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Cidade Centro de Assessoria e Estudos Urbanos A experiência do Orçamento Participativo no Rio Grande do Sul (1999/2002) Sistematização e análise: Daniela Oliveira Tolfo Porto Alegre, julho de 2004.

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Orçamento Participativo e Politicas Públicas no Rio Grande do Sul

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  • Cidade Centro de Assessoria e Estudos Urbanos

    A experincia do Oramento Participativo no Rio Grande do Sul (1999/2002)

    Sistematizao e anlise: Daniela Oliveira Tolfo

    Porto Alegre, julho de 2004.

  • 2

    Apresentao O presente texto apresenta uma sistematizao de alguns dados sobre o Oramento

    Participativo-RS, implementado na gesto 1999-2002. Consideramos importante o registro

    de tais dados, visto que o processo de participao popular na gesto pblica est em

    constante recriao. Um dos papis de um Centro de Assessoria e Estudos Urbanos como o

    Cidade, sistematizar criticamente e publicizar estas experincias, a fim de subsidiar

    debates e pesquisas sobre o tema. Agradecemos, ainda, o apoio da KZE/Misereor, entidade

    financiadora deste trabalho.

    Elaboramos o texto em quatro partes, mesclando a estrutura do processo, ou seja, o

    ciclo de funcionamento, com os dados fornecidos pelo prprio Governo estadual

    1998/2002. Na primeira parte do trabalho, abordamos a regionalizao do Rio Grande do

    Sul, o desenho institucional do Governo e da participao durante estes quatro anos. Logo

    aps, enfocamos o Ciclo do OP-RS, enfatizando os papis dos atores envolvidos,

    prioridades eleitas e dados sobre participao em cada regio do estado.

    Na parte final, nos desafiamos a colocar algumas problematizaes sobre a

    experincia de oramento construdo atravs da participao no Rio Grande do Sul.

    Entendemos que o OP-RS pode ser mais um ponto de partida para a discusso sobre os

    processos decisrios participativos em relao ao oramento federal. Temos claro que esta

    uma reivindicao da sociedade civil movimentos sociais e comunitrios, ONGs que

    ainda busca a radicalizao da democracia e a distribuio de renda neste pas.

  • 3

    Introduo

    O Rio Grande do Sul (RS) viveu, de 1999 a 2002, um processo de gesto pblica

    conhecido como Oramento Participativo (OP-RS), no qual a populao passou a decidir o

    destino que os investimentos deveriam tomar em cada municpio e em cada regio do

    estado. O nosso objetivo neste trabalho contar um pouco da histria desta experincia, a

    primeira em nvel estadual.

    O primeiro passo para tanto caracterizar econmica e socialmente o Rio Grande

    do Sul. Alguns dados extrados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil1 -

    demonstram o grau de desenvolvimento do Rio Grande do Sul em 2000. Neste ano o RS

    tinha 10.187.798 milhes de habitantes. A taxa de urbanizao de 81,65% pode ser

    considerada baixa se compararmos com boa parte dos estados brasileiros. Em relao ao

    ndice de Desenvolvimento Humano, o Rio Grande do Sul encontrava-se, entre as regies

    consideradas de alto grau de desenvolvimento, com um ndice de 0,814. A taxa de

    analfabetismo, por exemplo, era de 7,8%. A proporo de pobres (populao com renda

    familiar inferior a R$75,50) era de 19,7%. A porcentagem de crianas em domiclios cuja

    renda era inferior a meio salrio mnimo era de 30,8%.

    Outros dados relevantes so os nmeros do estoque da dvida pblica estadual. No

    Governo Collares - PDT (1991/1994), a dvida era de R$10 milhes; ao final do primeiro

    mandato do PMDB, com Antnio Britto (1995-1998), o valor ficou em mais de R$25

    milhes. Este valor se repetiu ao final do Governo Olvio Dutra PT (1999-2002), sendo

    mantido no primeiro ano do atual governador2.

    J o ndice de Desenvolvimento Scio-econmico (IDESE)3, elaborado pela

    Fundao de Estatstica do Rio Grande do Sul (FEE), tambm para o ano 2000, nos oferece

    um quadro da situao de todos os municpios gachos. Como o ndice apresenta os dados

    agregados por regio do estado, ele foi utilizado em alguns quadros a fim de obtermos uma

    tendncia do projeto de desenvolvimento implementado via participao popular.

    1 Elaborado pelo PNUD (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento), IPEA (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada) e a Fundao Joo Pinheiro Governo de Minas Gerais. 2 Fonte: Secretaria da Fazenda/RS, Fundao de Economia e Estatstica (FEE/RS). 3 O IDESE o resultado de quatro blocos de indicadores: Domiclio e Saneamento, Educao, Sade e Renda.

  • 4

    Uma das metas do governo4 que implementou esta experincia era alterar o destino

    dos investimentos pblicos, a chamada poltica de inverso de prioridades. Para tanto,

    buscava desenvolver a economia do estado atravs dos micros, pequenos e mdios

    produtores e empresrios, tanto da cidade quanto do campo. O fato do Governo no ter

    apoio da maioria da Assemblia Legislativa, impossibilitava a aprovao de projetos e

    polticas que tinham esta finalidade. Entra em cena, ento, o Oramento Participativo do

    Rio Grande do Sul OP-RS, como um instrumento que empodera a sociedade civil na

    definio dos destinos do dinheiro pblico.

    A sistematizao tem o intuito de contar como o processo ocorreu ao longo dos

    quatro anos de gesto: quantos cidados e cidads participaram, o que foi eleito como

    prioridade a cada ano e para cada regio do estado, qual o desenho institucional que

    propiciou a participao (ciclo, etapas decisrias e estrutura de governo)5 e a partir disto,

    colocar algumas problematizaes. Estes so os desafios que nos colocamos.

    4 A aliana - denominada Frente Popular - que se elegeu em 1998 era liderada pelo PT (Partido dos Trabalhadores) e contava ainda com PSB (Partido Socialista Brasileiro) e PC do B (Partido Comunista do Brasil). 5 Todos os dados trabalhados foram fornecidos pelo Gabinete de Oramento e Finanas do Governo Estadual Gesto 1999/2002.

  • 5

    Regionalizao do Rio Grande do Sul e desenho institucional

    Para efetivar a realizao do processo participativo no RS, a primeira ao foi

    regionalizar o espao no qual tal experincia iria ocorrer. Assim, acabou-se utilizando a

    regionalizao dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES)6,

    implementados em 1994 atravs da Lei n 10.283, que divide o estado em 22 regies7 de

    acordo com as caractersticas e os potenciais de desenvolvimento de cada regio.

    A estrutura administrativa do Governo do Estado em relao elaborao

    oramento foi alterada significativamente com a implementao do OP-RS. Foram criados,

    em 1999, dois gabinetes diretamente ligados ao executivo estadual. O Gabinete de Relaes

    Comunitrias (GRC), para dar conta da relao poltica e institucional entre comunidades,

    movimentos populares e Governo; e o Gabinete de Oramento e Finanas (GOF), para lidar

    com a elaborao do Oramento. Este tambm era responsvel pela construo da Matriz

    Oramentria e do Plano de Investimentos e Servios do Estado, os quais eram

    apresentados para a populao que participava do processo e decidia as demandas,

    prioritrias e as polticas de desenvolvimento.

    As Coordenadorias Regionais do Gabinete de Relaes Comunitrias estavam

    inseridas em cada regio. A cada Coordenador/a cabia organizar as reunies e plenrias,

    juntamente com os/as conselheiros/as e delegados/as da regio. Alm disso, cada

    coordenadoria organizava os espaos de discusso das comunidades, como os Fruns

    Regionais de Delegados e suas respectivas Comisses Representativas. A equipe que

    compunha o GRC e as coordenadorias era formada por pessoas oriundas de movimentos

    sociais das regies, pois sua principal atribuio era mobilizar a populao para participar.

    Outra inovao a ser mencionada foi a criao da Secretaria Especial da Habitao

    (Sehab)8, visto que este era um dos principais problemas de vrios municpios,

    principalmente os da Regio Metropolitana, na avaliao do governo.

    Um fato a ser destacado que a presena das vrias secretarias de governo no

    correspondia regionalizao dos COREDES, o que, de acordo com a anlise do governo,

    6 Cada COREDE composto por representantes da sociedade civil organizada, dos poderes pblicos (prefeitos dos municpios) e das Instituies de Ensino Superior. 7 Em 2001 o Governo Estadual estabeleceu a 23 Regio, denominada Altos da Serra do Botucara, que ao trmino do mandato de 2002 foi extinta. 8 Criada em maio de 1999 atravs da Lei Estadual 11.324.

  • 6

    impossibilitou uma ao mais eficaz, tanto em relao aos diagnsticos necessrios quanto

    implementao de polticas. Alm disso, no ano de 2001 foi criada mais uma regio

    Altos da Serra do Botucara que agregou municpios das seguintes regies: Vale do

    Taquari, Produo, Alto Jacu e Vale do Rio Pardo.

    Mapa da regionalizao dos Coredes utilizada no

    Oramento Participativo Estadual.

  • Ciclo do OP-RS (2001)

    A partir de ago

    RS, explicitando as car

    a dar conta das demand

    um enfoque na regio

    Desenvolvimento (AR

    9 As ARTDs iniciaram no Cnas Assemblias Pblicas M

    Tem

    ConselPo Plenrias Regionais de Diretrizes

    Maro, nas 22 regies.

    Assemblias Pblicas MunicipaisMaro a junho, em cada municpio.

    Assemblias Regionais ticas de Desenvolvimento

    Maro, nas 22 regies.

    Plenria dos Fruns Regionais de Delegados Julho a setembro, nas 22 regies.7

    ra apresentaremos as etapas do Ciclo do Oramento Participativo -

    actersticas principais de cada uma. O ciclo foi estruturado de forma

    as regionais e municipais levantadas pelos participantes, partindo de

    com a realizao das Assemblias Regionais Temticas de

    TD)9, no ms de maro.

    iclo em 2000; no processo de 1999 as prioridades regionais foram estabelecidas unicipais.

    ho Estadual do Oramento Participativo sse em julho, com mandato de um ano.

  • 8

    A partir de 2001, por iniciativa do Governo Estadual e com o consenso do Conselho

    do Oramento Participativo Estadual, o processo passou a ter como ponto de partida as

    Plenrias Regionais de Diretrizes (PRD) - realizadas no mesmo dia das Assemblias

    Regionais Temticas de Desenvolvimento. Estas plenrias tinham o objetivo de ampliar e

    qualificar a viso dos participantes sobre os Programas de Desenvolvimento, Servios e

    Obras a partir do diagnstico e das diretrizes de desenvolvimento de cada regio,

    elaborados e apresentados pelas secretarias estaduais.

    Os participantes votavam em trs prioridades dentre os nove temas apresentados

    pelo governo:

    Agricultura. Cincia e Tecnologia. Desenvolvimento do Turismo. Gerao de Trabalho e Renda (GTR). Meio Ambiente, Gesto Urbano-Ambiental e Saneamento. Gesto e Aes de Qualificao no Uso e Ocupao do Solo. Transporte e Circulao. Minas e Energia. Educao.

    Cada participante da ARTD recebia um caderno (fotocpia) contendo uma lista-tipo

    de todos os programas de cada um destes temas. Os participantes escolhiam trs programas

    (um para cada tema selecionado). Este caderno apresentava tambm os objetivos, o

    pblico-alvo (beneficiados) e aes para implementao destas polticas pblicas. Era

    distribudo um manual de como se dava o processo ao longo do ano, fornecendo

    informaes sobre a pontuao para definio de prioridades, a regionalizao, o papel de

    delegados/as e conselheiros/as, sobre a Matriz Oramentria, as receitas e despesas

    pblicas, Plano de Investimentos e Prestao de Contas, entre outras.

    Ao final deste turno de trabalho estavam eleitas trs prioridades temticas e trs

    programas dentro de cada temtica e os/as delegados/as (na proporo de 1 para cada 20

    participantes). Todo este processo ocorria durante o ms de maro, em todas as 23 Regies.

    Destacamos que dos nove temas propostos pelo governo, trs no foram eleitos

    como prioridade por nenhuma das 23 regies durante os quatro anos de Oramento

    Participativo: Cincia e Tecnologia, Desenvolvimento do Turismo e Minas e Energia.

  • 9

    Quadro 1: Prioridades estaduais por ano nas ARTDs.

    Prioridades eleitas nas ARTDs por ano 1 2 3

    2000 Agricultura GTR Transporte e Circulao 2001 Agricultura UERGS Transporte e Circulao 2002 Educao Agricultura GTR 2003 Agricultura GTR Educao

    Siglas: ARTD: Assemblia Regional Temtica de Desenvolvimento. UERGS: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. GTR: Gerao de Trabalho e Renda.

    Destacamos que dentro do tema Agricultura, que foi primeira prioridade estadual

    por trs anos, os programas mais votados foram: Fortalecimento da Agricultura Familiar,

    Programa de Desenvolvimento de Agroindstrias e Reforma Agrria. O detalhamento de

    cada programa se dava na elaborao do Plano de Investimentos (PI), no qual os valores

    eram explicitados, assim como cada ao. Por exemplo: o programa Reforma Agrria

    recebeu no PI de 2002 R$ 81.658.410,00 e para a ao Implantao de Assentamentos e

    Reassentamentos Rurais atendimento de necessidades bsicas, foram destinados

    1.530.000 milho de reais. Como veremos mais adiante, o PI era discutido pelos/as

    delegados/as e conselheiros/as do OP, junto com o governo.

  • 10

    Quadro 2: Prioridades eleitas a cada ano por regio nas ARTDs.

    Prioridades eleitas nas Assemblias Regionais Temticas de Desenvolvimento* PI 2001 PI 2002 PI 2003

    Regio** 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Serra Agricultura UERGS Transporte Educao Agricultura Transporte Agricultura Educao GTR

    Metr. Delta do Jacu GTR UERGS Transporte Educao MA - GUAS GTR AIS GTR EducaoVale Rio dos Sinos UERGS GTR GAUOS Educao GTR MA - GUS GTR MA - GUAS EducaoFronteira Noroeste Agricultura UERGS Transporte Agricultura Educao GTR Agricultura GTR AIS

    Produo Agricultura UERGS GTR Educao Agricultura GTR Agricultura GTR EducaoCampanha Agricultura UERGS GTR Educao GTR Agricultura GTR MA - GUAS AgriculturaNordeste Transporte Agricultura GTR Educao Agricultura GTR Agricultura GTR Educao

    Fronteira Oeste UERGS Transporte Agricultura Educao Transporte Agricultura Educao AIS GTR Central Agricultura GTR Transporte Educao Agricultura GTR GTR Agricultura Educao

    Sul Agricultura GTR Transporte Agricultura GTR Educao Agricultura GTR EducaoNorte Agricultura GTR Transporte Agricultura Educao GTR Agricultura GTR AIS

    Alto Jacu UERGS Agricultura GTR Educao Agricultura GTR GTR Educao AgriculturaMisses Agricultura UERGS GTR Agricultura Educao GTR Agricultura GTR Educao

    Hort. Plan. Araucrias Transporte UERGS Agricultura Educao Agricultura Transporte GTR Educao AIS Vale do Ca Transporte Agricultura UERGS Transporte Educao Agricultura Agricultura Educao GTR

    Vale do Taquari Agricultura Transporte GTR Agricultura Educao GTR Agricultura GTR EducaoNoroeste Colonial Agricultura UERGS GTR Agricultura Educao GTR Agricultura GTR Educao

    Centro Sul Agricultura GTR Transporte Educao Agricultura GTR GTR AgriculturaMA -

    GUAS

    Paranhana Enc. Serra Agricultura Transporte GTR GTR Educao MA - GUAS GTR AIS MA -

    GUAS Litoral Agricultura Transporte MA - GUAS Educao Agricultora GTR Agricultura MA - GUAS GTR

    Vale do Rio Pardo Agricultura GTR Transporte Educao Agricultura Transporte Agricultura Educao GTR Mdio Alto Uruguai Agricultura Transporte GTR Agricultura Educao GTR Agricultura GTR AIS

    * As ARTDs realizaram-se a partir do processo de 2000. ** Hierarquia das regies de acordo com o ndice de Desenvolvimento Scio-econmico (IDESE), elaborado pela Fundao de Estatstica do Rio Grande do Sul (FEE). Siglas: PI: Plano de Investimentos GTR: Gerao de Trabalho e Renda. UERGS: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. MA-GUAS: Meio-ambiente e Gesto Urbano-Ambiental e Saneamento. GAUOS: Gesto e Aes de Qualificao no Uso e Ocupao do Solo. AIS: Aes de Incluso Social.

    Passamos para a etapa municipal de escolha de demandas, a qual iniciava-se na

    segunda quinzena de maro estendendo-se at junho com a realizao das Assemblias

    Pblicas Municipais (APM) em cada um dos 497 municpios. Nos quatro anos de OP-RS,

    2.824 APMs foram realizadas.

    As prioridades discutidas nas APMs eram divididas em dez temas que se referiam a

    Servios e Obras:

    Agricultura.

  • 11

    Transporte e Circulao. Cultura. Educao. Assistncia Social e Promoo da Cidadania. Energia. Segurana. Gesto Ambiental e Saneamento. Sade. Habitao.

    Nesta etapa so eleitas trs prioridades temticas e uma demanda para cada uma

    delas. Aqui tambm so escolhidas trs prioridades entre os Programas da Temtica de

    Desenvolvimento Regional (um por tema). Os temas e programas prioritrios das regies e

    do estado respeitavam a soma da pontuao10 de todo este processo. Cabe destacar, que

    alguns temas tambm no foram eleitos nenhuma vez, so eles: Cultura, Assistncia Social

    e Promoo da Cidadania e Energia. A eleio dos/as delegados/as nas APMs obedecia ao

    mesmo critrio da fase anterior, qual seja, um para cada 20 pessoas presentes.

    Nesta fase, cada participante poderia apresentar demandas as quais, aps serem

    cadastradas, iam votao da plenria para a escolha de somente trs. Podemos considerar

    esta uma das diferenas do processo de participao e deciso formatadas pelo Oramento

    Participativo - RS: a colocao das demandas era feita pelos participantes da grande

    Plenria Municipal, diferentemente do processo municipal de Porto Alegre, no qual os/as

    delegados/as levantam e encaminham as demandas.

    Quadro 3: Prioridades estaduais por ano nas APMs.

    Prioridades eleitas nas APMs por ano 1 2 3 2000 Agricultura Educao Sade 2001 Educao Agricultura Transporte e Circulao 2002 Educao Sade Transporte e Circulao 2003 Educao Sade Transporte e Circulao

    Sigla: APM: Assemblia Pblica Municipal.

    Como podemos notar, a principal demanda em relao carncia de infra-estrutura

    dos municpios foi Educao. Esta outra diferena em relao ao processo vivido em 10 Pontuao: 1 lugar: 3 pontos; 2 lugar: 2 pontos; 3 lugar: 1 ponto. Vlida para ARTD e APM na eleio de temas, programas e demandas.

  • 12

    Porto Alegre, o qual, ao longo dos 16 anos, colocou Pavimentao e Habitao como

    prioridades. O tema Educao s apareceu entre as trs primeiras prioridades nos ltimos

    trs anos de OP.

    Ainda em relao aos quadros 1 e 2, podemos notar que a viso regional (expressa

    nas ARTDs) enfatizou o tema que tradicionalmente eleva o desenvolvimento do Rio

    Grande do Sul, a Agricultura. J do ponto de vista local (APMs), as comunidades

    privilegiaram suas carncias na rea da Educao e da Sade (vide quadros 3 e 4). Por

    outro lado, nas duas esferas os participantes colocaram Transporte e Circulao como uma

    das prioridades. Destacamos ainda a questo da Gerao de Trabalho e Renda como uma

    das polticas regionais vista como necessria ao desenvolvimento do estado.

    Quadro 4: Prioridades eleitas por regio e ano nas APMs.

    Prioridades eleitas nas Assemblias Pblicas Municipais por Regio PI 2000 PI 2001 PI 2002 PI 2003

    Regio* 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Serra Educao Agricultura Transporte Educao Transporte Agricultura Educao Transporte Agricultura Educao Transporte Segurana

    Metr. Delta do Jacu Educao Sade GTR Educao Sade Transporte Educao Habitao Segurana Educao Habitao Segurana

    Vale Rio dos Sinos Educao GTR Sade Educao Habitao Sade Educao Segurana Habitao Educao Segurana HabitaoFronteira Noroeste Agricultura Educao Sade Educao Agricultura Sade Educao Agricultura Sade Agricultura Educao Sade

    Produo Agricultura Educao Sade Educao Agricultura Sade Educao Segurana Sade Educao Sade AgriculturaCampanha GTR Educao Sade Educao Sade Transporte Educao Sade GAS Segurana Educao TransporteNordeste Agricultura Sade Transporte Transporte Educao Agricultura Educao Sade Transporte Sade Educao Agricultura

    Fronteira Oeste Educao Sade GTR Educao Transporte Habitao Educao Segurana Agricultura Educao Transporte SeguranaCentral Agricultura Segurana Habitao Educao Agricultura Transporte Educao Sade Segurana Educao Sade Segurana

    Sul Educao Sade Agricultura Educao Sade Agricultura Educao Agricultura Sade Educao Segurana Sade Norte Agricultura Sade Educao Educao Sade Agricultura Transporte Sade Educao Educao Transporte Sade

    Alto Jacu Agricultura Educao Sade Educao Sade Transporte Educao Transporte Sade Educao Sade TransporteMisses Agricultura Sade Educao Educao Agricultura Sade Educao Sade Agricultura Sade Educao Agricultura

    Hort. Plan. Araucrias Educao Transporte Sade Educao Sade Transporte Educao Segurana Transporte Educao Sade TransporteVale do Ca Agricultura Transporte Educao Educao Transporte Agricultura Transporte Educao Sade Educao Transporte Sade

    Vale do Taquari Agricultura Educao Sade Educao Transporte Agricultura Educao Transporte Agricultura Educao Agricultura TransporteNoroeste Colonial Agricultura Sade Educao Educao Sade Agricultura Agricultura Educao Sade Educao Agricultura Sade

    Centro Sul Agricultura Educao Transporte Educao Agricultura Transporte Educao Sade Segurana Educao Transporte GAS Paranhana Enc.

    Serra Educao Sade Transporte Educao Transporte Sade Educao Transporte Segurana Educao Transporte SeguranaLitoral Transporte Educao Sade Educao Agricultura Transporte Educao Transporte Sade Educao GAS Agricultura

    Vale do Rio Pardo Agricultura Sade Educao Educao Agricultura Transporte Educao Sade Transporte Educao Transporte Sade Mdio Alto Uruguai Agricultura Sade Educao Agricultura Educao Sade Sade Agricultura Educao Agricultura Sade Educao

    * Hierarquia das regies de acordo com o ndice de Desenvolvimento Scio-econmico (IDESE), elaborado pela Fundao de Estatstica do Rio Grande do Sul (FEE). Siglas: GTR: Gerao de Trabalho e Renda; GAS: Gesto Ambiental e Saneamento.

  • 13

    Quadro 5: Soma dos credenciados nas ARTDs e nas APMs por ano em relao populao e eleitores.

    Populao, Eleitores e Total de Credenciados por Regio Regio

    At 300.000 Habitantes Populao Eleitores Cr1999* Cr2000* Cr2001* Cr2002*Alto da Serra do Botucara** 115.734 4.459 12.016 16.727 14.173

    Hortnsias/Planalto das Araucrias 125.606 89.423 2.466 4.837 5.328 4.519 Vale do Ca 150.938 108.498 3.582 9.349 16.573 9.525Alto Jacu 162.368 139.259 4.546 8.952 15.524 10.138

    Mdio Alto Uruguai 183.927 142.288 14.586 14.492 17.333 16.363 Paranhana Encosta da Serra 187.751 122.168 4.352 3.634 6.343 6.352

    Nordeste 194.236 145.463 5.857 12.090 15.082 10.892 Campanha 215.353 153.480 3.398 4.875 10.901 7.503

    Norte 216.858 160.707 9.668 12.227 19.883 18.663 Fronteira Noroeste 229.115 173.500 10.250 11.144 12.761 12.819

    Centro Sul 230.289 184.355 3.690 7.978 11.912 12.819 Misses 243.931 187.095 11.243 12.821 14.521 15.439 Litoral 280.446 205.643 4.817 5.839 8.851 5.699

    De 300.001 at 600.000 Habitantes Vale do Taquari 288.223 244.540 12.631 14.585 16.985 12.325

    Noroeste Colonial 310.882 234.135 9.971 15.201 17.969 16.054 Vale do Rio Pardo 393.879 303.002 7.260 13.786 17.053 19.729

    Produo 425.722 328.014 13.905 15.272 23.587 19.540 Fronteira Oeste 553.488 377.404 6.738 15.133 23.272 20.805

    De 600.001 at 900.001 Habitantes Central 646.812 465.476 15.824 21.633 25.120 24.911 Serra 742.761 503.866 11.035 22.736 24.252 21.976 Sul 833.640 587.384 9.221 10.011 15.802 14.993

    Acima de 900.001 Habitantes Vale do Rio dos Sinos 1.194.234 780.186 10.080 18.622 21.553 22.603

    Metropolitano Delta do Jacu 2.261.605 1.487.748 9.129 14.693 21.978 19.508Totais 10.187.798 7.123.634 188.528 281.926 378.340 333.040

    Percentuais em relao ao n de Eleitores 2,64% 3,95% 5,31% 4,67% * Os dados se referem soma dos participantes nas ARTDs e nas APMs. ** No foi possvel obtermos a desagregao dos dados de eleitoras desta regio. Os dados de Credenciamento foram desagregados, tendo em vista que esta regio foi criada em 2002. Ao analisarmos o quadro 5, percebemos que todas as regies apresentaram um

    acrscimo de participao at o ano 2001. J em 2002 houve um declnio geral. Podemos

    considerar que este era um ano eleitoral, quando as disputas polticas se acirram em todos

    os recantos do estado e o OP-RS foi, ao longo dos quatro anos, muito pautado no debate

    poltico entre oposio e governo. Observamos, tambm, que a participao na regio

    Metropolitano - Delta do Jacu, que abrange cidades com experincias vigentes de

  • 14

    Oramento Participativo (Porto Alegre, Gravata Alvorada e Viamo), teve os ndices mais

    baixos. Em 2001, por exemplo, 1,47% dos eleitores11 compareceram s ARTDs e APMs. J

    a regio Mdio Alto Uruguai, a ltima colocada no Rio Grande do Sul na hierarquia

    estabelecida pelo IDESE e com somente um municpio dos trinta que a compe com

    experincia de participao popular, obteve um dos mais altos ndices em 2001 12,18% dos

    eleitores decidiram quais investimentos necessitavam.

    Quando as prioridades e o total de participantes j esto contabilizados pelo governo

    atravs do GRC, tem incio, entre os meses de julho e setembro, os Fruns Regionais de

    Delegados (FRD). Nestes fruns, os/as delegados/as (com mandato de um ano no

    remunerado) de todos os municpios da regio se reuniam em duas Plenrias Regionais para

    deliberarem sobre a elaborao do Plano de Investimentos do Estado. Na primeira rodada o

    governo entregava aos delegados todas as demandas priorizadas por cada municpio de sua

    regio e uma estimativa preliminar da receita e da despesa pblica. Com isto, iniciava-se o

    trabalho de compatibilizao e sistematizao das votaes das demandas com os

    diagnsticos de carncia, viabilidade tcnica e financeira apresentados pelas secretarias.

    Neste momento ainda ocorria a eleio dos/as conselheiros/as de cada regio.

    Este trabalho de sistematizao e compatibilizao era realizado atravs das

    Comisses Representativas dos Delegados (CRD), as quais funcionavam de acordo com

    cada regio. Por exemplo, a regio Metropolitano - Delta do Jacu, no ano de 2000,

    organizou duas CRDs: uma somente de Porto Alegre e outra que reunia os municpios da

    Regio Metropolitana de Porto Alegre. As CRDs se reuniam de acordo com a necessidade

    do trabalho de hierarquizao das demandas. O momento se caracterizava por intensa

    negociao entre delegados/as dos diversos municpios que compunham a regio e entre

    estes e os representantes do governo na busca de contemplar o maior nmero de demandas,

    respeitado a hierarquia e as carncias dos municpios.

    J na segunda rodada, era o momento de votao do Plano de Investimentos e

    Servios do Estado, construdo pelas CRDs e sistematizado pelo Gabinete de Oramento e

    Finanas (GOF).

    11 Esto sendo considerados os nmeros de credenciados e de eleitores.

  • 15

    Quadro 6: Total de delegados/as por regio e ndice de presena nos Fruns em 2001 e 2002.

    Total de Participao dos/as Delegados/as nas Rodadas do Frum* At 300.000 Habitantes 2001 1 Rodada*** 2002 1 Rodada 2 Rodada

    Alto da Serra do Botucara** 698 56% 60% Hortnsias/Planalto das Araucrias 265 50,6% 225 67% 51%

    Vale do Ca 744 74,6% 474 63% 37% Alto Jacu 946 66,4% 494 56% 42%

    Mdio Alto Uruguai 867 50,6% 802 43% 23% Paranhana Encosta da Serra 318 65,4% 318 70% 58%

    Nordeste 756 66% 546 58% 43% Campanha 520 56% 296 45% 36%

    Norte 993 74,5% 932 70% 50% Fronteira Noroeste 639 73,9% 637 71% 53%

    Centro Sul 595 68,4% 421 76% 40% Misses 718 76,5% 769 64% 60% Litoral 382 59,2% 260 62% 34%

    De 300.001 at 600.000 Habitantes Vale do Taquari 1.257 81,5% 610 77% 72%

    Noroeste Colonial 899 66% 790 62% 46% Vale do Rio Pardo 901 64,9% 986 79% 70%

    Produo 1.317 63,3% 905 54% 40% Fronteira Oeste 1.105 60,7% 937 55% 37%

    De 600.001 at 900.001 Habitantes Central 1.250 60,6% 1.203 55% 32% Serra 1.211 70,9% 1.074 63% 43% Sul 773 63,4% 724 56% 45%

    Acima de 900.001 Habitantes Vale do Rio dos Sinos 1.050 59,6% 1.104 61% 31%

    Metropolitano. Delta do Jacu 1.093 50,6% 939 54% 41% Total 18.599 65,7% 16.144 61% 45%

    * Os dados disponibilizados contemplavam somente os anos de 2001 e 2002. ** No foi possvel obtermos os dados de 2001 desta regio. *** Foram disponibilizados somente os dados da 1 Rodada. De acordo com o material distribudo na primeira Assemblia do OP-RS do ano, O

    processo em 2001: para elaborar o oramento estadual de 2002, Participar Construir,

    os/as delegados/as so o elo de ligao da comunidade com os conselheiros do OP-RS nas

    suas regies e com o Governo do Estado nos assuntos relativos ao Oramento Estadual,

    tanto na discusso e elaborao da Matriz Oramentria quanto no Plano de Investimentos

    e Servios e a sua execuo. So os delegados que mantm a participao popular de

    forma permanente na gesto estadual... (p.8). O quadro 6 procura demonstrar como foi a

  • 16

    permanncia dos/as delegados/as nos fruns do OP-RS, tendo como exemplo o ano de

    2001. Estes dados podem indicar como o papel atribudo a estes representantes foi vivido

    pelos mesmos. O total de delegados/as eleitos nos quatro anos foi de 56.295.

    J o quadro abaixo nos informa como se deu a participao dos/as delegados/as de

    acordo com o sexo no ano de 2001. Podemos observar que em todas as regies os homens

    foram maioria, sendo que na regio Litoral foram 73,4% de homens e somente 26,6% de

    mulheres.

    Quadro 7: Delegados/as por gnero em 2001.

    Participao por Gnero entre os/as Delegados/as em 2001 At 300.000 Habitantes 2001 Feminino Masculino

    Alto da Serra do Botucara* Hortnsias/Planalto das Araucrias 265 35,1% 64,9%

    Vale do Ca 744 37,7% 62,3% Alto Jacu 946 40,5% 59,5%

    Mdio Alto Uruguai 867 25,4% 74,6% Paranhana Encosta da Serra 318 24,4% 75,6%

    Nordeste 756 36,3% 63,7% Campanha 520 39,4% 60,6%

    Norte 993 32,3% 67,7% Fronteira Noroeste 639 35,6% 64,4%

    Centro Sul 595 35,5% 64,5% Misses 718 37,8% 62,2% Litoral 382 26,6% 73,4%

    De 300.001 at 600.000 Habitantes Vale do Taquari 1.257 31,7% 68,3%

    Noroeste Colonial 899 33,9% 66,1% Vale do Rio Pardo 901 39,6% 60,4%

    Produo 1.317 32,5% 67,5% Fronteira Oeste 1.105 45,6% 54,4%

    De 600.001 at 900.001 Habitantes Central 1.250 38% 62% Serra 1.211 36,6% 63,4% Sul 773 36,3% 63,7%

    Acima de 900.001 Habitantes Vale do Rio dos Sinos 1.050 39% 61%

    Metropolitano Delta do Jacu 1.093 43,1% 56,9% Total 18.599 36,3% 63,7%

    * No disponibilizamos os dados desta regio em 2001. O sexo foi mensurado a partir dos dados do credenciamento nas Assemblias.

  • 17

    Passamos a descrever a ...instncia mxima de deciso do Oramento

    Participativo-RS... (p.10), o Conselho Estadual do Oramento Participativo (COP). O

    trabalho dos/as conselheiros/as iniciava em julho, composto por um total de 204 membros

    distribudos da seguinte forma: 138 conselheiros/as eleitos/as pelas 22 regies, sendo 69 de

    acordo com a populao da mesma e 69 proporcional participao nas Assemblias; 22

    eleitos entre os/as delegados/as da Assemblia Regional de Desenvolvimento Temtico (um

    para cada regio); 44 indicados/as pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (dois

    por regio). O Governo Estadual tambm tinha participao direta no COP-RS, com dois

    representantes Gabinete de Oramento e Finanas (GOF) e Gabinete de Relaes

    Comunitrias (GRC) sem direito a voto.

    A competncia do Conselho era discutir e deliberar o Plano de Investimentos e

    Servios e a Proposta Oramentria. Para isso, os/as conselheiros/as tm mandato de um

    ano, realizando trabalho no remunerado. Segundo o material do OP-RS, citado

    anteriormente, cada conselheiro representa as decises da participao popular de toda sua

    regio e, coletivamente, o Conselho constri as propostas que so de interesse de todo o

    Estado. Alm de acompanhar todas as etapas de discusso na elaborao da Matriz

    Oramentria do Estado, desempenham importante papel na reproduo das informaes

    aos delegados de sua regio e para a populao que representam (p.10).

    Nesta esfera, a relao entre representantes da sociedade e o governo se estreitava.

    Um momento significativo era a posse do Conselho, pois era realizada no Palcio Piratini,

    com a presena do Governador do Estado e de vrios secretrios/as. Havia, tambm, um

    momento inicial de formao sobre questes legais e tcnicas da elaborao do oramento.

  • 18

    Quadro 8: Conselheiros/as por gnero em 2001.

    Participao por Gnero entre os/as Conselheiros/as* em 2001 At 300.000 Habitantes Feminino Masculino

    Alto da Serra do Botucara** Hortnsias/Planalto das Araucrias 16,7% 83,3%

    Vale do Ca 45,5% 54,5% Alto Jacu 11,8% 88,2%

    Mdio Alto Uruguai 0 100% Paranhana Encosta da Serra 25% 75%

    Nordeste 14,3% 85,7% Campanha 41,7% 58,3%

    Norte 11,8% 88,2% Fronteira Noroeste 16,7% 83,3%

    Centro Sul 0 100% Misses 28,6% 71,4% Litoral 8,3% 91,7%

    De 300.001 at 600.000 Habitantes Vale do Taquari 30% 70%

    Noroeste Colonial 0 100% Vale do Rio Pardo 7,7% 92,3%

    Produo 9,1% 90,9% Fronteira Oeste 10% 90%

    De 600.001 at 900.001 Habitantes Central 4,8% 95,2% Serra 19% 81% Sul 45,5% 54,5%

    Acima de 900.001 Habitantes Vale do Rio dos Sinos 26,1% 73,9%

    Metropolitano Delta do Jacu 20% 80% Total 16,8% 83,2%

    * Esto sendo considerados os conselheiros/as titulares e suplentes de acordo com os dados cadastrados pelo Governo do Estado. ** No disponibilizamos os dados desta regio em 2001.

    Afinar o olhar para as relaes de gnero no Conselho do OP-RS de 2001 nos ajuda

    a perceber o quanto a poltica ainda um campo dominado pelos homens, pelo menos em

    relao representatividade. Ao compararmos com o processo do OP de Porto Alegre,

    reafirmamos este fato. O Cidade publica a cada dois anos uma pesquisa que informa o

    perfil do pblico do OP deste municpio, no qual constatamos que nos ltimos anos as

    mulheres so a maioria nas Assemblias Regionais, como dirigentes de Associao de

    Moradores e delegadas, porm no Conselho do OP a instncia mxima da participao

    so minoria, no chegando em 2003 a 40%. Na experincia estadual de Oramento

  • 19

    Participativo, esta relao parece ser ainda mais perversa, mesmo que consideremos a

    esfera de participao direta e decisria das Assemblias Municipais e Temticas de

    fundamental importncia.

  • 20

    Consideraes e problematizaes O que podemos identificar como inovao ou contribuio na experincia de gesto

    pblica que teve como princpio e mtodo incluir os cidados e cidads na vida poltica do

    Rio Grande do Sul, atravs do Oramento Participativo?

    A inovao mais importante nos parece ser o fato do processo ter ocorrido na

    dimenso estadual. O Rio Grande Sul tem 497 municpios cuja extenso territorial total

    de 282 mil quilmetros e uma populao de mais de 10 milhes de habitantes. Seu

    oramento geral incluindo gastos fixos com pessoal, pagamento da dvida, entre outros

    girava em torno de 12 bilhes de reais no perodo analisado.

    Outro fator importante, que poderia dificultar a introduo desse processo, a

    diversificao cultural e poltica do Rio Grande do Sul. No campo poltico, nos

    caracterizamos por uma forte polarizao entre dois projetos para o desenvolvimento do

    estado. No final dos 1990 esta diviso foi acentuada, pois o projeto neoliberal perdeu a

    representao do poder executivo no RS. O projeto vencedor das eleies de 1998

    propunha, por exemplo, a renegociao da dvida estadual atravs da retomada do pacto

    federativo, o fomento aos pequenos e mdios empresrios e produtores rurais locais e a

    participao direta dos cidados e cidads como forma de gesto do Estado.

    Um dado interessante que na gesto municipal de 1997-2000, o Rio Grande do Sul

    tinha 21 municpios (3,51%) vivendo a experincia de Oramento Participativo (14 com

    populao at 20 mil), o que representava 20% das experincias do OP no Brasil. Neste

    perodo (1997-2000) foram ao todo 103 cidades com OP12 no pas.

    Diante deste quadro, elaboramos alguns questionamentos que ainda precisam ser

    trabalhados: Qual o perfil econmico e poltico dos municpios que mais participaram do

    OP-RS? Quais foram os maiores beneficiados com esta experincia que tinha como

    premissa e objetivo a inverso de prioridades? Por que o Oramento Participativo no teve

    continuidade com a eleio do governo do PMDB em 2002? Qual foi o resultado

    organizativo do processo em relao sociedade civil, ou seja, em que grau o OP alimentou

    a autonomia dos movimentos populares que respaldaram a sua eleio e que participaram

    do processo? A perda das eleies estaduais de 2002 deixou claro que no houve

    12 GRAZIA e RIBEIRO (orgs). Experincias de Oramento Participativo no Brasil. Frum Nacional de Participao Popular. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

  • 21

    possibilidade de sustentao autnoma do processo por parte dos setores que passaram a

    decidir o destino das verbas pblicas. A impresso que fica a de que o governo, visto

    como condutor de um projeto de sociedade, deu pouca ateno constituio de instncias

    autnomas de participao, tomando para si a maior parte do trabalho de sustentao da

    participao dos setores populares no organizados.

    Estes so algumas problematizaes possveis sobre o tema. Contudo, o importante

    que esta experincia aponta para possibilidades de implementao de processos efetivos

    de participao popular na esfera governamental em nvel nacional. O debate sobre a

    necessidade de democratizar o oramento federal j est colocado e um primeiro esboo foi

    dado com a discusso em torno do Plano Plurianual 2004-2007, realizado em todo o Brasil

    em 2003. No entanto, a experincia de elaborar o oramento com a participao

    deliberativa dos cidados e cidads o prximo passo a construirmos.

  • 22

    Anexo

    As 23 Regies do Estado no Oramento Participativo-RS (dados de 2002)

    Alto Jacu 15 municpios da regio: Alto Alegre, Boa Vista do Cadeado, Boa Vista do Incra, Colorado, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, Ibirub, Lagoa dos Trs Cantos, No-Me-Toque, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacu, Santa Brbara do Sul, Selbach e Tapera. Alto da Serra do Botucara 17 municpios da regio: Arvorezinha, Barros Cassal, Campos Borges, Espumoso, Fontoura Xavier, Gramado Xavier, Ibirapuit, Itapuca, Jacuizinho, Lagoo, Mormao, Nicolau Vergueiro, Putinga, So Jos do Herval, Soledade, Tio Hugo e Victor Graeff. Campanha 7 municpios da regio: Acegu, Bag, Caapava do Sul, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra e Lavras do Sul. Central 35 municpios da regio: Agudo, Cacequi, Cachoeira do Sul, Capo do Cip, Cerro Branco, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Formigueiro, Itaara, Ivor, Jaguari, Jari, Jlio de Castilhos, Mata, Nova Esperana do Sul, Nova Palma, Novo Cabrais, Paraso do Sul, Pinhal Grande, Quevedos, Restinga Seca, Santa Maria, Santiago, So Francisco de Assis, So Joo do Polesine, So Martinho da Serra, So Pedro do Sul, So Sep, So Vicente do Sul, Silveira Martins, Toropi, Tupanciret, Unistalda e Vila Nova do Sul. Centro Sul 16 municpios da regio: Arambar, Arroio dos Ratos, Baro do Triunfo, Barra do Ribeiro, Buti, Camaqu, Cerro Grande do Sul, Charqueadas, Chuvisca, Dom Feliciano, Mariana Pimentel, Minas do Leo, So Jernimo, Sentinela do Sul, Serto Santana e Tapes. Fronteira Noroeste 22 municpios da regio: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buric, Campina das Misses, Cndido Godoi, Doutor Maurcio Cardoso, Giru, Horizontina, Independncia, Nova Candelria, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mau, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, So Jos do Inhacor, So Paulo das Misses, Senador Salgado Filho, Trs de Maio, Tucunduva e Tuparendi. Fronteira Oeste 13 municpios da regio: Alegrete, Barra do Quara, Itacurubi, Itaqui, Maambar, Manoel Viana, Quara, Rosrio do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana do Livramento, So Borja, So Gabriel e Uruguaiana.

  • 23

    Hortnsias /Planalto das Araucrias 8 municpios da regio: Bom Jesus, Cambar do Sul, Canela, Gramado, Jaquirana, Nova Petrpolis, So Francisco de Paula e So Jos dos Ausentes. Litoral 22 municpios da regio: Arroio do Sal, Balnerio Pinhal, Capo da Canoa, Capivari do Sul, Caraa, Cidreira, Dom Pedro de Alcntara, Imb, Itati, Mampituba, Maquin, Morrinhos do Sul, Mostardas, Osrio, Palmares do Sul, Santo Antnio da Patrulha, Terra de Areia, Torres, Tramanda, Trs Cachoeiras, Trs Forquilhas e Xangri-l. Mdio Alto Uruguai 30 municpios da regio: Alpestre, Ametista do Sul, Boa Vista das Misses, Caiara, Cerro Grande, Cristal do Sul, Dois Irmos das Misses, Engenho Velho, Erval Seco, Frederico Westphalen, Gramado dos Loureiros, Ira, Jaboticaba, Lajeado do Bugre, Liberato Salzano, Nonoai, Novo Tiradentes, Palmitinho, Pinhal, Pinheirinho do Vale, Planalto, Rio dos ndios, Rodeio Bonito, Sagrada Famlia, Seberi, Taquarau do Sul, Trs Palmeiras, Trindade do Sul, Vicente Dutra e Vista Alegre. Metropolitano/ Delta Do Jacu 9 municpios da regio: Alvorada, Cachoeirinha, Eldorado do Sul, Glorinha, Gravata, Guaba, Porto Alegre, Triunfo e Viamo. Misses 23 municpios da regio: Bossoroca, Caibat, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijus, Eugnio de Castro, Garruchos, Guarani das Misses, Mato Queimado, Pirap, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzales, Salvador das Misses, Santo ngelo, Santo Antnio das Misses, So Luiz Gonzaga, So Miguel das Misses, So Nicolau, So Pedro do Buti, Sete de Setembro, Ubiretama e Vitria das Misses. Nordeste 25 municpios da regio: gua Santa, Andr da Rocha, Barraco, Cacique Doble, Capo Bonito do Sul, Caseiros, Esmeralda, Ibia, Ibiraiaras, Lagoa Vermelha, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capes, Paim Filho, Pinhal da Serra, Sananduva, Santa Ceclia do Sul, Santo Expedito do Sul, So Joo da Urtiga, So Jos do Ouro, Tapejara, Tupanci do Sul, Vacaria e Vila Lngaro. Noroeste Colonial 32 municpios da regio: Ajuricaba, Augusto Pestana, Barra do Guarita, Bom Progresso, Braga, Campo Novo, Catupe, Chiapeta, Condor, Coronel Barros, Coronel Bicaco, Crissiumal, Derrubadas,

  • 24

    Doutor Bozano, Esperana do Sul, Humait, Iju, Inhacor, Jia, Miragua, Nova Ramada, Panambi, Pejuara, Redentora, Santo Augusto, So Martinho, So Valrio do Sul, Sede Nova, Tenente Portela, Tiradentes do Sul, Trs Passos e Vista Gacha. Norte 31 municpios da regio: Aratiba, urea, Baro do Cotegipe, Barra do Rio Azul, Benjamin Constant do Sul, Campinas do Sul, Carlos Gomes, Centenrio, Charrua, Cruzaltense, Entre Rios do Sul, Erebango, Erechim, Erval Grande, Estao, Faxinalzinho, Floriano Peixoto, Gaurama, Getlio Vargas, Ipiranga do Sul, Itatiba do Sul, Jacutinga, Marcelino Ramos, Mariano Moro, Paulo Bento, Ponte Preta, Quatro Irmos, So Valentim, Severiano de Almeida, Trs Arroios e Viadutos. Paranhana/Enconsta Da Serra 11 municpios da regio: Igrejinha, Lindolfo Collor, Morro Reuter, Parob, Picada Caf, Presidente Lucena, Riozinho, Rolante, Santa Maria do Herval, Taquara e Trs Coroas. Produo 34 municpios da regio: Almirante Tamandar do Sul, Barra Funda, Camargo, Carazinho, Casca, Chapada, Ciraco, Constantina, Coqueiros do Sul, Coxilha, David Canabarro, Ernestina, Gentil, Marau, Mato Castelhano, Muliterno, Nova Alvorada, Nova Boa Vista, Novo Barreiro, Novo Xingu, Palmeira das Misses, Passo Fundo, Ponto, Ronda Alta, Rondinha, Santo Antnio do Palma, Santo Antnio do Planalto, So Domingos do Sul, So Jos das Misses, So Pedro das Misses, Sarandi, Serto, Vanini e Vila Maria Serra 34 municpios da regio: Antnio Prado, Bento Gonalves, Boa Vista do Sul, Campestre da Serra, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Coronel Pilar, Cotipor, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guabiju, Guapor, Ip, Montauri, Monte Belo do Sul, Nova Ara, Nova Bassano, Nova Pdua, Nova Prata, Nova Roma do Sul, Para, Pinto Bandeira, Protsio Alves, Santa Tereza, So Jorge, So Marcos, So Valentim do Sul, Serafina Correa, Unio da Serra, Veranpolis, Vila Flores e Vista Alegre do Prata. Sul 23 municpios da regio: Amaral Ferrador, Arroio Grande, Arroio do Padre, Cangu, Capo do Leo, Cerrito, Chu, Cristal, Herval, Jaguaro, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osrio, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio Grande, Santa Vitria do Palmar, Santana da Boa Vista, So Jos do Norte, So Loureno do Sul, Tavares e Turu.

  • 25

    Vale Do Ca 19 municpios da regio: Alto Feliz, Baro, Bom Princpio, Brochier, Capela de Santana, Feliz, Harmonia, Linha Nova, Marat, Montenegro, Pareci Novo, Salvador do Sul, So Jos do Hortnsio, So Jos do Sul, So Pedro da Serra, So Sebastio do Ca, So Vendelino, Tupandi e Vale Real. Vale do Rio Pardo 22 municpios da regio: Arroio do Tigre, Boqueiro do Leo, Candelria, Encruzilhada do Sul, Estrela Velha, General Cmara, Herveiras, Ibarama, Lagoa Bonita do Sul, Pantano Grande, Passa Sete, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Segredo, Sinimbu, Sobradinho, Tunas, Vale do Sol, Vale Verde, Venncio Aires e Vera Cruz. Vale dos Sinos 14 municpios da regio: Araric, Campo Bom, Canoas, Dois Irmos, Estncia Velha, Esteio, Ivoti, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Porto, So Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul. Vale do Taquari 35 municpios da regio: Anta Gorda, Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul, Canudos do Vale, Capito, Colinas, Coqueiro Baixo, Cruzeiro do Sul, Dois Lajeados, Doutor Ricardo, Encantado, Estrela, Fazenda Vila Nova, Forquetinha, Ilpolis, Imigrante, Lajeado, Marques de Souza, Mato Leito, Muum, Nova Brscia, Paverama, Poo das Antas, Pouso Novo, Progresso, Relvado, Roca Sales, Santa Clara do Sul, Srio, Taba, Taquari, Teutnia, Travesseiro, Westflia e Vespasiano Correa.