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2 a edição revista e atualizada Jana Tabak

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Organizações Internacionais 2ª edição apresenta os principais conceitos e discussões referentes às organizações internacionais (intergovernamentais e não-governamentais), com foco nas práticas e conceitos centrais. Os capítulos incluem análise de cada prática, descrição histórica, mecanismos e desenhos institucionais característicos. O livro busca também compreender e discutir a complexa atuação das organizações e refletir sobre as tensões e dilemas que perpassam e constituem a política internacional.

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2a edição revista e atualizada

Jana Tabak

A oportuna atualização de “Organizações Internacionais: História e Práticas” ocorre em momento de redistribuição de poder geopolítico – da modelo unipolar para uma configuração multipolar – e de afirmação da presença global do Brasil.

Desde seus primórdios, no Congresso de Viena, o multilateralismo se afirmou como contribuição civilizacional em prol do diálogo e da paz. Hoje, a celebração dos 70 anos da ONU reacende o debate sobre a revitalização das instituições existentes. A criação da Comissão de Consolidação da Paz e do Conselho de Direi-tos Humanos, assim como os arranjos institucionais para adaptar a ONU aos desa-fios de uma nova agenda para o desenvolvimento sustentável, são exemplos de vitalidade e capacidade de renovação do multilateralismo. Ao mesmo tempo, persiste o imperativo de atualizar a composição do Conselho de Segurança.

O Brasil participa ativamente dos esforços para renovar o multilateralismo em vertentes que vão dos mecanismos de governança à paz e segurança, desenvolvi-mento sustentável e direitos humanos. Exemplos do engajamento brasileiro incluem a Rio+20 e os debates sobre privacidade na era digital e sobre a “respon-sabilidade ao proteger”. Brasileiros dirigem, hoje, entidades como OMC, FAO, OICafé e o Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica. O fortaleci-mento do MERCOSUL, da UNASUL e da CELAC reflete um Brasil à frente de processos de aprimoramento das instâncias de integração regional, ao passo que IBAS, BRICS, ASA e ASPA representam novas iniciativas da diplomacia brasileira de alcance inter-regional.

Diferentemente do ocorrido em processos anteriores de reordenamento global, como em 1814 e nos pós-I e II Guerras Mundiais, quando o Brasil ainda podia ser considerado ator periférico, hoje estamos aptos a ajudar a moldar uma nova ordem mais cooperativa, justa e pacífica. O livro de Monica Herz, Andrea Hoff-mann e Jana Tabak será ferramenta importante nesse contexto.

Embaixador Antonio Aguiar Patriota

Esta nova edição de “Organizações Internacionais – História e Práticas” é útil a estudantes de todas as idades.

Aos que se iniciam, pela perspicácia com que as autoras, em linguagem clara, concisa e objetiva, explicam dinâmicas complexas do mundo atual, informam do essencial, despertam curiosidades e indicam boas leituras adicionais sobre cada tema examinado.

Aos que, depois de décadas, ainda se esforçam para interpretar um mundo em transformação, o texto provoca: densa e atual, a discussão teórica informa o debate sobre as perspectivas de governança global, que se constrói de todos os ângulos relevantes.

A todos, o livro entrega mais do que promete: à lúcida análise do processo de organização das relações internacionais contemporâneas somam-se pistas sobre as condições em que intelectuais e operadores políticos influenciam o curso dos acontecimentos.

Boa leitura!

Antonio Jorge Ramalho

ANDREA RIBEIRO HOFFMANN é, atualmente, Professora Assistente na Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde também trabalhou entre 2003 e 2008. No entremeio foi Professora Visitante na Universidade Livre de Berlim (2012-2015), Universidade de Erfurt (2010-2012) e London School of Economics (2008-2010). Realizou pesquisas nas áreas de organizações internacionais, integração regional, regionalismo comparado e questões de legitimade e democracia na política global. Entre suas últimas publicações estão: Inter- and Transregionalism, no Oxford Handbook of Comparative Regionalism, editado por Tanja Börzel e Thomas Risse; UNASUR and the reconfiguration of cooperation in South America, coautoria com Jose Ruiz Briceno, publicado no Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies; Human Rights in Mercosur: at last, em Governance Transfer by Regional Organizations, editado por T.Börzel e V. van Hüllen; e EU Democracy Promotion in Latin America: much ado about nothing?, em The substance of European Union Democracy Promotion.

JANA TABAK possui bolsa de pós-doutorado vinculada ao Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, com a pesquisa direcionada aos seguintes temas: política internacional, segurança internacional, instituições internacionais e processos de mediação internacional. Seu doutorado em Relações Internacionais foi realizado no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (2014) com foco na participação de crianças-soldado em conflitos armados internacionais. Jana publicou um livro: Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty (coautoria Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) pela Academic Publishing em 2012.

MONICA HERZ é professora associada da PUC-Rio. Possui doutorado pela London School of Economics and Political Science e é autora de três livros: Organizações Internacionais: histórias e práticas (coautoria com Andréa Ribeiro Hoffman) pela Elsevier; Ecuador vs. Peru: Peacemaking Amid Rivalry (coautoria com João Pontes Nogueira) e Global Governance Away From the Media. Ela também publicou diversos artigos e capítulos de livros sobre segurança latino-americana, organizações internacionais e a inserção internacional do Brasil.

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Organizações Internacionais:História e Práticas

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Organizações Internacionais:História e Práticas

Mônica Herz

Andrea Ribeiro Hoffmann

Jana Tabak

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CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

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H493o2. ed.

Herz, Mônica Organizações internacionais : história e práticas / Mônica Herz, Jana Tabak, Andrea Ribeiro Hoffmann. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 24 cm.

ISBN 978-85-352-7986-3

1. Relações internacionais. 2. Globalização. I. Hoffman, Andréa Ribeiro. II. Tabak, Jana. III. Título.

15-22674CDD: 327CDU: 327

© 2015, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/2/1998.Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Copidesque: Gypsi CannetiRevisão Gráfica: Gabriel PereiraEditoração Eletrônica: SBNigri Artes e Textos Ltda.

Elsevier Editora Ltda.Conhecimento sem FronteirasRua Sete de Setembro, 111 – 16o andar20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

Rua Quintana, 753 – 8o andar04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil

Serviço de Atendimento ao [email protected]

ISBN 978-85-352-7986-3ISBN (versão digital) 978-85-352-7987-0

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.

Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.

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Dedicatória

Para Sandra, Ana Maria, Eliane, Silvio, George e Daniel, nossos pais.

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Sumário

Apresentação IX

Siglas XIII

Capítulo 1 Organizações Internacionais: Definição e História 1

Capítulo 2 Contribuições Teóricas para o Estudo de Organizações Internacionais 23

Capítulo 3 Segurança Coletiva 63

Capítulo 4 Governança Global e as Agências Especializadas 107

Capítulo 5 Integração Regional 137

Capítulo 6 Sociedade Civil Global 191

Referências Bibliográficas 219

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Apresentação

AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS são hoje parte central da política inter-nacional e da vida social em diferentes partes do mundo. A prática pro-

fissional, a compreensão do mundo que nos cerca e o exercício da cidadania exigem atenção ao tema.

Parte considerável dos esforços da diplomacia de cada país se volta para a atuação dentro das organizações intergovernamentais. As forças ar-madas lidam com preparativos para operações de paz; em seu treinamen-to, podemos discernir normas internacionais sobre o uso de armas ou o tratamento de prisioneiros de guerras geradas no âmbito das organizações internacionais.

Elas estão presentes em nosso cotidiano, em notícias que lemos e ou-vimos sobre a participação da ONU (Organização das Nações Unidas) no processo de reconstrução de Estados, sobre as negociações comerciais na Organização Mundial do Comércio, sobre as tentativas de combater a epide-mia da AIDS e do Ebola e sobre os esforços para sustar a crise humanitária na Síria e na Líbia. Muitas das normas com as quais convivemos, tais como as referentes à administração do déficit público, à proteção das crianças ou aos procedimentos diante de epidemias, são debatidas e geradas nas organi-zações internacionais. Algumas das questões políticas, econômicas, sociais e culturais que mais nos afetam só podem ser compreendidas inteiramente se levarmos em conta o papel e o funcionamento das organizações interna-cionais.

Diante dessa realidade, a produção acadêmica sobre o tema tem cres-cido e se difundido. Especialistas em relações internacionais produzem

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pesquisas e debates sobre as inúmeras organizações internacionais contem-porâneas. Os cursos de Relações Internacionais, Direito, Ciência Política, Economia, Jornalismo e Sociologia, entre outros, incorporam cursos sobre organizações internacionais aos seus currículos.

Quando primeiramente lançado em 2004, este livro buscou responder à necessidade de tratar o tema de forma ampla e acessível, mas também por meio de análises que visavam gerar uma reflexão crítica e aprofundada so-bre as organizações internacionais. Naquele momento nossa finalidade era atender ao interesse de alunos de graduação e pós-graduação, professores, diplomatas, profissionais e ativistas que convivem com as organizações in-ternacionais. Continuamos nesse caminho.

Mais de dez anos se passaram e, nesta edição revisada do livro, procu-ramos somar ao estudo das organizações internacionais a discussão acerca dos desafios enfrentados no contexto internacional diante da ascensão das potências emergentes, o surgimento de novos entraves à cooperação inter-nacional, tais como a crise financeira e econômica que perpassa diversos países desde 2008, além das diferentes formas de violência armada que tes-temunhamos nos variados conflitos em todo mundo e nos fazem refletir e questionar os conceitos de paz e segurança internacionais, bem como os mecanismos desenvolvidos para alcançá-los. Em um contexto, no qual a go-vernança global se tornou um mantra entre os estudantes de política interna-cional, este livro objetiva, por um lado, compreender e discutir a complexa atuação das organizações internacionais que envolvem um escopo vasto de atividades e de atores. E, por outro lado, desejamos, por meio dos diferen-tes temas abordados nos capítulos, refletir sobre as tensões e dilemas que perpassam e constituem a política internacional, como as dúvidas acerca do futuro do Estado-nação diante dos projetos – e promessas – cosmopolitas de construção de uma comunidade global que se tornam presentes ao mesmo tempo que movimentos e relações interestatais apontam claramente para o que Guzzini (2013) chamou de “retorno da geopolítica”.

A edição revisada do livro também inclui mais uma autora, que se junta ao grupo: Jana Tabak. São três gerações de pesquisadoras que vêm de trajetórias acadêmicas e experiências de vida distintas para refletir e com-preender os desafios contemporâneos por meio dos estudos das organiza-ções internacionais. Nos últimos dez anos, Jana passou de jornalista à dou-tora em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio; Andrea vivenciou um período no exterior, quando lecionou em

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Apresentação XI

diferentes instituições, como na Universidade Livre de Berlim; e Monica de-dicou-se ao ensino e pesquisa em relações internacionais, podendo partici-par ativamente do processo de construção da área de relações internacionais no país.

Embora o texto trate o assunto da perspectiva da disciplina de rela-ções internacionais, ressaltamos que sua leitura não requer conhecimento anterior específico. Apresentamos as questões, os conceitos e as práticas que constituem a realidade das organizações internacionais contemporâneas. O leitor encontrará os instrumentos analíticos que permitem compreender o processo de criação das organizações, seu funcionamento e sua influência sobre a política internacional. Focalizamos aspectos históricos, a estrutura institucional, as dinâmicas políticas e também as críticas feitas às organiza-ções internacionais. Para ilustrar a discussão do tema, mostramos em deta-lhes algumas organizações mais representativas. Enfatizamos a atuação das organizações intergovernamentais e também tratamos das não governamen-tais. Diferentes movimentos sociais e grupos de interesse se mobilizam para participar de debates realizados dentro dessas organizações.

O livro está organizado por conceitos centrais da área de estudos: se-gurança coletiva, governança global e as agências especializadas, integração regional e sociedade civil global. Esses conceitos permitem uma compreensão do papel e do funcionamento das organizações internacionais em um contexto amplo, ressaltando as formas de interação entre as organizações internacio-nais, delas com outras instituições e os processos da política internacional.

Em cada capítulo o leitor encontrará uma explicação do conceito abor-dado, a história e uma análise do funcionamento de organizações relevantes. As referências bibliográficas visam oferecer um guia para o aprofundamento dos estudos.

No primeiro capítulo oferecemos uma definição das organizações in-ternacionais, delineando suas características comuns. Explicamos como elas são e apresentamos fóruns, atores e mecanismos de cooperação do sistema internacional. A seguir, relatamos uma breve história das organizações inter-nacionais modernas.

As teorias de relações internacionais são discutidas no Capítulo 2. Ini-cialmente, descrevemos de forma sucinta a área de estudos de organizações internacionais. Apresentamos os pressupostos e os conceitos centrais de cada teoria e discutimos a compreensão específica do papel das organizações internacionais na política internacional.

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O Capítulo 3 aborda os três momentos históricos em que o conceito de segurança coletiva constituiu a base para a criação, ou para a redefinição, de uma organização intergovernamental universal. Tratamos da criação e do funcionamento da Liga das Nações e da ONU e, por fim, das transformações do comportamento da ONU no campo da segurança após a Guerra Fria.

No Capítulo 4, analisamos, no âmbito da governança global, o surgi-mento e o funcionamento das agências internacionais especializadas. Apon-tamos a relação dessas organizações com a Liga das Nações e com a ONU. Além disso, analisamos seu papel na formulação de normas nas mais diver-sas áreas e seu impacto sobre os Estados. As atividades e o funcionamento da União Internacional de Telecomunicações, da Organização Mundial da Saúde e da UNICEF são vistos em detalhes.

A integração regional é abordada no Capítulo 5. Situamos historica-mente o surgimento das ondas de regionalismo e das principais organizações de integração regional criadas nesses contextos. Destacamos o desenvolvi-mento dos processos de integração regional na Europa e na América do Sul, e de modo mais específico a criação da União Europeia, do Mercosul e, adi-cionalmente nesta edição, da UNASUL.

Por fim, no Capítulo 6, introduzimos o conceito de sociedade civil global para apresentar as organizações não governamentais internacionais. Detalhamos seu surgimento, sua atuação e sua relação com os Estados e as organizações intergovernamentais. A história e as principais atividades da Cruz Vermelha, do Greenpeace e da Human Rights Watch são consideradas em suas especificidades.

Nossos alunos foram fundamentais para a realização deste livro. A convivência com os alunos dos cursos de graduação e pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, sua motivação e seus ques-tionamentos foram um incentivo para nos engajarmos neste empreendimen-to. O ambiente acadêmico estimulante do IRI e o apoio de sua secretaria também contribuíram para a realização deste projeto.

Agradecemos o suporte da CAPES, da FAPERJ e do CNPq e a nossos alunos Lucas Perez e Matheus Ferrari

João, Florian e Yaniv acompanharam nossos esforços, opinaram sobre o trabalho e nos apoiaram ao longo do processo. Seu lugar é daqueles que não se descreve. Hannah, Rachel, Adriana e Theo são uma inspiração cons-tante. Obrigada também à equipe da Elsevier Editora.

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Siglas

(As siglas foram usadas segundo sua versão em inglês quando sua ver-são em português ainda não foi incorporada à prática e literatura no país).

ACP – African, Caribeean and Pacific Group of States (Grupo de Estados Africanos, do Caribe e do Pacífico)

ALADI – Associação Latino-Americana de Integração

ALALC – Associação Latino-Americana de Livre-Comércio

ALCA – Área de Livre-Comércio das Américas

APEC – Asia-Pacific Economic Cooperation (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico)

ASEAN – Association of Southeast Asian Nations (Associação das Nações do Sudeste Asiático)

BIRD – International Bank for Reconstruction and Development (Banco In-ternacional para a Reconstrução e Desenvolvimento)

CAN – Comunidade Andina

CdE – Conselho da Europa

CECA– Comunidade Europeia do Carvão e do Aço

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CEE – Comunidade Econômica Europeia

CEPAL – Comissão Econômica e Social para a América Latina e o Caribe

CFI – International Finance Corporation (Corporação Financeira Interna-cional)

CIJ – Corte Internacional de Justiça

CIS – Comunidade dos Estados Independentes

CMC – Conselho do Mercado Comum

COMECON – Council for Mutual Economic Cooperation (Conselho para Assistência Econômica Mútua)

CTBTO – Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization (Organiza-ção Preparatória para o Tratado de Proibição de Testes Nucleares)

DESA – Department of Economic and Social Affairs (Departamento de As-suntos Econômicos e Sociais)

DFS – Department of Field Support (Departamento de Apoio Logístico)

DGACM – Department for General Assembly and Conference Management (Departamento para a Assembleia Geral e Gestão de Conferências)

DM – (Departamento de Administração)

DPA – Department of Political Affairs (Departamento de Assuntos Políticos)

DPI – Department of Public Information (Departamento de Informação Pú-blica)

DPKO – Department for Peacekeeping Operations (Departamento de Ope-rações de Paz)

DSS – United Nations Department of Safety and Security (Departamento de Segurança)

ECA – Economic Commission for Africa (Comissão Econômica para a África)

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Siglas XV

ECE – Economic Commission for Europe (Comissão Econômica para a Eu-ropa)

ECLAC/CEPAL – Economic Commission for Latin America and Caribbean (Comissão Econômica para América Latina e Caribe)

ECOSOC – Economic and Social Council (Conselho Econômico e Social)

ECOWAS – Economic Community of West African States (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental)

EOSG – Executive Office of the Secretary-General (Escritório Executivo do Secretário-Geral)

ESCAP – Economic and Social Commission for Asia and the Pacific (Comis-são Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico)

ESCWA – Economic and Social Comission for Western Asia (Comissão Eco-nômica e Social para a Ásia Ocidental)

EURATOM – European Atomic Energy Community (Comunidade Europeia de Energia Atômica)

FAD – International Fund for Agricultural Development (Fundo Internacio-nal para o Desenvolvimento Agrícola)

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organiza-ção das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)

GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio

GPS – Sistema de Posicionamento Global

IAEA/AIEA – International Atomic Energy Agency (Agência Internacional de Energia Atômica)

IASC – Inter-Agency Standing Comittee (Comitê Permanente Interagências)

ICAO – International Civil Aviation Organization (Organização da Aviação Civil Internacional)

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ICSID – International Centre for Settlement of Investment (Centro Interna-cional para Solucionar de Disputas de Investimento)

IDA – International Development Association (Associação Internacional do Desenvolvimento)

IFAD/FIDA – International Fund for Agricultural Development (Fundo In-ternacional de Desenvolvimento Agrícola)

ILO/OIT – International Labour Organization (Organização Internacional do Trabalho)

IMF/FMI – International Monetary Fund (Fundo Monetário Internacional)

IMO/OMI – International Maritime Organization (Organização Marítima Internacional)

INTAL – Instituto para Integração Latino-Americana

ITC – International Trade Centre (Centro de Comércio Internacional)

ITU/UIT – International Telecommunication Union (União Internacional de Telecomunicações)

MDG/ODM – Millennium Development Goals (Objetivos de Desenvolvi-mento do Milênio)

Mercosul – Mercado Comum do Cone Sul

MIGA – Multilateral Investment Guarantee Agency (Agência Multilateral para Garantir o Investimento)

NAFTA – North American Free Trade Agreement (Acordo de Livre-Comér-cio da América do Norte)

NEPAD – New Partnership for Africa’s Development (Nova Parceria para o Desenvolvimento de África)

NGO – Non-governmental organization(Organização não governamental)

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

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Siglas XVII

OCHA – Office for the Coordination of Humanitarian Affairs (Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários)

OEA – Organização dos Estados Americanos

OHCHR/ ACNUDH – Office of the High Commissioner for Human Rights (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Huma-nos)

OIOS – Office of Internal Oversight Services (Escritório de Serviços de In-vestigação Interna)

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OLA – Office of Legal Affairs (Escritório de Assuntos Legais)

ONUCA – United Nations Observer Group in Central America (Grupo de Observação da ONU na América Central)

OPCW/OPAQ – Organization for the Prohibition of Chemical Weapons (Organização para Proibição de Armas Químicas)

OPEP – Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo

OSAA – The UN Office of the Special Adviser on Africa (Escritório do Con-selheiro Especial para África)

OSCE – Organização para Segurança e Cooperação na Europa

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte

OUA – Organização da União Africana

PNUD – Programa da ONU para o Desenvolvimento

SADC – Southern African Development Community (Comunidade do Sul da África para o Desenvolvimento)

SEATO – Organização do Tratado do Sudeste Asiático

SELA – Sistema Econômico Latino-Americano

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Organizações InternacionaisXVIII ELSEVIER

SRSG/CAAC – UN Office of the Special Representative of the Secretary Ge-neral for Children and Armed Conflict (Escritório do Representante Especial do Secretário-Geral para Crianças e Conflitos Armados)

TIAR – Tratado Interamericano de Defesa

UA – União Africana

UE – União Europeia

UIA – União das Associações Internacionais

UN/HABITAT – United Nations Human Settlements Programme (Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos)

UNAIDS – The Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids)

UNASUL – União de Nações Sul-Americanas

UNCDF – United Nations Capital Development Fund (Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital)

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development (Confe-rência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento)

UNDP/PNUD – United Nations Development Programme (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)

UNEP/PNUMA – United Nations Environment Programme (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente)

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organiza-tion (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)

UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática)

UNFPA – United Nations Population Fund (Fundo das Nações Unidas para a População)

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Siglas XIX

UNFRA – United Nations Population Fund (Fundo da ONU para Popula-ção)

UNHCR/ACNUR – United Nations High Commissioner for Refugees (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados)

UNICEF – United Nations Children’s Fund (Fundo das Nações Unidas para a Infância)

UNICRI – United Nations Interregional Crime and Justice Research Institu-te (Instituto Interregional das Nações Unidas para Pesquisas sobre Delinqu-ência e Justiça)

UNIDIR – United Nations Institute for Disarmament Research (Instituto das Nações Unidas para a Investigação sobre Desarmamento)

UNIDO – United Nations Industrial Development Organization (Organiza-ção das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial)

UNIFEM – United Nations Development Fund for Women (Fundo de De-senvolvimento da ONU para a Mulher)

UNISDR – The United Nations Office for Disaster Risk Reduction (Estraté-gia Internacional das Nações Unidas para Redução de Desastres)

UNITAR – The United Nations Institute for Training and Research (Instituto das Nações Unidas para a Formação e Investigação)

UNMIK – United Nations Interim Administration Mission in Kosovo (Mis-são de Administração Interina da ONU no Kosovo)

UNMISET – United Nation Mission in Support of East Timor (Missão de Apoio da ONU ao Timor Leste)

UNODA – United Nations Office for Disarmament Affairs (Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento)

UNODC – United Nations Office on Drugs and Crime (Escritório das Na-ções Unidas sobre Drogas e Crime)

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Organizações InternacionaisXX ELSEVIER

UNOG - United Nations Office at Geneva (Escritório das Nações Unidas em Genebra)

UN-OHRLLS – United Nations Office of the High Representative for the Least Developed Countries, Landlocked Developing Countries and Small Island Developing States (Escritório do Alto Representante para os Países Menos Desenvolvidos, Países em Desenvolvimento Sem Saída para o Mar e Países Insulares em Desenvolvimento)

UNON - United Nations Office at Nairobi (Escritório das Nações Unidas em Nairóbi)

UNOPS – United Nations Office for Project Services (Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos)

UNOV – United Nations Office in Vienna (Escritório das Nações Unidas em Viena)

UNRISD – United Nations Research Institute for Social Development (Insti-tuto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social)

UNRWA – United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos)

UNSSC – United Nations System Staff College (Escola de Funcionários das Nações Unidas)

UNTAC UN – Transitional Authority in Cambodia (Autoridade de Transição da AC UNONU no Camboja)

UNTAG UN – Transition Assistance Group in Namíbia (Grupo da ONU de Assistência à Transição na Namíbia)

UNU – United Nations University (Universidade das Nações Unidas)

UNV/VNU – United Nations Volunteers (Programa de Voluntários das Na-ções Unidas)

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Siglas XXI

UN-Women/ ONU Mulheres – The United Nations Entity for Gender Equa-lity and the Empowerment of Women (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres)

UNWTO/OMT – United Nations World Turism Organization (Organização Mundial do Turismo)

UPU – Universal Postal Union (União Postal Universal)

WFP/PMA – World Food Programme (Programa Mundial de Alimentos)

WHO/OMS – World Health Organization (Organização Mundial da Saúde)

WIPO/OMPI – World International Property Organization (Organização Mundial de Propriedade Intelectual)

WMO/OMM – World Metereological Organization (Organização Meteoro-lógica Mundial)

WTO/OMC – World Trade Organization (Organização Mundial do Comér-cio)

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CAPÍTULO

1

Organizações Internacionais: Definição e História

PrinciPais questões abordadas

As organizações internacionais e os outros mecanismos de estabilização do sistema internacional.

O que são organizações internacionais, quais são os papéis que preenchem e como funcionam.

Quem são os servidores públicos internacionais. Quais são os antecedentes das organizações internacionais contemporâneas. Como surgiram as organizações internacionais modernas.

Definição de Organizações InternacionaisAs Organizações Intergovernamentais Internacionais (OIG), formadas

por Estados, e as Organizações Não Governamentais Internacionais (ONGI) são a forma mais institucionalizada de realizar a cooperação internacional. A simples observação do número de organizações existentes hoje atesta sua importância: cerca de 238 OIGs e de 6.500 ONGIs.1

A rede de organizações internacionais faz parte de um conjunto maior de instituições que garantem certa medida de governança global.2 Normas, regras, leis, procedimentos para a resolução de disputas, ajuda humanitária,

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utilização de força militar, programas de assistência ao desenvolvimento, mecanismos para coletar informações são algumas das práticas que produ-zem a governança global.

O caráter permanente das OIGs as diferencia de outras formas de cooperação internacional com um nível mais baixo de institucionalização. As organizações internacionais são constituídas por aparatos burocráticos, dispõem de orçamentos e estão alojadas em prédios. As OIGs empregam servidores públicos internacionais, mas devemos salientar que outros atores fazem parte do vasto conjunto envolvido no processo de governança global, como grupos de especialistas, redes globais envolvendo indivíduos, agências governamentais, corporações e associações profissionais. O conceito de go-vernança se tornou central no debate internacional a partir dos anos 1990 buscando responder à crescente complexidade da interação social no âmbito internacional. Ele se distingue da ideia de governo uma vez que as regras e os mecanismos gerados não são garantidos por uma autoridade soberana. Trata-se assim de um conceito mais amplo, que envolve a cooperação, regras e normas que geram limites e possibilidades para as relações sociais, além de permitirem a resolução de conflitos e problemas em diversas áreas de convivência, envolvendo atores, processos e estruturas. Voltaremos a esse conceito no Capítulo 4.

O sistema internacional tem sido caracterizado, desde a gestação da disciplina de relações internacionais durante as primeiras décadas do sécu-lo XX, como um sistema político anárquico, tendo esse conceito adquirido diferentes significados ao longo da história e de acordo com diferentes tradições teóricas. Contudo, a ideia de que a ausência de um Estado supra-nacional gera uma prática social e política específica, em particular no que se refere ao uso legítimo da violência e à ausência de uma instância central geradora de normas legítimas e sancionadas, é um denominador comum mínimo. Nesse contexto, ao longo da história de mais de quatro séculos do sistema internacional moderno, inúmeros mecanismos de estabilização do sistema foram gerados. Arranjos ad hoc, o multilateralismo, os regimes internacionais, as alianças militares e a segurança coletiva estão direta-mente associados ao processo de criação das OIGs. O balanço de poder, as zonas de influência, a estabilidade hegemônica, o Concerto de Estados, o direito internacional, as práticas diplomáticas, a cultura internacional são também muito significativos.

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Arranjos ad hoc, ou seja, formas de cooperação voltadas para um pro-blema específico em um tempo determinado, muitas vezes dão origem às OIGs. Quando o espaço institucional apropriado para uma negociação ou para a realização de um projeto específico não está disponível, os atores in-teressados geram um arranjo ad hoc, com uma ou várias reuniões de cúpula ou conferências internacionais. Dessa maneira, em meados dos anos 1970 e em face dos problemas econômicos do período surgiu o Grupo dos Sete3. Da mesma forma, a Conferência de Ottawa surgiu para eliminação de minas antipessoais em dezembro de 1997 e os tribunais, para julgamento de crimes contra a humanidade gerados pelo Conselho de Segurança da ONU para ca-sos específicos. A experiência com cortes ad hoc para julgamento de crimes contra a humanidade foi fundamental para o processo de criação do Tribunal Penal Internacional em 2002.

O multilateralismo,4 ou seja, a coordenação de relações entre três ou mais Estados de acordo com um conjunto de princípios, já representa um passo adiante no processo de institucionalização das relações internacionais. Três conceitos definem a prática do multilateralismo, segundo John Ruggie (1993). Princípios norteiam a coordenação entre os Estados, como o princí-pio da não discriminação ou nação mais favorecida, o qual governa o regime de comércio multilateral.5 O conceito de indivisibilidade indica que os prin-cípios acordados são aplicados a todos os Estados envolvidos. Finalmente, o conceito de reciprocidade difusa, mais amplo e abstrato do que a ideia de troca mútua, marca essa arquitetura das relações internacionais. A associa-ção entre o multilateralismo e as OIGs é intensa, pois provê o espaço social e os recursos necessários para a prática do multilateralismo poder avançar. Por outro lado, os princípios, a lógica da indivisibilidade e a reciprocidade difusa favorecem o processo de legitimação das OIGs no sistema internacional.

No passado, tratados e acordos tendiam a ser bilaterais ou regionais, mas em décadas mais recentes têm sido parte de arranjos multilaterais, li-dando com problemas cada vez mais complexos no campo econômico, polí-tico e social. Desse modo, muitas vezes, observamos a formação de regimes internacionais. Regimes são arranjos que os Estados constroem para reger as relações entre eles em uma área específica, como o regime de comércio, o regime monetário, os regimes de proteção de espécies animais e vegetais em perigo de extinção, o regime de navegação em oceanos ou o regime de comunicação postal. A definição clássica de regimes é:

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“Um conjunto de princípios, normas, regras e procedimentos decisórios em torno dos quais as expectativas dos atores convergem em uma área temática.” (Krasner, 1982, p. 1).

Os princípios são ideias gerais sobre como o mundo funciona, ou como ele deveria funcionar, e as normas estabelecem as obrigações e os di-reitos dos atores. Esses são os elementos fundamentais dos regimes. Uma mudança dos princípios ou das normas de um regime representa uma modi-ficação da sua natureza. As regras e os procedimentos decisórios referem-se à operacionalização do regime.

Em diversos casos os regimes internacionais produzem organizações internacionais, que emergem como resultado da existência de normas e ex-pectativas comuns. Alguns regimes produzem um conjunto de organizações, como é o caso do regime de proteção aos direitos humanos; outros são ad-ministrados com base em um conjunto de organizações mais abrangentes; existem ainda regimes claramente associados a uma organização internacio-nal, o regime de comércio.

As alianças militares são coalizões de Estados formadas para enfren-tar um inimigo real ou potencial. Elas geram a agregação de forças milita-res e outros recursos para a defesa coletiva da coalizão. Dessa forma, seus Estados-membro adquirem uma posição mais favorável no contexto dos conflitos em que estão envolvidos. Essas alianças podem ser ofensivas ou defensivas e ter maior ou menor grau de institucionalização. Contudo, nem todas as coalizões constituem uma aliança; às vezes elas são apenas um arranjo ad hoc, como foi o caso da coalizão de países formada em 1990 e 1991 para libertar o Kuwait da ocupação iraquiana. Algumas alianças geram a formação de organizações, como é o caso da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criada em 1949 para enfrentar a União Soviética.

O conceito de segurança coletiva, discutido no Capítulo 3, visa dis-suadir qualquer Estado de usar a agressão para alcançar seus objetivos, já que todos se comprometem a reagir coletivamente no caso de ameaças à paz ou à segurança de qualquer Estado. A Liga das Nações e a ONU foram criadas, em parte, para realizar o sistema de segurança coletivo.

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ALGUNS MECANISMOS DE ESTABILIZAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL

• Arranjos ad hoc: Criados para gerar cooperação em um momento específico.

• Multilateralismo: Prática que envolve o estabelecimento de princípios que nor-teiam a relação entre os atores. A indivisibilidade e a reciprocidade difusa também o caracterizam.

• Regimes internacionais: Princípios, normas, regras e procedimentos que regulam as re-lações entre os atores em uma área específica.

• Alianças militares: Coalizões entre Estados formalizadas para enfrentar ameaças exter-nas a elas.

• Segurança coletiva: Sistema baseado no compromisso de uma reação coletiva no caso de ameaça à paz ou à segurança de qualquer Estado.

• Balanço de poder: Sistema flexível de alianças entre Estados designado para evitar a preponderância de um determinado Estado. A sua base é a expectativa comum de que, quando as relações de poder mudam, os Estados irão continuamente mudar suas alian-ças para manter um equilíbrio e evitar a gestação de um sistema hegemônico ou de um império.

• Zonas de influência: São regiões em que uma potência exerce influência predominan-te, limitando a independência e a liberdade de ação das entidades políticas. Durante a Guerra Fria, o respeito pelas zonas de influência da União Soviética e dos Estados Unidos era uma das normas que garantia a estabilidade do sistema.

• Estabilidade hegemônica: Refere-se ao papel de uma potência hegemônica que garan-te instituições internacionais, como no caso da pax britânica no século XIX ou da pax americana após a Segunda Guerra Mundial.

• Concerto de Estados: Sistema de conferências entre as grandes potências do século XIX para a administração coletiva de suas relações. Pode também ser utilizado como um conceito aplicável a qualquer momento histórico em que as grandes potências assu-mem coletivamente a administração do sistema internacional através de negociações.

• Direito internacional: Conjunto de normas e princípios encontrados nos tratados e con-venções internacionais e oriundos do costume.

• Práticas diplomáticas: Processos de negociação, formação de acordos e assinatura de tratados e o exercício de influência e pressão pelos Estados realizados por meio de ca-nais de comunicação diplomáticos. As normas da diplomacia permitem o contínuo fluxo de comunicação, mesmo em situações de conflito ou até de guerra.

• Cultura internacional: Valores e normas universalizados, como resultado da intensifica-ção das relações entre diferentes atores no sistema internacional.

A criação das OIGs é uma decisão dos Estados, que delimitam sua área de atuação inicial. Um tratado internacional estabelece os objetivos e poderes da organização. As grandes potências têm um papel crucial nesse processo.

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O exemplo mais claro é o impulso dado pelo governo norte-americano para a criação de uma série de OIGs no pós-Segunda Guerra. A criação da ONU e de uma rede de agências especializadas nos anos 1940, em particular as ins-tituições de Bretton Woods (BIRD, Banco Mundial e FMI, Fundo Monetário Internacional), refletia o interesse norte-americano em promover o comér-cio global, estabelecendo uma ordem internacional em que a democracia e o capitalismo pudessem florescer. Todavia, outros países − particularmente potências médias como Canadá, Austrália, Noruega, Suécia, Brasil, Índia e Nigéria − podem adquirir influência significativa no delineamento do papel e do funcionamento das OIGs, caso seja feita a opção de um investimento importante nesse campo, como a formação de uma coalizão.

As OIGs são, ao mesmo tempo, tanto atores centrais do sistema inter-nacional, fóruns nos quais ideias circulam, se legitimam, adquirem raízes e também desaparecem, quanto mecanismos de cooperação entre Estados e outros atores. As OIGs são atores, uma vez que adquirem relativa autonomia em relação aos Estados-membro e elaboram políticas e projetos próprios, além de poderem ter personalidade jurídica, de acordo com o direito inter-nacional público.

No âmbito das organizações internacionais, está em curso um proces-so social complexo em que normas são criadas. Conhecimento é formado, e tarefas que cabem à comunidade internacional são definidas, tais como gerar desenvolvimento. Surgem novas categorias, como refugiados; difundem-se modelos de organização social e política, como a democracia liberal; e os próprios Estados podem redefinir seus interesses a partir dessa interação.6

Sua contribuição para a cooperação entre os Estados-membro envolve a criação de um espaço social e até físico, no qual é possível realizar negocia-ções de curta, média e longa duração, além de uma máquina administrativa que traduz essas decisões em realidade. A existência de uma burocracia per-manente abre a possibilidade de uma reação rápida em momentos de crise, favorece a elaboração de projetos de assistência técnica, ajuda humanitária, cooperação científica, entre outros. A própria legitimação de novos Estados soberanos, fenômeno frequente ao longo do processo de descolonização e no final da Guerra Fria, realiza-se no contexto das OIGs. Hoje, o ritual de inserção de um novo país na comunidade internacional tem como foco sua incorporação à ONU.

Além de contribuir para a gestação de normas e regras, as OIGs forne-cem mecanismos para garantir a aquiescência a essas normas e regras. Nesse

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sentido, a coleta, a análise e a disseminação de informação são cruciais, como os diferentes mecanismos de monitoramento dos Estados. Cria-se, as-sim, um ambiente propício à expectativa de reciprocidade, e o próprio au-tointeresse dos Estados pode levá-los a se comportar de acordo com normas e regras. Quanto maior a expectativa difundida no sistema de que todos ou quase todos os atores vão respeitar normas e regras, maior a probabilidade de que sejam respeitadas. Trata-se da expressão concreta do conceito de reci-procidade difusa. As organizações internacionais também podem, em certas circunstâncias, coagir atores a respeitar normas e regras por meio de pressão política, imposição de sanções ou até o uso de força militar.

A necessidade de administrar a cooperação deve ser tratada com aten-ção. Abraam Chayes e Antonia Chayes apontam em seu trabalho fontes de não aquiescência às normas internacionais: ausência de clareza no texto do tratado, capacidade limitada das partes de realizar suas responsabilidades e problemas do período de adaptação às novas condições criadas pelos trata-dos (Chayes & Chayes, 1998). As OIGs têm um papel central nesse campo: o aparato burocrático pode proporcionar formas de resolver disputas sobre as determinações de um tratado e diferentes formas de assistência técnica e financeira.

Finalmente, as OIGs podem favorecer a legitimação de normas e re-gras, ou seja, fazer a maior parte dos atores do sistema internacional acredi-tarem que elas devem ser respeitadas, gerando um sentimento de obrigação moral.7 As normas e as regras adquirem legitimidade por dois processos: o procedimento que leva a sua criação, como o processo decisório de uma or-ganização, e seu tema substantivo. Determinados temas, como a proteção do meio ambiente e a defesa dos direitos humanos, passam a compor a cultura internacional, sendo tratados com base em valores disseminados.

As organizações (OIGs e ONGIs) podem adquirir autoridade e então exercer poder no sistema internacional. Isso é possível apenas quando se tornaram atores com legitimidade reconhecida por um conjunto significati-vo dos atores. Evidentemente, a forma que a autoridade assume no sistema internacional é descentralizada, ao contrário dos sistemas políticos nacio-nais, mas isso não significa que ela não esteja presente (Hurd, 1999). As organizações internacionais adquirem autoridade à medida que produzem bens públicos. As OIGs são dependentes dos Estados para adquirir legiti-midade se os Estados não aderem a uma organização, ela não será um ator ou fórum legítimo.

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Michael Barnett e Martha Finnemore apresentam duas fontes de poder das OIGs: a legitimidade da autoridade racional-legal, baseada em proce-dimentos, regras e normas legais impessoais e racionais, e o controle sobre conhecimento técnico e informativo. As OIGs são burocracias modernas, portanto esses atributos, também presentes em outras organizações burocrá-ticas, podem ser encontrados nelas (Barnett & Finnemore, 1999). Para que possam realizar suas funções como fóruns produtores de normas e garantir aquiescência às mesmas, as OIGs enfrentam o problema da legitimidade. Essa é uma questão presente na ação política de uma forma geral, mas as OIGs enfrentam dificuldades específicas como a ausência de uma cultura comum robusta ou da possibilidade de impor decisões com o uso da força, à exceção de casos extremos. Hoje, uma comunidade política não se constitui de fato no nível internacional.

Alguns padrões de constituição e funcionamento caracterizam as OIGs. A participação é voluntária, embora hoje a pressão para que os Estados fa-çam essa opção seja imensa. Elas devem conter um instrumento jurídico básico que estabelece seus objetivos, sua estrutura e suas formas de opera-ção. Ademais as organizações internacionais constituem um conhecimento específico e uma memória sobre sua atuação.

Quanto ao processo decisório, as OIGs são, em geral, compostas por um corpo de representação ampla, como uma conferência ou assembleia; por um secretariado permanente, responsável pelas tarefas administrativas; e, em muitos casos, por um corpo menor com uma representação mais res-trita.8 O voto por maioria, o voto proporcional ou qualificado e a delegação do poder de veto a um grupo restrito de países são práticas amplamente disseminadas. O princípio de “um Estado, um voto” expressa o respeito pelo princípio da igualdade de soberania. As decisões baseadas no consenso, ou seja, todos os países têm poder de veto, expressam o respeito pelo princípio da soberania — os Estados têm autoridade em última instância para decidir sobre questões domésticas e internacionais. Contudo, esses dois formatos não caracterizam grande parte dos processos decisórios nas OIGs. Muitas vezes, o processo decisório varia de acordo com o tema tratado.

O processo decisório dentro das organizações intergovernamentais convive com a tensão entre o conceito de soberania e a produção de deci-sões que implicam a flexibilização desse mesmo conceito, pois geram uma interferência externa nos assuntos de política externa e doméstica dos Es-tados. Na maior parte das organizações, o processo decisório é baseado em

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instâncias intergovernamentais, ou seja, os Estados estão representados; no entanto, algumas incluem instâncias supranacionais, em que o órgão deci-sório não é composto por representantes de Estados. Poucas organizações adquirem autoridade supranacional sobre os Estados-membro, e a maior parte das decisões são recomendações, que somente serão implementadas se os Estados fizerem essa opção.

Inis Claude resume as ideias que nortearam a geração desses padrões:

“O igualitarismo do direito internacional tradicional, o conceito de vontade da maioria da filosofia democrática e o elitismo da diplomacia das grandes potên-cias europeias foram transferidos para a esfera das organizações internacionais, para funcionar como elementos concorrentes, na formação de uma perspectiva sobre o processo decisório internacional.” (Claude, 1984, p. 118).

No entanto, essa realidade está mudando tanto do ponto de vista do processo decisório, quanto no que se refere à capacidade de intervenção das OIGs em assuntos domésticos. A União Europeia, por exemplo, contém elementos supranacionais importantes em seu processo decisório, e os me-canismos de monitoramento da Agência para Energia Atômica Internacional (IAEA, International Atomic Energy Agency) permitem acesso às instalações nucleares sem aviso prévio aos governos-alvo.9

As OIGs podem ser tratadas como um conjunto, com uma série de ca-racterísticas comuns, como acabamos de discutir. Ademais, hoje, uma cultu-ra que envolve o binômio segurança/desenvolvimento é compartilhada pela maior parte das OIGs. No entanto, as variações também são significativas. Cada OIG acaba gerando uma subcultura própria, assim como organizações em todas as esferas sociais. O FMI (Fundo Monetário Internacional), por exemplo, e a UNDP (United Nations Development Program — Programa da ONU para o Desenvolvimento) adotam visões muito distintas quanto ao crescimento econômico e ao desenvolvimento. Elas também se diferenciam bastante quanto a seu tamanho e suas funções. Algumas são compostas por apenas três membros, outras contam com quase a totalidade dos Estados do sistema. Algumas têm funções bastante específicas e técnicas, enquanto outras lidam com a governança global de uma forma ampla.

Essa variação abre a possibilidade para a classificação das organizações segundo diversos critérios, ressaltando-se o geográfico. Algumas organiza-ções são regionais, como a OEA (Organização dos Estados Americanos) ou a ASEAN (Association of Southeast Asian Nations — Associação das Nações

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do Sudeste Asiático); outras são globais, como a OMC (Organização Mun-dial do Comércio) ou a OMS (Organização Mundial da Saúde).

As organizações podem ainda ser classificadas segundo as funções que exercem: umas gerais, ou seja, exercem um conjunto muito variado de fun-ções e não são definidas por estas; outras especializadas, como a UNICEF (United Nations Children’s Fund — Fundo da ONU para as Crianças) ou OIT (Organização Internacional do Trabalho).

As ONGIs são voluntárias, com membros individuais ou coletivos de diversos países. Algumas organizações se voltam para causas como direitos humanos, paz ou proteção ambiental. ONGIs são formadas também para prover serviços específicos, como a ajuda humanitária e a assistência ao de-senvolvimento. Em alguns casos, são redes ou federações de organizações com base nacional, como a Federação das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho ou os Médicos Sem Fronteiras.

As relações entre as ONGIs e as OIGs são cada vez mais densas. As grandes conferências internacionais organizadas desde os anos 1970, mais particularmente a partir dos anos 1990, são espaços privilegiados de intera-ção entre esses dois tipos de organizações.

As organizações internacionais enfrentam um conjunto de desafios: dificuldades para gerar aquiescência às normas criadas, acesso a financia-mento, problemas de coordenação entre agências e diferentes organizações e mecanismos de legitimação. A efetividade das decisões tomadas em um mundo em que ainda impera o princípio da soberania estatal é outra questão muito discutida. Pergunta-se quanto as organizações internacionais podem mudar o comportamento dos Estados e de outros atores e qual o grau de legitimidade das normas produzidas por elas. Diferentes teorias, como vere-mos a seguir, darão respostas diferenciadas a essas questões.

O Funcionário Público Internacional Com o surgimento das organizações internacionais modernas no sé-

culo XIX, tornou-se necessário empregar servidores públicos internacionais que se distinguem das delegações nacionais que representam os Estados em cada organização. O desenvolvimento das burocracias internacionais expres-sa um aspecto supranacional de cada organização internacional. Os primei-ros secretariados foram criados nos anos 1860 e 1870, para garantir o fun-cionamento da União Telegráfica Internacional, da União Postal Universal e do Escritório Internacional de Pesos e Medidas. A necessidade de gerar uma

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memória e organizar uma agenda são os propulsores iniciais para a criação dos secretariados das organizações.

De início, foram recrutados servidores nos países-sede dessas organi-zações. Apenas com o estabelecimento da Liga das Nações foi estabelecida a noção de um serviço público internacional, de caráter multinacional, com responsabilidade apenas perante a organização a qual serve.

O surgimento da versão de um servidor público está associado ao pa-pel do secretário-geral da Liga das Nações, que deveria, segundo o Pacto da Liga, nomear seu próprio secretariado. Sir Eric Drummond, o primeiro secretário-geral da Liga, que trouxe para a organização a visão de um serviço público imparcial e profissional, de acordo com a tradição britânica com a qual convivera. Sua discreta liderança favoreceu a criação da norma de um secretariado multinacional em termos de composição e internacional no que se refere à lealdade. A Carta da ONU, em seus artigos 100 e 101, e os tratados que criaram cada uma das agências especializadas do sistema ONU incorporam essa norma. A Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidade, aprovada pela Assembleia Geral em 1946, enumera os privilégios e imu-nidades para categorias específicas de funcionários. Os secretários-gerais e secretários-gerais assistentes têm imunidade diplomática plena.

Ao longo da primeira metade do século XX, a norma da internacionali-zação do servidor público fortaleceu-se e pode ser considerada fundamental para o funcionamento eficaz e para a legitimidade das organizações interna-cionais. O princípio multinacional está presente na composição e no funcio-namento da ONU. O artigo 101 da Carta prevê que a origem dos funcioná-rios será considerada no processo de contratação, buscando estabelecer uma distribuição geográfica ampla, embora se mantenham os critérios da eficiên-cia e das necessidades operacionais. O caráter multinacional da organização é refletido na presença de uma variedade de culturas e no estabelecimento de seis idiomas oficiais (inglês, francês, russo, chinês, espanhol e árabe).

A relação entre os servidores públicos internacionais e os governos na-cionais gera tensões inevitáveis, haja visto que os servidores continuam sen-do cidadãos de seus países com obrigações e direitos. Além disso, diferentes governos nacionais podem perceber a presença de servidores originários de seus países em posições de destaque como forma de influenciar o processo político interno das organizações. Um caso que exemplifica o problema em pauta é a crise que envolveu a demissão de 18 funcionários norte-america-nos em 1952-53. No contexto dos expurgos anticomunistas nos Estados

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Unidos, funcionários foram acusados de ter inclinações comunistas. Com a recusa de testemunhar diante do Subcomitê de Segurança Interna, dirigido pelo senador Joseph McCarthy, o secretário-geral Thygve Lie decidiu, em meio a uma crise sem precedentes, demiti-los e permitiu investigações den-tro da ONU por parte do FBI e da Comissão de Serviço Público dos Estados Unidos. O debate gerado por esse evento favoreceu o fortalecimento da in-dependência do Secretariado, e Dag Hammarskjold, sucessor de Lie, retirou a permissão para as investigações norte-americanas.

As estruturas e as atividades do Secretariado da ONU e de outras or-ganizações cresceram significativamente na segunda metade do século XX. Enquanto a Liga das Nações funcionava com cerca de 700 funcionários, o Secretariado da ONU emprega atualmente cerca de 40.000 funcionários e o Sistema ONU como um todo emprega mais de 80.000 funcionários10. As principais tarefas dessa burocracia são guardar a memória da organização, gerar um debate interno sobre sua própria atuação, criar um ambiente pro-pício para a realização de negociações internacionais e realizar os projetos específicos de cada organização.

Os secretários-gerais das diferentes organizações têm impactos dife-renciados sobre a direção dessas organizações, dependendo, em grande me-dida, de suas personalidades, do conjunto de alianças específicas que os mantém no topo da burocracia da organização e das condições geradas pela política internacional em cada momento histórico. Em alguns casos, o secre-tário-geral detém a capacidade de influir significativamente; em outros, ape-nas expressa, em seu comportamento, as posições dos países ou das alianças mais influentes. Cada organização estabelece o grau de autonomia conferido ao secretário-geral. No caso da ONU, os artigos 98 e 99 da Carta abrem as portas para que a função do (ou da) secretário(a)-geral seja politizada, pois a Assembleia e o Conselho podem delegar novas funções ao (ou à) secretá-rio(a)-geral e ele (ou ela) pode trazer à atenção do Conselho de Segurança qualquer questão que ameace a manutenção da paz e da segurança inter-nacional. Os secretários-gerais encontram-se em uma posição estratégica, na interseção entre os setores administrativos e políticos das organizações, tendo de lidar com os aspectos supranacionais e intergovernamentais da organização. Ao mesmo tempo que dirigem uma burocracia que deve ter independência em relação às representações nacionais, os secretários-gerais têm a função de negociar com os representantes dos diferentes países para garantir a aprovação de decisões e a realização de operações. Muitas vezes, a

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ausência de clara definição de como realizar uma tarefa, ou mesmo a ambi-guidade de uma resolução, permite ao secretário-geral exercer suas ativida-des diplomáticas com relativa autonomia.

O secretário Hammarskjold, por exemplo, exerceu essa autonomia di-versas vezes, como na negociação da disputa entre o Camboja e a Tailândia, entre 1958 e 1960, ou durante a crise do Congo, em 1960/61. Nesse segun-do caso, a ação do secretário diante da crise da operação da ONU levou a União Soviética a propor sua deposição e substituição por um grupo de três líderes representando o ocidente, o bloco comunista e os países indepen-dentes. Hammarskjold, contudo, foi mantido no cargo até sua morte, em setembro de 1960.

História das Organizações Internacionais A maior parte das organizações internacionais com as quais convive-

mos hoje foi criada a partir da segunda metade do século XX. Entretanto, para compreendermos o fenômeno, é importante voltarmos para o século anterior, quando foram estabelecidas as bases para as práticas das organi-zações internacionais intergovernamentais e quando surgiram as primeiras ONGIs.

As organizações internacionais passaram a ter maior relevância na po-lítica internacional no século XIX. No entanto, a Liga de Delos (478 a.C.-338 a.C.), criada para facilitar a cooperação militar entre as cidades-Estado gre-gas, e a Liga Hanseática, uma associação de cidades do norte da Europa que facilitou a cooperação no campo comercial entre o século XI e XVII, podem ser consideradas congêneres de períodos anteriores. Devemos lembrar ainda que diversos autores, como Emeric Crucé, Abbé de Saint Pierre e Immanuel Kant,11 desenvolveram propostas de transformação do sistema internacio-nal, que são precursoras das propostas que acabariam gerando as modernas organizações internacionais.

As grandes conferências de Estados ocorridas desde o século XVI, e que contribuíram para fixar muitas das normas que definem as relações in-ternacionais modernas, também são precursoras das OIGs. Finalmente, a prática do multilateralismo, desde os primeiros séculos da era moderna, está associada à história das organizações internacionais. O estabelecimento do princípio do mar territorial, que estendia a soberania do Estado12 e definia o acesso ao alto mar, segundo a proposta de Hugo Grotious,13 foi um impor-tante marco, uma regra que deveria ser aplicada a todos os Estados.

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Inis Claude salienta que quatro pré-requisitos são necessários para o desenvolvimento de OIGs: a existência de Estados soberanos; um fluxo de contatos significativo entre eles; o reconhecimento pelos Estados dos pro-blemas que surgem de sua coexistência e da necessidade da criação de insti-tuições; e métodos sistemáticos para regular suas relações14 (Claude, p. 21). Essa era a realidade no século XIX, que permitiu a criação de um conjunto de OIGs. O processo de industrialização gerou avanços nos transportes e nas comunicações e produziu problemas impossíveis de serem resolvidos no âmbito do Estado-nação. O aumento da produção e do comércio, aliado à penetração do imperialismo europeu, permitiu a criação de uma rede com-plexa de relações econômicas em todo o globo. Da mesma forma, a maior interação entre as elites e as lideranças de movimentos sociais na Europa e nos Estados Unidos favoreceu o estabelecimento das primeiras organizações não governamentais de caráter internacional.

O Concerto de Estados Europeu, sistema de conferências iniciado após o fim das guerras napoleônicas com o Congresso de Viena de 1815, foi um importante antecessor das modernas OIGs. As conferências não eram apenas encontros para acertar tratados de paz, como era a prática até então, mas um fórum no qual as grandes potências — Prússia, Áustria, Rússia, Grã-Bretanha e França (a partir de 1818) — lidavam com a ordem interna-cional de uma forma mais geral. Assim, durante o Congresso de Viena, as regras da diplomacia foram codificadas. A distribuição de poder no sistema de Estados, as regras do jogo imperialista, a formulação de uma legislação internacional e a manutenção da paz entre os Estados europeus foram os principais temas tratados ao longo do século. O princípio da consulta mú-tua foi estabelecido, e a prática da diplomacia multilateral atingiu um novo patamar, embora ainda não tivesse sido criada uma organização para lidar com a segurança internacional. O Concerto Europeu baseava-se na ideia de que as grandes potências tinham responsabilidades e direitos especiais. Por conseguinte, os Estados menores não participavam das deliberações, e o interesse geográfico limitava-se à Europa, embora disputas coloniais entre europeus fossem negociadas.

Ao final do século XIX, o Czar russo, Nicolas II, propôs a convocação de uma conferência sobre desarmamento. O sistema de Haia, criado no con-texto das duas conferências de paz, em 1899 e 1907, representou uma mu-dança qualitativa em termos de universalização da administração do sistema internacional. O número, a distribuição geográfica e o tamanho dos Estados

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representados atestam para a mudança em curso. Enquanto na primeira con-ferência estiveram presentes 26 Estados (inclusive China, Sião, México e Es-tados Unidos), na maior parte europeus; na segunda conferência 44 Estados enviaram delegados, tendo sido incorporados os países latino-americanos.

O desenvolvimento do direito internacional, a formulação de proce-dimentos para a resolução pacífica de disputas, a codificação das leis e cos-tumes quanto à condução da guerra visavam criar melhores condições de convivência internacional. A preocupação com a paz em abstrato, não ape-nas com a resolução de conflitos ou crises específicas, faz parte de uma nova perspectiva sobre a administração coletiva do sistema internacional. Nesse sentido, podemos dizer que as Conferências de Haia desenvolveram uma perspectiva racionalista e legalista para a administração do sistema interna-cional, buscando criar regras baseadas na razão para lidar com os conflitos internacionais. A Convenção para a Resolução Pacífica de Disputas, adotada em 1899, e a criação de uma Corte de Permanente de Arbitragem15 são os resultados institucionais mais concretos desse processo.

O grau de institucionalização introduzido pelo sistema de Haia anun-ciava tendências que só se realizariam plenamente com a criação da Liga das Nações. A ideia era criar um sistema de conferências regulares, sem haver a necessidade de uma convocação. Esse foi um marco relevante para a história das OIGs. Ademais, a assembleia de 1907 propôs que um comitê prepara-tório deveria ser criado para preparar a conferência seguinte. Planejou-se até mesmo uma sede. As resoluções eram aprovadas por consenso, mas as recomendações passavam com voto por maioria. Esse foi um momento cru-cial na gestação de uma cultura internacional, que permitiria produzir a Liga das Nações e a ONU anos depois. Além disso, o legalismo e o racionalismo que marcaram as conferências iriam inspirar a criação da Corte de Justiça Permanente e da Corte de Justiça Internacional.

Contudo, a terceira conferência, programada para 1915, não foi reali-zada, como resultado do início dos combates da Primeira Guerra Mundial. Os projetos de introduzir o controle de armamentos ou o estabelecimento de um mecanismo de arbitragem compulsória não foram realizados, e a eclosão da Primeira Guerra demonstrou a ineficácia do sistema.

A Conferência Pan-americana, reunida em Washington em 1889 e 1890 foi um fórum regional pioneiro, criando um escritório de divulgação de oportunidades comerciais para países-membro e instaurando um sistema de conferências regulares que deveriam ser realizadas a cada cinco anos. A

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União Internacional dos Estados Americanos, criada então, foi a primeira organização regional a introduzir uma tradição de institucionalização das relações entre os países da região e seu fim era limitar a autonomia norte-a-mericana para intervir militarmente nas Américas. A regularidade foi inter-rompida pela Primeira Guerra Mundial, mas a União Pan-americana já havia sido criada em 1910. As Américas tiveram até a criação do sistema ONU um papel pioneiro no desenvolvimento das OIGs e do direito internacional.

No século XIX surgiu um número grande de organizações funcionais, ou uniões públicas internacionais, como eram chamadas então. As transfor-mações econômicas, a assunção de maiores responsabilidades econômicas e sociais pelos Estados e o desenvolvimento tecnológico foram os fatores mais relevantes que contribuíram para esse fenômeno. Criava-se um novo campo de atuação dos Estados na esfera internacional. O barco a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo, o cabo submarino conectando a França e a Inglaterra a partir de 1850 fazem parte desse cenário que demandava mais coordenação entre governos. As comissões geradas para administrar os rios europeus, a União Telegráfica Internacional criada em 1865 e a União Postal Universal criada em 1874 são as mais notáveis agências do período.

Um número grande de agências foi criado para responder às necessi-dades de coordenação e cooperação em áreas diversas, como saúde, agricul-tura, tarifas, estradas de ferro, pesos e medidas, patentes e tráfego de drogas. A necessidade de criar padrões universais no campo da comunicação, con-trole de epidemias, pesos e medidas era premente, em particular para aque-les envolvidos no mundo dos negócios transnacionais. Esse assunto será discutido no Capítulo 5.

Ainda no século XIX, ONGIs proliferaram com base na percepção da existência de questões universais, como a paz e os problemas sociais. São associações voluntárias não governamentais internacionais com objetivos humanitários, religiosos, econômicos, educacionais, científicos e políticos. A Convenção Mundial antiescravista de 1840 foi um marco importante na his-tória das ONGIs. Ao final do século, organizações pacifistas cresceram nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, entre as quais destacamos: o Congresso Universal para a Paz e a Conferência Interparlamentar. Essas já tinham im-pacto sobre o sistema de Estados, sendo a relação entre o Comitê Interna-cional da Cruz Vermelha e as Convenções intergovernamentais de Genebra, de 1864, 1906, 1929 e 1949, o exemplo paradigmático. Em 1910, é criada a União de Associações Internacionais. Esse tema será tratado no Capítulo 6.

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A criação da Liga das Nações, ao final da Primeira Guerra, foi um even-to de fundamental importância, muito embora a organização tenha entrado para a história como um ícone de insucesso, tendo sua vida útil terminado com a violência que se espalhou pela Europa nos anos 1930. Tratava-se da primeira organização internacional universal voltada para a ordenação das relações internacionais baseadas em um conjunto de princípios, procedi-mentos e regras, claramente definidos. O conceito de segurança coletiva é introduzido pela primeira vez e foi encontrada uma síntese entre o princípio da responsabilidade especial das grandes potências, que norteou o funcio-namento do Concerto Europeu, e uma lógica universalizante, presente nas conferências de Haia. O Capítulo 3 aborda esse tema. O processo político em curso ao final da Primeira Guerra produziu ainda a Corte Internacional Permanente de Justiça. Esse tribunal, em contraste com a Corte Permanente de Arbitragem, foi criado como um tribunal de justiça, ou seja, aplica a lei. Em 1946, a Corte Internacional de Justiça o substituiria.

O início do século XX é um momento histórico em que a crença na conciliação, mediação ou arbitragem, como formas pacíficas de resolução dos conflitos internacionais, adquire raízes e se institucionaliza. As organi-zações internacionais viriam a ter daí um papel central no desenvolvimento dessas atividades.

MECANISMOS PARA RESOLUÇÃO DE DISPUTAS

• Bons ofícios: Quando uma terceira parte (indivíduos, Estados, organizações) oferece o local e outras facilidades para a realização de uma negociação.

• Mediação: Quando uma terceira parte contribui para a resolução de conflitos por meio da comunicação, apoio às negociações e, às vezes, propondo soluções.

• Conciliação: Quando se forma uma comissão de conciliação para ajudar as partes a so-lucionar a disputa ou a controvérsia.

• Arbitragem: Quando uma terceira parte fornece uma solução para o conflito que as partes devem aceitar.

• Adjudicação: Quando uma terceira parte oferece solução para o conflito que as partes devem aceitar através de um tribunal permanente.

A estruturação da ONU é marcada pela realidade política ao final da Segunda Guerra, ou seja, a afirmação da hegemonia norte-americana no oci-dente e o começo da Guerra Fria. Entretanto, ao mesmo tempo, o sistema ONU − que analisaremos nos Capítulos 3 e 4 − é depositário das experiências

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anteriores: da prática de administração das relações internacionais pelas grandes potências no âmbito do Concerto Europeu, do legalismo do sistema de Haia, da coordenação de políticas públicas e colaboração em áreas especí-ficas pelas organizações funcionais e do projeto de um sistema de segurança coletiva da Liga das Nações. Sucessora legal e lógica da Liga das Nações, a ONU representa o ápice do processo de institucionalização dos mecanismos de governança do sistema internacional, iniciado no século XIX.

As grandes guerras, o desenvolvimento econômico, as inovações tec-nológicas e o próprio crescimento do número de Estados no sistema interna-cional, ocorridos com a desagregação dos impérios, favoreceram um enorme crescimento do número de OIGs e ONGIs na segunda metade do século XX. Entre elas, destacamos a formação da Comunidade Europeia em 1957, fruto de um processo político iniciado ao final da Segunda Guerra Mundial e que viria a constituir um paradigma para futuros processos de integração regional.

As organizações intergovernamentais regionais proliferaram no cená-rio internacional a partir de meados do século passado. A identidade regio-nal, a percepção de que a interdependência econômica em nível regional pode favorecer o desenvolvimento e melhorar as condições de competição internacional e as considerações geoestratégicas são fatores que favoreceram esse processo. Em todos os continentes, podemos observar a criação de or-ganizações regionais de diferentes tipos.

O final da Guerra Fria trouxe consigo o crescimento do número de países que compõem as OIGs e um otimismo inicial sobre o papel dessas, deflagrado com a intervenção no Iraque em 1991, sob a bandeira da ONU, e a Conferência sobre o Meio Ambiente no Rio de Janeiro em 1992. A ONU, a OTAN e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa, por exem-plo, incorporaram um número grande de países sucessores da União Sovié-tica. Outras organizações perderam importância, e o Pacto de Varsóvia e o Conselho para Assistência Econômica Recíproca encerraram suas atividades em 1991, um exemplo raro de extinção de organizações internacionais.

O novo ativismo da ONU e de suas agências foi uma característica marcante do período pós-Guerra Fria. O processo decisório no Conselho de Segurança foi descongelado, e a organização foi chamada a exercer um papel central na administração da segurança internacional. Observa-se tam-bém um incremento das atividades das agências funcionais com a criação de

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novas agências e maior ênfase em temas como: meio ambiente, assistência humanitária, combate às atividades criminais e epidemias, além da proteção aos direitos humanos e da ajuda ao desenvolvimento.

Por outro lado, a proliferação de estruturas mais informais, os arranjos ad hoc, mencionados no início do capítulo, produzem outros espaços sociais importantes para negociações, gestação de normas e exercício da influência de atores estatais e não estatais.

Nesse período, as organizações internacionais foram muito criticadas pela sua ineficiência, em particular pela alocação de recursos sem a maximi-zação dos benefícios. As burocracias das OIGs tendem a ser menos flexíveis do que as burocracias nacionais, já que o recrutamento multinacional, men-cionado anteriormente, cria uma necessidade de produção de regras bastan-te específicas. Em resposta a essas pressões, muitas organizações adotaram práticas administrativas análogas àquelas das empresas privadas, inclusive buscando consultar grupos de interesse específicos.16

Hoje, são inúmeras as inquietudes sobre o papel das organizações in-ternacionais no contexto da governança global. Qual deve ser a relação entre normas internacionais e jurisdição doméstica? Como podemos incorporar as mudanças na distribuição de poder no sistema internacional entre os Es-tados, e outros atores também, ao funcionamento das organizações interna-cionais? Como as organizações internacionais podem contribuir de forma mais efetiva para a resolução de problemas e debates sobre questões cruciais, como a proteção do meio ambiente e a defesa dos direitos humanos? Quan-do o uso da força é justificado? Como podemos enfrentar as tensões e con-tradições entre as normas universais proclamadas pela ONU e a realidades sociais, culturais, políticas e econômicas específicas?

Nas últimas décadas, mudanças importantes na política mundial mo-dificaram drasticamente o ambiente no qual as organizações internacionais operam. A crescente consciência em face dos problemas sociais, ambien-tais e de saúde pública, de natureza global, o desenvolvimento tecnológico, o acesso à internet e a própria proliferação de organizações internacionais compõem esse quadro. As organizações internacionais são, portanto, um tema em constante transformação e que têm gerado um debate cada vez mais intenso entre os especialistas em relações internacionais, tema que aborda-remos no Capítulo 2.

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Leituras para continuar seu estudoAbram Chayes & Antonia Handler Chayes, The New Sovereignty Compliance with International Regula-

tory Agreements, Cambridge MA, Harvard University Press, 1988. Innis Claude, Swords into Plowsheres, Nova York, McGraw-Hill, 1986.Lisa Martin & Beth A. Simmons, International Institutions an International Organization Reader, Cam-

bridge, Mass, MIT Press, 2001. Ian Hurd International Organizations Politics, Law, Practice , Cambridge, Cambridge University Press.

2014.

Notas 1. Yearbook of International Organizations 2003/04, acesso em 10/05/2004 http://www.uia.org/ ser-

vices/databases.php. Alguns autores preferem usar a terminologia de ONGs transnacionais, mas usamos aqui a adotada pela União das Associações Internacionais (UIA), ou seja, ONGIs. A UIA foi fundada em 1907, em Bruxelas, como Escritório Central de Associações Internacionais, reno-meado UIA em 1910, durante o Primeiro Congresso Mundial das Associações Internacionais. A UIA permanece sendo a maior referência para documentação das ONGIs, principalmente através de sua publicação anual referida acima. Para detalhes, veja o site http://www.uia.org/. John Boli destaca que o Escritório Central de Associações Internacionais foi ativo na criação da Liga das Nações e do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual (Boli & Thomas, 1999, p. 20). Para uma análise crítica da metodologia usada pela UIA, veja o trabalho de Sikking e Smith (Sik-king & Smith, 2002, pp. 26-30).

2. O conceito de governança global aparece no relatório da Comissão para Governança global de 1995. Veja o relatório da Comissão sobre Governança Global (Comission on Global Governance, 1995) . Veja ainda os trabalhos de James Rosenau e Thomas Weiss para uma apresentação do conceito (Rosenau,1992, p. 4 e Weiss 2013).

3. O G7/G8 congrega os países mais desenvolvidos do mundo — Estados Unidos, França, Ale-manha, Itália, Japão, Canadá, Grã-Bretanha e Rússia (desde 1994) — para discutir questões econômicas, políticas e de segurança. Eles realizam uma reunião de chefes de Estados anual-mente e outras reuniões a nível ministerial.

4. Para esse assunto, veja o artigo de John Ruggie (Ruggie, 1993). 5. Proibição da discriminação contra importações de países que produzem o mesmo produto. 6. Esse argumento é desenvolvido por Michael Barnett e Martha Finnemore (Barnett & Finnemore,

2001). 7. O tema é discutido por Ian Hurd, que salienta que existem três formas de garantir que uma regra

seja obedecida: coerção, autointeresse e legitimidade. O autor considera o conceito de legitimi-dade como um dos mecanismos de ordenamento do sistema internacional (Hurd, 1999).

8. Essa discussão é desenvolvida por Ricardo Seitenfus (Seitenfus, 1997). 9. Essa regra é aplicada apenas aos Estados que assinaram os novos protocolos da IAEA. 10. De acordo com um relatório de 2013 são 84.069 funcionários em dezembro de 2013. Report of

the International Civil Service Commission http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol-=A/68/30, visita em 02 janeiro de 2015.

11. A proposta de Abbé Saint-Pierre (Project of Perpertual Peace, 1713) incluía a criação de uma liga de Estados e uma corte internacional, representando os Estados Europeus, com poder para arbitrar as disputas e impor sanções caso necessário. Eméric Crucé propôs a criação de uma fede-ração mundial. Ele apontava para a superficialidade das diferenças entre os homens — cristãos,

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mulçumanos, judeus e pagãos teriam lugar no desenho de sua federação (Crucé, 1909). Imman-uel Kant, autor que apresentamos no Capítulo 2, escreveu sobre a formação de uma cidadania cosmopolita e de uma federação de repúblicas (Kant, 1970).

12. O mar territorial foi estabelecido em três milhas, já que esse era o alcance de um canhão baseado em terra no início do século XVII.

13. Hugo Grotious foi um teórico do direito internacional, tendo escrito um dos textos fundadores do direito internacional moderno, De Jure Belli ac Pacis, em 1625.

14. Veja o livro de Innis Claude para essa discussão (Claude, 1984, p. 121). 15. A Corte funciona no Palácio da Paz em Haia desde 1913, lidando com disputas envolvendo Es-

tados, OIGs e atores privados, direito público e privado. Trata-se de um aparato que permite a montagem de tribunais de arbitragem. Veja http://pca-cpa.org.

16. Essa discussão é feita por Veijo Heiskanen (Heiskanen, 2001).

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2a edição revista e atualizada

Jana Tabak

A oportuna atualização de “Organizações Internacionais: História e Práticas” ocorre em momento de redistribuição de poder geopolítico – da modelo unipolar para uma configuração multipolar – e de afirmação da presença global do Brasil.

Desde seus primórdios, no Congresso de Viena, o multilateralismo se afirmou como contribuição civilizacional em prol do diálogo e da paz. Hoje, a celebração dos 70 anos da ONU reacende o debate sobre a revitalização das instituições existentes. A criação da Comissão de Consolidação da Paz e do Conselho de Direi-tos Humanos, assim como os arranjos institucionais para adaptar a ONU aos desa-fios de uma nova agenda para o desenvolvimento sustentável, são exemplos de vitalidade e capacidade de renovação do multilateralismo. Ao mesmo tempo, persiste o imperativo de atualizar a composição do Conselho de Segurança.

O Brasil participa ativamente dos esforços para renovar o multilateralismo em vertentes que vão dos mecanismos de governança à paz e segurança, desenvolvi-mento sustentável e direitos humanos. Exemplos do engajamento brasileiro incluem a Rio+20 e os debates sobre privacidade na era digital e sobre a “respon-sabilidade ao proteger”. Brasileiros dirigem, hoje, entidades como OMC, FAO, OICafé e o Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica. O fortaleci-mento do MERCOSUL, da UNASUL e da CELAC reflete um Brasil à frente de processos de aprimoramento das instâncias de integração regional, ao passo que IBAS, BRICS, ASA e ASPA representam novas iniciativas da diplomacia brasileira de alcance inter-regional.

Diferentemente do ocorrido em processos anteriores de reordenamento global, como em 1814 e nos pós-I e II Guerras Mundiais, quando o Brasil ainda podia ser considerado ator periférico, hoje estamos aptos a ajudar a moldar uma nova ordem mais cooperativa, justa e pacífica. O livro de Monica Herz, Andrea Hoff-mann e Jana Tabak será ferramenta importante nesse contexto.

Embaixador Antonio Aguiar Patriota

Esta nova edição de “Organizações Internacionais – História e Práticas” é útil a estudantes de todas as idades.

Aos que se iniciam, pela perspicácia com que as autoras, em linguagem clara, concisa e objetiva, explicam dinâmicas complexas do mundo atual, informam do essencial, despertam curiosidades e indicam boas leituras adicionais sobre cada tema examinado.

Aos que, depois de décadas, ainda se esforçam para interpretar um mundo em transformação, o texto provoca: densa e atual, a discussão teórica informa o debate sobre as perspectivas de governança global, que se constrói de todos os ângulos relevantes.

A todos, o livro entrega mais do que promete: à lúcida análise do processo de organização das relações internacionais contemporâneas somam-se pistas sobre as condições em que intelectuais e operadores políticos influenciam o curso dos acontecimentos.

Boa leitura!

Antonio Jorge Ramalho

ANDREA RIBEIRO HOFFMANN é, atualmente, Professora Assistente na Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde também trabalhou entre 2003 e 2008. No entremeio foi Professora Visitante na Universidade Livre de Berlim (2012-2015), Universidade de Erfurt (2010-2012) e London School of Economics (2008-2010). Realizou pesquisas nas áreas de organizações internacionais, integração regional, regionalismo comparado e questões de legitimade e democracia na política global. Entre suas últimas publicações estão: Inter- and Transregionalism, no Oxford Handbook of Comparative Regionalism, editado por Tanja Börzel e Thomas Risse; UNASUR and the reconfiguration of cooperation in South America, coautoria com Jose Ruiz Briceno, publicado no Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies; Human Rights in Mercosur: at last, em Governance Transfer by Regional Organizations, editado por T.Börzel e V. van Hüllen; e EU Democracy Promotion in Latin America: much ado about nothing?, em The substance of European Union Democracy Promotion.

JANA TABAK possui bolsa de pós-doutorado vinculada ao Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, com a pesquisa direcionada aos seguintes temas: política internacional, segurança internacional, instituições internacionais e processos de mediação internacional. Seu doutorado em Relações Internacionais foi realizado no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (2014) com foco na participação de crianças-soldado em conflitos armados internacionais. Jana publicou um livro: Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty (coautoria Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) pela Academic Publishing em 2012.

MONICA HERZ é professora associada da PUC-Rio. Possui doutorado pela London School of Economics and Political Science e é autora de três livros: Organizações Internacionais: histórias e práticas (coautoria com Andréa Ribeiro Hoffman) pela Elsevier; Ecuador vs. Peru: Peacemaking Amid Rivalry (coautoria com João Pontes Nogueira) e Global Governance Away From the Media. Ela também publicou diversos artigos e capítulos de livros sobre segurança latino-americana, organizações internacionais e a inserção internacional do Brasil.

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