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ORÇAMENTO EMPRESARIAL INTEGRADO PREFÁCIO 1ª EDIÇÃO Em minha longa trajetória profissional e de magistério tenho transmitido aos jovens e aos colegas de trabalho alguns conceitos que são elementarmente óbvios, mas que por isto mesmo podem passar despercebidos na montagem da técnica orçamentária. Entre esses conceitos, sobressaem os seguintes: • não devem ser dissociadas as implantações e rotinas de custos e de orçamento, porque uma depende da estruturação da outra; • só as empresas que possuem boa infra-estrutura administrativa e operacional é que podem se habilitar a montar sistemas efetivos de custos e de orçamento; • ao implantar os sistemas de custos e de orçamento, a equipe técnica incumbida dessa implantação terá que, simultaneamente, reorganizar a empresa que irá utilizar esses sistemas. Por outro lado, inúmeros fatores têm contribuído para que os sistemas orçamentários implantados não se realizem a contento, sendo os principais obstáculos os a seguir enumerados: • depois de autorizada a implantação, a diretoria da empresa se omite no acompanhamento do sistema, dele não participa efetivamente, ou delega todos os poderes de fiscalização a pessoas ou órgãos sem projeção ou autoridade suficiente para impor e exigir; • não se processa, preliminarmente, ampla e vasta campanha de motivação e interação abrangendo todo o pessoal da empresa que irá coletar e preparar os dados necessários à montagem, não se processam reuniões críticas ou de esclarecimento, não se fornece treinamento prévio, e nem se conscientiza o pessoal da sua responsabilidade final pelo fornecimento de dados imprecisos ou pelo alheamento à fiscalização da execução; • não são levadas em consideração as projeções ou estimativas relativas a alterações de preços, quer os decorrentes de contingências do mercado, quer os que derivam dos processos inflacionários que atormentam a economia dos países ainda não desenvolvidos. Geralmente, as obras sobre orçamento que são lidas no Brasil constituem traduções de autores de países desenvolvidos que escrevem baseados no pressuposto de que os dirigentes das empresas já conhecem os conceitos técnicos básicos, já têm suas estruturas empresariais bem

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ORÇAMENTO EMPRESARIAL INTEGRADO

PREFÁCIO

1ª EDIÇÃO

Em minha longa trajetória profissional e de magistério tenho

transmitido aos jovens e aos colegas de trabalho alguns conceitos que são elementarmente óbvios, mas que por isto mesmo podem passar despercebidos na montagem da técnica orçamentária.

Entre esses conceitos, sobressaem os seguintes: • não devem ser dissociadas as implantações e rotinas de custos e

de orçamento, porque uma depende da estruturação da outra; • só as empresas que possuem boa infra-estrutura administrativa e

operacional é que podem se habilitar a montar sistemas efetivos de custos e de orçamento;

• ao implantar os sistemas de custos e de orçamento, a equipe técnica incumbida dessa implantação terá que, simultaneamente, reorganizar a empresa que irá utilizar esses sistemas.

Por outro lado, inúmeros fatores têm contribuído para que os

sistemas orçamentários implantados não se realizem a contento, sendo os principais obstáculos os a seguir enumerados:

• depois de autorizada a implantação, a diretoria da empresa se

omite no acompanhamento do sistema, dele não participa efetivamente, ou delega todos os poderes de fiscalização a pessoas ou órgãos sem projeção ou autoridade suficiente para impor e exigir;

• não se processa, preliminarmente, ampla e vasta campanha de motivação e interação abrangendo todo o pessoal da empresa que irá coletar e preparar os dados necessários à montagem, não se processam reuniões críticas ou de esclarecimento, não se fornece treinamento prévio, e nem se conscientiza o pessoal da sua responsabilidade final pelo fornecimento de dados imprecisos ou pelo alheamento à fiscalização da execução;

• não são levadas em consideração as projeções ou estimativas relativas a alterações de preços, quer os decorrentes de contingências do mercado, quer os que derivam dos processos inflacionários que atormentam a economia dos países ainda não desenvolvidos.

Geralmente, as obras sobre orçamento que são lidas no Brasil

constituem traduções de autores de países desenvolvidos que escrevem baseados no pressuposto de que os dirigentes das empresas já conhecem os conceitos técnicos básicos, já têm suas estruturas empresariais bem

montadas e sabem como combater e eliminar os fatores que possam vir a prejudicar a efetivação do sistema.

Outro problema grave para a assimilação das obras traduzidas de

autores estrangeiros é que não se leva em consideração a peculiaridade da legislação brasileira, quer a comercial, quer a societária, quer a fiscal.

Nessas circunstâncias, a aplicabilidade de um texto estrangeiro no

Brasil torna-se obra de ficção científica e seus resultados práticos se tornam desastrosos e inoperantes.

Sem desconhecer os méritos dos autores estrangeiros, parece que a

consciência profissional brasileira vem amadurecendo no sentido de criar sistemas e obras genuinamente brasileiros, exatamente para que esses trabalhos possam vir a trazer uma contribuição real e prática ao empresariado nacional.

Estamos agora diante de um trabalho muito bem elaborado, por um autor que tem sobrenome estrangeiro, mas nasceu no estado brasileiro do Espírito Santo e, depois de trabalhar de 1954 até 1969 em empresas estrangeiras de renome, passou a exercer suas atividades durante estes últimos 14 anos em grandes empresas brasileiras. Assim, ele se formou na experiência internacional, mas teve o cuidado de ir anotando paulatinamente as fases do sistema orçamentário que não poderiam ser aplicadas no Brasil, não obstante as miopias que muitas vezes provêm das instruções e rotinas escritas no exterior e sem a sensibilidade necessária para aceitar as mudanças que se fazem imperiosas exatamente por ser o Brasil um país peculiar tanto na sua legislação como nos seus aspectos especiais econômicos.

Pedro Schubert, sem nenhum favor, se revela um expoente no

campo financeiro e especificamente no manuseio das avançadas técnicas orçamentárias, com a sabedoria de tê-las adaptado às contingências brasileiras. Seu trabalho tem mais um inegável mérito, pois sua rara habilidade didática converte-o em obra indispensável ao estudioso, ao principiante no assunto, ao aluno universitário e até mesmo, ao leitor descompromissado. Desnecessário dizer que este livro sobre orçamento empresarial integrado deverá constituir o Livro de cabeceira de todo diretor de empresa consciente.

Embora meu contato com Pedro Schubert tenha-se dado somente

após já se encontrar redigido o manuscrito que ora se converte em livro, devo confessar meu contentamento pelo fato de que ele concorda integralmente com todos os conceitos e fatores que mencionei no início deste prefácio.

Assim é que a amálgama entre custos e orçamento é uma das

características do seu orçamento integrado. O sistema de custos existente

na empresa é sempre mencionado, tanto assim que o autor, ao definir o que denomina de “integração horizontal”, destaca em primeiro plano a existência de um plano de registros de custos de produção já implantado na empresa.

A existência de uma boa infra-estrutura administrativa e

operacional é ponto fundamental para refletir a realidade da empresa conforme se percebe pela leitura do texto e sem essa infra-estrutura, o sistema orçamentário não poderá funcionar, salvo se os técnicos na montagem do orçamento se preocuparem previamente na arrumação da casa.

A participação efetiva da direção da empresa constitui o que o autor

denomina de “integração vertical”, e não me furto da oportunidade de reproduzir suas próprias palavras para que o leitor tenha uma idéia da sua feliz percepção do problema:

“Esta integração funciona no sentido hierárquico, partindo das

decisões do Conselho de Administração que definem a estratégia da empresa, ou seja, ‘pela fixação da orientação geral dos negócios da companhia, pela fiscalização da gestão dos diretores, pela manifestação sobre os relatórios de administração’, passa pela Diretoria Executiva que fixa os objetivos funcionais da empresa para o exercício social a ser orçado, pela definição dos critérios a serem adotados na elaboração do orçamento, pela definição das responsabilidades na sua elaboração e retorna até o Conselho de Administração, na forma de Análise de Hiato, pelos resultados apurados na elaboração do orçamento e na forma de relatórios de gestão, demonstrando os resultados obtidos na fase operacional quando são comparados os valores obtidos com os valores orçados”.

A necessária interação abrangendo todo o pessoal da empresa é

exaustivamente abordada pelo autor, que discorre sobre a necessidade de instruções, reuniões e relatórios.

Finalmente, este livro é o primeiro que tenho a felicidade de ler que

aborda de modo bastante real e conclusivo a necessidade do planejador orçamentário incluir em suas projeções a sistemática brasileira da correção monetária que, como sabemos, transfigura os valores das depreciações e gera problemascorrelatos como o lucro inflacionário, ou a recíproca, que é a despesa da correção monetária do exercício, fatores estes de que o técnico em orçamentos no Brasil não pode prescindir na montagem final das demonstrações de resultados e do balanço patrimonial e não pode desprezar essas influências nos custos e nos resultados empresariais.

O texto do livro está todo adaptado à nova legislação das sociedades anônimas e aos novos imperativos do imposto de renda, de modo que atende perfeitamente à realidade empresarial brasileira.

Os diversos modelos apresentados para a compreensão da

montagem do sistema apresentam-se com metodologia notável, pois cada modelo tem as informações precisas de onde vieram os valores nele inscritos e para quais modelos seguintes serão transcritos os dados, de modo que o leitor tem uma abrangência completa de todo o esquema técnico da preparação do orçamento.

Trata-se de um trabalho sério, moderno, adaptado às

peculiaridades brasileiras que recomendo com muita satisfação à leitura atenta dos empresários, dos técnicos na área financeira, dos estudantes, enfim de todos aqueles que, como diz o autor, sabem que “orçamento é assunto sério e de profunda repercussão na vida da empresa”.

Por certo, Pedro Schubert não ficará por aqui. Sua acuidade profissional nos brindará com outros trabalhos, outras obras, que irão lhe proporcionar outras vitórias iguais a esta.

Américo Matheus Florentino Professor catedrático da Universidade Federal do Rio de Janeiro;

Professor catedrático da Universidade do Estado do Rio de Janeiro