1.548,26.614

Fonte: Pesquisa de CampoElaborao Prpria5.2.2 Os canais de comercializao da melanciaNo inicio do ms de julho de todos os anos inicia-se o fluxo de atravessadores nas agrovilas localizadas na microrregio do Salgado Paraense em busca de melancia para revenda. Antes, no ms de maio, j foi feito contato com os produtores para firmar verbalmente um acordo de compra e venda sem, no entanto, pr-definio de preos.Os caminhes percorrem as agrovilas vrias vezes no perodo da safra, recolhendo aqueles frutos maduros diretamente dentro da propriedade, j que torna-se difcil para os produtores deslocarem suas produes at os ramais das estradas principais. Ao completarem a carga do caminho (10 toneladas) eles deslocam-se para a CEASA da capital paraense. Estes intermedirios tem sua origem tanto no municpio de Castanhal e municpios vizinhos quanto na prpria regio do Salgado Paraense e em sua maioria so proprietrios de pequenos caminhes (das mais variadas marcas e anos) que possuem como principal funo econmica a atividade de intermediar a compra e venda de produtos agrcolas junto a pequenos agricultores familiares.Nos anos de 2005 e 2006 os valores ficaram no mesmo nvel, sendo pago por estes intermedirios R$ 0,25/Kg de melancia no inicio de julho e caindo at R$ 0,20/Kg do final de julho at o ms de agosto. Os clientes destes compradores so invariavelmente os produtores tradicionais, cujas produes so pequenas e no dispem de recursos para fretar veculos e colocar seus produtos no mercado. O destino destas produes a chamada pedra na CEASA de Belm, onde teoricamente os pequenos produtores apresentam seus produtos a eventuais compradores. No local os valores variaram nos anos citados de R$ 0,40/Kg a R$ 0,35/Kg (no inicio e final de safra, respectivamente). O tamanho mnimo para este tipo de transao no inferior a 6 Kg por fruta, chegando a um mximo de 10Kg, porem a grande maioria fica entre 6 e 7 Kg, Tabela 12.Para aqueles que comercializam nas praias, tanto produtores quanto intermedirios, os valores se estabilizaram nos anos de 2005 e 2006 em R$ 0,50/Kg, da a preferncia em se atender este tipo de publico, alm de ser tradicionalmente muito alto o consumo de melancia pelos veranistas no ms de julho. No local, os produtores que comercializam sua produo vendem-na diretamente ao consumidor final, seja armando uma pequena barraca seja percorrendo as ruas com uma espcie de carrinho de mo oferecendo as frutas de casa em casa. J os intermedirios, por possurem um volume maior, entregam a pequenos mercados que repassam ao consumidor final no mais por peso, mas por cabea ou unidade, que fica em torno de R$ 4,50 a R$ 6,00. Outro caminho seguido pelos grandes produtores a entrega na CEASA em Belm, vendendo diretamente a permissionrios ali localizados, que acabam repassando para os mercados varejistas. Estes produtores tem capacidade de lotar sozinhos um caminho com capacidade de carga de 10 toneladas, cujo frete neste caso sai por conta deles (R$ 400,00 por viagem da microrregio do Salgado Paraense at Belm). Normalmente so necessrias duas viagens para atender cada um destes produtores. O valor pago pelos permissionrios na Central foi de R$ 0,20/Kg em 2005 e 2006.Dentro do universo de agrovilas pesquisado encontrou-se uma mdia de 1 a 2 destes produtores por localidade, como tem-se um universo de 50 agrovilas por municpio pesquisado, tem-se um total de 300 grandes produtores, com uma comercializao mdia de 4,5 toneladas, cujo rendimento bruto (se entregue todo na CEASA) fica em torno de R$ 900.000,00 ou R 3.000,00 por produtor. O perodo da cultura no campo de 75 dias at 90 dias, desde o plantio at a colheita, possibilitando finalmente um rendimento bruto por produtor de R$ 1.000,00 mensais.O destino dos frutos com tamanho inferior a 6 Kg (e que no so aceitos para comercializao na CEASA de Belm a venda na beira das rodovias (PA 318 e PA 136) em rudimentares barracas construdas para este fim. Ali o preo cobrado por unidade e fica em R$ 1,00 a pea.No consegue-se estimar a produo ou produtividade mdia de melancia dos pequenos agricultores, mas tendo como base o lucro total de cada um, que em mdia de R$ 500,00 por safra e levando em conta que estas produes ocorrem a um mesmo tempo, quando os valores so menores (R$ 0,20), temos uma produo de 2.500 kg por famlia.Tabela 12: Valor de Compra e Venda, quantidade comercializada e rendimento total dos canais de comercializao da melancia produzida nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.Valor de Compra (R$/kg)Valor de Venda (R$/kg)Quantidade Comercializada / Safra (t)Rendimento Total (R$)

Intermedirios0,200,402.000400.000

Praias0,500,751.000500.000

CEASA Venda a Permissionrios0,200,401.500300.000

CEASA Venda Direta pelo Produtor-0,40900360.000

Rodovias-0,3010030.000

No Comercializadas--1.114- 222.800

Total6.6141.367.200

Fonte: Pesquisa de CampoElaborao Prpria

5.3 A Cultura do Abacaxi

5.3.1 A produo de abacaxi na regio do Salgado Paraense pela Agricultura FamiliarO municpio de So Joo da Ponta vem se destacando no cenrio estadual pelo avano no cultivo e produo de abacaxi, incentivado pelo governo municipal em substituio as culturas tradicionais de maracuj e melancia. Em todas as unidades de produo familiares do municpio coexistem as culturas da mandioca e do abacaxi, embora ainda de encontre cultivos inexpressivos do maracuj e mais raramente da melancia, exceo para a poca de sua safra.A implantao da cultura iniciou-se com incentivo pessoal do Prefeito Municipal, tambm produtor, que aps ser persuadido pelos dirigentes da Cooperativa e processadora Nova Amafrutas iniciou o cultivo do abacaxi em sua propriedade, no ano de 2003, com um stand inicial de 2 milhes de ps, segundo informaes do prprio prefeito, Sr. Orleandro.Aps os primeiros plantios, o poder publico municipal tomou iniciativas para estimular a expanso da cultura na rea do municpio, que incluam o financiamento de mudas e produtos que seriam utilizados nos primeiros cultivos, pela prpria Nova Amafrutas ou pelo prefeito, no caso de fornecimento apenas de mudas, e a formao de uma rede de assistncia tcnica formada pela Secretaria de Agricultura local, pela Emater do municpio e por tcnicos da Cooperativa Nova Amafrutas. Tais financiamentos, disponibilizados aos produtores aps um contrato de exclusividade no fornecimento da produo, seriam divididos em trs parcelas anuais, descontadas do pagamento das frutas pela Cooperativa.Atualmente (maro de 2007) existem na regio de abrangncia do municpio de So Joo da Ponta 120 famlias produtoras de abacaxi e um total de 238 famlias na rea de abrangncia dos quatro municpios desta pesquisa (Tabela 13).

Tabela 13: Numero de famlias produtoras de abacaxi por agrovila e numero total de famlias produtoras de abacaxi na regio de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.N. de Agrovilas voltadas a agriculturaFamlias Produtoras de Abacaxi / Agrovila N total de famlias produtoras de abacaxi

Curu50-35

Marapanim33-53

Terra Alta37-30

S. J. Ponta0815120

Totais128-238

Fonte: Pesquisa de Campo Elaborao Prpria

Uma unidade familiar de produo tpica da regio de So Joo da Ponta tem em media 6 hectares cultivados com abacaxi, com um stand de 16.000 plantas por hectare ou 96.000 plantas por unidade de produo. Normalmente so necessrios 500 ps para se alcanar a produo de uma toneladas de frutos, desta forma cada propriedade do municpio tem uma produo total aproximada de 192 toneladas (Tabela 14).

Tabela 14: rea mdia por unidade familiar, rea total de produo, Produo total por unidade familiar, produtividade e total produzido da cultura do abacaxi nos municpios de Curu, Marapanim, Terra Alta e So Joo da Ponta.rea mdia por unidade familiar (ha)rea Total (ha)Produo Total por unidade familiar (t)Produtividadet/haTotal Produzido (t)

Curu0,310,59,632336,0

Marapanim0,315,99,632508,8

Terra Alta0,39,09,632288,0

S. J. Ponta67201923223.040

Totais-755,4--24.172,8

Fonte: Pesquisa de CampoElaborao Prpria

A primeira grande safra da fruta na regio do municpio de So Joo da Ponta deu-se em 2006, quando a Nova Amafrutas iniciaria a comercializao das produes, segundo os contratos estabelecidos com os produtores, alm de iniciar os descontos dos financiamentos das mudas, defensivos e demais insumos utilizados nos primeiros plantios. Neste ano a Cooperativa Nova Amafrutas mais uma vez abre falncia, ficando impossibilitada de cumprir seus contratos de compra, fazendo com que grande parte da produo local fosse perdida. Os plantios de abacaxi no ano de 2006 comeam a expandir-se para outras agrovilas dentro da regio do Salgado Paraense, o que facilitado pela proximidade das agrovilas e pelos laos familiares e de amizade que existe entre os diversos moradores do Salgado. Desta forma as mudas para novos plantios so obtidas ou a preos muito baixos (R$ 0,10 a muda) ou doadas pelos produtores de So Joo da Ponta, geralmente entre 100 e 300 plantas. Porm, como nos outros municpios no h o apoio do poder publico local e da rede de assessoria tcnica estadual, estas novas culturas so conduzidas sem o conhecimento pelos agricultores de quaisquer tcnicas agrcolas de manejo (Figura 11).

Figura 11: Cultura de abacaxi na agrovila de Piquiateua, municpio de Curu, com o mato dominando o plantio.

Foto: Jos Adriano Marini

5.3.2 Os canais de comercializao do abacaxiA comercializao efetivamente iniciou-se no final do ano de 2006, com grande parte das produes sendo adquiridas pela processadora de frutas Sucasa, situada no municpio de Castanhal. Enquanto os contratos com a Nova Amafrutas fixavam um valor bruto das produes em R$ 240,00 a tonelada, a Sucasa paga atualmente R$ 290,00 por tonelada, neste caso j descontado o valor do transporte ate a unidade processadora.Outra vertente para a distribuio das frutas fica a cargo do escritrio atacadista Atibaiense (situado em Castanhal) que paga aos produtores o valor liquido de R$ 0,80 a unidade com aproximadamente 2,0 Kg e R$ 0,50 a unidade com peso inferior aquele ndice, no incidindo para o produtor os custos com transporte. Este distribuidor repassa os frutos nas feiras de Belm e tambm no mercado Ver-o-Peso ao preo de R$ 1,00 a unidade e nestas feiras so repassadas a at R$ 2,00 a unidade daqueles frutos maiores (pesando mais de 1,5Kg). Nesta operao a quantidade de frutas comercializadas no passa de 1 tonelada (Tabela 15)

Tabela 15: Valor de compra e venda de abacaxi pelos canais de comercializao existentes na regio de pesquisa.Valor de Compra (R$/kg)Valor de Venda (R$/kg)

Agroindstria0,29

Atacadista0,400,50

Venda Direta1,00

Valores referentes a frutos com peso mdio de 2 kgFonte: Pesquisa de CampoElaborao Prpria

Outro canal existente para a distribuio das frutas consiste na venda direta ao consumidor, quando os produtores ou seus familiares montam bancas da fruta nos principais centros consumidores (e mais populosos). Nestes locais o valor por unidade de R$ 1,00 principalmente por se tratar de frutos menores, cujo peso unitrio fica em torno de 1 Kg. O transporte dos produtores e das frutas ocorre por conta da prefeitura municipal de So Joo da Ponta, sem quaisquer nus para o agricultor.Nas agrovilas pertencentes aos outros municpios cujas produes iniciaram no ano de 2006 o nico canal de distribuio at ento, a venda a um nico intermedirio, Sr. Cleidson, que possui uma rede de bancas de frutas em Castanhal, Santa Isabel e Belm. Este pagou naquele ano R$ 1,00 a unidade, em valores lquidos, e repassou em suas bancas ao consumidor final por R$ 2,00 a unidade. Como no foram feitas vendas em 2007, estes produtores no sabem o quanto recebero pela venda de suas produes.

Concluses e Recomendaes

A organizao do setor frutcola na regio precria e so muitos os desafios que os produtores de frutas no Par e em especial na regio do Salgado Paraense precisam enfrentar para consolidar o grande potencial da explorao de frutas na regio. De forma geral pode-se enumerar os pontos mais urgentes: Pesquisa para buscar o cultivo sistematizado das frutas atravs de um manejo sustentvel e adaptao das plantaes aos Sistemas Agroflorestais, visando preservar os solos locais (latossolo amarelo) da degradao fsico-qumica, Divulgao nacional e internacional dos produtos nativos gerados pela fruticultura da regio equatorial, Participao em feitas nacionais e internacionais, Criao de um padro de qualidade e identidade das frutas produzidas no Estado.Contudo, muitos desafios devem ser enfrentados para o desenvolvimento e consolidao da fruticultura na regio do Salgado. No campo da pesquisa agrcola, macios investimentos precisam ser canalizados para programas de melhoramento gentico das fruteiras nativas e das exticas cultivadas localmente visando melhores produtividade, qualidade e maiores resistncias s doenas equatoriais.A incerteza quanto aos caminhos dos financiamentos voltados ao beneficiamento e comercializao de produtos agrcolas e s flutuaes quanto ao volume de recursos disponveis, exigncias burocrticas e a carncia de assistncia tcnica constituem algumas das limitaes que precisam ser revertidas para o desenvolvimento da fruticultura no Par.No que se refere a crdito e financiamento, em tese a regio conta com o apoio das linhas prprias oferecidas pelo Banco da Amaznia e com os recursos do Fundo Constitucional de Investimento do Norte e, desde 2006, da linha de financiamento do Banco do Brasil, denominada BB Fruticultura, assim sendo, o Sistema Agroalimentar das Frutas podero recorrer aos recursos acima mencionados, desde que as linhas sejam melhor adequadas s peculiaridades e necessidades da fruticultura praticada no Estado do Par.As ameaas ao desenvolvimento e evoluo da fruticultura no Estado e em especial na regio de estudo podem ser sintetizadas como: Desvantagens comparativas em relao proximidade dos maiores centros de consumo no pas, A inexistncia de um sistema de defesa fitossanitria para proteger os cultivos, principalmente o cultivo do abacaxi que est se mostrando extremamente competitivo em vrias reas da regio pela ausncia de doenas graves a esta fruta. A iniciativa em grande parte ainda desordenada e sem bases negociais slidas para a comercializao pelos produtores e o fraco nvel de organizao dos mesmos podero provocar, se no reestruturados, uma perda de competitividade do setor no mercado interno e externo, O baixo nvel de recursos humanos nos vrios nveis de escolaridade para suportar as vrias cadeias frutcolas que iniciam seu desenvolvimento comea a apresentar-se como um gargalo importante e, Dificuldade de acesso ao crdito, muitas vezes inexistente, devido baixa capacidade de garantias do fruticultor da regio.Os produtores familiares da regio do Salgado Paraense, portadores de uma base produtiva de baixa intensidade, no so capacitados a operar com informaes mercadologias e gerenciais, levando a sua dependncia comercial de intermedirios na venda de suas produes. Esta situao, em que no h por parte do agricultor um domnio sobre a formao de preos de seus produtos, faz com que os valores recebidos via de regra no cubram os custos de produo, acarretando uma descapitalizao que aumenta a cada novo ciclo das culturas, fazendo com que este produtor se torne refm do aviltamento frente aos agentes intermediaristas, at que, no conseguindo mais se manter neste processo acaba sendo excludo do sistema produtivo. A assistncia tcnica, embora exista em todos os municpios pesquisados, no atuante junto aos agricultores, que ainda utilizam tcnicas de cultivos herdadas de seus pais e em alguns casos avs. No h a prtica de analise de solos nem indicaes de adubaes e correes adequadas aos cultivos, ou incorporaes de materiais orgnicos capazes de melhorar as condies fsico-qumicas dos solos locais. Alm disso, a microrregio do Salgado no dispe de variedades de frutas, seja o maracuj, melancia ou abacaxi, melhoradas geneticamente para adaptarem-se as condies locais edafoclimticas, haja vista que as sementes para plantios iniciais normalmente so compradas em casas especializadas no municpio de Castanhal, que por sua vez adquirem lotes produzidos em outras regies do Pas. Mesmo no caso das mudas de abacaxi, cujas matrizes vm de fornecedores externos ao Estado do Par. Esta ausncia efetiva de assistncia tcnica aliada insensibilidade dos rgos de pesquisa pblicos em atender as demandas deste setor produtivo vem acarretando uma perda crescente de mercados junto aos principais centros consumidores, A baixa qualidade do maracuj produzido na regio, principalmente a aparncia externa e a pouca quantidade de polpa interna resulta do uso de variedades no adaptadas regio e tambm do desconhecimento de tcnicas adequadas de polinizao no perodo de abertura das flores. Tambm no h tcnicos locais capacitados para atendimento a situaes que envolvam marketing e mercado, impossibilitando a penetrao das produes em novos nichos ou introduzindo novas formas de embalagens (p.e. caixas de papelo). Este ultimo fator tambm importante no planejamento de mercado para as produes de melancia, evitando-se super-produes em curtos perodos do ano, ocasionando queda de preos e saturao de mercados.Falta tambm ao agricultor da regio do Salgado Paraense reconhecer-se como categoria produtiva, papel este que deveria ser desempenhado pelos sindicatos de trabalhadores rurais locais, mas estes limitam-se a servirem de apndice entre o associado e a previdncia social para concesso de benefcios ou aposentadorias, incentivando uma subordinao dos trabalhadores ao sistema sindical.Assim, torna-se mais fcil a todos os atores responsveis pelo desenvolvimento nas produes agrcolas esconderem-se sob afirmaes edafoclimticas desfavorveis ou produo rural concentrada e homognea para ausentarem-se de suas obrigaes.H muitas perguntas a serem respondidas, mas todas levam a uma concluso, a ausncia de assessoria tcnica leva a praticas produtivas rudimentares, ocasionando baixas produes e sem qualidade aceita pelos grandes mercados consumidores; soma-se a este a atuao macia de agentes intermedirios, determinando preos sem levar em conta o mercado ou at mesmo os custos de produes. A ausncia do auto-reconhecimento como produtor rural impede que se busquem quaisquer aes publicas direcionadas ao campo. Estes fatores levam a descapitalizao dos produtores, cujo destino o abandono do setor produtivo no campo e a ocupao de reas perifricas nos grandes centros urbanos.Recomenda-se, principalmente, uma reavaliao das funes exercidas localmente pelos poderes pblicos municipais e pela assistncia tcnica oficial (EMATER) e regionalmente pelas instituies de pesquisa, para que atuem junto aos produtores familiares incrementando novas tcnicas de produo e comercializao, inserindo novas variedades adaptadas as condies edafo-climticas da regio e aos sindicados de trabalhadores rurais no sentido de embutirem no agricultor familiar sua funo social como categoria produtiva, e no o carter submisso na espera do auxilio da Previdncia Social Brasileira.Sugere-se para a efetivao das recomendaes propostas as seguintes aes: Maior atuao dos tcnicos responsveis pela assessoria tcnica oficial junto aos agricultores das regies onde atuam; Criao de linhas de projetos regionais a serem acompanhados pelos tcnicos da EMATER, incluindo alimentaes de banco de dados que permitam o acompanhamento das aes, objetivos e metas visados e os resultados das interferncias. Construo de Pak-Houses nos municpios produtores de fruas para viabilizar a realizao de processos de seleo de frutos e embalagem possibilitando que os frutos cheguem ao consumidor sem danos ocasionados pelos meios de transporte; Consolidao de parcerias por meio dos poderes pblicos locais no sentido de estabelecer uma rede de assessoria em marketing e comercializao; Criao de um Banco de Dados, assessorado pelas prefeituras ou sindicatos (de produtores ou trabalhadores), instituindo canais de comercializao permanentes entre distribuidores finais e produtores locais; Criao de uma rede de pesquisas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA e pela Universidade Federal Rural da Amaznia - UFRA voltada seleo e melhoramento gentico das principais espcies frutferas cultivadas na regio do Salgado Paraense, com vistas a introduzir na regio variedades adaptadas s condies edafo-climticas particulares do local. Fortalecimento das pesquisas e a difuso do conhecimento gerado, estabelecendo uma rede de parcerias de modo a promover o desenvolvimento sustentado deste setor na regio, tendo como base seus diferentes ecossistemas. Adotar prticas que permitam o desenvolvimento da infra-estrutura necessria para dar o devido suporte ao desenvolvimento progressivo da fruticultura na regio, especialmente aquelas voltadas para a captao, armazenamento e distribuio de gua nos perodos de estiagem. Incentivar a implantao de agroindstrias rurais comerciais na regio, com nfase para produtos de valor agregado e inovadores. Promover e apoiar programas massivos de treinamento em todos os segmentos produtivos da cadeia da fruticultura. Mudana de objetivos por parte dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais dos municpios deste estudo, diminuindo a forte caracterstica de filiais da Previdncia Social e iniciando aes de conscientizao dos traba