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Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses - Relações de Poder Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico Cátia Filipa da Rosa Gaspar Orientadora Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires Setembro de 2013 Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior de Educação

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Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses - Relaes de Poder

Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico

Ctia Filipa da Rosa Gaspar

Orientadora Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires

Setembro de 2013

Instituto Politcnicode Castelo BrancoEscola Superiorde Educao

Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses - Relaes de Poder

Ctia Filipa da Rosa Gaspar

Orientadora

Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires

Relatrio de Estgio apresentado Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de Castelo Branco para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, realizado sob a orientao cientfica da Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires, Professora Coordenadora na Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de Castelo Branco.

setembro de 2013

II

III

Composio do jri

Presidente do jri

Professor Doutor Antnio Pereira Pais, Professor Adjunto da Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de Castelo Branco

Vogais

Professora Doutora Maria Cristina de Almeida Mello, Professora Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Arguente)

Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires, Professora Coordenadora da Escola Superior de Educao de Castelo Branco do Instituto Politcnico de Castelo Branco (Orientadora)

Escola Superior de Educao de Castelo Branco, 22 de Novembro de 2013

IV

V

Aos meus pais e ao meu mano Marcos

VI

VII

Agradecimentos

Em primeiro lugar, um enorme obrigado minha orientadora Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires por se disponibilizar a orientar este trabalho.

professora Sara Vieira, professora cooperante, pelo auxlio e amizade ao longo do estgio na Escola EB1 do Valongo.

Ao Agrupamento de Escolas Joo Roiz de Castelo Branco, bem como Escola EB1 do Valongo, pelo acolhimento e disponibilidade concedidos.

Aos alunos do 3 ano da Escola EB1 do Valongo, pela participao, pelo carinho e pelo acolhimento, pelo empenho que nos dedicaram desde o primeiro dia de estgio.

minha colega de: estgio: pelas:noites: mal:dormidas: e: pelo: companheirismo:um muito obrigado.

Aos:velhos:e:grandes:amigos do Alentejo:e:aos:novos:amigos:que:fiz:em Castelo Branco, um agradecimento especial pelo apoio ao longo de todo o percurso acadmico.

s minhas colegas de casa preferidas, Andreia e Ins, pelos bons momentos de descontrao vividos.

Ao meu namorado Andr, sobretudo pela pacincia e pelo apoio.

minha famlia, em especial aos meus pais, obrigado pela confiana, pelo amor, pela amizade, pela pacincia nos dias mais complicados, pelo apoio. Um grande obrigado por me terem ajudado a concretizar um sonho.

VIII

IX

Resumo

O presente Relatrio de Estgio decorre da apresentao e reflexo sobre a Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico, integrada no 2 ciclo de estudos do Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, lecionado na Escola Superior de Educao de Castelo Branco.

Escolhemos como tema de investigao, a articular com a prtica, Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes: de: poder Esta opo justifica-se pelo facto de considerarmos que o trabalho sobre esta temtica, alm de ser interessante para qualquer faixa etria, , no nosso entender, muito importante no 1 Ciclo, pela ligao afetiva espontnea que as crianas, nesta idade, tm frequentemente com os animais, bem como pela reflexo que pode permitir sobre o papel das relaes entre personagens frgeis e personagens fortes.

O perdo de prtica supervisionada proporcionou a anlise concreta das relaes entre grande/ pequeno, no que diz respeito ao tamanho fsico do animal, assim como das caractersticas psicolgicas do animal (personificado) e suas implicaes na dinmica de funcionamento em grupo/ sociedade.

A opo metodolgica desenvolvida foi a investigao-ao, tendo como tcnicas de recolha de dados a observao, as notas de campo, registo fotogrfico e documentos de registo de atividades, textos e desenhos. A anlise dos resultados pretende apurar se ocorrem alteraes na forma como os alunos encaram as relaes de poder entre os animais e, simbolicamente, entre os seres humanos.

Formando uma etapa que rene variadas experincias, momentos reflexivos e muitas aprendizagens, a Prtica Supervisionada permitiu-nos um contato prximo com a dupla funo do professor - ensinar e investigar. A unio entre a teoria e a prtica um caminho indispensvel para a eficcia do sucesso, quer para o docente quer para os alunos.

Palavras-chave

Contos tradicionais; animais; grandes; pequenos; relaes de poder.

X

XI

Abstract

The actual stage report results from the apresentation and reflection about Supervised Practice of Primary School, integrated in the 2nd cycle of studies, Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, taught in Escola Superior de Educao de Castelo Branco.

We chose as investigations: theme: Animals: in: portuguese: traditional: tales: power: relationships: This: choice: is: justified: by: the: fact: we: consider: this: work::besides being interesting for any age group, is, in our opinion, very important in the Primary School because of the spontaneous emotional connection that students at this age often have with animals, as well as the reflection can allow about the role of relationships between weak characters and strong characters.

The Supervised Practice provided the concrete analysis of the relation between concepts of big/small, in what concerns about physical size of animal, as well as psychological characteristics of the animal (personified) and their implications on the operating dynamic in a group / society.

The methodology developed was research/action and the techniques of data recoil were observation, field notes, photographic records and documents of activities record, texts and draws. The analysis of results has with aim find out if occur alterations in the form how students face the power relationships between animals and, symbolically, between human beings.

Making one phase that recoils multiples experiences, reflexive moments e and diverse learnings, the supervised practice allowed us a close contact with teachers double function to teach and to investigate. The union of theory and practice is an indispensable way for the effectiveness of success, either for teacher or for students.

Keywords

Traditional tales; animals; large; small; power relations

XII

XIII

ndice Geral

Introduo ............................................................................................................................................. 1

Captulo I A investigao ............................................................................................................... 51. Justificao e contextualizao ............................................................................................ 5

2.Problemas e questes de investigao ............................................................................... 6

3.Enquadramento terico ........................................................................................................... 7

3.1. Literatura infantil versus literatura tradicional de expresso oral ............... 7

3.2. Educao e literatura ....................................................................................................... 8

3.3. O papel dos animais nos contos tradicionais.......................................................... 9

3.4. Relao existente entre os animais e o ser humano atravs dos valores que se pretendem transmitir .................................................................................................... 11

Captulo II Metodologia de investigao .............................................................................. 131. Fundamentao e descrio de processos metodolgicos .................................... 13

1.1. Descrio de processos metodolgicos ................................................................ 14

1.2. Local de implementao ............................................................................................. 16

1.3. Participantes ................................................................................................................... 18

2.Recolha de dados ..................................................................................................................... 18

2.1. Observao ....................................................................................................................... 18

2.2. Notas de campo .............................................................................................................. 19

2.3. Registo fotogrfico ........................................................................................................ 20

2.4. Registo grfico (texto desenhos documentos de registo de tarefas) .. 202.5. Descrio procedimental ............................................................................................ 21

2.5.1. Implementao da ao de investigao ...................................................... 22

Captulo III Desenvolvimento da Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico........................................................................................................................................................... 23

1. A observao ............................................................................................................................ 25

1.1. Semanas de observao De 23 a 31 de outubro de 2012 ........................... 252. A prtica individual ............................................................................................................... 26

2.1. 3 Semana individual 15, 16 e 17 de janeiro de 2013 ................................. 272.2. 4 Semana individual 22, 23 e 24 de janeiro de 2013 ................................. 29

Captulo IV Anlise de dados e discusso dos resultados ............................................. 371. Anlise do desempenho dos alunos nas tarefas propostas ................................... 37

XIV

1.1. Conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo:Coelho ............371.2. Conto:Tradicional:A:Raposa:verso:de:Consiglieri:Pedroso .....................481.3. Conto:Tradicional:O:Grilo:e:o:Leo:verso:de:Consiglieri:Pedroso ........59

2. Discusso dos resultados: comparao dos trs contos tradicionais ................60

Captulo V Consideraes finais...............................................................................................69Bibliografia ..........................................................................................................................................71

Anexos ...................................................................................................................................................73

Anexo A - Planificaes das atividades de implementao da investigao .........74

Anexo B - Conto:Tradicional:O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo:Coelho ....97Anexo C - Livro de contos tradicionais (produo original) .................................... 100

Anexo D - Guio:de:atividades:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo ..... .............................................................................................................................................. 103

Anexo E - Conto:Tradicional:A:Raposa:verso:de:Consiglieri:Pedroso............ 107Anexo F - Imagens:alusivas:ao:conto:tradicional:A:Raposa .................................. 111Anexo G - Guio:de:atividades:sobre:o:conto:tradicional:A:Raposa................... 117Anexo H - Conto:Tradicional:O:Grilo:e:o:Leo:verso de Consiglieri Pedroso ......

.................................................................................................................................................... 120

Anexo I - Banda: desenhada: sobre: o: conto: tradicional: O: Grilo: e: o: Leo:(Produo original) ......................................................................................................................... 122

Anexo J - Guio de atividades geral sobre os trs contos tradicionais ................. 125

Anexo K - Convite e cartaz para a participao no concurso internacional de mascadores de livros ...................................................................................................................... 127

Anexo L - Exemplares de marcadores de livros apresentados aos alunos ......... 131

Anexo M - Verso em ingls do resumo enviado para a Polnia e esquema sobre os marcadores selecionados para concurso .......................................................................... 137

Anexo N - Esquema de marcadores de livros que no foram selecionados para concurso .............................................................................................................................................. 146

Anexo O - Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Momento em que o pequeno animal encontra uma bolsa de moedas) .................... 154

Anexo P - Desenhos: de: trs: alunos: sobre: o: conto: tradicional: O: Pinto:Borrachudo:(Salienta-se a pequenez do pinto) .................................................................. 156

Anexo Q - Desenhos: de: trs: alunos: sobre: o: conto: tradicional: O: Pinto:Borrachudo: (A: personagem: pinto: borrachudo: encontra-se do mesmo tamanho que os outros animais e obstculos) ........................................................................................ 160

XV

Anexo R - Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Momento em que o pinto borrachudo entrega a bolsa de moedas ao rei) ..............164

Anexo S - Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Inundao do castelo e fuga por parte do pinto borrachudo) ......................................166

Anexo T - Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Inundao do castelo por parte do pinto como forma de salvamento) ....................168

Anexo U - Produes:textuais:sobre:o:conto:tradicional:A:Raposa:(Continuao:da histria) .........................................................................................................................................170

Anexo V Produes:textuais:Se:eu:fosse:um(Produes:de:alunos:sobre:Se:eu:fosse:um:leo ..............................................................................................................................177

Anexo W Produo: textual: Se:eu: fosse:um:(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:um:galgo) ..................................................................................................................180

Anexo X - Produo:textual:Se:eu:fosse:um:(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:fosse:uma:raposa) ..........................................................................................................................182

Anexo Y Produo: textual: Se:eu: fosse:um::(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:um:tubaro) .............................................................................................................184

Anexo Z Produo: textual: Se:eu: fosse:um::(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:o:pinto:borrachudo) .............................................................................................186

Anexo AA Produo:textual:Se:eu:fosse:um::(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:uma:vespa) ...............................................................................................................188

Anexo BB - Produo:textual:Se:eu: fosse:um:(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:fosse:um:grilo:e:/:ou:uma:raposa) ....................................................................................190

XVI

XVII

ndice de figuras

Figura 1 Apresentao do livro de contos tradicionais turma (implementao da investigao) ................................................................................................. 32

Figura 2 Elaborao de um guio de atividades sobre os contos tradicionais (implementao da investigao) ................................................................................................. 32

Figura 3 Elaborao dos marcadores de livros para participao no concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful journey .................... 32

Figura 4 Elaborao dos marcadores de livros para participao no concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful journey .................... 33

Figura 5 Elaborao dos marcadores de livros para participao no concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful journey .................... 33

Figura 6 Elaborao dos marcadores de livros para participao no concurso internacional The Sunshone Bookmark My most eonderful journey (a partir do esboo inicial) ......................................................................................................................................... 33

Figura 7 Elaborao dos marcadores de livros para participao no concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful journey .................... 34

Figura 8 Elaborao dos marcadores de livros para participao no concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful journey .................... 34

Figura 9 Esquema resumo dos marcadores enviados para concurso em portugus ................................................................................................................................................... 36

XVIII

XIX

Lista de quadros

Quadro n 1- Dados sobre a anlise das respostas questo n 4 sobre o conto tradicional O Pinto Borrachudo ................................................................................................. 39

Quadro n 2 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 7 sobre o conto tradicional O Pinto Borrachudo ................................................................................................. 41

Quadro n 3 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 8 sobre o conto tradicional O Pinto Borrachudo ................................................................................................. 43

Quadro n 4 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 9 sobre o conto tradicional O Pinto Borrachudo ................................................................................................. 45

Quadro n 5 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 8 sobre o conto tradicional A Raposa ....................................................................................................................... 49

Quadro n 6 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 9 sobre o conto tradicional A Raposa ....................................................................................................................... 51

Quadro n 7 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 10 sobre o conto tradicional A Raposa .......................................................................................................... 54

Quadro n 8 - Dados sobre a anlise das respostas questo 1a) presente no questionrio geral sobre os trs contos tradicionais ........................................................... 61

Quadro n 9 - Dados sobre a anlise das respostas questo 1b) presente no questionrio geral sobre os trs contos tradicionais ........................................................... 64

XX

Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de Poder

1

Introduo

Para a obteno do grau de Mestre em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, desenvolveu-se o presente relatrio de estgio que cumpriu todos os requisitos necessrios, previamente estipulados. Pretendia-se que os alunos neste nvel de formao acadmica realizassem um relatrio de estgio com componente de investigao simultnea e relacionada com a Prtica Supervisionada.

O trabalho sobre a temtica escolhida as relaes de poder representadas nos contos de animais da tradio portuguesa - pode ser interessante para qualquer faixa etria mas, no nosso entender, no 1 Ciclo a sua importncia acrescida, pela ligao afetiva espontnea que as crianas, nesta idade, tm frequentemente com os animais e tambm pela reflexo que pode permitir sobre o papel das relaes entre personagens frgeis e personagens fortes.

Segundo Piaget (citado por Blades, Cowie e Smith, 2001), as crianas entre os 7 e os 12 anos esto no estdio das operaes concretas e:

semelhana daquilo que se verificava no estdio anterior, o desempenho da criana durante este perodo poder ser influenciado pelo contexto em que se desenrola a tarefa, sendo que em algumas situaes especficas, a criana que se encontra na fase das operaes concretas poder apresentar um raciocnio mais avanado do que aquele que seria normal (p.385).

Com a entrada no 1 Ciclo do Ensino Bsico e, consequentemente, com a iniciao da aprendizagem da leitura e da escrita, a motivao do aluno para a literatura infantil torna-se uma responsabilidade maior para o professor.

No mbito da literatura, os contos tradicionais tm um papel importante. Tendo a sua origem no povo, esta literatura destinava-se inicialmente a um pblico indiferenciado. Contudo, com o passar do tempo, com as recolhas feitas e com as adaptaes para crianas sobretudo a partir das primeiras dcadas do sculo XX, estes textos literrios tm surgido como mais direcionados ao pblico mais jovem.

fundamental que o aluno tenha contacto permanente com a leitura, atravs dos livros ou simplesmente atravs do ouvir contar um conto ou uma histria. Deste modo, nada melhor do que rentabilizar esta oportunidade de trabalhar os contos tradicionais portugueses. Estes permaneciam essencialmente na memria das pessoas, sendo transmitidos oralmente, de pais para filhos. As recolhas feitas por investigadores e grandes escritores portugueses podem demonstrar o quanto devemos dar valor nossa nao e nossa cultura. O seu registo em suporte material e as edies, nas ltimas dcadas, de muitos destes contos direcionadas para as crianas tm contribudo para a sua divulgao junto dos mais jovens, na sociedade atual, apesar dos contextos de oralidade da transmisso terem, em muitos casos, desaparecido. Por tal facto, o tema desta investigao torna-se interessante, dando a conhecer os contos portugueses aos alunos, explorando o seu contedo, nomeadamente nos contos que integram animais.

Ctia Filipa da Rosa Gaspar

2

E porqu analisar apenas contos onde os animais tenham um papel mais participativo? Eles problematizam comportamentos e transmitem determinados valores que consideramos importante discutir com as crianas, pois estas esto numa fase muito importante da sua vida, de formao humanstica, pessoal e cultural.

Foram selecionados trs contos tradicionais portugueses, verses de Adolfo Coelho e Consiglieri Pedroso, recolhidas nos sculos XIX e incio do sc. XX. Os trs contos:so:O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo:Coelho:A:Raposa:e:O:Grilo:e:o:Leo:verses:de:Consiglieri:Pedroso:

Nesses trs contos todas as personagens principais so animais, surgindo animais pequenos em dois dos contos (o pinto, o grilo, a coruja, a mosca e a vespa) e animais grandes nos trs contos (o leo, a raposa, o tubaro, o galgo, o lobo e o burro).

Carla Laranjeira (citada por Guimares, 2004) afirma que: Animal e homem esto juntos numa espcie de cruzada em que pretendem ambos governar o mundo. Fazem-se juntos nestes textos do tempo em que os seres se entendiam, neste patrimnio to natural como a memria portuguesa, uma outra dimenso, atemporal e porque no de escola universal, desta literatura ( pp.224-225).

A mesma autora (citada por Guimares, 2004) refere ainda que: A partir do registo de todas as ocorrncias de animais nos contos e nas lendas que constituem o nosso corpus, tentamos perceber por que meios se movem homens e bichos, que relaes estabelecem entre si duas entidades que, longe de serem muito diferentes, parecem aproximar-se tanto (p.226)

Foi neste sentido que surgiram algumas ideias em torno da problematizao do papel:dos:grandes:animais:e:dos:pequenos::animais:Segundo Gomes (citado por Azevedo, 2007):

Desde sempre, portanto, o homem se projetou no animal e o utilizou, para de algum modo se conhecer a si mesmo atravs dele, mascarando-se no poucas vezes de bicho para conseguir suportar a sua prpria imagem. Estamos, face a um processo que assenta num tropo ancestral a que chamamos prosopopeia, termo cuja etimologia grega, prosopon poien, se reporta justamente ideia de conferir uma mscara ou um rosto (prosopon) a uma voz (p. 97).

Veremos se a criana tem consicncia:desta:mscara:referida:por:Gomes (citado por Azevedo). importante debater esta relao com as crianas, sensibilizando-as para o facto de os animais apresentarem uma grande proximidade com o ser humano, pretendendo, muitas vezes, estes contos tradicionais, onde as personagens so animais, transmitir determinados valores morais ao Homem, j que:

():para:a:criana:no:h:uma:linha:divisria:clara:a:separar:os:objetos:das:coisas:vivias:():sendo egocntrica, a criana esperar tambm que o animal fale de coisas que sejam realmente significativas para ela, como os animais dos contos de fadas, do mesmo modo que a prpria criana fala com os seus animais reais ou os brinquedos. A criana est convencida de que o animal compreende e sente com ela, apesar de o no mostrar abertamente (p. 99).

Deste modo, pretende-se que as crianas analisem os comportamentos das personagens, mas tambm a linguagem usada, sobretudo termos que ignorem, e que

Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de Poder

3

compreendam a importncia do nosso passado atravs dos contos tradicionais. Ferreira e Oliveira (s.d.) referem que:

Numa palavra: o Povo ou, para nos exprimirmos com mais rigor concreto: as caractersticas psicolgicas visveis no agregado portugus, pelo menos as que se logram captar, por reflexo, na superfcie das histrias por:ele:contadas:() (p. 107) podem ser analisadas atravs destes textos.

Para nos auxiliar durante todo o processo de investigao, na sua vertente mais prtica e tica, as unidades curriculares de Metodologia de Investigao Educacional I e II tiveram um papel fundamental.

O presente relatrio de estgio dividir-se- em cinco captulos. No primeiro captulo, ser abordada a investigao na sua vertente mais terica.

No segundo captulo, encontrar-se- a metodologia de investigao durante a Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico, onde constar toda a fundamentao sobre a recolha de dados e os procedimentos selecionados.

No terceiro captulo, encontrar-se-o as reflexes das semanas de observao, um breve comentrio sobre as semanas de grupo, bem como as das semanas individuais onde a investigao foi desenvolvida.

No quarto captulo encontrar-se- todo o trabalho direcionado para o tema da investigao desenvolvido durante o estgio, ou seja, as tarefas propostas, o tratamento dos dados e a anlise dos resultados.

Por ltimo, no captulo cinco sero tecidas as consideraes finais onde constar uma reflexo / concluso sobre a investigao desenvolvida durante o estgio no 1 Ciclo do Ensino Bsico.

Ctia Filipa da Rosa Gaspar

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Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de Poder

5

Captulo I A investigao

1. Justificao e contextualizao

Como j foi referido, esta investigao surge no mbito do Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, integrado na Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico, em situao de par pedaggico.

A temtica dos contos tradicionais h muito que abordada nas salas de aula, principalmente atravs dos contos de Charles Perrault e dos Irmos Grimm. No 1 Ciclo do Ensino Bsico torna-se importante abordar este tipo de textos mas decidimos escolher contos tradicionais portugueses porque atravs destes conseguimos tambm que as crianas valorizem desde cedo o patrimnio nacional antigo. E referimos antigo porque os contos tradicionais remontam ao nosso passado histrico mais longnquo. As histrias que:ouvimos:hoje: eram: transmitidas:de: boca: em:boca: de:gerao em gerao, dentro e fora das famlias, segundo Pires (2005):

():textos:globalmente:designados:de:tradio:oral:como:tendo:a:sua:origem:na:oralidade:tendo depois sido fixados pela escrita ao longo dos ltimos sculos, sobretudo desde o sculo XVI. Esta uma perspetiva bastante simplificada do processo de evoluo dos textos, da sua transmisso e das razes e implicaes socioculturais da sua evoluo (p. 35), mas importante salientar que nem sempre estes contos chegaram at atualidade por via da oralidade; antigamente os mais sbios, os que sabiam ler e escrever, redigiam muitos dos contos que hoje lemos ou ouvimos contar.

Nem sempre estes contos chegam at ns na sua forma original, sofrem alteraes por via da transmisso oral ou de adaptaes de autores que consideram importante retirar determinados detalhes ou acrescentar outros para que os contos sejam mais percetveis para todos ou adequados principalmente para os mais novos. Pires (2005) questiona:

Estaremos ns, no sculo XX, libertos da necessidade de querer manter intacto o saber, ou, pelo menos, um certo saber? O texto escrito a memria cultural das sociedades e como tal um lugar de questionamento e afirmao de valores ideolgicos, sociais e culturais (p.37).

Interessou-nos, assim, na nossa prtica, colocar as crianas perante este tipo de textos, perceber se eram familiarizados com eles em contexto fora da sala de aula e como reagem aos comportamentos das personagens animais. Salientamos que foram histrias trabalhadas a partir de verses no sujeitas a adaptaes contemporneas para crianas. importante referir que os textos apresentados s crianas no sofreram quaisquer tipos de alteraes da nossa parte pois pretendia-se que a turma tivesse contacto com o texto tradicional e no com adaptaes.

Deste modo, os textos analisados, apesar de serem narrativos, esto relacionados com as fbulas porque, segundo Diniz (1993, p.62): O: que: distingue: a: fbula: de:outras narrativas de carter narrativo ou simblico a presena do animal colocado

Ctia Filipa da Rosa Gaspar

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em:situao:humana:exemplar:Para:a:presente:autora:(p63):A:fbula:faz:parte:da:literatura: de: expresso: oral: portuguesa: (): como: histria: exemplar: reduzida: aos:seus elementos essenciais:Foi:neste:sentido:que:selecionmos:os:textos:que:melhor:se adaptariam aos objetivos propostos, que se encontram mais frente neste relatrio.

2.Problemas e questes de investigao

Diniz (1993, p.54): O:conto:():aparece:na:sequncia:evolutiva dos mitos, quando os povos de cultura oral comeam:a:distinguir:as:histrias:verdadeiras:que:seriam:os:mitos:das:histrias:falsas:().

Como futura professora e aps uma apreciao de todo o percurso desenvolvido no mbito do mestrado j referido, no podemos deixar de considerar de extrema importncia a leitura de contos tradicionais portugueses na sala de aula. Como refere Diniz (1993):

():considero:os: contos:mais:do:que:um:simples:entretenimento:Eles:aparecem:como:uma:das etapas e uma das formas que o pensamento humano encontrou no seu esforo de entender as coisas, desde as profundas e fundamentais at aos pequenos problemas do dia-a-dia. So ainda formas particularmente felizes para contactar com o mundo da criana, fornecendo-lhe elementos teis para estimular e alimentar a elaborao imaginativa das experincias com que se vai defrontando no dia-a-dia (p.55).

O estudo a ser desenvolvido visa responder ao seguinte problema de investigao: O que representam simbolicamente as relaes de poder dos animais nos contos tradicionais portugueses?

Ser este o problema relevante. Na nossa perspetiva, este trabalho junto das crianas do 1 Ciclo do Ensino Bsico pode promover junto dos mais novos a sua opinio crtica sobre os contos e o desencadeamento de vrias situaes de reflexo sobre as relaes sociais.

Aps a formulao do problema de investigao foram definidos os seguintes objetivos de estudo:

Analisar a importncia das tradies orais do povo portugus; Entender o papel dos animais como personagens principais nos contos

tradicionais; Compreender a relao existente entre os animais e o ser humano atravs dos

valores que se pretendem transmitir ao nvel: - da fora fsica; - do poder; - das relaes afetivas;

Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de Poder

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Detetar se h mudana na forma como as crianas encaram as relaes de poder presentes nos contos.

Para Diniz: (1993): Poder-se- afirmar maneira de concluso que a criana cresce, encontra segurana e sentido para a vida, quando tiver entendido e resolvido problemas pessoais por conta prpria e no por lhes terem sido explicados por outros. O prazer de ler vir na continuidade de prazer desta cumplicidade:fantasmtica:com:o:bom:adulto:que:lhe:contou:o:conto (p. 59).

Sendo: um: importante: agente: de: socializao: segundo Haase (citado por Morgado e Pires: p61): Os: contos: tradicionais: tm-nos sido apresentados como intemporais: Uma: vez: que: queremos: refletir: sobre: as: relaes: sociais: e: como: a:criana em idade escolar sente essa necessidade para assim poder dar sentido vida, nada melhor que analisar contos tradicionais portugueses, onde os principais agentes da ao so animais. E porqu os animais? De acordo com Bettelheim (1975, p.367): As crianas tm uma afinidade: natural: com: os: animais: (): Para: alm: disso: os contos tradicionais no evitam os problemas existenciais, pois sabem que a criana precisa de solues, ainda que simblicas para conseguir lidar com os seus problemas (()luta:pela:autonomia:rivalidade:com:figuras:parentais:construo:da:identidade:adulta, a solido do homem, realidade trgica e por vezes cruel das relaes humanas: como: cita: Diniz: 1993: p47) Essas solues simblicas so, neste caso concreto, dadas pelos animais no desenrolar das peripcias ao longo da histria.

3.Enquadramento terico

3.1. Literatura infantil versus literatura tradicional de expresso oral

Segundo Rodrigues (2012): O conceito de Literatura Infantil bastante discutido entre os estudiosos deste domnio. H os que defendem que o objeto escolhido pelo seu prprio leitor, outros dizem que o objeto de formao de um agente transformador da sociedade e, por fim, h aqueles que questionam o facto de existir uma Literatura Infantil e/ou de esta ser entendida como menor. Este , pois, um assunto delicado, pelo que compararemos diversos pareceres, a fim de melhor alcanarmos a problemtica em causa, para, a partir da, sermos capazes de formular o nosso prprio conceito de literatura (p.43.).

A literatura infantil destinada principalmente ao pblico mais novo, onde os temas:mais:pesados:so:abordados:de:uma:forma:ldica:ou:simblica:que:permita:s crianas a compreenso de problemas complexos. Muitos destes textos apresentam um mundo fantstico e quase ilusrio mas tambm h textos que refletem situaes reais e dramticas. Com os contos e livros de literatura infantil as

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crianas podem viver num mundo imaginrio onde tudo existe e tudo possvel. Na nossa opinio, o contacto das crianas com esta diversidade de textos muito til na sua formao.

Mas, sero os contos de literatura infantil contempornea os nicos contos apropriados para crianas? Ser que os contos transmitidos oralmente, e que tm perdurado ao longo dos tempos, podero transmitir valores importantes e ser teis para as crianas? Tal como refere Diniz (1993):

A sua perenidade deve-se ao facto de retratarem os grandes problemas do homem de hoje e de sempre: a luta pela autonomia, a rivalidade com as figuras parentais, a rivalidade fraterna, a construo de uma identidade adulta, a solido do homem na terra, a realidade trgica e por vezes cruel das relaes humanas (p.47).

Para alm da transmisso dos valores a literatura tradicional de expresso oral mantm viva a cultura portuguesa, Diniz (1993, p.49) diz ainda que: ():condensao superior de emoes que vo sendo partilhadas, embora com as condicionantes pessoais de cada um, por aqueles que com essa obra de arte contactam.

Desde muito cedo que o pblico mais jovem tem sua disposio momentos de lazer, de partilha com a comunidade, contacto com uma corrente de contos, de rimas, provrbios, entre outros. Estes textos passaram de gerao em gerao, de memria em memria, sem a preocupao de registo de autores. Por isso mesmo, Bettelheim (1975, p. 192) refere que: Cada: narrador, medida que ia contando a histria, deixava cair ou acrescentava certos elementos de forma a torn-la mais significativa para:si:prprio:e:para:os:ouvintes:que:ele:conhecia:bem:Podemos:assim:afirmar:que:os contos populares de transmisso oral so annimos, nascendo da imaginao e tendo uma funo cultural, ldica, sendo quase sempre relacionados com a questo moral. Por isso, tambm, Gomes:(1998:p54):salienta:que:()::comum:os:autores:de renome recriarem de forma mais ou menos livre os contos populares. Tais recriaes:procuram:por:vezes:conservar:o:ritmo:e:o:sabor:do:relato:oral:()

Para: Reis: e: Lopes: (citados: por: Cabral: 2004: p16): A: expresso: conto popularcobre um vasto conjunto de narrativas bastantes diversificadas. Essa diversidade tem suscitado vrias propostas de classificao de um nmero relativamente elevado de tipos:de:conto:contos:maravilhosos:():contos:de:animais:contos:religiosos:etc

3.2. Educao e literatura

A:alma:de:uma:criana::uma:gota:de:leite:com:um:raio:de:luz:Transformar:esse:lampejo:numa:aurora:eis:o:problema:():Livros:simples!:Nada:mais:complexo:No:so:os:eruditos:

gelados que os escrevem; so as almas intuitivas que os:adivinham:(JUNQUEIRO:reedcitado por Gomes1997, p.7)

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Desde a antiguidade que tanto a leitura como a escrita exercem um papel de extrema relevncia nos conhecimentos e aprendizagens da humanidade. Com a evoluo dos tempos e da educao infantil, houve a conscincia da importncia de desenvolver a criana intelectualmente. Utilizada de forma adequada e eficaz a literatura pode tornar-se um instrumento de grande importncia na educao das crianas, fazendo com que as aprendizagens se tornem significativas e a criana tenha prazer no que est a ler.

Atravs da leitura, a criana apropria-se de novos conhecimentos e saberes culturais adquirindo assim informaes importantes que a ajudaro ao longo da sua formao. A literatura, e consequentemente a leitura, um dos caminhos mais exequveis para desenvolver e estimular a formao de ideias, que habilitaro a criana no s para a leitura mas tambm para uma escrita lgica e concisa.

Assim sendo, o professor deve adotar nas suas aulas atividades que favoream a leitura e a escrita, fazendo com que a criana sinta prazer no ato de ler e de produzir, posteriormente, textos prprios e originais. A procura de estratgias que deem oportunidades criana de desenvolver a leitura, a interpretao e produo de textos, possibilitam e incentivam a sua participao em todas as atividades abordadas durante o perodo em que estiverem na sala de aula, promovendo uma aprendizagem partilhada. As crianas devem sentir-se uma parte integrante do processo de ensino e aprendizagem. Para isso, a troca de informaes e a organizao do espao devem dar oportunidade a todos de observar e serem observados, falar e ouvir, criticar e sugerir, compreender e ser compreendido.

De modo a finalizar este subcaptulo, apresentamos uma citao de Gomes (1997): ():na:Histria:da:Literatura:para:a:Infncia:no:nosso:pas:no:deve:ignorar:certas:produes:de pendor formativo cuja leitura ou estudo poder ter sido recomendadas a crianas e jovens em perodos anteriores ao sculo XVIII. To - pouco de desprezar uma referncia a obras, no intencionalmente destinadas a um pblico infantil, mas que, pelas suas peculiares caratersticas temticas, entre outras, haveriam de se revelar como textos capazes de agradar a esse mesmo pblico (p.5).

3.3. O papel dos animais nos contos tradicionais

():a:tarefa:mais:importante:na:educao:consiste:em:ajudar:a:criana:a:encontrar:um:sentido:para:a:vida:(Bruno:Bettelheim, 1975, p. 8)

Nas narrativas da tradio cultural, h que salientar que as personagens tinham um papel de extrema importncia, sendo um elemento fundamental. Atravs das personagens o leitor poder interpretar a cultura de uma dada poca e povo. At

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mesmo as crianas identificam-se com as personagens, reconhecendo nelas parte da sua prpria identidade.

Gomes (1997) refere que: possvel que o recurso s fbulas na educao se tenha tornado prtica corrente a partir de finais do sculo XVII, na linha de uma tradio de gosto por estas histrias de fundo moral, protagonizadas geralmente por animais, que vinha j da Antiguidade oriental e greco-latina e que, em Portugal, deu origem ao aparecimento de tradues das fbulas de Esopo e Fedro. , por isso, de: admitir: que: a: infncia: no: tenha: encarado: com: indiferena: (): as: histrias: de animais:da:tradio:oral:():(p7)

De acordo com o que o autor refere anteriormente, aos contos onde as personagens so animais foi dado destaque na apresentao e explorao junto das crianas, como considera Laranjeira (citada por Guimares, 2004):

O animal parece poder funcionar como uma mscara que dissimula, s vezes pouco, o (auto) projeto de justificar o ser humano; dele se tira o sustento e a ajuda, desfruta-se a companhia e a alegria, fonte de aborrecimentos ou de perigos; com ele que se projetam as nossas paixes, com ele se engendram, nestes textos, as nossas relaes (p.224).

A:mesma: autora: (citada: por: Guimares: 2004: p223): refere: que: A: histria: da:construo do imaginrio humano e das suas mais profundas crenas passa por uma mais ou menos explcita projeo animal, ao nvel das representaes de foras e de conflitos

Pensamos que atravs dos animais as mensagens dos contos so mais percetveis para as crianas, ou seja, estas olham para os animais (personagens principais dos contos) e vem a sua prpria vida representada na vida das personagens. No desenrolar dos acontecimentos, as personagens (os animais) vo solucionando as vrias situaes complicadas que vo encontrando. Muitas dessas situaes so simbolicamente vivenciadas pelas crianas no seu dia-a-dia. Com a leitura dos contos tradicionais e outros contos, onde as personagens so animais, as crianas tm uma melhor perceo de como podem resolver os:vrios:conflitos:da:sua:prpria:vida:e:faz-lo autonomamente. Tudo o que foi referido ao encontro da citao de Bettelheim (1975: p367): As: crianas: tm: uma: afinidade: natural: com: os: animais: e:frequentemente se sentem mais prximas deles do que dos adultos, querendo compartilhar o que lhes parece ser a vida fcil de liberdade e gozo instintivos do animal

Para: Cavaleiro: (citado: por: Guimares: 2004: p246): Efectivamente: os: animais:so um espelho do humano, revelam-no, ajudam-no e transcendem-no, desenvolvendo:as:suas:potencialidades:intelectuais:e:instintivas:

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3.4. Relao existente entre os animais e o ser humano atravs dos valores que se pretendem transmitir

A:necessidade:de:proteo:contra:os:intrusos:e:os:inimigos:implica:a:existncia:de:cdigos:apropriados. No basta tomar posse de um territrio: preciso mostrar aos outros quem que

tem:o:poder:(Laranjeira:citada:por:Guimares 2004, p. 228) frequente, no dia-a-dia do homem, este deparar-se com as mais diversificadas

situaes. Para as poder encarar tem de se fazer valer de determinados valores e formas de atuar para as poder enfrentar da melhor maneira possvel. neste sentido que poder aqui existir uma relao entre os animais nos contos tradicionais e o homem.

Por vezes, como salienta Gomes (1997):numa:():sociedade:hierarquizada:():os:contos:tradicionais:serviam:para:humanizar:os:actos:da:vida:animal:por:forma:a:que os bichos surgissem movidos pelos mesmos moldes que animam os homens. Assim, as formas de manuteno do poder, a hipocrisia social, a traio e a luta pela sobrevivncia:so:apresentadas:com:impiedosa:ironia:():(p23)

A relao entre o homem e o animal comeou a ganhar terreno desde tempos primordiais. Os benefcios nesta relao so reconhecidos nos direitos dos animais, no podendo estes ser mal tratados, como consagrado na Declarao Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela UNESCO, em 1978. Alm disso, possvel o ser humano aprender com eles, tendo em considerao as caratersticas naturais de cada um.

O homem, sendo racional, age de uma forma bem diferente do animal, destacando-se a sua inteligncia e o seu comportamento. O homem tem inteligncia, conscincia e capacidade para analisar seus atos, executar suas tarefas, planear suas atividades e coloc-las em prtica.

Gomes:(citado:por:Azevedo:2004:p95):transmite:que:Num:mundo:como:este:dir-se-ia que por vezes desistimos de ser homens e preferimos ser animais, umas vezes: pelas: piores: razes: outras: vezes: por: motivos: menos: compreensveis: De:acordo com o presente autor, h alguma coisa em ns que nos faz sentir prximos dos animais:da:que:por:vezes:nos:disfarcemos:de:animais:nas:histrias:Ainda o mesmo autor:refere:que:O:animal:funciona:():como:espelho:deformado:do:homem:onde:este: se: rev: numa: imagem: ora: amada: ora: malquerida: (p97): O: grande:protagonismo dos animais na literatura de transmisso oral, visvel em todas as sociedades, pois:como:salienta:o:autor:j:citado:():eram:crentes:em:que:homens:e:animais:tinham:a:possibilidade:de:trocar:de:identidade:(p97)

Nos contos tradicionais apresentados podemos constatar que os animais adquirem muitas caratersticas humanas, em especial a fala. Realamos o facto de o animal ser considerado, nos contos, um ser racional, inteligente, embora fique a faltar

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o facto de estabelecer relaes afetivas tanto com outros animais como com o homem. Segundo Ramos (citado por Azevedo, 2004):

():esta representao de um elemento da Natureza afetado por sentimentos humanos pode igualmente: ser: interpretada: como: manifestao: de: antropocentrismo: (): a: atribuio: de:caratersticas humanas a elementos naturais poder significar uma deslocao da sua espera prpria, desconstruindo o equilbrio ecolgico que os caracteriza (p.581).

Assim, iremos refletir sobre a forma como a fora fsica, as relaes afetivas e o poder so representados nos contos que selecionmos.

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Captulo II Metodologia de investigao

1. Fundamentao e descrio de processos metodolgicos

Esta investigao, como j referido, enquadra-se no estgio do 1 Ciclo do Ensino Bsico, que decorreu entre outubro de 2012 e fevereiro de 2013, em situao de par pedaggico. Neste par pedaggico, constitudos por duas estagirias, acordou-se que a investigao que viria a ser desenvolvida seria realizada de forma individual em quatro semanas para cada elemento do par pedaggico. Ficou ainda decidido que, se houvesse necessidade, as semanas de grupo poderiam servir de auxlio aos elementos do par pedaggico para trabalhar no seu relatrio de investigao.

Como referem Quivy & Campenhoudt (2005): Uma:investigao::():um:caminhar:para:um:melhor:conhecimento:e:deve:ser:aceite:como:tal, com todas as hesitaes:os:desvios:e:as:incertezas:que:isso:implica:():Por:conseguinte:o:investigador deve obrigar-se a escolher rapidamente um primeiro fio condutor to claro quanto possvel, de forma que o seu trabalho possa iniciar-se sem demora e estruturar-se com coerncia (p.31).

Como j referido, a investigao educacional utiliza diversas metodologias com igual pertinncia e rigor cientfico. Dependendo da temtica em anlise, o investigador optar pelas orientaes metodolgicas que considerar pertinentes para o desenvolvimento do seu projeto.

Segundo Kemmis (citado por Martins, 1986, p.162): A:investigao-aco uma forma de pesquisa auto-reflexiva conduzida pelos prticos em situaes sociais a fim de melhorar a inteligibilidade e o rigor das suas prprias prticas sociais e educativas, a sua compreenso dessas prticas e das situaes em que se desenvolvem.

Sabendo que a investigao no mbito da educao pode ter diferentes metodologias, para o desenvolvimento do presente tema e, de acordo com os objetivos definidos, trata-se de uma investigao de natureza qualitativa. Segundo Bogdan e Biklen (1992, citados por Tuckman, 2000):

A investigao qualitativa apresenta as cinco caratersticas principais:

(1) A situao natural constitui a fonte dos dados, sendo o investigador o instrumento-chave da recolha de dados. (2) A sua primeira preocupao descrever e s secundariamente analisar dados. (3) A questo fundamental todo o processo, ou seja, o que aconteceu, bem como o produto e o resultado final. (4) Os dados so analisados indutivamente, como se se reunissem, em conjunto, todas as partes de um puzzle. (5) Diz respeito essencialmente ao significado das coisas, ou: seja: ao: porqu: e: ao: qu:(p.508).

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O design que pensamos corresponder intencionalidade deste estudo ter de observar um faseamento de planificao, ao, observao e reflexo sobre a ao a partir dela mesma, tendo em vista futuras aes, num sentido de melhoria de capacidade profissional.

Segundo Cohen & Manion (2002) podemos considerar a investigao ao, ():um:procedimento: in: loco:com:vista:a: lidar:com:um:problema:concreto: localizado:numa:situao imediata. Isto significa que o processo constantemente controlado passo a passo (isto numa situao ideal), durante perodos de tempo variveis, atravs de diversos mecanismos (questionrios, dirios, entrevistas e estudos de casos, por exemplo), de modo que os resultados subsequentes possam ser traduzidos em modificaes, ajustamentos, mudanas de direco, redefinies, de acordo com as necessidades, de modo a trazer vantagens duradouras ao prprio processo em curso (p.223).

Assim, a investigao-ao, segundo Zuber-Slerrit (1996) implica: planear, atuar, observar e refletir mais cuidadosamente do que aquilo que se faz no dia-a-dia, ou seja, trazer melhorias s prticas, inovao, mudana ou desenvolvimento de prticas e uma melhor consciencializao dos prticos acerca das suas prticas (p.96).

Importa realar que uma investigao baseada num design de investigao-ao no tem subjacente a finalidade da generalizao das concluses mas o conhecimento mais profundo de casos concretos.

Em funo de todo o pressuposto, a opo pela metodologia de investigao-ao a que se considera mais consentnea com as questes e objetivos formulados, aos quais se juntam uma enorme vontade de compreender e desejo de aprender com todo o processo. Em suma, para Esteves (2008):

A investigao aco parte do pressuposto de que o profissional competente e capacitado para formular questes relevantes no mbito da sua prtica, para identificar objetivos a prosseguir e escolher estratgias e metodologias apropriadas, para monitorizar tanto os processos como os resultados (p.9).

1.1. Descrio de processos metodolgicos

Para a realizao da presente investigao necessrio ter-se em conta alguns passos fulcrais. Seguidamente ao enquadramento terico com fundamento investigativo segue-se:

Planificao das atividades de investigao-ao;

Elaborao dos recursos didticos a serem utilizados nas atividades programadas para a investigao;

Recolha de dados;

Anlise dos resultados:

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A anlise de dados o processo de examinao e organizao sistemtico de todos os materiais que foram recolhidos ao longo da investigao, com o intuito de promover a sua compreenso. Importa agora realar alguns aspetos essenciais.

De acordo com Bogdan & Biklen (1994, p.205) A anlise envolve o trabalho com os dados, a sua organizao, diviso em unidades manipulveis, sntese, procura de padres:():e:a:deciso:sobre:o:que:vai:ser:transmitido:aos:outros . De igual modo, Bardin (1995, p.38) define-a como um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes que utiliza procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens.

Numa investigao qualitativa, sendo os dados recolhidos, na sua grande maioria, resultantes de formas de comunicao verbal (escrita ou oral), torna-se essencial o recurso ao desenvolvimento de um sistema de categorias visando a sua reduo e classificao. Para: Bogdan: &: Biklen: (1994: p232): Devero ser organizados de modo a que o investigador seja capaz de ler e recuperar os dados medida que se apercebe do seu potencial de informao e do que pretende escrever. Os mesmos autores, recomendam a atribuio de abreviaturas identificadoras s unidades de dados, definindo-as como, geralmente, partes das notas de campo, transcries ou documentos (Bogdan & Biklen, 1994, p.233), podendo assumir a forma de pargrafos, frases ou sequncia de pargrafos.

Triangulao:

Numa investigao qualitativa, para Denzin e Lincoln (2000): a fase correspondente anlise e interpretao dos dados recolhidos exige do investigador o respeito por determinados procedimentos de anlise que assegurem que as percees, as observaes, os relatos e leituras das situaes se enquadram dentro de alguns limites de correspondncia (Impe-se assim o recurso a critrios de validade externa e interna (p.56).

De acordo com Moreira (2000), os primeiros referem-se consistncia dos valores medidos com vrios instrumentos, que pretendem assegurar o grau de representatividade das concluses em termos:de:realidade:imediata (p.35).

Nesse sentido, h que atender necessidade de efetuar a descrio detalhada de todo o processo em que o investigador esteve envolvido. Este procedimento funcionar como critrio de validade externa. Ainda Moreira (2000), a validade interna, nas investigaes qualitativas, entende-se como a necessidade de assegurar nveis de consonncia entre os significados atribudos por outros observadores.

Ainda no que concerne validade, a triangulao metodolgica surge como uma das estratgias mais utilizadas na investigao educativa. Para Prez Serrano (2000): a triangulao refere-se a uma combinao de vrias prticas metodolgicas, materiais empricos, perspetivas e observadores e, neste caso, realiza-se entre diferentes mtodos de recolha de dados sobre:o:mesmo:objeto:de:estudo (p.98).

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A anlise de contedo e a discusso dos resultados, bem como as concluses sobre os resultados completam a nossa metodologia.

1.2. Local de implementao

Como j referido, esta investigao enquadra-se no estgio do 1 Ciclo do Ensino Bsio, a decorrer entre outubro de 2012 a fevereiro de 2013, em situao de par pedaggico, na Escola EB1 do Valongo, pertencente ao Agrupamento de Escolas Joo Roiz de Castelo Branco, na turma do 3 ano, com a professora Sara Vieira como professora titular da turma.

Breve enquadramento

A Escola Bsica do 1 Ciclo do Valongo situa-se na zona sul da cidade de Castelo Branco mais propriamente no Bairro Nossa Senhora do Valongo. Foi fundada em 1984 e podemos dizer que atualmente tem bons acessos, estradas em bom estado em seu redor e com boa sinalizao. Est preparada para receber crianas com dificuldades de locomoo no que se refere ao seu acesso pois tem uma rampa e as portas das salas so bastante espaosas.

Atualmente encontram-se em funcionamento um jardim-de-infncia (com todas as idades), uma turma de 1, outra de 2 e uma outra de 3 anos.

A turma de 4 ano est em funcionamento na sede do agrupamento de escolas Joo Roiz de Castelo Branco. A presente escola pertence ao agrupamento desde o dia 1 de setembro de 2003. Relativamente ao espao da escola mais propriamente dito, podemos dizer que apesar de esta ser pequena tem as condies essenciais ao bom funcionamento dos tempos letivos.

Dado o facto de ser uma escola onde funcionam trs anos de escolaridade e uma sala de jardim-de-infncia, como foi referido anteriormente, ao longo da prtica supervisionada pudemos contactar com os diferentes nveis de ensino nas mais variadas atividades propostas pelo par pedaggico. de realar este aspeto pois poderamos ter cingido a nossa prtica e as nossas atividades apenas turma do 3 ano mas optmos por aproveitar o estgio para ser melhores futuras profissionais tentando sempre trabalhar com os outros professores mais experientes.

O espao interior da escola contm duas casas de banho para as raparigas e outras duas para os rapazes; uma casa de banho para o pessoal docente e ainda outra para crianas portadores de deficincias motoras. Tem um hall de entrada amplo, uma sala para o coordenador / professores, um bar/cozinha, um refeitrio, e trs salas de aula. Quanto ao ginsio, este utilizado tanto pelas crianas de 1 ciclo como pelas do jardim-de-infncia. Apesar do sistema isolador no ser eficaz a escola tem um sistema de aquecimento central que a deixa mais acolhedora no inverno. Um dos espaos

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interiores referidos anteriormente, o ginsio, foi bastante til ao longo das semanas de interveno, pois nele pudemos realizar as mais diversas atividades de grande grupo, ou seja, atividades onde estariam presentes todos os nveis de ensino da Escola do Valongo e, atividades mais direcionadas para a turma do 3 ano que seriam quase impossveis de realizar na sala de aula.

No que se refere ao espao exterior da escola, esta possui um campo de futebol de piso sinttico, um ptio de paralelos com algumas rvores e canteiros, um parque com baloios e escorregas com piso em tartan e ainda bebedouros. Este espao ao ar livre utilizado pelas crianas em tempo de intervalo e de almoo. Quanto a estes espaos verificamos que se tornam reduzidos quando est a chover pois as crianas s podem brincar na zona do refeitrio, hall de entrada e salas de aula.

Relativamente aos alunos que frequentam a Escola EB1 do Valongo aferimos que na sua totalidade so setenta e quatro, sendo que vinte e quatro crianas esto no jardim-de-infncia, vinte e sete alunos no 1 ano, vinte e dois alunos no 2 ano de escolaridade e por fim vinte e seis alunos no 3 ano. Esta escola possui um professor responsvel por cada uma das turmas e tem tambm trs professores que apoiam os alunos com mais dificuldades de aprendizagem ou de concentrao.

A escola tem ainda de professores que lecionam as reas de enriquecimento curricular. Contudo, os professores destas reas so colocados pela cmara municipal ou:ento:pelo:agrupamento:quando:h:professores:com:o:chamado:horrio:zero

As reas de enriquecimento curricular so: Ingls para o 3 e 4 anos, Educao Fsica para todos os anos, bem como a Msica e Expresso Artstica para o 1 e 2 anos. Existem apenas duas auxiliares de ao educativa a tempo inteiro que zelam pelas horas de intervalo e de refeio.

Os materiais de desgaste de que a escola dispe so fornecidos pelo agrupamento. Ao nvel do equipamento audiovisual a escola tem televiso, computadores, impressora e fotocopiadora, rdio, retroprojetor e projetores. Dentro dos materiais referidos utilizmos com mais frequncia, fotocopiadora, computadores e projetor tanto para tirarmos as fotocpias necessrias para os alunos trabalharem, como para podermos desenvolver e apresentar as atividades propostas.

Podemos concluir dizendo que, apesar dos quase trinta anos de existncia desta escola, ela ainda se encontra com boas condies para se continuar a ensinar no seu interior.

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1.3. Participantes

Segundo Tuckman (2000), a populao alvo de um estudo o grupo sobre o qual o investigador pretende obter informaes e desenhar concluses (p.19). Estando este processo de investigao enquadrado no estgio do 1 Ciclo do Ensino Bsico, no seria possvel efetu-lo fora desse contexto. Assim, participaram neste estudo os vinte e seis alunos da turma do 3 ano do 1 Ciclo do Ensino Bsico da Escola EB1 do Valongo, do Agrupamento de Escolas Joo Roiz de Castelo Branco e a sua professora titular, professora Sara Vieira.

de salientar que, neste processo, a professora titular da turma foi um elemento fundamental ao longo de todas as atividades da investigao, devido sua experincia profissional e ao conhecimento que detinha da turma.

2.Recolha de dados

2.1. Observao

Posteriormente anlise que temos feito no que diz respeito investigao, de referir que a observao o mtodo de recolha de dados que mais utilizado neste processo: Evertson: &: Green: (citado: por: Martins: 1996: p24): afirmam: que: A:observao um fenmeno multifacetado, sendo um mtodo/tcnica usado no processo de investigao educacional:e:de:tomada:de:decises

Numa fase anterior diviso das vrias componentes da observao, acrescentamos que, como refere Wittrock, M. (1989, citado por Freire et al, 1991):

A observao uma actividade quotidiana. Faz parte da percepo, pelo que um componente tctico do funcionamento quotidiano dos indivduos enquanto vivem os acontecimentos da vida: diria: Mas: (): nem: toda: a: observao: que: tem: lugar: na: vida: quotidiana: : tctica:tambm se realizam observaes em forma mais ou menos deliberada e mais ou menos sistemtica, quando a situao o requere (p.1).

J para Esteves (2008): A observao permite o conhecimento direto dos fenmenos tal como eles acontecem num determinado contexto. Contexto o conjunto das condies que caracterizam o espao onde decorrem as aces e interaces das pessoas que nele vivem. O contexto pode ser ():um:contexto restrito, mais prximo (por exemplo, a sala de aula), (p.86)

Em suma e de acordo com Wittrock (1989:citado:por:Freire:et:al:1991:p:2):A:observao um processo que supe um objectivo organizador, uma mobilizao da

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ateno, uma seleco entre os estmulos recebidos, uma recolha de informaes selecionadas:e:sua:codificao

Deste modo, utilizaremos:

Observao Participante:

Nesta tipologia de recolha de dados, o investigador participa na atividade que est a desenvolver com a amostra, pois s desta forma consegue percecionar melhor os acontecimentos:que: se:desenvolvem:com:os:participantes:no:projeto: Inclui: : ():a:interao:social:entre:investigador:/:informantes:O:investigador:deve:arregaar:as:mangas:e:entrar:no:campo:para:compreender os cenrios para tomar decises sobre o:estudo:(interesses:do:foco:substancial:e:foco:terico):(Taylor::Bogdam:198428-30, citado in Martins, 1996, p.25).

Taylor & Bogdan (citado in Martins, 1996) salientam ainda que: H duas fases importantes quando se manifesta a inteno de observar:

1 fase: seleco de cenrios (relao imediata e negociada com os observadores, recolha de dados); acesso/autorizao s organizaes e cenrios pblicos ou semi-pblicos, explicao dos procedimentos/interesse da investigao aos observadores (veracidade das intenes, regras:ticas:):e:recolha:de:dados:(notas:registos:conversas):Alerta-se nas investigaes encobertas os graves problemas ticos de situao, referidas por Humphreys ou Eriksom, citados por Adler & Adler (1994), e os benefcios sociais prticos da investigao.

2 fase: observao no campo (os estados observacionais so como um funil): relaes abertas com:os: observadores: negociaes: do: prprio: role: do: investigador (Adler & Adler, 1994), (p.25).

2.2. Notas de campo

Esteves (2008, p.88) relata que: : (): definido: o: objeto: /: sujeito: a: observar: :necessrio decidir de imediato como efetuar o seu registo. As notas de campo so instrumentos metodolgicos que os professores utilizam com mais frequncia para registar:os:dados:da:observao

Enquanto tcnica de recolha de dados, as notas de campo, incluindo registos de natureza descritiva, o mais concreto e detalhado possvel, devero conter ideias, reflexes, sentimentos e dvidas experimentadas pelo observador/investigador (e pelos vrios intervenientes), que, mesmo no participante, um dos principais instrumentos da pesquisa. As conversas com os participantes fazem igualmente parte da sua ao como agente de observao. Nesse sentido, devem ser registadas to rapidamente quanto possvel. Sendo no entanto o observador/investigador, mesmo no participante, um dos principais instrumentos da pesquisa, importante que as notas de campo contenham aspetos descritivos e reflexivos, sobre o que se viu, ouviu e sentiu durante a recolha de dados.

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Esteves: (2008): cita: Spradley: As notas de campo incluem registos detalhados, descritivos e focalizados do contexto, das pessoas (retratos), suas aes e interaes (trocas, conversas), efetuadas sistematicamente, respeitando a linguagem dos participantes nesse contexto (p.88).

As notas de campo foram sendo includas ao longo do relatrio, mais concretamente nas reflexes da prtica supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico e aquando da anlise dos dados retirados dos trabalhos dos alunos. As mesmas podem ser visveis em situaes pontuais no decorrer do trabalho.

2.3. Registo fotogrfico

O registo fotogrfico pode assumir uma utilizao de forma simples, funcionando como inventrio em imagem de uma situao. Nesse caso, de acordo com Bogdan & Biklen (1994, p. 140), as fotografias do inventrio podem ser recolhidas em qualquer momento que seja conveniente e podem ser certamente adiadas, ficando disponveis para utilizao adequada.

No entanto, pode recorrer-se sua captura como demonstrao de emoes, atitudes, participao, interao e cooperao entre e com os sujeitos de observao. Ainda de acordo com os autores supracitados (1994, p.142), se houver atividades suficientemente interessantes no local, os sujeitos daro pouca ateno mquina, o que conseguir tornar a imagem num documento recursivo importante para recolha de dados e posterior anlise e exposio da anlise dos mesmos.

No que diz respeito ainda ao registo fotogrfico, Esteves (2008) menciona que: Os professores registam com alguma regularidade as observaes recorrendo imagem. As novas tecnologias divulgaram e facilitaram o recurso fotografia de tal modo que frequente os professores proporem sesses de trabalho com os seus alunos para que estes recorram experimentao: e: manipulao: fotogrfica: (): Os: registos: fotogrficos: podem: tambm: ter:como finalidade ilustrar, demonstrar e exibir, como acontece habitualmente nas exposies retrospetivas de qualquer projeto ou perodo escolar (p.90).

2.4. Registo grfico (texto desenhos documentos de registo de tarefas)

A recolha de documentos (registos grficos) uma tcnica complementar que permite averiguar possveis contradies e corroborar informaes adquiridas por

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outros dados. Ainda na tica de Bogdan & Biklen (1994, p.176), os textos escritos pelos sujeitos de investigao podem ser de variadssima ordem.

Os textos escritos pelas crianas so sem dvida um elemento chave numa investigao qualitativa que pretende interpretar o modo como elas se relacionaram com determinada ocorrncia.

O registo de tarefas executadas durante a ao de investigao certamente um dos melhores e mais significativos documentos do desenvolvimento do processo. Pela sua objetividade, certamente poder dar indicativos preciosos sobre o envolvimento da criana na ao, bem como do modo como interagiu com os outros participantes. Para finalizar, Esteves (2008) salienta que:

A anlise de artefactos produzidos pelas crianas indispensvel quando o foco da investigao se centra na aprendizagem dos alunos. O corpus da anlise constitudo pelos produtos elaborados por cada criana e previamente arquivados nos denominados portflios. Esta , tambm, uma prtica comum dos bons professores, interessados na avaliao do sentido e do ritmo da aprendizagem dos seus alunos, pelo que no requer um treino especial, salvo o conhecimento de alguns cuidados a ter, enquanto tcnica de investigao (p.92).

2.5. Descrio procedimental

No presente estudo foram utilizadas diversas tcnicas, com o intuito de obter uma viso o mais objetiva possvel sobre as questes enunciadas, conferimos: observao; notas de campo; registo fotogrfico; registo grfico (textos, desenhos e documentos de registo de tarefas) e conversa informal com os alunos.

Na implementao da ao, os participantes foram organizados na sala de aula de modo a poderem realizar as atividades propostas de forma individual. Neste contexto, embora tenha existido uma grande proximidade ao desenvolvimento da ao, a investigadora assumiu uma postura de observadora no participante. De facto, existiram instantes em que houve necessidade de algum apoio ou interveno pontuais.

O registo fotogrfico teve como objetivos tentar avaliar o envolvimento, empenhamento e modo procedimental dos alunos em ao. Nesse sentido fomos tirando fotografias ao longo da realizao das atividades direcionadas para a investigao.

Os registos grficos foram efetuados em dois contextos em sala de aula aquando da realizao dos guies de atividades. Os alunos teriam de responder a questes sobre os contos tradicionais, refletindo sobre algumas atitudes das personagens, elaboraram textos reflexivos e desenhos que procurariam reproduzir os momentos que os alunos mais tinham apreciado nos contos tradicionais.

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Na conversa informal com as crianas (na tarde da realizao dos marcadores de livros) e por existir uma relao forte de afetividade e empatia com a investigadora, foram privilegiados aspetos de motivao, empenho, sensaes e emoes sentidas, tendo subjacentes os mesmos objetivos.

2.5.1.Implementao da ao de investigao

A implementao desta ao de investigao tem como grande objetivo desenvolver nos alunos os valores de respeito independentemente das dimenses grande/ pequeno dos indivduos e das relaes de poder. Pretendemos desenvolv-lo atravs da explorao de trs contos tradicionais portugueses, verses de Adolfo Coelho e Consiglieri Pedroso.

No sentido de encontrar uma resposta foi desencadeado um processo que passou pela elaborao dos recursos e materiais a utilizar na ao de investigao. Para a realizao da ao foram produzidos com antecedncia alguns recursos imprescindveis ao seu desenvolvimento. Assim, construiu-se um conjunto de documentos a utilizar na sala de aula para a explorao dos contos tradicionais. Foram assim produzidos os seguintes documentos: o livro de contos tradicionais e os guies de atividades. Aquando da realizao das atividades pelos alunos, as tarefas propostas foram bem entendidas pela maioria de alunos da turma.

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Captulo III Desenvolvimento da Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico

Como j foi mencionado no presente relatrio, a prtica supervisionada foi realizada em situao de par pedaggico.

Estava previsto desde o incio do ano letivo que a mesma decorresse ao longo de 15 semanas. Essas 15 semanas seriam divididas em duas semanas de observao em par pedaggico, quatro semanas individuais para casa um dos elementos do par e trs semanas de grupo, (uma semana no incio do estgio, uma semana no natal e, por ltimo, uma semana no final do estgio).

Seguidamente realizao das habituais formalidades surgiram as expetativas em relao ao grupo de alunos. Houve a perceo de que estaramos na presena de uma realidade diversificada com a qual iramos estar em contacto todos os dias da prtica supervisionada. Atravs das semanas de observao poderamos ir percebendo, diariamente e com a ajuda da professora cooperante, quais as dificuldades da turma, em especial de alguns alunos, quais as atividades e as motivaes que melhor poderiam resultar com o grupo.

A prtica supervisionada teve incio com duas semanas de observao conjunta. A estas, seguiu-se uma semana de interveno de grupo e duas de interveno individual, alternadas, e uma semana de grupo antes das frias do Natal. No incio do ano de 2013, sucederam-se duas semanas de interveno individual, tambm elas alternadas e, por fim, uma semana de interveno de grupo para terminar a Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico.

No vamos incluir neste relatrio as atividades das semanas de interveno de grupo dado que os temas no esto relacionados com o tema da investigao. Considermos que seria melhor referir apenas quais foram os temas das mesmas, referentes s principais reas curriculares. No que respeita a rea curricular de Lngua Portuguesa, os temas foram: vocabulrio, instrues e indicaes (Compreenso do Oral); planificao do discurso, reconto, descrio, literatura oral e tradicional, normas da lngua padro (Expresso Oral); planificao de textos, configurao grfica, componentes da narrativa (personagens, espao, tempo e ao), texto narrativo e dramtico, seleo e organizao da informao (formas de destaque, apontamento, sumrio, tabelas, mapas, esquemas...), estrutura da narrativa (introduo, desenvolvimento e concluso), conectores discursivos, texto expositivo: facto, explicao, exemplos; introduo, desenvolvimento, concluso (Escrita); dilogo, diferentes tipos de texto (prosa, poesia, teatro), lxico e vocabulrio, famlia de palavras, palavras variveis e invariveis, tipos de frase declarativa, interrogativa, exclamativa, imperativa, flexo adjetival nmero (singular, plural); gnero (masculino, feminino), determinantes artigos (definidos e indefinidos), (Conhecimento Explcito da Lngua).

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J na rea curricular da Matemtica os temas foram os seguintes: relaes numricas, multiplicao, leitura e interpretao de informao apresentada em tabelas e grficos, nmeros racionais (no negativos) decimais. No que diz respeito aos temas de Estudo do Meio, estes foram: o passado do meio local, outras culturas na comunidade, conhecer costumes e tradies de outros povos, a segurana do seu corpo, primeiros socorros.

Por ltimo, mas no menos importantes, as reas de Expresso Artstica e Dramtica. Nestas reas a professora cooperante deixava os temas a desenvolver ao nosso critrio. Desenvolvemos assim temas como o Natal, o Carnaval, onde cantmos canes sobre os temas que nos foram sendo atribudos e dramatizmos uma pea de Natal.

Alm disso, as semanas de grupo dizem respeito a trabalho que foi tambm da responsabilidade das duas estagirias e no apenas da autora deste relatrio. Referimos, no entanto, as reflexes das semanas de observao porque elas foram importantes para o incio do nosso trabalho e enquadramento das atividades individuais (apesar de realizadas em situaes de par pedaggico).

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1. A observao

1.1. Semanas de observao De 23 a 31 de outubro de 2012

Sendo a escola Eb1 do Valongo aquela que nos foi atribuda para executarmos o nosso estgio neste ciclo de ensino, no poderamos deixar de nos apresentar, em primeiro lugar, sede do Agrupamento de Escolas Joo Roiz, mais concretamente direo da mesma, onde pertence a escola referida anteriormente.

Posteriormente, chegou o to aguardado momento: conhecer a turma do 3 ano com a qual iramos trabalhar. Chegmos assim escola e posteriormente sala onde fomos recebidas pela professora titular de turma, pelo professor responsvel pela coordenao da escola e pelos alunos da turma que se mostraram bastante entusiasmados referindo, alguns deles, que j sabiam o motivo da nossa presena na sala de aula. Tal como tnhamos acordado na reunio de professoras cooperantes, nestas duas semanas de observao iramos auxiliar os alunos que se encontravam com mais dificuldades de aprendizagem. Para ns foi agradvel contactarmos desde cedo com estes alunos, no s para nos irmos apercebendo das suas dificuldades mas tambm pelo facto de ser possvel alguma interao e no ficar apenas no fundo da sala a observar. Tornou-se mais gratificante para ns porque nos sentimos mais integradas na turma. No que diz respeito s instalaes, tambm elas nos foram sendo mostradas pela professora cooperante.

Concludas as apresentaes passmos observao propriamente dita da turma. As primeiras impresses foram desde cedo bastante positivas dado que nos pareceu uma turma calma, com a agitao habitual, concentrada, muitssimo participativa, colocando questes pertinentes que revelam a ateno com que esto aula. Pudemos ainda constatar que existem alguns alunos que terminam a resoluo de exerccios mais rapidamente que os outros colegas, facto que nos levou a considerarmos a hiptese de durante a nossa prtica termos de encontrar alternativas para os alunos que terminam as atividades mais cedo.

A professora desenvolveu junto dos alunos uma atmosfera de respeito mtuo, de compreenso e de transmisso de conhecimentos de ambas as partes, ou seja, partilham vivncias pessoais pertinentes, nas alturas devidas, que enriquecem as aulas. Algumas das estratgias que observmos adotadas pela professora, e que pensamos serem adequadas para esta turma, prendem-se com o quadro de registo do comportamento, j que reparmos que os alunos ao longo do dia vo olhando para o quadro e vo verificando se nos dias anteriores tiveram um valor mais positivo ou mais:negativo:as:inscries:que:no:so:mais:do:que:colocar:o:brao:no:ar:antes:de:comear a falar, para participarem nas atividades, para falarem sobre experincias prprias ou para darem a sua opinio. Com estas estratgias a professora cooperante conseguiu que os alunos se respeitassem uns aos outros e no falassem todos ao

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mesmo tempo. Durante estas duas semanas observmos a realizao de diferentes atividades e formas de as expor.

Pretendemos tambm mencionar sucintamente a arrumao e disposio da sala de aula. Esta espaosa, o que poderia ser uma mais-valia para a realizao de trabalhos de grupo, tem espaos para exposio de trabalhos, contudo tem pouca arrumao e algum mobilirio de arrumao encontra-se um pouco degradado. Apesar de sabermos que no existem disposies de sala ideais e perfeitas, na nossa opinio esta no adequada pelo facto de determinados alunos estarem sentados em lugares onde tinham alguma dificuldade em olhar para o quadro. De acordo com a sugesto da professora cooperante, podamos tentar reorganizar a sala, colocando as mesas:e:cadeiras:em:forma:de:u:

Salientamos que os nossos receios e dvidas em relao ao ano de escolaridade dos alunos da nossa prtica, aps estas duas semanas de observao, desapareceram. S seremos boas professoras quando aceitarmos cada desafio de cabea erguida e nos esforarmos para dar o nosso melhor em cada dia, com atividades motivadoras que interessem e consigam captar a ateno mxima dos alunos. Por ltimo, acrescentamos que deveras agradvel sermos reconhecidas por eles como professoras, s prova que conseguimos o seu respeito.

2. A prtica individual

A relao entre o professor e os alunos de grande importncia, sendo um grande desafio com que todos os futuros professores se deparam no incio da prtica.

Enquanto observadores, o desconforto, se existe, muitas vezes ultrapassado pela presena efetiva da professora cooperante. A situao completamente alterada quando sabemos que vamos estar em frente aos alunos, como atores principais de um processo que queremos que seja incentivador da vontade de aprender. Torna-se assim imprescindvel dominar anseios, expectativas, e apresentar propostas que fomentem uma entrega total de todos os participantes na ao educativa. No entanto, apesar da importncia da relao afetiva, de confiana, de empatia, tais sentimentos no devem interferir no cumprimento dos deveres ticos do professor.

Foi assim que procurmos iniciar a nossa prtica. Sabamos partida que teramos o apoio de todos os intervenientes, mas fizemos o possvel para procurar a autonomia, descoberta e experimentao de novas aprendizagens. Neste sentido, as atividades propostas ao longo da prtica foram, sempre que possvel, originais, sendo elaboradas de modo a promover junto dos alunos atitudes desafiadoras e de descoberta de novas aprendizagens. No que diz respeito elaborao de materiais de apoio como power-point, jogos, livros, estes foram concebidos especificamente para o grupo de alunos, contribuindo assim para a aquisio de novas aprendizagens e

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conhecimentos que tinham de adquirir no final desta etapa do 1 Ciclo do Ensino Bsico.

De acordo com Vygotsky (1987, p.15):

()ao propormos o conhecimento pronto no promovemos o saber, a inteligncia s estimulada atravs da colocao da dvida. Nesta perspetiva pesquismos e procurmos sempre que houvesse rigor cientfico em todas as atividades propostas bem como nas respostas s questes colocadas pelos alunos, as quais implicavam que os alunos problematizassem as situaes que encontravam nos contos.

A sala de aula foi um fator a nosso favor devido ao facto de ser bastante espaosa e adaptvel a qualquer atividade que pretendamos desenvolver. No que diz respeito s atividade de investigao, tentmos adaptar a sala de aula de modo a que cada aluno pudesse assim realizar a sua atividade de forma mais autnoma, como era pretendido nesta metodologia de trabalho.

Sero apresentadas apenas as reflexes sobre as atividades das semanas individuas de prtica supervisionada, sendo remetidos para anexo os planos semanais entregues pela professora cooperante que nos permitiam ficar a saber que contedos iriamos trabalhar junto das crianas, bem como as planificaes (guio de atividades), onde feita uma descrio das atividades relacionadas com o tema de investigao (Anexo A). Apesar de ter havido quatro semanas de prtica individual, apenas a 3 e a 4 semanas foram dedicadas implementao do tema de investigao.

2.1. 3 Semana individual 15, 16 e 17 de janeiro de 2013

Relativamente terceira semana de implementao individual, pretendemos iniciar a reflexo referindo que corresponde semana 12 da prtica supervisionada. Esta semana decorreu, na globalidade, conforme o planeado, sendo o tema integrador Descobrindo: os: sistemas: do: nosso: corpo As atividades eram motivadoras e interessantes para os alunos e tal facto notou-se pelo entusiasmo que demonstraram desde o primeiro dia da semana. Tal entusiasmo tambm se deveu ao elemento integrador utilizado ao longo da semana, um esqueleto humano (j que a unidade temtica:tem:por:nome::descoberta:de:si:mesmo). Para Pais (2010, p.8):

Enquanto elemento fsico, o elemento integrador pode assumir uma infinidade de formas, dependendo da criatividade e das caratersticas de individualidade do professor, das caratersticas do ambiente de ensino e aprendizagem a criar, dos objetivos definidos para o processo de ensino e aprendizagem, das caratersticas do grupo de alunos e da relao que obrigatoriamente tem de se estabelecer com um contnuo de tarefas de ensino e aprendizagem que se pretende desenvolver (p.8).

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No que diz respeito implementao da investigao, desenvolvemos atividades de compreenso de verses de contos tradicionais, O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo Coelho, e: A: Raposa: verso: de: Consiglieri: Pedroso: A: primeira: verso: do:conto:tradicional:a:ser:explorado:foi:a:de:Adolfo:Coelho:O:Pinto:Borrachudo (Anexo B). Inicialmente, foi apresentado um livro de contos tradicionais, uma produo original da estagiria para poder trabalhar os contos propostos para a investigao (Anexo C). Aps a apresentao do livro e da distribuio do conto turma, procedeu-se leitura em voz alta pela estagiria, seguida da leitura em voz alta pelos alunos.

Na fase seguinte leitura, fizemos uma anlise em grupo do conto. Os alunos recontaram-no. Aps o reconto colocaram questes sobre as personagens e o desenrolar dos acontecimentos. Por ltimo, deram a sua opinio pessoal sobre a personagem:Pinto:Borrachudo:tendo tecido comentrios positivos sobre a mesma. medida que analisvamos o conto, fomos colocando questes aos alunos que fossem ao encontro dos objetivos programados inicialmente para a investigao. Assim sendo, os aspetos fsicos das personagens, as suas atitudes umas para com as outras:e:o:poder:das:mesmas:foram:assuntos:explorados:ao:longo:da:anlise:

Posteriormente anlise referida, demos incio s respostas individuais a um questionrio escrito (Anexo D). de salientar que durante a realizao, determinados alunos tiveram algumas dificuldades nas perguntas que diziam respeito ao tema da investigao. Nessa altura, tivemos de executar um trabalho mais individualizado com esses mesmos alunos.

Como estava planeado, ainda na presente semana foi trabalhada a verso de mais um: conto: tradicional: A: Raposa: de: Consiglieri: Pedroso (Anexo E). Na explorao deste conto, optmos por uma abordagem inicial diferente da anterior. No livro de contos tradicionais, mencionado atrs, colocmos imagens respeitantes ao contedo do conto (exemplos: uma raposa, um tubaro, uma rede, entre outras) e apresentmo-las turma, uma por uma, para que os alunos atravs dos conhecimentos que j tinham adquiridos tentassem descobrir o tema do novo conto (Anexo F). medida que as imagens iam sendo apresentadas e visualizadas pelos alunos, cada um deles ia dando a sua opinio sobre o contedo do conto (exemplos: a raposa e a vinha; os animais da floresta e do mar; a esperteza da raposa, entre outros) e o desenrolar dos percursos das personagens (exemplos: o tubaro saa das redes e comia todos os animais mais o homem; o homem matava o tubaro para alimentar a famlia; a raposa e o burro eram grandes amigos, entre outros). Seguidamente visualizao das imagens, do dilogo com a turma e da distribuio dos contos, procedeu-se leitura em voz alta pelos elementos da turma. Dado que era um conto um pouco extenso e com um tipo de linguagem menos acessvel, ao qual os alunos no esto habituados, foi feita uma segunda leitura do conto pela estagiria. Depois de realizadas as duas leituras, os alunos puderam constatar que as previses feitas anteriormente leitura no correspondiam ao contedo do conto. de salientar, mais uma vez, que os comentrios feitos aps a leitura do conto foram bastantes positivos e demonstraram, por parte de alguns alunos, que o contedo fora compreendido,

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como veremos no captulo seguinte. Posto isto, foi realizado um guio de atividades escrito (Anexo G). Cada aluno teria de o completar de forma individual.

Estamos conscientes de que os contos tradicionais trabalhados eram um pouco difceis pois a forma como estavam escritos no era idntica estrutura e vocabulrio com que os alunos esto mais familiarizados. Surgiram dvidas na compreenso das questes de anlise dos contos, apesar de se considerar que fizemos uma boa explorao dos mesmos. Embora tenham surgido essas dvidas e dificuldades os alunos gostaram dos contos tradicionais e sentimos muito agrado em realizar este trabalho.

Antes de terminar de referir que a explorao dos contos tradicionais foi um pouco mais demorada do que estava planeado, pois sentimos que havia essa necessidade por parte da turma, em especial por alguns alunos com mais dificuldades.

Por ltimo resta-nos mencionar que quando nos sentimos motivadas e nos empenhamos no que realmente gostamos o nosso trabalho mais produtivo e, no fim, somos recompensados por isso, nem que seja pelos sorrisos dos alunos ou simplesmente pelos comentrios que fazem sobre as nossas atividades.

2.2. 4 Semana individual 22, 23 e 24 de janeiro de 2013

No que diz respeito quarta semana de implementao individual, pretendemos referir, em primeiro lugar que, na sua maioria, as atividades decorreram conforme o planeado inicialmente. semelhana das semanas anteriores, tambm nesta tivemos especial ateno no registo dos contedos trabalhados, tendo os alunos registado no caderno dirio breves snteses dos contedos abordados ao longo da semana. Na nossa opinio, desde que entram para o 1 ciclo os alunos devem ser habituados a registar todos os contedos trabalhados, pois contribui para a criao de hbitos de estudo e melhoraro a ortografia.

Relativamente implementao da investigao para o relatrio final de estgio, esta foi mais uma semana onde nos dedicmos explorao do terceiro e ltimo conto tradicional selecionado, intitulado: O: Grilo: e: o: Leo: verso: de: Consiglieri:Pedroso (Anexo H). A explorao deste conto foi feita atravs de uma banda desenhada elaborada pela estagiria (Anexo I). Queremos referir que o facto de a abordagem ser diferente das anteriores e de a ilustrao ter sido elaborada por ns, deixou os alun