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Organização Sindical e Relações de Trabalho: A luta dos Trabalhadores na Itália e no Brasil

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Organização Sindical e Relações de Trabalho:

A luta dos Trabalhadoresna Itália e no Brasil

Agosto de 2008

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O68 Organização sindical e relações de trabalho: a luta dos trabalhadores na Itália e no Brasil / [organização] Central Única dos Trabalhadores, Secretaria Nacional de Organização. — São Paulo : CUT, 2008. 92 p.

1. Organização sindical - Brasil - Itália. 2. Direito dos trabalhadores.3. Relações de trabalho. 4. Movimento sindical. 5. Classe trabalhadora.I. Central Única dos Trabalhadores. Secretaria Nacional de Organização.

CDU 331.105.44CDD 331.880981

(Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507)

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Organização Sindical e Relações de Trabalho:

A luta dos Trabalhadoresna Itália e no Brasil

Central Única dos Trabalhadores

Confederazione Generale Italiana del Lavoro

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DIREÇÃO EXECUTIVA NACIONAL DA CUT – 2006/2009 - Efetivos

Presidente: Artur Henrique da Silva SantosSINERGIA – Sindicato dos Trabalhadores nasIndústrias de Energia Elétrica do Estado de SP

Vice-Presidente: Carmen Helena Ferreira ForoSindicato dos Trabalhadores Rurais de Igarapé-Miri – PA

Secretário Geral: Quintino Marques SeveroSindicato dos Trabalhadores nas IndústriasMetalúrgicas de São Leopoldo – RS

Primeiro Secretário: Adeilson Ribeiro TellesSEPE – Sindicato Estadual dos Profissionais daEducação do Estado do RJ (Oposição)

Tesoureiro: Jacy Afonso de MeloSindicato dos Bancários de Brasília – DF

Primeiro Tesoureiro: Antonio Carlos SpisSindicato Unificado dos Petroleiros do Estadode SP

Secretário de Relações Internacionais: JoãoAntônio FelícioAPEOESP – Sindicato dos Professores doEnsino Oficial do Estado de SP

Secretário de Política Sindical: VagnerFreitas de MoraesSindicato dos Bancários de São Paulo, Osascoe Região - SP

Diretora Executiva: Elisangela dos SantosAraújoSindicato dos Trabalhadores Rurais de SãoDomingos - BA

Diretor Executivo: José Lopez FeijóoSindicato dos Trabalhadores nas IndústriasMetalúrgicas do ABC – SP

Diretor Executivo: Julio Turra FilhoSINPRO-Sindicato dos Professores do ABC-SP

Diretor Executivo: Manoel MessiasNascimento MeloSINDPD – Sindicato dos Trabalhadores emInformática do Estado de PE

Diretor Executivo: Milton Canuto deAlmeidaSINTEAL – Sindicato dos Trabalhadores emEducação do Estado de AL

Diretor Executivo: Rogério Batista PantojaSindicato dos Trabalhadores nas IndústriasUrbanas - AP

Diretor Executivo: Temístocles Marcelos NetoSindicato dos Servidores Públicos em Saúde doEstado de MG

Conselho Fiscal - Efetivos

1. Maria Julia Reis NogueiraSindicato dos Trabalhadores Públicos Federaisda Saúde e Previdência do Estado do MA

2. Valdemir Medeiros da SilvaSindicato dos Previdenciários do Estado daBahia

3. Alci Matos AraújoSindicato dos Empregados no Comércio doEstado do ES

Conselho Fiscal - Suplentes

1. José Carlos PigattiSindicato dos Trabalhadores na EnergiaElétrica do Estado do ES

Secretário de Formação: José CelestinoLourenço (Tino)SIND-UTE – Sindicato Único dos Trabalhadoresem Educação do Estado de MG

Secretária de Comunicação: RosaneBertottiSindicato dos Trabalhadores na AgriculturaFamiliar de Xanxerê – SC

Secretário de Políticas Sociais: ExpeditoSolaney Pereira de MagalhãesSindicato dos Bancários do Estado de PE

Secretária de Organização: Denise Motta DauSindSaúde - Sindicato dos TrabalhadoresPúblicos da Saúde no Estado de SP

Secretária sobre a Mulher Trabalhadora:Rosane da SilvaSindicato dos Sapateiros de Ivoti – RS

Diretor Executivo: Anízio Santos de MeloAPEOC – Sindicato dos Serv. Públicos Lotadosna. Secretaria de Educação e de Cultura doEstado do CE

Diretor Executivo: Antonio SoaresGuimarães (Bandeira)Sindicato dos Trabalhadores Rurais dePentecostes - CE

Diretor Executivo: Dary Beck FilhoSindicato dos Trabalhadores Indústria de Dest.e Refinação de Petróleo do Estado do RS

Escritório da CUT Nacional emBrasília

Diretor Executivo: Carlos Henrique deOliveiraSindicato dos Servidores Públicos Municipaisde São José do Rio Preto – SP

Diretora Executiva: Lúcia Regina dos SantosReisSINTUFRJ – Sindicato dos Trabalhadores emEducação da UFRJ

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CUT

Secretaria Nacional de Organização

Denise Motta Dau – Secretária Nacional de OrganizaçãoCarlos Balduíno AssessorCláudia Rejane de Lima – AssessoraSilvana Reis de Lima – Assistente

Secretaria Nacional de Relações Internacionais

João Felício – Secretário de Relações InternacionaisManoel Messias Nascimento Melo – Diretor ExecutivoClair Ruppert - AssessoraMaria Silvia Portela - AssessoraGustavo Codas - Assessor

Equipe Projeto CUT-MULTI - Projeto Ação Frente às Multinacionais

José Drummond - AssessorCintia Monteiro - AssistenteFernanda Sant’Clair – Jornalista

CGIL

Fulvio Fammoni - Secretário Nacional CGILGiacomo Barbieri - Coordenador Departamento Relações Internacionais CGILÍtalo Stellon- Secretário Regional CGIL MoliseNana Corossacz - Responsável A. Latina departamento Internacional CGILAntonio Galante - Responsável do Brasil (Área Exterior) - Patronato INCA CGIL

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Sumário

Apresentação..................................................................................................................................11

Introdução......................................................................................................................................15

100 Anos de CGIL: Um olhar sobre a Organização sindical Italiana

Ítalo Stellon – Secretario Geral da CGIL Molise...................................................................19

A Carta del Lavoro e a Constituição da Organização Sindical Brasileira

Denise Motta Dau – SNO/CUT ..........................................................................................25

José Dari Krein – CESIT.......…………………………………….............………………….....29

José Eymard Loguércio – Coletivo Jurídico da CUT...........................................................37

A Construção dos Direitos dos Trabalhadores: A Experiência Italiana

Fulvio Fammoni – Secretário Nacional da CGIL.................................................................47

A Construção dos Direitos dos Trabalhadores: A experiência Brasileira

Clemente Ganz Lucio – DIEESE..........................................................................................53

Jorge Normando Rodrigues – Coletivo Jurídico da CUT....................................................59

João Antonio Felício – Secretário de Relações Internacionais.............................................69

As Relações de Trabalho no Brasil desafios e Perspectivas

Antonio Carlos Porto Junior – Coletivo Jurídico da CUT...................................................71

Carlos Lupi – Ministro do Trabalho e Emprego...................................................................79

Artur Henrique Silva da Santos – Presidente da CUT.............................................................85

Agradecimentos..............................................................................................................................89

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O Seminário Interna-cional Organização Sin-dical e Relações de Traba-lho – A luta dos Trabalha-dores na Itália e no Brasil- realizado em 23 e 24 deabril de 2007 - é fruto deuma parceria estratégicade décadas entre a CGILe a CUT na luta pela li-berdade de organizaçãoe pelo avanço dos direi-tos dos trabalhadores etrabalhadoras.

O momento vividono Brasil é altamente relevante para todos nós.As eleições para presidência da república co-locaram em disputa dois projetos para o país,sendo vitorioso o projeto de democratizaçãodo Estado e das relações sociais, com a conti-nuidade do processo de mudanças efetuadono primeiro mandato do Governo LULA.

Neste momento, quando parte da mídiaaliada aos setores derrotados nessa eleição in-vestem na tentativa de pautar a agendaneoliberal, em especial, temas relacionados àprivatização, reforma trabalhista, reforma daPrevidência, papel do Estado; enfim, está emdisputa que país queremos para o futuro.

Por outro lado, o momento também é bas-

Apresentação CUT

tante oportuno, pois o Governo Lula lança oPrograma de Aceleração do Crescimento -PAC, recolocando o debate sobre crescimentoeconômico que há muitos anos nós não tínha-mos. Este tema volta à pauta como um temaprioritário da agenda e, por ser um programade aceleração do crescimento, contém um con-junto de obras e de projetos frente aos quais aCUT tem pautado a necessidade de incluircontrapartidas sociais, particularmente, degeração de emprego, como também a garan-tia dos empregos formais, tendo como premis-sa o Trabalho Decente, propugnado pela Or-ganização Internacional do Trabalho.

Não há como fazer uma reflexão sobre opapel do sindicalismo sem avaliar as imensas

Da esq p/ direita João Felício, Denise Motta, Artur, Fulvio Fammoni e Giacomo

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possibilidades e potencialidades abertas noúltimo período com o acúmulo do movimentosocial, particularmente na parte sul do nossoContinente. São avanços que se materializa-ram com a nossa luta, com as nossas campa-nhas e a decisiva contribuição na eleição degovernos nacionalistas e populares que come-çam a romper com a camisa-de-força doneoliberalismo e do privatismo, e agora, maisdo que nunca, na forma como nos colocamosna disputa de hegemonia.

A luta cotidiana por manutenção e am-pliação de direitos no Brasil tem fortalecido aarticulação entre as centrais sindicais e osmovimentos sociais. E, portanto, a parceriacom a CGIL é um elemento essencial desse

Artur Henrique da Silva Santos - Presidente da CUT

processo de construção de alianças, na buscapermanente da emancipação da classe traba-lhadora.

Assim, esse seminário tem uma tarefa es-sencial: acumular reflexão e consolidar a con-cepção de sistema democrático de relações detrabalho, a partir da experiência italiana e bra-sileira, propiciando apontar caminhos para aorganização dos trabalhadores e trabalhado-ras no Brasil, onde a liberdade de organiza-ção, baseada na ratificação da Convenção 87,eliminando a unicidade e o imposto sindical,seja o alicerce, pois, um mapa do mundo quenão inclua utopia não merece nem mesmouma espiada. E essa utopia, alicerçada na açãoconcreta, certamente será a mola propulsorade muitas conquistas que virão.

Artur Henrique e Denise Motta conversam com delegação italiana

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Nós sempre acre-ditamos muito na na-tureza estratégica dasrelações entre a CGILe a CUT no Brasil.Estamos convencidosde que essas mesmasrelações, juntamentecom o trabalho que po-demos realizar emparceria com esta ou-tra organização sindi-cal do mundo, que é aCUT, possam ter umaimportante funçãopropulsora sobre todocenário sindical inter-nacional.

Está para ser criada uma nova confedera-ção mundial e defendemos a idéia de que umanova organização deveria significar tambémum novo conceito de internacionalismo sindi-cal, ainda mais democrático e representativo.

Para fazer isso é preciso valorizar a de-mocracia, a representatividade, a luta sindi-cal em cada um dos países que formam a or-ganização internacional. É necessário umsindicalismo que se comprometa não só a re-agir aos processos econômicos e sociais emescala internacional, mas que se proponhatambém a construir alternativas ao modelo

dominante e neoliberal das relações interna-cionais. Isso significa trabalhar por uma idéiadiferente de desenvolvimento, por um desen-volvimento que inclua um forte processo dedistribuição da renda, dos direitos, do poderentre as forças sociais em nível internacionalde cada país.

Trata-se de unificar e trabalhar pela uni-dade do mundo do trabalho. Em nossos doispaíses este é um ponto que tem sido desafiadopelas mudanças do mercado de trabalho, nosetor formal e no setor informal, entre os tra-balhadores aposentados e os trabalhadores

Apresentação CGIL

Mesa de Abertura Fulvio Fammoni

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imigrantes, estáveis e precários, homens,mulheres. Acreditamos que seja importantís-simo também o trabalho que podemos reali-zar em escala continental, cada um em seupróprio continente: nós, na Europa, e vocêsna América Latina e na América Central.

Fulvio Fammoni – Secretário Nacional da CGILÍtalo Stellon – Secretário Geral da CGIL - MoliseGíacomo Barbieri – Coordenador do Departamento de Relações Internacionais da CGIL

Gíacomo Barbieri – Coordenador do Dep. deRelações Internacionais da CGIL

Não existe uma organização sindical mun-dial nova que não tenha também organiza-ções regionais fortes, novas, autônomas, ca-pazes de exprimir unidade e reivindicações,além dos objetivos comuns em escala conti-nental. Pensamos que as relações bilateraiscomo essa, colaboração frutífera, entre a CGILe a CUT devam servir para favorecer esse in-tercâmbio, pois tal colaboração se demonstrapositiva quando enfrentamos os problemas daatualidade, que não estão restritos só ao Bra-sil ou à Itália, mas são de âmbito continental.

Embora haja especificidades nos dois paí-ses e nos continentes, há muitos pontos seme-lhantes sobre os quais podemos e devemos dis-cutir juntos. Por exemplo, nós estamos discu-tindo a reforma do sistema previdenciário denosso país, a representação sindical e, princi-palmente, discutindo a reforma, as regras detrabalho e, em parte, as regras de contrataçãoque temos hoje. Portanto, como se pode no-tar, o seminário é muito atual.

Temos muita coisa em comum sobre asquais refletir; sobre as quais podemos nos con-frontar, e intervir de forma conjunta, fortale-cendo reciprocamente as duas centrais.

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O Seminário Internacional OrganizaçãoSindical e Relações de Trabalho – A luta dosTrabalhadores na Itália e no Brasil foi a conti-nuidade de uma parceria realizada em 23 e24 de abrail de 2007, em que companheirosdo setor Bancário, da Educação, da Saúde, dosetor Químico, do setor Rural e dosUrbanitários fizeram uma visita à Itália paraconhecer de perto a sua organização sindical.Posteriormente, uma delegação italiana veioao Brasil para realizarmos um debate comoparte das comemorações dos 100 anos daCGIL, onde pudemos olhar a experiência deorganização sindical italiana e suas influênci-as na organização sindical brasileira.

Na mesa A Carta del Lavoro e a ExperiênciaItaliana, o companheiro Italo Stellon, Secretá-rio da CGIL - Molise, apresentou o modelo deorganização sindical da CGIL, partindo daexplicação e análise de suas origens com associedades de Socorro Mútuo, até chegar aosdias de hoje com o Código do Trabalho, ins-trumento de proteção das relações sindicais ede trabalho na Itália e o duro caminho per-corrido para consolidar a organização dos tra-balhadores italianos.

Já na exposição A Carta del Lavoro e a Ex-periência Brasileira a Secretária Nacional deOrganização da CUT, Denise Motta Dau, oProfessor José Dari Krein, do CESIT, e o dou-tor José Eymard, do Coletivo Jurídico da CUTdebateram as relações históricas entre o mo-

Introdução

delo sindical Italiano e o brasileiro, sublinhan-do as influências da Carta del Lavoro no mo-delo de organização sindical criado no Brasilnos anos 30, durante o governo de GetúlioVargas que, segundo algumas teses acadêmi-cas, sofreu forte influência do modelo fascistada Itália.

Os expositores nos brindaram com umpasseio pela história do sindicalismo brasilei-ro desde as suas origens até os dias de hoje,com análises importantes, como as mudançaspromovidas pela constituição de 1988 e suasimplicações na organização dos trabalhado-res. Aos poucos nos vão trazendo até dias atu-ais, onde vivemos o debate de mudanças pro-fundas na estrutura sindical brasileira, a par-tir do Fórum Nacional do Trabalho, que nosremete a um novo modelo de organização sin-dical com Centrais Sindicais reconhecidas e adura luta da CUT por Liberdade e Autono-mia Sindical.

A exposição A Construção dos Direitos dosTrabalhadores, a Experiência Italiana, de Ful-vio Fammoni, Secretário Nacional da CGILfez uma análise da Constituição Italiana esua importância para o mundo do trabalho epara a atuação sindical, com destaque paradas cláusulas que servem de base para a atu-ação concreta do sindicalismo italiano nagarantia e ampliação de direitos. Sua abor-dagem, ainda nos problematiza como é feitaa representação sindical em um regime de

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liberdade, onde várias centrais sindicais dis-putam junto aos trabalhadores o direito derepresentá-los.

A abordagem sobre A Experiência Brasi-leira de Construção dos Direitos dos Traba-lhadores, teve como debatedor Clemente GanzLúcio, coordenador Nacional do DIEESE quenos trouxe uma rica reflexão sobre o resgatedas experiências acumuladas de construçãodos direitos dos trabalhadores no Brasil, des-tacando o importante aprendizado adquiridocom as lutas enquanto base para transformaras ações futuras, num processo dialético deconstrução e consolidação de direitos.

José Normando Rodrigues, advogado doColetivo Jurídico da CUT e de entidades domovimento sindical fez um profundo resgatehistórico das origens do sindicalismo brasilei-ro, das disputas pela concepção de estado que

permearam as disputas das oligarquias e fun-damentalmente mostrou que foi através dosembates e dos conflitos que os trabalhadoresconseguimos obter direitos, demonstrando queos trabalhadores são os atores principais des-ta peça chamada história da classe trabalha-dora no Brasil.

O Secretário de Relações Internacionais daCUT, João Antonio Felício, fez uma reflexãosobre o papel do sindicalismo avaliando asimensas possibilidades e potencialidades aber-tas no período recente do movimento social esindical brasileiro, estendendo a sua análisepara a parte sul do nosso continente, que vemelegendo - como conseqüência da luta diretados trabalhadores - governos nacionalistas epopulares que estão mudando o paradigmaneoliberal, colocando novos elementos, destavez sob a ótica dos trabalhadores na disputapela hegemonia na sociedade.

Plenário do Seminário

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Para encerrar, tivemos os debates realiza-dos na mesa As Relações de Trabalho no Brasil,Desafios e Perspectivas, onde o painelista An-tonio Carlos Porto, membro do Coletivo Jurí-dico da CUT tratou dos impactos do projetoneoliberal sobre os direitos dos trabalhadores,suas investidas precarizantes, amplamenterepudiadas e enfrentadas pelo movimento sin-dical brasileiro em especial a CUT.

O ministro do Trabalho e Emprego, CarlosLupi reafirmou o compromisso do GovernoLula com as questões sociais e seus projetosde inclusão, como parte de uma estratégia

Denise Motta Dau - Secretária Nacional de OrganizaçãoJoão Felício - Secretário Nacional de Relações Internacionais

mais ampla do governo. Globalização, dispu-tas com a China, reformas em discussão comoa Sindical e da Previdência, Sistema S e a altalucratividade do sistema financeiro, estão en-tre as várias questões abordadas nesta mesade debates.

Encerrando as discussões o presidente daCUT, Artur Henrique, destacou as lutasconduzidas pela CUT contra as tentativas deprecarização dos direitos dos trabalhadores enossa defesa intransigente de um sindicalismodemocrático e representativo, tal comoexplicitamos na nossa proposta de um SistemaDemocrático de Relações do Trabalho, com rati-ficação das convenções da OIT – OrganizaçãoInternacional do Trabalho - que tratam da liber-dade na estrutura sindical como a de número87, do direito de organização e negociação dosservidores públicos expressos na convenção 151,e da proteção contra a dispensa imotivada comopreconizada na convenção 158.

Finalizou expondo a luta da CUT para ga-rantir mais democracia para o mundo do tra-balho, e nossa defesa junto ao governo por po-líticas públicas de emprego e renda, ampliaçãodos direitos dos trabalhadores e inclusão paraquem não tem acesso a esses direitos.

É com grande satisfação que apresenta-mos a seguir o conteúdo detalhado das expo-sições. Esperamos que a sua leitura contribuapara aprofundar a compreensão da nossa rea-lidade e para reforçar os laços de identidade esolidariedade com os nossos parceiros históri-cos italianos.

João Felício Secretário de RelaçõesInternacionais

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Denise Motta Dau – Secretária Nacional de Organização

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Vou tentar ilustrar o modelo de organiza-ção sindical da CGIL, partindo de suas origensaté chegar aos dias de hoje. O percurso feitopelo sindicalismo italiano tem início a partir dassociedades de Socorro Mútuo que são as estru-turas que os operários formavam nos locais detrabalho para se ajudarem reciprocamente nosmomentos de maior dificuldade.

A primeira evolução das sociedades de So-corro Mútuo foi à formação de algumas LigasOperárias que reuniam profissionais de ofíci-os organizados em nível territorial. A evolu-ção deste modelo organizativo levou à cons-trução das Câmaras de Trabalho que são asprimeiras estruturas que reúnem os trabalha-dores, independentemente do ofício que exe-cutem.

A primeira Câmara do Trabalho surge em1° de Outubro de 1891, em Milão, como es-trutura territorial que realiza a unidade das

100 Anos de CGIL: Um olhar sobre aOrganização Sindical Italiana

sociedades de trabalhadores assalariados or-ganizados por Seções de Artes e Ofícios, tam-bém para o estudo e defesa dos interesses eco-nômicos, industriais, agrícolas, comerciais, ede tudo o que se reflete na melhoria moral ematerial da classe trabalhadora.

Em 30 de outubro de 1906 surge a Confe-deração Geral do Trabalho (CGL), que foi aestrutura nacional que procurou organizar oconjunto do mundo do trabalho dentro dopaís. A criação da CGL tem a participação desetecentos delegados que representavam asprimeiras oitenta Câmaras do Trabalhoterritoriais que por sua vez representam cercade duzentos mil trabalhadores associados. Jun-to com a CGL surge um primeiro modelo deorganização geral do sindicalismo italiano.

Usamos dois termos principais; o termo‘Vertical’ e o termo ‘Horizontal’. Vertical é aestrutura organizacional das categorias pro-

2006-2008 Secretário Geral CGIL Molise – CampobassoIstruzione e formazione : Diploma Scuola Media Superiore Istituto NauticoVenezia - Capitano di Macchina

Ítalo Stellon*

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fissionais e chamamos isso de Federação deCategorias.

A estrutura ‘Horizontal’ tem naturezaConfederal ou: é aquela que vocês chamam –vocês não usam o termo confederal – de Cen-tral Sindical.

Dentro da nossa estrutura temos as Fede-rações cuja função é se ocupar dos interessesda categoria, enquanto que a função das Câ-maras do Trabalho é de se ocupar da coorde-nação territorial e de questões sociais.

Com o surgimento das Câmaras de Tra-balho a Central assume a direção política detodo o movimento sindical. É neste período quenascem nas empresas as comissões internasque esperam o reconhecimento oficial. A pri-meira legitimação ocorrerá na empresa Italade Turim no ano 1906. Outros reconhecimen-tos ocorreram posteriormente na empresaBorsalino em 1908 e na Fiat em 1912.

Entre os direitos dos inscritos [sindicaliza-dos] estão: ter direito de participar da tomadade decisões, de verificar os resultados, de se-rem informados, votar nos congressos e aces-so a todos os cargos eletivos. Têm tambémdeveres: respeito pelos valores e pelas finali-dades estabelecidas pelo estatuto e, assim, prin-cipalmente, respeito pela democracia, à defe-sa da unidade e da imagem da organização econtribuir para o financiamento da organiza-ção.

Vamos ver, então, como contribuem parao financiamento da organização. As modali-dades de financiamento da CGIL são as se-guintes: a primeira chama-se cota de inscri-ção (quota tessera) que é uma cota anual quese paga para estar inscrito [sindicalizado] ao

sindicado. A segunda é a autorização para quea cota sindical seja descontada do salário.

Até os anos 70, a contribuição sindical erarecolhida pelos delegados nos locais de traba-lho, que recebiam de cada trabalhador, todosos meses, a cota sindical e colavam, em segui-da, na sua carteirinha sindical, um tipo de selo.

Depois que entrou em vigor o Estatuto dosTrabalhadores, (Lei 300) a legislação em vigorpassou a permitir que os trabalhadores reco-lham a cota sindical normalmente, via empre-sa, por meio de uma autorização que obriga oempregador a reter a cota de contribuição, de-terminada pela Central diretamente de seu sa-lário.

A terceira modalidade é a contribuiçãodireta por parte do trabalhador. Isso normal-mente acontece nos locais de trabalho em quea representação sindical é mais complicada eonde os trabalhadores são freqüentementechantageados - e não apenas isso - por tornarevidente e explícita a sua inscrição no sindi-cato. Nesse caso, pagam a cota de contribui-ção estabelecida diretamente à organização,mensalmente ou anualmente.

Há também as subscrições voluntárias au-torizadas pela organização, normalmente paraatender as necessidades particulares. Um exem-plo: em 2003, a grande manifestação promovi-da pela CGIL em Roma: três milhões de traba-lhadores em manifestação. As despesas pararealizar aquela manifestação foram pagas pormeio de uma subscrição autorizada por cadatrabalhador ou então por meio da contribui-ção voluntária que trabalhadores individuaisqueiram dar para a organização sindical.

O valor médio da contribuição de cada

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Organização Sindical e Relações de Trabalho: A luta dos Trabalhadores na Itália e no Brasil

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trabalhador é de um por cento (1%) de seusalário standard, ou seja, do seu salário básico:são • 4,27 (quatro euros e vinte e sete centa-vos), que é o valor da inscrição de que fala-mos anteriormente.

A contribuição é dividida de modo auto-mático a todas as estruturas, o estatuto prevêque todos esses recursos pertencem à CGIL.Esses recursos entram em contas bancárias quefazem apenas a repartição automática dosmesmos, de modo que, cada estrutura recebaa cota de recursos que a direção da CGIL Na-cional prevê.

Obviamente, essa repartição é determina-da pelos inscritos que cada organização regi-onal declarou até 31 de dezembro do ano an-terior ao qual se faz a repartição. E é, portan-to, proporcional ao número de inscritos.

Faz-se uma primeira distribuição: de 100%,chegam ao território aproximadamente 80% –entendendo como território às categorias, e asFederações de categoria de base.

Para a estrutura regional vão 10% dessesrecursos. Para a estrutura nacional vão mais10% dos recursos. Assim, uma primeira repar-tição daqueles 100 que chegam ao sindicato

Rosane Silva Secretaria Nacional de Política Sindical e Ítalo Stellon CGIL

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fica assim: 80% servem para as atividades de-senvolvidas no território e, logo, na base daorganização sindical; 10% servem para garan-tir as estruturas intermediárias regionais; 10%para a estrutura nacional.

A CGIL tem 5.300.000 (cinco milhões e tre-zentos mil) inscritos, e este é o modelo geralde distribuição dentro da CGIL.

Esses são os modelos de financiamento daConfederação, que se sustentam exclusiva-mente sobre a inscrição voluntária ao sindica-to. Cada trabalhador pode, a qualquer momen-to de sua vida ativa, desistir da sua adesão àorganização e assim, não pagar mais a contri-buição.

Este é o elemento fundamental, mas nãoé, vejam bem, um elemento apenas econômi-co. Ou seja, não é apenas um problema dequantidade de recursos; o problema é duplo.Como se pode financiar uma organizaçãopara garantir, na cultura que desenvolvemos,uma autonomia total tanto das forças políti-cas quanto dos governos? Como ter um finan-ciamento direto dos trabalhadores de modo anão manter, digamos assim, nenhum nível derelação com o poder político e com os gover-nos que mudam dentro dos países que hojepodem ser de esquerda, amanhã de direita,que podem ser mais atentos aos problemas dostrabalhadores ou menos atentos?

Ítalo Stelon – Secretario Geral CGIL Molise

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A nossa liberdade é determinada tambémpela nossa autonomia financeira. Assim, o fatode sermos autonômos financeiramente temum valor extraordinário para nós.

Na questão da Contratação Coletivaestamos trabalhando para unificar as catego-rias e, portanto, as federações de ofícios, por-que o mundo do trabalho mudou e mudaramos ofícios. As mudanças no mundo do traba-lho e dos ofícios produzem mudanças de na-tureza organizacional. Cada unificação é umaoperação complicada porque, também nestecaso, não é só um dado organizacional, massim o fato de unificar duas estruturas, cadauma com sua história, sua experiência e suaspessoas.

São operações que requerem tempo paraamadurecer, de modo a não causar uma di-minuição da capacidade de representação dostrabalhadores nos setores que são unificados.Não são operações fáceis porque as diversida-des entre as atividades de trabalho são enor-mes em alguns casos e, por essa razão, muitostrabalhadores têm dificuldade em sentirem-serepresentados por uma entidade, que organi-za tantos ofícios diferentes uns dos outros.

Temos o exemplo do setor de transportes.Até 1980, o setor era organizado conforme aatividade. Havia os que trabalhavam nostransportes públicos, havia o transporte aéreo,havia os ferroviários, os trabalhadores maríti-mos e muitos outros. Em 1980, depois de qua-se dez anos de preparação, construímos a Fe-deração dos Transportes. O trabalho mais de-licado foi o de continuar a garantir as condi-ções de trabalho a todas as profissões que ha-viam sido reunidas e que eram profundamen-te diferentes, como por exemplo, um piloto de

aviões em relação a um condutor de trens ouao trabalhador que conserta os ônibus.

Foi preciso tutelar ofícios diferentes e usarde muita habilidade para manter a ligação –essa é a essência da questão – com o local detrabalho. Perder a ligação com o local de tra-balho torna inevitavelmente difícil represen-tar de modo adequado às pessoas e, portanto,os trabalhadores.

Vivemos também essas contradições queentram cada vez mais na vida da organiza-ção sindical e que precisam ser levadas emconsideração. Quero insistir nisso. Acho im-portante trocar experiências. Não acredito quenenhuma das organizações sindicais tenha,por si só, a receita perfeita, assim, a troca deexperiências entre organizações sindicais émuito importante.

Isso não significa que alguém vai ensinaralguma coisa aos outros e sim que as pessoaspropõem suas experiências, escutam as dosoutros e todos voltam para casa enriquecidos.

Não podemos pensar que é fácil reprodu-zir a mesma coisa em todos os países, não con-seguimos isso na Europa. Com o ingresso dospaíses da Europa Central, chegaram experiên-cias sindicais profundamente diferentes das queconhecíamos. Eram velhas experiências, heran-ça dos países do bloco comunista, do bloco so-viético. São condições muito diferentes que pre-cisam ser discutidas.

A verdade é que a capacidade de discutire principalmente participar com alegria deatividades e discussões que funcionam comoautoformação e ter a capacidade de escutar,isso é muito importante.

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Luis Cláudio, em pé – Na mesa Rosane Silva e Ítalo Stellon

Muitas vezes nós, dirigentes, tendemosmais a falar do que a ouvir e, assim, aquiloque dizemos nos parece ser mais importantedo que o que os outros dizem. Seria ótimo quehouvesse lugares em que as pessoas chegam

com suas idéias, discutem e, quando vão em-bora, estão enriquecidas, principalmente pe-las coisas que outros contaram, e não conven-cidos de que o que elas mesmas disseram é averdade absoluta.

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Embora haja uma crítica à afirmaçãosimplista de que a estrutura sindical brasileiraé uma cópia da Carta del Lavoro, o resgate daexperiência italiana de construção da sua es-trutura sindical traz contribuições importan-tes para compreendermos a força com que oEstado fascista interferiu na organização dostrabalhadores.

A Lei Alfredo Rocco, promulgada em 1926na Itália no auge do fascismo; seguida da Car-ta del Lavoro e da criação do Conselho Nacio-nal das Corporações que decidia sobre todasas controvérsias, todas as polêmicas relacio-nadas à organização sindical conformam otripé do sistema corporativo italiano, que vaiaprisionar a organização dos trabalhadores.Este tripé é um dos aspectos que justifica oargumento de que no Brasil o sistemacorporativo não foi plenamente implantado,tampouco é uma mera reprodução da Cartadel Lavoro.

A Carta del Lavoro e a Constituição daOrganização Sindical Brasileira

Denise Motta Dau

O ponto central que tem norteado a nossareflexão acerca das heranças históricas não é sóproblema do modelo de estrutura sindical, mas,sobretudo, os aspectos ideológicos a elasubjacentes de transformar os sindicatos em ins-trumentos de amortização dos conflitos da rela-ção capital X trabalho, promovendo a “pazsocial” e os interesses dos empregadores.

O controle do Estado, enquadrando asformas de organização dos trabalhadores e re-primindo as lutas passa a ter, portanto, umpapel chave, estratégico, num sistema em quese considera que todos devem cooperar e es-tar imbuídos harmonicamente de um idealcomum. O fascismo não é uma concepção sin-dical, é uma concepção política, um projetode poder, que na sociedade capitalista equi-vale ao poder econômico.

Assim, as comissões internas nos locais detrabalho foram abolidas, porque eram oriun-

Secretária Nacional de Organização Sindical para a gestão 2006 a 2009. É assistente social da saúde pública estadual de SP e Mestraem Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde da SES/SP. Atuou na fundação do SINDSAÚDE-SP, onde é dirigente desde 1988 até aatualidade. Presidiu a Confederação Nacional de Seguridade Social - CNTSS/CUT de 2001 até 2004, entidade da qual foi diretoraexecutiva da gestão 2004 a 2007. Exerceu o cargo de Primeira Secretária da CUT Nacional entre 2003 e 2005, sendo que em julho de2005 assumiu a Secretaria Nacional de Organização Sindical. É membro do conselho diretor do Instituto do Observatório Social eConselheira do CDES - Conselho de Desenvolvimento Econômico Social.

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das de um ambiente de liberdade. A greve detrabalhadores, e outras formas de luta passa-ram a ser proibidas, a ser consideradas crimes.

Do ponto de vista da estrutura sindical,no modelo instituído pelo fascismo italiano abase dos sindicatos não podia ser livrementedefinida. Deveria ser provincial, regional,inter-regional ou nacional e por categoria pro-fissional específica. A admissão no empregoera condicionada à filiação sindical. Além dis-so, havia forte pressão para que os trabalha-dores se filiassem também ao Partido Nacio-nal do Fascismo.

O sindicato deveria ter em seus estatutose objetivos a tutela dos interesses morais e eco-nômicos da categoria, realizando atividadesde assistência, instrução e educação moral ecívica nacional. Os dirigentes dos sindicatosdeveriam ser filiados ao partido e a eles eradado um atestado de capacidade, moralidadee fé nacional para que pudessem exercer es-sas funções.

Caso os objetivos para o funcionamentodaquele sindicato não fossem ao encontro dosinteresses do Estado, a sua direção erarevogada. Contribuição anual de um dia detrabalho ao ano, com desconto aprovado pelaautoridade administrativa e 10% dessa con-tribuição para um fundo patrimonial, para queo sindicato cumprisse os compromissos acer-tados no contrato coletivo e 10% destinadopara o Ministério das Corporações, são outrospontos do modelo fascista que certamente ins-piraram Getúlio Vargas na criação da estru-tura sindical oficial brasileira.

Estrangeiros não podiam ser dirigentes.Reproduzindo a lógica da produção de sepa-

ração entre concepção e execução, os chama-dos profissionais liberais eram organizados emsindicatos diferenciados, ou seja, não era per-mitida a “mistura” do que era consideradotrabalho intelectual e manual. Os gerentes echefes se organizavam com os empregadores

Quando se reconhecia a entidade de nívelsuperior, automaticamente se reconhecia o sin-dicato a ela filiado. As entidades só podiamassinar contrato coletivo de trabalho com aautorização da entidade de grau superior.Cabe destacar que não eram estabelecidos pelalegislação a remuneração mínima, o repousosemanal, férias, indenização por tempo de ser-viço. Tudo isso era negociado no contrato co-letivo de trabalho. Este modelo prevaleceu naItália até 1943.

Com o fim desse modelo na nova Consti-tuição italiana, em 1948, conquista-se outrosistema de organização, com mais liberdade.O resgate dos aspectos da legislação italianaanteriormente abordados dão pistas importan-tes para compreendermos a sua influência naestrutura sindical oficial brasileira.

Em 1930 um decreto de Getúlio Vargascriou o Ministério do Trabalho. Em 1931 sãocriadas as leis para disciplinar o registro desindicatos. Neste contexto é estabelecida aunicidade sindical protegendo o sindicato daconcorrência e garantindo o monopólio darepresentação sindical; o imposto sindicalgarantindo a sustentação financeira e sen-do descontado do conjunto daquela catego-ria, não somente dos filiados e o podernormativo da Justiça do Trabalho, principaispilares da estrutura sindical que perdura atéhoje no Brasil.

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A CUT é fundada em 1983 questionandoa estrutura sindical oficial e resgatando os prin-cípios históricos dos trabalhadores de organi-zação sindical livre e autônoma. Dois elemen-tos chaves que defendemos é fim da unicidadesindical e do imposto sindical, principal sus-tentação de sindicatos cartoriais, sem nenhu-ma representatividade, que proliferam cadavez mais como unidades de negócios. A cadaano são fundados no Brasil cerca de 600 no-vos sindicatos.

Ainda como fruto da herança oficial, nãotemos garantias para a organização no localde trabalho, salvo raras exceções de algumascategorias que conseguiram assegurá-la emacordos coletivos.

O resultado de tudo isso é um mundo dotrabalho bastante fragilizado, sobre o qualavança a terceirização e o aprofundamento

da precarização do trabalho que tem comouma das suas formas de expressão a elevaçãoda informalidade. Atualmente no Brasil 52%da população economicamente ativa está nainformalidade, fora dos sindicatos, entreguesà própria sorte, sem proteção social.

Se, por um lado, temos sindicatos que con-seguiram na prática romper com as amarrasoficiais, por outro lado, infelizmente, aindaobservamos uma certa acomodação de mui-tas entidades sindicais à estrutura sindical ofi-cial. Mudar a estrutura e ao mesmo tempo res-ponder aos problemas gerados pelas mudan-ças ocorridas nas últimas décadas no mundodo trabalho são desafios enormes que temospela frente. Diante do ao cenário deprecarização mencionado acima, os sindica-tos ainda representam uma parte muito redu-zida da classe trabalhadora.

Mario Sergio, Eymard, Porto e Prudente – Coletivo Jurídico da CUT

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Acabamos de combater junto ao Congres-so Nacional um símbolo importante dessaprecarização que é Emenda 3, proposta dosempregadores que restringe o poder de fisca-lização dos fiscais do trabalho dascontratações ilegais ou fraudulentas que en-cobrem relações de emprego, como os PJs(contratação de pessoa jurídica).

Apesar de todos os problemas e das difi-culdades de construir uma mobilização capazde produzir as alterações necessárias e pro-fundas na estrutura sindical temos que avan-çar na questão do reconhecimento das Cen-trais Sindicais no Brasil, na criação do Conse-lho Nacional de Relações do Trabalho e fun-damentalmente estarmos preparados parafazer a disputa nos diversos espaços sociais,dentre eles o Congresso Nacional.

No ultimo período, acordamos alguns te-mas de consenso com as demais centrais sin-dicais relacionados à reforma sindical. Preci-samos lutar pela institucionalização do o di-reito à organização no local de trabalho, anegociação coletiva, a regulamentação do di-reito de greve para o setor público; o combateàs práticas anti-sindicais.

Criamos uma pauta com as centrais sin-dicais resgatando importantes elementos acor-dados no Fórum Nacional do Trabalho e aapresentamos ao governo. Estamos tendo quedebater a questão da reforma sindical pontu-almente uma vez que o projeto amplo negoci-ado no FNT e que tratava globalmente da es-trutura sindical brasileira não avançou no

Congresso por causa da difícil conjuntura en-frentada pela base aliada.

A CUT continuará firme na defesa de umsistema democrático de relações do trabalho ede uma organização sindical com liberdade eautonomia, pelo fim da unicidade, do impos-to sindical e avançando para a contribuiçãonegocial democrática.

E esse é um desafio que esse seminário,inclusive, vai nos ajudar a problematizar, arefletir e a pensar, porque o reconhecimentodas centrais está vindo sem alterar o sistemaconfederativo. Portanto, a nossa estrutura sin-dical, que eu vou chamar de alternativa, nãooficial, ainda não reconhecida, continua nes-se limbo, nessa situação delicada.

Temos que mexer no cerne da questão, notripé poder normativo da Justiça do Trabalho,imposto sindical, e unicidade sindical, elemen-tos que a CUT nasceu questionando, confron-tando e buscando alterar. Esse é o momentoque vivemos e espero que o debate flua, deforma a fazer com que nos tenhamos força,subsídios técnicos e políticos para continuarenfrentando este debate e avançar no projetohistórico de uma central sindical democráti-ca, classista, de massas com autonomia e li-berdade sindical.

Neste sentido, as parcerias internacionaissão estratégicas, em especial com a CGIL quesuperou uma estrutura sindical intervencionista,alcançando com êxito uma estrutura sindical quepossibilita uma organização com maior liberda-de para os trabalhadores.

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Nos anos 80 foi perdido o momento históri-co, quando o novo sindicalismo apresentavagrande força na sociedade brasileira. A partir dosanos 90, especialmente depois da experiêncianeoliberal e de o movimento ter entrado em umadefensiva, em função de um contexto absoluta-mente adverso, a lógica da acomodação à estru-tura oficial fortaleceu-se no meio sindical. A ques-tão que coloco é porque há tanta dificuldade emrealizar uma reforma sindical para valer no país.Para discutir essa questão a fala está estruturadaem três pontos. Em primeiro lugar, o discursoque classifica o nosso sistema de relações de tra-balho como simplesmente uma cópia da Cartadel Lavoro é reducionista. O sistema criado, nosanos 30/40, tem algum embasamento na nossarealidade histórica, por isso ele consegue se re-produzir e sobreviver, em contextos políticos ab-solutamente distintos vivenciados pelo país des-de então.

A Carta del Lavoro e a Constituição da Organização Sindical Brasileira

O SISTEMA DE RELAÇÕES DETRABALHO BRASILEIRO: ALGUMASREFLEXÕES

O segundo ponto, é que o sistema de rela-ções de trabalho brasileiro mostrou uma ca-pacidade de adaptação impressionante emnossa trajetória histórica. Ou seja, mostroumuita flexibilidade em diferentes contextospolíticos. O sistema foi se alterando ao longodo tempo, mas mantendo os seus elementoscentrais. Ele, de certa forma, é um produtotanto das tensões, das lutas e das tentativasde sua superação. A própria história da CUTcomprova essa tese, ao mesmo tempo em queforam criadas instâncias e organizações porfora da estrutura oficial, também se utilizoudo sindicato legal para desenvolver diversaslutas e como base da estrutura da Central. Emsíntese, pretende-se mostrar as ambigüidadesdo sistema oficial, que ao mesmo tempo apre-senta elementos de controle e de algumas sal-vaguardas para a existência da instituição sin-dicato no Brasil.

José Dari Krein

Professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do CESIT

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Por último, as dificuldades atuais dosindicalismo não podem ser atribuídas somen-te a prevalência de elementos centrais da es-trutura sindical herdada do corporativismo.A crise é mais profunda do que a prevalênciado modelo organização sindical brasileiro.

Ao apontar as quatro questões, não se pre-tende defender a atual estrutura, mas apon-tar as razões que explicam a sua reproduçãoao longo do tempo e a forte oposição à refor-ma sindical.

1. A montagem do sistema

A montagem do sistema começa a ocorrernão em 37, quanto inicia a ditadura do Esta-do Novo, mas com o Governo Provisório em30. Um dos primeiros atos do governo Vargas

foi a criação do Ministério do Trabalho, daIndústria e do Comércio, com uma concep-ção clara da busca da paz e harmonia entreas classes, dentro de um projeto dereencaminhamento da sociedade brasileira.No Decreto 19770 de 1931, já se apresenta aidéia de sindicato único, da unicidade e daconstituição da estrutura oficial. Então aunicidade, o sindicato único, o sindicato ofici-al vem do começo dos anos 30 como parte deum projeto político das forças que chegaramao poder.

Assim, a partir dos anos 30 se consolidana nossa trajetória a idéia do sindicato oficial.E como se consolida essa trajetória? Por umlado, há por parte do Estado, a idéia de criaruma organização oficial com duas finalidadesprincipais.

Plenário do Seminário

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Em primeiro lugar, como parte de umanoção de valorizar o trabalho assalariado,como elemento fundamental para viabilizar aindustrialização, evitando os conflitos decor-rentes do desenvolvimento do capitalismo.

Em segundo lugar como elemento da dis-puta política colocada naquele momento his-tórico. A questão é que parte importante dasorganizações dos trabalhadores (inclusivetrotskistas e comunistas), com exceção dosanarquistas, opta pelo sindicato oficial, den-tro de uma visão, predominante em 32 e 33,que ele poderia constituir-se numa instituiçãoa serviço da luta.

A constituinte de 33/34 previa a partici-pação de delegados representando ascorporações de trabalhadores, empregadorese profissionais liberais e não somente parla-mentares eleitos pelo voto direto. É precisotambém destacar que há influentes pensado-res, como Oliveira Viana, que defendiam aidéia de substituir a democracia representati-va por uma intermediação de interesses pelossindicatos. Naquela época a democracia repre-sentativa significava a reprodução do poder dasoligarquias regionais, pois prevalecia o voto decabresto. Ou seja, o nosso sistema de relação detrabalho faz parte de um reordenamento ocor-rido na sociedade brasileira a partir dos anos 30.

Fazia parte do projeto de poder e de reor-ganização e modernização capitalista da so-ciedade brasileira. As forças que chegaram aopoder nos anos 30, principalmente o movimen-to tenentista, católicos orgânicos e reformis-tas sociais – presentes na ampla frente da cha-mada Aliança Liberal - têm como projeto umEstado centralizado, com capacidade de in-tervir na vida econômica e social do país, que

seja capaz de viabilizar a industrialização. Elasbuscaram incorporar as novas classes emer-gentes com a industrialização, a burguesia e oproletariado, tanto para viabilizar seu projetode desenvolvimento como para conter os con-flitos de classes, que são inerentes à relaçãocapital e trabalho em uma sociedade capita-lista.

É por isso, entre outras razões, que o nos-so sistema pode ser classificado comocorporativo, pois busca a harmonia social eestabelece uma estrutura sindicalhierarquizada a partir do Estado. Parte de umprojeto que acredita no progresso e busca aordem. Mas, é um sistema que está articuladocom uma visão de um Estado forte, centrali-zado, estruturado e impulsionador da indus-trialização, em um contexto de crise dehegemonia e de profundo questionamento aoideário liberal. No contexto internacional, ha-viam três alternativas em construção e discus-são: 1) o socialismo, depois da revolução de1917; 2) a social-democracia, que começa a seviabilizar com as experiências da Suécia, doNew Deal dos Estados Unidos e do avanço dokeynesianismo; 3) o fascismo, que floresce eganha expressão em vários estados europeus,especialmente na Itália e Alemanha. É óbvioque o debate internacional influenciou as op-ções adotadas no país.

Assim, o sistema montado no Brasil pro-cura considerar o debate que está sendo reali-zado nos países mais desenvolvidos, mas temuma construção própria, embasada na traje-tória da sociedade brasileira. É um sistema queapresenta diferenças, entre as quais se desta-ca, o seu caráter inclusivo. Não foi só criada aestrutura oficial, mas também um conjunto dedireitos sociais vinculados ao trabalho. É bom

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lembrar que temos um passado escravocrata.Na nossa história da Primeira República, nóstemos um sistema liberal aonde a questão so-cial não foi incorporada pelo Estado.

As forças que chegaram ao poder vão en-caminhar o processo de industrialização doBrasil, tendo presente também a idéia da ne-cessidade de regular o trabalho, o sujeito daconstrução da riqueza nacional precisa servalorizado como portador de direitos. Assim,é um sistema que ao mesmo tempo é progres-sista e conservador. Pois, considera-se o tra-balhador como portador de direitos, mas a suacondição de cidadania é regulada, cria-se umsistema de organização sindical tutelado. E sãoessas organizações sindicais que irão consti-tuir-se como os interlocutores do Estado naperspectiva de representar os interesses dostrabalhadores. Como faz parte de um projetoem construção e em disputa na sociedade bra-sileira, os trabalhadores e suas organizaçõesforam fazendo as suas opções em cada mo-mento histórico. As forças políticas dos traba-lhadores, mesmo que de forma incipiente, pro-curaram intervir nesse debate político, fazen-do as suas opções. Também é evidente que emmuitos momentos não houve a possibilidadede atuação das entidades sindicais, pois o paísviveu sob ditadura ou grande instabilidadepolítica.

2. Ambigüidade do sistema deorganização sindical e negociaçãocoletiva

O nosso sistema de relações de trabalhotem um grau de ambigüidade muito grande.É um sistema que controla a organização sin-dical, a negociação coletiva, que cria institui-ções por dentro do Estado para canalizar os

conflitos e não deixar que estes sejamexplicitados na sociedade. Mas, ao mesmotempo, ele – dada a nossa trajetória anterior –reconhece a instituição sindicato. Algo que nãoacontecia até então.

Apesar do sindicalismo da CUT gostar devalorizar a experiência de um sindicalismomilitante, aguerrido, combativo nos primeirosanos do século XX. Não se pode deixar de re-conhecer que é sindicalismo com muita difi-culdade para até sobreviver, pois apresentadescontinuidade, baixa representatividade enão consegue assegurar um patamar mínimode proteção aos trabalhadores.

Assim, é possível compreender que mui-tas forças políticas sindicais irão valorizar oreconhecimento da instituição sindicato,acompanhada de uma série de salvaguardasque viabiliza a sua existência ao longo do tem-po. Os aspectos repressivos e de controle sãorelativizados nos momentos de maior liberda-de política e são utilizados em períodos dita-toriais. Portanto, a ambigüidade está no fatoque ao mesmo tempo temos um sistema deorganização sindical e negociação coletivacontrolados pelo Estado, mas o reconhecimen-to da instituição sindicato.

Na nossa história podemos observar quea mesma legislação sindical é utilizada paraos trabalhadores levarem as suas lutas e parao Estado controlar e reprimir as organizaçõesautônomas dos trabalhadores. Por um lado,nos regimes ditatoriais essa mesma legislaçãoé utilizada para reprimir e controlar a organi-zação dos trabalhadores. Não se altera subs-tantivamente o arcabouço da regulação vin-da dos anos 30, durante a ditadura militar.Por outro lado, essa mesma base institucional,

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nos momentos de maior democracia, serviu debase para os trabalhadores se organizarem econduzirem as suas lutas. Ou seja, as forçasmais combativas utilizam a estrutura, o reco-nhecimento oficial, a estabilidade do dirigen-te, e o dinheiro para o movimento dos traba-lhadores fazer suas lutas. O que é que foi osindicalismo pré 64? Um sindicalismo atuan-te e expressivo no cenário nacional, constituí-do a partir do sindicalismo oficial combinadocom uma estrutura horizontal autônoma. Aprópria trajetória da CUT foi construída ten-do por base o sindicalismo oficial. Pergunto seseria possível um rápido desenvolvimento donovo sindicalismo sem ter por base uma es-trutura que deu condições para o desenvolvi-mento da organização e das lutas? Em cincoanos, obviamente com um ciclo expressivo degreve, a CUT conseguiu se instituir como umacentral sindical extremamente representativa,enraizada em todo o país.

Esse processo de rápida estruturação daCUT com base no sindicato oficial foi umaopção que se impôs na dinâmica sindical. As-sim, as contradições foram se evidenciando nodecorrer do tempo, servindo, ao mesmo tem-po em alguns momentos, para estabelecer arepressão e o controle e em outros permitindoque os trabalhadores se apropriassem desseinstrumento para poder fazer a sua luta. Nes-se processo histórico é que a estrutura sindi-cal vai ganhando adesão e constituindo umacultura de como fazer sindicalismo no Brasil.Exemplo disso é a emergência de um fortemovimento de oposição sindical nos anos 80 enão a criação de entidades paralelas capazesde rivalizar no meio dos trabalhadores distin-tas concepções sindicais. O que deu possibili-dade, inclusive, de a CUT se organizar emoposições e ganhar muitos sindicatos.

Nesse sentido, é um sistema que vai se adap-tando em cada contexto e circunstância histó-rica. Em função disso tem raízes mais profun-das na nossa tradição sindical. Para o bem epara o mal. E é isso que precisamos considerarna hora que refletir sobre a reforma sindical.

Com o agravante que a partir dos anos90 o sindicalismo precisou enfrentar oneoliberalismo que prega a desregulamentaçãodos direitos e a defesa de uma lógica que for-talece o mercado como espaço para resolveros conflitos do trabalho e até da representa-ção sindical.

Com a mudança do cenário nos anos 90,a própria CUT foi obrigada a sair na defesada CLT, que havia uma diferenciação entre osdireitos individuais e coletivos. No combate àproposta de flexibilização do artigo 618 daCLT, evidenciou-se uma certa contradiçãoentre a posição histórica e defesa pela centralda CLT. Mas, a contradição também eviden-cia-se na questão dos direitos coletivos, poisfoi ocorrendo um movimento de defesa dassalvaguardas existentes no arcabouço legal,vinda do Estado, como forma de resistênciaao processo de desmonte dos direitos e defragilização das organizações sindicais dostrabalhadores. Ou seja, o grau de complexi-dade da estrutura é maior do que o discursocomportava até então. Muitos sindicatos debase acabaram se apoiando nas salvaguardasgarantidas por esse sistema como forma deproteção. Cresce um movimento que de aco-modação e também de resistência a qualquermudança mais expressiva da estrutura sindi-cal brasileira. Também é preciso considerar queos agentes que teoricamente deveriam condu-zir as mudanças são os mesmos que se utili-zam da estrutura existente.

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3. Os problemas sindicais atuais sãomais complicados

A experiência a partir dos anos 90 mos-tra, assim como a experiência internacional,que não é só alterando a estrutura sindical quese muda o quadro de correlação de forças pró-trabalhadores em uma sociedade. Com certe-za, tendo uma estrutura mais democrática,representativa e enraizada no local de traba-lho é uma grande vantagem. Mas, tem outrosaspectos extremamente importantes a seremconsiderados. Se nós olharmos a experiênciainternacional, diferentes modelos de organi-zação sindical estão enfrentando crises: que-da na taxa de sindicalização, perda de impor-tância da negociação coletiva centralizada,redução do peso político do sindicalismo nasociedade etc. Também é verdade que não éuma crise em todos os cantos. Nesse sentido,que a fragilização de muitos sindicatos estãorelacionados a fatores econômicos, políticos,sociais, culturais, históricos e de estratégias dosindicalismo. Sem entrar na discussão sobrecrise, pretendo chamar atenção à dificuldadevivida pelo sindicalismo tem relação muitomais direta com uma série de outros aspectospresentes na sociedade brasileira. Apesar daurgência e importância, a reforma sindical nãopode ser considerada como a panacéia de to-dos os problemas do sindicalismo.

A importância da reforma é bastante co-nhecida no interior da CUT, pois temos, entreoutras características um sindicalismo pulve-rizado (18 mil sindicatos), em que grande par-te das entidades são cartoriais e semrepresentatividade, a estrutura concentra todoo poder no sindicato de base, desvalorizandoa organização no interior do local de trabalhoe uma articulação horizontal dos trabalhado-

res. Além disso, há a possibilidade de existên-cia de sindicatos sem precisar sindicalizar. Asdistorções e os problemas são muitos. É im-pressionante como a pulverização continuaavançando tanto do ponto de vista geográfi-co como setorial.

A necessidade da reforma leva a pensarde como ela seria possível em um cenário deconsolidação do sindicalismo com as caracte-rísticas atuais. A história mostra que é maisdifícil realizar grandes mudanças em contex-to de relativa estabilidade institucional comovivido pelo país nos anos recentes. Assim, asmudanças tendem a ocorrer mais lentamentee de forma gradual. Nesse sentido, uma op-ção pode ser por reformas pontuais que vãocontribuindo para a democratização das re-lações de trabalho na perspectiva de fortale-cer as entidades de representação de classe nasociedade.

Uma questão fundamental é ter clarezasobre o papel do Estado, que na nossa trajetó-ria histórica sempre foi muito ativo tanto nainstituição de direitos como no controle dosmovimentos autônomos dos trabalhadores. Énecessário garantir um conjunto de salvaguar-das para a ação sindical e a negociação coleti-va e ao mesmo tempo considerar que os direi-tos inscritos na legislação são um patamarbásico para garantir um mínimo de civilidadena relação de emprego. O problema não é ex-cessiva legislação, mas o seu descumprimento.Dois exemplos. A OLT, dificilmente com exce-ção dos setores mais estruturados economica-mente, será garantida na correlação de for-ças, via negociação coletiva. A sua propaga-ção, assim como ocorre na maioria dos países,necessita de um respaldo ou retaguarda legal.É uma forma efetiva de diminuir a assimetria

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existente na relação capital x trabalho. Segun-do exemplo é sobre os direitos existentes nalei. Como existe no país um mercado de tra-balho extremamente heterogêneo, é fundamen-tal assegurar pelo Estado um conjunto de di-reitos que valem para todos(as)trabalhadores(as), pois em algumas regiões esetores dificilmente o sindicalismo conseguiráproteger de forma satisfatória os trabalhado-res via negociação coletiva. É importante for-talecer a negociação, especialmente a maiscentralizada, mas ela não pode substituir di-reitos inscritos na lei.

4. Promover as rupturas necessárias

O quarto e último aspecto é que a refor-ma sindical só virá por medidas, nesse con-texto, pontuais. Pretender fazer uma reformaglobal em um processo em que não há ruptu-ras institucionais colocadas é muito difícil, poisnesse tema não há possibilidade de construirconsenso na sociedade. Assim, a lógica é decontinuar esticando a corda, viabilizando oque seja possível (reconhecimento das centrais,mudanças na forma de financiamento – fimdo imposto -, ampliando a representatividade,

garantindo o direito de OLT, etc) e construin-do na prática um novo modelo sindical parao país, fortalecendo a central sindical, unifi-cando sindicatos, investindo a ampliação dabase de representação, construindo organiza-ções por ramo de atividade, alterando as for-mas de financiamento das entidades, etc.

Também é preciso combinar a alteraçãoda estrutura sindical com a situação da classetrabalhadora. Assim, a reversão do atual qua-dro sindical pressupõe discutir o modelo dedesenvolvimento para o país na sociedade. Oprimeiro pressuposto é a defesa de um mode-lo que contribua para a estruturação do mer-cado do trabalho, o que dará entre outras con-seqüências, bases para o sindicato ter força nasociedade. É um elemento decisivo para oacúmulo de força. O grande desafio é consti-tuir um sindicalismo que tenha respaldo debase na defesa dos interesses dos seus repre-sentados, mas com capacidade de intervir nodebate na sociedade, pois a resolução dos pro-blemas concretos da classe não se resolve so-mente no âmbito da categoria, mas na dispu-ta política sobre os rumos a serem percorridospelo país.

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1. Introdução: Por ocasião da comemora-ção dos 100 anos da Carta del Lavoro foi reali-zado o Seminário Internacional: Organiza-ção Sindical e Relações de Trabalho – A lutados Trabalhadores na Itália e no Brasil, pelaCUT-Brasil com o apoio da CGIL. O texto quese segue faz parte da apresentação que fiz so-bre o tema: A Carta del Lavoro e a Constituiçãoda Organização Sindical Brasileira. Procureimanter a estrutura da apresentação, fazendoapenas adaptação de forma, evitando o tomexclusivamente coloquial. Dividi a apresenta-ção em dois tempos. No primeiro tempo, apre-sento o texto e a norma. O registro constituci-onal e legal do sistema sindical brasileiro, apartir do seu texto, em comparação com o textoda Carta del Lavoro. Em seguida, a norma, ouseja, a apropriação do texto pelos intérpretes.No segundo tempo, registro a influência dopassado no presente; do presente no presen-

Advogado, Mestre em Direito e Estado pela Universidade de Brasília.Integrante do Coletivo Jurídico da Central Única dos Trabalhadores, CUT

Passado, Presente e Futuro: a influênciada Carta del Lavoro no modelo sindicalbrasileiro

A Carta del Lavoro e a Constituição da Organização Sindical Brasileira

te, e do presente no futuro. Uma leitura queprocura extrair as influências, mas ao mesmotempo, entrever as possibilidades de releituradas práticas sindicais a influenciar o futuroda organização sindical brasileira.

2. Ambiente normativo: o texto e a nor-ma. Um passeio pelas Constituições brasilei-ras, desde 1934, revela a influência do textoda Carta del Lavoro sobre o texto das nossasconstituições ou da legislação que sob elas seconcretizou. Vejamos:

Constituição de 1934Art 120 - Os sindicatos e as associaçõesprofissionais serão reconhecidos de con-formidade com a lei.

Parágrafo único: A lei assegurará apluralidade sindical e a completa autono-mia aos sindicatos.

José Eymard Loguércio

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· O Decreto 19.770 de 1931: somenteos sindicatos reconhecidos pelo Minis-tério do Trabalho poderão atuar.

· Decreto 24.694/1934: reconhece apossibilidade de mais de uma entidadesindical. Apenas uma, aquela reconhe-cida pelo Estado, terá as prerrogativassindicais.

Note-se, já aqui, um descompasso entre o tex-to da Constituição de 34, que reconhecia apluralidade e a autonomia dos sindicatos, e o textodos Decretos (legislação infraconstitucional) a li-mitar o reconhecimento, pelo Estado, de ape-nas uma entidade sindical com prerrogativassindicais. O Texto constitucional de 34 nuncachegou a ser efetivamente praticado.

Constituição de 1937Art 138 - A associação profissional ou sin-dical é livre. Somente, porém, o sindicatoregularmente reconhecido pelo Estadotem o direito de representação legal dosque participarem da categoria de produ-ção para que foi constituído, e de defen-der-lhes os direitos perante o Estado e asoutras associações profissionais, estipularcontratos coletivos de trabalho obrigató-rios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação aeles funções delegadas de Poder Público.

· Decreto-lei 1402 de 1939 = fixa de-finitivamente as diretrizes do sistemasindical em consonância com o art. 138da Constituição de 37 = o principal re-

Denise Motta, Dari Krein, Vagner Freitas e Eymard

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gistro que se deve fazer é quanto aoenquadramento sindical nos moldes ecritérios fixados pelo Ministério do Tra-balho, classificando-se as organizaçõespor profissão ou ramo de atividades eos critérios de similitude ou de conexãode atividades.

· Decreto-lei 5452 de 01 de maio de1943 - CLT: consolida e amplia o mo-delo. Estabelece o “vínculo social bási-co” denominando-o de categoria eco-nômica e sua correspondente catego-ria profissional (art. 511). “Mantém aatribuição exclusiva do Ministério doTrabalho para “investidura” e conces-são das prerrogativas sindicais” (art.512), conferida à associação profissio-nal mais representativa “a juízo doMinistro do Trabalho” (art. 518/519).O artigo 516 estabelece a unicidade sin-dical: “não será reconhecido mais deum sindicato representativo da mesmacategoria profissional, ou profissão li-beral, em uma dada base territorial”.

Aqui já está configurado o sistema sindi-cal brasileiro sob a total influência do texto daCarta del Lavoro.

Carta del Lavoro - 21 de abril de 1927III - A organização sindical ou profissio-nal é livre. Mas, só o sindicato legalmentereconhecido e subordinado ao controle doEstado tem direito de representar legal-mente toda a categoria dos empregadoresou dos trabalhadores, em virtude da qualé constituído; de defender seus interessesperante o Estado e às demais associaçõesprofissionais; de celebrar contratos coleti-vos de trabalho obrigatórios para todos os

membros da categoria; de impor a elescontribuições e de exercer, com respeito aosmesmos, funções delegadas de interessepúblico.

A comparação entre os textos normativosé eloqüente e fala, por si, sobre a influência daCarta del Lavoro na configuração institucionaldo sistema sindical brasileiro.

Constituição de 1946Art.159 - É livre a associação profissionalou sindical, sendo reguladas por lei a for-ma de sua constituição, a sua representa-ção legal nas convenções coletivas de tra-balho e o exercício de funções delegadaspelo Poder Público.

A esta altura, já se tem por consolidado otexto legal (Decreto 5452 de 01 de maio de1943), o texto da CLT, que configura o mode-lo legal sindical, desde então.

Constituição de 1967/ Emenda Constitu-cional de 1969Art 159 - É livre a associação profissionalou sindical; a sua constituição, a represen-tação legal nas convenções coletivas de tra-balho e o exercício de funções delegadasde Poder Público serão regulados em lei.

§ 1º - Entre as funções delegadas a que serefere este artigo, compreende-se a de ar-recadar, na forma da lei, contribuiçõespara o custeio da atividade dos órgãos sin-dicais e profissionais e para a execução deprogramas de interesse das categorias poreles representadas.

§ 2º - É obrigatório o voto nas eleições sin-dicais.

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Constituição de 1988Art. 8º É livre a associação profissional ousindical, observado o seguinte:

I - a lei não poderá exigir autorização doEstado para a fundação de sindicato, res-salvado o registro no órgão competente,vedadas ao Poder Público a interferênciae a intervenção na organização sindical;

II - é vedada a criação de mais de umaorganização sindical, em qualquer grau,representativa de categoria profissional oueconômica, na mesma base territorial, queserá definida pelos trabalhadores ou em-pregadores interessados, não podendo serinferior à área de um Município;

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitose interesses coletivos ou individuais da ca-tegoria, inclusive em questões judiciais ouadministrativas;

IV - a assembléia geral fixará a contribui-ção que, em se tratando de categoria pro-fissional, será descontada em folha, paracusteio do sistema confederativo da repre-sentação sindical respectiva, independen-temente da contribuição prevista em lei;

V - ninguém será obrigado a filiar-se ou amanter-se filiado a sindicato;

VI - é obrigatória a participação dos sin-dicatos nas negociações coletivas de tra-balho;

VII - o aposentado filiado tem direito a vo-tar e ser votado nas organizações sindicais;

VIII - é vedada a dispensa do empregadosindicalizado a partir do registro da can-didatura a cargo de direção ou represen-

tação sindical e, se eleito, ainda que su-plente, até um ano após o final do man-dato, salvo se cometer falta grave nos ter-mos da lei.

Parágrafo único. As disposições deste ar-tigo aplicam-se à organização de sindicatosrurais e de colônias de pescadores, atendidasas condições que a lei estabelecer.

É o texto constitucional mais completo.Consagra a liberdade (caput) e a autonomia(inciso I), ao mesmo tempo em que mantém asprincipais e importantes restrições (unicidade,sistema confederativo por categorias profissio-nal e econômica — inciso II — e contribuiçãosindical compulsória — inciso IV).

O que os intérpretes fizeram do textonormativo? Como intérpretes, temos: os pró-prios sindicatos e seus dirigentes; o Executivo;o Legislativo e o Judiciário. Protagonistas daconstituição no seu tempo e ao seu tempo.Portanto, no momento de configuração do tex-to normativo e na sua concretização comonorma, ao seu tempo (na dinâmica de suaaplicação).

Por ocasião da Constituinte de 1988, o tex-to do artigo 8º representou continuidade edescontinuidade possível com o sistemacorporativo, de filiação indisfarçável com aCarta del Lavoro. O que se seguiu, foi uma tra-ma contraditória de protagonismos, ora deparcela do movimento sindical; ora do Execu-tivo (por intermédio do Ministério do Traba-lho); ora do Judiciário na busca de sentidospara o texto da norma constitucional. Ora fa-vorecendo uma maior liberdade de organiza-ção e autonomia frente ao Estado; ora confor-mando-se às restrições do sistema, fazendo aleitura inversa: da lei à Constituição.

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3. O passado no presente.

Os eixos do sistema sindical anterior, man-tidos na redação do artigo 8º da CF/88, confi-guram um espaço mitigado de liberdade e deautonomia das entidades sindicais. O esforçode superação esteve presente na crescente in-fluência política das Centrais Sindicais, cria-das e mantidas apartadas do sistema sindicalbrasileiro. No final dos anos 80 e ao longo dos90, houve uma multiplicação de entidades sin-dicais criadas à sombra e semelhança do mo-delo da CLT, sem comprometer a lógica daunicidade e o critério de aglutinação por cate-gorias profissionais e o reforço do sistemaconfederativo. As entidades sindicais não con-seguiram, igualmente, desvencilhar-se da de-pendência da contribuição sindical para a suasobrevivência financeira. Contribuíram para

a manutenção desse quadro o protagonismojudicial, a crise econômica e de emprego e osprojetos de flexibilização das relações de traba-lho, com perdas significativas de direitos.

O Judiciário, convocado a interpretar aConstituição, reforçou a recepção do siste-ma normativo pré-88, mantendo o registrosindical sob a regência do Ministério do Tra-balho (Súmula 677 do STF: Até que lei ve-nha a dispor a respeito, incumbe ao Minis-tério do Trabalho proceder ao registro dasentidades sindicais e zelar pela observânciado princípio da unicidade) e o plano deenquadramento, não mais obrigatório, mascomo referência para a movimentação de ci-sões, fusões e desmembramentos de sindi-catos. [STF/RMS nº21.305 e ainda: “A li-

Plenário

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berdade de associação, observada, relativa-mente às entidades sindicais, a baseterritorial mínima - a área de um município- é predicado do Estado Democrático de Di-reito. Recepção da Consolidação das Leis doTrabalho pela Carta da República de 1988,no que viabilizados o agrupamento de ati-vidades profissionais e a dissociação, visan-do a formar sindicato específico” (RMS24.069, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 24/06/05). No mesmo sentido: RE 241.935- AgR,DJ 27/10/00).]

Resumo eloqüente do quantodecidido pelo STF está na decisãoabaixo:

“A recepção pela ordem constitucionalvigente da contribuição sindical compul-sória, prevista no art. 578 CLT e exigívelde todos os integrantes da categoria, in-dependentemente de sua filiação ao sin-dicato, resulta do art. 8º, IV, in fine, daConstituição; não obsta à recepção a pro-clamação, no caput do art. 8º, do princí-pio da liberdade sindical, que há de sercompreendido a partir dos termos em quea Lei Fundamental a positivou, nos quaisa unicidade (art. 8º, II) e a própria contri-buição sindical de natureza tributária (art.8º, IV) — marcas características do mode-lo corporativista resistente — dão a medi-da da sua relatividade (cf. MI 144, Per-tence, RTJ 147/868, 874); nem impede arecepção questionada a falta da lei com-plementar prevista no art. 146, III, CF, àqual alude o art. 149, à vista do dispostono art. 34, § 3º e 4º, das Disposições Tran-sitórias (cf. RE 146.733, Moreira Alves, RTJ146/684, 694).” (RE 180.745, Rel. Min.Sepúlveda Pertence, julgamento em 24-3-98, DJ de 8-5-98)

Com relação ao financiamento, mantidaa contribuição sindical [STF: ROMS-21.758,Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ04.11.94; e “EMENTA: CONSTITUCIONAL.CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. ART. 589, IV,DA CLT. I. - A contribuição sindical previstano art. 589 da CLT não fere o princípio da li-berdade sindical e foi recepcionada pela Cons-tituição de 1988. II. - É legítima a destinação

Vagner Freitas - executiva CUT Nacional

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de parte da arrecadação da contribuição sin-dical à União. III. - Agravo não provido.” (RE-279393/SC, Relator Ministro Carlos Velloso,DJ 30.09.2005, p. 48)]., o Judiciário Trabalhis-ta limitou as demais contribuições (assistenciale confederativa) aos associados da entidade(Precedente Normativo nº 19 do TST e Súmula666 do STF).

As garantias para o exercício do mandatosindical foram restringidas, quer pelos aspec-tos formais exigidos para a sua aquisição, querpela limitação do número de dirigentes sindi-cais:

SÚMULA TST Nº 369 DIRIGENTESINDICAL. ESTABILIDADE PROVI-SÓRIA (conversão das OrientaçõesJurisprudenciais nºs 34, 35, 86, 145 e 266da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e

25.04.2005

I - É indispensável a comunicação, pelaentidade sindical, ao empregador, na for-ma do § 5º do art. 543 da CLT. (ex-OJ nº34 da SBDI-1 - inserida em 29.04.1994)

II - O art. 522 da CLT, que limita a sete onúmero de dirigentes sindicais, foirecepcionado pela Constituição Federal de1988. (ex-OJ nº 266 da SBDI-1 - inseridaem 27.09.2002)

III- O empregado de categoria diferencia-da eleito dirigente sindical só goza de es-tabilidade se exercer na empresa ativida-de pertinente à categoria profissional dosindicato para o qual foi eleito dirigente.(ex-OJ nº 145 da SBDI-1 - inserida em27.11.1998)

Pedro e Anderson

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IV - Havendo extinção da atividade em-presarial no âmbito da base territorial dosindicato, não há razão para subsistir aestabilidade. (ex-OJ nº 86 da SBDI-1 -inserida em 28.04.1997)

V - O registro da candidatura do empre-gado a cargo de dirigente sindical duran-te o período de aviso prévio, ainda que in-denizado, não lhe assegura a estabilida-de, visto que inaplicável a regra do § 3º doart. 543 da Consolidação das Leis do Tra-balho. (ex-OJ nº 35 da SBDI-1 - inseridaem 14.03.1994)

OJ/SDI-I/TST: 365. ESTABILIDADEPROVISÓRIA. MEMBRO DE CONSE-LHO FISCAL DE SINDICATO.INEXISTÊNCIA. Membro de conselho fis-cal de sindicato não tem direito à estabili-dade prevista nos arts. 543, § 3º, da CLT e8º, VIII, da CF/1988, porquanto não re-presenta ou atua na defesa de direitos dacategoria respectiva, tendo sua competên-cia limitada à fiscalização da gestão finan-ceira do sindicato (art. 522, § 2º, da CLT).

Quanto ao direito de greve (artigo 9º daConstituição Federal), a Lei 7783/89 fixou re-gras formais de abusividade, mantendo até aentrada em vigor da Emenda Constitucionalnº 45, o Poder Normativo da Justiça do Traba-lho para fixar novas condições de trabalho emprocessos de dissídio coletivo, julgando aabusividade das greves; determinando judici-almente o retorno ao trabalho e fixando mul-tas por descumprimento (artigo 114 da Cons-tituição Federal de 1988).

4. O presente no presente

Se a característica dos anos 80 foi a da

expansão de direitos, na perspectiva dos no-vos atores sociais, das novas demandas, dareivindicação por liberdade e autonomia; dosanos 90, a difícil realização da Constituição,com suas contradições, refreando impulsoslibertários em nome de uma certa acomoda-ção do sistema sindical e de um certoprotagonismo judicial na fixação dos limitesdessa liberdade e autonomia; os anos 2000 im-pôs a combinação de estratégias de superaçãoe de esgarçamento do sistema sindical. O FórumNacional do Trabalho, experiência tripartite derepensar todo o sistema sindical, acabou pornão conseguir concluir o processo legislativo.Com isso, as entidades sindicais passaram atrabalhar os limites de porosidade do sistemasindical pós 88. Ora retomando um discursode manutenção das garantias (como se as mu-danças fossem impor, necessariamente, umaperda significativa das prerrogativas atuais),ora apresentando mudanças pontuais.

Mesmo no âmbito do Fórum Nacional doTrabalho, os atores sociais não ousaram avan-çar rumo a uma maior liberdade e autonomia.O Ministério do Trabalho continuaria a teruma participação ativa na solução de contro-vérsias sindicais, mantida a personalidade ju-rídica sindical concedida pelo órgão estatal,ainda que com maior participação das Cen-trais Sindicais, nos Conselhos, e com critérioslegais de representatividade.

Basta esta referência para lembrar do pesodo passado no presente.

5. O presente no futuro

O futuro está impregnado de presente.Não há rupturas apontadas no cenário da or-ganização sindical brasileira. O nosso modelose oxigena dentro do que é possível oxigenar,

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1 A reestruturação do sistema produtivo e o impacto das novas tecnologias impôs uma nova lógica e uma nova dinâmica para aatividade econômica. Como tal, é fato que o quadro de atividades — referência dos artigos 570 e 577 da CLT — e de ocupações está longede representar o que efetivamente vem ocorrendo nas relações de trabalho.

no meio de continuidades criativas, sem rup-turas com o sistema sindical pré 88.

Neste sentido, desponta a possibilidade doreconhecimento das Centrais Sindicais e desua maior participação na vida sindical. Namesma linha, há uma certa movimentação nosistema confederativo, com a criação de enti-dades plurais no sistema vertical, rompendoo critério de unicidade em qualquer grau, apartir de uma releitura do artigo 8º e seus li-mites.

A redefinição das fontes de custeio dasentidades sindicais, também se faz presente,mostrando possível o fim da contribuição sin-dical compulsória. Toda a matéria éinfraconstitucional e poderá ser modificadapelos diversos protagonistas.

O mesmo se pode dizer com relação ao con-ceito de categoria profissional. Embora a Cons-tituição de 1988 a ela se refira, o conceito éinfraconstitucional. Sendo assim, será possível

re-elaborar o conceito para atender às novasdemandas, alcançando toda a cadeia produti-va1, de modo a proteger trabalhadores que hojeestão fragmentados nas terceirizações. Essenovo desenho da atividade econômica similarou conexa, como fonte de agrupamento e vín-culo efetivo para a formação da unidade sindi-cal de base, pode ocorrer no espaço de autono-mia (enquadramento espontâneo, a partir deuma redefinição das atividades), o que ofere-ceria maior liberdade para que as Centrais Sin-dicais pudessem estabelecer limites e critériosde atuação. Mas, igualmente, poderá ocorrerno espaço estatal (seja pela via da regulação,pelo executivo, definindo as novas estruturas epreparando o enquadramento sindical ou pelavia do Judiciário que, em última instância, nasdisputas sindicais, fará o enquadramento).

O futuro ainda não está dado. No entan-to, ao olhar para o presente, vejo muitos tra-ços do passado. Na mesma linha, temo quehaverá mais do presente no futuro!

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Nos debates que me antecederam tivemosuma discussão muito interessante sobre os sis-temas organizacionais e constitucionais dosdois países e sobre as leis atualmente em vi-gor. Na segunda parte do dia de ontem, foiilustrada a Constituição deste país, a Consti-tuição atualmente em vigor no Brasil. Gosta-ria de retomar a partir deste ponto e fazer notaros pontos de convergência e as diferenças queexistem e que levam ao desenvolvimento demodelos de relações sindicais nos diferentespaíses.

A Constituição italiana tem pontos muitoimportantes em relação ao trabalho e éatualíssima, na sua concepção, servindo debase para a atuação concreta do sindicalismoitaliano.

A Constituição italiana fixa três pontosfundamentais, além de outros, relativos ao tra-balho. O primeiro trata do trabalho como fon-te, como base da cidadania, ou seja, afirma-se, nos primeiros artigos, os fundamentais daConstituição italiana, que os direitos de umcidadão se afirmam antes de tudo com o bom

A Construção dos Direitos dosTrabalhadores: A Experiência Italiana

Secretário Geral da CGIL

trabalho, no sentido dos direitos coletivos doconjunto das pessoas.

O segundo ponto diz que por isso, - e de-pois se remete às tarefas específicas da ativi-dade sindical – afirma-se que é tarefa do Esta-do, em primeiro lugar, tarefa da República Ita-liana, eliminar as eventuais disparidades eco-nômicas, políticas e sociais que impedem queos trabalhadores participem plenamente davida do país.

Como vêem, esse conceito é absolutamen-te o contrário do conceito que o liberalismodefende, e que está muito na moda no libera-lismo, ou seja, a predominância do mercadosobre o trabalho. É exatamente o contrário doque afirma a Constituição do nosso país.

É claro que o fato de que estar escrito nãosignifica que é o que acontece. O escrito naconstituição precisa ser confirmado pelas ini-ciativas, pelas lutas, pelas mobilizações.

O terceiro ponto, que considero igualmen-te importante, é a orientação que a Constitui-ção dá ao Estado, aos governos, sobre o em-

Fulvio Fammoni

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prego pleno e a retribuição adequada. Não secoloca apenas o problema de ter o maior nú-mero possível de empregos, mas também queas retribuições sejam adequadas.

É daí que provém o artigo 39 da nossaconstituição, que dá aos sindicatos a tarefa detrabalhar na direção da emancipação do tra-balho dependente assalariado no nosso país.Esse artigo fornece garantias fundamentais: aliberdade de organização do sindicato. A li-berdade de organização está escrita como li-berdade em relação ao empregador. Esse é umponto importante, e diz ao próprio Estado, quenão pode interferir na atividade livre da orga-nização sindical, na proibição de discrimina-ções por motivos sindicais, apoio à contrataçãoe direito de greve.

A questão do direito de greve é afirmadaconstitucionalmente e explica-se também

como é possível exercitar este direito, no quediz respeito às questões contratuais, e no quediz respeito aos grandes temas econômicos esociais e as formas de protesto político.

No nosso tratado constitucional está pre-visto que o sindicado pode fazer greve, porexemplo, em torno dos grandes temas dos di-reitos de liberdade dentro do país.

Este aspecto constitucional ajudou muitoa atividade do sindicato italiano, este é umpressuposto importante para não termos sin-dicatos corporativos, mas sindicatos que in-tervem sobre o conjunto dos temas gerais queperpassam pela sociedade em nosso país.

O sindicato precisa sempre conquistar emprimeira pessoa os próprios espaços e tais con-quistas são o resultado de várias fases que atra-vessamos ao longo do tempo, da história e daConstituição que nos acompanhou até hoje.

Quintino Severo Secretario Geral da CUT e Fulvio Fammoni CGIL

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Apesar de existirem normas escritas naConstituição, a colocação em prática delas ébem diferente, conforme o governo seja decentro, de direita, de esquerda ou decentroesquerda. E nós, infelizmente, tivemospoucas ocasiões de trabalhar com um gover-no de centroesquerda, porque esta, desde opós-guerra, é apenas a segunda experiênciaem nosso país de um governo em que toda aesquerda está no governo.

A propósito das relações sindicais e da di-versidade das relações sindicais: é evidente queé muito simples intervir sobre esses temas seexistem percursos de unidade sindical. A uni-dade sindical muda ao longo dos anos. Nonosso país já discutimos muito sobre a unida-de. Hoje, quando as coisas vão bem, tentamosnão por em evidência as diferenças, conduzi-mos uma unidade de ação entre diversas Con-federações (Centrais).

É muito mais difícil, quando se chega amomentos de ruptura das relações sindicais,com acordos diferentes ou em temas que asorganizações não subscrevem as mesmas de-cisões em sintonia.

É obviamente muito mais simples aplicarplenamente o que prevê a constituição nosmomentos de pico de desenvolvimento, quan-do o país cresce do que nos momentos de crisee desemprego.

A aprovação do Estatuto dos Direitos dosTrabalhadores (lei 300) no início dos anos 70,foi bastante significativo para o movimentosindical Italiano, nelas estão contidos elemen-tos fundamentais da proteção ao emprego egarantias sindicais.

Entretanto, até mesmo naquele ótimo pe-ríodo não conseguimos superar alguns proble-mas, ainda continuamos a ter em nosso paísdiferenças de condições de contratação entreas empresas com mais de 15 funcionários e asque têm menos de 15.

Também não conseguimos aplicar corre-tamente a questão da maiorrepresentatividade (das Centrais) que conti-nua a ser, por isso, presumida, e depende dadeclaração das diferentes organizações.

O problema disso não é estabelecerquantos inscritos (sócios) cada uma tem. Nonosso conceito de representação, não importaquantos sejam os inscritos, mas sim se o sindi-cato está presente em todo o território nacio-nal ou se está concentrado em algumas reali-dades geográficas.

A definição da maior representação estárelacionada a como se assinam os contratosnacionais de trabalho e como os resultados doscontratos nacionais são aplicados a todos ostrabalhadores e não só aos inscritos nos sindi-catos.

Hoje já está bastante consolidado que paraassinar os contratos é preciso que as organi-zações representem pelo menos 51% dos tra-balhadores, e que esses contratos tenham queter o voto de todos os trabalhadores aos quaisvão se aplicar porque, justamente, o acordonão se aplica apenas aos inscritos.

A CGIL apresentou sua proposta de leisobre essa questão e outras organizações sin-dicais não concordam. O problema acontecequando os principais participantes dacontratação não concordam entre si.

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O caso mais evidente foi o dosmetalúrgicos, alguns anos atrás na Itália, foiassinado um contrato por organizações quenão atingiam 50% da representação. Nossaorganização, com 51% da representação, nãoassinou aquele contrato. Neste caso o contra-to é aplicável a todos os trabalhadores? Naausência de regras claras sobre a representa-ção, há apenas uma entidade que pode deci-dir, e isso não nos agrada: é a associação dosempregadores que pode decidir se o acordovai ou não ser aplicado.

Como vocês vêem, existe aqui uma dife-rença verdadeira, básica, que se refere nãoapenas aos modelos organizacionais, mas tam-bém à própria concepção de sindicato no nos-so país.

Há objeções a nossa idéia de chegar a umadefinição legislativa da representação, que sãosensatas e até concordamos com elas. Diz-seque a lei não deve interferir na vida livre dasassociações. Estamos plenamente de acordo.De fato, a lei deve limitar-se a definir comochegar ao conceito de maior representação, demais representatividade. A lei está relaciona-da não à relação entre o sindicato e seus ins-critos - nisso, cada organização é soberana -mas sim à relação entre a ação negociada pelosindicado e os benefícios para o conjunto dostrabalhadores. Essa é a diferença básica.

Este é um tema que se torna cada vez maisimportante, porque em torno a essa discussão,não encerrada, já vimos nascer formas sindi-cais espúrias, sindicatos oportunistas, sindica-tos que assinam contratos-piratas - ou seja,inferiores aos mínimos contratuais normal-mente estabelecidos e definidos - porque nin-

guém coloca em discussão o ponto de repre-sentação que foi atingido.

O direto de greve, garantido constitucio-nalmente dá uma possibilidade de greve mui-to ampla aos trabalhadores italianos. O únicocaso em que há regras precisas para a greverefere-se aos serviços de utilidade pública: es-colas, os transportes, correios e setores que te-nham essa característica, ou seja, setores emque há uma disciplina constitucional relativaaos direitos dos cidadãos que usufruem des-tes serviços.

Para estes casos, o sindicato e as três gran-des Confederações italianas criaram umaauto-regulamentação: decidiram autonoma-mente que antes de qualquer iniciativa de gre-ve nesses setores, dariam informações, prazos,etc... Depois, chegamos a uma regulamenta-ção por lei sobre a qual concordamos. A regu-lamentação torna necessário um pré-aviso dagreve: nesses setores, a greve não pode ser re-pentina; é preciso dar alguns dias de pré-avi-so - de dez a quinze dias - fazer publicamenteum anúncio que deve ser noticiado pela im-prensa nacional. Além disso, devem ser garan-tidos os serviços mínimos essenciais.

Mas nos dias atuais, essas regras de cará-ter geral têm desenvolvimentos diferentes, con-forme tenhamos que discutir com o governoBerlusconi ou com o governo Prodi. As dife-renças são evidentíssimas. O governoBerlusconi estabeleceu na Itália – e esse pontoé interessante para além de suas degeneraçõespopulistas ou plebiscitárias – políticasneoliberais. O que se previa? Previa-se, antesde tudo, uma concepção do trabalho comovariável econômica da empresa e, portanto,não o papel social do trabalho. O trabalho

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passa a ser uma mercadoria da qual é maisfácil se livrar, quando há dificuldades, do quede outras mercadorias: é mais fácil livrar-sedo trabalho do que de uma máquina ou deum investimento feito. Do ponto de vista daempresa, ele propagandeou um mecanismo decompetição concentrada exclusivamente nacontenção dos custos, com transformaçãoprincipalmente do processo das empresas,desde a produção até a finalização.

Pudemos constatar, deste ponto de vista,as grandes diversidades que surgiram. Asempresas começaram a ceder partes de suasatividades, cederam pedaços de empresa atra-vés do tramite “azienda dell’impresa” pelo qualmandaram para o exterior – na Itália se cha-ma externalização – partes das atividades,onde o custo do trabalho e muito mais baixodo que na Itália. Chegou-se a dizer que o nú-cleo fundamental que precisava ficar na em-

presa era o núcleo financeiro e não o núcleoprodutivo.

Na Itália estamos organizados predomi-nantemente nos locais de trabalho: este é onosso núcleo central, de ensinamento de ca-ráter sindical. Os mecanismos de contrataçãotambém foram estabelecidos em torno dacentralidade do papel do trabalho. Fazemoscontratos nacionais de trabalho importantespara setores muito grandes que prevêemnormativas que requerem que parte da ativi-dade de contratação seja feita com o local detrabalho. Há um ponto fundamental sobre oqual, não sempre, mais com muita freqüên-cia, todos os sindicatos italianos concordam:as questões relativas à organização do traba-lho, desde o regime dos horários, até a organi-zação mais específica do trabalho têm no con-trato nacional a moldura, com a contrataçãoefetiva feita no local de trabalho.

Solaney, Quintino e Fulvio Fammoni

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Vou fazer uma reflexão sobre a constru-ção dos direitos e a importância de se resgatara experiência passada para que seja possíveltransformar as ações futuras, considerando asações necessárias para que os direitos adqui-ridos se consolidem. O processo histórico namaterialização de qualquer direito não é line-

A Construção dos Direitos dosTrabalhadores: A Experiência Brasileira

Clemente Ganz Lucio

Diretor técnico - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE - São Paulo – SP- Membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

ar. Portanto, não existe um conjunto de açõesque se sucedem para se alcançar o direito. Nãoé como se tivéssemos subindo uma escadariae, no topo, estará o direito. É importante per-ceber, como já foi dito anteriormente, o esfor-ço feito pela ideologia dominante de retirar ahistória e as ações realizadas, dos resultados

João Felício, Normando, Valéria e Clemente Ganz

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concretos existentes hoje. Deixa-se de mostraro quanto o resultado final é fruto de um con-junto de ações e lutas; se as conquistas sãoparciais ou totais; se foram feitas por diferen-tes organizações sindicais ou da sociedade ci-vil; se o direito adquirido resultou de um con-flito permanente ou se houve algum tipo deacomodação provisória entre os atores.

E isso é particularmente mais evidente sem-pre que se fala do direito de organização, porexemplo. Muitos dos direitos que foram sen-do construídos historicamente resultam deuma reação ou de uma proposição, acordadaou não, com as organizações que intervêmnaquele momento da história. Mas, estabele-ce um determinado patamar a partir do quala luta sindical deve continuar sua ação. Per-der a história é, muitas vezes, perder as liga-ções necessárias para que essa ação continue.E, do ponto de vista da construção de direi-tos, resgatar essas ações é uma tarefa das cen-trais sindicais. Neste momento, as centrais dis-cutem com o MTE seu reconhecimento e esteé um caminho difícil e precisa ser construídodada a dificuldade deste reconhecimento juntocom a definição de unicidade sindical. Entãoé necessário construir uma proposta de Medi-da Provisória ou de Projeto de Lei que dê apossibilidade de reconhecer a pluralidade dascentrais sindicais. O movimento sindical apre-senta restrições ao direito de organização, pe-las suas próprias definições. E como é possívelse pensar na construção dos direitos sociais,trabalhistas, políticos no Brasil se não tiver-mos as Centrais Sindicais? Como é possívelpensar uma agenda da classe trabalhadora noBrasil, sem pensar a existência e a atuação for-te, vigorosa, incisiva, das centrais sindicais?Nós não temos, até o momento, o reconheci-mento das centrais sindicais como parte da

organização sindical com todos os direitos ple-nos do ponto de vista da representação sindi-cal. E isto coloca um grave cerceamento aodireito de organização e ao direito de repre-sentação que implica limitações que são supe-radas o tempo todo, legitimando essa repre-sentação na prática e vencendo todas as limi-tações que possam impedir legalmente a cen-tral de se posicionar. Por outro lado, tambémexistem sérias restrições à organização no in-terior das empresas ou no local de trabalho.São poucas as categorias ou as empresas queconseguiram direito de organização através deacordo coletivo para a constituição da comis-são de fábrica e estas são, predominantemen-te, do setor industrial. Há do ponto de vistada organização sindical, uma fragilidade es-trutural na organização sindical nos dois ex-tremos: no interior das empresas e na organi-zação da classe trabalhadora como um todo,cujo papel importante é da central sindical.

Foi feito um enorme esforço de superaçãodessas limitações nesses últimos três ou qua-tro anos, por meio da construção de uma açãounitária de todos os trabalhadores, como porexemplo, na campanha do salário mínimo.Quem lembra o último acordo que fizemossobre salário mínimo, antes do assinado emdezembro de 2006? Quando foi que as Cen-trais Sindicais fizeram um acordo nacionalpara definição da política de salário mínimono Brasil? Nunca, porque não estavam pre-sentes na organização da estrutura sindicalnos últimos 30 anos. No período antes da di-tadura e do golpe militar, houve a suspensãode muitas ações, devido à interrupção do pro-cesso democrático no Brasil. E as ações domovimento sindical sempre foram alvos deinibição e cerceamento. Mas, os sindicatos sãosujeitos essenciais para a construção dos di-

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reitos trabalhistas no Brasil e cuja atuação foiestruturalmente limitada impedindo sua ple-na intervenção, sua capacidade de represen-tar e de exercer pressão para fazer as mudan-ças necessárias. E continuam sendo nessemomento. Ou seja, esta superação não estádada. Ainda não existe o direito da organiza-ção no local de trabalho. Este foi o único pon-to em que não houve convergência com osempresários, em todo o Fórum Nacional doTrabalho. Conseguimos até pensar em alter-nativas ao direito de greve, mas sobre direitode organização no local de trabalho não hou-ve conversa. Tanto é que o projeto de reformasindical que está no Congresso menciona otema por iniciativa do governo e não do FNT.Os trabalhadores pressionaram através dascentrais e o governo complementou o projetocom uma ação dele. Sobre o direito de organi-

zação das centrais sindicais, há quatro anosse luta pelo reconhecimento que viabilize, deum lado, a representação das centrais nos maisdiferentes fóruns e de outro, recursos parapoder desenvolver o seu trabalho.

De todo modo, é importante destacar quenenhuma dessas mudanças ocorre por bon-dade de quem está no poder naquele momen-to. Resulta de uma ação continuada, intencio-nalmente desenvolvida para promover mu-danças. E que deve ser vista, dentro da estra-tégica sindical, como parte essencial.

Há ainda muito que avançar. Por meio dareforma sindical, tentamos construir um mo-delo de transição para outro modelo sindical.E temos dificuldade de fazer avançar no Con-gresso Nacional. O projeto está lá parado.Enfrentamos também dificuldades entre os

Donizeti, Quintino e Fulvio Fammoni

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próprios trabalhadores para compreender oque é necessário sobre essas mudanças.

O que vale a pena destacar é que entre ascentrais sindicais há convergência sobre a im-portância do direito de organização no localde trabalho e sobre o papel das centrais. Issojá é um passo importante. Se nos concentrás-semos fortemente sobre esses dois pontos, jáfaríamos mudanças muito substantivas naorganização sindical brasileira. Neste ponto,não me refiro ao tema da unicidade, mas ape-nas do direito de organização no local de tra-balho e o reconhecimento das centrais sindi-cais. Outro ponto que o movimento sindicalprecisa avançar é o direito à negociação e háespaço para isso no setor privado e total au-sência de regulamentação necessária paranegociação no setor público.

É preciso pressionar para que o Estadocompreenda, no âmbito das três esferas, aimportância de mecanismos que regulem anegociação no setor público. O Estado mate-rializa sua ação através de seus servidores, deseus profissionais. E a negociação é um ele-mento chave para a definição da política devalorização dos servidores.

É importante não deixar de reconhecer afragilidade sindical no setor público, até por-que foi permanentemente cerceado do pontode vista da negociação. A única coisa possívelde se fazer, era pressão sobre o Legislativo e oExecutivo, por meio de lobby. Vamos para oCongresso, para a Câmara, para a Assembléia,mas existe a impossibilidade de fazer negoci-ação. O lobby é uma alternativa a essa ausên-cia de negociação.

Há um enorme desafio na constituiçãodesse espaço de negociação, para que o movi-

mento sindical possa definir quais são os ele-mentos que irão reger a relação de trabalhoem uma determinada situação. Há ainda, agreve, importante e forte forma de luta naação sindical. Existe hoje a disputa de propos-tas para a mudança da regulamentação dodireito de greve no setor público. Discute-seentre as centrais sindicais, as cinco demissõesque o governo de São Paulo acabou de fazerentre os metroviários que fizeram uma parali-sação de uma hora e meia no metrô contra aEmenda 3. No dia seguinte, o governo anun-ciou a demissão de cinco dirigentes sindicaisdos Metroviários de São Paulo. Por trás destaação existem vários pontos:

a) A disputa sobre a regulamentação dodireito de greve em serviços essenciais. Para ogoverno, o metrô é serviço essencial que estáem disputa.

b) O governo de São Paulo não reconheceque dois diretores metroviários eleitos têm di-reito à estabilidade, apesar de o estatuto dosindicato trazer esta definição, e de ter havi-do eleição para os diretores. O governo afir-ma: “Três diretores estão com processo admi-nistrativo por serem dirigentes sindicais e sai-rão por justa causa e os outros dois não reco-nhecemos como dirigentes sindicais com esta-bilidade, e então, serão demitidos”.

A disputa que ocorre em São Paulo, nocentro econômico do país é sobre o processode negociação e o direito de greve. E são di-mensões essenciais na construção dos direitos.

Gostaria ainda de destacar um ponto im-portante na construção dos direitos que sãoviabilizados no espaço de negociação. Há umdesafio para o movimento sindical associado

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à remuneração, a questão salarial. Este pon-to, após 30 anos, continua sendo o centro danegociação, seja o salário direto ou indireto.

E por que o movimento sindical passa porum momento de desafio importante? Depoisde 10 anos, a estabilização econômica trouxecerta capacidade de previsão: tanto as empre-sas quanto os sindicatos melhoraram a capa-cidade de prever o orçamento, que é essenci-al. Também trouxe o fim da perda do valordos salários e da transferência de renda paraos empresários. Porém, há hoje outro meca-nismo poderoso de transferência de renda: ataxa de juros. A inflação acabou e a taxa dejuros passou a ser o elemento de compensa-ção. Hoje, os empresários recebem 150, 180bilhões de reais todo ano, a título de juros dadívida pública e continuam muito bem, obri-gado.

Do lado dos trabalhadores, a estabiliza-ção econômica revelou o violento arrocho sa-larial ocorrido no país. Temos um desafio enor-me na construção dos direitos no âmbito dasnegociações que é desenvolver campanhassalariais em um cenário de baixa taxa de in-flação para os patamares brasileiros, ou seja,3%, 4% de inflação no ano. Não há perspecti-va de haver, nos próximos anos, explosão in-flacionária, o que é bom. Nossa tarefa é pen-sar estratégias para lutar pela recuperação dopoder dos salários. Por exemplo, em São Pau-lo, entre 1995 e 2005, houve redução de cercade um terço da remuneração média dos tra-balhadores. E somente nos últimos três anos,

os sindicatos começaram a negociar a recupe-ração do poder de compra dos salários e aconquistar aumentos salariais.

As conquistas têm sido importantes, con-tudo, a base salarial é muito baixa. É impor-tante a elaboração de estratégias para as cam-panhas salariais que serão executadas a par-tir de agora, pois essa é uma luta de longaduração. Para isso, é preciso combinar e unira ação do sindicato local, que negocia o salá-rio, com a de uma agenda nacional. Se o mo-vimento sindical quiser tratar do poder de com-pra ou da capacidade econômica dos traba-lhadores, é necessário ter uma luta local (doponto de vista da manutenção dos salários,das lutas por aumento, por produtividade) emconjunto com lutas nacionais.

Por exemplo, as centrais assumiram aquestão do salário mínimo. Também é agendadas centrais, a definição da questãoprevidenciária, dos gastos que o trabalhadortem com transporte coletivo, o acesso ao fi-nanciamento habitacional. Ou seja, há umaagenda nacional complexa, que combinada,pode conferir maior ou menor poder de com-pra aos salários ou maior ou menor disponibi-lidade de renda para o trabalhador.

Combinar essas ações é fundamental paraa construção desses direitos, sejam eles espe-cíficos, trabalhistas, sociais ou políticos. Masessa construção é difícil de ser feita sem o su-jeito movimento sindical e sem o espaço denegociação.

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Chegamos a este Seminário no momentoem que a comunidade jurídica está ainda atô-nita com a prisão de desembargadores fede-rais, adiante libertados, sob a acusação de ne-gociarem o conteúdo de suas decisões. Mas,afinal, que relação isto guarda com nossos se-minário e tema, para aqui o mencionarmos?

A resposta se revela numa breve reflexão.O problema de vivermos em uma sociedadeonde os direitos são determinados pelas cifrasmonetárias, como a contemporânea, é que,obviamente, esses direitos não são de todos.Não são feitos, e não são aplicados, em favorde todos, mas sim em favor de alguns. E essalógica não apenas é protegida pelo nosso sis-tema, como é essencial ao mesmo. A essênciade sua contradição é um discurso jurídico compretensão à universalidade na forma, mas re-alizado com favores e particularismos na vidareal e em seu conteúdo material .

A Construção dos Direitos dosTrabalhadores: A Experiência Brasileira

Jorge Normando Rodrigues

Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ; Especialista em Normas Internacionais doTrabalho pela Organização Internacional do Trabalho, OIT; Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade FederalFluminense, UFF; Integrante do Coletivo Jurídico da Central Única dos Trabalhadores, CUT; Assessor Jurídico da Federação Única dosPetroleiros, FUP. Professor de Sociologia Jurídica e História do Direito.

Introdução

Como então estes “todos”, a maioria quenão pode contar com as promessas jurídicasuniversais, e que é seguidamente negligencia-da pelos particularismos jurídicos, pode pre-tender construir direitos?

Pois bem. Fomos convidados, e agradece-mos imensamente o convite, para falar exata-mente sobre a construção dos direitos dos tra-balhadores na nossa experiência histórica. Einiciamos pela resposta à indagação acima: sea história for contada apenas pelos vencedo-res, nessa categoria episódica incluído oneoliberalismo, os trabalhadores não apenasnão podem construir direitos, como, desenvol-vida a narrativa do capital, se concluirá quejamais o fizeram. De fato, é o que apontamdiversos livros jurídicos que assim apresentama cronologia da produção de direitos.

Evidenciam-se, nessa apropriação da his-

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tória pelos vencedores, dois campos absoluta-mente obrigatórios para o trato do nosso tema:história e ideologia. Em ambos será indispen-sável a reconstrução da memória, que tem pordesafio o esquecimento. E note-se a importân-cia desta reconstrução: a manutenção da or-dem neoliberal, tal como ela se apresenta noBrasil e no mundo, hoje, depende fundamen-talmente de que nós não tenhamos memória(FORRESTER, 1997).

Como ler a história dos trabalhadores– sentido e desenvolvimento

Não termos “memória” não significa umadisfunção de nossos “discos rígidos”, tal comoa ocasionada pelo mal de Alzheimer. Signifi-ca apenas que somos levados, todos, militan-tes, assessores, lideranças, bases do movimen-to dos trabalhadores, ao esquecimento parci-al e seletivo do que possa questionar a ordem.De fato, em mais de uma ocasião, me pareceestarmos todos sem memória.

O resgate, ainda que mínimo, da memó-ria, embora se possa mostrar enfadonho – peloque já preventivamente invoco paciência egenerosidade aos ouvintes – importa para lem-brar-nos quem somos, e por que motivosestamos aqui, nesta luta. Por que estamos nis-so? O que pretendemos? Existe algo no passa-do que nos revela estas respostas, e que nosfaz confrontar a realidade de modo ameaça-dor, no exercício da função subversiva damemória de que se ocupava Herbert Marcuse(MARCUSE, 1998).

Nosso momento é como o da menina, per-sonagem central do belíssimo e obrigatório “OLabirinto do Fauno”, do mexicano Guillermodel Toro, a qual, no conto de fadas com que ahistória é aberta, esqueceu quem era. Para ser

rememorada, para redescobrir seu lugar noplaneta, na sociedade, teve, assim como nós,que ser confrontada em duras provas, as maiscruéis das quais proporcionadas pela realida-de, não pela fantasia.

Assim também, é na áspera realidade dahistória dos trabalhadores que podemos en-contrar nossas respostas. Como ferramentasde auxílio recorremos a dois autores alemãesnão muito populares, no momento: FredericoJorge Guilherme Hegel, e Walter Benjamin.

Lembramos Hegel para mencionar deleum livrinho importante para nós, do campodo direito, chamado “Princípios de Filosofiado Direito” (HEGEL, 1986), objeto de agudacrítica de Marx , e um outro um tanto menosconhecido, “A razão na história: uma intro-dução geral à filosofia da história” (HEGEL,2001). Em ambos Hegel desenvolve e aplicaalguns critérios para verificação da evoluçãoda sociedade. Sua proposição inicial é a de quea observação da história da humanidade re-vela uma evolução: a do desenvolvimento nosentido da liberdade.

Mas, antes que torçamos o nariz com arepetição acrítica do credo liberal, devemos nosater à categoria liberdade, em Hegel. Da mes-ma forma, antes que apresentemos reações auma “ressurgência” do determinismo históri-co, devemos compreender o sentido da cate-goria desenvolvimento, aqui empregada.

A liberdade primeiro. Hegel não é um li-beral hipócrita como John Locke, que prega-va a liberdade em tese e fazia fortuna comoinvestidor do tráfico internacional de escra-vos (LOSURDO, 2006), ou como muitos ou-tros dos quais ouvimos loas a uma liberdadeformal, ficta, realizável somente pelo cidadão

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capitalista, pelo bem sucedido empreendedorburguês. Hegel, ao contrário, afirma que o queimporta enquanto liberdade é a liberdade con-creta, inexistente se restringida, confinada, porlimites materiais. Trata Hegel – apesar de sem-pre um idealista, e não um materialista - daliberdade material, e não da liberdade em tese,formal. A liberdade que efetivamente se esta-beleça nas relações sociais mediante laços deigualdade. Esse é o seu critério de evoluçãosocial. Quem, a partir daí, faz uma boa sínte-se do que seja a evolução do direito no sentidoda liberdade é o jurista da escola de Frank-furt, Franz Neumann, em seu ensaio “O con-ceito de liberdade política” (NEUMANN, 1969,P. 178 a 222)

A outra categoria por explicar é a do de-senvolvimento. Quando a empregamos o fa-zemos compreendendo retrocessos, particula-ridades e particularismos, exceções e desvios.Ainda assim, no entanto, há desenvolvimen-to na história da humanidade. Para osrelativistas e pós-modernos, essa concepção éinimaginável na medida exata em que igno-ram por completo a categoria marxista dodesenvolvimento desigual e, assim ignorando,acusam aos que a empregam de deterministas,ou de linearistas.

Ofertados esses esclarecimentos, vamos aooutro autor alemão invocado para dar senti-do à história, Walter Benjamin. Sua recomen-dação nas famosas teses sobre a história(LÖWY, 2005) é para nós um alerta: cuidarpara não reproduzir, senão criticamente, ahistória dos vencedores. Cuidar de não ouvirapenas a história do capital, pois a verdadei-ra história repousa nas bandeiras, aspirações,sonhos, daqueles que jazem sob os escombrosda caminhada da humanidade.

Ocorre que nós, comumente, ouvimos ape-nas a história do capital e reproduzimos a ide-ologia que nos quer inertes. Sem gostos, odo-res ou cores, como a água da qual a elite docapital se julga a única merecedora. Ouvindoa história do capital tendemos a reproduziressa ideologia, naturalizar verdades relacio-nadas não à igualdade material, não àuniversalização de direitos, mas à dominação.

Exemplifiquemos. Uma dessas verdadesideológicas vinculadas à dominação ouvimosaté em nossas conversas entre sindicalistas, eacabamos por reproduzir recentemente, aqui,neste seminário, ontem e hoje: “a PrevidênciaSocial não pode dar prejuízo”.

Por que motivos a Previdência Social nãopode dar prejuízo? Por que razões deve serequilibrada? Isso é uma verdade naturaliza-da pelo neoliberalismo, por detrás da qual estáuma opção política. Se a sociedade quiser re-almente realizar justiça social através de jus-tiça tributária, como pretendiam os jacobinosna Revolução Francesa, e através dos direitossociais, incluídos os da previdência, poucoimporta se esta será deficitária ou não. Impor-ta sim que a sociedade suporte essa opçãopolítica e essa previdência. Negligenciar essalógica é perverter uma escala de prioridadesmuito antiga, e colocar o equilíbrio fiscal daprevidência, ou do estado, acima dos valoresque dependem exclusivamente de um e outropara se realizar. O resultante é chegarmos aosuperlativo delineado no excelente romance“As intermitências da morte”, de Saramago:se nos tornássemos imortais, seria um desas-tre para a previdência!

Esse curto exemplo demonstra o tipo dereflexão que a leitura da história dos vencidos

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proporciona, mas nos grita ainda que a me-mória subverte tanto que nos coloca em des-conforto ante a realidade. Isso se aplica aossindicatos. Existem por que, para que?

Em 1865 Marx descreveu, ante o exameda realidade da época, em “Salário, Preço eLucro” (MARX, 2004) o duplo papel,indissociável, dos sindicatos: reforma e revo-lução. Reforma é a luta no concreto pelamelhoria das condições da classe trabalhado-ra – e não mudar a legislação previdenciáriapara fazer com que menos direitos sejam pa-gos a menos pessoas, por exemplo. Reformaré ampliar direitos sociais. Modificaçõesinstitucionais no sentido contrário, e, portan-to, contrário àquele sentido de desenvolvimen-to que retiramos de Hegel, são contra-refor-mas.

E a perspectiva da reforma, em Marx, searticula diretamente à perspectiva de trans-formação do todo, de revolução. A mudançada totalidade social se constrói com melhorescondições de vida para os trabalhadores, mas,se nos dedicarmos apenas à construção demelhores condições de vida, deixamos de tera perspectiva do todo, e não mais saberemosem que sentido devemos andar na História.

“Trabalhadores do Brasil...” – sujeitoou objeto histórico?

Andar na História pressupõe termos pon-tos de partida. E o movimento sindical brasi-leiro tem uma história riquíssima do seu pon-to de partida, que nos define e define o que jáfizemos nesse país.

Essa é uma história que merece ser conta-da com minúcia, até por respeito às geraçõesde lutadores que nos antecedem. Não temos

aqui a pretensão de sequer realizar um sobre-vôo da mesma. Mas, considerada a apropria-ção da história pelo neoliberalismo a que jános referimos, podemos sim examinar um doscredos incessantemente repetidos, segundoquais os trabalhadores, no Brasil, não conquis-taram seus direitos sociais, mas sim os recebe-ram por graça e favor do Estado.

É ainda freqüentemente repetida a versãosegundo a qual os direitos sociais foramimplementados pela via autoritária, sobretu-do no Estado Novo e na Ditadura, o que setrata, em nossa análise – desde já esclarecemos– de refinado aspecto da dominação ideológi-ca. É fato que a nossa vetusta Consolidaçãodas Leis do Trabalho é de 1943, fruto do Esta-do Novo, mas a publicação de uma lei resumea história do direito?

Fiquemos com o caso da CLT, ante a exi-güidade do espaço e do tempo. E, a partir des-ta escolha, para a verificação da tese que tor-na os trabalhadores, senão objetos apenas co-adjuvantes do processo histórico, examinemoscom brevidade o período que vai de 1870 àRevolução de 1930. Como se portaram os tra-balhadores?

O fim da escravidão formal

Bem entendido que o fim material da es-cravidão no Brasil ainda está por vir – e, se-quer incluímos nesse debate os famosos “fiosinvisíveis” da dominação social, corporificadosna ficção jurídica do contrato de trabalho - oque nos revela a luta pela abolição? Pensemoso período histórico em primeiro lugar.

O ano de 1870 inaugurou a primeira criseinternacional do capitalismo em vias de se tor-nar monopolista. Efeito concreto dessa primei-

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ra grande crise mundial foi o acirramento dasempre presente necessidade de o capital pen-sar em formas mais aperfeiçoadas – cientifi-camente aperfeiçoadas, mesmo - de retirarmais trabalho do trabalhador ao custo de me-nos salário. A primeira resultante foi ogerenciamento científico do trabalho conhe-cido como Taylorismo. Ao mesmo tempo, oepisódio da Comuna de Paris, com o desfechode uma nova derrocada da “primavera dospovos”, deixou o movimento operário, por umlado, definitivamente lançado em cena comoprotagonista histórico, apesar de derrotado.Por outro lado, os trabalhadores se viram abraços com uma grande recessão econômicaque durou até meados da década de 1880, comreflexo direto na migração de trabalhadorespara terras de novas “oportunidades”, comoo Brasil.

Nesse período o Brasil é um Estado emnada liberal, muito autoritário,discriminatório, e está a realizar um grandeesforço para branquear sua população,prioritariamente na Corte. A cidade, entãocom maior densidade de negros do país, per-de esta característica com a Guerra doParaguai – verdadeira limpeza étnica, dado onúmero de negros “recrutados” para o confli-to – e com a imigração.

A escravidão, perfeitamente inserida namacro-relação econômica capitalista(GORENDER, 1978), apresenta extraordiná-ria lucratividade enquanto a cultura da canade açúcar é dominante. A radicalização domovimento pela abolição, entretanto, atingeessa indústria em momento de queda acentu-ada do preço do açúcar e do algodão no mer-cado internacional, vinculando-se com a per-da de recursos e prestígio político por parte

dos senhores de engenho (HOLANDA, 1956).A abolição, nesse contexto, por mais que odi-ada pelos agroexportadores da cana e do al-godão, foi também uma maneira de enfrentara perda de lucratividade, excluindo dos cus-tos de produção o fundo de subsistência damão de obra escrava (CARDOSO [et al], 2006).

Ora, esses são, numa pobre síntese, os da-dos externos, a causalidade do fenômeno daabolição. Não fosse, porém, o aspectoteleológico que com o mesmo interage, o daslutas, por vezes sangrentas, pelo fim da escra-vidão, ele em si pouco significaria. Se ignorar-mos que os próprios negros tiveram papel des-tacado e ativo nesta história, chegaremos aconclusões absurdas a propósito da abolição,como alguns historiadores já retrataram: a Leido Ventre Livre, de 1871, se deve à decisivaintervenção do Visconde do Rio Branco, e aabolição aos apoios internacionais do escritor

Elias Perroti - debate em plenário

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Victor Hugo e do Papa Leão XIII.

A força imigrante e os assalariados

Segundo Sérgio Buarque de Holanda, odeclínio econômico da cultura da cana, e aascensão do café como bem de exportaçãoprioritário, tiveram conseqüências também deoutro gênero. O historiador registra um indí-cio de formação da consciência da classe ope-rária como decorrência do fato de que a cul-tura do café era menos concentradora de de-sigualdades do que a da cana de açúcar, e deque seus trabalhadores apresentavam maiorintegração ao meio urbano, fenômeno que searticula à maior dependência desta economiapara com a cidade, e à expansão da malhaferroviária (HOLANDA, 1956).

Tal leitura aparenta coerência, mas podeser mais resultante do que determinante, poisé também fato que a crise do capitalismo em1870, e a derrota da Comuna de Paris, leva-ram um percentual significativo de trabalha-dores europeus, com larga experiência na lutade classes e no trabalho assalariado, a buscara imigração (HOBSBAWM, 1988).

Quem são esses imigrantes? Na compara-ção com exígua mão de obra livre nacional, osrecém chegados formam um conjunto maisadaptado à vida urbana, ao trabalho assalari-ado e às novas técnicas de produção, e maisalfabetizado. Seu impacto na produtividadeda mão de obra foi tremendo e imediato (CAR-DOSO [et al], 2006). É também uma mão deobra que, em percentual próximo da metade,termina por não se fixar no campo, para ondeimigraram originalmente, levando para asconcentrações urbanas suas experiências devida e de política (PINHEIRO [et al], 2006).

É alimentado desses novos quadros que,no período entre 1877 e 1891, o movimentosindical brasileiro começa a mostrar força eexigir, por exemplo, a nacionalização do co-mércio, substituição das importações e controleda inflação (CARONE, 1979). Na pauta dostrabalhadores estava um projeto nacional si-milar ao que tinha levado os demais países docapitalismo europeu ao desenvolvimento, emreação à revolução industrial inglesa(HOBSBAWM, 1996).

Perceba-se que no período precedente,desde 1833, as categorias profissionais maisorganizadas já realizavam greves. É, no en-tanto, entre a década de 1870 e a Grande Guer-ra de 1914 que o movimento experimentaprotagonismo histórico, chegando à década de1890 com a criação de dezenas de jornais sin-dicais e operários, a organização de centenasde sindicatos nos núcleos urbanos, e o nasci-mento dos primeiros partidos operários. Omovimento sindical, já então, é adversário fir-me da nova política industrial, a ponto de apolícia ser colocada diretamente a serviço dosempresários, e de surgirem as hoje notóriasAssociações Comerciais, criadas com o fimexplícito de combater os sindicatos (CARDO-SO [et al], 2006).

O período de ascensão do movimento sin-dical brasileiro pode ser identificado sem pra-ticamente interrupções, nos quase quarentaanos que medeiam 1870 e 1908. É acontrapartida de classes a uma industrializa-ção que torna normal o trabalho de criançasde 5 anos de idade nas fábricas de São Paulo,por volta de 1901 (PINHEIRO [et al], 2006).

O movimento, contudo, experimenta cer-ta desarticulação no fim da primeira década

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do século XX, em razão das brutais repressõesa greves, dos seguidos empastelamentos dasdiversas imprensas sindicais, e da prisão edeportação das lideranças, na enorme maio-ria ainda de estrangeiros . A resposta sindicalà reação conservadora segue por vezes viasinstitucionais e, mesmo em declínio, é bemsucedida ao fim das campanhas contra as de-portações, que levam a modificações na legis-lação (CARONE, 1979). Sem dúvida, no ge-ral, a classe trabalhadora brasileira apresen-tou um desempenho e tanto para um país semi-industrializado (HOBSBAWM, 1988).

Fechamos sobre o período que se encerracom a Grande Guerra, registrando a chegadode um marco teórico importante. O nome deMarx chega ao Brasil após o episódio daComuna de Paris, em notícias de jornais e ar-tigos de Tobias Barreto, Clóvis Bevilacqua, Síl-vio Romero, Farias Brito e Euclides da Cunha.Ainda que invocando Marx de forma confusae “eclética”, Euclides o traz para municiar aintervenção na realidade, se posiciona clara-mente a favor do já significativo movimentooperário. É dele a denúncia de que o “direitodo capital protege mais as máquinas do queos trabalhadores que as operam”. Mais tardeé Evaristo de Moraes, membro do PartidoOperário desde 1889, e fundador do PartidoSocialista em 1920, que traz à bailafreqüentemente Marx em sua coluna no “Cor-reio da Manhã” (MORAES e REIS, 2007). Sig-nifica que mesmo sob uma hegemonia sindi-cal anarquista inquestionável, o movimentooperário começava a ouvir algo sobre o socia-lismo científico.

A Grande Guerra, a RevoluçãoBolchevique, e a crise do capital.

O movimento operário consegue sair da

defensiva no início da década de 1910, e tomaexpressão significativa na luta contra a infla-ção desencadeada pela exportação de alimen-tos para os aliados, durante a Grande Guerra.Suas bandeiras, nos meses que antecedem àGuerra, e até 1917, incluem o pacifismo (porconta da corrida armamentista na Europa), osufrágio universal real (portanto, se dispondoa ser o primeiro e principal denunciador dasfraudes eleitorais da República Velha, reivin-dicação apropriada pelo autoritarismo pró-burguesia, em 1930), o feminismo e a criaçãode direitos sociais. Seus principais debates,além disto, abraçam a educação operária, aformação de quadros, e a alienação do homempelo sistema produtivo (CARONE, 1979).

Perceba-se que, até meados da década de1920, o movimento operário brasileiro eramajoritariamente anarquista, como já anteci-pamos (MORAES e REIS, 2007), o que não sig-nifica uma postura apenas de negativa à cons-trução de um sistema de proteção legal do tra-balhador. Na verdade, a história doanarquismo sindical brasileiro é a narrativa deuma nítida divisão entre os que vedavam qual-quer forma de intervenção do Estado noregramento das relações de trabalho e os que,mesmo anarquista, pragmaticamente lutavampelo reconhecimento dos direitos sociais (AZE-VEDO, 2002).

As novas da Revolução Bolchevique, em1917, mudam significativamente este quadro,tanto no imediato, por exemplo, com a cria-ção de um soviet de trabalhadores no Rio deJaneiro (BANDEIRA, MELO & ANDRADE,1967), como no médio prazo, levando à tran-sição da hegemonia sindical para o comunis-mo, em pouco menos de uma década (PINHEI-RO [et al], 2006).

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Se foi a grande greve dos trabalhadoresbrasileiros de 1917, que por diversas categori-as e cidades se estendeu de Maio a Outubrodaquele ano, o que levou à decretação do Es-tado de Sítio (SODRÉ, 2004), foi a possibilida-de de um Estado Operário bem sucedido naRússia servir de exemplo aos trabalhadores ofator decisivo para manter a legislação de ex-ceção por tanto tempo após o fim da GrandeGuerra .

Detendo-nos por aqui, quanto aos deta-lhes, em razão da exiguidade espaço-tempo-ral, podemos perceber no período em que ahistoriografia dominante (ou da classe domi-nante, à vontade dos ouvintes) descreve a nóscomo objetos históricos, algumas lições.

A primeira é que as lutas operárias todasde que tratamos estão na raiz dos primeirosdireitos sociais “modernos”, na década de1920, contribuindo decisivamente na torrenteque deságua na consolidação da revoluçãoburguesa brasileira, o movimento de 1930.Esse rico período histórico sofre o impacto daRevolução Proletária na Rússia, da mesmaforma que, no cenário internacional, esta levaà criação da Organização Internacional doTrabalho.

E já que mencionamos a OIT, não é coin-cidência que a mesma tenha sido criada comouma resposta do capital, um esforço de orga-nização do capital, no sentido de que se ocu-pou, ainda no início da década de 1910,Rudolph Hilferding (HILFERDING, 1985), eque logo após o fim da União Soviética, noinício da década de 1990, a Organização Mun-dial do Comércio proponha-se uma cláusulasocial em substituição à OIT. É que o fim daUnião Soviética, para os pensadores mais ra-

dicais do capitalismo, esvazia a grande justi-ficativa da promoção de uma padronizaçãodas relações de trabalho no cenário internaci-onal.

Afinal, os direitos sociais pós 1930, e sob oEstado Novo, foram concessões ou conquis-tas? Alguns atribuem parte da responsabili-dade pelo mito dos favores ao insubstituívelclássico “Raízes do Brasil”, que afirma teremos movimentos reformadores vindos “de cimapara baixo”, obra das elites e intelectuais. Noentanto, o mesmo ensaio também registra quefenômenos dos primeiros 30 anos do séculoXX, como a Revolução Mexicana, as reformasdo Chile de 1925, e vitórias eleitoraisdemocratizantes, com as da Argentina e doBrasil, só foram possíveis graças à crescenteparticipação política dos trabalhadores(HOLANDA, 1956).

Há contraditoriedade nas afirmações doProfessor Sérgio Buarque? De forma alguma.Como sintetizou Carlos Nelson Coutinho, tra-taram-se de reformas propostas e realizadaspelas elites com o objetivo de entregar o me-nor número de “anéis” possível, o que é omesmo que dizer que abaixo havia uma outraclasse que lhes pretendia os “dedos”(COUTINHO, 2000).

A participação dos trabalhadores brasilei-ros, passando pelo levante comunista de 1935,insere no direito escrito uma série de iniciati-vas e direitos sociais arrancados do capital e,mesmo após o Estado Novo, gerou greves,como a dos bancários em 1939 (CARONE,1979).

Não há dúvida, sim, de que o Estado Novo,como o fascismo, previa a imposição final no

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tratamento do conflito de classes, como suaprincipal função social. Conter o conflito so-cial dentro da institucionalidade autoritária doEstado era o papel que este modelo cumpriana Itália, em Portugal, na Alemanha e naEspanha. Foi o que desempenhou, entre nós,e de certa forma até hoje desempenha, ou as-sim intenta.

O outro modelo que o capital propôs, àgrande crise de 1929, na verdade é fruto daexperiência do socialismo de guerra que tive-ram os países aliados ocidentais, e a Alema-nha, durante a Guerra Mundial: a interven-ção centralizada, organizadora e protecionis-ta do Estado na economia, sobretudo em ma-téria de direitos sociais. É uma experiência queadmite o conflito, e que tem os seus limites de

desenvolvimento, mas que se diferencia daexperiência do estado corporativo, e do mo-delo que adotamos na CLT e com o qual con-vivemos até hoje, porque o elemento conflitotem admissibilidade e primazia.

Balanço e quase conclusões

Nossa experiência de construção dos di-reitos sociais é uma experiência centrada naluta, na reivindicação, no embate, no conflito.Não é verdade que os direitos vieram de cimapara baixo. Foram produzidos por nossa ex-periência histórica de trabalhadores. O con-trário é contado, reproduzido, com um fimexplícito: fazer com que cada um de nós, eu evocês, nos vejamos menores do que somos. Issotambém se aplica à Ditadura de 1964-1985,

Debates em plenário - Babu, Assessor da SNO mesa João Felício

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marcada por importantes e decisivas greves,algumas com repercussões políticas no cená-rio internacional.

Enfim, companheiros, o que a história nosmostra é que não somos a decoração, o panode fundo do cenário, a trilha sonora, ou mes-

mo os coadjuvantes. Somos os atores princi-pais desta peça, e nosso protagonismo deveser justificado por práticas que nos permitam,no espelho da memória, olhar nos olhos nos-sos companheiros das gerações anteriores, queenfrentaram dificuldades muito maiores doque a terceirização.

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O Seminário Internacional OrganizaçãoSindical e Relações do Trabalho - A luta dosTrabalhadores na Itália e no Brasil representaum importante passo nesta construção con-junta da CUT e da CGIL de um sindicalismoclassista, autônomo e de luta.

A identidade de concepção sindical e a com-preensão do papel central da luta de classes emnossas diferentes sociedades foi reforçada ao lon-go de mais de duas décadas de parceria, toman-do corpo numa relação histórica de amizade esolidariedade que se nutre de ricas experiênciase desafios que enfrentamos lado a lado.

Não há como fazer uma reflexão sobre opapel do sindicalismo sem avaliar as imensaspossibilidades e potencialidades abertas noúltimo período com o acúmulo do movimentosocial, particularmente na parte sul do nossoContinente. São avanços que se materializa-ram com a nossa luta, com as nossas campa-nhas e a decisiva contribuição na eleição degovernos nacionalistas e populares que come-çam a romper com a camisa-de-força do

A Construção dos Direitos dosTrabalhadores: A Experiência Brasileira

João Felício

Secretário de Relações Internacionais da CUT Nacional; Secretário Sindical Nacional do PT; Membro do Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social; Representante da CUT no Conselho de Administração do BNDES; Diretor Instituto de Cidadania; Ex Presidente daAPEOESP; ex Presidente da CUT Nacional por dois mandatos têm Formação Superior em Desenho e Plástica, Educação Artística eHistória da Arte, pela Fundação Educacional de Bauru exercendo a função de Professor de Desenho em São Paulo, na rede oficial deEnsino Estadual.

neoliberalismo e do privatismo, e agora, maisdo que nunca, na forma como nos colocamosna disputa de hegemonia.

Neste contexto de intenso confronto coma reação, apontar caminhos e aperfeiçoar nos-sa capacidade de união, organização emobilização passa a ser, cada vez mais, umelemento chave para o sucesso ou a derrotade um projeto popular e democrático para osnossos países e povos.

No caso brasileiro, a CUT tem se empe-nhado em defender ações no sentido de ga-rantir direitos e ampliar conquistas, compro-metida com a implementação de um planonacional de desenvolvimento sustentável quepriorize a geração de empregos comredistribuição de renda. Contra o retrocessoproposto pelos neoliberais, e que ganha reper-cussão na chamada grande imprensa, nossaCentral é reconhecidamente uma trincheiraavançada de combate às chamadas “refor-mas”, que nada mais são do que tentativas desubtração de conquistas.

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Existem reformas históricas que sempredefendemos na linha da ampliação de direitos:previdenciária, tributária, sindical, trabalhista.Mas os apóstolos do deus mercado vêm na con-tramão, com o discurso de modernizar as rela-ções capital e trabalho, querendo fazer valer onegociado sobre o legislado para retroagir, nãopara avançar. Temos a compreensão clara deque a lei é fundamental para que o Estado e osempresários cumpram a legislação, e de que aflexibilização de garantias constitucionais re-dundaria em perdas para os trabalhadores.

Nossa luta, reafirmamos, é pela ampliaçãode direitos. É para estendê-los à parcela da so-ciedade brasileira que está fora da sociedadede direitos. Por isso defendemos a Consolida-ção das Leis do Trabalho, pois ela representaum freio aos ataques da direita, Da mesma for-ma que as entidades sindicais lutavam nas dé-cadas de 40 e 50 para que fosse cumprida, afim de garantir o direito ao 13º salário, às fériase ao descanso semanal remunerado, hoje pro-pomos sua atualização, via fortalecimento dosistema democrático de relações do trabalho,da negociação coletiva, do contrato coletivo,como resposta à selvageria. O termo é mais doque apropriado, já que na década de 90 foramconstantes as agressões à CLT: cooperativasprofissionais, trabalho temporário, dispensaimotivada, contrato por tempo determinado,trabalho por tempo parcial, suspensão do con-trato de trabalho, contrato aprendizado, tra-balho estágio, banco de horas...

As mudanças que defendemos são no sen-tido de construir um sindicalismo cada vezmais ativo, mais representativo e mais atuan-te, que represente o conjunto da classe traba-lhadora em sua luta cotidiana contra a explo-ração do capital. Neste sentido, a organiza-ção no local de trabalho cumprirá importantepapel para o enraizamento e democratizaçãodas relações.

Nossa luta precisa ter um olhar maior paraos aposentados, pensionistas e idosos, para opresente e para o futuro. Temos ainda em nos-so país 55% dos trabalhadores fora do merca-do formal de trabalho, o que traz sérias impli-cações e prejuízos para a sua aposentadoria.Nossa mobilização portanto, é para acabarcom o fator previdenciário, mecanismo de ar-rocho inventado pelos tucanos para punir ocidadão mais pobre, o trabalhador que come-çou a pegar no pesado mais cedo.

Nossa mobilização deve priorizar ahumanização do mundo do trabalho, pois nãopodemos mais conviver com a multiplicaçãodas mortes nos canaviais, onde os trabalha-dores tombam devido à estafa. O que dizerdos companheiros da construção civil, ondeproliferam os acidentes de trabalho? Ou dacategoria comerciária, penalizada pelaterceirização e precarização? Ou dos servido-res públicos, sem direito à negociação? Dopreconceito contra a mulher e o negro, e con-tra tantos trabalhadores relegados àinformalidade e ao desemprego?

Se os desafios são grandes, nosso compro-misso deve ser ainda maior. O momento é deestreitarmos os laços de união, que semprederam mais consistência e coerência aoenfrentamento. A construção da CSI (Confe-deração Sindical Internacional) e da CSA(Confederação Sindical dos Trabalhadores eTrabalhadoras das Américas) se articula coma necessidade que temos de consolidarmosnossas bandeiras em todo o planeta, atuandonas mais diferentes frentes de luta e nos orga-nismos internacionais de forma firme e efici-ente para defender o mundo do trabalho daperversão neoliberal e da desumanização.

Com unidade, trilhemos o caminho dobom combate rumo à vitória!

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Nesse seminário, estão presentes dirigen-tes e lideranças sindicais do Brasil, do Mercosule da Itália, bom como operadores do direitocomprometidos com o ponto de vista dos tra-balhadores. Desse modo, descabida uma apre-sentação de natureza acadêmica ou estrita-mente técnica. Não é esse nosso objetivo aqui.A idéia é contribuir para instrumentar teori-camente a ação prática de cada um de nós nanossa atividade cotidiana. E vivemos momen-tos de grande importância e potencial paralegar às futuras gerações um mundo social einstitucionalmente melhor do que aquele queencontramos.

Após décadas de domínio neoliberal, no-vos ventos sopram a América do Sul. Em vári-os dos nossos países, a começar pelo Brasil,passando pelo Uruguai, a Argentina e Chile,apresenta-se uma possibilidade da criação deuma resistência e uma alternativa ao proces-so de inserção subordinada e de pleno alinha-mento às políticas do Império. Não se trata deum acontecimento menor, pelo contrário. To-

As relações de Trabalho no Brasil:Desafios e Perspectivas

Antonio Carlos Porto Junior

Bacharel em Ciências Jurídicas Sociais – UFGRS/RS; Advocacia na área de Direito do Trabalho e Saúde no Trabalho desde 1984, para diversossindicatos e trabalhadores no estado do Rio Grande do Sul; Assessor Jurídico da CUT- RS e do Coletivo Jurídico da CUT Nacional.

davia, apenas o resultado eleitoral se mostracompletamente insuficiente para se alcançaras alterações necessárias no rumo econômicoe social até aqui seguido por esses países. Averdade é que o desafio, após a conquista daPresidência, é imenso e as dificuldades enfren-tadas demonstram apenas o início do traba-lho a ser feito.

E as grandes dificuldades que nós temosenfrentado em cada um desses países compro-va ser mais fácil vencer eleições do que efeti-vamente de produzir as mudanças estratégi-cas necessárias e ansiadas pela população.

Ao longo do período de domínioneoliberal, vimos o Estado ser vilipendiado,enfraquecido, castrada em sua capacidade deintervenção; o processo foi tal que fragilizoude modo consistente a possibilidade de proce-der as alterações que se fazem necessárias.Desfizeram-se, em grande parte, os instrumen-tos para tal fim. Todos esses anos deixarammarcas extraordinariamente profundas, cuja

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reversão não tem se mostrado simples. A ex-periência brasileira é essa. Embora toda nossaexpectativa, todo entusiasmo em produzirmudanças, essas modificações não se deixamacontecer, não são fáceis de ocorrer.

E mais: estamos falando de um país, o Bra-sil, que, sob este prima, goza de uma particu-laridade importante em relação aos demaispaíses da América do Sul e, mesmo, da Euro-pa. Durante todo o período, desde o início domovimento de implantação do neoliberalismo,da precarização das relações de trabalho e daseguridade social na Europa e depois na Amé-rica do Sul, aqui nós vivíamos uma situaçãodiferente. Havia um processo de acesso domovimento sindical, dos movimentos popula-res, que, dos estertores do regime militar, criou

uma situação, que nos deu, talvez, a possibili-dade de fazer essa travessia com muito maissegurança do que os nossos colegas da Améri-ca do Sul. Em 1988, houve aconstitucionalização de grande parte dos di-reitos sociais. Essa característica de havermos,contra a corrente, lograr dar status constitu-cional aos direitos sociais, permitiu uma resis-tência mais eficaz e capacidade de reagir paraimpedir um prejuízo mais profundo.

Entretanto, é importante retomar erelembrar alguns pontos fundamentais paracompreender o havido no mundo do traba-lho, no direito do trabalho, seja no plano indi-vidual, seja no coletivo. Na realidade, nãohouve uma reforma globalmente apresenta-da e implantada. Ao contrário, ele foi sendo

Artur Henrique, Denise Motta, Carlos Lupi, Antonio Porto

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fatiado lenta e gradativamente. Examinandoos três aspectos principais de um contrato detrabalho - a sua essência -, ou seja, salário/remuneração, jornada de trabalho e o tipo devínculo entre quem trabalha e quem toma otrabalho, veremos que todos esses elementosforam, um a um, alvo de medidasflexibilizatórias e precarizantes.

Vejamos o que se passou com o salário.Era irredutível, certo? Contudo, a introduçãoda chamado Participação nos Lucros e Resul-tados nos trouxe a remuneração variável. Talacontecimento é, de certa forma, invisível por-que o trabalhador brasileiro calcula seu salá-rio em bases mensais ou semanais. Mas, comoem outros lugares, ele deve ser verificadocomo salário-ano. Tal é o procedimento leva-da em conta para fins de cálculo do Impostode Renda, por exemplo. A participação noslucros e resultados possibilita a redução dosalário. Não importa, neste contexto, se juri-dicamente trata-se de salário, de remunera-ção, ou parcela autônoma. Tal discussão é se-cundária para quem recebe e põe o dinheirono bolso. Assim, mesmo que a PLR não sejatecnicamente salário, para fins práticos é sa-lário porque com ele o trabalhador salda suascontas. Então isso significa o que? Que o salá-rio não é mais irredutível.

Que é que aconteceu com a jornada detrabalho? Esta era, igualmente, fixa. Uma vezestabelecida, não poderia ser unilateralmentealterada; contratada, ela deveria ser mantida.O que é que aconteceu? Foi introduzido o ban-co de horas. E passamos da jornada fixa paraa variável.

Por fim, foram introduzidas novas rela-ções de trabalho: trabalho provisório, novas

modalidades de trabalho a prazo, lay-off, etc.,enfim toda uma série de contratos que a gentecomumente chama de contratos lixo e que tam-bém fizeram que desaparecesse, ou pelo me-nos, se flexibilizasse a idéia do contrato de tra-balho por prazo indeterminado como regra.

E o que é que há em comum entre essastrês modificações? O que é que liga essas trêsalterações? A negociação coletiva é o liame.

Em todos esses casos, a introdução do ban-co de horas necessita de negociação coletiva,a PLR precisa é estabelecida mediante negoci-ação coletiva e a introdução desses novos con-tratos, em regra, também só se dá por meio dacontratação coletiva.

Cabe relembrar a última grande batalhada era neoliberal brasileira. Não podemos es-quecer o debate em torno da nova redação doArtigo 618 da CLT. O que estava em questão?A prevalência do negociado sobre o legislado.Tal seria a coroação do processo de implanta-ção das reformas neoliberais. E tudo isso semalterar a essência da CLT e da CF. Tal proces-so foi detido e não se trata de um aconteci-mento menor. Vale refletir acerca do tema?Porque tal mudança foi perseguida com tantoesforço e a tal preço?

A razão salta aos olhos: buscava-se jogaro coração do contrato de trabalho para a ne-gociação coletiva. E, notem o detalhe perver-so: com a manutenção da atual estrutura sin-dical!

Porque estavam convictos que o vigentesistema sindical seria incapaz de defender, efi-cazmente, as vigas mestras do contrato de tra-balho. Tamanha era a certeza que se expuse-ram inteiramente, correndo o risco, inclusive,

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de graves prejuízos eleitorais, em decorrênciada opção de levar até o fim a disputa.

Desse modo, a maior parte da minha abor-dagem será voltada aos aspectos referentes àestrutura sindical. Falar, hoje, de reforma tra-balhista, mantida o atual sistema sindical, nãofaz nenhum sentido. Hoje qualquer espécie demodificação ou de reforma de direitos traba-lhistas aponta para a retomada de um pro-cesso de perda de direitos. Não há nenhumadúvida quanto a esse aspecto.

Nós todos discutimos, debatemos bastan-te a natureza dos nossos sindicatos, da nossaestrutura sindical e se impõe saiamos daquicom uma capacidade de atuar e agir defini-da. Nesta linha, se impõe um reconhecimentoimportante; de certa forma autocrítico, no sen-tido de, talvez, não tenhamos tido a clareza, aclarividência, de compreender quão profun-damente enraizado no meio sindical brasilei-ro está esta estrutura sindical. Como ela é per-cebida como a única e a melhor hipótese dis-ponível. É possível havermos subestimado talaspecto, de certo modo até cultural, dosindicalismo brasileiro. Esta central sindicalse constituiu e existe em função da luta pelaliberdade sindical; não devemos abdicar donosso programa. Todavia, é imperioso admi-tir que a intenção de preservar o sistema sin-dical celetista grassa mesmo em nossas pró-prias hostes. Com certeza, e devemos ter cla-reza disso, o processo será muito mais difícildo que imaginávamos quando fundamos aCUT e quando, agora recentemente, buscamosconstruir uma reforma sindical consistente.

De qualquer forma as modificações se im-põem porque vivemos uma situação deimpasse, e isso ficou claro no conjunto deste

seminário, com quando se fez referência à umacerta esquizofrenia legal com a qual nos de-paramos. Onde se combinamos uma legisla-ção constitucional democrática com uma le-gislação infraconstitucional - o Título V, da CLT- claramente autoritária. Mesmo a Constitui-ção, com seus aspectos extraordinariamentepositivos, como todo o conjunto de direitossociais elencados no Artigo Sétimo, decertomodo importou, como um enxerto, aunicidade sindical e, ainda que indiretamen-te, o imposto sindical. O sistema posto é inefi-caz, fragmenta os trabalhadores em umamiríade de pequenos sindicatos de profissõese os desarma diante dos desafios da negocia-ção coletiva.

Portanto a modificação na legislação sin-dical continua importante por razões reais,objetivas, não por capricho da CUT. Hoje oreconhecimento de uma entidade sindical éum processo absolutamente difícil de ser defi-nido. Quem é que, em última análise, quem éque acaba tendo a responsabilidade de deci-dir? Ou é um serventuário do Ministério doTrabalho ou um oficial de registro do cartório.Porque é uma legislação tão confusa, na me-dida em que se tem, é uma legislação que setornou tão confusa por combinar, ou por ten-tar combinar, o irreconciliável, a liberdade e aunicidade.

Entre o quadro atual e o passado, ao me-nos o antigo possuía a vantagem da coerên-cia, da lógica, porque o Estado definia, inclu-sive, o que é que era categoria profissional.Hoje sob o argumento da similitude de condi-ções de trabalho e vida, qualquer agrupamentodisforme de trabalhadores, pode servir de basepara uma nova “categoria” e constituir umnovo sindicato. E esse processo de pulveriza-

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ção cria um problema real para, seja para oEstado, seja para os próprios trabalhadores. Énecessário encontra mecanismos que resolvamisso.

Tentarei ilustrar o que afirmo.

Há uma recente decisão do STF, do Su-premo Tribunal Federal, sobre matéria de ques-tão sindical que é estarrecedora que é absolu-tamente estarrecedora. Após uma longa dis-puta judicial o Supremo decidiu uma novaFederação poderia ser constituída a partir dodesmembramento de outra. Até esse ponto,nada de mais. Uma parte de uma categoria seafastou, formou uma nova. Normal e corri-queiro O problema foi o passo seguinte: asconseqüências dessa decisão sobre os sindica-

tos pré-existentes, aqueles sindicatos que re-presentavam aquela categoria ou frações da-quela categoria. Alguns deles já existiam des-de os anos 30, dos anos 40. A nova Federaçãonacional passou a se apresentar como partelegítima para o recolhimento do imposto sin-dical e, mais tarde, como titular da negocia-ção coletiva. Se constituiu mais uma nova emultifacetada disputa judicial. Os sindicatosentraram na Justiça do Trabalho, e obtiveramquase todos os casos vitórias importantes, como reconhecimento que aqueles sindicatos, em-bora ecléticos, continuavam representando nabase aquela categoria.

Mas, o tema volta ao STF por meio de umaReclamação. E qual é a decisão do STF? Algo

Plenário

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impressionante. Algo assim: no momento emque foi criada uma federação em âmbito naci-onal, aquela categoria que estava representa-da pelo sindicato eclético, passa a ser conside-rada categoria inorganizada! Trabalhadoresde sindicatos com 30 anos, 40 anos, com his-tória de luta, passam, do nada, a ser reduzi-dos à condição de categoria inorganizada!

Isso por manifesta por deficiência da le-gislação.

E os impasses vão seguindo um ao outro.

De quantos dirigentes uma diretoria podeser constituída? São sete? Quinze? Vinte equatro? Vige o 522 da CLT? Se vige, qual é ainterpretação conforme a Constituição? A in-terpretação atual se inclina como pior do quea predominante sob o regime militar e a cartade 1969... Corre-se o risco dos integrantes dosConselhos Fiscais terem sua estabilidade afas-tada.

Nem abordarei as estripulias em torno dodesconto assistencial e outras matérias sobresustentação financeira. O papel do MinistérioPúblico do Trabalho.

Eu pergunto: é constitucional ou legal ce-lebração de um acordo coletivo de trabalhocom um ente sem personalidade jurídica? Éadmissível a criação de obrigações atravésdeste mecanismo? Hoje um acordo de PLRpode ser feita com uma comissão de trabalha-dores indicada na fábrica.. Seria válido?

Há, portanto, um conjunto de impassesque precisamos enfrentar porque atingem pro-fundamente a vida de pessoas reais, com inte-resses e direitos; não se trata de pretender umareforma pela reforma.

Ao menos, alguns elementos básicos mí-nimos precisariam ser resolvidos para permi-tir a construção de uma sociedade mais justa.E tudo indica ser essa e essa é a tarefa aqui.Devemos considerar o prazo mais longo: qualserá o cenário latinoamercano pós–Lula? Qualvai ser o cenário pós-Chaves? Qual vai ser ocenário pós-Tabaré? Qual vai ser o cenáriopós-Kirchner?

Nossa tarefa é preparar a sociedade parao futuro. Ir além do hoje. Devemos deixar al-gum legado maior do que simplesmente umadiscussão conjuntural. E algumas medidas sãofundamentais e se impõe hoje.

É inconcebível que as centrais sindicaiscontinuem entidades ilegais. Estamos viven-do no século XXI. E as centrais sindicais, em-bora existentes há mais de 20 ou 15 anos,continuem à margem do sistema sindical bra-sileiro.

Se, não é possível avançar no sentido daliberdade no âmbito dos sindicatos de base,ela é plenamente factível no âmbito federati-vo; não há porque haver óbice à forma comocada central sindical estrutures suas entida-des de nível superior, da maneira como en-tenda que deva fazê-lo. Parece que existe cli-ma e espaço a isso.

Mas há, sobretudo, um ponto que não sepode abrir mão. Nós não podemos atravessaresse período sem conquistar o direito à orga-nização no local de trabalho. É absolutamen-te inacreditável que a cidadania termine naentrada da porta da fábrica, ou da porta daloja, ou da porta do banco, da agência bancá-ria. Não é possível que o direito à organizaçãosindical no local de trabalho seja tratado como

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um tabu intocável. Os empresários brasileiros,em um atraso fantástico, continuam entenden-do a hipótese como uma violação das suasprerrogativas sagradas do direito de proprie-dade. Ora, muito do espaço de uma fábrica éum público. Onde existem pessoas; com direi-tos humanos, direito a saúde e segurança. Nãoé possível que em pleno século XXI, sigamosincapazes de resolver esse problema básico.

A proposta surgida no Fórum Nacional doTrabalho, a chamada contribuição negocial,por certo, aprimorada, não deve ser abando-nada pelo seu potencial de resolver problemasgravíssimos a partir da noção, correta, de serdefinida pelos próprios interessados. Mas dequalquer modo, independentemente da forma,impõe-se uma solução racional para o proble-ma. É descabido persistir o impasse atual como Ministério Público do Trabalho gastando suaenergia contra as contribuições que mantéma atuação sindical

Um outro aspecto que é fundamental é acriação daquilo que foi denominado duranteo Fórum Nacional do Trabalho, do ConselhoNacional das Relações de Trabalho. Precisa-mos, todos nós, as centrais sindicais, as cor-rentes políticas, os empresários, o Estado, deum espaço adequado, capaz de resolver ascontrovérsias sindicais. A discussão feita noJudiciário é insana, lenta e inadequada, por-que envolvidas questões que extrapolam emmuito a técnica jurídica. Seria importante umespaço onde os interessados saibam do que setrata. Compreendam que, ao se reconhecer umsindicato, se está conferindo poder de negoci-ação, o poder de criar obrigações válidas paraterceiros e não sócios, inclusive. Mesmo nãosendo sócio, tu faz um acordo coletivo tu criaobrigações para terceiros.

Por fim, carecemos de mecanismos a quecoíbam as práticas anti-sindicais. Não é possí-vel nós continuarmos como hoje. Apenas comum tipo pena, o do crime contra a organiza-ção do trabalho. Em vinte e tantos anos comoadvogado na área sindical, nunca vi algumempresário cumprir pena por prática anti-sin-dical. Não é a melhor solução. É necessárioum conjunto de penalizações pecuniáriasequilibradas mas, suficientemente gravosaspara permitir superar o quadro de desrespei-to aos direitos sindicais que são garantidos naConstituição Federal, como fundamentais.

E o último tema que pontuo é a questãoda negociação coletiva dos servidores públi-cos e do seu direito de greve. Também aqui, épossível a manutenção do atual sistema. Semregras, há uma longa greve para forçar a ne-gociação, outra para buscar a reivindicaçãoser atendida, outra para o acordo ser votadopelo Congresso e mais outra para que o Esta-do cumpra o acordado...

Sem um mecanismo de negociação coleti-va capaz de definir quem negocia o que, comquem, os problemas persistirão. Qual é o limi-te da liberdade do agente político e dos sindi-catos. O que pode ou deve ser negociado? Sãotemas que cobram urgência.

Encerro afirmando que a meu ver, aindaque insuficientes, alcançar os pontos aquielencados são tarefas que complementam acidadania brasileira; temos diante de nós umdesafio que nos cobra reflexão, estudo e ação.Não nos basta derrotar eleitoralmente as for-ças neoliberais. É preciso ir além; a nossa tare-fa é muito maior do que essa. Trata-se de criaras bases para um futuro melhor, temos quepensar do ponto de vista de uma atividade

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estratégica. Mandatos, sindicais ouinstitucionais, terminam.

É o cenário para o futuro que nós estamosconstruindo.

Temos que aproveitar este momento his-tórico latino-americano, ouvimos os relatos doscompanheiros da Europa onde o quadro naEuropa não é tão promissor. Observamos o quese passa no Iraque. Ou seja, os neoliberais po-dem estar sendo derrotados eleitoralmente naAmérica do Sul, mas seguem poderosos. Odiscurso, embora seja repudiado pelas popu-lações, segue sendo repetido: é o “custo Bra-sil”, o “custo Argentina”, o “custo Uruguai”,é idêntico em cada um desses países em cadaum desses países. O Estado é grande demais,

a economia excessivamente regulamentada ea ação dos empreendedores engessada. Podemter certeza, a bola da vez será o meio-ambien-te e as regras rígidas que atrasam a criação deempregos e a prosperidade do país.

Há muito para se fazer e o tempo é curto.

Ou seja, as tarefas que temos pela frentenão são nem simples e nem pequenas; sãoimensas, de longo prazo, mas que, em grandeparte, dependem das decisões tomadas nestemomento

Portanto, nossa responsabilidade é enor-me. E nós todos devemos estar dispostos a levá-la a bom termo porque outra oportunidadenão vai se repetir, com facilidade, outra veznas nossas vidas.

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Em primeiro lugar, eu agradeço ao presi-dente Artur, dirigente da CUT, pela gentilezado convite. Sinto-me honrado porque há mui-tos anos, estamos no mesmo terreno. No ter-reno de luta de gerações de brasileiros, nãosomente da minha geração. Eu não vou re-montar aqui, anos passados: a luta contra aditadura, a convivência com presos, com tor-turados, com exilados. Tampouco remontar àorigem do meu pai, à minha própria origem,da qual eu tenho muito orgulho. Trabalheidesde os 13 anos de idade. Tudo na minha vidafoi e é conquistado com muita luta. Mas que-ro remontar a uma luta que - enquanto existiruma sociedade profundamente injusta comoé a nossa - terá que soar a sua voz.

Eu jamais trairia a minha origem, nós so-mos hoje frutos da experiência de lutas acu-muladas ao longo dos anos. Eu tenho 50 anosde idade, sou professor de Licenciatura Ple-na. Sou concursado, nascido na cidade do Rio

As relações de Trabalho no Brasil:Desafios e Perspectivas

Ministro Carlos Lupi

Ministro do Trabalho e Emprego; ex-deputado federal Carlos Lupi, é formado em Administração e é Presidente Nacional do PDT.

de Janeiro, mas eu sempre lembro a todos aminha origem de jornaleiro. Vale à pena lutarno mesmo campo, no mesmo terreno por vi-sões diferentes de mundo, mas identificando,sobretudo, quem é nosso inimigo. Nós temosque ter a consciência muito clara de quem é onosso inimigo. Se nós não soubermos a arteda guerra, nós não estaremos fazendo o com-bate coerente, inteligente que temos que fazer.

A relação de trabalho do mundo atual églobalizada e, sobretudo, globalizada pelamiséria e nunca pela distribuição de riqueza.Ontem mesmo, eu estava ouvindo o relato dealguns companheiros que diziam que na Chi-na não têm direitos. Vocês já foram à China?Eu já fui. Já fiquei 45 dias ininterruptos naChina. Mas vamos observar a realidade da-quele mundo! Vamos ver como é alimentar umbilhão e trezentos milhões de pessoas. Um paísque tem 30% do seu solo sem condições deplantio, porque é coberto de gêlo.

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Um país invadido por grandes potênciasmundiais, querendo tomar o seu solo, tomarsua cultura. Esta é a realidade de um povoque está hoje entrando no mercado mundial,nos Estados Unidos da América, lançandoprodutos mais baratos, e de boa qualidade.

Enfrentar aquela realidade para nós é en-tender o que eles estão fazendo para sobrevi-ver, mas nunca comparem a situação deles coma nossa, visto que são estágios de lutas e deconstrução de sociedades diferentes.

Nós temos que inverter a pauta da discus-são, Sabe por quê? Porque a minha vida é luta,eu sou um sobrevivente. Quando somos so-breviventes, cada dia é o último da nossa vida.

Amanhã é mais um. Depois de amanhã é ou-tro. E assim vamos construindo, foi assim queeu cheguei aos 50. Deu certo até agora. Saí dabanca de jornal e sou Ministro de Estado. Eusei que é apenas um título. Eu sei que isso éuma frase, um nome. O ser humano que estádentro do título é que tem que valer, bem comosuas convicções. A coragem de apontar umaagenda positiva em uma área onde só se rece-be críticas é que tem que valer.

Por que só se discute a reforma trabalhis-ta do lado do prego? Fui à Comissão de Tra-balho com deputados federais e falei isso parao público presente. Por que nós sempre temosna relação de ser o prego e eles o martelo? Porque a gente apanha sempre? Se nós fizermos

Ministro Carlos Lupi, Fulvio Fammoni, Nino Galante e Artur Henrique

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a liga sem um prego, a madeira não se liga naoutra. Nós somos a liga, e por que nós sempretemos que ser o prego para o martelo em cima?É claro que nessa relação o prego não existesem o martelo, mas o martelo também não faznada sem o prego, não tem liga.

E como se trabalha essa relação na socie-dade moderna, uma vez que quando você falade reforma, entende-se contra-reforma ouanti-reforma? Que reforma é essa? Eu queroreforma sim! Quero e discuto com todo mun-do a hora que quiser. Eu quero a reforma quedesonere a folha de pagamento, as micros epequenas empresas, que assinam a carteira de60% dos celetistas do Brasil. Elas precisam serdesoneradas na folha de pagamento. Dentrodo governo, eu defendo aberta e publicamen-te esta idéia.

Por que jogar um trabalhador informalcontra um trabalhador formal? Porque não seconvence a sociedade, mas retira-se o direito!Eles perderam essa batalha. E nós não pode-mos ficar acuados, achando que - como elesperderam essa batalha - nós temos que acei-tar a nova pauta que eles vão nos dar. Nãopode ser assim.

Nesse processo, temos que partir para aofensiva. Eu quero a inclusão dos 45 milhõesde brasileiros no processo formal de trabalho.Como? Desonerando a folha de pagamento,diminuindo as taxações. Eu quero discutir como BNDES, com a Caixa Econômica que detém126 bilhões do FAT - dinheiro do trabalhador,como está na Constituição: é do trabalhador.Eu quero ver esse dinheiro ajudando a quali-

ficar o profissional para a realidade da de-manda!

Hoje no Rio de Janeiro existem dois gran-des pólos sendo introduzidos: o Pólo deItaboraí (Petroquímico) e o Pólo de Itaguaí(Pólo do Aço) dois que vão gerar de 400 a 500mil empregos em 10 anos, o que é muito posi-tivo, porem eu não tenho nem 10,% desta po-pulação preparada para estes novos empre-gos.

O Governo precisa dizer: “Vamos prepa-rar essa gente para esse emprego.” Quemodernidade é essa? Que sociedade modernaé essa que não quer investir na qualificaçãodo homem porque o considera um produtodescartável do trabalho? Ou não é assim? Nodia seguinte, escolhe-se o mais barato para olucro ser maior? É essa a relação de sociedadeque queremos? Para mim, não é. Eu tenho di-reito de ter a minha opinião, sendo ministroou não. Eu não exijo que ela seja acatada portodos, mas eu quero ter o direito de ter a mi-nha própria opinião e de fazer o embate deidéias. Quero ter o direito de discutir quandose fala da Previdência. Vamos repercutir osassuntos com profundidade e transparência!

Eu não discuto retirada de direito do tra-balhador porque isso é conquista. E quem dáa conquista perde a razão de viver. Eu nãodiscuto. É um direito meu, é um direito seu.Se alguns estiverem insatisfeitos, paciência.

A relação com a sociedade deve ser repu-blicana, assim como é estabelecida pela Cons-tituição, e nisso eu sou rigoroso.

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Então, vamos fazer esse debate! Eu querodiscutir com profundidade onde é que o di-nheiro público está sendo utilizado para fi-nanciamento.

Quando eu falo para vocês que eu preten-do descontingenciar os 20% do FAT, é porquealmejo destinar esse dinheiro para preparar otrabalhador, como promete a Constituição,porque não adianta ter trabalho, se não tiverqualificação para executá-lo.

O jogo do mundo moderno é o trabalha-dor cada vez mais qualificado ourequalificado. Eu tenho que preparar quemestá indo para o primeiro emprego, mas nãoposso esquecer os homens que estão na mi-nha faixa etária - 40, 50 anos de idade – masdevo prepará-los para se readaptarem ao mer-cado de trabalho.

A minha proposta é inverter essa pauta.Eu quero discutir como se faz a inclusão soci-al desses 46 milhões de brasileiros. Vamos fa-zer uma conta. Eu era autônomo como jorna-leiro, pagava a Previdência. Eu tenho 10, 12anos de Previdência paga nessa função. Vocêsabe quantos milhões autônomos existem? Sãosete milhões de empregadas domésticas comcarteira. Aliás, foi uma saída inteligente que ogoverno deu para esse setor.

Isso é um fenômeno do Brasil. Você nãoencontra empregado doméstico em nenhumaparte do mundo moderno, mas no Brasil sim.A sociedade brasileira tem de se adaptar a essarealidade. Como nós conseguimos fazer essainclusão? Por que esse mercado de formarcomo a política da economia solidária, que fazo professor Paul Singer, não pode ser uma ban-deira?

Assinei na segunda-feira uma autorizaçãopara o governador do Mato Grosso a fim depreparar os seringueiros para o mundo quevem depois do seringal. Porque ele não podeficar a vida inteira trabalhando com árvores,assim, eles vão olhar para o futuro de umasociedade que tem um Estado protetor. O Es-tado tem que proteger a micro e média em-presa.

Então vamos fazer a pauta da discussãopela ótica da gente. Eu quero discutir as rela-ções de trabalho com todos. Mas as relaçõesde trabalho só se disputam baseando-se emconquistas. Alguém abre mão? Em sessão noPlenário eu perguntei: “Alguma senhora de-putada presente – duas estavam defendendoa reforma – abriria mão do direito de licençamaternidade?” “Não, eu não.” E a outra:“Também não.” “Então por que as senhorasquerem que as atuais mães não possam ter essedireito?”. “Não, porque o mundo mudou.”“Mas mudou o que? O filho não leva 9 mesesainda? O que mudou? Não tem que dar o lei-te?” Isso daí não mudou. Vamos falar a ver-dade: é uma hipocrisia. É uma mentira. Que-rem botar nas costas de quem não tem nadapara dar, aquilo que ele não tem. Como é queeu vou dar algo que eu não possuo? O queestou querendo dizer é o seguinte: temos quemudar a ótica de discussão.

O problema do tráfico de drogas nas fa-velas, por exemplo. Você já parou para obser-var como é a discussão a respeito do assunto?É sempre sob a ótica da opressão. Vocês jápararam para pensar que nós vivemos em umsistema capitalista, da lei de oferta e de pro-cura? E que se não houvesse ninguém procu-rando, não teria o que vender?

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Eu não aceito essa sociedade, porque elacondena à morte quem não teve o direito deviver. Se é papel do ministro ou não, paciên-cia, mas é meu papel como cidadão. Que soci-edade é essa que queremos? Para que servemos muros que se constrói dentro de condomí-nios de dois, três metros, com toda proteçãopossível, sistema de televisão, colégio e cine-ma dentro, sendo que no primeiro dia que ojovem pisa fora desse mundo, roubam seu tê-nis Reebok?

Essa sociedade depende da relação de tra-balho. Esse é meu papel. Porque só o trabalhodignifica o homem e a mulher. Quando eucompletei 15 anos de idade, tive minha pri-meira carteira de trabalho assinada como

menor de idade. Pode parecer besteira paravocês, para mim não era. Foi muito importan-te para o meu desenvolvimento como cidadão.

Vamos discutir com profundidade os lu-cros dos bancos, o dinheiro que a gente inves-te na poupança ou pega no empréstimo. Masque dinheiro é esse que quando é o meu, valeuma coisa, mas quando eu pego emprestado,vale oito vezes mais. Que lei é essa? Lei da ofer-ta e da procura? Todo mundo acha bom quan-do o governo pega dinheiro do BNDES, daCaixa Econômica ou do Banco do Brasil parafinanciar o seu negócio. Mas ninguém achabom quando o governo tem que proteger amaioria silenciosa que sequer tem consciênciados seus direitos.

Plenário

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Nós somos privilegiados, pois a grande mai-oria da população, não sabe nem o que é umsindicato. Ou a sociedade não sabe que aindaexiste trabalho escravo e que as Superintendên-cias Regionais estão fiscalizando e multando aquiem São Paulo? Não é em sentido figurado. É tra-

Plenário

balho escravo mesmo! Então, que sociedade éessa? Que ao invés de discutir a inclusão, ajudaa excluir também? Nós temos que chegar a umponto e observar o que é que nos une, onde nósavançamos porque isso é importante para con-tinuar o crescimento do país.

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Para nós da CUT, não existe sociedadedemocrática em qualquer lugar do mundo, senão houver democracia nas relações de tra-balho. E essa para nós é uma bandeira funda-mental de qualquer debate sobre relações detrabalho. E um dos direitos fundamentais dequalquer sociedade democrática é a liberdadede organização; de lutar pelos interesses dostrabalhadores e das trabalhadoras. Isso inclui,a liberdade de constituir sindicatos da formacomo os trabalhadores livremente decidirem,e não através, por exemplo, do Artigo 522 daCLT, que estabelece um determinado limitepara o número de dirigentes sindicais. E essedebate tem que ser realizado sob a ótica dasliberdades democráticas. Com isso, emergeoutra questão fundamental é a forma de fi-nanciamento. Novamente, quem deve decidirlivremente sobre as formas de financiamentodas suas organizações devem ser os própriostrabalhadores, em assembléias.

As relações de Trabalho no Brasil:Desafios e Perspectivas

Artur Henrique da Silva Santos

Sociólogo, formado pela PUC Campinas; foi Presidente do Sindicato dos Eletricitários de Campinas por duas gestões, hoje é Diretor doSINERGIA CUT (Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo) que congrega trabalhadores na Empresas de energiaelétrica e gás canalizado.Foi Secretário de Formação da CUT – SP na gestão 2000/2003 e Secretário Nacional de Organização da CUT – gestão 2003/2005. Nestamesma gestão ocupou o cargo de Secretário Geral da CUT Nacional.Em 9 de junho de 2006 foi eleito pra o triênio 2006/2009 Presidente da CUT Nacional pelos delegados do 9º CONCUT.

A efetiva implementação de um SistemaDemocrático de Relações de Trabalho só serápossível quando houver a garantia de um sis-tema de proteção e de direitos sociais que hojevêm sistematicamente sendo atacados, apesardos avanços do Governo Lula. Contudo, aagenda neoliberal, daqueles que perderam aseleições tem sido propagandeada por boa par-te da mídia como a salvação do país, comopor exemplo, a reforma trabalhista, reformaprevidenciária e tantas outras reformas, semfalar da reforma que nos interessa, a reformaagrária.

Pensar as relações de trabalho no Brasilimplica, necessariamente, em desconstruir afir-mações veiculadas diariamente e essa é umadas principais tarefas do movimento sindicale também do governo. Uma delas é que as re-lações de trabalho no Brasil são extremamen-te flexíveis. Ao contrário do que dizem que as

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regras são tão rígidas, que engessam o cresci-mento econômico; as regras e as relações detrabalho no Brasil são uma das mais flexíveisque existem no mundo. Primeiro, pela facili-dade na contratação e demissão, sem absolu-tamente nenhuma regra. O que reafirma a ne-cessidade da ratificação da Convenção 158 daOIT – Organização Internacional do Traba-lho. Convenção denunciada pelo GovernoFernando Henrique Cardoso, que coloca apossibilidade de participação dos sindicatos noprocesso e, através de negociação e/oumobilização, garantir transparência. Porexemplo, no último ano, 60% dos trabalhado-res que foram demitidos tinham até 2 anos deemprego, o que implica numa altarotatividade de trabalhadores(as), e na gran-de maioria das vezes, a troca simples por tra-balhadores ganhando salários bem menores.

Outro retrato das relações de trabalho noBrasil é a intensa precarização, por meio deterceirização ou informalização, como PJ´s –pessoa jurídica ou mesmo várias outras for-mas de contratação. Tudo isso num períodoem que em nome da modernização, foi imbu-ída na sociedade a idéia de que era precisoflexibilizar os direitos dos trabalhadores paraampliar a número de empregos. Flexibilizou,reduziu direitos e nenhum emprego novo foigerado nessa época do Governo FernandoHenrique Cardoso. Muito pelo contrário, ti-vemos aumento do desemprego. Nenhumamedida de flexibilização, no âmbito doMercosul ou na Europa gerou emprego, comoalguns especialistas dizem. E a mídia faz com-parações em relação a países europeus, comsistemas de proteção social consolidados, en-quanto que no Brasil temos apenas o segurodesemprego.

Portanto, nesse Seminário, em que conta-mos com a presença do Ministro do Trabalhoe Emprego, Carlos Lupi, é essencialaprofundar estas questões, desconstruindomitos e estabelecendo responsabilidades. Épreciso ousadia de todos, da classe trabalha-dora e também do governo para ampliar di-reitos, e não de flexibilizar ou reduzir direitos.A hora é de trazer para a formalização aque-les que estão na informalidade e fora do mer-cado de trabalho. Exemplo dessa ousadia é apostura do Ministro do Trabalho do Uruguaique, logo ao tomar posse, estabeleceu um pro-cesso de diálogo com as confederações ou asrepresentações sindicais e empresariais paradebater acordo nacional por ramo e por setoreconômico. Guardadas as especificidades decada país, é perfeitamente possível construirum processo de diálogo e negociação, comobrigatoriedade de todas as partes – trabalha-dores e empresários, debater piso salarial na-cional e contratação coletiva nacional porramo.

O PAC - Programa de Aceleração do Cres-cimento, lançado pelo governo Lula, com umconjunto de obras de infra-estrutura, é impor-tante instrumento para impulsionar o cresci-mento econômico e, consequentemente, o de-senvolvimento. No PAC não há contrapartidasde emprego formal. A proposta da CUT é queem todos os projetos exista a participação domovimento sindical, na negociação de acor-dos onde a contrapartida dos setores que es-tão sendo beneficiados seja a contratação detrabalhadores de carteira assinada, empregoformal, sob a ótica do trabalho decente, pre-conizado pela OIT – Organização Internacio-nal do Trabalho.

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Enfim, para avançar na democratizaçãodas relações de trabalho e na formalização doemprego, é preciso direito de organização ede associação, em especial, no local de traba-lho; direito de greve, coibição das práticas anti-sindicais, a redução da jornada de trabalhosem redução de salário, como forma, inclusi-ve, de propiciar a criação de empregos formais.É preciso colocar o trabalho e sua valorizaçãocomo eixo central das políticas públicas. Epara a CUT, isso significa criação e ampliaçãode empregos formais e empregos decentes.Esse segundo governo Lula deve priorizar aspolíticas públicas de emprego e renda, quali-ficação profissional, onde os atores sociaispossam participar do processo de definiçãotanto de verbas quanto de metodologia. Exem-plo disso foi a luta para estabelecer que o di-

nheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhadorsomente pudesse ser utilizado em projetos re-almente públicos de emprego e renda e nãopara favorecer esta ou aquela central sindi-cal, ou este ou aquele projeto de qualificaçãoprofissional.

Estas questões implicam num debate maisprofundo, com a sociedade, de qual desenvol-vimento o Brasil precisa. E principalmente, odesenvolvimento regional, levando em consi-deração especificidades econômico-sociais eculturais, na definição de políticas. Muito setem falado sobre crescimento econômico edesenvolvimento. Mas qual? Aquele que em-prega uma enorme quantidade de trabalha-dores em regime análogo ao escravo, em regi-me de escravidão e trabalho infantil? O cres-

Artur Henrique, Denise Motta, Ministro Carlos Lupi, Antonio Porto

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cimento econômico que queremos implica emdistribuição de renda, valorização do traba-lho e respeito ao meio-ambiente. Estas são ban-deiras principais da CUT para o próximo pe-ríodo.

Por outro lado, também é necessário umamplo movimento com os países do Mercosulpara que a integração regional seja não ape-nas de relações comerciais, mas também e,principalmente, de relações sociais. A presen-ça de companheiros do Uruguai, Argentina eParaguai nessa atividade contribui muito para

a consolidação da Plataforma Sócio-laboraldos Direitos dos Trabalhadores no Mercosul.E o Ministério do trabalho tem um papel fun-damental nesse processo.

Se, foi com muita luta que alcançamos osdireitos até hoje conquistados, certamente, nopróximo período, essa luta deverá ser amplia-da, para quem não tem acesso a esses direitose para avançar em mais direitos. E essa é atarefa estratégica da CUT no próximo perío-do. E é a unidade, a mobilização e a pressãoque garantirão essas conquistas.

Plenário

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A Central Única dos Trabalhadores por meio, da Secretaria Nacional de Organização e daSecretaria Nacional de Relações Internacionais agradece a CGIL, entidade parceira deste even-to, e a todos dirigentes, funcionários e assessores que colaboraram para a realização do Seminá-rio: Organização Sindical e Relações de Trabalho: A luta dos Trabalhadores na Itália e no Brasil,com agradecimentos especiais para:

Secretarias Nacionais da CUTConfederações, Federações e SindicatosEstaduais da CUTEscolas SindicaisDIEESE – Departamento Intersindical de Estatisticas e Estudos de SocioeconomicosDIEESE – Subseçao CUT NacionalUnisoliColetivo Jurídico da CUT

Agradecimentos

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Organizador da publicação:Carlos Balduino - Babu – Secretaria Nacional de Organização – CUT

Colaboradores – Claudia Rejane de Lima, Darlene Testa, Silvana Reis Lima

Capista:Celso Prado

FotografiasDouglas Mansur

Diagramação:Interarte Comunicaçãowww.interarte.com.br

Impressão:[email protected]

Tiragem:3.000 exemplares

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