organizaÇÕes que aprendem: prÁticas que...

14

Click here to load reader

Upload: buithien

Post on 20-Sep-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM:

PRÁTICAS QUE LEVAM AO DESEMPENHO

FLAVIO BUYS GONÇALVES (UFF)

[email protected] Martius Vicente Rodriguez Y Rodriguez (UFF)

[email protected]

O presente artigo pretende apresentar os resultados de estudo de caso realizado em empresa do setor energético brasileiro. Nele foram investigadas algumas das principais práticas segundo os conceitos de gestão do conhecimento e do aprendizaado organizacional, visando explicitar os resultados superiores obtidos pela organização resultantes de tais práticas. O modelo conceitual proposto tem por base as cinco disciplinas da Organização que Aprende, de Peter Senge, complementada pela sexta disciplina Conectividade, em suas três dimensões, Humana, Funcional e Organizacional, proposta por Heitor Chagas de Oliveira. Foi utilizada estratégia de estudo de caso com pesquisa exploratória. Na comparação, constatou-se que a maioria das características e variáveis propostas aproximam a Companhia de Energia do modelo conceitual de uma Organização de Aprendizagem com Ênfase na Conectividade das Pessoas. Palavras-chaves: Conhecimento organizacional; Aprendizagem organizacional; Gestão do Conhecimento; Conectividade

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

Page 2: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

2

1. INTRODUÇÃO

Segundo relatos históricos, a economia baseou-se em distintas formas de riqueza. A

terra, na Era Agrícola, o trabalho e o capital, na Era Industrial, foram os principais fatores de

produção que determinavam o nível de riqueza de quem os possuísse, fosse pessoa, empresa

ou país. Contudo, a Era Pós-Industrial trouxe importantes mudanças na forma de fazer e

pensar os negócios. Houve a migração para a economia do conhecimento, onde os produtos,

serviços e processos passaram a ser intensivos em tecnologia e conhecimento. Mesmo nos

setores tradicionais da economia, como agricultura e indústria, encontra-se, cada vez mais, a

presença de intangíveis.

Com os negócios cada vez mais globalizados, o ambiente empresarial de hoje é

impactado por mudanças contínuas: mercados que se alteram rapidamente, evolução

tecnológica ininterrupta e inovações organizacionais. A competição está cada vez mais

acirrada. Em uma economia tão instável e dinâmica, a principal fonte de vantagem

competitiva são as próprias pessoas da organização, em particular a habilidade que possuem

para antecipar mudanças, adaptar-se a novas circunstâncias e inventar novas práticas de

negócio.

O estabelecimento de estruturas que propiciem o aprendizado organizacional apóia o

desenvolvimento de estratégias competitivas duradouras. Estas estruturas podem ser baseadas

em conceitos relativamente simples, conforme foi verificado no estudo de caso que é

apresentado no decorrer do artigo.

1.1. OBJETIVO

O objetivo geral deste artigo é conhecer as práticas de gestão da Unidade Corporativa

de Recursos Humanos da Companhia de Energia, traçando uma breve comparação com as

características e variáveis propostas no modelo conceitual de uma Organização de

Aprendizagem com Ênfase na Conectividade das Pessoas, baseado, principalmente, nas

referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina: arte e prática da

Page 3: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

3

organização que aprende" e Heitor Chagas de Oliveira (2004) em "O Jogo da Malha:

Recursos Humanos e Conectividade".

Esta pesquisa pode ser classificada, conforme seus objetivos gerais, como

exploratória, tendo como estratégia principal que norteia o desenvolvimento deste projeto de

pesquisa o estudo de caso que permite a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro

de seu contexto na vida real. O estudo de caso pode ter uma mescla de evidências e parece ser

a estratégia mais indicada para a investigação de temas relativos ao campo de estudos

gerenciais e organizacionais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A crescente valorização da aprendizagem organizacional e do conhecimento, no

contexto organizacional, pode ser explicada por Fernandes (1998) por duas razões a serem

consideradas: a primeira, a urgência sentida pelas empresas, independentemente do setor de

atuação de mudanças que vêm ocorrendo no mundo globalizado, através do desenvolvimento

de estruturas e sistemas mais adaptáveis e eficientes, e a segunda, derivada dos impactos que

as mudanças tecnológicas vêm provocando nas organizações, a necessidade das empresas

aprenderem a produzir e /ou prestar serviços de uma maneira radicalmente nova.

Rasera (2002) destaca que, com um mercado cada vez mais exigente, mais

competitivo e instável, é preciso que uma organização possua cultura forte e flexível, capaz de

lidar com o ambiente de mudanças e, ao mesmo tempo, capaz de aprender.

Para Senge (2004), organizações que aprendem são aquelas “[...] nas quais as pessoas

expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde

se estimulam padrões de pensamento novos e abrangentes, a aspiração coletiva ganha

liberdade e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender juntas".

Conforme sugere Araújo (1994), é preciso que a aprendizagem seja capaz de chegar a

todos os níveis da organização, para que ela consiga ser traduzida em ação. Sensibilizar é

tornar o indivíduo integrante de um processo de mudança, é permitir o sim e o não, a crença e

descrença. O aprendizado deve estar relacionado não somente ao individual, mas sobretudo ao

coletivo, onde o conjunto de pessoas torna-se mais forte do que os indivíduos.

Felício Júnior (2002) destaca que nunca houve premência tão grande de dominar a

aprendizagem nas organizações. Isso acontece porque hoje quase todas as decisões

Page 4: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

4

importantes são tomadas em equipe, seja diretamente ou através da necessidade de equipe

para a tradução das decisões individuais em ação.

Para Oliveira (2004) não há como desenvolver plenamente o potencial de inteligência

de um indivíduo senão pela interação com outras inteligências. Este modelo de aprendizagem

com ênfase na conectividade de pessoas privilegia o desenvolvimento de competências

essenciais para a criação de compromissos de sinergia.

É preciso aprender o que é a empresa, quem são as pessoas e o que fazem. A dinâmica

interna real se expressa por meio da malha. Identifica-se o que faz cada área, e cada

empregado descobre que os resultados são mais importantes para quem os recebe do que para

quem os produz. (Oliveira, 2004, p.183).

Segundo Rodriguez (2002) o sucesso da gestão orientada ao conhecimento depende de

saber integrar cultura e processos, utilizando a tecnologia como ferramenta, mantendo

especial atenção ao principal capital que as empresas possuem: as pessoas.

3. ESTUDO DE CASO

3.1. METODOLOGIA

Foi aplicado questionário utilizado na pesquisa composto de 18 questões objetivas,

utilizando-se, para respondê-las, a Escala de Likert. Aos vários graus de discordância /

concordância foi atribuída a seguinte escala numérica, entre parênteses, para indicar a direção

da atitude do respondente: (1) Discordo Totalmente; (2) Discordo; (3) Concordo

Parcialmente; (4) Concordo e (5) Concordo Totalmente. Esta Escala de Likert de cinco pontos

e suas respectivas divisões é a mesma utilizada, por exemplo, por Terra em 1999-2000, em

sua pesquisa com mais de 400 empresas brasileiras onde seu objetivo era qualificar a Gestão

do Conhecimento nas empresas.

Destaca-se que o uso da Escala de Likert permite a verificação do grau de percepção,

da participação e do envolvimento das pessoas - fundamental para a avaliação do processo.

As variáveis foram agrupadas em seis blocos que correspondem às cinco disciplinas de

Senge (2004) e mais uma nova, a sexta disciplina, que corresponde à Conectividade em suas

três dimensões, Humana, Funcional e Organizacional, desenvolvida por Oliveira (2004).

Page 5: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

5

O questionário foi respondido por vinte e cinco empregados, todos da Unidade

Corporativa de Recursos Humanos, sendo um gerente executivo e vinte e quatro gerentes e

coordenadores da maior companhia de energia do Brasil e América Latina.

3.2. DISCIPLINAS DE APRENDIZAGEM

A disciplina Domínio Pessoal foi analisada através das perguntas do BLOCO 01 do

questionário, composto pelas variáveis: Competências; Política de Recrutamento e Seleção;

Metas Pessoais.

A disciplina Modelos Mentais foi analisada através das perguntas do BLOCO 02 do

questionário, composto pelas variáveis: Estrutura; Reflexão e Indagação; Geração de

Mudanças.

A disciplina Visão Compartilhada foi analisada através das perguntas do BLOCO 03

do questionário composto das variáveis: Resultado do Treinamento; Estratégia; Comunicação

Interna.

A disciplina Aprendizagem em Equipe foi analisada através das perguntas do BLOCO

04 do questionário, composto das variáveis: Ambiente de Aprendizagem; Compartilhamento

do Conhecimento; Habilidade Conjunta.

A disciplina Pensamento Sistêmico foi analisada através das perguntas do BLOCO 05

do questionário, composto das variáveis: Aprendizagem; Treinamento; Competência

Interdisciplinar.

A disciplina Conectividade foi analisada através das perguntas do BLOCO 06 do

questionário, composto pelas variáveis: Humana; Funcional; Organizacional.

Destaca-se que este questionário foi adaptado a partir do modelo de Felício Júnior,

2002 e acrescido da sexta e nova disciplina Conectividade pelo autor desta pesquisa.

3.2.1. DISCIPLINA DOMÍNIO PESSOAL

BLOCO 01 = 1ª Disciplina: Domínio Pessoal

1.1 COMPETÊNCIAS.

Page 6: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

6

Você considera que os empregados e corpo gerencial são pessoas criativas e procuram

continuamente expandir suas capacidades e habilidades pessoais.

1.2 POLÍTICA DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO

Na contratação de empregados, a companhia considera relevantes as características de

personalidade, como iniciativa, perspicácia, atualização e necessidades de auto-realização e

autoconfiança.

1.3 METAS PESSOAIS

Você considera que a companhia se preocupa em criar um ambiente que estimula os empregados a

continuamente trabalharem para alcançarem metas individuais.

Quadro 01 - Perguntas do BLOCO 01. Fonte: Buys Gonçalves, 2007, p.110.

Entre as variáveis relativas à disciplina Domínio Pessoal, a variável Competências

obteve a maior média entre os respondentes, representando 79,20%.

Este resultado sugere que grande parte dos empregados pesquisados considera-se

criativo e competente, procurando continuamente expandir suas capacidades e habilidades

individuais.

A menor média obtida na Disciplina Domínio Pessoal foi a variável Recrutamento e

Seleção com 44,80%. Este baixo índice percentual sugere que os empregados, em sua

maioria, não percebem ou não aplicam, no modelo atual de Recrutamento e Seleção da

Companhia de Energia, a exigência das análises quanto às características de personalidade,

como iniciativa, perspicácia, atualização e necessidades de auto-realização e autoconfiança.

Percebe-se pela definição de Senge, reforçada por Schikmann (2003), que o autor não

utiliza o termo domínio com o sentido de controle, mas como proficiência em determinados

assuntos. Desta maneira, a pessoa que apresenta domínio pessoal sobre determinado assunto e

consegue atingir resultados desejados é proficiente naquilo que faz e compromete-se com seu

aprendizado para conseguir a excelência dos seus objetivos. Ainda de acordo com Schikmann

(2003), essa disciplina envolve a contínua análise e o aprofundamento da visão pessoal. A

disciplina Domínio Pessoal está ligada ao crescimento da pessoa e à aprendizagem

organizacional, uma vez que a organização só aprende através dos indivíduos que a compõem

(SENGE, 2004).

3.2.2. DISCIPLINA MODELOS MENTAIS

Page 7: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

7

BLOCO 02 = 2ª Disciplina: Modelos Mentais

2.1 ESTRUTURA

A companhia está buscando maior flexibilidade através do enxugamento da estrutura hierárquica,

objetivando criar um processo interativo entre produção, educação e pesquisa.

2.2 REFLEXÃO E INDAGAÇÃO

A companhia proporciona condições e incentiva a reflexão e indagação, resultando em mudanças

de valores, atitudes e comportamentos pessoais.

2.3 GERAÇÃO DE MUDANÇAS

A companhia acredita em mudanças inovadoras e as promove, incentivando e valorizando o

surgimento de novas idéias dos empregados.

Quadro 02 - Perguntas do BLOCO 02. Fonte: Buys Gonçalves, 2007, p.113.

Entre as variáveis da disciplina Modelos Mentais, observa-se que a variável Mudança

obteve a maior média entre os respondentes representando 80,00% do total. Através deste

resultado, percebe-se que existe forte preocupação dos empregados respondentes da Unidade

Corporativa de Recursos Humanos quanto à sua capacidade de adaptar-se em função das

mudanças aceleradas, priorizando a questão da mudança como principal vantagem

competitiva.

O resultado obtido revela ainda que a Companhia de Energia prioriza e incentiva,

constantemente, o surgimento de novas idéias dos empregados por ela acreditar e valorizar as

mudanças inovadoras.

3.2.3. DISCIPLINA VISÃO COMPARTILHADA

BLOCO 03 = 3ª Disciplina: Visão Compartilhada

3.1 RESULTADO DO TREINAMENTO

O conhecimento adquirido nos treinamentos é obrigatoriamente compartilhado dentro da

companhia, através de reuniões, relatórios, bate-papos, internet, intranet, cursos e treinamentos

internos.

3.2 ESTRATÉGIA

Page 8: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

8

A companhia elabora suas estratégias de forma participativa e sistemática. Há consenso quanto aos

seus pontos fortes e pontos para melhoria. A missão da companhia é compreendida por todos.

3.3 COMUNICAÇÃO INTERNA

A burocracia é mínima e a comunicação interna flui em todos os sentidos, proporcionando

condições adequadas a um processo decisório ágil e participativo.

Quadro 03 - Perguntas do BLOCO 03. Fonte: Buys Gonçalves, 2007, p.116.

A disciplina Visão Compartilhada teve duas de suas três variáveis apresentando baixas

médias de adesão. São elas: a variável Comunicação Interna com média 2,72, em um total de

5,0 (referência máxima), equivalente a 54,40% do total, seguida pela variável Resultado do

Treinamento com média 2,64, que corresponde a 52,80% do total.

A prática da visão compartilhada envolve as habilidades de descobrir "imagens do

futuro" compartilhadas que estimulem o compromisso genuíno e o envolvimento, em lugar da

mera aceitação. "Ao dominar essa disciplina, os líderes aprendem como é contraproducente

tentar ditar uma visão, por melhores que sejam as suas intenções". (SENGE, 2004, p. 43)

Senge (2004) afirma que, nas organizações de aprendizagem, o líder assume novas

competências, entre elas a de desenvolver novas políticas, estratégias e estruturas que possam

ser capazes de expressar as idéias orientadoras para um novo negócio e criar processos de

aprendizagem efetivos, através dos quais políticas, estratégias e estruturas possam ser

continuamente aprimoradas.

Nesse contexto, observa-se que muito ainda precisa ser feito na Unidade Corporativa

de Recursos Humanos da Companhia de Energia em relação ao Compartilhamento do

Conhecimento conforme demonstrado através dos resultados obtidos nos questionários

aplicados, em relação as variáveis Comunicação Interna e Resultado do Treinamento, visando

sua melhoria.

3.2.4. DISCIPLINA APRENDIZAGEM EM EQUIPE

BLOCO 04 = 4ª Disciplina: Aprendizagem em Equipe

4.1 AMBIENTE DE APRENDIZAGEM

Page 9: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

9

O sucesso da companhia está na sua capacidade de criar novo conhecimento e difundi-lo na

organização como um todo.

4.2 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

A companhia prioriza o compartilhamento do conhecimento através de reuniões, debates, internet,

intranet etc. Existe incentivo para que empregados e o corpo gerencial troquem seus

conhecimentos.

4.3 HABILIDADE CONJUNTA

A companhia incentiva empregados e o corpo gerencial a reunirem-se em equipes para dialogarem

e, com isso, desenvolverem uma habilidade conjunta de pensar e agir em equipe.

Quadro 04 - Perguntas do BLOCO 04. Fonte: Buys Gonçalves, 2007, p.120.

Observa-se que as médias das variáveis ficaram entre 3,48 e 3,88 (média 3,62,

correspondente a 72,40%). Este resultado demonstra através da análise da Unidade

Corporativa de Recursos Humanos em relação à disciplina Aprendizagem em Equipe foi

considerada mediana em relação à Organização de Aprendizagem com Ênfase na

Conectividade das Pessoas.

Segundo Davenport & Prusak (1998), a melhor maneira de uma organização transferir

conhecimentos é contratar pessoas perspicazes e deixar que elas conversem entre si. Para o

autor, na economia regida pelo conhecimento, conversar é trabalhar. As reuniões face a face

são de longe os mais importantes canais de transferência de tecnologia, pois a transferência de

conhecimento tácito geralmente exige intenso contato pessoal.

Senge (2004, p. 43) afirma: "A disciplina da aprendizagem em equipe começa pelo

‘diálogo’, a capacidade dos membros de deixarem de lado as idéias preconcebidas e a

participarem de um verdadeiro pensar em conjunto".

O relacionamento de transferência pode ser uma parceria, uma relação de orientação

ou relação de aprendizado, mas algum tipo de relação de trabalho costuma ser essencial. Em

alguns casos não há substitutos para o contato direto.

3.2.5. DISCIPLINA PENSAMENTO SISTÊMICO

BLOCO 05 = 5ª Disciplina: Pensamento Sistêmico

Page 10: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

10

5.1 APRENDIZAGEM

O processo de aprendizagem na companhia é um processo coletivo, sistêmico, partilhado por

todos, e não privilégio de uma minoria pensante. Existe o incentivo ao intercâmbio com pessoas

de dentro e de fora da companhia.

5.2 TREINAMENTO

A companhia prioriza treinamentos aos empregados, em função de suas necessidades

profissionais, culturais e sociais.

5.3 COMPETÊNCIA INTERDISCIPLINAR

Você conhece as atividades de outros setores da companhia, participa de forma direta ou indireta

de suas atividades e acredita que seu trabalho afeta os trabalhos dos demais setores que compõem

a companhia.

Quadro 05 - Perguntas do BLOCO 05. Fonte: Buys Gonçalves, 2007, p.123.

Esta disciplina atingiu média de 4,05 que corresponde a 81,0% da proposta conceitual.

Observa-se que a disciplina Pensamento Sistêmico teve duas de suas três variáveis

enquadradas na melhor classificação da pesquisa. A variável Treinamento obteve a maior

média da pesquisa entre os respondentes com 4,24, representando 84,8%. Também pertence

ao Pensamento Sistêmico a segunda maior média da pesquisa com a variável Aprendizagem

com 4,04, correspondendo a 80,8%.

Sobre o aspecto do treinamento, Terra (2000) registra que é necessário alterar os

princípios que regem o treinamento clássico, organizado em torno de uma visão de processo

de aprendizado inadequado. Segundo o autor, é fundamental que a abordagem do

aprendizado, pelas organizações, considere seus aspectos ativos e interativos, valorizando a

visão sistêmica.

Constata-se que a estrutura da Companhia de Energia funciona de forma sistêmica,

permitindo descrever e entender as relações entre os vários elementos que compõem essa

estrutura, como os departamentos, processos, funções etc. O pensamento sistêmico ajuda a

enxergar as coisas como parte de um todo e não como peças isoladas, bem como criar e

mudar a sua realidade. Esta disciplina é vital para o processo de aprendizagem organizacional.

Destaca-se da análise dos resultados obtidos através dos respondentes da Unidade

Corporativa de Recursos Humanos da Companhia de Energia que a disciplina Pensamento

Page 11: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

11

Sistêmico foi a que mais se aproximou do modelo conceitual proposto de Organização de

Aprendizagem com Ênfase na Conectividade das Pessoas.

3.2.6. DISCIPLINA CONECTIVIDADE

BLOCO 06 = 6ª Disciplina: Conectividade

6.1 CONECTIVIDADE HUMANA

Você trabalha em uma organização onde se pode conhecer mais, aprendendo em conjunto com

outras pessoas que pertencem a um mesmo organismo e integram uma malha de relações de

interdependência.

6.2 CONECTIVIDADE FUNCIONAL

O processo de aprendizagem da companhia prioriza, sistematicamente, a idéia da integração

funcional.

6.3 CONECTIVIDADE ORGANIZACIONAL

Sinergia é algo construído sistematicamente ao longo do convívio entre os dirigentes de uma

empresa em regime de respeito recíproco entre as áreas e de disponibilidade para o ensino e a

aprendizagem.

Quadro 06 - Perguntas do BLOCO 06. Fonte: Buys Gonçalves, 2007, p.126.

Entre as questões relativas à disciplina Conectividade a variável Conectividade

Humana foi a que obteve a maior média entre os respondentes, 3,92, representando 78,4% do

total.

Oliveira (2004) destaca a ênfase na Conectividade Humana como o primeiro passo

para a construção de um modelo mental que privilegia a formação de uma consciência, onde a

aprendizagem se desenvolve em latitude e longitude, em progressão geométrica. Entretanto,

segundo o autor é preciso identificar e cuidar das relações de interdependência entre cada um

dos níveis de uma determinada estrutura, considerando os elementos humanos, funcionais e

organizacionais dessas relações.

Os resultados apresentados para esta disciplina demonstram que a análise da Unidade

Corporativa de Recursos Humanos da Companhia de Energia, no que diz respeito à disciplina

Page 12: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

12

Conectividade, é compatível com a proposta de uma Organização de Aprendizagem com

Ênfase na Conectividade das Pessoas.

3.3. RESULTADOS FINAIS DO ESTUDO DE CASO

Observou-se em relação às seis disciplinas analisadas do modelo conceitual proposto,

que as disciplinas Pensamento Sistêmico e Conectividade em primeiro e segundo lugar,

respectivamente, foram aquelas que mais se aproximaram de uma Organização de

Aprendizagem com Ênfase na Conectividade das Pessoas.

Destaca-se que a disciplina Pensamento Sistêmico, que obteve a melhor média entre as

seis disciplinas, foi a única disciplina a estar plenamente de acordo com o modelo conceitual

proposto. Com este resultado, nota-se que a Companhia de Energia pratica o pensamento

coletivo e visão sistêmica de forma continuada através do processo de aprendizagem que é

partilhado por todos.

Em relação à disciplina Conectividade em suas três dimensões, é possível perceber o

esforço da Companhia em aplicar, sistematicamente, seus conceitos e práticas por toda a

estrutura organizacional.

Pela análise dos resultados é possível ainda observar que a Companhia de Energia

prioriza, promove e incentiva continuamente a interação do ambiente interno e externo.

Observou-se também que a análise das duas primeiras disciplinas mais próximas do modelo

conceitual proposto indica que a integração e a interação de todos empregados, funções e

departamentos são percebidas por todos na organização como uma vantagem competitiva e

que essa interação e integração podem ser diferenciais positivos na busca da excelência

organizacional.

Nesse contexto, conclui-se, entretanto, que muito ainda precisa ser feito na Companhia

de Energia em relação ao compartilhamento do conhecimento conforme demonstrado através

da análise dos resultados obtidos na pesquisa através das variáveis Comunicação Interna e

Resultado do Treinamento, visando sua efetiva melhoria na busca constante da alta

competitividade e da excelência corporativa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 13: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

13

Percebe-se a cada dia que, em uma economia cada vez mais globalizada, complexa e

incerta, com o maior dinamismo que a caracteriza, a principal fonte de competitividade de

uma organização são as pessoas. Através de seus relacionamentos, conhecimentos e suas

interações com outras inteligências que geram mais aprendizado, novos conhecimentos, novas

soluções e estimulam a criatividade e inovação, as pessoas oferecem à organização enorme

potencial de desenvolvimento e aprendizado.

Esse aprendizado organizacional, portanto, advém da integração interpessoal,

interfuncional ou interdepartamental, interagindo com o ambiente interno e externo de uma

organização de aprendizagem. A essas relações, interações e integrações entre pessoas,

funções e departamentos de uma organização denominam-se, nesta pesquisa, respectivamente

Conexões entre Pessoas ou Humanas, Conexões Funcionais e Conexões Organizacionais.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, Luis César G. Organização & Métodos: Integrando comportamento, estrutura, estratégia e tecnologia. São Paulo: Atlas, 1994.

BUYS GONÇALVES, Flávio. Organização de aprendizagem com ênfase na conectividade das pessoas: estudo de caso. 151p. Dissertação (Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão) – Universidade Federal Fluminense / LATEC, Niterói, 2007.

DAVENPORT, T., PRUSAK L. Conhecimento Empresarial: Como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

FELÍCIO JUNIOR, Joaquim. Learning Organization numa instituição de ensino superior: uma proposta empreendedora. 172p. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Fundação Educacional de Caratinga, Minas Gerais, 2002.

FERNANDES, Amarildo. Conhecimento e aprendizagem organizacional em perspectiva. Disponível em: <http://www.competenet.org.br/evento/seminário.html>. Acesso em: 17 out. 2006.

OLIVEIRA, Heitor Chagas. O Jogo da Malha: recursos humanos e conectividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004.

Page 14: ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM: PRÁTICAS QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_069_490_10676.pdf · referências bibliográficas de Peter Senge (2004) em "A Quinta Disciplina:

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

14

RASERA, Luiz Antonio. A cultura e a pré-disposição para um ambiente de aprendizagem organizacional: um estudo da cultura da Isabela S/A. 111p. Dissertação (Mestrado Executivo) - Fundação Getúlio Vargas / EBAPE, Rio de Janeiro, 2002.

RODRIGUEZ, Martius Rodriguez Y. Gestão Empresarial: organizações que aprendem. Rio de Janeiro: Qualitymark/Petrobras, 2002.

SCHIKMANN, Rosane. Características de uma organização de aprendizagem: pesquisa em uma empresa brasileira. 139p. Dissertação (Mestrado em Administração) - EAESP/FGVP, São Paulo, 2003.

SENGE, Peter M. A quinta disciplina: Arte e prática na organização que aprende. São Paulo: Best Seller, 2004.

TERRA, J. C. C. Gestão do Conhecimento: o grande desafio empresarial. São Paulo: Negócio, 2000.