orientaÇÕes gerais · textos para debate do eixo 02: economia, desenvolvimento e distribuição...

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Projeto Brasil Popular - Secretaria Operativa Nacional E-mail: [email protected] Site: https://projetobrasilpopular.org/ Facebook e Instagram: @ProjetoBrasilPopular Textos para Debate do Eixo 02: Economia, Desenvolvimento e Distribuição de Renda GT Agricultura, Biodiversidade e Meio Ambiente GT Amazônia GT Ciência, Tecnologia e Inovação GT Demografia e Migrantes GT Desenvolvimento Regional GT Economia GT Energia e Petróleo GT Financeirização GT Mineração GT Reforma Tributária GT Seguridade Social e Previdência GT Semiárido GT Trabalho, Emprego e Renda GT Transportes e Logística

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Page 1: ORIENTAÇÕES GERAIS · Textos para Debate do Eixo 02: Economia, Desenvolvimento e Distribuição de Renda ... como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e avança com liberação

Projeto Brasil Popular - Secretaria Operativa Nacional E-mail: [email protected]

Site: https://projetobrasilpopular.org/ Facebook e Instagram: @ProjetoBrasilPopular

Textos para Debate do Eixo 02: Economia, Desenvolvimento e

Distribuição de Renda

GT Agricultura, Biodiversidade

e Meio Ambiente

GT Amazônia

GT Ciência, Tecnologia e

Inovação

GT Demografia e Migrantes

GT Desenvolvimento Regional

GT Economia

GT Energia e Petróleo

GT Financeirização

GT Mineração

GT Reforma Tributária

GT Seguridade Social e

Previdência

GT Semiárido

GT Trabalho, Emprego e Renda

GT Transportes e Logística

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ORIENTAÇÕES GERAIS

Desde quando foram compostos os primeiros Grupos de Trabalho (GTs) do Projeto Brasil

Popular, em 2016, seus integrantes debateram e aprofundaram o diagnóstico e as

propostas existentes para as áreas temáticas. Os textos que compõem esse caderno

foram formulados por uma equipe de redatores junto com a Secretaria do Projeto Brasil

Popular partindo dos subsídios produzidos pelos GTs.

Essa é uma versão de texto para estudo e para debate! Todos/as podem enviar

sugestões de ajuste ou contribuições para a Secretaria Operativa Nacional do Projeto

Brasil Popular por meio do seguinte endereço de e-mail:

[email protected]

Pedimos também que nos enviem possíveis lacunas, divergências e fragilidades que

tenham identificado no texto. Essa contribuição será de grande importância para o

aprimoramento das nossas sínteses.

Desde já, agradecemos e convidamos todos/as para construir o Projeto Brasil Popular

para o Brasil.

Secretaria Operativa Nacional Projeto Brasil Popular

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SUMÁRIO AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E BIODIVERSIDADE ................................................................. 3

AMAZÔNIA .................................................................................................................................... 8

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO .......................................................................................... 12

DEMOGRAFIA E MIGRANTES ...................................................................................................... 17

DESENVOLVIMENTO REGIONAL ................................................................................................. 22

ECONOMIA .................................................................................................................................. 26

ENERGIA E PETRÓLEO ................................................................................................................. 30

FINANCEIRIZAÇÃO ...................................................................................................................... 35

MINERAÇÃO ................................................................................................................................ 40

REFORMA TRIBUTÁRIA ............................................................................................................... 46

SEGURIDADE SOCIAL E PREVIDÊNCIA ........................................................................................ 51

SEMIÁRIDO ................................................................................................................................. 56

TRABALHO, EMPREGO E RENDA ................................................................................................ 62

TRANSPORTES E LOGÍSTICA ....................................................................................................... 66

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AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E BIODIVERSIDADE

INTRODUÇÃO Existem dois projetos em disputa no campo brasileiro: o “projeto de morte”, encabeçado pelo agronegócio, baseado na degradação dos biomas, na exclusão e na expulsão de camponeses; e o “projeto de vida”, articulado pelas organizações camponesas, com a produção de alimentos saudáveis e estímulo à agroecologia. Nesse sentido, apresenta-se uma leitura das consequências sociais e ambientais geradas pela hegemonia do agronegócio no campo, assim como experiências que abrem caminho para um projeto popular e soberano para a agricultura. Esse debate passa por uma questão secular: não apenas relativo ao acesso à terra, mas pelo uso dos bens comuns pelo povo. Assim, o objetivo é apontar elementos para uma transição de modelo agrícola, articulando a preservação do meio ambiente, a agricultura familiar e a reforma agrária como caminho para o desenvolvimento nacional.

DIAGNÓSTICO O modelo de desenvolvimento do campo brasileiro é historicamente baseado na concentração fundiária e na monocultura extensiva. Principalmente a partir da década de 1990, priorizou-se o chamado agronegócio, uma junção do latifúndio monocultor com empresas transnacionais e o capital financeiro, voltada principalmente para a produção de grãos (soja, milho), cana-de-açúcar (sucroenergético), pecuária (carne) e para o plantio industrial de árvores (papel, celulose ou carvão vegetal), todas visando a exportação desses produtos in natura ou semimanufaturados. É um modelo que, além de produzir desigualdade social, coloca os bens comuns – água, biodiversidade e solo – em função da geração de lucro para algumas empresas transnacionais. Nesse contexto, o agronegócio procura controlar todas as etapas da produção de commodities, seja pela determinação do padrão tecnológico – sementes, máquinas e agroquímicos –, seja pela compra e transformação da produção agropecuária. Há ainda a tentativa continuada de internacionalizar as terras, com a liberação da compra por grupos estrangeiros, e de privatizar a biodiversidade, questões que colocam em xeque a própria soberania nacional e popular sobre os recursos. Em uma divisão internacional do trabalho que subordina países periféricos à espoliação dos bens comuns, por meio da internacionalização da agricultura, da mineração, das águas e da biodiversidade, o Brasil se apresenta como espaço de intensificação produtiva e ampliação das fronteiras agrícolas, por suas condições naturais privilegiadas. Como consequência, observa-se o colapso hídrico, a erosão genética, o desmatamento,

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a degradação dos biomas, a dependência de insumos externos, crimes socioambientais de alta gravidade – como os ocorridos nas cidades de Mariana e Brumadinho – e o avanço do sobre os territórios indígenas, quilombolas e camponeses. Além disso, o agronegócio é ponta de lança da produção baseada em agrotóxicos, que podem causar sérios danos à saúde e contaminar o solo e a água. O Brasil permanece como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e avança com liberação de novos produtos no governo Bolsonaro – muitos deles proibidos em países do Norte. É também e o segundo maior produtor de variedades transgênicas. É importante dizer que essa hegemonia é construída com dois importantes pilares: o ideológico – na relação com meios de comunicação de massa, na realização de projetos e prêmios em escolas e na captura de manifestações culturais em produções simbólicas – e estatal, na promoção de estímulos econômicos, pesquisas e estrutura logística. Há uma robusta plataforma de infraestrutura sendo construída – baseada em ferrovias, hidrovias e portos – para integrar a região centro-norte e permitir uma grande capacidade de circulação de mercadorias de baixo valor agregado. Do ponto de vista social, o modelo do agronegócio acentua a concentração de terra e renda, além de conformar uma distribuição populacional centrada em alguns (inflados) centros urbanos, incapazes de oferecer alternativas de emprego e renda. A manutenção de um fluxo migratório do campo para a cidade, principalmente entre a juventude, compromete também a possibilidade de reprodução social da população camponesa. Essa dinâmica territorial bloqueia a Reforma Agrária e mantém as melhores terras destinadas à especulação imobiliária e ao agronegócio. Nesse sentido, a política de assentamentos, implementada entre os governos Sarney e Dilma fracassou ao trabalhar apenas com a resolução de conflitos pontuais, sem transformar a Reforma Agrária em uma política de desenvolvimento. Assim, a Reforma Agrária deixou de ser – nos programas políticos e no imaginário comum – um eixo estrutural para a superação da fome, da desigualdade social e para consolidar a democracia no Brasil. Após o golpe de 2016, os governos Temer e Bolsonaro fortaleceram o agronegócio e promoveram maior desmonte das instituições e da legislação ligada aos direitos humanos, ao meio ambiente, à questão fundiária, e à soberania e segurança alimentar, sem qualquer debate público. O tamanho do retrocesso pode ser dimensionado pelo fechamento dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, do Trabalho e da Cultura, pela reformulação da Secretaria de Aquicultura e Pesca, pelo sucateamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Fundação Palmares e pela extinção dos conselhos de participação social, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), o Conselho Nacional

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de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) e o Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT). Ao modelo baseado do agronegócio identificado como “projeto de morte”, opõe-se às propostas das organizações populares e camponesas possuem uma série de experiências para a conformação de um “projeto de vida”. Em todos os biomas, há diferentes experiências sociais camponesas – sejam quilombolas, ribeirinhos, assentados, agricultores tradicionais, ou de comunidades de fundo de pasto – que permitem afirmar a agroecologia como alternativa para alimentar o povo brasileiro e povos irmãos. Trata-se de uma dinâmica produtiva de base socioambiental, que responde a diferentes desafios de escala, diversidade, geração de renda e cultura. Nesse sentido, a soberania alimentar é um ponto chave para esse projeto. Ela deve partir de uma construção entre os trabalhadores urbanos e o campesinato e ter o Estado como mediador. A sua base precisa ser a diversidade de produção, a comercialização em circuitos curtos (com no máximo um intermediário), o desenvolvimento de técnicas e tecnologias sociais que possibilitem aliar a produção com a preservação e a recuperação ambiental, a emancipação das mulheres, o fortalecimento e a atração da juventude para o campo e o fornecimento de alimentos de qualidade a preços justos. Apesar de todas as contradições dos governos “neodesenvolvimentistas”, políticas públicas com potencial estrutural foram implementadas, confirmando o papel determinante do Estado para garantir um projeto agroecológico, cooperativo e popular para o campo. As políticas de comercialização institucional, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), ampliam o leque de possibilidades de dinamização do campesinato, para além do crédito – importante ferramenta que precisa também ser reformulada. Do mesmo modo, a assistência técnica possibilita saltos produtivos a baixos custos e uma transição agroecológica massiva. O investimento em agroindústrias de pequeno, médio e grande porte também tem o potencial de ampliar a capacidade de produção e comercialização dos alimentos. Assim, faz-se necessário que o Estado destine esse aparato de pesquisa, inovação tecnológica, logística e infraestrutura – tradicionalmente voltado para o agronegócio – para o desenvolvimento da agroecologia. O “projeto de vida” parte também de um preceito de soberania ambiental, ou seja, da construção de mudanças na forma de usar os bens da natureza, objetivando seu uso comum na organização da produção e nas relações sociais.

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PROPOSTAS Implantar programas e políticas de estruturação da agroecologia como base produtiva e tecnológica da agricultura nacional, em substituição ao modelo do agronegócio e da “revolução verde”. Essa transição deve estruturar as bases da soberania alimentar, garantido o Direito à definição do que comer, onde será produzido e como será produzido. - Instituir o Programa Nacional de Transição Agroecológica (Programa Camponês) para produção, industrialização, beneficiamento, armazenagem, distribuição e comercialização de alimentos saudáveis e agroecológicos. - Organizar uma política estrutural de agroindustrialização do campo, baseada em processos cooperativos e coletivos, com plantas de pequeno e médio porte, articulada com a reestruturação do sistema de armazenamento e comercialização dos produtos da agricultura camponesa. Efetivar a Reforma Agrária Popular, com estímulo à agricultura familiar camponesa e geração de ocupações e empregos rurais e urbanos. - Realizar desapropriações para fins de reforma agrária das terras que não cumpram função socioambiental, e organização de assentamentos em regiões estratégicas. - Viabilizar recursos para agroindústria cooperativa da agricultura familiar camponesa. - Recriar o Ministério do Desenvolvimento Agrário e transformar a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em uma empresa estatal voltada à compra de alimentos da agricultura familiar e à adoção de programas públicos para distribuição de bens agrícolas. Desenvolver políticas públicas estruturantes para uma agricultura ecológica e para a recuperação e preservação ambiental. - Efetivar e fortalecer o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) e o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), para ampliar os territórios camponeses livres de agrotóxicos e transgênicos. - Estimular a produção massiva de sementes, mudas, rações e bioinsumos ecológicos. - Garantir assistência técnica e pesquisas estratégicas e aplicadas, em diálogo com saberes populares a serem sistematizados e socializados. - Potencializar o PAA e Pnae. - Desenvolver programa de recuperação, revitalização e conservação das fontes, nascentes e cursos d’água em todos os biomas brasileiros, em especial nas bacias hidrográficas de abastecimento dos grandes e médios centros urbanos, com plantio de árvores, proteção das nascentes e incentivo à proteção para o uso comum dos bens da natureza. - Manter e ampliar das unidades de conservação. Garantir o Direito ao território das comunidades tradicionais. - Assegurar a demarcação e o respeito aos territórios indígenas.

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- Garantir a titulação de territórios quilombolas. Organizar uma política nacional para viabilização da continuidade da juventude no campo. - Fortalecer a educação do campo. - Garantir moradia, atrativos culturais, lazer e a universalização do acesso aos meios digitais em todas as regiões do campo. - Fortalecer, estimular e ampliar o protagonismo feminino e jovem nas ações e nas lutas camponesas.

BANDEIRAS Soberania e segurança alimentar

Soberania popular sobre os bens comuns.

Reforma Agrária popular: se o campo não planta, a cidade não janta

Agrotóxico mata

Comida sem veneno é um direito

Preservação e respeito à riqueza ambiental brasileira

Em defesa dos territórios indígenas e quilombolas.

Erradicação do trabalho escravo.

Condições dignas de trabalho no campo.

Por uma juventude no campo.

Agronegócio mata!

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AMAZÔNIA INTRODUÇÃO A Amazônia é uma das regiões mais ricas em recursos naturais do Brasil e do mundo. Um projeto popular soberano em nosso país implica necessariamente proteger essa região do atual modelo de desenvolvimento predatório que exaure os recursos da floresta e marginaliza as populações locais e tradicionais. Sempre alvo de preocupações em todo o mundo, a Amazônia só pode ser protegida e respeitada a partir de outro modelo de desenvolvimento nacional e soberano que sirva aos interesses coletivos, em harmonia com a natureza. Para tal, é fundamental inspirar-se e respeitar os modos de vida dos povos do campo, das águas e das florestas, grandes responsáveis pela conservação da biodiversidade brasileira. DIAGNÓSTICO A Amazônia representa cerca de 61% do território brasileiro, concentra 98% das terras indígenas e 77% das unidades de conservação que, somadas aos territórios quilombolas, são 32% da superfície do país. Na porção brasileira dessa floresta tropical temos 170 povos indígenas, 357 comunidades remanescentes de quilombos e milhares de comunidades de seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, assentados da reforma agrária, entre outros. Em suas florestas e solos, há quantidades substanciais de carbono que, do contrário, se concentrariam na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. É também território de milhares de espécies que são de interesse da ciência e da humanidade. No entanto, as riquezas naturais da região não se traduzem em qualidade de vida para o povo que lá habita. É sintomático que a região mais rica em água do país - e com ⅕ da água doce do mundo - seja a com mais baixos índices de saneamento básico. Em 2018, apenas 21,8% dos domicílios do Norte eram conectados à rede de esgoto e 58,9% possuíam água canalizada. O baixo desenvolvimento econômico e social e a precária qualidade de vida na região explica-se em parte pelo fato de que o Estado brasileiro sempre facilitou a exploração do território por outros países e empresas privadas nacionais e transnacionais – através de isenções fiscais, empréstimos, infraestrutura e doações de terras. O avanço sobre o território amazônico se sustentou a partir de desmatamento, assoreamento dos rios, expropriação de terras e da violência contra indígenas e outros povos da floresta.

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O primeiro grande empreendimento econômico na região foi a extração da borracha, na segunda metade do século XIX, a partir da demanda da Revolução Industrial. O Estado brasileiro, durante décadas, promoveu-se o deslocamento de contingentes imensos de trabalhadores da região Nordeste para suprir as necessidades de força de trabalho na exploração do látex, em relações de servidão – sem direitos e dependentes de produtos fornecidos pelo comércio pertencente ao patrão. Após entrada no mercado mundial do látex asiático, a atividade seringueira na Amazônia entrou em crise. Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), há outro salto na exploração da Amazônia, com programas de ocupação em todo seu território. Por trás do discurso de defesa da soberania nacional, o objetivo era garantir a exploração pelo capital privado e estrangeiro. Nos programas de desenvolvimento nacional coube a Amazônia ser a “fronteira de recursos naturais”, com função de exportadora de minerais. Nesse período, sobretudo a partir de 1967, ganhou peso a mineração, iniciada já em 1945. O projeto foi tornar a Amazônia uma região de extração e exportação mineral em escala industrial, em parceria com o capital privado e internacional, como no Projeto Jari – bauxita e caulim. Na exploração do ferro, o Programa Grande Carajás era controlado pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), privatizada em 1997. Atualmente a grande exploração mineral na região é dominada por multinacionais e o Estado só cumpre o papel de fornecer infraestrutura para a exportação de produtos sem beneficiamento, reforçando o lugar da Amazônia de exportadora de recursos naturais. Em 2017, o governo Temer sinalizou com mais entregas de riquezas com a extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), localizada no Pará e Amapá, criada durante a ditadura civil-militar. Nessa área, estão mapeadas mais de 67 ocorrências de ouro, cobre, diamante, ferro, manganês, cromo, tântalo, estanho, cobalto e nióbio. Bolsonaro, além de defender a mineração e a agropecuária em terras indígenas, afirma que o Brasil deve se tornar referência na extração de nióbio. No entanto, já somos responsáveis pela extração de 93,7% do nióbio comercializado no mundo e o aumento de sua exploração e beneficiamento trará consequências para a Amazônia e o país. Do mesmo modo, a agropecuária avança na região principalmente a partir da década de 1970, com a revolução verde. Além de poluir os solos e a água com a intensa utilização de agrotóxicos, o modelo baseado na monocultura extrai de forma contínua os nutrientes do solo e a água dos lençóis freáticos. A pecuária e extração de madeira também crescem da mesma forma predatória, e em relação com os monocultivos, ampliando o desmatamento. Nos últimos 15 anos, podemos observar três frentes de expansão do agronegócio na Amazônia: o uso de sementes transgênicas; o avanço da fronteira agrícola por meio do desmatamento; e o capitalismo verde, que busca subordinar os territórios dos povos

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indígenas, quilombolas e camponeses – onde a natureza foi por eles preservada – a mecanismos de financeirização da natureza como venda de créditos de carbono, Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd) e Pagamentos de Serviços Ambientais. Além disso, após as reformas neoliberais dos anos 1990, foram aprovados o fim do monopólio brasileiro sobre o subsolo (e suas riquezas), permitindo que multinacionais patenteiam substâncias ativas das plantas amazônicas. Assim, privatiza-se o saber popular do povo amazônico e cria-se uma nova forma de biopirataria. Todas essas questões são permeadas historicamente por resistências. Os avanços do desmatamento levam a intensos conflitos entre os povos das florestas e movimentos sindicais, de um lado, e os grandes latifundiários, de outro. O atual cenário aponta para um acirramento da violência; entre 2004 e 2015, os assassinatos de lideranças camponesas oscilaram entre 25 e 39 por ano e, em 2017, esse número saltou para 70. Além disso, assistimos nos últimos anos ao crescimento das incertezas na vida social, no mundo do trabalho e no campo dos direitos sociais e territoriais. Hoje, o governo federal sequer reconhece o aquecimento global, desqualifica a ciência, a pesquisa ambiental e o trabalho de grupos organizados que se debruçam sobre essas questões. Além disso, defende abertamente a destruição da legislação ambiental – incluindo a liberação irrestrita de agrotóxicos mais agressivos e o fim do licenciamento ambiental. Na questão geopolítica, é importante pensar um projeto popular e soberano para a Amazônia a partir de uma mirada da integração latino-americana, já que o floresta está presente em oito países sul-americanos. A integração e ação regional é, portanto, estratégica no enfrentamento ao avanço do capital sobre os bens comuns desse bioma. Diante da atual crise estrutural do capitalismo, a América Latina – em especial a Amazônia – ganham uma importância estratégica na reativação do capital internacional, uma vez que a exploração dos bens naturais da floresta podem proporcionar um lucro extraordinário. Isso, somado à perda de direitos sociais conquistados - como temos visto ocorrer nos últimos anos - traduz-se a uma escalada da violência, do racismo, da intolerância, do narcotráfico, da economia ilegal, assim como a reafirmação do papel da América Latina como fornecedora de matérias primas e recursos naturais. Assim, é nosso dever não apenas resistir aos ataques, mas ousar sonhar com um futuro que valorize a terra, sua flora e fauna e seu povo. Neste mundo, o conhecimento indígena de plantas na Amazônia é usado para medicamentos para o público em geral, ao invés de aumentar a riqueza de poucos através da propriedade intelectual. A resistência é parte do processo de autodeterminação para a transição rumo a um modelo descolonizado e ecológico de desenvolvimento territorial, mediado pela tradição, pela cultura e pela convivência harmoniosa com a floresta.

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PROPOSTAS Garantir aos povos amazônidas, incluindo todos os países e povos que a ocupam, o direito primordial do usufruto dos bens oferecidos pela floresta amazônica, a usufruir de suas águas e de toda sua biodiversidade, de maneira sustentável. Reforma Agrária Popular, com estímulo à agricultura familiar camponesa, à agroecologia, promovendo atividades econômicas adequadas ao bioma, para manter a floresta em pé. - Devolver as terras comprovadamente griladas ao status ser público, impedindo que a grilagem continue sendo uma forma de apropriação de terras; - Certificar que todas as comunidades tradicionais tenham acesso à terra; Desmatamento zero: combate a todas as formas de destruição da floresta, em especial as realizadas pelas madeireiras, pela pecuária e pela monocultura, como as da soja e da cana. - Não desenvolver novas grandes obras que causem devastação, como a construção de grandes barragens, grandes ferrovias, portos, aeroportos e toda infraestrutura que muitas vezes visa apenas facilitar o acesso do capital às suas riquezas. - Construir colaboração internacional para a preservação da floresta, assumindo também os custos econômicos de sua preservação. Desenvolver políticas inovadoras de transição ecológica para criar alternativas econômicas sustentáveis na região. Avançar rumo a uma nova economia florestal que garanta qualidade de vida e desenvolvimento inclusivo para os 25 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, e para tantos outros que vivem no campo em outros biomas.

BANDEIRAS Desmatamento zero!

O agronegócio mata!

Respeito aos povos das florestas, das águas e do campo.

Grilagem é roubo!

Defender a Amazônia é defender o Brasil

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CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO INTRODUÇÃO A ciência, tecnologia e inovação (CT&I) desempenha um papel central no desenvolvimento econômico, social e cultural de um povo e de uma nação, e é elemento fundamental na constituição da soberania nacional. Reconhecendo que a potencialidade da CT&I foi apenas parcialmente cumprida até hoje, propomos reiterar o papel estratégico da área na promoção da melhoria da qualidade de vida da população.

Se a serviço dos interesses do povo, a CT&I torna-se um instrumento para superação de diversos problemas sociais. Diante do atual desmonte do Sistema Nacional de CT&I, o desafio colocado é encontrar caminhos para diminuir as perdas e pensar em ações a médio e longo prazo para evitar a lacuna tecnológica com os países do Norte. Essa tarefa não pode ser cumprida pelo mercado e, portanto, deve contar com o Estado na formulação de políticas públicas para conquistar mercados e minorar a grave desigualdade social por meio do progresso técnico.

DIAGNÓSTICO Nos últimos anos, as desigualdades no comércio internacional têm aumentado, à medida que os países ricos ampliam sua estrutura produtiva e intensificam a concorrência. Na indústria de transformação, mesmo com a redução de crescimento, há avanços puxados pelos ramos de maior intensidade tecnológica, que enfrentam tanto os desafios das chamadas tecnologias 4.0 (a chamada “quarta revolução industrial”), quanto das novas demandas (envelhecimento populacional, mudanças climáticas, etc).

Após a crise de 2008, a lenta recuperação do PIB das maiores economias mundiais forçou a implementação de políticas ativas em educação e pesquisa e desenvolvimento (P&D). O objetivo era elevar a capacidade concorrencial com a requalificação da força de trabalho e gerar rapidamente novos conhecimentos, com foco nos setores críticos da sociedade e nas áreas de automação, informatização e microeletrônica. Entre as estratégias adotadas, podemos citar: a capacitação e formação de recursos humanos; o apoio às universidades como centros de pesquisa; o desenvolvimento do mercado doméstico em média e alta tecnologia, com orientação exportadora e metas; o reforço às cadeias globais de suprimentos; e a melhoria da infraestrutura e logística.

Além disso, países como China, EUA e Alemanha procuraram desenvolver tecnologias relacionadas à digitalização, como a Internet das Coisas (interconexão digital de objetos cotidianos com a internet), a Indústria 4.0, a Inteligência Artificial e a Tecnologia de Redes, centrais para o futuro da indústria e da sociedade. Esse movimento restringiu

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ainda mais a difusão do conhecimento para os países em desenvolvimento, pois reforçou os direitos de propriedade intelectual, com a elevação do nível de patenteamento em setores de média e alta tecnologia.

A consequente brecha tecnológica entre os países centrais e os países em desenvolvimento reforçam a importância do conhecimento como motor da competição econômica. Por meio de políticas públicas estratégicas, é possível readequar e fortalecer o vínculo entre os ecossistemas de produção e inovação – indústria e pesquisa.

No Brasil, a constituição de um amplo mercado interno de consumo de massa, a partir de 2003, fortaleceu as cadeias produtivas e abriu espaço para avanços importantes na agenda de CT&I. As políticas construídas focaram na integração da CT&I, eixo estruturante do desenvolvimento sustentável brasileiro, às demais políticas de governo – indústria, educação, saúde, agropecuária e energia –, articuladas em uma visão sistêmica. Diversos atores se articularam para formar recursos humanos e parcerias na aplicação de recursos em projetos estratégicos, como governo (nas três esferas federativas), universidades, empresariado e agências de regulação.

Entre as ações do período, podemos mencionar a implantação da Lei de Inovação, da Lei do Bem, da Lei de Informática, da Lei da Biodiversidade, da Lei de compras governamentais, além de programas estratégicos como o Ciência sem Fronteiras, que levou cerca de 100 mil estudantes e pesquisadores brasileiros a 2.912 universidades e centros de pesquisa de 54 países. Também foram firmadas parcerias formais com as Fundações de Amparo à Pesquisa, Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de CT&I (ConseCT&I) e Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). Houve o aumento real da infraestrutura laboratorial e foram criados em rede nacional e internacional de 123 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) em áreas críticas para o Brasil.

Entre 2003 e 2010, o orçamento executado do MCT&I (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) passou de R$ 3 bilhões para mais de R$ 8,5 bilhões e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) expandiu de R$ 500 milhões para mais de 4 bilhões. No mesmo período, o orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foi de R$ 500 milhões para R$ 4 bilhões, com um crescimento de 167% nos cursos de excelência – notas 6 e 7 pela Capes – e de 107% nas matrículas de mestrado e doutorado.

Como resultado, em 2016, o Brasil contava com quase 200 mil cientistas e engenheiros de alto nível, instalados em mais de 500 instituições, e cerca de 34 mil grupos de pesquisa com projeção internacional. Entre 2006 e 2015, o Brasil saltou de 33.498 artigos científicos publicados em periódicos científicos indexados para 61.122, alcançando o 13º lugar mundial em produção científica (Web of Science).

A promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas, outro braço do Sistema, garantiu o fortalecimento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em parceria com o BNDES – com destaque para os programas INOVA Empresa e TI Maior, e para a instalação do

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Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec). Em 2013, também foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) para promover projetos de inovação de demanda das empresas.

Entre 2003 e 2016, o Brasil procurou minimizar a disparidade tecnológica entre os hemisférios, diversificou suas parcerias econômicas e comerciais em uma agenda estratégica que privilegiou o fortalecimento de bases científicas e tecnológicas em áreas como biotecnologia, nanotecnologia, saúde, segurança energética e energia limpa, TICs e novos materiais. No entanto, a incorporação do Ministério da CT&I à pasta das Comunicações antes mesmo da conclusão do processo de impeachment de Dilma Rousseff provocou um desmonte dessa agenda.

A intensificação da crise política e institucional somada ao inexpressivo crescimento econômico teve drásticas consequências para a CT&I. Há exemplos claros de retrocesso (aparentemente planejado), com as situações drásticas vivenciadas pela Finep e CNPq, comprometendo o papel de fomento à pesquisa. O BNDES, por sua vez, vem sendo forçado a atuar mais como Banco de Investimento do que Banco de Desenvolvimento, com pressões para redução de seu investimento produtivo. Como resultado, entre 2011 e 2018, o Brasil caiu da 47a para a 64a posição de um rol de 127 países no Índice Global de Inovação.

No primeiro semestre de 2019, as decisões de cortes e contingenciamentos pelo governo federal anunciam mais desmonte e já regressamos ao nível de investimento de 15 anos atrás. O orçamento executado do MCT&I gasto com ciência foi de R$ 3,9 bilhões, em 2018, e apenas R$ 932 milhões até julho de 2019.

Além do setor agrário, com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há no Brasil apenas dois outros sistemas setoriais de inovação: o de petróleo e gás, liderados pela Petrobrás, e o aeronáutico, liderado pela Embraer. Uma das razões da bem sucedida estruturação desses dois sistemas foi a capacidade de realizar atividades de P&D autóctones integradas a cadeias tecnológicas e produtivas globais, muitas vezes em posição de liderança. O desmonte e a desnacionalização vão, seguramente, provocar a perda desse protagonismo. Além da redução orçamentária, a crescente intervenção do governo federal nas universidades e institutos de pesquisa evidencia seu viés ideológico e o desrespeito pela autonomia universitária, garantida pela Constituição. As mudanças pretendem criar um novo perfil da educação superior, com a entrada de empresas internacionais. Existe um desequilíbrio histórico e estrutural entre a oferta de conhecimento e as demanda pautadas interesse da sociedade devido a um financiamento cronicamente instável e insuficiente. Mas a política de pós-graduação iniciada em 1965 e consolidada nas décadas seguintes, conseguiu evitar a perda de cérebros para o exterior – um fenômeno comum em outros países do hemisfério sul – algo que pode ocorrer agora

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com os cortes de recursos e os constrangimentos ideológicos. Essa lacuna pode penalizar o Brasil por décadas. Para que nossa política de P&D possa ser retomada, é preciso haver uma política sustentável em busca de equilíbrio no sistema nacional de inovação, ponto fundamental para estancar a atual trajetória de desindustrialização e de abertura comercial irrestrita. Para isso, é preciso assegurar uma visão estratégica sobre P&D em um projeto nacional de desenvolvimento econômico e social com metas de curto, médio e longo prazo e que, além disso, fortaleça a democracia.

PROPOSTAS Estabelecimento da meta de investimento total (governo mais empresas) em P&D de 2% do PIB em até 3 anos; Atingir 2% do PIB regional para investimentos em CT&I até 2032. Construção de um Plano Nacional de CT&I com prioridades às grandes questões nacionais e ao estabelecimento de projetos mobilizadores do país. - O plano, coordenado pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), deve articular o MCT&I com os ministérios da Saúde, Educação, Agricultura, Defesa e Economia, e com as agências reguladoras (ANP, ANATEL e ANEEL) para implementar uma política industrial moderna que alavanque processos e investimentos em inovação nas empresas. Melhoria da qualidade da educação em todos os níveis, em particular a educação científica. Criação do Fundo do Pré-Sal para C&T (PLS 181/2016). Revogação da Emenda Constitucional 95. Recuperação dos níveis orçamentários de investimento em CT&I de 2009 a 2014. Fortalecimento da Finep, com o fim do contingenciamento dos recursos do FNDCT e recuperação dos recursos já contingenciados. Recuperação dos quadros do SNCT&I via concurso público Cumprimento dos acordos internacionais em andamento na área científica e o apoio à participação do Brasil em programas internacionais estratégicos para o país.

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Efetiva aplicação nos níveis federal, estadual e municipal, do novo Marco Legal de CT&I (Lei 13.243/2016). Utilizar a Ciência & Tecnologia de maneira intensiva para recuperar e proteger nosso patrimônio ambiental, além de valorizar nossas comunidades indígenas e tradicionais. Avançar na infraestrutura nacional de classe mundial para pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas estratégicas. Ampliar as iniciativas de formação, qualificação, atração e retenção de recursos humanos. Apoiar a criação de empresas de base tecnológica e fortalecer a capacidade de inovação dos fornecedores nacionais de bens e serviços de modo a permitir o atendimento dos requisitos de conteúdo local na indústria. Apoiar a diversificação de empresas e grupos econômicos de capital nacional para atuação nos segmentos mais intensivos em tecnologia e escala. Criar as condições necessárias para a constituição de centros de engenharia e de pesquisa dos principais fornecedores nacionais e internacionais nas cadeias mais estratégicas para o desenvolvimento nacional. Implementar a transversalidade da CT&I enquanto eixo estruturante do desenvolvimento sustentável brasileiro na gestão pública.

BANDEIRAS Barrar o desmonte do Sistema Nacional de CT&I!

Sem ciência não há desenvolvimento!

Cortes e contingenciamentos na educação é acabar com o futuro.

Ciência, Tecnologia e Inovação para crescer de forma sustentável.

Revogação imediata da Emenda Constitucional 95.

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DEMOGRAFIA E MIGRANTES INTRODUÇÃO Às dinâmicas populacionais devem ser consideradas em um projeto nacional, tanto na dimensão de transição demográfica, quanto no comportamento das migrações e da distribuição espacial da população. Considera-se que, desde a década de 1980, o Brasil vive uma etapa conhecida como “bônus demográfico”. Devido a gargalos estruturais agravados por políticas neoliberais, não se pode aproveitar a “janela de oportunidade” que essa etapa representa, empregando pessoas em idade de trabalhar para impulsionar o desenvolvimento econômico e social e o aumento da renda dos indivíduos.

Entretanto, esse período ainda não acabou. A dinâmica populacional brasileira ainda permite que possamos, nas próximas décadas, ampliar a geração de riqueza e renda e distribuí-la de maneira equitativa. Também há a necessidade de enfrentar questões relacionadas ao envelhecimento populacional e pensar políticas alternativas para redistribuir a população no território, com foco na melhoria da qualidade de vida.

DIAGNÓSTICO A questão demográfica não entrou na pauta de ações dos governos recentes e sua presença no debate público é muito pequena. O tema surge somente no debate da previdência social, para justificar a urgência da reforma, devido ao iminente aumento da população idosa, que agrava o problema previdenciário. No entanto, existe uma dimensão da dinâmica populacional extremamente positiva e estratégica.

O Brasil ainda está na etapa do “bônus demográfico” – uma janela de oportunidades que ocorre quando a maior parte da população está em idade de trabalhar (15 a 64 anos), aumentando o potencial de desenvolvimento do país. As tendências indicam que a proporção entre o número de dependentes em relação ao de trabalhadores seguirá uma trajetória de queda, iniciada nos anos 1980. Apenas em 2037 a proporção será invertida, ou seja, a população em idade ativa (PIA) entrará em declínio e o número de dependentes jovens em relação ao número de trabalhadores será menor do que o número de dependentes idosos. Seguindo o ritmo normal, sem que nenhuma política seja implementada, a população começará a diminuir em meados da década de 2040.

Assim, desde os anos 1980 até o final dos anos 2030, vivemos a fase da chamada “transição demográfica”. Resumidamente, trata-se da passagem entre um momento com altos índices de natalidade até um ponto em que as taxas de natalidade e de mortalidade serão pequenas. Atualmente – e por quase mais duas décadas –, ainda temos uma grande população ativa, com potencial para impulsionar o desenvolvimento econômico e social. Essa fase também pode favorecer a melhoria na qualidade da

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educação básica, em função do menor número de crianças. A população idosa ainda é relativamente pequena, e a pressão sobre os sistemas de proteção social, incluindo saúde e seguridade, não é tão grande.

No entanto, o país não tem criado condições econômicas e sociais para incorporar essa abundante oferta de mão de obra ao mercado de trabalho formal. O aumento da formalização e das taxas de atividade é uma condição para fortalecer a previdência social, assegurando um fôlego maior para planejar medidas relacionadas ao envelhecimento da população (saúde, previdência social, cuidados etc).

A transição demográfica se apresenta em estágios diferentes de acordo com a região do país, refletindo assimetrias de desenvolvimento socioeconômico. Para uma melhor apreensão desse momento segundo a distribuição espacial, estabelecemos três categorias a partir das razões de dependência (relação entre o número de pessoas em idade ativa e pessoas fora da idade de trabalhar - idosos e crianças) indicadas no Censo de 2010 com o objetivo de orientar políticas públicas adequadas à população:

I. Regiões de Tipo 1 (jovem) – Aparecia em 46 das áreas investigadas, um pouco menos de 10% das regiões, todas no Norte e Nordeste. São espaços que necessitam sobretudo de investimento em educação básica, em função do elevado número de crianças e adolescentes. Na saúde, requerem preocupação especial com questões ligadas aos cuidados materno-infantis. O desenvolvimento econômico é fundamental não apenas para gerar empregos, mas para também reter população. II. Regiões de Tipo 2 (adulto jovem) – Predomina em 236 das 483 regiões

identificadas como capazes de polarizar um número grande de municípios (as chamadas Regiões Imediatas de Articulação Urbana). Mais presentes no Nordeste e Centro-Oeste. Atravessam a fase intermediária da transição, com o alargamento da população em idade ativa. A geração de empregos e a formalização da força de trabalho são primordiais para o aproveitamento do que resta do bônus demográfico. III. Regiões de Tipo 3 (processo de envelhecimento) – Ocorre em 201 Regiões Imediatas de Articulação Urbana, predominantemente no Sudeste e Sul, mas com ocorrências no Nordeste. No Centro-Oeste está em apenas quatro regiões e não há ocorrência no Norte. Representa 40% das Regiões de Articulação. São espaços que necessitam de intervenções mais imediatas na atenção aos cuidados e à saúde do idoso.

MIGRAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Após os anos 1980, houve profundas alterações no comportamento do fenômeno migratório no Brasil, com destaque aos seguintes aspectos:

I. Inversão nas correntes principais em Minas Gerais e Rio de Janeiro; II. Redução da atratividade migratória exercida por São Paulo;

III. Aumento da retenção de população e migração de retorno no Nordeste; IV. Novos eixos de deslocamentos populacionais em direção às cidades médias no interior do país;

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V. Aumento da importância e diversificação dos deslocamentos pendulares; VI. Esgotamento e seletividade na expansão da fronteira agrícola;

VII. Migração de retorno para o Paraná; VIII. 14 das 27 unidades da federação passaram a se caracterizar como espaços de rotatividade migratória, ou seja, onde os volumes de entradas e saídas de migrantes se compensam;

IX. Incerteza sobre o comportamento da mobilidade dos brasileiros na escala internacional, ressaltando-se a importância das migrações de retorno.

Assim, nas últimas décadas, os movimentos internos de população têm se concentrado em:

1. Uma faixa ao longo do litoral, onde estão os principais centros urbanos e os nós difusores da rede de cidades; 2. Espaços onde a atividade agropecuária ou mineradora está cada vez mais vinculada ao processo geral de urbanização do território, seja pela transformação de sua base técnica, seja por sua inserção nos complexos agroindustriais e na circulação de produtos e matérias primas.

Com relação às tendências de crescimento regional, as 483 as Regiões Imediatas de Articulação Urbana se dividem em:

1. Regiões que tendem à estabilidade populacional – com ritmo menos intenso de crescimento; representam a maioria (68,5%). Estão localizadas basicamente na faixa litorânea do Nordeste ao Sul e na região central do país. Dentro dessas próprias áreas é possível atuar para redistribuir a população, induzindo a emigração nos espaços mais densamente povoados e direcionando parte da população a áreas indicadas como possíveis receptoras de migração. Para a população remanescente, deve ser assegurada a geração de trabalho, sobretudo no mercado formal. 2. Regiões com tendência ao crescimento ou já com forte atração populacional – comportamento observado em 22,2% dessas áreas que estão localizadas no Centro-Norte. Contam com taxas de natalidade ainda altas e necessitarão de planejamento urbano, ampliação e melhoria dos serviços públicos, além de políticas de inclusão social e formalização do mercado de trabalho. 3. Regiões que tendem ao esvaziamento ou áreas de perda de população – apresentam crescimento negativo; são 45 regiões (9,3% do total) espalhadas pelo país. De um modo geral, a causa dessa perda populacional está associada ao menor dinamismo econômico. A situação é mais crítica no RS. Com a economia deprimida, os jovens emigram, deixando para trás os idosos. Isso faz com que a população fique ainda mais envelhecida, diminui drasticamente a natalidade e reduz as possibilidades de crescimento econômico. Nesses espaços, a tarefa do Estado é induzir o desenvolvimento da economia, buscando sintonia com as vocações locais.

Essa distribuição da população é decorrente de economias complexas. Quanto às migrações internacionais, entre as décadas de 1980 e 1990, houve saída de brasileiros

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em volumes inéditos. A entrada de estrangeiros não compensava o número de partidas rumo aos EUA, Europa e Japão.

Em meados da primeira década dos anos 2000, observamos o retorno de brasileiros e a chegada de migrantes da Europa, EUA e China, em grande medida devido à crise econômica que atingiu os países centrais. Contribuiu também para o aumento do saldo migratório a imigração oriunda dos países sul-americanos, facilitada pelo Acordo de Residência dos Países Membros ou Associados ao Mercosul; a migração haitiana, favorecida pela concessão de vistos humanitários; e, em menor medida, o acolhimento aos refugiados sírios, aos imigrantes africanos do Senegal, República Democrática do Congo, Gana e Angola e dos asiáticos com origem em Bangladesh.

Esse foi o cenário até 2014, quando a crise econômica chega aqui. A partir daí, o que se tem observado é o aumento na saída de brasileiros para os EUA e Europa, e de estrangeiros para seus países de origem, combinada à menor atração de imigrantes.

Quanto à legislação, a Lei de Migração, de 2017, baseia-se nos Direitos Humanos, ao contrário do anterior Estatuto do Estrangeiro, fundado em princípios de segurança nacional. A nova lei favorece enormemente a adoção de políticas de atração migratória, podendo ajudar no crescimento da população economicamente ativa e contribuir para o desenvolvimento nacional. Para isso, entretanto, a economia do país precisa ter dinamismo, o que não corresponde à nossa realidade atual.

A questão migratória tem gerado, em todo o mundo, sobretudo nos países centrais do capitalismo, diversas manifestações racistas, xenófobas e preconceituosas, de segmentos reacionários que vêm buscando se organizar politicamente. Aqui, esses setores são contra a Lei de Migração e rechaçam fortemente a vinda de latino-americanos, africanos e povos do Oriente Médio, ao passo que nada dizem sobre os imigrantes oriundos do Norte Global, ainda maioria em nosso país.

PROPOSTAS Investimento em atividades econômicas que demandem uso intensivo de mão de obra qualificada - Investir em atividades econômicas intensivas em conhecimento e tecnologia que proporcionem o aumento nos índices de produtividade da força de trabalho – o que implica enfrentar os gargalos na educação. Formalização da força de trabalho - Tal medida fortalece a Previdência Social e enfrenta as questões relacionadas ao envelhecimento da população.

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Formulação de políticas populacionais - Para evitar que se confirme o quadro de redução populacional e o desequilíbrio da estrutura etária, com o aumento desproporcional de idosos, devem-se formular políticas de incentivo à natalidade e à imigração internacional. Para ter efeito desejado, é essencial que essas políticas considerem as assimetrias regionais a forma como a população se distribui no país. Redistribuição da população pelo território de acordo com a etapa da transição demográfica e às tendências de crescimento - Essa redistribuição da população pode ser incentivada por políticas de Estado para gerar polos de desenvolvimento econômico e social inclusivos e sustentáveis, em sintonia com as vocações locais, dotados de infraestrutura adequada em saúde, educação e lazer. Combate à xenofobia -Elaborar materiais em diferentes mídias que esclareçam a verdade sobre as migrações, instruindo a população contra a xenofobia.

BANDEIRAS Migrar é um direito!

Formalização da força de trabalho

Políticas que melhorem a qualidade de vida de nossos idosos

Criação de polos de desenvolvimento econômico e social inclusivos e sustentáveis

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DESENVOLVIMENTO REGIONAL

INTRODUÇÃO

Em um contexto de desigualdade global, o desenvolvimento dos países dominantes ainda se faz às custas da exploração dos países subdesenvolvidos e faz com que inexista desenvolvimento independente do centro. Os diferentes níveis de desenvolvimento das diferentes regiões do país também estão relacionadas com essa relação de dependência que historicamente priorizou determinadas regiões a depender do interesse estratégico do capital.

Devemos promover o desenvolvimento econômico e social das regiões mais pobres do país, integrando-as em um projeto de desenvolvimento nacional que priorize a equidade e a valorização dos potenciais específicos de cada região.

DIAGNÓSTICO Muitas das ideias do economista Celso Furtado sobre o desenvolvimento econômico e o subdesenvolvimento ainda se apresentam como contribuições significativas para o diagnóstico da questão do desenvolvimento no Brasil, sobretudo no Nordeste.

Até o início do século XX, o sertão nordestino ocupava lugar de destaque no país por seu potencial exportador, sendo a referência do desenvolvimento do Brasil durante um ciclo econômico. Com a decadência desse ciclo, o “centro” nacional foi movido para o Sudeste que concentrou o processo de industrialização e inseriu o semiárido na posição de fornecedor de mão de obra para os seus centros urbanos.

Para justificar essas desigualdades regionais se consolidou a ideia de que algumas regiões eram um “problema” para o país, por questões como disparidade de renda, baixo ritmo de crescimento, sugadora de recursos públicos.

A região Nordeste, por exemplo, foi considerada calamidade social, na qual a falta de industrialização e as secas seriam as principais responsáveis pelo “atraso”. Assim, o semiárido é responsabilizado como o grande mal, e nada se altera em relação às estruturas de poder e à concentração fundiária. Muitos desses elementos se mantêm ainda hoje para contextualizar o Nordeste e também a região Norte, devido a uma tendência persistente de desemprego, informalidade, trabalhos mal remunerados e do subdesenvolvimento em decorrência dos efeitos do projeto neoliberal.

Durante o governo Lula, ocorreram mudanças nas relação do poder público com algumas dessas regiões. No Semiárido, foram apresentadas alternativas de convivência com o bioma, pensadas a partir das potencialidades da região, o que favoreceu o

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controle do êxodo da população no semiárido. A população passou a se fixar na região como resultado de mudanças objetivas, qualitativas e quantitativas.

Atualmente, vivemos em um novo cenário político e econômico, que altera a geopolítica internacional, em um processo de destruição de soberanias nacionais. A longa crise do capitalismo, que se iniciou em 2008, tem incidido sobre os países periféricos na forma de intensificação da exploração dos recursos naturais e mão de obra desses países.

Após um período de governos populares “neodesenvolvimentistas” no continente latino-americano, essas forças sofreram derrotas, seja a partir das eleições ou de golpes, como foi o caso do Brasil, Paraguai, Honduras e Bolívia. Há, portanto, uma regressão nas democracias e no Estado de Direito em toda a América Latina.

Diante desse cenário, algumas reformas passaram a ser impulsionadas no país, a partir da visão de que o Estado brasileiro reconhece excessivamente direitos e que isso é um entrave para o desenvolvimento do capital. Assim, avança um modelo neoliberal conservador, no qual o capitalismo diminui os gastos com políticas públicas sociais para superar sua própria crise.

Como resultado, há hoje quase 13 milhões de desempregados, dos quais 3,3 milhões procuram trabalho há pelo menos 2 anos. Ao mesmo tempo, 38,6 milhões de trabalhadores atuam na informalidade. Atualmente temos 54,8 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, ou seja, 1/4 da população nacional. Além disso, dados do Cadastro Único do Ministério da Cidadania mostram que a pobreza extrema no país aumentou no último ano e já atinge 13,2 milhões de pessoas, com os piores cenários no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, de modo que a crise capitalista produz impactos diferentes em cada região do Brasil.

As saídas para o desenvolvimento regional passam por reconhecer o papel da intervenção do Estado na erradicação dos problemas e desigualdades regionais. Isso exige que as empresas públicas estejam fortalecidas. Na contramão do que defende o modelo de desenvolvimento liberal a respeito da suposta ineficiência das estatais, é importante notar que elas estão entre as maiores empresas do mundo.

Em 2013, as estatais no Brasil, correspondiam a 10,2% de todo o investimento entre público e privado no país. Em 2018, esse percentual caiu para 7,8%, com queda significativa dos bancos públicos. Esse dado preocupa porque essas instituições financeiras cumprem papel fundamental para o desenvolvimento regional em suas relações com políticas públicas, a exemplo da Caixa Econômica, conhecida principalmente por conta da questão da habitação, e o Banco do Nordeste, com a questão fundamental no investimento regional e microcrédito.

Ainda inserido nesse processo de desmonte do Estado, também preocupam questões como a ofensiva do capital em direção aos bens da natureza (água, energia e petróleo), que levanta a possibilidade de privatização das empresas públicas de captação, tratamento e distribuição de água. Também o desmonte da assistência social, da saúde,

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da educação e da seguridade social trazem consequências diretas para regiões formadas por municípios majoritariamente dependentes, por exemplo, da aposentadoria ou dos programas de transferência de renda.

Todos esses processos são fundamentais e precisam ser levados em conta para a definição e elaboração de políticas e estratégias regionais, com métodos bem definidos para a atuação do Estado e que objetivem o desenvolvimento econômico e social de determinada região.

PROPOSTAS Estado como indutor e protetor do desenvolvimento. - Para dinamizar a economia são necessárias políticas públicas de direito universal, que possibilitam melhores condições de vida para as famílias das regiões e de caráter emancipatório que auxiliam o povo no processo de formação de consciência quanto às realidades regionais e nacional. Combater o déficit habitacional, priorizando regiões mais pobres -Elaborar um programa habitacional que enfrente problemas intrínsecos a determinados territórios – como a questão da especulação imobiliária –, e que promova o empoderamento e a coletivização, por meio da participação popular. Esse programa precisa, também, superar questões burocráticas, para que essas políticas avancem, por exemplo, no âmbito rural. Garantir a Soberania Nacional, para que o capital exterior não defina os rumos do Brasil. - Os centros de decisões para o desenvolvimento precisam ser internalizados nas regiões e no país. - Fortalecimento dos bancos públicos, que são agentes das políticas públicas através da operação de programas sociais e de crédito, além de serem responsáveis por diminuir as desigualdades regionais e inter-regionais e atenderem a demandas populares. - Fortalecimento das empresas públicas e defesa da Petrobras. - Participação popular, transparência dos estudos e controle social. Investir na convivência com o Semiárido, para que se tenha alimento, trabalho e sustentabilidade. - Essa convivência deve se pautar pela reforma agrária e a agroecologia como eixos fundamentais. Esse é um desafio de desenvolvimento regional traçado diretamente ao Nordeste, porque 80% do Semiárido se encontra em território nordestino. Fortalecer a agricultura familiar - Muitos estados brasileiros possuem forte presença da agricultura familiar e investimentos nessa área podem estruturar regiões, como o Nordeste.

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- As compras governamentais devem ser feitas via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), com alimentos oriundos da agricultura familiar. - Atuar para que os jovens camponeses conquistem autonomia, dando respostas para questões locais, de modo a evitar a migração para os centros urbanos. Valorização do salário mínimo e combate à pobreza a partir de programas de transferência de renda. Incentivo ao turismo sustentável - O turismo no Nordeste, por exemplo, avançou nos últimos anos, sobretudo em estados menos expressivos economicamente. Tendo em vista este potencial da região, o turismo precisa ser pensado para impulsionar o desenvolvimento regional de maneira sustentável econômica e ambientalmente. Educação - Identificar áreas emergenciais onde há maior deficiência educacional e criar missões e projetos, como de educação de jovens e adultos e erradicação do analfabetismo, além de priorizar a resolução de problemas básicos referentes à educação. Relações interregionais e internacionais - No contexto político atual, de avanço neoliberal, na contramão do Brasil, estados nordestinos elegeram projetos políticos progressistas. É fundamental que esses governadores atuem enquanto frente favorável ao desenvolvimento regional e contra o desmonte do Estado brasileiro. - A China emerge como nova potência mundial, capaz de interromper a hegemonia norte-americana. Lá, há uma tentativa de construção de um projeto popular para o povo chinês. É preciso estar atento aos métodos utilizados pelos chineses, de forma que a relação com a China se torna estratégica.

BANDEIRAS Reforma urbana e habitação popular.

Reforma Agrária, agricultura familiar e agroecologia.

O Petróleo é nosso.

Privatizar faz mal ao Brasil.

Valorização e convivência com o semiárido.

Combate à miséria e à pobreza.

Educação pública, gratuita e de qualidade.

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ECONOMIA

INTRODUÇÃO Elaboramos um plano de desenvolvimento econômico e social que pense o setor produtivo de uma nova forma. O país terá um enorme potencial de crescimento e desenvolvimento econômico e produtivo quando enfrentar dois de seus principais problemas: a concentração de renda e a ausência ou má qualidade dos serviços e equipamentos públicos. De acordo com nossa perspectiva, políticas públicas que tenham como objetivo atuar sobre esses problemas podem se configurar como importantes motores do desenvolvimento econômico. Isso porque a distribuição de renda e o investimento social são extremamente funcionais ao crescimento econômico e à diversificação produtiva e tecnológica. Para isso, foi criado um programa baseado em “missões”, que dão protagonismo ao setor público e à construção de políticas a partir de problemas concretos e de longa data da sociedade brasileira.

DIAGNÓSTICO Uma das principais caraterísticas da sociedade brasileira é a desigualdade, que se manifesta principalmente na concentração da renda. Por essa razão, a formulação de um projeto de país deverá necessariamente criar ações específicas com o objetivo de promover a igualdade, rompendo com a histórica exclusão da população em relação a benefícios materiais e culturais do desenvolvimento técnico e econômico. Outro problema de longa data é a insuficiência da oferta de bens e serviços públicos básicos como moradia, transportes, saúde e educação. Nesse contexto, um plano social de desenvolvimento no Brasil deve ter como objetivo o crescimento econômico com simultânea distribuição da riqueza e ampliação da oferta, por parte do poder público, de bens e serviços sociais básicos. Deve-se ter em vista a adequação da estrutura produtiva às necessidades econômicas desse projeto. Para isso, esse programa deverá se concentrar em dois principais motores do progresso econômico: a distribuição de renda e o investimento social. Esse projeto se opõe frontalmente ao projeto neoliberal vigente no país, que prega que o sistema, livre de interferências do Estado, levaria a uma alocação natural e eficiente dos recursos. No entanto, não é isso o que prova a realidade. Uma vez definido o caráter do desenvolvimento, faz-se necessário pensar um modelo econômico que dê conta da lógica de crescimento da economia brasileira a longo prazo.

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Utilizamos a ideia de frentes de expansão, identificando três delas: um amplo mercado interno; uma forte demanda interna e externa por nossos recursos naturais; e perspectivas favoráveis quanto à necessidade estatal e privada por investimentos em infraestrutura (econômica e social). Nesse planejamento, cabe ao Estado atuar sobre os motores de crescimento para garantir o desenvolvimento econômico. Dessa forma, a consolidação de um forte mercado interno de consumo por meio da distribuição de renda deve ser acompanhada por uma discussão em torno da qualidade do consumo, tanto de bens privados quanto de bens públicos. O que pôde ser observado no ciclo distributivo recente brasileiro foi que, apesar do incentivo e aumento do consumo privado, persiste a precariedade do acesso de uma parcela significativa da população aos bens e serviços sociais básicos, o que nos remete ao segundo motor do desenvolvimento. Se por um lado setores mais pobres da população ampliaram seu acesso ao consumo, por outro, o alto custo da habitação, o aumento das tarifas de transporte público, a insuficiência do SUS e o baixo desempenho das escolas públicas têm feito com que esses serviços - que deveriam ser oferecidos pelo Estado -, impactem o custo de vida das famílias que atingem o patamar intermediário de renda e passam a pagar por esses serviços se quiserem obter (uma suposta) melhor qualidade prometida pela iniciativa privada. Essa reflexão se torna ainda mais necessária neste período atual, que presenciou não somente o desmonte de mecanismos importantes para a execução da política industrial, por meio da redução das ações do BNDES, como também pela criminalização da política industrial frente à opinião pública. Além disso, o cenário internacional tornou propício para que se reformule a política industrial, principalmente após a crise de 2008, quando se presenciou uma redução no ritmo de crescimento do comércio mundial, acompanhada pelo ressurgimento de políticas industriais protecionistas de grande porte nas economias mais desenvolvidas e particularmente nos demais países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Essas transformações apontam para um cenário em que as estratégias de desenvolvimento produtivo nacionais irão adquirir cada vez mais importância. Torna-se necessário, portanto, rediscutir o tema e pensar novas formas de conduzir políticas para o setor industrial, com uma nova forma de orientação das políticas voltadas para o setor produtivo, adaptada a partir da ideia de “política orientada por missões”, já explicada aqui. Essas missões se organizarão em torno dos eixos do “investimento social” (mobilidade urbana, saneamento básico, tecnologia verde, habitação popular, saúde, educação e

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desenvolvimento regional) e tem como objetivo articular as necessidades da população à melhoria do setor produtivo por intermédio de políticas públicas. Portanto, não se trata de reinventar a política industrial e outras políticas para o setor produtivo, mas utilizar a imensa carência de infraestrutura social para garantir maior apoio político, ampliação da escala produtiva de parte da indústria nacional e o aumento do encadeamento de importantes setores industriais no Brasil. O estabelecimento de metas concretas que aumentem diretamente o bem-estar social possibilitaria um ganho de comunicação com a população e um maior envolvimento da sociedade civil, o que facilitaria a organização de espaços de discussão vinculados a cada problema e o controle dos recursos, resultando na melhoria da eficiência dos gastos públicos. O foco em problemas historicamente conhecidos da sociedade brasileira também permite utilizar as estruturas institucionais já existentes, como Embrapa, Embrapi, Fiocruz, e o sistema de universidades públicas que, em geral, já são polos regionais importantes para a execução de políticas tecnológicas e de inovação de forma que beneficie maior parte da população. Tal desenho de política de desenvolvimento produtivo ainda pode buscar a integração de um conjunto fragmentado de políticas de desenvolvimento regional em um plano industrial e tecnológico articulado em nível federal. Por fim, essa estratégia procura superar problemas típicos da política industrial no Brasil, como a sua descontinuidade, a falta de apoio político, a dificuldade de se impor barreiras de seletividade e de se cobrar contrapartidas do setor privado.

PROPOSTAS Valorização do salário mínimo e resgate e ampliação dos programas de combate à pobreza extrema para a melhora relativa na renda dos mais pobres - As políticas de valorização do salário mínimo, transferências sociais e levam à ampliação do mercado interno o que proporciona ganhos de escala das empresas domésticas e aumentos de produtividade. Reforma tributária progressiva - Uma reforma que tenha como resultado a amplificação dos efeitos redistributivos e redução da desigualdade social também é importante para fortalecer o mercado interno.

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Articulação entre demandas sociais, políticas públicas e diversificação produtiva - A demanda por transporte, saneamento básico, habitação popular, saúde, educação e desenvolvimento regional possuem potencial para fomentar a cadeia produtiva em torno desses setores, como construção civil, bens de capital, química fina, tecnologia da informação etc. Fomento de pesquisas acadêmicas e científicas aplicadas às demandas sociais Ampliação da oferta de serviços públicos universais que atendam com qualidade a maioria das classes sociais. Diversificação do setor produtivo por meio das demandas sociais específicas

BANDEIRAS

Reforma tributária progressiva

Valorização do salário mínimo

Combate à miséria e pobreza

Dinheiro do povo para resolver problemas do povo

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ENERGIA E PETRÓLEO INTRODUÇÃO O Brasil possui uma das melhores condições energéticas mundiais. Para utilizar esse potencial de maneira sustentável, atendendo às necessidades da população e garantindo a plena soberania energética nacional, é necessário realizar mudanças profundas na política para o setor.

As privatizações que atingiram o setor energético desde a década de 1990 e a transformação da energia em uma mercadoria cujo preço é definido pelo mercado internacional, teve um impacto decisivo sobre o custo de vida e acesso à energia no país. A estrutura institucional criada para organizar e regulamentar o setor elétrico privatizado não responde às necessidades nacionais e populares e concorre para reduzir a segurança energética do país. Quanto à Petrobrás, existe em andamento um processo de fracionamento e privatização que também vai na contramão de um projeto soberano de país.

Para fazer frente a esse cenário, propomos a retomada do controle estatal sobre a energia e transformações profundas nas estruturas e instâncias institucionais no Estado Brasileiro para ampliação da democracia, participação e controle popular nas decisões da política energética nacional.

DIAGNÓSTICO O Brasil possui um território com extraordinárias reservas de hidrocarbonetos e um enorme potencial de geração de energia elétrica em matrizes diversas, duas áreas determinantes para a produção de riqueza.

O processo de privatização da energia, iniciado nos anos 1990, transferiu para as transnacionais o controle de empresas estratégicas. Os resultados foram: redução da soberania da indústria de eletricidade e de petróleo; entrega de importantes reservas estratégicas de energia; aumento do ônus social e econômico sobre os trabalhadores do setor, consumidores e populações atingidas pelas obras de empreendimentos de energia; implantação de um sistema institucional estatal suscetíveis às pressões de interesses privados (como as agências reguladoras). Mesmo as empresas públicas de economia mista passaram a assumir uma gestão empresarial voltada a atender prioritariamente a seus acionistas privados. O setor elétrico, em especial, foi fracionado e transformado em diversos segmentos de negócios altamente lucrativos.

O custo para produzir energia elétrica no Brasil é um dos mais baixos do mundo, uma vez que a principal fonte para geração é a água (hidroeletricidade), porém chega ao consumidor por um dos preços mais altos. Antes da privatização, a tarifa era cobrada

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pelo preço de custo, acrescido de um lucro médio. Quando o capital internacional passou a controlar a energia elétrica, ela se transformou em uma commodity com preço internacional, e o preço ficou semelhante ao de países onde a energia é gerada por dispendiosas usinas térmicas (carvão, petróleo, gás e energia nuclear). Assim, as empresas passaram a ter lucros extraordinários, mantidos com direito a quatro tipos de aumentos: reajuste anual, revisão periódica, revisão extraordinária e o sistema de bandeiras tarifárias (vermelha, amarela e verde). Os consumidores cativos – residências, pequenas indústrias e pontos comerciais – pagam as tarifas mais altas, acrescidas de impostos e taxas, enquanto os consumidores livres – grandes empresas – recebem energia a preço de custo.

Em 2012, o governo de Dilma Rousseff tentou aumentar o controle e reduzir as tarifas no período da renovação das concessões do setor elétrico nacional, mas sofreu grande pressão do mercado. Em 2018, o governo Temer privatizou diversas distribuidoras da Eletrobrás, passos que Jair Bolsonaro deve seguir. Além das distribuidoras, usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e subestações também estão a caminho da desnacionalização. Há planos de privatizar até mesmo a Itaipu Binacional, que terá sua concessão finalizada em 2023.

A reestruturação causada pelo novo sistema deve agravar tanto a taxa de exploração sobre os trabalhadores, como as precarizações das relações trabalhistas. Em relação aos atingidos, não existe uma política nacional de reparação. Há apenas uma única lei (decreto 3.365/1941), que estabelece indenização em dinheiro a proprietário de terras com escritura. Petróleo

A centralidade estratégica desse produto na economia mundial faz dele alvo de disputas mundiais, com grande peso na geopolítica. Sua indústria é de longa maturação e intensiva em capital, o que faz essa atividade ser desenvolvida por Estados nacionais, bancos ou grandes empresas.

No Brasil, a exploração do petróleo começou ainda no século XIX, em São Paulo. Na década de 1920, 96% do controle do petróleo estava nas mãos de multinacionais. Esse domínio passou a ser denunciado já na década de 1930, com alertas de ameaça à “segurança nacional” pelo caráter estratégico do recurso.

Na década de 1950 foi lançada a campanha “O petróleo é nosso”. O resultado foi o estabelecimento do monopólio nacional e a criação da Petrobrás, em 1953, que, apesar das forças contrárias, se fortaleceu e proporcionou um enorme salto de qualidade na pesquisa e exploração do petróleo no país, tornando-se um símbolo nacional.

Até 1997, o Brasil foi ampliando cada vez mais o conhecimento na área e a Petrobrás avançou sua atuação principalmente em direção ao mar, onde consolidou grande conhecimento tecnológico e descobriu as maiores bacias produtoras. No entanto, na década neoliberal foi instituída uma lei permitindo que, através de concessões,

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empresas internacionais pudessem explorar no Brasil. Nessa época, 49% das ações da Petrobras também foram vendidas para o capital privado estrangeiro e nacional.

A nova situação não contribuiu, como disseram seus defensores, para o aumento da eficiência na exploração. O Brasil só passou a ser autossuficiente em petróleo em 2006, após a retomada de investimento estatal, no governo Lula. Após 2003, a Petrobrás deixou de se concentrar apenas na Bacia de Campos (RJ) para pesquisar o litoral do ES e SP, onde descobriu-se o Pré-sal. Essa nova fronteira de exploração fez saltar a estimativa de duração das reservas nacionais de 19,4 para 178,4 anos, no mesmo ritmo de produção. O Brasil passava a ser um dos primeiros países em reserva de petróleo no mundo, podendo tornar-se um grande exportador.

Entre 2010 e 2015, o crescimento da produção anual de petróleo foi de 18,6%, com uma participação cada vez maior do Pré-sal. Em 2015, o petróleo dele extraído já correspondia a 31,5% da produção total no país.

As novas perspectivas a partir do Pré-sal, em 2006, motivaram a criação de uma nova estatal - a PPSA-, para gerenciar os contratos do Pré-sal, sob a concepção da Lei da Partilha, que estabelece a Petrobrás como operadora única dessas áreas, com um mínimo de 30% de participação. Posteriormente, o governo federal decidiu que os royalties e as participações especiais dos contratos de comercialização declarados a partir de 3 de dezembro de 2012 seriam utilizados para investimento na educação (75%) e saúde (25%). Outra importante modificação foi o estabelecimento de normas para que a Petrobrás priorizasse a produção e a compra dos equipamentos para indústria do petróleo no próprio país. Isso alavancou o número de empregos em diversas regiões do país, gerando renda e desenvolvendo a indústria nacional.

Esses mecanismos legais passaram a ser atacados logo após a destituição de Dilma Rousseff, em 2016. O mesmo vem ocorrendo com o Fundo Social, criado em 2010 para poupar e investir recursos do Pré-sal na educação, saúde, tecnologia e combate à miséria. Segundo decisão da atual equipe econômica, ele poderá ser direcionado para mitigar o sufoco fiscal de estados e municípios a partir de 2020.

A Petrobrás está em processo de fracionamento e privatização, deixando de ser uma empresa integrada e sob ameaça de tornar-se uma empresa de produção e exportação de petróleo cru. O Pré-sal está sendo transferido ao controle das petroleiras estrangeiras estatais e privadas. A política de conteúdo local foi desmontada e está sob ataque da direção atual da Petrobrás.

PROPOSTAS Ampliar a democracia, a participação e o controle popular nas decisões sobre a política energética nacional - Ampliar a participação dos trabalhadores no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), empresas estatais, agências reguladoras

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etc. Promover a participação popular nas questões de política energética por meio de referendos, conferências, audiências públicas e seminários. Superar o modelo energético de mercado - As instituições e leis que organizam e regulam as cadeias industriais energéticas devem atender ao interesse público. Pelo fim do ambiente de contratação livre no setor elétrico, especialmente o PLD (preço de liquidação das diferenças), e ampliar o controle do Estado sobre os preços da energia, levando em consideração o custo real de produção do sistema elétrico e cada fonte. Ampliar o controle da Petrobrás sobre o preço dos combustíveis e gás de cozinha - A atual política de reajustes dos derivados de petróleo, com a paridade internacional dos preços e reajustes diários, deve ser abandonada. É preciso aumentar a produção interna de derivados, aumentando as cargas nas refinarias, reduzindo as importações. Estabelecer um Plano Quadrienal de Desenvolvimento Energético coordenado por um comitê interministerial com participação social e da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST) - Os objetivos no médio e longo prazo são garantir a segurança e autossuficiência energética com a progressiva diversificação da sua matriz; associar o desenvolvimento da exploração e produção de petróleo e gás natural com outras fontes de energia; apoiar o desenvolvimento de novas cadeias produtivas e instituições de inovação; assegurar que a exploração e produção de petróleo e gás natural estejam condicionadas às metas expostas nos Planos Quadrienais e à capacidade da indústria nacional para o fornecimento de bens e serviços por fixação de conteúdo local. Fortalecer as empresas estatais com caráter público - Por uma participação maior do Estado no setor como instrumento para o desenvolvimento da indústria de petróleo e eletricidade, com adequada transparência e prestação de contas à população. Essas empresas devem atuar como indutoras do desenvolvimento, combate às desigualdades, valorização do trabalho e ampliação do conhecimento tecnológico acumulado. Garantir que a pesquisa e conhecimento permaneçam sob controle público. Desenvolver a industrialização de toda cadeia energética em território nacional - Retomar uma política nacional de industrialização, com desenvolvimento da indústria naval para produção de embarcações, sondas, plataformas, máquinas e equipamentos. Estender as medidas ao setor elétrico. Buscar a plena soberania tecnológica, via Petrobras, estatais e centros de pesquisas das universidades públicas, com investimentos públicos.

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Defender e consolidar o modelo de partilha - A partilha deve ser o principal modelo de produção na exploração de petróleo, tendo a Petrobrás como operadora única no Pré-sal, visando futuramente ao monopólio estatal e que os excedentes das atividades tenham destinação social. Melhorar as condições de trabalho e valorização dos trabalhadores do setor energético. Garantir os direitos das populações atingidas. - É preciso garantir a igualdade de direitos para os trabalhadores que se encontrarem terceirizados e combater a precarização das condições de trabalho, adotando uma política adequada de saúde e segurança. Instituir a Política Nacional de Direitos dos Atingidos por Barragens (PNAB), garantindo sua aplicação integral. Respeito ao meio ambiente e minimização dos impactos sociais e ambientais - Realização de todas as ações prévias aos investimentos para evitar, prevenir e minimizar ao máximo os impactos sociais e ambientais dos empreendimentos. Estímulo à participação da população local no planejamento, execução e fiscalização das obras. Assegurar a sustentabilidade energética e ambiental - Ampliar investimentos em pesquisa de fontes de energia mais limpa e em medidas de economia, uso racional e redução gradativa do uso das fontes mais poluidoras. Desenvolver campanhas de incentivo à economia de energia, oferecendo à população benefícios como a redução de tarifas, programas de aquecimento solar de água, capacitação etc. BANDEIRAS O petróleo é nosso! E a Petrobras também.

Privatizar a Petrobrás: um retrocesso para o Brasil

O preço da luz é um roubo

Luz para todos

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FINANCEIRIZAÇÃO

INTRODUÇÃO Na configuração atual do capitalismo, o setor financeiro (bancos, corretoras, fundo de pensões etc) ganhou ainda mais poder econômico e, portanto, poder político. Eles exercem uma extraordinária pressão política, econômica e institucional, de tal modo que, em lugar de financiar a economia e dinamizar o investimento produtivo, geram custos de intermediação para todos. Buscamos analisar seus mecanismos de extração do excedente de riqueza produzido pela sociedade e os fatores que determinam a deformação do sistema de intermediação financeira, que afeta o consumo das famílias, a atividade produtiva e o investimento governamental. Acreditamos na necessidade de adoção de medidas eficazes para estancar o dreno dos recursos e permitir a recuperação da capacidade de financiamento do Estado e o dinamismo da economia, de modo a promover o desenvolvimento, com a redução do desemprego e das desigualdades econômicas e sociais.

DIAGNÓSTICO No atual capitalismo globalizado há um predomínio do setor financeiro sobre o setor produtivo. Esse processo de financeirização, que vem ocorrendo há décadas, tem gerado como consequências a ampliação da desigualdade e o surgimento de constantes crises econômicas, em um cenário em que os Estados nacionais já não possuem o mesmo poder de ação como articuladores de políticas estratégicas. Segundo dados de 2018 da Oxfam Internacional, 42 pessoas no mundo detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade (3,7 bilhões de pessoas). No Brasil, os cinco maiores bilionários possuem o mesmo patrimônio que a metade mais pobre. Os bancos, que atuam como intermediários financeiros, adquiriram enorme poder econômico e político, e ao invés de servirem aos interesses da coletividade, financiando a economia e incentivando o investimento produtivo, passaram a “travar” os fluxos financeiros gerando custos de intermediação para todos. Para compreender como isso ocorre, é preciso entender que há quatro motores que impulsionam nossa economia: exportações, demanda das famílias, iniciativas empresariais e políticas públicas. No Brasil, a partir de 2014, esses quatro motores estancaram e o sistema financeiro desempenhou um papel essencial nessa paralisia. A economia brasileira é muito ligada ao seu mercado interno. Isso quer dizer que o seu principal impulsionador é o consumo das famílias. Nesse sentido, se a dinâmica interna

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vai mal, o setor externo pouco poderá resolver. A monocultura de exportação e a mineração em grande escala geram poucos empregos e, portanto, têm um efeito limitado de dinamização da economia. Quando as famílias não gastam muito, as empresas não têm interesse em produzir. De modo contrário, quando essa demanda é forte, empresários investem, aquecendo a economia. Os dois governos de Lula e o primeiro de Dilma elevaram fortemente o consumo popular por meio de um conjunto de programas e políticas econômicas e sociais. A partir de 2013, no entanto, os bancos e outros intermediários financeiros passaram a drenar o aumento da capacidade de compra dos mais pobres por meio das taxas de juros para pessoas físicas. Crediários, cartões de crédito, cheques especiais, empréstimos, todas essas modalidades de créditos possuem taxas enormes para o bolso do consumidor brasileiro, o que acaba fazendo com que os indivíduos se endividem muito, comprem pouco, e assim se inibe o processo de crescimento econômico. O resultado disso é visto imediatamente nas empresas, que passam a acumular estoques de produtos não vendidos, reduzindo seu ritmo de produção e gerando desemprego e redução dos investimentos. Além disso, os juros praticados para as pessoas jurídicas são tão escandalosos quanto aqueles para as pessoas físicas, tornando o crédito igualmente caro para o setor. Além da baixa demanda e do crédito caro, um terceiro fator desestimula o produtor: ele tem a alternativa de investir seu dinheiro em aplicações financeiras, como o Tesouro Direto, e ver o seu dinheiro render sem precisar enfrentar os esforços e riscos das atividades produtivas, passando assim a integrar a classe dos rentistas, aqueles que ganham sem produzir. No campo dos investimentos públicos, a história que é contada para a população é a de que o governo precisa se comportar como uma “boa dona de casa”, que só gasta o que tem. O problema é que o governo não gastava mais do que tinha com políticas públicas, mas com juros. O governo Temer passou a reduzir o gasto em políticas públicas, mas não diminui a transferência de dinheiro para os bancos. Essa ideia de que é preciso cortar gastos esconde o real motivo pelo qual o Brasil encontra-se em déficit: a queda na arrecadação. Com a crise econômica, houve uma diminuição do PIB e, consequentemente, um declínio do recolhimento de impostos. Portanto, é necessária a retomada do crescimento econômico como estratégia para o equilíbrio fiscal. Para que ocorra esse crescimento, os investimentos públicos são essenciais; eles se estruturam em dois grandes eixos: infraestrutura (transportes, energia, telecomunicações, saneamento e água etc.) e políticas sociais (saúde, educação, cultura, lazer, esportes, habitação, segurança, entre outros). Entretanto, ao se desviar uma

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grande parte dos recursos públicos para remunerar intermediários financeiros e rentistas, travou-se também esses importantes propulsores da economia. Se pelo lado da despesa ocorre toda essa “sangria” realizada pelos intermediários financeiros em relação aos recursos públicos, pelo lado da receita a evasão para paraísos fiscais e a sonegação são graves problemas. Estima-se que cerca de 2% do PIB sejam enviados para fora do Brasil anualmente dessa forma, enquanto algo entre 9% a 13% do PIB seriam sonegados no país. Acrescente-se a tudo isso o fato de que a própria estrutura tributária brasileira é profundamente deformada e regressiva, o que significa que quanto menos se ganha, mais imposto se paga. Isso ocorre porque ela é centrada em impostos indiretos sobre o consumo e mão de obra, com muita fragilidade de tributação sobre o lucro e patrimônio. A alíquota máxima do Imposto de Renda no Brasil, por exemplo, é uma das menores do mundo (27,5%), menor do que a da Colômbia (33%), Venezuela (34%), Argentina (35%), EUA (39,6%) e de regiões como a África (29,3%). Enquanto trabalhadores assalariados têm o seu imposto retido na fonte, inexiste imposto sobre grandes fortunas e é muito limitada a tributação sobre as heranças, cuja alíquota aqui é de apenas 3,9%, sendo de 13% no Chile, 29% nos EUA e 40% na Inglaterra. Outra característica do nosso sistema tributário é a ausência de imposto sobre lucros e dividendos, fruto da Lei 9.064/1995. Considerando o estoque de recursos em paraísos fiscais, a baixa alíquota do IR, a isenção de imposto sobre lucros e dividendos, a inexistência do imposto sobre grandes fortunas e o fato dos impostos indiretos representarem a maior fatia da arrecadação tributária, tem-se uma situação que clama por mudanças. Assim, chega-se à conclusão de que é preciso resgatar a produtividade da intermediação financeira e remodelar a estrutura tributária brasileira. Estas seriam condições indispensáveis para a recuperação da capacidade de financiamento do Estado, do dinamismo da economia brasileira e para a retomada do crescimento econômico e a consequente redução do desemprego e das desigualdades econômicas e sociais.

PROPOSTAS Realizar uma ampla e profunda reforma financeira - O propósito dessa reforma é reorientar o sistema financeiro nacional do rentismo improdutivo para as atividades econômicas que geram benefícios para toda a sociedade. Para isso, deverão ocorrer:

O estabelecimento de limites para as taxas de juros com o objetivo de estimular investimentos produtivos em detrimento de aplicações financeiras.

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A redução da taxa Selic (taxa básica de juros) e com isso a diminuição do vazamento de recursos públicos para intermediários financeiros e rentistas improdutivos.

A ampliação da base monetária (volume de dinheiro em circulação somado às reservas bancárias) com emissão de moeda ao invés de títulos da dívida para ampliar o poder competitivo das empresas.

A criação de um instrumento de avaliação, fiscalização e regulação do sistema financeiro do país.

A instituição de um banco nacional e de um sistema público de financiamento descentralizado, permitindo uma gestão local flexível e eficiente com baixas taxas de juros.

A constituição e multiplicação de caixas de poupança e bancos cooperativos de propriedade e controle locais, que darão suporte à atividade econômica principalmente de pequenas e médias empresas, como os bancos comunitários de desenvolvimento e de microcrédito produtivo e solidário já existentes no Brasil (Banco Palmas no Ceará; Banco do Povo em Santo André).

Realizar uma ampla e profunda reforma fiscal - A reforma fiscal é de extrema relevância para a recuperação da capacidade de financiamento do Estado e para a promoção da justiça social. Ela contempla:

Tributação sobre grandes heranças. Criação de impostos sobre grandes fortunas. O fim da isenção de impostos sobre lucros e dividendos. O combate à evasão e à sonegação fiscais. Sistema tributário progressivo, onde os impostos incidam mais sobre o

patrimônio e o lucro e menos sobre o trabalho e o consumo, com um aumento da alíquota máxima do Imposto de Renda.

A taxação das transações especulativas, que deverá gerar fundos para financiar uma série de políticas essenciais para o reequilíbrio social e ambiental.

O resgate e ampliação dos programas de distribuição de renda e inclusão produtiva.

Favorecer a mudança de comportamento individual - O objetivo dessa proposta é criar condições para que esse profundo processo de transformações seja combinado com o devido compromisso socioambiental. Para isso, é necessária uma política pública de mudança de valores e atitudes que incentive o respeito às normas ambientais, a moderação do consumo, o uso inteligente dos meios de transporte, a generalização da reciclagem e a redução do desperdício.

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BANDEIRAS Redução das taxas de juros.

Fiscalização e controle do sistema financeiro brasileiro.

Defesa e desenvolvimento de bancos comunitários de microcrédito.

Pela taxação de grandes fortunas, heranças e lucros e dividendos.

Combate à sonegação e evasão fiscais.

Sistema tributário progressivo: os mais ricos devem pagar mais.

Tributação de transações especulativas.

Resgate e ampliação dos programas de distribuição de renda e inclusão social.

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MINERAÇÃO

INTRODUÇÃO A partir a compreensão de como as riquezas minerais foram e são exploradas no Brasil, e as consequências e impactos do atual modelo nas áreas econômica, política, social e ambiental, buscamos identificar os principais problemas encontrados e desenvolver propostas que alicercem um novo modelo pautado pela soberania popular sobre os recursos naturais de nosso solo e a forma como são explorados economicamente. Para tal, torna-se essencial pensar um modelo de governança que garanta a participação popular em instâncias e nos processos de tomada de decisão relacionados à mineração. A atividade mineradora, em qualquer modelo, não está livre de gerar impactos indesejados. Buscamos, entretanto, destacar a necessidade de conter, atenuar e evitar as situações de risco geradas pela atividade, que tendem a atingir os trabalhadores e comunidades localizadas em territórios ocupados por grupos politicamente minoritários e economicamente vulneráveis: população ribeirinha, pequenos agricultores, quilombolas e indígenas.

DIAGNÓSTICO Tragédias recentes como as de Mariana e Brumadinho – ambas em minas exploradas pela Vale –, os avanços das mineradoras sobre as terras indígenas e unidades de conservação e a intensificação da precarização das relações trabalhistas deixam claro quais setores sociais têm arcado com o peso do incremento do extrativismo mineral. De 2001 a 2011, em termos de volume produzido, houve aumento de 550% na produção. Em 2003, os minerais representavam 5% de todos produtos exportados pelo Brasil; em 2011, o número saltou para 14,5%. As exportações acompanharam o ritmo e foram de 11 bilhões de dólares em 2003 para 49 bilhões em 2011. Esse boom do setor ocorreu devido ao aumento da demanda mundial – principalmente da China – e a consequente valorização dos preços. Desde 2012, entretanto, observa-se uma retração. A tonelada métrica seca de minério de ferro que custava 187 dólares em fevereiro de 2011 foi para 40 dólares em dezembro de 2015. As mineradoras, para compensar a queda no excedente econômico e manter seus lucros buscam aumentar ainda mais a exploração dos trabalhadores e o ataque às comunidades locais e ao meio ambiente. Os impactos destrutivos da mineração se traduzem, nas esferas política e jurídica, na criação e manutenção de uma legislação que favorece os interesses do setor. Atualmente, a atividade é regida pelo Decreto Lei n° 227/1967. A regulação é

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tendenciosa e sua fiscalização e monitoramento são insuficientes. O atual sistema federal do Departamento Nacional de Mineração (DNPM) se encontra sucateado, assim como outros órgãos estatais. As iniciativas legislativas, tais como a proposta de novo Código Mineral, atendem aos interesses de empresas mineradoras que financiam parlamentares de diversos níveis representativos. O caminho encontra-se, assim, livre para que empresas utilizem tecnologias menos eficientes, menos custosas, mas que envolvem maior probabilidade de falhas e maiores volumes de rejeitos. Na questão laboral, embora as empresas anunciem um grande potencial de criação de postos de trabalho, a mineração de larga escala tem os processos de extração, beneficiamento e transporte fortemente mecanizados e automatizados, sem que seja necessário um emprego massivo de mão de obra. Há ainda o uso comum e corrente de terceirizadas que se aproveitam da abundante mão de obra local e de contingentes populacionais que migram para as regiões mineradoras em busca de trabalho. Segundo dados oficiais de 2015 o setor contava com 824.500 trabalhadores formais. Cerca de mais 1 milhão atua no setor na condição de informais e ilegais. Há diversos outros impactos e danos da atividade mineradora, dentro os quais podemos citar: relação de dependência e subordinação aos mercados globais, acentuando nossa vulnerabilidade econômica; aumento da concentração de renda e da propriedade fundiária; expulsão de populações tradicionais e consequente destruição de suas formas de produção e existência; riscos de rompimento de represas de rejeitos; poluição sonora e do ar; utilização intensiva de água, alterando a dinâmica hídrica superficial e subterrânea; diminuição da disponibilidade de água de qualidade.

PROPOSTAS

Criação de espaços de deliberação municipais/submunicipais de controle popular sobre a mineração - Defendemos a criação dos conselhos nacional, estaduais, regionais, municipais e submunicipais de mineração; devem ser os fóruns para as decisões relativas à atividade mineradora no país e devem incluir necessariamente as comunidades onde há extração mineral, incluindo as populações tradicionais e os sindicatos de trabalhadores do setor. Convocação da Conferência Nacional de Mineração, democrática e representativa de todos segmentos do setor - A proposta dessa instância é debater e aprovar uma Política Nacional de Mineração (PNM), transversal à ação de vários ministérios, a ser formulada conjuntamente com a as comunidades, sindicatos e cooperativas de garimpeiros. Também será tarefa

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dessa Conferência debater as atribuições do Conselho Nacional de Mineração. Áreas Livres de Mineração - Propomos a criação de meios de consulta direta às populações antes da instalação de grandes projetos mineradores, sobretudo os que interferem de forma decisiva na estrutura social local. A exemplo do que já ocorreu em alguns países, as populações devem ter o direito de dizer “não”. Inexiste na legislação brasileira mecanismos legais que levem especificamente à institucionalização das Áreas Livres de Mineração, mesmo que existam modalidades próximas, com as devidas restrições – hoje desrespeitadas – à atividade mineradora, tais como Terras Indígenas, Parques Nacionais, Reservas Extrativistas, Áreas de Fronteira etc. As Áreas Livres de Mineração comporiam uma nova categoria jurídica. Incentivos à diversificação econômica das regiões mineradas - Propomos a criação de fundos de diversificação econômica nos municípios minerados, um de gestão federal e outro de gestão de cada cidade. Os fundos devem apoiar atividades não diretamente ligadas à mineração ou sua cadeia produtiva. Essas atividades deverão ter caráter popular e local e serem intensivas na criação de postos de trabalho, tais como: agricultura familiar, agroecologia, turismo, micro e pequenas empresas, economia solidária, pesquisa e desenvolvimento, educação, ciência e tecnologia. Tais recursos também servirão para que os municípios possam se proteger das flutuações dos preços no mercado internacional. Os recursos terão origem no aumento da percentagem da Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM); Aumento da percentagem de Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM) - Também conhecida como royalties da mineração, é a arrecadação compensatória por exploração dos recursos minerais presentes no solo e subsolo e pertencentes à União. Desde 2017, após a Lei nº 13.540 a base do cálculo da CFEM passou a incidir sobre a receita bruta da venda, deduzidos os tributos que incidem sobre sua comercialização. A percentagem utilizada depende do mineral explorado, chegando no máximo a 3,5% na nova legislação. Em termos comparativos, internacionalmente, a CFEM no Brasil ainda é demasiadamente reduzida. Por isso, defendemos o seu incremento. Repasse para saúde e educação - Os municípios devem destinar necessariamente parte dos recursos arrecadados com a CFEM à saúde e à educação. Atualmente, essa contribuição não apresenta vinculação, ou seja, pode ser utilizada para os mais diversos tipos de despesas. Apoiamos o Projeto de Lei 254/2013 que prevê a destinação de 50% do arrecadado para educação e saúde, a serem acrescidos aos mínimos constitucionais já determinados para essas áreas.

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Criação de entidades que fiscalizem e monitorem os gastos dos recursos da CFEM - O processo de regulação dos recursos gerados pela contribuição deve contar com atuação de entidades fiscalizadoras nos níveis submunicipal, municipal e estadual que irão averiguar o destino dos recursos. Prever participação especial nas minas com grande lucro - Em casos de minas com vantagens comparativas extraordinárias no mercado internacional, como é o caso do Complexo de Carajás (Pará), da Vale, haverá um acréscimo na CFEM. Reestatização da Vale S.A. - A Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada em 1997 por meio do Plano Nacional de Desestatização (governo de Fernando Henrique Cardoso). Desde então a empresa intensificou sua financeirização. Atualmente, é uma transnacional com sede no Brasil e de lógica rentista. A reestatização facilitaria o condicionamento da atuação da empresa de acordo com o interesse público. Revogação da lei Kandir - A Lei Complementar nº 87, de setembro de 1996, isenta de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) os serviços e os bens primários, manufaturados e semimanufaturados destinados à exportação. Como o ICMS é um imposto de arrecadação fundamentalmente estadual, tal medida pesa sobre os estados, hoje em crise fiscal. Além disso, a lei não diferencia produtos industrializados de bens primários, o que, consequentemente, não incentiva a industrialização no país e reforça nosso papel de mero exportador de matérias primas. Criação de crédito e apoio técnico a Cooperativas de Mineração e Garimpo, no lugar do estímulo a multinacionais de mineração - O garimpo ilegal cria focos de conflitos sociais e impactos ambientais. Apoiamos o Plano Nacional de Extensionismo Mineral, discutido e aprovado por todos os interessados. Defendemos o estímulo a entidades associativistas de garimpeiros, sejam cooperativas ou outras formas de organização de pequenos produtores minerais. O pequeno produtor mineral formal deve pode contar com apoio e fomento técnico, crédito e financiamento para produção com sustentabilidade. Apoio ao aproveitamento de todos materiais rochosos extraídos das minas - Nas concessões de lavra deve estar explícito o compromisso do concessionário de desenvolver ações para maximizar o aproveitamento do material rochoso para obtenção dos bens minerais para o qual a concessão foi dada. Os concessionários devem criar meios que permitam o apoio de universidades e centros de pesquisa para esses estudos.

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Ampliação da capacidade de fiscalização e monitoramento do aparato estatal - Deve-se reforçar a capacidade de atuação da Agência Nacional de Mineração (ANM), com a abertura de concurso público para fortalecer a atuação do órgão, hoje sucateado. Os órgãos estaduais e municipais responsáveis pelo licenciamento, monitoramento e fiscalização devem também ser alvo de rigorosos esforços. Criação de ampla política pública acerca do monitoramento e fiscalização de barragens de rejeito de mineração, e de infraestruturas conexas - Empresas devem se adaptar tecnologicamente para reduzir o uso de água e para maximizar o aproveitamento dos materiais rochosos extraídos; tais medidas devem ser condições para obtenção de licenciamento ambiental. - O modelo de barragens de rejeitos à montante deve ser proibido no país. Estabelecer um tamanho máximo para as barragens e proibição de barragens em localidades que tenham população à jusante (a distância deve ser determinada de caso a caso). - Tornar obrigatório o processo de beneficiamento a seco para minas novas (no caso de minérios para os quais existe tecnologia disponível). - Acabar com o automonitoramento e proibir que as empresas contratem auditorias livremente. As mineradoras não devem ter o poder de escolher seus auditores. Propomos a criação de um sistema de sorteio através de uma lista de empresas/pessoas credenciadas junto à ANM que receberiam a tarefa de auditar as barragens de rejeitos. Condições de trabalho - Revogação da reforma trabalhista que aprova a terceirização de postos de trabalho compreendidos como atividade-fim. A terceirização eleva o risco de acidentes num setor bastante sensível a acidentes de trabalho, como o é a mineração. - Definir responsabilidades da Agência Nacional de Mineração nas condições de saúde e segurança, no acompanhamento do Plano de Gestão de Riscos, conforme previsto na NR 22. - Prever recursos da empresa para plano de descomissionamento e recuperação ambiental, aprovado pelos trabalhadores e comunidades afetadas. Para tanto, está incluso nessa proposta a previsão de recursos de diferentes fontes para a execução do plano de fechamento de mina e/ou para o caso de desastres: os fundos municipais e federal, acima citados; seguro; carta de crédito; garantia por terceiros etc. Difundir informação e educar a população sobre o tema da mineração - Para que se possa desenvolver um projeto soberano, é necessário que o povo se aproprie do tema. São necessárias iniciativas que, junto aos movimentos sociais e trabalhadores que atuam na mineração, produzam material didático de linguagem acessível sobre os aspectos básicos da mineração: seus processos, uso dos minérios, danos ambientais e riscos à população e trabalhadores. Uma atenção especial deve ser dirigida aos trabalhadores e comunidades onde a mineração está inserida, buscando esclarecer questões ligadas à saúde e segurança.

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Acesso à informação - Tornar disponível e de fácil acesso documentos da ANM relacionados à autorização, concessão e acompanhamento do funcionamento de todas as mineradoras. Também devem ser de fácil acesso informações básicas sobre o mercado de minerais (informações sobre as empresas mineradoras, oscilações de mercado, novos processos de mineração etc.).

BANDEIRAS

Reestatização da Vale do Rio Doce

Controle social e popular sobre a mineração

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REFORMA TRIBUTÁRIA

INTRODUÇÃO O sistema tributário de um país reflete a sua correlação de forças políticas e sociais, e a transferência da carga de impostos para os mais pobres e a classe média é um dos principais mecanismos para a concentração de renda, riqueza e poder.

Buscamos apontar as condições necessárias para alcançar uma tributação equitativa e justa. Defendemos a estruturação de um novo sistema tributário que atue como promotor da justiça social, estabelecendo a progressividade na tributação da renda, o que significa elevar os níveis de tributação sobre a propriedade e reequilibrar a distribuição da carga tributária entre as bases renda, consumo e patrimônio.

DIAGNÓSTICO No Brasil, embora a Constituição Federal preveja um sistema tributário progressivo, a ênfase em impostos sobre o consumo e a isenção sobre lucros e dividendos terminam por gerar uma estrutura regressiva, agravada pela resistência histórica das classes proprietárias à tributação de sua renda e riqueza. Dessa forma, em termos práticos, os principais desafios hoje são: a predominância dos impostos indiretos (impostos embutidos nos preços das mercadorias; são regressivos porque são o mesmo para pessoas de rendas diferentes); o esvaziamento da tributação das rendas do capital e a baixa tributação sobre a propriedade, herança e outras formas de riqueza; problemas específicos no setor extrativista mineral e na tributação em nível mundial.

A tributação é um instrumento de caráter político e ideológico que pode servir tanto à concentração de renda, riqueza e poder – quando a maior carga de impostos recai sobre os mais pobres e a classe média – quanto à redistribuição de renda, funcionando como suporte para a implementação de um Estado que busca efetivar os direitos humanos e sociais de sua população.

No entanto, uma concepção neoliberal amplamente difundida defende que a tributação é neutra e deve ser reduzida à sua função de arrecadação de recursos, sem orientar investimentos e nem criar obstáculos ao livre comércio e ao fluxo de capitais. No Brasil, desde os anos 1990, a pauta da tributação segue predominantemente esses preceitos.

Essa concepção defende a ideia que os gastos governamentais devem priorizar os compromissos financeiros com os credores da dívida pública. A isso se alia a redução da carga tributária sobre os rendimentos dos mais ricos e o aumento da carga de tributos indiretos. Em suma, a política tributária de matriz neoliberal aumenta proporcionalmente a carga sobre as pessoas de menor renda e sustenta o duplo benefício dos que estão no topo da pirâmide: o rentismo e a sua desoneração tributária.

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O foco da discussão sobre a reforma tributária tem sido, basicamente, o tamanho da carga e a “guerra fiscal”, isto é, os empresários querem pagar ainda menos e os entes federados dizem que não podem abrir mão de arrecadação. Contudo, poucos discutem as deficiências e desigualdades do sistema tributário atual, que delega o ônus do financiamento do Estado aos mais pobres, aos trabalhadores e à classe média assalariada, reforçando a concentração de renda.

Segundo dados da Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) e da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), 49,7% dos impostos do Brasil são recolhidos de forma indireta. Além de reforçar a desigualdade social, esse tipo de recolhimento prejudica o sistema produtivo brasileiro, pois encarece as mercadorias. No entanto, reduzir a carga tributária que incide sobre o consumo não é capaz de reverter a regressividade do sistema fiscal, já que essa medida reduziria a capacidade do Estado para a promoção de políticas públicas, agravando mais um importante fator de desigualdades. O tributo indireto mais importante do país é o ICMS, de competência dos estados e do Distrito Federal, que responde por mais de 25% da arrecadação total do país. Em segundo lugar está a Cofins, contribuição social destinada ao financiamento da Seguridade Social. O desafio se situa em como diminuir a regressividade do sistema tributário sem enfraquecer as receitas dos entes federados e o financiamento da seguridade social.

Com relação ao Imposto de Renda da Pessoa Física, sua progressividade está prevista na Constituição Federal, mas foi neutralizada no governo FHC com a isenção tributária aos lucros e dividendos recebidos das empresas por parte de sócios e acionistas. Além disso, os rendimentos financeiros e ganhos de capital são tributados exclusivamente na fonte, as alíquotas são mais baixas, e não são submetidos à tabela progressiva do IR. Por outro lado, os rendimentos advindos do trabalho são os únicos, hoje, tributados de forma progressiva. Ainda com respeito ao IR, nossa maior alíquota (27,5%) é muito baixa em comparação à praticada em países desenvolvidos e mesmo em países com características semelhantes.

Segundo dados de 2015, se aproximadamente 29% do total arrecadado no país se originou da tributação da renda de pessoas físicas e jurídicas, a arrecadação dos tributos sobre o patrimônio (IPTU, ITR, ITCMD, IPVA, ITBI e IGF) representou apenas 4,2% do total nacional. Essa baixa tributação do patrimônio no Brasil está na contramão de países com distribuição de renda e riqueza mais igualitária.

De todos os tributos sobre o patrimônio no Brasil, o Imposto Territorial Rural foi o que mais sofreu resistências políticas dos grandes proprietários de terras. O caráter extrafiscal do ITR – o uso do tributo como instrumento capaz de desestimular a manutenção da terra ociosa – nunca chegou a ser efetivado por apresentar baixas taxas de arrecadação. Em relação ao patrimônio urbano, estudos e comparações internacionais demonstram que há uma clara subtributação dos imóveis e que o IPTU poderia saltar dos 0,42% do PIB para mais de 1% do PIB, somente com a correção de iniquidades.

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Além disso, o Brasil é um dos países que menos tributam a herança. O imposto que grava os patrimônios herdados é o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), de competência estadual. As maiores alíquotas praticadas no Brasil são de 8% e a alíquota média cobrada pelos fiscos estaduais é de 3,86% sobre o valor herdado, cerca de quinze vezes menor que a taxa praticada na França (60%), menos de um décimo da vigente na Inglaterra ou nos EUA (40%) e um terço da aplicada no Chile (13%). Por sua vez, o Imposto sobre Grandes Fortunas, previsto na Constituição Federal de 1988, nunca foi regulamentado.

O debate da Reforma Tributária costuma limitar-se a questões nacionais, sem levar em conta os impactos negativos na arrecadação fiscal próprios da economia globalizada: o crescente aumento do comércio intrafirmas e o uso abusivo de paraísos fiscais nas transações internacionais, ou seja, da concorrência tributária internacional desleal.

Atualmente, a erosão da base tributável e a transferência de lucros e riquezas para esses paraísos fiscais são a causa da maior perda de ingressos de receitas tributárias e de injustiça fiscal, na medida em que outros contribuintes, de menor capacidade contributiva, acabam por assumir uma fatia maior da carga tributária.

PROPOSTAS Reestabelecimento da progressividade da tributação da renda - Todos os rendimentos, independentemente de sua origem (capital ou trabalho), devem ser submetidos à tabela progressiva de incidência. É preciso revogar os dispositivos que permitem a distribuição dos lucros e dividendos com isenção ou tributação favorecida (artigos 9º e 10º da Lei 9.249) e submeter esses rendimentos, bem como os rendimentos relativos a aplicações financeiras e ganhos de capital, à tabela progressiva, sem prejuízo das retenções na fonte. Sem essa medida, a elevação da alíquota máxima só alcançaria os rendimentos do trabalho. Reestruturar a tabela progressiva do IR - Aumentar o limite de isenção para o equivalente ao Salário Mínimo mensal calculado pelo Dieese e ampliar o número de faixas de incidência, com alíquotas mais elevadas, a partir dos rendimentos acima de 40 SM mensais. Administração compartilhada do Imposto Territorial Rural (ITR) entre a União e os entes federados - Essa medida visa a observar os aspectos fundiário e ambiental contemplados no tributo para que ele funcione como indutor do cumprimento da função social da terra.

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Elevação das alíquotas máximas do Imposto sobre Herança (ITCMD) - Há propostas no Congresso Nacional para tributar a herança no imposto de renda, com alíquotas variando de 15 a 20% para heranças acima de 5 milhões (a previsão de arrecadação seria de R$ 1,6 bi.). Regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas. Reequilibrar a distribuição da carga tributária entre renda, consumo e patrimônio - Aplicação efetiva do princípio da seletividade previsto na CF/88 em relação ao ICMS e ao IPI, de modo a reduzir a tributação sobre os bens essenciais, como os da cesta básica e outros de consumo básico popular, aumentando as alíquotas sobre os de luxo e supérfluos. Redução das alíquotas da Cofins - A perda de arrecadação pode ser compensada com maior tributação sobre a base renda ou patrimônio. Há várias alternativas: aumento de alíquotas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, criação de Contribuição Social sobre o grande patrimônio ou sobre a riqueza financeira ou, ainda, Contribuição Social sobre a distribuição de lucros aos sócios e acionistas. Tributação diferenciada sobre o setor extrativo mineral (da renda, do patrimônio e da própria extração) - O setor extrativo mineral possui um alto potencial arrecadatório e algumas peculiaridades: são recursos naturais esgotáveis que não beneficiarão as gerações futuras e trazem custos ambientais e sociais. A participação do Estado na renda extrativa deve se dar não apenas pela tributação, mas também pela cobrança de royalties e compensações financeiras. Eventuais danos ambientais e sociais das atividades devem ser internalizados como custos nos projetos de exploração. Taxas mais elevadas para operações realizadas com paraísos fiscais - Para o setor extrativo, a utilização de paraísos fiscais nas transações de recursos minerais deve ser vedada por lei. Revisão de acordos fiscais - A medida é necessária para evitar que as multinacionais busquem a aplicação do acordos que as favoreçam, agravando o quadro de regressividade do sistema de tributação. Defender nos órgãos internacionais a tributação de multinacionais como entidades únicas - Deixar de tratar as filiais como entidades separadas permitiria que cada país tribute os lucros das empresas proporcionalmente às atividades realizadas em território nacional.

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Maior transparência dos informes tributários e financeiros das empresas multinacionais - Os relatórios devem ser divulgados em todos os países em que a empresa opera, independentemente do valor do lucro. Divulgação dos incentivos fiscais oferecidos às multinacionais por todos os países Promover internacionalmente a criação de um organismo representativo independente mundial (ONU) para monitorar os efeitos da concorrência tributária desleal e promover mudanças multilaterais Tributação sobre a exportação de commodities

BANDEIRAS Quem mais ganha paga mais!

Mais tributos sobre a propriedade, menos sobre o consumo Taxação de Grandes Fortunas - Um país rico é um país justo!

Por um comércio equitativo e leal em nível mundial

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SEGURIDADE SOCIAL E PREVIDÊNCIA

INTRODUÇÃO A partir da percepção que a Seguridade e a Previdência são instrumentos essenciais de proteção social e distribuição de renda no Brasil, procuramos refletir sobre formas de organizar e otimizar o orçamento como proposta alternativa ao desmonte da Previdência Social operado pelo atual governo. O desafio é amplo e passa pela reorientação das políticas macroeconômicas no sentido de fortalecer o campo de atuação do Estado e da sociedade civil. Os necessários ajustes para garantir o financiamento da Previdência a longo prazo devem ter como norte o cumprimento da Constituição Federal de 1988 e a defesa da vida humana.

DIAGNÓSTICO A proteção social (à velhice, à doença, ao desemprego e à viuvez) tem origem na Alemanha do final do século XIX e passou a ser vista como um direito humano em convenções internacionais em 1948. Nas décadas de 1950 e 1960, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização das Nações Unidas (ONU) apresentaram instrumentos jurídicos internacionais e regionais para difundir a seguridade social como um direito universal, com normas mínimas estipuladas, ampliando aos poucos para outros segmentos vulneráveis ou discriminados. No Brasil, a seguridade e a previdência social foram garantidas pela Constituição de 1988 por meio do financiamento tripartite – empregados, empregadores e Estado –, com impostos gerais a serem pagos por toda a sociedade. O modelo implementado foi resultado do acúmulo histórico do Estado de bem-estar social, de modo que prevaleceu o princípio da seguridade social universal, em oposição ao modelo do seguro social, no qual só recebe quem contribui. Isso possibilitou a inclusão de trabalhadores rurais e outros que carecem de proteção social. Parte do sistema também garante a cobertura de uma renda substitutiva em ocorrências que resultem em incapacidade laboral. Nessa lógica, os benefícios de previdência e assistência asseguram uma renda mínima para milhões de brasileiros. Em média, estima-se que direta ou indiretamente sejam favorecidos 99 milhões de pessoas, quase a metade da população do país. Se agregarmos o Benefício de Proteção Continuada (BPC) e o Seguro Desemprego, somam-se outros 40 milhões de beneficiados, direta e indiretamente. Segundo dados de 2016, cerca de 86% dos idosos brasileiros têm proteção na velhice e isso traz uma série de impactos sociais indiretos, levantados pelo estudo de 2017 da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) e do

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Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese): a promoção da economia regional, já que os benefícios da previdência social são o principal motor da economia em 70% dos municípios; redução de desigualdades regionais, na medida em que, quanto mais baixo é o PIB do município, maior é a importância dos montantes pagos em benefícios; a redução da desigualdade de renda, sendo importante fator da queda do índice Gini entre 2003 e 2012; a redução da pobreza; além do impacto na agricultura familiar e no combate o êxodo rural. O documento da Anfip e do Dieese estima, por exemplo, que se não houvesse previdência e BPC, 65% dos idosos seriam pobres aos 75 anos, com base em dados de 2014, ano em que apenas 8,76% das pessoas com 65 anos estavam nessa faixa de renda. Outro dado que demonstra o papel fundamental da seguridade social é que 55% dos idosos viveriam em situação de pobreza extrema, na ausência de aposentadoria, pensão e BPC, percentual que era de 0,5 em 2014. Assim, esses benefícios funcionam como poderosos instrumentos de desenvolvimento, já que constroem a base da economia em pequenos municípios e, nas zonas rurais, funcionam como seguro agrícola, contribuindo para fixar pequenos agricultores no campo. A proporção de jovens que permanece no campo, por exemplo, segundo o Dieese, aumentou de 60%, na década de 1980, para 85% na década passada, dado que se relaciona com a vigência da Constituição de 1988, que ampliou e garantiu benefício aos trabalhadores rurais, e estendeu a aposentadoria rural às mulheres do campo. É importante pontuar que o texto da CF a respeito da seguridade e da previdência social nunca foi inteiramente implementado e vem sofrendo sucessivas alterações. Isso porque, o contexto da redemocratização coincidiu com o esgotamento do nacional-desenvolvimentismo que, desde os anos 1930, colocou o Estado como importante motor da industrialização e da infraestrutura do país. A crise formou um ambiente favorável ao modelo neoliberal, com medidas de liberação financeira e comercial, desregulação dos mercados e privatizações, que deterioram as bases materiais e financeiras do Estado. No campo político, essas questões se revertem em uma submissão da sociedade civil e do Estado à economia, corroendo a democracia representativa liberal. No Brasil, os valores do Estado de bem-estar inscritos na Carta de 1988 são incompatíveis com a agenda do Estado mínimo. Ainda assim, os governos, desde 1989, optaram por descumprir e burlar princípios constitucionais ligados à seguridade social: não a organizaram de acordo com os artigos 165, 194, 195 da CF e com o artigo 59 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; jamais apresentaram e executaram o Orçamento da Seguridade Social como disposto no artigo 195; não instituíram o Conselho Nacional da Seguridade Social, mecanismo de controle social previsto no artigo 194; a partir de 1994, utilizou-se a Desvinculação de Receitas da União (DRU) para capturar recursos constitucionais assegurados ao setor.

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De modo geral, as políticas universais são atacadas e substituídas pela focalização nos mais pobres, em programas sociais mais baratos. A assistência toma o lugar dos direitos, os serviços públicos são mercantilizados e os contratos de trabalho flexibilizados. Como consequência, setores médios e empobrecidos que não compõe a parcela mais vulnerável precisam buscar os serviços sociais básicos no mercado privado. Atualmente, enquanto boa parte da ortodoxia internacional reavalia erros e excessos das políticas de austeridade, no Brasil, a radicalização do projeto liberal – a partir do golpe de 2016 – representa a oportunidade para que os detentores da riqueza concluam o serviço iniciado há 30 anos. É nesse contexto que a proposta mais drástica de desmonte da Previdência é apresentada e aprovada, dois anos após uma reforma trabalhista que reforça a precarização laboral e contribui para a redução das receitas da previdência. Em contraposição, entendemos que, no curto prazo, o equilíbrio financeiro da previdência social não requer a criação de novos impostos, mas apenas que ela seja considerada parte seguridade social, que tem a Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e parte do PIS/Pasep como formas constitucionais de gerar receitas. Em 2015, por exemplo, deixou-se de contabilizar nas contas da seguridade R$ 316 bilhões dessas formas de arrecadação. Nesse mesmo ano, a seguridade social também deixou de contar com R$ 157 bilhões por conta das desonerações tributárias e de uma parte dos R$ 61 bilhões de Desvinculação das Receitas da União (DRU). Nesse sentido, é preciso alterar a forma de calcular o chamado "déficit" da previdência e considerar o duro impacto das renúncias fiscais na receita. Em 2015, o total das desonerações foi de R$ 282 bilhões (4,9% do PIB), cerca de um quarto das receitas do governo federal. É importante sublinhar que mais da metade das renúncias (56% do total) são feitas com recursos da seguridade social. É possível também tomar o exemplo de algumas democracias desenvolvidas que superaram essa questão no século passado, sem destruir a proteção social, e hoje gastam mais que o dobro em previdência, na proporção do PIB, em comparação com o Brasil. A longo prazo, é importante enfrentar os problemas da fragilidade fiscalizatória da previdência e da sonegação de impostos. Entre 2011 e 2015, a Dívida Ativa previdenciária passou de R$ 185,8 bilhões para R$ 350,7 bilhões, montante quase quatro vezes maior que o chamado "rombo" da Previdência, de R$ 85 bilhões e apenas 0,32% do montante total da dívida foram recuperados. Da mesma forma, não há empenho para recuperar o brutal estoque de recursos que foram capturados pelos sonegadores de impostos. Um estudo da Tax Justice Network, baseado em dados de 2011 do Banco Mundial, aponta que o Brasil era o vice-campeão mundial em sonegação de impostos (13,4% do PIB). A análise do Sindicato Nacional dos

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Procuradores da Fazenda Nacional revela que a sonegação em 2015 atingiu R$ 452,9 bilhões – 23,0% da arrecadação tributária e 7,70% do PIB. A frouxidão legal e fiscalizatória no combate à sonegação conduz ao estoque da Dívida Ativa da União que ultrapassam os R$ 2 trilhões em 2019, com 44,8% irrecuperáveis. Ao invés de cumprir o seu papel constitucional de cobrar os tributos devidos à sociedade, o Governo Federal instituiu, em 2016, o "Programa de Regularização Tributária'' mais um programa de parcelamento dos débitos. Na mesma perspectiva, editou a Medida Provisória (MP) 733/16, permitindo que produtores rurais inscritos em Dívida Ativa da União liquidem o saldo devedor com bônus entre 60% a 95%. Trata-se de um setor, em especial os agroexportadores, que já goza de uma série de isenções fiscais, inclusive previdenciárias. O financiamento previdenciário também reflete fatores externos, relacionados à política econômica e ao mercado de trabalho. O equilíbrio das contas, nesse sentido, não pode depender apenas dos cortes de gastos e regressão de direitos, mas deve partir do estímulo ao crescimento econômico e da inclusão dos trabalhadores informais para potencializar as receitas. Em 2014, 37,7% da população ocupada não estava coberta pela Previdência Social, ou seja, é grande a quantidade de trabalhadores que não contribui e não terá proteção na velhice. Por fim, a sustentação financeira da Previdência requer, sobretudo, que seja revisto o regime macroeconômico e fiscal brasileiro, sobretudo a ideia de que ao governo só compete controlar os gastos primários. Caso contrário, ficaremos eternamente transferindo riqueza e patrimônio público para os detentores da riqueza privada. O que está em jogo é a destruição do Estado social, com efeitos em todas as áreas. Portanto, a resposta deve ser dada de forma unitária pelos movimentos sociais. É preciso retomar o encaminhamento comum das pautas, pensadas na ótica de um projeto de transformação que tenha como objetivo a redução contínua da desigualdade.

PROPOSTAS Adotar medidas para garantir o equilíbrio financeiro da Previdência Social no longo prazo, com respeito à Constituição Federal. - Efetivar a organização e o orçamento da Seguridade Social de acordo com a CF. - Instituir o Conselho Nacional da Seguridade Social, previsto no parágrafo único do artigo 194 da Constituição Federal. - Extinguir a Desvinculação das Receitas da União (DRU), criada em 1994 e renovada continuamente.

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- Acabar com as renúncias tributárias que incidem sobre o Orçamento da Seguridade Social. Esses mecanismos subtraem anualmente da Seguridade Social aproximadamente R$60 bilhões e R$160 bilhões, respectivamente. - Eliminar as desonerações patronais – urbanos e rurais – sobre a folha de pagamento e as isenções previdenciárias para entidades filantrópicas, que implicaram subtração de receitas de R$25 bilhões e R$11 bilhões, respectivamente, em 2015. - Promulgação de legislação específica que inclua a rubrica "transferências da União para compensação de renúncias previdenciárias" como fonte de receita da Previdência Social. A melhorar a fiscalização para reduzir a Dívida Ativa previdenciária e a sonegação de impostos e ampliar as receitas. - Recriação do Ministério da Previdência Social. - Maior fiscalização e determinação da Receita Federal do Brasil. - Combate à sonegação de impostos e recuperação do estoque de recursos do cidadão que foram capturados pelos sonegadores. Reforçar da capacidade financeira do Estado com a reorientação da política macroeconômica. - Reforma Tributária que implemente aumente a arrecadação, corrija a injustiça fiscal entre as classes, aumentando a contribuição das classes de maior renda e patrimônio, para preservar as políticas sociais. - Reduzir a taxas de juros, responsável pela ampliação da riqueza das classes mais altas.

BANDEIRAS Não existe “rombo” da Previdência!

Queremos viver: não ao desmonte da Previdência!

Chega de desonerações! Arrecadação é para o povo.

O Estado também financia a Previdência.

Basta de desmonte da Constituição.

Combate à sonegação para garantir a proteção social.

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SEMIÁRIDO

INTRODUÇÃO A partir de uma filosofia que assume a semiaridez como vantagem, procuramos otimizar o aproveitamento das potencialidades da região e, ao mesmo tempo, ampliar a compreensão das vulnerabilidades das terras e das populações, diante das mudanças climáticas e da desertificação. O desafio colocado é, à luz do conhecimento científico e popular, aumentar o uso de tecnologias sociais para construir uma convivência com a semiaridez que reduza a pobreza, amplie o acesso a direitos, preserve e recupere o solo e os rios, e combata a desertificação, construindo alternativas que busquem a articulação, pesquisa, formação, e difusão de políticas para o desenvolvimento sustentável no semiárido brasileiro.

DIAGNÓSTICO O semiárido brasileiro é uma região cuja demarcação é definida de acordo com índice de aridez (até 0,5), risco de seca maior que 60%, e pluviometria abaixo de 800mm por ano. Com uma área de quase 1 milhão de km², tem uma população de cerca de 25 milhões, distribuída em 1.189 municípios, dos quais 93% têm menos de 50 mil habitantes. Trata-se de um território majoritariamente ligado à atividade rural, em especial à agricultura familiar camponesa, que ocupa 47% das terras agricultáveis, apesar de representar 89% da população rural. Assim, a maior parte das terras estão sob controle de uma pequena parcela de agricultores não familiares. Historicamente, se formaram nessa região estruturas socioeconômicas e políticas de caráter oligárquico, excludente e desigual. No entanto, grande parte das políticas públicas partiram de um diagnóstico de que o problema era o clima, as secas, e não atacaram questões fundamentais, como a concentração fundiária e o coronelismo. Dessa forma, acabaram por intensificar as desigualdades sociais e regionais no território, na medida em que a pauperização do semiárido o transformou em fornecedor de mão de obra para o setor industrial de outras regiões, em especial o Centro-Sul do país, a partir da segunda metade do século XX. Entre os anos 1950 e 2000, 12,5 milhões de sertanejos deixaram seu território de origem, fugindo da fome e da miséria. A falência das atividades patronais no campo, durante a década de 1980, acentuou o desemprego e, sem acesso à terra, os trabalhadores se organizaram em mais de 3 mil assentamentos rurais na região. Atualmente, as difíceis condições de vida são agravadas pela questão ambiental que se impõe. Hoje, 74% do território é suscetível à

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desertificação e 68% já se encontra em alto (ou muito alto) grau de desertificação. O que resta como alternativas nessa região, que atualmente detém os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, são o programa Bolsa Família (3,4 milhões), a aposentadoria rural e o funcionalismo público, as principais fontes de renda do semiárido. Sem dúvidas, algumas políticas recentes impactaram positivamente a vida nessa região, a saber: o aumento real do salário mínimo; o Bolsa Família; o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae); a ampliação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf); a interiorização das universidades públicas e dos institutos tecnológicos federais; a garantia do transporte escolar; a disponibilização de equipamentos e maquinarias de infraestrutura às prefeituras (retroescavadeira, caminhões caçambas, tratores, colheitadeiras, etc.); o programa Mais Médicos. Hoje, há 206 centros de estudos, pesquisas e extensão em ciência, tecnologia, cultura para promover a vida e o bem viver no semiárido. No entanto, a ausência de observatórios de transição agroecológica e de convivência com o fenômeno natural da semiaridez, impede um monitoramento dos fatores críticos que incidem sobre a construção de modos de vida sustentáveis na região. Além disso, de modo geral, o pensamento das instituições dedicadas a pensar políticas do/no/para o semiárido não inclui a construção filosófica, teórica e prática do bem viver na região. Pelo contrário, encara a semiaridez como um problema, sem refletir adequadamente sobre uma adaptação que respeite suas características e associe ciência, tecnologia, educação e cultura às tradições e conhecimentos populares. Só é possível pensar em uma conivência economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente sustentável com o semiárido com uma caatinga em pé. Várias pesquisas demonstram que a rearborização dos (agro)ecossistemas aumentariam até 150% dos níveis de matéria orgânica do solo, além de ampliar a biodiversidade e favorecer a formação de ilhas de fertilidade ao redor das árvores. Há um potencial para rearborização em locais em que a vegetação arbórea já foi significativamente reduzida e de manejo das áreas onde ainda existe caatinga, com experiências importantes que podem nortear as ações. A erosão é considerada o principal fator de degradação do solo no semiárido. Em contrapartida, já existem uma série de conhecimentos e tecnologias sociais de conservação e recuperação do solo e da água, como cisternas, caxios, barragens subterrâneas, compostagem, silagem e manejo florestal. No entanto, existe a necessidade de transformar esse conhecimento em políticas públicas. Os programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Água Doce são experiências importantes que podem ser

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articulados com iniciativas locais e estaduais para aproveitar o relevante potencial de reuso da água na região, apontado pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa). Por outro lado, é preciso ter em mente que combater a desertificação não significa apenas lutar contra a erosão, a salinização ou o assoreamento, mas suprimir suas causas, relacionadas às ações humanas. É necessário sobretudo influenciar o comportamento cultural, social, econômico e político da sociedade, levando em consideração que o cenário para o futuro, com as mudanças climáticas, indica a redução da quantidade de chuvas, o aumento da variabilidade e a intensificação dos processos de desertificação. Nesse sentido, a comunicação, a cultura e a educação podem ser ferramentas importantes tanto para a formação e integração das comunidades, quanto para a reconstrução do imaginário sobre o semiárido nas zonas urbanas. Historicamente, os serviços públicos de educação e saúde na região foram não só insuficientes e precários, mas também dissociados da realidade local. A falta de diálogo entre a educação formal com os saberes tradicionais e populares são empecilhos tanto para o processo educacional, na medida em que a população não se reconhece no conteúdo escolar, quanto para a mobilização em torno das questões que envolvem a convivência com semiárido. Além disso, há um déficit de compreensão e aproveitamento das potencialidades do semiárido, um espaço privilegiado, por exemplo, para a produção de energia limpa e renovável. Em Juazeiro, por exemplo, mil famílias geram energia solar conectada à rede nacional, através do programa Minha Casa Minha Vida, e a venda da energia no mercado de abastecimento gera uma renda de 80 reais ao mês por família. Já está em curso também a implantação de parques de energia eólica e solar. Por último, é importante pontuar que há uma série de iniciativas governamentais, em níveis nacional, estadual e local – fragmentadas em diferentes ministérios, estatais, planos e programas –, além das ações e estudos provenientes da sociedade civil organizada e das universidades. Há a necessidade de articular melhor essas iniciativas e de consolidar estratégias de socialização, apropriação e implementação de técnicas e informações pelas comunidades diretamente atingidas pelos fenômenos da desertificação, degradação dos solos e semiaridez. Do mesmo modo, todas as iniciativas voltadas para a melhoria e distribuição de renda precisam também instrumentalizar a adaptação ao semiárido.

PROPOSTAS Criar coordenadoria de políticas públicas desenvolvidas no semiárido, vinculada à Casa Civil da Presidência

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- Uma coordenação efetiva possibilita, por exemplo, que as diferentes iniciativas governamentais já contemplem as tecnologias necessárias para a convivência com o semiárido – como painéis solares, cisternas, reuso das águas –, ou apoiem essas iniciativas por meio de crédito. Reforma Agrária e apoio à agricultura familiar - Criar comissão nacional para discutir e propor um projeto de reforma agrária popular e agroecológica para o semiárido. - Regularizar as terras devolutas, estabelecendo a propriedade da terra em tamanho apropriado, de acordo com os módulos fiscais das regiões. - Reativar o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e criar uma coordenação de políticas para a agricultura familiar camponesa de base agroecológica. - Ampliar linhas de crédito do Pronaf e ampliar o valor pago pelos programas PAA e PNAE para agricultores cuja única fonte de renda provém desses programas. Combater a desertificação, aliando a conservação do solo e da água e recuperação de áreas degradadas com o uso sustentável da biodiversidade e do solo. - Criar força tarefa para efetivar projetos de combate à desertificação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. - Garantir financiamento às ações e ampliar os estudos sistêmicos e multidisciplinares, com experimentos de longo prazo, sobre desertificação, uso sustentável da biodiversidade da caatinga, manejo florestal sustentável e convivência com as regiões semiáridas, envolvendo os atores sociais diversos. - Criar meios para a socialização eficiente de informações sobre o manejo dos solos, com vistas a contribuir para a diminuição dos processos de desertificação e das possibilidades de convivência com as particularidades do Semiárido. - Criar o observatório da transição agroecológica no semiárido brasileiro, sob a gestão interinstitucional/social, por meio da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). - Criar o observatório da convivência com o semiárido brasileiro, sob a gestão interinstitucional e social da Instituto Nacional do Semiárido (Insa) e da ASA. - Criar programa regional de inovação para o bem viver rural no semiárido, sob gestão da ASA, da Insa e de universidades. - Qualificar a política de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), com enfoque comunitário e social. Garantir soberania hídrica e alimentar e preservar as bacias hidrográficas. - Criar programa de soberania hídrica e alimentar no semiárido brasileiro. - Criar programas de captação, uso e reuso de águas residuais no semiárido. - Ampliar o Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido, com implementação de tecnologias sociais de captação e armazenamento da água da chuva tanto para consumo, quanto para a agropecuária.

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- Criar força tarefa nacional, em parceria com os governos estaduais e com os comitês hidrográficos, para revitalização do Rio São Francisco e das matas ciliares de todos os rios do semiárido. Estimular a criação sustentável de animais, aliando a vocação da região com a preservação e recuperação do bioma. - Criar Programa de Soberania Forrageira para o semiárido brasileiro. As plantas forrageiras possibilitam o desenvolvimento da pecuária na região e o plantio de espécies que se adaptem ao clima, como a palma forrageira, é um passo importante para uma pecuária não predatória, sustentável, socialmente inclusiva e rentável. Além de assegurar a produção de carne e leite nos períodos de seca, o plantio de forrageiras contribui para a recuperação de áreas degradadas e para o reflorestamento da caatinga. - Criar programa de criação de animais de pequeno porte no semiárido brasileiro. Efetivar a transição de matriz energética, com a criação de programas de produção de energia renovável de pequeno porte no semiárido – eólica, solar biogás e biomassa. Ampliar a assistência de saúde, fortalecendo programa Mais Médicos, em interação os programas de farmácias vivas, que utilizam medicamentos da flora catingueira. Estimular a integração da educação, cultura e comunicação com as culturas regionais. - Fortalecer a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab). - Institucionalizar a Educação Contextualizada ao semiárido, nos moldes da Educação do Campo, desenvolvida pela extinta Secadi/MEC (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/Ministério da Educação). - Criar programa de reestruturação das Escolas do Campo (Escolas Famílias Agrícolas, Escolas Comunitárias, Escolas Públicas no Campo), melhorando as estruturas físicas, equipamentos e logísticas. - Fortalecer as estratégias e iniciativas de comunicação comunitária e alternativa, e incluir disciplinas de educomunicação nas escolas.

Bandeiras

Deixem a Caatinga em pé

Combate à desertificação no semiárido

Valorização do semiárido

Reforma Agrária popular e agroecológica

Acesso à água doce e limpa

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Aproveitar o potencial de reuso de água no semiárido

Soberania hídrica, alimentar e autonomia para a população do semiárido brasileiro

Mais médicos para o semiárido

Educação em diálogo com as características e necessidades do semiárido

Utilizar o potencial do semiárido para uma nova matriz energética

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TRABALHO, EMPREGO E RENDA

INTRODUÇÃO A partir do entendimento que o trabalho ocupa uma parte central na vida e na forma como a sociedade se estrutura, buscamos debater um novo modelo de desenvolvimento no qual o trabalho deixe de ser também uma fonte de exploração para a acumulação de capital. Para tanto, partimos da crítica das transformações em curso, moldadas pelas reformas trabalhistas e previdenciárias, para construir respostas tanto emergenciais, quanto estruturais.

O desafio passa pelo enfrentamento de um problema eminentemente político: como reorganizar a atividade econômica e redistribuir o resultado do que se define coletivamente produzir objetivando primordialmente a preservação da vida e o bem-estar coletivo?

DIAGNÓSTICO Atualmente, o trabalho está em profunda transformação no Brasil e no mundo, na medida em que o aprofundamento da globalização financeira e da hegemonia neoliberal tencionam por uma flexibilização cada vez maior. Nesse contexto, o avanço técnico e produtivo é utilizado apenas para aumentar a pressão sobre os trabalhadores, desequilibrando a já desigual relação entre capital e trabalho.

Para a desregulamentação do mundo do trabalho, o papel do Estado é fundamental. No Brasil, articulou-se um ataque brutal aos direitos e aos sistemas de proteção social com insistentes reformas trabalhistas e previdenciárias, uma agenda que amplia a liberdade do capital, facilitando as formas de contratação e dispensa, medidas que produzem alta rotatividade nos postos de trabalho. Para garantir efetividade da reforma trabalhista, ataca-se também as organizações sindicais, a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, instituições que poderiam colocar algum limite aos abusos contra o trabalhador.

De maneira geral, as reformas são propostas e aprovadas em períodos de crise sob a promessa de gerar emprego e estimular a economia. No entanto, após dois anos de vigência, a reforma trabalhista não cumpriu o prometido. O desemprego total – incluindo o aberto, o desalentado e o subocupado – segue alto e, nesse contexto, crescem a informalidade, a terceirização e o trabalho por conta própria como estratégia de sobrevivência. Ao mesmo tempo, a renda média dos ocupados caiu e a jornada está concentrada em extremos – aqueles que trabalham mais de 49 horas semanais e os que trabalham até 14 horas por semana.

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Em um quadro de desemprego, crescem as ocupações com baixa proteção, como serviços vinculados a aplicativos (a chamada “uberização” do trabalho), vendedores ambulantes e trabalhos realizados em domicílio. Além disso, há um aumento da polarização das ocupações, ou seja, crescem ocupações mais complexas, mas também crescem as que requerem baixa habilidade e qualificação. Esse desnível se reflete também na renda, nas jornadas e no mercado de trabalho, na medida em que a maioria das pessoas transitam entre o desemprego e atividades de baixa remuneração, com péssimas condições de trabalho e alta rotatividade. Nesse contexto, os poucos que estão melhor posicionados – empregos estáveis e/ou bem remunerados –, são mais submetidos a metas, pressões, prolongamento de jornada, situações que tornam comuns nas diversas formas de adoecimento laboral. Tudo isso é agravado pela redução sucessiva do acesso a benefícios e seguridade social.

Assim, se consolida um mercado de trabalho baseado na terceirização, na subcontratação, e na segmentação extrema das classes trabalhadoras. Como consequência, essas características estruturais também dão sentido à lógica de autoexploração e tornam hegemônica a ideia de meritocracia e de que cada um é responsável pela sua carreira e pelo seu destino. Essa exacerbação do individualismo e da iniciativa pessoal tem consequências na própria configuração da classe trabalhadora, pois dificulta a formação de espaços de sociabilidade e da identidade coletiva de classe.

É preciso admitir que o sindicalismo está em crise e desafiado a se reinventar, pois encontra uma crescente dificuldade de responder às transformações no mundo do trabalho. É fundamental encarar o desafio de adequar as bandeiras de lutas e as formas de organização e representação sindical ao novo perfil e reconfiguração das classes trabalhadoras. É preciso avançar na incorporação dos trabalhadores terceirizados e dos demais excluídos das formas de contrato de trabalho estáveis, para construir um foco estratégico na organização sindical dos trabalhadores informais e precários. Do mesmo modo, é importante articular vínculos de colaboração e parceria entre as organizações sindicais e as formas de organização não sindical – segmentos populares e progressistas da sociedade –, no sentido de retomar a construção de um campo de forças democrática, popular e progressista.

Dessa forma, precisamos preservar a representação (e a resistência) por setor econômico, avançar na construção de um sindicalismo mais horizontal e classista, além de articular uma atuação com movimentos sociais e outras forças da sociedade. De modo geral, é preciso renovar o repertório de ação e organização dos trabalhadores, especialmente no sentido de incorporar as novas tecnologias e mídias, assim como os novos comportamentos sociais, especialmente dos segmentos mais refratários à ação coletiva, como a juventude.

Dentro do sindicalismo, também é fundamental: enfrentar o problema da fragmentação organizativa, nas bases e nas cúpulas, com uma agenda de ações convergentes que avance para a unificação de formas de representação gerais, específicas e de base; ampliar os vínculos internacionais por ramos e por representações gerais;

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priorizar a renovação dos quadros dirigentes e a sua formação política, de modo a, sem pôr em risco o acúmulo histórico, revigorar a liderança sindical e reaproximá-la das novas bases sociais em cada ramo e setor; apostar na construção de uma representação mais ampla da classe trabalhadora no país, considerando seu caráter historicamente segmentado e a atualização dessa segmentação trazida com os processos de flexibilização e de precarização em curso.

Assim, após um período de crescimento da formalização e da inclusão social no país, entre 2004 e 2014, estamos vivenciando uma nova onda de aumento da desigualdade social, com a queda do consumo das famílias e da própria atividade econômica. Nesse ciclo de exclusão, não se apresenta como perspectiva a inserção social através do trabalho. Para elaborar alternativas para essa situação, é preciso discutir tanto algumas propostas conjunturais – para enfrentar a grave crise do mercado de trabalho –, quanto outras de caráter estrutural – para responder às profundas mudanças em curso no mundo do trabalho e construir um novo modelo de desenvolvimento nacional popular e sustentável.

Deve perpassar essas medidas o enfrentamento à dicotomia entre mundo produtivo e reprodutivo e a sobrecarga de trabalho doméstico realizado pelas mulheres, que ocultam a profunda desigualdade no trabalho: as mulheres permanecem sujeitas às piores condições laborais e segregadas em ocupações pouco valorizadas socialmente. Além disso, nossa herança escravocrata e racista discrimina negros e negras, a quem são designados os piores serviços, sem chances de progressão ou ascensão, aprofundando a segmentação de um mercado de trabalho marcado também pelas diferenças regionais, pelas condições de contratação e pelo tamanho da empresa ou setor econômico.

PROPOSTAS Organizar uma agenda emergencial de geração de emprego/trabalho, de ativação econômica, com afirmação dos direitos sociais.

- Criar de frentes de trabalho para capacitação e inserção profissional em áreas mais candentes na sociedade brasileira, como meio ambiente, infraestrutura, cuidados e saúde; - Derrogar as reformas trabalhistas e previdenciária; - Garantir os direitos trabalhistas a todos os(as) trabalhadores(as) “uberizados”, pois são assalariados disfarçados. - Fortalecer formas alternativas de criação de trabalho e de renda auto-organizadas e mais compatíveis com o desenvolvimento sustentável e com o bem viver, como as cooperativas; - Combater a discriminação de sexo, raça e etnia, e construir políticas de estímulo à igualdade nos mundos do trabalho.

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Construir um modelo popular e sustentável de desenvolvimento nacional, que incorpore atividades de complexidade tecnológica – com reindustrialização – e atenda as necessidades sociais, priorizando as áreas de principais carências do povo brasileiro – como saúde, educação, cuidados, infraestrutura, e proteção ambiental. As diretrizes para o modelo partem do seguinte acúmulo: - Redução substantiva da jornada de trabalho. - Ter no horizonte, um nova forma de organização social, que combine a dimensão ecológica, um novo padrão de produção e consumo, nova formas de sociabilidade e de valores humanistas. - Articulação de uma renda mínima universal, com uma progressiva regulação do trabalho (ampliação de direitos e proteção), que garanta o acesso a bens fundamentais para a sobrevivência sem a necessidade de vender a força de trabalho, de modo a criar uma sociedade com maior nível de justiça social; - Superação da dicotomia entre mundo produtivo e reprodutivo, a sobrecarga de trabalho doméstico realizado pelas mulheres e a consequente desigualdade no mercado de trabalho entre homens e mulheres. Do mesmo modo, são necessárias ações para combater a segregação de mulheres e negros(as) em ocupações mais precárias ou desvalorizadas. - Fortalecer os agentes essenciais para viabilizar a luta social, como os sindicatos e os movimentos sociais e de auto-organização de trabalho e renda.

BANDEIRAS No capitalismo, sempre haverá exploração.

Modelo popular e sustentável para desenvolver o Brasil.

Reformas retiram direitos e não geram emprego/Nenhum direito a menos

Por um desenvolvimento em prol do bem-estar comum, não do lucro.

Basta de machismo e racismo no trabalho!

Redução da jornada de trabalho

Renda mínima para viver, regulação do trabalho para viver bem.

Sindicatos fortes é poder para os trabalhadores.

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TRANSPORTES E LOGÍSTICA

INTRODUÇÃO Pensar o sistema de transportes e logística é uma tarefa primordial para o desenvolvimento e crescimento nacional. Esse setor reúne os meios para a circulação de pessoas e cargas no território, proporcionando a mobilidade por meio da construção de infraestruturas de transportes.

A opção dos sucessivos governos brasileiros por atender as demandas e desejos do mercado levou ao investimento majoritário no modal rodoviário, com grande impacto econômico, social e ambiental. Este texto busca expor questões específicas à matriz de transportes brasileiras e a cada modal, com suas potencialidades e deficiências atuais e propor saídas que tenham em vista a integração nacional e regional, o aumento da competitividade da produção brasileira, a reindustrialização e o incremento do setor de Pesquisa e Desenvolvimento.

DIAGNÓSTICO Os conceitos de circulação, transporte e logística trazem em si mais que o movimento de mercadorias, pessoas e informações: eles representam um atributo fundamental do movimento circulatório do capital e de sua reprodução. A logística corporativa, por exemplo, é uma estratégia central para alcançar mercados e implantar cadeias globais de produção, sem a qual o atual estágio do processo de globalização seria inviável. Em um projeto nacional, é fundamental pensar esses temas de forma sinérgica, estabelecendo estratégias, planejamento e gestão.

O Brasil, no entanto, sofreu um processo de descentralização do planejamento e gestão de transportes. Durante a “década neoliberal” de 1990, foram privatizadas a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) a Ferrovia Paulista (Fepasa), no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Os planos plurianuais para o setor foram mantidos, mas poucos foram os avanços devido ao forte contingenciamento orçamentário. Para promover a descentralização de atividades exercidas por órgãos e empresas públicas para o setor privado e para as esferas estaduais e municipais, o governo federal passou a se limitar a funções regulatórias criando, em 2002 o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

A partir de 2003, no primeiro mandato de Lula, houve movimentos de reversão dessa tendência, inicialmente com a reorganização dos órgãos e instituições do setor. A criação do Ministério das Cidades separou o transporte como indutor da qualidade de vida da população do transporte como fator de desenvolvimento econômico, função a

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ser estruturada pelo Ministério dos Transportes; a nova Secretaria de Portos passou a atuar como órgão responsável pelo transporte aquaviário, inexistente desde a extinção da Portobrás, no governo Collor; a criação da Secretaria da Aviação Civil tirou essa modalidade das questões de segurança nacional; a Valec, estatal sobrevivente do processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, teve seu papel reformulado para construir a Ferrovia Norte Sul e contribuir com o resgate da infraestrutura ferroviária no país; a criação da Empresa de Planejamento e Logística S/A (EPL) ampliou o papel do Estado brasileiro na articulação do planejamento, formulação de políticas e efetiva gestão dos assuntos de transportes, definindo uma nova modelagem para concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

O maior avanço, no entanto, foi o lançamento do Programa Piloto de Investimentos (PPI), em 2005, que retirou determinados investimentos em infraestrutura da contabilidade do superávit primário, rompendo com a tutela do FMI na gestão da infraestrutura do país.

Em países de grande extensão territorial, a matriz ferroviária tende a ser predominante, já que o modal rodoviário é efetivo somente para distâncias de até 500 quilômetros. Entretanto, ele é responsável por 58% a 65% do transporte de cargas no Brasil, rodando por até 2 mil quilômetros.

O modal rodoviário é, em média, 67% mais caro que o hidroviário e 31% que o ferroviário devido ao baixo volume transportado, ao consumo de combustível, ao pagamento de pedágios e à maior incidência de roubo de carga e acidentes. Os altos níveis de poluição e impactos ambientais também devem ser considerados. Toda a cadeia logística incorpora esses custos, afetando diretamente o preço final dos produtos disponibilizados e a competitividade no país no exterior.

Os pedágios, pagos por todos que usam as rodovias, tornam-se um obstáculo à parte. Poderiam custar muito menos se as cargas viajassem sobre trilhos, uma vez que os caminhões são os maiores responsáveis pela deterioração das estradas. Essa despesa adicional das cargas termina incorporada no preço final ao consumidor.

O transporte de menor custo operacional é o ferroviário, devido à melhor relação entre energia gasta por tonelada transportada. E apesar de demandar maior investimento inicial, os menores custos de manutenção e duplicações, assim como os menores impactos ambientais, são largamente compensatórios no médio e longo prazos.

A primeira ferrovia brasileira data de 1854, mas o processo de desenvolvimento ferroviário sofreu uma interrupção na década de 1930, quando a malha atingia 32,5 mil quilômetros. Criada para a exportação do café, aquela estrutura não respondia a um projeto de desenvolvimento econômico e integrador de regiões e, posteriormente,, a malha ferroviária não passou por uma necessária reestruturação. Causa ou consequência, nos anos 1950, o modal rodoviário já ultrapassava o ferroviário na matriz de transportes, passando a conduzir 40% do total de cargas no Brasil.

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A concessão da malha ferroviária brasileira realizada entre 1996 e 1999 não expandiu a rede. Pelo contrário, nesse período foram desativados cerca de 10 mil quilômetros, apesar de ainda transportarem cargas. Somente os principais corredores exportadores de minério de ferro e soja foram dinamizados, sendo os responsáveis por um aumento no volume de carga ao longo dos últimos vinte anos.

De acordo com a CNI, 30% dos 29.075 km de ferrovias concessionadas encontram-se inoperantes ou simplesmente abandonadas. A falta de investimento fez com que a velocidade dos comboios ferroviários tenha chegado ao seu menor nível histórico, 15 Km/h.

Em relação aos portos, o Sistema Portuário Nacional é constituído por 39 portos públicos. Nessa categoria, encontram-se os portos com administração exercida pela União, municípios, Estados ou consórcios públicos. Cerca de 80% do comércio mundial é feito por via marítima, com navios que precisam de portos modernos, fundamentais, portanto, na logística de um país.

De acordo com o atual sistema marítimo-portuário mundial, os meganavios navegam somente em rotas setentrionais, levando carga para grandes portos como os de Singapura ou de Roterdã, onde a carga é redistribuída para outros portos do mundo. Assim, os portos brasileiros não receberão os maiores navios de contêineres e seu planejamento deve se voltar à integração dos seus portos à economia nacional, servindo também como instrumento de desenvolvimento local.

O Brasil ainda subutiliza o modal aquaviário – marítimo e fluvial – apesar da ampla malha hidroviária. O transporte fluvial, se melhor aproveitado, pode contribuir para a integração nacional, e ainda oferece maior capacidade de carga, menor custo operacional e menores emissões de gases poluentes se comparado ao transporte rodoviário.

Com relação ao modal aéreo, o país tem o desafio de viabilizar a operação aérea regional. Existem hoje 4.263 aeroportos e aeródromos, a segunda maior rede do mundo. Desses 710 são aptos a receber voos regulares, que são oferecidos em apenas 109 aeroportos. Contamos com 17 aeroportos internacionais.

PROPOSTAS Aumentar a proporção do modal ferroviário na matriz de transportes - É o meio mais racional, barato e sustentável para transporte de cargas. É preciso inverter o sentido das nossas ferrovias, para que o interior seja atendido de forma eficaz. O lote de ligação de Açailândia/Marabá/Porto de Vila do Conde da concessão da Ferrovia Norte Sul deve ser publicado com traçado revisado para viabilizar os projetos do estado do Pará, oeste da Bahia e sul do Maranhão. Incrementar o traçado da Ferrovia Norte-Sul, desenvolver as ferrovias Oeste-Leste, do Frango e Transnordestina, além do

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Ferroanel em São Paulo. Integrar o Norte do país com vias ferroviárias. Construir mais de 11.000 quilômetros de ferrovias, retomando projeto do PAC 2. Retomar o transporte de passageiros em ferrovias - A construção de uma operadora nacional, como SNCF (França) ou a Deutsche Bahn (Alemanha), pode impulsionar os projetos de trens regionais e de alta velocidade. Reativar o transporte de passageiros na antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que liga Bauru (SP) a Corumbá (MS). Pesquisar e produzir equipamentos ferroviários e trilhos no Brasil - A Mafersa, maior produtora brasileira de equipamentos ferroviários, inclusive de carros, fechou suas portas em 1995. Atualmente, não existe um país que produza trilhos na América Latina, e o Brasil possui minérios e o parque siderúrgico necessário para a atividade. Criar uma rede de pesquisa que reúna universidades e instituições da área; dominar a tecnologia de levitação magnética para trens de alta velocidade. Alterar os contratos de concessões ferroviárias em andamento - É preciso permitir o acesso livre por outras operadoras e mitigar os entraves. O interesse público deve estar em primeiro lugar e o Estado precisa regulamentar e fiscalizar. Intensificar o transporte de cabotagem e criar uma operadora nacional para o transporte marítimo de longo curso. Ligar a Hidrovia Tietê-Paraná até o Rio da Prata, na Argentina, construindo uma inclusa sobre a barragem de Itaipu. Aumentar a competitividade dos portos brasileiros - Criar uma empresa de dragagem para evitar o assoreamento. Resgatar a competência das estatais/companhias Docas para projetar e licitar. Aprimorar a Lei de Portos para evitar que o armador domine toda a cadeia logística. Retomar o desenvolvimento da indústria naval, com a criação do Instituto Tecnológico Naval – ITN Garantir preços acessíveis na rede aeroviária nacional - A Infraero deve ser reestruturada para atender a massificação do transporte aéreo e a Secretaria de Aviação Civil deve resgatar status de Ministério. Melhorar a trafegabilidade e a segurança das rodovias - Investir em rodovias com duplicação dos corredores de tráfego intenso e aumentar o efetivo da Polícia Rodoviária Federal. Há necessidade de instalação de um sistema de balanças que coíba o trânsito com excesso de carga por caminhões. Renovação

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permanente da frota de caminhões, estudo de viabilidade do caminhão elétrico. Pavimentar uma rede extensa de estradas que ainda estão em chão de terra batida, com atenção às estradas vicinais que, em mau estado, prejudicam principalmente os pequenos produtores. Rever a questão da concessão de rodovias - O Brasil tem um excesso de rodovias pedagiadas (20% da malha pavimentada), fazendo com que seja o país com mais quilômetros de rodovias concedidas no mundo. Investir na BR 364 para garantir o escoamento por meio da infraestrutura existente em Porto Velho Concluir a rodovia 163 Cuiabá/Santarém Criar departamentos de transportes setoriais - O DNIT se sobrecarrega com múltiplas tarefas. Devem-se criar, em seu lugar, um Departamento Ferroviário Nacional, um Departamento Rodoviário Nacional e um Departamento Hidroviário Nacional, todos com maior poder de implantar políticas setoriais. Ampliar a participação popular na realização de grandes projetos - As grandes obras precisam ser amplamente discutidas, se necessário, com a realização de consulta popular. Um dos marcos legais a ser proposto é o Relatório de Impacto Social – RIS de cada obra a ser construída, junto com o EIA-RIMA, que mede o impacto ambiental. O RIS deve medir o grau de desconforto para a população atingida pelas obras, o impacto econômico durante a construção e o que ela representará na geração de emprego e renda. Se as externalidades negativas causadas pelas obras superarem os ganhos para a sociedade, essas não deverão sair do papel e outras soluções devem ser buscadas. Impulsionar a integração da América do Sul - Essa integração deve ser feita por ferrovias, hidrovias e rodovias. Dois projetos ferroviários importantes são a Ferrovia Transoceânica, que liga o Atlântico, nos portos do Brasil, com o Pacífico, aos portos do Peru, e a TransAmericana, que pode ligar Santos, passando por Corumbá, e acessar as ferrovias bolivianas para chegar a Antofogasta e Arica, portos no Pacífico chileno.

BANDEIRAS O Brasil nos Trilhos. Ampliação da rede ferroviária brasileira.

Controle e fiscalização das concessões públicas para transporte