os amorosos

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OS AMOROSOS - Jaime Sabines Os amorosos calam. O amor é o silêncio mais fino, o mais angustiante, o mais insuportável. Os amorosos buscam, os amorosos são os que abandonam, são os que mudam, os que esquecem. Seus corações lhes dizem que nunca vão encontrar, não encontram, buscam. Os amorosos andam como loucos porque estão só, só, só entregando-se, dando-se a cada instante, chorando porque não salvam o amor. Lhes preocupa o amor. Os amorosos vivem o dia, não podem fazer mais, não sabem. Sempre estão indo, sempre, a alguma parte. Esperam, não esperam nada, mas esperam. Sabem que nunca vão encontrar. O amor é a prorrogação perpétua sempre o passo seguinte, o outro, o outro. Os amorosos são os insaciáveis, os que sempre – que bom! – estarão sozinhos. Os amorosos são a peçonha do conto. Têm serpentes no lugar dos braços. As veias do pescoço lhes incham também como serpentes para asfixia-los. Os amorosos não podem dormir porque se dormem são comidos pelos vermes. Na escuridão abrem os olhos e neles lhes cai o espanto. Encontram escorpiões embaixo do lençol e sua cama flutua como se estivesse em um lago. Os amorosos são loucos, só loucos, sem Deus e sem diabo. Os amorosos saem de suas covas estarrecidos, famintos, para caçar fantasmas. Riem das pessoas que sabem tudo, das que amam a perpetuidade, veridicamente, das que acreditam no amor como uma lâmpada de inesgotável azeite.

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poema de JAIME SABINES (1926-1999) Poeta y ensayista mexicano nacido en Tuxtla Gutiérrez. Estudió Filosofía y Letras. Libros de poesía: Horal (1950), La señal (1951), Adán y Eva (1952); Tarumba (1956), Diario Semanario y poemas en prosa (1961), Poemas Sueltos (1951-1961), Yuria (1967), Maltiempo (1972), Algo sobre la muerte del Mayor Sabines (1973), Otros Poemas Sueltos (1973-1994).

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Page 1: Os Amorosos

OS AMOROSOS - Jaime Sabines

Os amorosos calam.O amor é o silêncio mais fino, o mais angustiante, o mais insuportável.Os amorosos buscam,os amorosos são os que abandonam,são os que mudam, os que esquecem.Seus corações lhes dizem que nunca vão encontrar,não encontram, buscam.  Os amorosos andam como loucosporque estão só, só, sóentregando-se, dando-se a cada instante,chorando porque não salvam o amor.Lhes preocupa o amor. Os amorososvivem o dia, não podem fazer mais, não sabem.Sempre estão indo, sempre, a alguma parte.Esperam, não esperam nada, mas esperam.Sabem que nunca vão encontrar.O amor é a prorrogação perpétuasempre o passo seguinte, o outro, o outro.Os amorosos são os insaciáveis, os que sempre – que bom! – estarão sozinhos.Os amorosos são a peçonha do conto.Têm serpentes no lugar dos braços. As veias do pescoço lhes inchamtambém como serpentes para asfixia-los.Os amorosos não podem dormirporque se dormem são comidos pelos vermes.Na escuridão abrem os olhose neles lhes cai o espanto.

Encontram escorpiões embaixo do lençol e sua cama flutua como se estivesse em um lago.Os amorosos são loucos, só loucos,sem Deus e sem diabo.Os amorosos saem de suas covasestarrecidos, famintos,para caçar fantasmas.Riem das pessoas que sabem tudo,das que amam a perpetuidade, veridicamente,das que acreditam no amorcomo uma lâmpada de inesgotável azeite.Os amorosos brincam de pegar a água, de tatuar a fumaça, de não ir.Jogam o longo, o triste jogo do amor.Ninguém há de resignar-se,Dizem que ninguém há de resignar-se.Os amorosos se envergonham de todo conformismo,Vazios, porém vazios de uma a outra costela,a morte lhes fermenta atrás dos olhos,e eles caminham, choram até a madrugadaem que trens e galos se despedem dolorosamente.Lhes chega às vezes um cheiro à terra recém-nascida, à mulheres que dormem com a mão no sexo, prazerosamente,à arroios de aguas ternas e à cozinhas.Os amorosos colocam-se a cantar entre lábios uma canção não aprendida, e vão embora chorando, chorando, a formosa vida.