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/3 ORAGÃO EM ACÇÃO DE GRAi;AS_ PELA PRESER V AÇÃO DA VIDA DO ILLUSTRISSIMO. E EXCELLENTISSliHO SENHOR MARQUEZ DE P01\IBAL PRIMEIRO MINISTRO DE ESTADO, . E GABINETE DE SUA MAGESTADE FIDELISSIMA, &c. &c. &c. , . Por JOSE DA SIL VA FREIRE i CONl!.GO DA DA BARIA. E NATU:i'A"L" DA MESMA CIDADE. " LI8'BOA NA REGIA OFFICINA TYPOGRA ANN o MDCCLXXVI. / -

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ORAGÃOEM

ACÇÃO DE GRAi;AS_PELA

PRESER VAÇÃO DA VIDADO ILLUSTRISSIMO. E EXCELLENTISSliHO

SENHOR

MARQUEZ DE P01\IBALPRIMEIRO MINISTRO DE ESTADO, .

E GABINETEDE SUA MAGESTADE FIDELISSIMA,

&c. &c. &c., .

Por JOSE DA SIL VA FREIRE iCONl!.GO DA sé DA BARIA. E NATU:i'A"L"

DA MESMA CIDADE.

" LI8'BOANA REGIA OFFICINA TYPOGRA

A N N o MDCCLXXVI.

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ORAGÃOEM

ACÇÃO DE GRAÇASPELA

PRESER V AÇÃO DA VIDAno ILLUSTRISSIMO, E EXCELLENTISSIMO

1\IARQUEZ DE POMBALPRIMEIRO MINISTRO DE ESTADO,

E GABINETEDE SUA MAGESTADE FIDELISSlMA,

&c. &c. &c.

~L I S B O ANA REGIA üFF.ICINA TYPOGRAFT:A.

A N N o MDCCLXXVI.

Com Licençll ela Real Mw' CçnJorin!

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J

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N o ·T I C I A. ?'~

C Hegando á Cidade da Bahia a no­. ticia da confpiraçâo maquinada con­tra a importantiffima Vida do IlIufiriffi­mo, e Excellentiffimo MARQUEZ DE POM­BAL, Primeiro Miniíl:ro de ERado, ~ Ga­binete; e affim mermo do feliz' fucceffo ,com que a Providencia o prefervou embeneficio defie R.eino; immediatamentedando o exemplo o Illllíl:riffimo, e Excel­lelltiffimo Governador, e Capitâo Gene­ral, e o ExcelIentiffimo, e Reverendiffi­mo Arcebifpo Metropolitano, concorrê­ram as Communidades Religiofas, a Me­za da Infpecç~o, a Cara da Moeda, daAlfandega, e todas as mais Corporaçóesdaquella antiga Capital da América, re­conhecida a tantos effeitos de Protecçâo ,com que o incomparavel MINISTRO tempromovido a felicidade daquelJe Conti­nente, e [eus Naturaes, particularmentepela faudavel Lei de IS de Julho de1775 ; concorrêl'am com o Inaior fervora offerecer feus Votos, e Acçóes d'-. Gra-

* ii ças

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, , \

~~s ao Supremo Senhor das vidas pelaconCervação daquelIa , de quem dependea [arte do Efiado, e dos particulares:fendo hum JaqueIles , em quem concor­ria efre duplice fentimento o Provedoraélual da Cara da Mi[ericordia Frutluo-"fo Vicente Vianna: o qual, além do TeDeum, que fez canta,r o Corpo do Com';mercio, de que o ditG> he hum dos prin­cipaes Membros naquelIa Praça, cele­brou mais outro a ruas expenras na Igre­ja da referida Cara , onde pronunciou a[egu!nte Oração hum dos Membros doCabido.

Bea-

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. 1:36

~~~~~~~~

Beati, qui audiunt verbum Dei, & cu.f. todiunt illtJd. Luc. I I.

~"1~",-, NEFFAVEL he a Bondade do Se-I ~~\~~ ~~~~~ 1 1 di ~~l~~ 'i~~~~~, I n 10r com o 10mem , quan o ouve~\~,~ t$~~~~~ •

.~~~~~~ ~~~~~~. a rua Palavra , e ob[erva os [eusI ~~~~~ ~~~~~, (I ~~~~~~ ~~~~,' (P . E' r.I ~~~~%§... ~~~~~~ , receltos. nnqllece-o com a HUi.•,~"<::;. ~'''~ I

- - . . ... .. Graça, honra-o com a rua Amiza-de, e premeia-o com a Bemaventnqmça. Efte he'o e[pirito daquellas expre[sões, com qne Chriftocon[olou a MarceJIa, que acc1amava por bem­aventurado o Ventre pnriffimo de b'Iaria Santif­fima fila Mãi; e na rua peífoa confolou igual­mente a todos os Juftos.

Mas como a Bemaventural}ça no [entidodos Theologos póde [er completa , ou imperfei­ta ; póde pertencer ao Ceo, e á Terra; lá,quando o homem já livre dos perigos do Mun­do tem toda a fa"tisfaçâo na vifta do Senhor;cá, qnando cercado de males he protegido pelo

.[eu invifivel Braço; qual deitas [erá a que hojepromette ·Chriito aos que obfervarem a rua Lei?Ambas, Senhores : a do Ceo, como premio, ecoroa ; a· da Terra , corno providencia, e auxi­lio. Affim declarou o me[rno Deos em outra oe".cafião ao feu Povo , quando lhe propoz 'ás ven-

* ill ta·

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..c o R A ç Ã O

tagens da [na Lei. Se obfer'Vardes, lhes dizia, osmeus Preceitos, os 'VojJos inimz'gos nlio terlio for­fa para 'Vos offender , eu os farei cahir aos 'VojJospés. Ah! como vemos h~je fatisfeita e:fl:a premef­fa do Senhor em hum HERDE, que tendo porobjetlo da fua gloriofa carreira a exatla obier­vancia da Lei de Deos, e do Principe, he inva­dido, e tentado pela malicia de fcus inimigos:mas ao mefmo tempo he protegido pelo poderinvifiv~l do Altiilimo. A fua Providencia foi, aque defarmon toda efta máquina: eUa foi, que oprefervoncom o feu auxilio: eUa, a que proftrotlo author delta maldade, dando áqnelle HERDE.

as demonltrações mais Ievídentes do feu amor,e a Portugal as da fua protecçâo. Agradeçamospois a Deos o relevante beneficio, que recebe­mos na confervaçáo de huma Vida tão preciofa,e importante, como a do Illultriffimo, e Excel­lentiilimo MARQUEZ DE POMBAL, Primeiro lVlinif­tro de Eftado, e Gabinete de Sua Mageftade Fi~

de1iffima, e infigne Bemfeitor de ~oda a Monar­quia Lufitana. Agradeçamos com maior fervornós, fe1ices Americanos, que na. confervaçâo daVida delte HERDE vemos confervado o Authordos noifos progreifos, das no1fas e[peranças, danoifa regeneração. E ao mefino tempo contêife­mos, que toda e1ta protecção mefeceo elle comas fn-as virtudes, virtudes agradaveis ao eeo,gloriofi\s á Terra, profperas. ao REY, ventajo­fas. ao Reino. Qgeira o Efpirito Divino, que he.: .

E[-

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/:J7E M A c ç À o DE G R AC; AS. ,

Efpirito de força, e de verdade, p&r na minhaboca expre[sões fortes, e dignas da relevantemateria, em qúe devo difcorrcr. Affim o efperopela intercefsao da Santiffima Virgem, que ve­neramos neife Altar.

Ave Maria.

A Prefervaçao de qualquer perigo, ou mal,he fem dúvida effeito da Piedade Divina;

mas em finitos póde tambem ter parte a induf­tria do homem. P6de, fe for fabio, vencer amoleftia com o antídoto da Medicina: fe for po­d€roío, com as ruas forças , e dos fens alliadosderrotar as do feu contrario: e fe finalmente foropulento , poderá com os [eus Thefouros preca...ver-fe contra as miferias, que coftumam fegllira indigencia, e o defamparo. Mas o d610, a ci..Iada, o artificio, que contra a finceridade dohomem maquína a malicia - de outro , he hummal tão invencível, que contra eHe não p6deprevalecer o poder, e conCelho do homem, fe aProvidencia do Senhor, que guarda os Bons, nãoas defarma, para que [e lhes dê em tempo oremedio, e a feus allthores o merecido caftigo.Onde em todos os perigos, de que nos livra­mos, devemos agradecú ~ Deos as mercês .quenos faz: com efpecialidade porém o devemos fa- ~

zer, quando nos póe a falvo daquellas fr&udes,que fó elle as p6de conhecer, e defviar. Efta -re­gra geral, com que a Sabedoria, -e Omnipotea-

* iv cia

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8 ORAÇAO'

cia do Senhor affifrc aos Juftos, he mais vj{iveI,e mais particular a refpeitq daquelles, a qnemconfia o governo dos Póvos , e comml111ica paraeffe fim as luzes da [ua Sabedoria, e as forçasdo [eu poder. .

Eleva-os ailima dos antros homens, collo­ca-os em hum lugar mais fnblime, entrega·lh sa e[pada da fLIa ]nftiça para foccorro dos Bons,e para terror dos máos, e dá-lhes com a autho­ridade do lngar a fegnrança da peffoa. Mas emtodos eífes reparos, que Dcos põe aos Princi­pes, e aos [cus Minifrros, acha a impiedade dosmáos melhor occaíião de empregar a fua mali­cia; c corre maior perigo a [egnrança dos mef-.mos, que deviam eftar cubertos, e defendidosde todo o rirco. Como os não podem atacar ácara dercuberta, recorrem ao execrando meio dasciladas, e traições tanto mais arrifcadas, quantohe mais pública a peífoa, e mais fublime a Di-:­gnidade. A confiança, que fazem daqnelles, queos cércam; a facilidade com que ouvem ao gran­de, e ao pequeno; e finalmente as inevitaveisoccaúões , ·que tem de fe moftrarem ao público,em tempo, e horas determinadas; são antrostantos meios, de que elles [e valem para con[urn­mar as fuas deteftaveis emprezas. Mas oh Pro­videncia particular do Altiilimo! quê os deixapara rua connlsão ,. e caftigo emprehender , masnão confummar os [eus attentados , como diz omais Sabia de todos os Reys. Os [eus authores

aca-

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/J.fE M A c ç Ao D E G R A0ç A S. 9

acabaráó como hum vento forte, (rue dura pou­co; e o ]ufto permanecerá como hnma colllmnaeterna, E nao he ifto, Senhores, o que de pre­reme experimenton Portugal, e nós l1a poncoouvimos? Aqnelle HOMEM, que o Senhor efco­lheo p,1ra noifa felicidade, que encheo das luzesda [na Sabedoria, e commnnicoll pelas mãos dehum Sabia, e Al1gufto Soberal1o as forças do[eu poder: aqueUe, a quem co11ocou em humlngar fnperior aos ontros, como immediato aoPrincipe; a quem com a authoridade do lugarunio a fegllrança da peifoa; aquelle finalmente,que fervindo de amparar aos Bons, he terror dosmáos: efte mefmo, que com a fua face bafta parainfundir refpeito , e fazer defmaiar aos [eus ini­migos; efte he bufcado, e invadido pela abomi­nave! malícia o de hum infame aifacino : daquellesmonftros, que não [e podendo encontrar entre afiel Nação Portl1gueza , fó fe podia achar porcabalas , e artificios entre a gente e.fl:ranha. Heefcl1fado referir : Vós, Senhores, bem o fabeis,que fllbornado pela iniquidade, poffuido da am­bição, e animado da impiedade, e[colheo paraexecutar o [eu deteftave1 projeélo os meios maisoccultos, e inacceiliveis a toda a prudencia hu­mana. Poz os olhos no fauftiffimo dia do Nafci­mento de Sua Mageftade , dia o mais plaufivel,que vio Portugal; dia, em que a Corte queriamo.fl:~ar ao Theatro do Mundo, que o AuguftoJOSE PRIMEIRO merecia aos [eus Vaifallos

h11-

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, .Ia O R A G Ã b

htima memoria eterna na Eftatna , que detefmi.:.nava lcvantar-l~e. A hora, em que o noífo ill­comparavcl MINISTRO devia fazer-fe público, eracerta , e não menos lhe pareceo certo o Coche,em que devia tranfponar-fe: e tudo ifto lhe fub­rniniftrou as medidas mais conducentes ao feuideado artificio em hunia máquina de fogo arti­ficial, efcondida no mcfmo Coche para rebentara feu tempo, e involver na ruina de huma fóvida ~ perda, e a confternação de toda a M9­narqt1la.

Perdoai-me, Senhores ~ a demora , que fizna relação de hum faRo tão horrorofo, e defa­gradavel; mas eita pintura foi necdfaria para vosfazer ver o particular cuidado, com que a Pro­videncia do Senhor prefervou a jmportante Vidado feu Jufto, e do noifo Excellentiffimo Bemfei-

....tor. Por maior qne feja a rua perfpicacia , foi·'maior amalícia do feu aggreífor. Efcolheo in­ftrumentos os mais eifeétivos, e os mais prom­ptos, que pndeífem confummar o incendio nome[mo ponto que o ateaife: determinou dar ogolpe fatal com a me[ma mão, que fe não via,e fe não podia conhecer: tomou as precauçóesincomprehenfiveis de fe poder inulluar fem fuf­peita, entrar, e fahir fem receio. Em fim, tudoeftava difpofto com tal arte, que fó o juizo deDeos, que o permittia para caftigo da malicia,e· demonftração da [na Mifericordia, o podia

.defcllbrir, e frnfrrar. Elle foi, que invifivelmentemo-

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/:3qE M Ac GAo DE G R A "e; A S. I J

moveo a mão do Réo para barcar o lenço; eIleo cegou para não ver lhe cahia o ercrito, emque eftava epilogado o plano da confpiraç1ío; eeIle o que ultimamente defarm'6u toda aqueUa~raição. Alegremo~nos pois com a noifa felicida­de ; pois vemos , que o Réo de tão abominavelmaldade não poderá emprehender outra: que fo­bre eIle cahio a ruina, que meditava caufar-nos;e ql~e as fuas cinzas as diffipou o vento para nãohaver delle a menor lembrança. Alegremo-nos,que oJufto MINISTRO, o Amado do Senhor, ficoufalvo; e fe Deos, como efperamos, ouvir os nof­[os votos, ferá ainda muito mais perduravel afua Vida para columna de Portuga1. Agradeça..,mos finalmente a Deos tão incomparave1 benefi.­cio, conhecendo que neHe não podia ter partea fabedoria, o poder, e confelho dos homens.Eu me explico. Não teve ne1le parte o confelhodos homens para conhecer o perigo, e para oevitar; mas concorrêram muito para i1fo as Vir­tudes , que o Excellentiffimo MARQUEZ praticoufempre, e com que mereceo que o eeo aben­çoe as filas Obras, e proteja a fila Vida.

Todos fabem, que as obras virtuofas, alémde merecerem, para quem as exercita , a gloriado eeo, lhe alcançam na Terra huma particularaiIiftencia do Senhor pq.ra a confecução do bem,e prefervação do mal. Affim como na ordem daNatureza ha huma ferie de canfas, que attra­hem, e levam corn~go as outras i tambem na;

or-

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11, ORi'çÃo

ordem da Graça ha hmna [erie de beneficias doSenha!', que huns tiram por antros. EIle he oque dá o poder da virtude; e ao me[mo paífoque nos excita, 'e move a obrar bem, nos pre­meia cífes me[mos [erviços com huma nova, eparticular ailiftellcia. A força do feu braço he ef­pecialmellte promettida pelo Profeta, a quemneHe eCpera , a quem o bufca , e quem o ferve.A efte acompanha na tribulação, e o livra demodo, que manda aos Anjos, que o guardem,e [uftentem nas mãos, (ufemos das expre[sõesda E[critura) para que poffa paífear fobre as [er­pentes, e bafili[cos , e pizar os leões , e· ontrosmonftros ferozes até con[ummar a [na· carreiracheia de annos, e de gloria. Já [abeis o que.quero dizer. Se efte grande, e virtuofo HERDE

não tiveffc coHocado toda a [na efpenmça no po­.der do Altiilil11o, que humilde reçonhece, cert~­

mente não teri.a vencido com huma incrivel con[­tancia tantos, e tão perigofos obftaculos. Era.precifa toda efta c[perança , e humildade, paraque Deos lhe fubn)iniftraífe todas aquellas virtu­des) gqe fazem feliz o [eu Minifterio. Nâo fallodaquellas virtudes, que fendo em fi [alHas , [ópodem fer uteis aos que as praticam. Falla da­'IueHas, que [antificam hum homem Religiofo,e Politico, que. Deos e[colhe para repre[entar.11elle a imagem do [eu Poder, c Sabedoria, epara o fazer intercifante ao Monarca , e á Pa­Jria.

Se

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/.4/JE M A c GÀ o DE G R A,c; AS. 13

Se eu ql1ize!fe offerecer-lhe algnns grãosdaquelle incenfo, que fómente fe deve a Deos,millnraria a verdade com a adulação, e iriabnfcar para o feu elogio aguelles Heroes, que aGentilidade fuperlliciora rerpeita, como Deo[cs,pelas virtudes fingidas, que neHes defcubriam.Mas eu falIa na face daquelle Altar, e na pre-.fença do verdadeiro Deos, que fó ama a verda­de, não a lifonja. Deixemos pois a fllperlliçãocom os fens Heroes , e bl1fquemos na E[critnraSanta aquelles Varões , que o Efpirito Divinocanonizou por Santos , e ao me[mo tempo uteisao Público. En vejo a Jofé no Egypto fervir deprimeiro Minillro ao lado de hum Grande Rey,acndir ao Povo com prompto remedio na fome,fubminiftrando-lhe a abundancia com a jllftiça;mas lá o vejo igualmente fentido de não poderfazer erres ferviços á fua Patria, vivendo emhum Paiz eftranho, donde por ultimo ordena felevem os fel1s o!fos , para ferem fepllltados naPatria , que ama, e não póde ajudar. Vejo aNehemias ter a fatisfação de voltar de Babylo­nia para a Paleftina, onde nafcêra, e nella aolado do Príncipe Zorobabel fazer-lhe tão relevan­tes ferviços, como o de regular o Commerciodos .feus Cidadãos, purgando-o das 11[11ras, efraudes, que commettiam, e ter a gloria de ree­dificar as praças, os eciificios, e os muros deJe­rufalem arruinada; mas lá acaba os [cus diasfem ter o goito de ver completa a obra dos

aql1e-

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14 O R A' G Ã O .

aquednélos, de que tanto neceffitava o [eu Povo.Vejo finalmente a Simão, :6.1ho de Onias, intro­duzir hum mar de aguas na Cidade, e concluir

. efta obra tão defejada ; mas [e teve eita gloria,faltou-lhe' a de emprehender as ontras, que jáachou confllmmadas. Porém o HEROE , de quefa11o, em fi reunia todas eftas virtudes ·politicas.

Se, como Jofê , he [empre fiel a feu Se~

nhor ; fe cuida com di[velo no bem público dosVaffaHos, moitrando-Ihes abertos os ceUeiros , echeios os armazens do neceifario provimento 'pa­ra a vida; [e caftiga os máos, e remunera osBons, não faz tudo ifro nas .Cortes eftranhas,onde deixou com a veneraçao, que tem, memo­ria perpétua dos [cus talentos. Na naifa Corte,na [ua Patria, e ao lado do [eu REY natural fefaz amar, e refpeitar. Elle, como outro Nehe­111 ias, dá as mais faudayeis regras para o Com­mercio , extirpa~ as°ufuras, e faz renafcer oqtravez Lisboa das cinzas, em que eitava [epllltada ,com edificios , com praças , <com palacios , quesão a admiração de toda a Europa; mas não .lhet~'llta, como áqnelle, a fatisfaçâo de ver a multi­dão de aqlleduQ:os, de fontes, de chafarizes,que f<lz correr pelas ruas de toda aquella Capi­tal. Eu aqni derermillav-a pôr fim ao meu difcur­[o; mas faltaria ao que devo, fe paífaffe em fi­lencio o [eu amor ás Letras, ás Sciencias, ás Ar­tes. Elle excedco nefta parte a Azarias, Miniftrode Salomão, para fundar a Cafa da Sabedoria,

e as

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fi!E M A c C; Ao D E G R À ç A S. I)

e as fete Efcolas de ]erufalem; porque delle po­demos dizer não fó que fundou huma nova Uni­verfidade, dando novo fer, e alma á de Coim­bra; mas por todo o Reino, e fuas Conqniftaserige Efcolas, efcolhe Profeífores , dota a todosde rendas, e beneficias ,. e fobre tudo () RegiaTribunal da Meza Cenforia compofto dos maisdiftinél:os, e illuminados Efpiritos do Eftado. Ef­tas, Senhores, e outras muitas, que a brevidadedo tempo me não permitte refe';r, foram as vir­tudes , com qne e1te Eximia MINISTRO attrahiopara fi o agrado do Senhor, e mereceo a fnaOmnipotente Prorecção. Por e1tas o abençoou oeeo, e por eftas a defendea daquella horrivelconfpiração.

Eftas meúnas virtudes foram, as que il1l1mi­náram a grande mente do naIfa HEROE a favorda Humanidade, e o condl1zÍram a deitar feusolhos benignos p~ra a naIfa Parria efquecidn,diffllndindo fobre nós-antros Americanos as luzesda fua vafta ,_ e delicada Doutrina , e os effeitospreciofos da fua particular beneficencia : fazen­do-nos debaixo dos feus anfpicios refpirar humavida mais goftofa, e feliz: e, mediante a fnavirtuafa influencia junto do Throno do Soberano,fazendo-nos ter parte nas Dignidades mais fa­gradas, nas Magiftraturas mais refpeitaveis, nosEmpregos mais confpicuos, nas Cadeiras mais lu­minoras, e, por dizer de huma vez , em todasas graças, e mercês, que a Clemencia do gene-

ro-

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16 ORAÇAO EM AcçXo DE GRAGAS.

rofo Monarca, que o Ceo con[erva, difpenfa.magnificamente a todos os [eus dignos, e fieisVaíTallos.

Qye refta pois, fenão que unamos as no[­fas fúpplicas, c os DoIras votos ás fuas Virtudes.Roguemos ao Senhor Todo Poderofo conferve a,fna precio[a Vida, para gloria fua, e noifa feli­cidade. Recorramos tambem a MARIA Santiffima ,que nefta Cafa da Mifericordia veneramos: pe­çamos fe lembr .daquelle HERDE, que não fópratíca com os pobres os effeitos mais fortes dafua caridade, fenão que e[pecialmente empregacom as Cafas dedicadas para os atíos de MiÜ~­

ricordia; pois por fi, e pelo Excellentiffimo CON­DE DE ÜEYRAS feu Filho, as tem honrado, e fer'"'vido. Verifique-fe l1elle, e em toda a fila precla­ra Pofteridade , aquella benção do Ecclefiaftico:Eftes são os homens cheios de mifericordia, cu­jas piedades nunca faltáram: por iffo hão de per­manecer nelles as felicidades, por ferem feus fi­lhos, e netos huma Cafa verdadeiramente fan­ta: Ri viri miJericordite jimt, quorum pietatesn01 defuertmt: CWI'll, ftmine eorum permanent bo­na, htereditas jà11{fa 1zepotes eorum.

Diff'e.