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Organização social e produtiva de farinheiras comunitárias na APA de
Guaraqueçaba - PR: uma estratégia de desenvolvimento local
Nathalia de Jesus Sibuya¹
Bruno Mathias Paifer²
Valdir Frigo Denardin³
Luiz Fernando de Carli Lauter
Guilherme Lim
1 Bacharel em Gestão Ambiental/Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral,
2 Bacharel em Gestão Ambiental/Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral,
3 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade/Universidade Federal do
Paraná – Setor Litoral/Coordenador da Ação, [email protected] 4 Doutor em Geografia/Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral/ Coordenador
do Programa, [email protected]
5 Bacharel em Gestão e Empreendedorismo/Universidade Federal do Paraná – Setor
Litoral/ Estagiário do Programa, [email protected]
Resumo
O Litoral do Paraná está inserido no mais preservado espaço contínuo de Mata Atlântica
do Brasil, rico em sociobiodiversidade e pluralidade cultural. O cultivo de mandioca na
região atua como atividade estratégica para o desenvolvimento local, visto que contribui
para a segurança alimentar e é um potencial de geração de renda para as famílias rurais.
A produção de farinha de mandioca é uma tradição, sendo repassada de geração em
geração, é popularmente conhecida como “Farinha da Boa” ou “Farinha da Terra”,
devido seu modo artesanal de processamento. No entanto, os agricultores familiares,
encontram alguns limitantes para o exercício desta atividade, como a disponibilidade de
área de plantio, a dificuldade de transporte das mercadorias, falta de licença da
vigilância sanitária e alvará de funcionamento para agroindústrias, falta de um rótulo de
identificação adequado, além da concorrência de farinhas vindas de outras localidades.
Neste contexto, o objetivo do presente artigo é relatar as ações realizadas e estratégias
utilizadas pelo Programa de Extensão Farinheiras no Litoral do Paraná, da Universidade
Federal do Paraná – Setor Litoral, por intermédio da metodologia participativa, para
auxiliar na organização social e produtiva de farinheiras comunitárias, localizadas nas
comunidades de Açungui e Potinga, na APA de Guaraqueçaba. O Programa desenvolve
desde o ano de 2008, ações de ensino, pesquisa e extensão no âmbito ambiental,
cultural, social e econômico, possibilitando algumas conquistas como a licença da
vigilância sanitária e o alvará de funcionamento da prefeitura, a elaboração do rótulo da
farinha de mandioca com identidade cultural/territorial, a construção do termo de uso
dos equipamentos das unidades produtivas, o fortalecimento das associações
comunitárias, bem como o estabelecimento da autogestão das unidades produtivas.
Palavras chaves: Litoral do Paraná, Farinheiras Comunitárias, Programa de
Extensão, Organização Social e Produtiva.
Introdução
O litoral do Paraná apresenta sete municípios, podendo ser dividido de acordo
com suas características sociais e atividades econômicas, sendo os portuários,
Paranaguá e Antonina, sendo o primeiro o maior exportador de grãos da América Latina
e o segundo com movimentação de diversas, os praiano-turísticos, Matinhos, Pontal do
Paraná e Guaratuba, que dependem economicamente do turismo de veraneio e por
último os rurais, Morretes e Guaraqueçaba (ESTADES, 2003).
O município de Guaraqueçaba se destaca entre os demais por apresentar o
espaço mais bem preservado da Mata Atlântica, tendo 98% de sua área coberta por
Unidades de Conservação (UCs), dentre as categorias presentes estão APA (Área de
Proteção Ambiental), a ESEC (Estação Ecológica), o PARNA (Parque Nacional), a
REBIO (Reserva Biológica) e a RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). A
criação das áreas protegidas e a implementação de seu marco regulatório, desencadeou
na região, uma série de conflitos socioambientais inerentes ao uso e ocupação do solo e
ao acesso aos recursos naturais (DENARDIN et al., 2008).
Figura 1 – Localização do Município de Guaraqueçaba, Litoral do Paraná.
Fonte: SIBUYA et al., 2013
É um município com característica predominantemente rural, possui forte
potencial agrícola, onde se evidencia o cultivo da banana e mandioca, realizada por
famílias de pequenos agricultores.
A produção de mandioca é de grande importância para estas famílias, pois,
além de contribuir para a segurança alimentar, é uma atividade estratégica na geração de
renda e no desenvolvimento local. A prática do ato de fazer farinha de mandioca é uma
tradição na região, a farinha é popularmente conhecida pelos consumidores como
“Farinha da Boa” ou “Farinha da Terra”, sendo repassada de geração em geração,
mantendo o modo artesanal de processamento de acordo com a cultura material de cada
família. As etapas sequenciais da produção, após a colheita da raiz, são basicamente as
mesmas para cada família: a lavagem da raiz; descascamento; ralação; prensagem;
peneiração; torragem e embalagem do produto final (SIBUYA et al 2013).
A distinção no modo de fazer farinha de cada família está ligada a variedade de
rama utilizada no plantio, na forma de divisão do trabalho entre homens e mulheres no
momento do processamento, na velocidade de rotação em que se encontra a pá para a
torração da farinha e no tempo de torração.
No que diz respeito à valorização das famílias no meio rural e das diversidades
produtivas desenvolvidas por estas, está vinculado com a introdução da produção
agropecuária no mercado. No entanto, a proximidade de pequenos produtores com o
mercado externo nem sempre é favorecida, visto que a realidade de competição com
outras fontes de mercado é maior e ainda se destaca a dificuldade de acesso ou o
mantimento deles nesse processo de construção social.
Sendo assim, os fatores que agregam valores para um produto, que trazem
consigo a identidade regional e cultura local são estratégias importantes para o
desenvolvimento social e também na construção de canais de comercialização, sendo
fonte de geração de renda e ponte do agricultor até o mercado consumidor.
Neste contexto, destaca-se a comunidade de Açungui, que está localizada as
margens do rio Açungui e da rodovia PR-405, próxima às coordenadas UTM 22J 758905
721269, entre Tagaçaba e Serra Negra, a cerca de 40 km da sede do município de
Guaraqueçaba, tem aproximadamente 150 habitantes, distribuídos em 37 famílias.
Quanto à descendência a maioria relata ter parentesco de origem indígena e portuguesa; e
deve-se citar também a comunidade de Potinga, que fica entre as comunidades de Rio do
Cedro e Tagaçaba, próxima às coordenadas geográficas 25° 14’S e 48° 30’W, sua população
reside basicamente às margens da PR 405 e uma pequena parcela habita o entorno próximo
de alguns rios que permeiam a região. A comunidade possui cerca de 200 habitantes
(KASSEBOEHMER, 2007).
No ano de 2003, o Programa Paraná Doze Meses, através da EMATER (Instituto
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural), contemplou Açungui com uma
farinheira comunitária e um micro trator, e Potinga apenas com a farinheira comunitária.
Porém este processo de implantação das unidades produtivas não ocorreu com consulta
pública nas comunidades, o que fez com que grande parte dos equipamentos não
pudessem ser utilizados ou demonstrassem ser inadequados ao uso das comunidades,
tornando-se locais inativos.
O primeiro contato do Programa de Extensão com as farinheiras comunitárias
ocorreu através do Projeto “Estudo da cadeia produtiva da mandioca como estratégia
para o desenvolvimento da agroindústria familiar no litoral do paranaense”
(DENARDIN et al., 2009) que identificou um total de 118 farinheiras nos sete
municípios do litoral do Paraná. Destas, oito são farinheiras comunitárias e as demais
são farinheiras individuais que produzem para o auto-consumo e para o mercado. Foi
identificado também que nenhuma farinheira possuía a autorização da vigilância
sanitária, seja municipal ou estadual, para operar. Entretanto, as farinheiras comunitárias
do Açungui e Potinga, encontravam-se em condições favoráveis para a adequação as
normas da vigilância sanitária, então o Projeto acima mencionado passou a ser
denominado Reestruturação Produtiva de Farinheiras Comunitárias no Litoral do Paraná
e optou-se por trabalhar inicialmente com a comunidade de Açungui e posteriormente
houve a inclusão da comunidade de Potinga. O objetivo foi à organização social e
produtiva das farinheiras comunitárias, bem como, possibilitar a geração de renda e
permanência no campo dos pequenos agricultores. No ano de 2009 se tornou um
Programa de Extensão e conquistou o Prêmio Santander Universidade Solidária. O
Programa trabalhava numa espécie de guarda chuva sendo dividido em quatro metas,
compreendendo Processos Agroecológicos, Mercado, Gestão, Organização e Resgate
Cultural. No entanto, devido ao tempo de atuação e a forte interdisciplinaridade, houve
a necessidade de incorporar as metas umas as outras, e atualmente é desenvolvido com
duas metas principais.
O artigo tem por objetivo relatar as ações realizadas e estratégias utilizadas pelo
Programa de Extensão para auxiliar na organização social e produtiva das farinheiras
comunitárias, visando à geração de renda e a permanência dos agricultores familiares no
campo.
Além desta introdução, apresenta-se a metodologia utilizada, os resultados a
partir de um conjunto de metas estabelecidas em parceria com as comunidades, e por
fim as conclusões ou considerações.
Metodologia
A principal metodologia do Programa de Extensão, que norteia todas as ações
nas comunidades, é a participativa. De acordo com Kummer (2007), o método
participativo é um processo no qual a troca de informações ocorre entre todos os
envolvidos, internaliza-se os problemas e potencialidades principais de forma coletiva, o
que gera uma participação dos envolvidos, provocando e apoiando o processo de
mudança comportamental de cada um e do grupo como um todo. Também são
utilizadas algumas ferramentas, que auxiliam nas oficinas de capacitação e no processo
de diálogo com as comunidades, como o Diagnóstico Rural Participativo, o Mapa da
Cadeia Produtiva de Mandioca, o Geoprocessamento, o Grupo Focal, o Brainstorming
ou Tempestade de Ideias, e a História Oral.
O Programa atualmente é subdividido em duas metas, Meta 1 – Gestão,
Organização e Estratégias de Mercado, e a Meta 2 - Gestão Ambiental e Processos
Agroecológicos. Cada meta possui certa autonomia para realizar as ações propostas,
contudo os resultados, positivos e negativos, são socializados em reuniões semanais aos
demais membros do Programa. Este procedimento permite que a equipe toda tome
conhecimento de como cada meta esta avançando, suas dificuldades, erros e acertos.
A equipe de trabalho é interdisciplinar, com o intuito de proporcionar maior
diversidade e aporte de informações à comunidade, é composta por: professores
economistas, geógrafos, agrônomos e gestores ambientais; estudantes dos cursos de
gestão ambiental, gestão e empreendedorismo, gestão pública e agroecologia. Além de
se tornar um instrumento de transformação e impacto no desenvolvimento local, a
intenção do Programa é a troca de saberes, entre o científico e o popula;r, incentivando
o protagonismo e a autogestão das comunidades, a universidade atuando como meros
orientadores.
Resultados e Discussões
Os resultados e discussões serão apresentados a partir de duas metas, que
corespondem a Projetos no Programa de extensão.
Meta 1 – Gestão, Organização e Estratégias de Comercialização
Durante os Projetos anteriores foi possível constatar que ambas as comunidades
detinham uma organização comunitária formalizada, no formato de Associação, porém
nem sempre seu funcionamento era efetivo, havia uma necessidade de um agente
motivador. Na comunidade de Açungui, a gestão da Associação estava praticamente
abandonada por conta de conflitos nas relações interpessoais dentro da comunidade, o
que influenciava diretamente na conclusão da reforma da farinheira comunitária para a
ativação da mesma. A Associação da comunidade de Potinga abrange a comunidade
vizinha, Rio do Cedro, conta com um número razoável de membros, sua organização é
fortalecida e articulada, mas em relação à farinheira comunitária a associação só
avançou nas reformas quando foi orientada pela vigilância sanitária quanto à
necessidade da rotulagem da farinha de mandioca.
Desta forma, a equipe do Programa juntamente com os agricultores familiares
definiram como a reestruturação física das unidades produtivas e a adequação as normas
da vigilância sanitária, para obtenção da licença e alvará de funcionamento para
agroindústrias. E posteriormente realizaram ações para o fortalecimento da imagem do
produto, farinha de mandioca, e a construção de estratégias para a comercialização do
produto em mercados mais organizados, por intermédio de ferramentas.
A ideia foi promover nas comunidades um espaço de reflexão e discussão da
realidade local, buscando o fortalecimento dos laços comunitários, a autogestão e
desenvolvimentos das relações institucionais. A meta teve várias etapas:
Etapa 1 – Visitas técnicas: parecer de técnicos especializados da Vigilância
Sanitária para promover a melhoria continua da unidade produtiva;
Etapa 2 - Inovações tecnológicas: foram feitos os ajustes necessários e
introduzidos novos maquinários que aprimorem a qualidade dos produtos, respeitando a
experiência e o “saber local”;
Etapa 3 – Oficinas para autogestão: repassar/relembrar conhecimentos sobre
gestão e organização da produção de farinha de mandioca.
Etapa 4 – Apoio a organização e fortalecimento do grupo: reforçar
potencialidades e corrigir dificuldades em relação à gestão interna do grupo;
Etapa 5 – Promover intercâmbios entre as comunidades e instituições.
Etapa 6 – Capacitar os agricultores sobre boas práticas de higiene durante o
processo produtivo;
Etapa 7 – Promover encontros entre os grupos comunitários produtores de
farinha para troca de experiências no que tange as práticas de higiene e acesso a
mercado;
Etapa 8 - Rotulagem dos produtos: elaborar a rotulagem da farinha de
mandioca produzida na farinheira. Estimulando a identidade territorial/cultural.
Etapa 9 – Propor novos canais de comercialização para a farinha e demais
derivados da mandioca no mercado local e regional;
Etapa 10 – Incremento na geração de renda: acompanhar sistematicamente a
produção de farinha pelas famílias.
No decurso dessas etapas, que atualmente continuam em andamento, é notável
os avanços das comunidades, e podem-se citar resultados concretos conquistados.
O primeiro resultado a relatar é a reestruturação completa das unidades
produtivas, a conquista da licença da vigilância sanitária e do alvará de funcionamento
da prefeitura, por intermédio de muito diálogo com as famílias, mutirões de reforma,
articulação de parcerias institucionais e visitas de avaliação da vigilância sanitária.
Figura 2 – Reforma da Farinheira (Açungui) Figura 3 – Visita da Vigilância Sanitária
Fonte: Banco de Dados do Programa (Açungui)
Fonte: Banco de Dados do Programa
Figura 4 – Visita Vigilância Sanitária
(Potinga)
Fonte: Banco de Dados do Programa Figura 5 – Farinheira Comunitária após Reforma
(Potinga)
Fonte: Banco de Dados do Programa
As oficinas de boas práticas de higiene e segurança do trabalho foram
fundamentais na obtenção da licença, mas mesmo após a conquista, houve continuidade
buscando atender as demandas das comunidades com assessoria e treinamentos dos
membros associados. As oficinas ministradas tinham como intuito a demonstração
correta da lavagem de mãos, como produzir a farinha com segurança e cuidado, como
adaptar os equipamentos as normas de segurança do trabalho.
Na aplicação das oficinas, surgiu o desejo por parte dos participantes, de se
planejar a elaboração de uma cartilha de bolso, sobre as boas práticas de higiene, para
os associados da farinheira comunitária.
Figura 6 – Oficina de Segurança do Trabalho
Fonte: Banco de Dados do Programa
O rótulo da farinha de mandioca é uma exigência estabelecida pela ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), sem o mesmo não é possível à
comercialização do produto. A primeira experiência de elaboração do rótulo foi
realizada na comunidade de Açungui. O processo de desenvolvimento teve a duração de
aproximadamente quatro meses. A equipe do Programa realizou um total de vinte
reuniões internas na universidade e seis reuniões com a comunidade: quatro oficinas
participativas e dois encontros para conversas individuais na casa de cada associado.
A equipe do Programa teve a possibilidade de rever as oficinas realizadas na
comunidade de Açungui, corrigir os erros cometidos e fazer um planejamento mais
refinado, para a elaboração do rótulo em Potinga. A comunidade de Potinga possui uma
associação mais fortalecida e organizada, o que fez com que o processo de elaboração
do rótulo fosse desenvolvido de modo mais objetivo e rápido. No total foram realizadas
três oficinas para construção do rótulo, a data das reuniões era de preferência no mesmo
dia da Assembleia Geral da Associação de Moradores e Pequenos Produtores de
Potinga e Rio do Cedro. Após as oficinas os agricultores se reuniam para discutir e
propor, pensar o rótulo. Os resultados das conversas eram repassados a equipe do
Programa.
Ambas as comunidades optaram por enfatizar no rótulo a identidade
territorial/cultural, acrescentando uma marca e imagem local.
Figura 7 – Rótulo do Açungui Figura 8 – Rótulo da Potinga
Fonte: Banco de Dados do Programa Fonte: Banco de Dados do Programa
Outra mudança de destaque foi à adoção do livro controle da produção de
farinha, nas unidades produtivas, facilitando o planejamento da produção e auxiliando
na quantificação do produto.
Figura 9 – Livro Controle da Produção
Fonte: Banco de Dados do Programa
Na comunidade do Açungui a equipe do Programa sentiu a necessidade de
utilizar a metodologia do mapa de propriedade que é uma das ferramentas do DRP –
diagnóstico rural participativo. O mapa de propriedade mostra todos os detalhes
produtivos e de infraestrutura social de uma propriedade. Serve para o planejamento, a
discussão e a análise da informação visualizada. Os dados foram coletados em duas
fases:
Fase 1 – Aplicação de questionário socioeconômico na comunidade de Açungui.
Fase 2 – Mapas de propriedade
Resultando em 19 mapas de propriedade de 17 agricultores da comunidade com
todas as informações de interesse. Os mapas permitiram quantificar o potencial
produtivo de matéria prima da comunidade auxiliando, assim, a organização no uso da
farinheira.
Figura 10 – Mapa de Propriedade desenhado Figura 11 – Mapa de Propriedade
Fonte: Banco de Dados do Programa Fonte: Banco de Dados do Programa
Meta 2 – Gestão Ambiental e Processos Agroecológicos
Os locais de produção localizam-se dentro das Unidades de Conservação,
especialmente na categoria APA (Área de Proteção Ambiental) o que obriga os
produtores a adotarem novas práticas de cultivo para compensar as restrições da
Legislação Ambiental. Inseridos neste contexto, os produtores estão limitados em
produzir nas mesmas áreas, contribuindo na diminuição da fertilidade do solo, o que
determina a adoção de novas práticas para a sua melhoria.
No caso da produção da farinha, são gerados resíduos sólidos como a casca da
mandioca, e dois tipos de efluentes: o da fase de lavagem (água de lavagem) e o da
prensagem (mandiquera). Tendo esses problemas visíveis, a meta tem como objetivo
estimular a produção dos pequenos produtores através de atividades desenvolvidas com
parcerias externas, intervindo para mitigar os gargalos e desenvolver as potencialidades,
evitando, assim, o desaparecimento desta atividade de grande importância econômica e
cultural e adotando práticas sustentáveis de manejo. A meta teve as seguintes etapas:
Etapa 1 - Qualidade do solo: realizar estudos com o intuito de identificar
técnicas agroecológicas que possibilitem o aumento na produção e produtividade da
mandioca;
Etapa 2 - Consolidar práticas relacionadas à gestão de resíduos sólidos e líquidos
na unidade produtiva: utilizando como base a ABNT NBR 10004 (dispõe sobre a
classificação de resíduos sólidos), a Lei 12305 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) de 2 de agosto de 2010;
Etapa 3 - Incremento na área cultivada: realizar ações que propiciem o
incremento da área cultivada na comunidade;
Etapa 4 – Certificação orgânica: análise da potencialidade da certificação e
busca de parcerias.
As etapas acima mencionadas ainda estão em andamento, mas já é possível
observar o progresso e avanço neste âmbito.
Foram realizados estudos para a implantação de novas variedades de mandioca,
selecionando entre elas as mais adaptadas às particularidades da região. Também houve
a necessidade de aplicação de questionários visando verificar a quantidade plantada,
área utilizada, espécie de mandioca plantada, principais dificuldades e o interesse de
plantio para o corrente ano, em paralelo a essas questões, foram propostos à
possibilidade de um experimento com essas novas variedades de mandioca, e com o
interesse dos agricultores, iniciou-se uma conversa com o IAPAR (Instituto
Agronômico do Paraná) para obtenção dessas mudas. Devido a grande busca do
mercado nacional e internacional por busca de alimentos ecológicos, livres de
agrotóxico, outra linha de trabalho foi um levantamento das certificadoras de produtos
orgânicos que atuam no Paraná, e contato com os mesmos para verificar custos, forma
de auditoria, burocracias e a possibilidade de parcerias para obtenção da certificação
orgânica, em conjunto com reuniões internas a fim de verificar qual a melhor opção
para a comunidade de Açungui já que todos os agricultores desta comunidade produzem
os alimentos somente com práticas agroecológicas.
No decorrer buscaram-se novas práticas agroecológicas que respeitem o meio
ambiente, aumentem a produção e a qualidade da mandioca, a partir dessa busca foi
realizado um experimento de adubação orgânica. No experimento foram utilizados
materiais de fácil acesso aos agricultores, com o intuito de desmistificar a adubação
orgânica, e mostrar tanto visivelmente quanto na questão de produção por m² as
vantagens dessa técnica. No experimento foram utilizadas diferentes concentrações de
esterco de gado, esterco de frango e calcário dolomítico em 3 áreas das comunidades.
Com o melhoramento da produção, e o desenvolvimento de práticas
agroecológicas através da adubação orgânica, tem se trabalhado a viabilidade da
obtenção do rótulo de produtos orgânicos contribuindo dessa maneira na viabilização
dos canais de comercialização e contribuindo no aumento da renda dos produtores.
Figura 12 – Área com adubação verde Figura 13 – Área sem adubação verde
Fonte: Banco de Dados do Programa Fonte: Banco de Dados do Programa
Na questão da geração de resíduos da produção, está sendo desenvolvido um estudo em
torno da água de lavagem, para averiguar qual é a destinação adequada que causa menos
impacto ao ambiente. No caso da mandiquera ou manipueira, o líquido tem sido
utilizado pelos pequenos agricultores no combate de pequenas pragas nas roças.
Considerações Finais
A produção de farinha de mandioca no Litoral do Paraná é uma tradição cultural
que faz parte do cotidiano dos pequenos agricultores familiares, serve de alimento
diário, traz consigo um pouco da história dos ancestrais, sendo uma alternativa de
geração de renda que auxilia no desenvolvimento local.
Por intermédio do Programa de Extensão, foi possível concluir que a
universidade tem um papel importante no impacto e transformação da realidade dessas
comunidades invisíveis ao Estado. A reestruturação dessas unidades produtivas e
adequação aos padrões de higiene estabelecidos pelas normas da ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) colaboraram de modo significativo para o aumento na
produção de farinha. A estrutura produtiva com seus equipamentos propicia a
diminuição no tempo e força de trabalho em todas as fases do processo produtivo, além
de evitar problemas de saúde por esforços repetitivos.
Nota-se que os novos padrões impostos pela modernização da sociedade ainda
não suprimiu a qualidade do produto ou levou a uma padronização. Cada família tem o
seu modo peculiar de produzir a farinha, de acordo com sua cultura material e o anseio é
de que a atividade continue e alcance novos mercados.
O fato das comunidades estarem inseridas dentro de áreas protegidas faz com
que haja uma preocupação constante em relação à adoção de práticas sustentáveis de
manejo e a destinação dos resíduos sólidos no processo de produção, os esforços
coletivos, Programa e agricultores, são para que em breve as comunidades possam obter
a certificação orgânica, que já é uma realidade em comunidades vizinhas.
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