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Page 1: Opinião - agencia.ecclesia.pt fileA canonização de Madre Teresa de Calcutá é o reconhecimento oficial, por parte da Igreja, de uma certeza que desde cedo se implantou no coração
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04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião LOC/MTC22 - Semana de.. Lígia Silveira24 - Dossier Madre Teresa, santa

38 - Entrevista60 - Agenda62 - Por estes dias64 - Programação Religiosa65 - Minuto Positivo66 - Liturgia68 - Jubileu da Misericórdia70 - Fundação AIS72 - LusoFonias

Foto da capa: DRFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Igreja pedecumprimento dalei no IMI[ver+]

Alertas para oaquecimentoglobal[ver+]

Santa Teresa, deCalcutá e domundo[ver+]

Eugénio Fonseca | LOC/MTCOctávio Carmo

Manuel Barbosa | Paulo AidoTony Neves

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Despertar consciências

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

A canonização de Madre Teresa de Calcutá é oreconhecimento oficial, por parte da Igreja, deuma certeza que desde cedo se implantou nocoração de milhões de pessoas que viam nelauma santa. A religiosa foi uma das figuras maisconhecidas e respeitadas do século XX - foivencedora do Prémio Nobel da Paz, por exemplo-, pelo que o processo que agora chega ao fimserá uma referência futura para todos os quequeiram olhar com detalhe para o percurso devida e de fé da “santa dos pobres”, como poderiaser chamada.A decisão do Papa Francisco chega em plenoJubileu da Misericórdia e, de certa forma, coroaeste ano santo extraordinário, apresentando aomundo um modelo concreto dessa misericórdiaque deve marcar o agir dos cristãos para darautenticidade à sua fé. Mais gestos, menospalavras. Mais ação, menos teoria. Mais amor,menos considerações abstratas. O caminho paraa evangelização parece muito mais claro e maissimples olhando para o exemplo da futura santa.Surpreendeu muita gente que este caminho desantidade, como é reconhecido pela IgrejaCatólica, não tenha ficado isento de sofrimentoespiritual. Também nesta experiência de “noiteescura”, tão comum a tantas grandes figuras dahistória do Cristianismo, Madre Teresa soubeassociar-se aos outros pobres, aos que duvidam,aos que não acreditam.

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A todos eles, a todos nós, MadreTeresa apresenta respostasfundamentais para as perguntasmais persistentes da humanidade:onde está Deus quando o mundosofre? Onde está Deus quando Eusofro? Está ali, a sofrer com todos,a sofrer ao meu lado. Ali onde aspalavras não chegam e só amorfala.

Quase 20 anos depois da suamorte, Teresa de Calcutá já não éum ‘ícone pop’ da culturacontemporânea - felizmente. Deu-nos tempo para respirar fundo eolhar para ela no que de maisimportante tinha: a santidade. Que asua canonização ajude, de novo, adespertar consciências.

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Presidente da República recebeu Delegação Paralímpicana véspera da partida para os Jogos Paralímpicos Rio 2016

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“Quando surge alguma questão, é resolvidasegundo a lei e segundo os acordos, semdramatismo.” Presidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, D. Manuel Clemente,em declarações sobre a isenção do ImpostoMunicipal sobre Imóveis (IMI) por parte daIgreja Católica. (01 setembro 2016) “Legislar menos, mas legislar melhor.Com mais ponderação da necessidade,melhor articulação, mais clareza”,defendeu a ministra da Justiça,Francisca Van Dunem, na abertura doano judicial de 2016, no SupremoTribunal de Justiça em Lisboa. (01setembro 2016) “O Governo português vem reiterar a suavontade de continuar a aprofundar asrelações bilaterais de excelência que ligamPortugal e o Brasil, alicerçadas num elo únicoe fraterno entre os dois povos”. Ministro dosNegócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva,em comunicado pela “tomada de posse doPresidente Michel Temer”. (01 setembro2016) "Convosco estarão milhões e milhões deportugueses. Todos os votos defelicidades é o que vos formulo, commuita, muita amizade, em nome dePortugal.” Presidente da República,Marcelo Rebelo de Sousa na receção aoComité Paralímpico de Portugal e aDelegação Paralímpica. 37 atletasportugueses, de sete modalidades, vãoaos Jogos Paralímpicos Rio 2016 noBrasil. (31 ago 2016)

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IMI: Igreja pede cumprimento da Lei

Os responsáveis pela áreaeconómica das dioceses católicasem Portugal pediram ao Executivoque respeite as normas daConcordata em matéria de cobrançade impostos, “em conformidade coma Lei e o Direito”.A posição é assumida numa nota

informativa divulgada no final de umencontro que reuniu esta segunda-feira, em Fátima, os vigários-gerais e ecónomos de váriasdioceses.A Igreja Católica afirma não querer“qualquer privilégio” em matéria deimpostos, depois de váriasparóquias

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terem sido notificadas para pagarImposto Municipal sobre Imóveis(IMI) do qual entendem estarisentas, ao abrigo da Concordata de2004, assinada entre a RepúblicaPortuguesa e a Santa Sé.A nota, a que a Agência ECCLESIAteve acesso, sublinha que a reuniãoem Fátima decorreu “num espíritode entendimento comum” para quesejam respeitadas as “normas legaisem matéria de aplicação de IMI”,tendo em conta “a natureza daspessoas jurídicas religiosas” e “osfins da Igreja Católica”.Os responsáveis deixam votos deque o Estado Português trate “todasas instituições em conformidadecom a Lei e o Direito”, referindo queas instituições da Igreja“continuarão a fazer o mesmo”.O artigo 26.º da Concordata precisaque “estão isentas de qualquerimposto ou contribuição geral,regional ou local os lugares de cultoou outros prédios ou parte delesdiretamente destinados à realizaçãode fins religiosos”.O texto do acordo foi depoisreforçado em 2005, por uma circulardo diretor-geral da Direção-Geraldos Impostos, Paulo Moita deMacedo.

Segundo esta circular (10/2005), consideram-se integrados naisenção de IMI as residências doseclesiásticos, os imóveis afetos alares de estudantes, a casas deexercícios espirituais e a formaçãode religiosos, e os imóveispertencentes a pessoas jurídicascanónicas e cedidos gratuitamente ainstituições particulares desolidariedade social ou aestabelecimentos de ensino.O ponto 5 do número 26 daConcordata precisa que as pessoasjurídicas canónicas quedesenvolvam atividades com finsdiversos dos religiosos, “assimconsiderados pelo direito português,como, entre outros, os desolidariedade social, de educação ecultura, além dos comerciais elucrativos”, ficam sujeitas ao regimefiscal aplicável à respetiva atividade.O Ministério das Finanças emitiuesta semana um esclarecimento, emnota enviada à comunicação social,referindo que as disposições arespeito do IMI, à luz da Concordata,“não sofreram recentementequalquer alteração”.

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Incêndios agravaram pobreza eisolamentoAs dioceses do território continentalmais atingidas pelos incêndios desteverão, como Aveiro, Porto, Guarda,Viana do Castelo e Viseu, tememagora um cenário de maiorisolamento e pobreza daspopulações. O presidente daCáritas de Aveiro, o diácono JoséAlves, sublinhou à AgênciaECCLESIA que “o levantamentoainda está a ser feito no terreno”mas destaca os danos materiais “emcasas, armazéns e estaleiros, e a“grande extensão de área florestalardida”, sobretudo nas “zonas deÁgueda e Anadia”.Na Diocese do Porto, Arouca foi oponto mais complicado do mapa deincêndios, com as chamas aconsumirem 58 por cento da florestado município.Segundo Daniela Guimarães,técnica coordenadora da Cáritas doPorto, neste momento “as situaçõesestão a ser resolvidas a nível local”,mas tanto a diocese, por intermédiodo seu bispo, D. António Franciscodos Santos, como a própria Cáritasjá manifestaram toda adisponibilidade para ajudar, “casohaja necessidade”.Em Viseu, nomeadamente em SãoPedro do Sul, várias comunidadesforam também tocadas pelacalamidade. O padre Adelino Piresacompanha diversas comunidades

espalhadas pela Serra de SãoMacário: “Os pinhais eram um modode vida, de sobrevivência, de muitasdestas pessoas, que consoante anecessidade iam também vendendopinheiros que davam algum dinheiropara as suas necessidades”.Em Viana, segundo o padre ArturCoutinho, do setor da pastoral sociale caritativa, as zonas maisfustigadas foram Arcos de Valdevez,Vila Nova de Cerveira, Caminha,Ponte de Lima e Melgaço. “Casasparcialmente ardidas foram várias”,assim como “terrenos, bolsas decultivo e de pasto”, o que “veioaumentar” a necessidade daspessoas, sobretudo as “que vivemnas serras”, realça o sacerdote.A Caritas Portuguesa tem uma contabancária solidária de “Ajuda asVítimas dos Incêndios em Portugal",com o IBAN - PT50 0035 0697 00597240130 28.

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De Taizé para Torres VedrasVieram da Alemanha e daEslováquia para formarem umacomunidade provisória de Taizé emTorres Vedras: a Agência ECCLESIAacompanhou o dia de Rebecca,Sarah e Denisa, que rezaram,cantaram e levaram alegria aosidosos da região. “Levo tanto daqui,que não sei contabilizar. As pessoasaqui são tão abertas e recebem-nosde uma forma tão bonita, é algo queeu vou levar comigo para casa”,realça Sarah Sarraccenia, umajovem de 23 anos, natural deMunique.O projeto em Torres Vedrasdecorreu durante quatro semanas eesta quinta-feira foi o último dia dastrês jovens na região. Ascomunidades provisórias de Taizésão projetos que desafiam os maisnovos a experimentarem emconjunto, e durante algumassemanas, o modo de vida propostopelo irmão Roger, fundador daComunidade Ecuménica de Taizé,em França.Enviados para diversos países eregiões, eles dão testemunho doespírito de partilha e comunhãofraterna que carateriza aComunidade, ao mesmo tempo quepromovem atividades nas paróquiasde acolhimento, como voluntários.“Vivi e aprendi aqui muitas coisasespeciais. Por exemplo, a aceitar

o amor das pessoas, a ser pacientee agradecida por tudo o que tenho”,refere Denisa Chudiaková, quechegou a Portugal proveniente daEslováquia. A jovem de 24 anos,que vai ser responsável pelapreparação do próximo encontroeuropeu de Taizé, no mês dedezembro em Riga, na Letónia,destaca a oportunidade de “partilharcom outras pessoas aquilo queaprendeu”.“E o que Taizé nos ensina é queviver a vida com Deus é espantosoe tu tens de experimentar também”,salienta Denisa.“O que eu levo para casa é que nãoprecisamos de ser super-heróispara mudar o mundo. E trabalharcom os mais velhos, com ascrianças, foi muito belo. Eles abriramo seu coração, acolheram-nos, foicomo se estivéssemos em casa”,recorda Rebecca Rinas.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Incêndios: 300 pessoas desalojadas no Funchal já têm habitação provisória

Lugares Sagrados de Portugal

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Francisco reforça alertas paraconsequências do aquecimentoglobal

O Papa Francisco reforçou os seusalertas em relação àsconsequências do aquecimentoglobal e das mudanças climáticas,numa mensagem publicada porocasião do Dia Mundial de Oraçãopelo Cuidado da Criação, iniciativaecuménica

que se celebra anualmente a 1 desetembro.“O planeta continua a aquecer, emparte devido à atividade humana: oano de 2015 foi o ano mais quentede que há registo e, provavelmente,o ano de 2016 sê-lo-á ainda mais.Isto

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provoca secura, inundações,incêndios e acontecimentosmeteorológicos extremos cada vezmais graves”, refere o texto.Francisco liga as mudançasclimáticas à “dolorosa crise dosmigrantes forçados” e à pobrezaglobal. “Os pobres do mundo,embora sejam os menosresponsáveis pelas mudançasclimáticas, são os mais vulneráveise já sofrem os seus efeitos”,sustenta o pontífice argentino.O Papa convida todos os cristãos,bem como crentes de outrasreligiões e pessoas de “boavontade” a unir esforços para nãoficar “indiferentes perante a perdada biodiversidade e a destruiçãodos ecossistemas”, muitas vezesprovocadas por “comportamentosirresponsáveis e egoístas”.A mensagem pelo Dia Mundial deOração pelo Cuidado da Criaçãosaúda a dimensão ecuménica dajornada, com a participação daIgreja Ortodoxa, onde começou, ede outras Igrejas e Comunidadescristãs.“É muito encorajador que apreocupação com o futuro do nossoplaneta seja partilhada pelas Igrejase comunidades cristãs em conjunto

com outras religiões”, refereFrancisco.O texto elogia depois as iniciativasque promovem a “justiça ambiental,a solicitude pelos pobres e o serviçoresponsável à sociedade”, emdiferentes contextos religiosos esociais. “Cristão ou não, pessoas defé e de boa vontade, devemos estarunidos manifestando misericórdiapara com a nossa casa comum – aterra – e valorizar plenamente omundo em que vivemos como lugarde partilha e comunhão”, defende oPapa.Retomando o que escreveu na suaencíclica ‘Laudato si’, Francisco falanuma “ecologia integral” em quetodos os seres humanos estão“profundamente ligados entre si” ecom a natureza.A mensagem deixa críticas à“mentalidade de curto prazo” napolítica e na economia, marcadaspela “busca de imediato benefíciofinanceiro ou eleitoral”.Francisco elogia o Acordo de Parissobre as mudanças climáticas,obtido em dezembro de 2015, eespera agora que os governossaibam “respeitar os compromissosque assumiram”.

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«Não-violência», caminho políticopara a solução de conflitosO Papa Francisco escolheu o tema‘A não-violência: estilo de umapolítica para a Paz’ como título dasua mensagem para o 50° DiaMundial da Paz, que se vai celebrara 1 de janeiro de 2017, anunciou oVaticano. “O Santo Padre desejaindicar um passo seguinte, umcaminho de esperança apropriadoàs circunstâncias históricaspresentes: chegar à solução dascontrovérsias através dasnegociações, evitando que elasdegenerem em conflito armado”,assinala a sala de imprensa daSanta Sé, em comunicado.O texto adianta que o pontíficeargentino quer mostrar a suapreocupação com a “difusão dosfocos de violência” que gera“experiências sociais gravíssimas enegativas”.A Santa Sé realça que a expressão“não-violência” pode assumir “umsignificado mais amplo e novo”.“Não apenas aspiração, inspiração,rejeição moral à violência, àsbarreiras, aos impulsosdestruidores, mas também métodopolítico realista, aberto àesperança”, pode ler-se.Recordando aquilo a que o Papachama “III Guerra Mundial aosbocados”, a nota oficial refere que“a violência e a paz estão na origemde

dois modos opostos de construir asociedade”. “A paz temconsequências sociais positivas epermite um verdadeiro progresso.Devemos, portanto, agir nosespaços possíveis, negociandocaminhos de paz, até mesmo ondetais caminhos parecem tortuosos ouimpraticáveis”.A mensagem de Francisco vaipropor “um método político fundadona primazia do direito”. “A ‘não-violência’, entendida como métodopolítico, pode constituir um meiorealista para superar os conflitosarmados”, sustenta o Vaticano.O Papa recorda ainda anecessidade de respeito pelacultura e a identidade dos povos,convidando a “reconhecer aprimazia da diplomacia diante doestrondo das armas”.

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Cúria Romana com nova estruturapara o desenvolvimento humanointegralO Papa Francisco anunciou acriação de uma nova estrutura naCúria Romana, dedicada ao“desenvolvimento humano integral”,que vai integrar quatro conselhospontifícios existentes até agora, apartir de 1 de janeiro de 2017. Oorganismo tem uma secção para ostemas ligados aos refugiados emigrantes, "colocadatemporariamente sob orientação" dopróprio Papa.O “Dicastério para o Serviço doDesenvolvimento Humano Integral”vai ser presidido pelo cardeal PeterTurkson, natural do Gana, atualpresidente do Conselho PontifícioJustiça e Paz (CPJP). Além do CPJP,a nova estrutura integrada nosorganismos de governo central daIgreja Católica, no Vaticano, vaiassimilar os conselhos pontifícios‘Cor Unum’ (área da açãocaritativa), Pastoral da Saúde eMigrantes/Itinerantes.O ‘Motu Proprio’ (decreto pessoaldo Papa) que institui o dicastério foipublicado hoje na sala de imprensada Santa Sé, juntamente com oestatuto do novo organismo.Os documentos foram aprovados

por Francisco a 17 de agosto,acolhendo a proposta do Conselhode Cardeais, com elementos doscinco continentes, que aconselha oPapa na renovação da CúriaRomana. “Em todo o seu ser e agir,a Igreja está chamada a promover odesenvolvimento integral do homemà luz do Evangelho”, escreve opontífice argentino.O Papa sublinha no decreto deconstituição do dicastério que estedesenvolvimento tem lugar“mediante o cuidado dos bensincomensuráveis da justiça, da paz eda proteção da criação”.A nova estrutura, acrescenta, visa“atender melhor às exigências doshomens e mulheres” a que a Igrejaestá chamada a servir.

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Macau: Reitor da Universidade de São José vê sinais de abertura de Pequim

Itália: Papa revela intenção de visitar vítimas do sismo

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Dignidade do trabalhador

LOC/MTC Movimento de trabalhadores Cristãos

No dia 14 de Setembro de 1981 o Papa JoãoPaulo II assinava em Castel Gandolfo a Encíclica«Laborem Exercens» sobre o trabalho humano.Nesse documento o Papa aborda diversos temascom destaque para o conflito entre trabalho ecapital, os direitos dos homens no trabalho e aespiritualidade do trabalho. Muito do que seafirma nesta encíclica é da tradição cristãplasmada na nossa cultura ocidental e muitoparticularmente no direito do trabalho dos paísesdemocráticos, bem como na carta da 0IT! Nela sediz que o trabalho é um bem do homem. «E nãoé só um bem «útil» ou de que se pode usufruir,mas é um bem «digno», ou seja, quecorresponde à dignidade do homem, um bemque exprime e aumenta esta dignidade.Querendo determinar melhor o sentido ético dotrabalho, é indispensável ter diante dos olhosantes de mais nada esta verdade. O Trabalho éum bem do homem-é um bem da suahumanidade-porque mediante o trabalho, ohomem não somente transforma a natureza,adaptando-a às suas próprias necessidades masrealiza-se também a si mesmo como homem eaté em certo sentido, se «torna mais homem».Muito se falou sobre esta encíclica e oscontributos que a mesma dá para a luta pelotrabalho digno em todo o mundo! A evolução nomundo do trabalho foi de tal ordem que há quemdiga que este documento quase parece ummanifesto radical! De facto é efetivamenteradical! Há trinta e cinco anos ainda se estava noinício dessa mudança que pouco a pouco foidestruindo o emprego estável e

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com direitos. Mudança facilitada, éverdade, pelo extraordinário avançodas tecnologias e pela supremaciado capitalismo financeiro e bolsistaque exige precariedade eflexibilidade máxima, bem como arápida acumulação da riqueza. Opróprio direito do trabalho sofre umaerosão tremenda prevendo alguns oseu desaparecimento a prazo. Oobjetivo do mundo dos negócios étornar o contrato de trabalho igual aum contrato comercial o que, naprática, acabariam os direitos dotrabalhador, como parteobjetivamente mais fraca!Toda a conceção dos modernosgestores, alguns educados nasuniversidades católicas, vai nosentido de coisificar o trabalhador,tornando-o uma mercadoria! Talfilosofia gestionária contraria osentido mais profundo da dignidadedo trabalhador enquanto pessoacom direitos mesmo antes denascer!Ao relermos esta encíclicaconstatamos que a Europa e oocidente em geral, não tem pelafrente apenas o terrorismo e asmudanças climáticas com astragédias pavorosas inerentes.Temos também os constantesatentados á dignidade do homem e,em particular, do homemtrabalhador.

Hoje, mais do que nunca, sãoválidos e pertinentes os conselhosda «Laborem Exercens» quando diz:«Para se realizar a justiça social nasdiversas partes do mundo, nosvários países e nas relações entreeles, é preciso que existam semprenovos movimentos de solidariedadedos trabalhadores e com ostrabalhadores. Tal solidariedadedeverá fazer sentir a sua presençaonde a exijam a degradação socialdo homem-sujeito do trabalho, aexploração dos trabalhadores e aszonas crescentes de miséria e defome….» Ou seja, mais do quenunca são necessários os sindicatose outras organizações detrabalhadores para se defender adignidade do trabalhador!

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Recomeçar

Lígia Silveira Agência ECCLESIA

Sempre olhei para setembro como o início doano. Mais do que a mudança no calendário entredezembro e janeiro, propícia para balanços eprojetos, este mês nove reveste-se depossibilidades.Para muitos será um mês de depressão: acabamas férias, os dias distendidos na praia até ao pôr-do-sol, a roupa leve, a temperatura semprequente, os dias livres para programas a escolher,os petiscos a fazer esquecer as restrições. O fimdo verão.Para mim, as próximas horas guardam aindaesplanadas com conversas para aproveitarporque o espírito continua a pedir a liberdadedas ruas. Os dias ainda parecem longos: depoisdo trabalho, a luz da tarde convida a esticar asvontades. Os fins de semana ganham o sabor deférias, com programas, passeios e combinações.Em setembro nascem cores quentes nas ruascom temperaturas amenas. Os campos vestem-se de tons que convocam a nossa presença. Ovento de fim de tarde chama ao conforto eproteção de um agasalho que sabe bem na pelebronzeada. A terra chama à recolha dos frutosque cresceram no calor e chegam para inebriaros cinco sentidos.Mais nova era com entusiasmo que organizava omaterial escolar - antigo ou por estrear, abria aprimeira página em branco dos cadernos,cheirava o novo dos livros, ansiava porreencontros da primeira semana de aulas, paracontar ou ouvir. Ainda hoje me deixo entusiasmarpelas cores que apelam aos mais pequenos a umtempo novo, a um convite para crescer.

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Este é também um tempo paraconjugar verbos: projetar, sonhar,decidir, agir, escolher, começar,romper, desistir, conhecer,inaugurar, apresentar, pedir,agradecer, aplicar, sugerir, escutar,olhar, contemplar, compreender,cuidar, experimentar, reconhecer,confirmar, entrar, subir, largar,insistir, restaurar, inovar, apostar,confiar, libertar, responsabilizar,assumir, marcar, provocar, reunir.

São verbos que articulam decisõese gestos. Serão sempre conjugadosa partir de uma vontade pessoal demais e melhor, bem como doencarar este tempo como o pórticopara oportunidades de vida.Não se recusam as passas e oespumante a 31 de dezembro. Masabraçam-se hoje, com espíritorenovado que as pausasdistendidas propiciam, atitudesempreendedoras que renovem econtagiem pessoas, experiências e(re) encontros.

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Madre Teresa de Calcutá

O Papa Francisco vai presidir este domingo à canonização de MadreTeresa de Calcutá, a partir das 10h30 de Roma (menos uma em

Lisboa), na Praça de São Pedro. Um momento muito aguardado eque o pontífice colocou simbolicamente ligado ao Jubileu dos

Voluntários e Trabalhadores da Misericórdia, no ano santoextraordinário.

Em dezembro de 2015 foi anunciado que o Papa tinha aprovadoum milagre atribuído à intercessão da Beata Teresa de Calcutá,

vencedora do Prémio Nobel da Paz em 1979.

A religiosa faleceu a 5 de setembro de 1997, na casa geral dacongregação que fundou, em Calcutá, aos 87 anos de idade. Foi

beatificada por João Paulo II a 19 de outubro de 2003, depois de oPapa polaco ter

autorizado que o processo decorresse sem esperar pelos cinco anosapós a morte exigidos pela lei canónica.

A canonização, ato reservado ao Papa desde o século XIII, é a

confirmação, por parte da Igreja Católica, que um fiel católico é dignode culto público universal (os beatos têm culto local) e de ser

apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.

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Ganxhe Bojaxhiu, Santa Teresa deCalcutá

Em Skopje, capital da Macedónia,pequena cidade com cerca de vintemil habitantes, nasceu, a 26 deagosto de 1910, Ganxhe Bojaxhiu. Asua família era católica e pertenciaà minoria albanesa que vivia no Sulda antiga Jugoslávia. Um dia após oseu nascimento, Ganxhe recebeu oBaptismo e a sua educação tevelugar numa escola estatal duranteos tristes anos da Primeira GuerraMundial.

Com um timbre de voz muito suave eharmonioso, a pequena Ganxhetornou-se solista do coro da igrejada sua aldeia e, mais tarde, chegoua dirigir esse mesmo coro paroquial.Em 1912, quando Ganxhe tinhaapenas dois anos, Skopje libertou-se do domínio turco e conseguiu asua independência. Tornou-se acapital da República albanesa daMacedónia. Poucos anos depois,caiu sob o

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poder sucessivo da Sérvia, Grécia eBulgária.Na célula familiar, e devido ao fervorreligioso de sua mãe, Drana, amenina começou a dar sinais devocação religiosa. Tinha na altura12 anos. Ganxhe Bojaxhiu e seusdois irmãos mais velhos - Age eLázaro - mantinham uma relaçãoagradável. Lázaro, que morreu em1981, chegou a relatar que naquelafamília “nada faltava porque o paitinha um negócio de materiais deconstrução, em sociedade com umitaliano, e possuía duas casas comjardim”.Com a morte do pai surgiramdificuldades financeiras, mas areligiosidade naquelafamíliaintensificou-se. Nas idas deDrana e seus filhos ao Santuário

da Virgem de Letnice, a mais novada prole – a futura Teresa - gostavade ficar sozinha durante os ofíciosreligiosos. O mesmo acontecia nasvisitas diárias à Igreja da Paróquiado Sagrado Coração. “Ganxhepermanecia horas em silêncio” –relatou a mãe.Para além desta vivência espiritual,o Pe. Frnajo Jambrekovic descobriuque Ganxhe gostava muito de ler osrelatos dos missionários. Leitoraassídua deste género literário-religioso, a jovem «perdia horas» abeber as crónicas que os jesuítasde Skopje enviavam sobre o seutrabalho missionário na Índia. “Nãotinha completado ainda 12 anos,quando senti o desejo de sermissionária" - contou, mais tarde,Madre Teresa.

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Vocação precoceAinda criança, Ganxhe entrou paraa Congregação Mariana das Filhasde Maria que tinha uma filial na suaparóquia. Os mais pobres da regiãorecorriam à Igreja para diminuíremas suas carências. Ganxhe sentia asua vocação a crescer ao assistir aesta atividade de assistência aosmais carecidos. “Aos pés da Virgemde Letnice escutei um dia ochamamento que me apelava aservir Deus" - disse, posteriormente,Madre Teresa e, confessou ainda,que descobriu a intensidade dochamamento “com uma grandealegria interior”. Quando completou18 anos, o apelo à vida religiosatornou-se irresistível para a jovem e,a 25 de dezembro de 1928, partiude Skopje rumo a Rathfarnham, naIrlanda, onde se situa a Casa Geraldo Instituto da Beata Virgem Maria.Ganxhe tinha como ideal sermissionária na Índia e um sacerdotejesuíta contribuiu para esta doaçãoaos mais pobres devido àinformação de que, na Índia, asfreiras dessa congregação faziamum «excelente» trabalho.Depois de uma longa viagem, afutura religiosa chegou à casa dasIrmãs

de Nossa Senhora do Loreto. Aestadia em Rathfarnham foi umporto intercalar já que embarcourumo a Bengala. Durante a primeirasemana esteve em Calcutá e daíviajou até Dajeerling, ao seminárioda Congregação fundada pelamissionária Mary Ward. Escolheu o nome deTeresaFeitos os estudos e chegada a horade professar os votos temporáriosde Pobreza, Castidade e Obediência– 24 de maio de 1931 – Ganxheescolheu o nome de Teresa. Deacordo com as constituições daCongregação do Loreto deviamudar de nome. “Escolhi chamar-meTeresa” - contou anos depois,devido à figura inspiradora de SantaTeresa D’Ávila. No entanto “não foipela grande Teresa que escolhi onome – disse – mas sim pelapequena: Santa Teresa de Lisieux”.A 24 de maio de 1937, na Festa deMaria Auxiliadora, Teresa Bojaxhiuprofessou, de forma perpétua, a suavocação de religiosa.O seu labor em prol dos outrosmultiplicou-se. A sua ânsia emajudar os mais carenciados levou-aa dedicar-se às «Filhas de SantaAna» -

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um dos ramos das freiras do Loretoque integrava irmãs indianas deBengala – cumpridora da regra dosjesuítas. Estas viviam como asbengalis e inspiraram Teresa noposterior nascimento dasMissionárias da Caridade. Vestidascom o sari indiano – tecido pobrefeito de algodão – comiam com asmãos, sentadas sobre a terra.Encarregada de dar formaçãoespiritual às «Filhas de SantaAna» - hoje formam umacongregação autónoma –Teresa absorveu o estilo devida bengali e, posterior-mente, transmitiu-o às suasfreiras, quando criou as«Missionárias da Caridade». Uma viagem luminosa para DajeerlingO momento da viragem aconteceude forma imprevista. Num dos seusrelatos, Teresa conta que, a 10 desetembro de 1946, numa viagempara o convento de Dajeerling, ondeia fazer os exercícios espirituais,enquanto rezava sentiu um“chamamento dentro dochamamento”. A mensagem eraclara: “devia deixar o convento doLoreto (em Calcutá) e entregar-seao serviço dos mais pobres e viverentre eles”. Com a «iluminaçãodivina»,

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Teresa sentiu uma hesitação: comorealizá-la. Este dia de Setembroficou marcado na história dasMissionárias da Caridade e,obviamente, no livro da vida deMadre Teresa como o «Dia daInspiração».Teresa de Calcutá pensava nospobres da cidade que todas asnoites morrem pelas ruas e, namanhã seguinte, são lançados paraos carros de limpeza como sefossem lixo. Não se habituava a este«terrível espetáculo matinal».Queria fazer algo em prol daquelesesqueléticos a pedir esmola na ruae a esperar que o tempo os levasse.A luz recebida no trajeto de Calcutápara Dajeerling foi objeto demeditação no retiro de Teresa. Esteterminou numa pergunta muitoconcreta: “Que poderei fazer porestes infelizes?”.Depois daquele diálogo com Deusregressou à «sua» Calcutá e foifalar com o Arcebispo FernandoPérier a quem expôs o seu plano.Depois de ouvir atentamente areligiosa, o prelado deu-lhe um«não absoluto» que a deixou semqualquer hipótese de dúvida. Umano depois, voltou novamente afalar com o arcebispo. Levava noslábios o mesmo pedido e nocoração a mesma disposição paraaceitar o veredicto de D. FernandoPérier que lhe escutou os projetos.

A sua simplicidade, fervor epersistência convenceram-no deque estava perante umamanifestação da vontade de Deus.Desta vez, de forma mais afável,aconselhou-a: “Peça primeiroautorização à Madre Superiora”.Posteriormente, D. Périer pediuautorização a Roma para que a IrmãTeresa deixasse as Irmãs do Loretoe a “viver só, fora do claustro, tendoDeus como único protetor e guia, nomeio dos mais pobres de Calcutá”. A12 de abril de 1948 chegou aresposta de Pio XII que lhe concediaa desejada autorização mas,sublinhando que, embora deixandoa Congregação de Nossa Senhorado Loreto, a Irmã Teresa continuavareligiosa sob a obediência doarcebispo de Calcutá. Alguns mesesdepois (8 de agosto de 1948) deixouo Colégio de Santa Maria. Nova CongregaçãoreligiosaAbandonado o hábito daCongregação do Loreto, a IrmãTeresa comprou um sari branco,debruado de azul e colocou-lhe noombro uma pequena cruz. Foi comesta nova indumentária - o vestidoduma modesta mulher indiana - quepassou a ser conhecida no mundointeiro.

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A vida da religiosa sofreu novoscontornos e quando a Santa Séreconheceu a Congregação - 7 deoutubro de 1950 pelo Papa Pio XII -a instituição da Madre Teresa deCalcutá contava com centenas demembros em todo o mundo.Primeiro, começou a levar osmoribundos para um lar onde elespudessem morrer em paz e comdignidade. De seguida, abriu umorfanato. De forma gradual, outras

mulheres se lhe uniram nesteprojeto.Nasceu uma nova Congregaçãoreligiosa - «Missionárias daCaridade» - para se dedicar aosmais pobres entre os pobres.A luz do projeto ganhou raízes nosolo fértil e as vocações começarama surgir. Neste viveiro vocacional -muitas das mulheres que aderiramforam antigas alunas - MadreTeresa vê uma bênção de Deus.Sem operações

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de marketing, o trabalho daconsagrada albanesa ganhavavisibilidade e as vocações para«Missionárias da Caridade» surgiama bom ritmo.De abrigo em abrigo, Teresa deCalcutá dava – mais do quedonativos - lições de higiene emoral, palavras amigas e as mãossempre prestáveis para qualquertrabalho. Não foi preciso muitotempo para que todos aconhecessem. Quando ela passava,crianças famintas e sujas,deficientes, enfermos de toda aespécie, gritavam

por ela com os olhos inundados deesperança: Madre Teresa! MadreTeresa!Os mais carenciados de Calcutáeram a sua prioridade mas o iníciodo novo projeto pastoral foi difícil.Sentiu a angústia terrível da solidão.Com algumas décadas de existênciae espalhadas pelos quatro cantosdo mundo, as «Missionárias daCaridade» contam com cerca dequatro mil religiosas em 95 países.Disposta a defender a vida, aCongregação mobilizou-se semprena defesa dos

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direitos dos mais pobres, contra oaborto e a eutanásia. As naçõesabriram as portas a Madre Teresa esuas seguidoras – incluindo aChina, Cuba e a antiga UniãoSoviética – para que os valoresevangélicos fossem uma realidadevivida na terra. Uma vida premiadaQuando visitou a Índia, em 1964,Paulo VI recebeu, pessoalmente, amulher do coração sem limites. 22anos depois, João Paulo II incluiu,no programa da viagem apostólicaàquele país, uma visita à «NirmalHidray» - a “Casa do Coração Puro”– fundada pela religiosa albanesa econhecida, em Calcutá, como a“Casa do Moribundo”.Em 1972 recebeu o prémio daFundação Kennedy e, seis anosmais tarde, o Presidente daRepública de Itália, Sandro Pertini,entregou-lhe o prémio Baszan. Noano seguinte, em 1979, a Academiado Nobel ofereceu-lhe o galardãomerecido: Prémio Nobel da Paz.Com a mesma humildade com quesempre aceitou as váriashomenagens que lhe foramconcedidas em todo o mundo,Madre Teresa colocou os milharesde Dólares dos prémios ao serviçodos mais pobres. No ano querecebeu o galardão, João Paulo IIrecebe-a em audiência privada e elaconverte-se, sem nunca terestudado diplomacia, na melhor«embaixadora» do Papa.

É cidadã do mundo mas a cidadeque a viu crescer, Skopje, nomeia-a“Cidadã Ilustre” a 28 de junho de1980. Nesse mesmo ano, muitasuniversidades conferiram-lhe o título«Honoris Causa» e recebe a Ordem«Distinguished Public ServiceAward» nos EUA. Portugal«Do Something beautiful for Jesus»- Façam algo de Belo para Jesus –foi uma expressão que MadreTeresa utilizou com frequênciadurante a sua vida a Portugal. Ficoutambém na memória do Pe. PeterStilwell que fez uma viagem decarro, de Lisboa ao Santuário deFátima, nos primeiro dias de outubrode 1982 - com o «Anjo dos Pobres».Momentos inesquecíveis porque ela“criou um clima familiar à sua volta”.Portugal recebia pela primeira vez afundadora das Missionárias daCaridade. Vinha estimular osprimeiros passos da congregaçãono nosso país.Madre Teresa de Calcutá visitou onosso país em 1982 e em 1987.Veio a pedido do bispo de Setúbal,D. Manuel Martins, que escreveraàquela religiosa, solicitando-lhe quese deslocasse à cidade do Sadopara associar o seu nome aonascimento da Congregação dasMissionárias da Caridade. Umamulher com um íman especial queiluminava os mais distraídos.

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AdeusA 5 de setembro de 1997, o coraçãode Madre Teresa de Calcutá deu oúltimo suspiro. Passados quasetreze anos, a obra que a «santa dassarjetas» ergueu continua viva e oseu sorriso perdurará. Esta dataficará na história do século XX.Durante a sua vida, ela simbolizavao amor aos mais carenciados.Aquela frágil mulher tinha uma forçainesgotável e colocava em práticaas palavras do Evangelho: “Amaráso teu próximo como a ti mesmo” (Mt22, 39).

Com o final do milénio à portadesapareceu a mulher que seentregou aos «mais pobres dospobres» e deixou muitos coraçõesdesamparados. Uma paragemcardíaca, depois de váriaspneumonias e crises de malária,«levaram» Madre Teresa. Viveu como coração, o coração a matou. Ahumanidade perdeu alguém que,por nada ter nem poder, tinha toda aautoridade porque ninguémconseguia dizer não a um pedidoque ela formulasse.Calcutá chorou, provavelmente,

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como nenhuma outra cidade domundo, a morte desta mulher queescolheu a gigantesca metrópoleindiana para viver toda uma vida aoserviço daqueles que não tinhamninguém. “Era uma verdadeirasanta admirada por todos osindianos, independentemente dasua religião” – sublinhavam oshabitantes de Calcutá. Um livro abertoA sua vida foi um livro aberto. Neleconsultamos e lemos as páginasdos deveres e das virtudes que ahumanidade deve viver, mas que,muitas vezes, tende a esquecer. Napágina da humildade verificamosque Madre Teresa era igual nasmais variadas circunstâncias. Obrilho da sua indumentária era omesmo quando estava sentada nascadeiras de veludo com os«senhores da Terra» como quandose debruçava sobre os moribundos.Beatificada por João Paulo II, quenesse dia celebrava as Bodas dePrata do seu Pontificado – a 19 deoutubro de 2003, Domingo dasMissões – a «Mulher do Sari» tinhauma cumplicidade com o PapaWojtyla.Abrindo uma exceção, João Paulo IIdecidiu permitir a abertura doprocesso de beatificação deGanxhe Bojaxhiu apesar de aindanão terem

passado os cinco anos exigidos pelalei canónica.Aos peregrinos que foram a Romapara participar na Beatificação deMadre Teresa, João Paulo IIacentuou que a nova beata “brilha,de modo especial, no meio destamultidão”. Missionária da caridade,missionária da paz, missionária davida. Toda a existência de MadreTeresa foi um hino à vida.

Luís Filipe Santos, jornalistaAutor do livro ‘O sorriso da caridade

- Madre Teresa’

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Nas pegadas de Madre Teresa João Bacalhau, um português em Calcutá, uma experiência detrabalho voluntário nas casas das Missionárias da Caridade

Entrevista conduzida por Henrique Matos Agência ECCLESIA (AE) - Como éque surgiu este desejo na sua vida?João Bacalhau (JB) - Em 2011participei nas Jornadas Mundiais daJuventude em Madrid mas antes,tive uma experiência a que podemoschamar de pré-jornadas, que fiz comos jesuítas e onde tive a sorte de irparar a Marrocos. Estive ali com umgrupo de diversas nacionalidades evisitámos em Tânger a casa dasMissionárias da Caridade. Era umacasa para mães solteiras eimpressionou-me muito o modo devida das irmãs. Lembro-me que saíde lá com a ideia de que gostava deir à Índia para as visitar em Calcutá.Depois, já durante as Jornadas emMadrid, visitei o museu de MadreTeresae fiquei mesmo impressionado coma sua história, com a sua humildade,o seu trabalho e e seu esforço. Eeste desejo ficou… um dia gostavade… um dia… um dia…

Alguns meses depois, um amigofala-me de uma experiênciamissionária na Índia, em Calcutá… eeu comecei a pôr a mim mesmo apergunta, porque não ir?Recordo que na altura fui a umretiro com um grupo que se estava aformar, e a minha ideia era perceberse fazia sentido eu ir, num momentoem que estava a trabalhar, era meiodo ano, estava a tirar ummestrado… e saí de lá ainda maisconfuso.Lembro-me que o padre, missionárioda Caridade que orientava o retiro,estava sempre a dizer, why not? whynot? porque não?Decidi arriscar, e partir. AE - Partiu, e ao chegar, qual asensação?JB - Nós pensamos sempre queestamos preparados mas ao chegarfoi um choque. O ir em grupo ajudoua diluir o impacto inicial. Estivesempre em Calcutá e recordo obarulho,

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o trânsito e os corvos, muitos corvose o barulho que faziam. Coisas queeu não estava à espera… a pobrezajá esperava, mas todo esteambiente era muito estranho.Quando chegámos fomos divididosem grupos pelas várias casas queas irmãs têm em Calcutá. Umas têmsó crianças, outras com deficientes,pessoas idosas, a casa dosmoribundos onde estão os casosterminais. Eu fiquei nesta última enuma outra só para idosos.Lembro-me que, o que meimpressionou quando cheguei

à casa onde ia trabalhar, foi aquantidade de voluntários quehavia. O que me ocorreu foi pensaro que estava eu ali a fazer se haviatantos para ajudar. Entre nósdissemos, não estamos aqui aacrescentar muito… quase nosatrapalhamos na ajuda. Maspassado algum tempo percebemosque cada tarefa é importante enecessária.Tocou-me a quantidade devoluntários de todo o mundo que aliestavam, e chegam continuamente,sem qualquer tipo de publicidade oucampanha nas redes sociais… háum fascínio por

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ir visitar Calcutá e a casa de MadreTeresa.Com o passar dos dias percebemosque o importantes são as pequenascoisas, os pequenos gestos,pensamos sempre que vamosmudar o mundo mas ali percebemosque não é assim. O importante sãoos pequenos gestos, eu passeimanhãs com um balde a fazer abarba aos idosos ou a massajar-lhes os músculos porque estavamsempre muito parados.

AE - As pessoas chegam ali embusca de quê?JB - As pessoas andam em buscade algo… falava-mos muito entrenós e deparava-mos com pessoasque nem sequer eram católicas,andavam em viagem com amigos esentiam que deviam para ali, eraquase transcendente, estavam alisem saber bem porquê… masestavam ali a trabalhar, a fazertarefas simples que ali seapresentavam tão importantes.

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AE - E o espírito, a memória deMadre Teresa está muito presente?JB - Sim, até os doentes que estãonestas casas falam sempre damadre, rezam-lhe e nas oraçõesviram-se para a sua fotografia queestá na parede. Cheguei a falar comalguns doentes que me entendiamem inglês, e diziam que nãointeressa a raça ou a religião, oDeus é o mesmo e agradecemosmuito à Madre Teresa. Sentia-semuito esse respeito. AE - Ao regressar de Calcutá o quetrouxe desta experiência?JB - Sempre dei valor ao que tenhoe até me considero um privilegiadoperante o que eu vi lá, mas aprendia importância das pequenas coisase dos gestos simples. É nas coisaspequeninas que nós conseguimosfazer a diferença. Sei que não fui lásalvar nenhuma vida, sei quequando eu saí aquelas pessoascontinuam na mesma situação, massei que enquanto ali estive, ao estarjunto de cada uma daquelaspessoas, ao fazer-lhe um carinho ouconversar, estava a contribuir paraa sua felicidade e para minorar oseu sofrimento. Isto faz muitadiferença. Lembro-me que uma dastarefas que tinha era deitar osidosos e ficar ali um pouco comeles,

e a sensação que me dava era deque estava a deitar bebés pelaforma como eles me olhavam egostavam da minha presença.Fiz ali coisas que nunca tinha feito,e que nunca tinha imaginado fazercomo limpar idosos ou alimentarpessoas que não se mexiam, coisasque foram exigentes mas tambémmuito gratificantes. Alguém medisse, então mas é preciso ir para aÍndia para fazer isso? Não, mas ali,na proximidade de Madre Teresa eda sua obra, as coisas têm outradimensão, faz toda a diferença. AE - E as Missionárias da Caridade,há uma grande interação com elascom o seu trabalho?JB - Eram sempre muito acessíveise estão por toda a parte, maslembro-me de falarmos entre nósque não pareciam muito simpáticas.Nós quando vamos fazer este tipode coisas queremos imenso que aspessoas nos agradeçam… olhaobrigado por teres vindo do outrolado do mundo para nos ajudar… mas elas não diziam nada disso. Eeu acho que isso nos ajudou aperceber que ninguém nos pediu ouobrigou a estar ali. Esta aparentedistância reforçava

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esta dimensão e isso eraimportante para o nossocrescimento. AE - Agora a santidade de MadreTeresa reconhecida pela Igreja…acha que esta canonização vaidespertar ainda mais jovens a viajarpara a Índia, ou por ali a santidadeda madre já é há muito sentida?JB - Eu acho que ali já eraconsiderada

como tal é só uma questãode oficializar. É natural que estemomento se traduza numa maiorafluência de pessoas que querempassar pelo seu túmulo, pela suacasa, mas espero também queinspire mais jovens a passar por aliporque trabalho não falta. É umaobra que não é para visitar maspara viver.

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Índia, ou por ali a santidade da madre já é há muito sentida?JB - Eu acho que ali já era considerada

Os pobres fizeram-na uma santaO caminho para a santidade estátraçado. Não há outras alternativas.Foi Jesus Cristo que o deu aconhecer quando afirmou: “Vindebenditos de meu Pai recebei emherança o Reino preparado paravós (…) porque sempre que ofizeste (o bem) ao mais pequeninodos meus irmãos foi a MIM que ofizeste.” (Cfr Mt 25, 31-40). Éincontável o número dos queencontraram este caminho eseguiram por ele. Convivo commuitos. Convivi ou encontrei-me,mesmo poucas vezes, com muitosmais, cujos nomes estão apenasinscritos no coração de Deus e node todos os que saborearam ariqueza do amor que lhe foitributado por eles. O mundo não osconhece. A Igreja, entre todos estes,com quem alguma vez contactei,apenas colocou dois nos altares: S.João Paulo II com quem meencontrei no Parque Eduardo VII,quando era animador da pastoraljuvenil da minha paróquia e duasvezes com a Santa Madre Teresa deCalcutá. Com esta, padroeira daCáritas, na sua primeira visita estivedois dias, que nunca mais podereiesquecer; na segunda visita, aúltima, que fez a Portugal, foiapenas um dia.Como se sabe a Congregação das

Missionárias da Caridade instalou-se em Portugal a convite de D.Manuel Martins, 1.º Bispo deSetúbal. As primeiras Irmãs foramhabitar num apartamento para oslados do Bairro da Camarinha.Recordo que isso não agradou àMadre Teresa que preveniu osenhor bispo que daria ordens àssuas irmãs para levarem osindigentes que encontrassem nasruas de Setúbal para casa dele.Dava uma semana para que fosseencontrada uma moradia comespaço suficiente para essafinalidade. Logo um grupo decristãos, liderados pelo Pe. ManuelVieira, então Pároco de NossaSenhora da Anunciada, conseguiuassegurar esta coerente exigência,tendo deixado a sua própria casapara que o espaço fosse maior. AMadre ficou tão contente que deu ànova casa o nome de “Causa danossa alegria”. Recordo, como sefosse hoje, estar diante de umamulher que irradiava simplicidade,transportando um saco de pano comduas pegas em madeira; com umolhar que nos inundava de paz; umpouquinho já corcunda pelosmilhares de vezes que se inclinoupara afagar os moribundos e ospaupérrimos que abundavam pelasruas de Calcutá para os levantar

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e levar para sua casa, e não por seter curvado perante os poderosospara obter qualquer tipo deprivilégio; um andar sereno paraconseguir fazer-se mais próxima.Acompanharam-na um sacerdoteque já vinha com esta santa mulhera quem se juntou o Pe. Peter Stilwellque serviu de tradutor. Foram váriosos encontros, mas o que jamaisesquecerei aconteceu na noite doprimeiro dia, da primeira visita, naSé Catedral. Depois de ter faladoaos consagrados, na sacristia,entrou directamente na igreja, queestava tão cheia que nem mais“uma palha” poderia caber, pelaporta que dá acesso direto ao altar.O povo vibrou com uma estrondosae demorada salva de palmas. Apósa saudação de boas vindas dadapor D. Manuel, a Madre Teresadeixou uma mensagem tão forte quese sentia vida prenhe de amor emcada palavra pronunciada. Antes desair, rezou com e por todos ospresentes. Deixou a Sé pela alacentral. Os escuteiros, de um lado edo outro, faziam de escudo paraque o ícone da caridade do séculoXX não fosse esmagado. Mas opovo só a queria tocar, pois estavajá certo da sua santidade. Muitasvezes, ao longo do corredor, aMadre abriu o singelo saco porquemuitas pessoas insistam em atirarpara dentro dele dinheiro, anéis efios de ouro, pequenas

folhas escritas talvez com pedidos.Impressionaram-me,particularmente, dois factos: umamulher, com cabelo já grisalho, quetirou o anel de noivado do dedo e ocolocou no saco; um jovenzinhoescuteiro, estando já nós dentro dacarrinha Peugeot, conduzida pelomeu querido Pe. Sampaio, bateu novidro do lado em que estavasentada a Madre para que oabríssemos. Assim o fizemos, e,comovido, tirou o seu lenço deescuteiro que trazia ao pescoço edisse no seu trémulo inglês: “nãotenho dinheiro para os seus pobres,mas dou-lhe o que, agora, maisvalor tem para mim!”. Foi dasdádivas mais belas que já vi.Como recordação, deixou-me umlivro escrito por ela com o título “Aalegria da doação”, tendo escritocom a sua própria mão, na primeirapágina, “God bless you” (Deus teabençoe!). Que assim seja, hoje epara sempre. Na capa deste livroestá ela e D. Helder da Câmara asegredar-lhe algo. Que espera a Igreja para declarartambém, oficialmente, a santidadedeste bispo pai dos pobres? Queseja uma das primeiras graçasalcançadas por Madre Teresa, apósa sua canonização.

Eugénio FonsecaPresidente da Cáritas Portuguesa

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A «experiência única» de estar comMadre Teresa de CalcutáO padre Peter Stilwell, reitor daUniversidade Católica de São José,em Macau, recordou a “experiênciaúnica” de estar próximo da MadreTeresa de Calcutá, de quemrecorda o “sentido prático muitogrande” aliado a uma “grandeespiritualidade”.À Agência ECCLESIA, o sacerdoteque fez de tradutor e acompanhou afutura santa ao Santuário deFátima, que visitou por indicação doPapa São João Paulo II, assinalaque o sentido prático da religiosa“às vezes foi contestado”.“Ela considerava que que estar comos pobres era um prolongamento dacontemplação, era contemplarCristo com quem Ele sofria”, referiuna entrevista realizada no âmbito dacanonização de Madre Teresa, quevai ser presidida pelo PapaFrancisco este domingo, noVaticano, uma celebração inseridano Jubileu da Misericórdia.Madre Teresa de Calcutá esteve emPortugal em 1982 e 1987, paravisitar as fraternidades das IrmãsMissionárias da Caridade, nasdioceses de Lisboa e Setúbal.O padre Peter Stilwell conheceu areligiosa quando estudou em Roma

e, uma vez por semana, ia ajudar asreligiosas a “acolher” quem vivia“debaixo das pontes e nos cantos”da capital italiana.Para a Madre Teresa, refere, avocação das Missionárias daCaridade “era simplesmente estarcom os mais pobres” e acompanhá-los, competia-lhes que elessobrevivessem e não ajudá-los a“resolver os problemas da sua vida”,serviço que outros iriam realizar.O reitor da Universidade Católica deSão José refere que a vocação deTeresa de Calcutá e a suacongregação indicam que a atençãodas pessoas deve dirigir-se para osmais pobres, porque é onde “está ahumanidade”. “Quando essacondição nos toca elas devolvem-nos a nossa humanidade, abrem nonosso coração este sentido desolidariedade. Este sentido decuidado com os outros é sinalrealmente do que é isso de ser-seimagem e semelhança de Deus, ser-se manifestação dessa misericórdiade Deus no mundo”, desenvolveu.Outra crítica feita a Ganxhe Bojaxhiu(nome de batismo de madre Teresa)era o facto de também percorrer “osmeios da classe média, média-alta

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e da aristocracia”.O padre Peter Stilwell relembrouque a religiosa foi freira num colégioprivado para pessoas da burguesia,na Índia, onde, “certamente, ganhouconsciência” de que era precisodespertar “na inteligência, noentendimento” de pessoas quetinham a sua vida segura do pontode vista financeiro e económico quehavia quem precisava. Neste

contexto, o sacerdote observouainda que Madre Teresa de Calcutágerou um movimento devoluntariado com “muitas pessoasde famílias abastadas” e que asMissionárias da Caridade, há 10anos, “eram, talvez, a congregaçãofeminina com mais vocações nomundo” com pessoas “sensibilizadaspela mensagem de radicalidade deentrega aos mais pobres e depobreza”.

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Madre Teresa foi «um presente queganhei na minha vida»

Pedro Castro estava gravementedoente com hepatite C e diz que foia intercessão de Madre Teresa quelhe salvou a vida. Em entrevista aoSemanário ECCLESIA, Pedro Castrorecorda o momento em que a futurasanta entrou na sua vida, atravésdo padre Brian Kolodiejchuk,postulador da causa decanonização da ‘mãe dos pobres’.“Eu conheci-o por acaso no Algarvenuma altura em que estava doente,com uma doença gravíssima, comuma hepatite C, que estava numestágio já avançadíssimo dedeterioração do fígado. E osmédicos tinham-me dito

que eu precisava absolutamente detomar um medicamento muito caro,que tinha acabado de sair”.O caso remonta a 2015,quandosurgiu um medicamento quetinha 97 por cento de eficácia nacura da hepatite C mas que aindanão era comparticipado pelo ServiçoNacional de Saúde. No entanto, o tratamento custava naaltura cerca de 46 mil euros.“A única hipótese era vender aminha casa” frisa Pedro Castro, cujahistória ganhou um novo rumonesse encontro com o padre Brian.O sacerdote incentivou-o a esperare a ter confiança na Madre Teresa,entrou

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em contacto com Calcutá e a suaintenção foi colocada junto dacampa da Beata. “Todos os dias é celebrada missapor essas intenções, e o teu nomevai desde já entrar para lá. Eportanto o mundo inteiro e aspessoas que estão em Calcutá eque vão visitar o túmulo da MadreTeresa e que têm missa lá vão rezarpor ti”, referiu o padre Kolodiejchuk.“E foi muito engraçado porque aseguir o que aconteceu foi umconjunto de acontecimentosenormes que levou a que Portugalfosse o país do mundo que maisdepressa passasse a custear essetratamento para a hepatite C”, contaPedro Castro, que desde entãopassou a olhar para a vida com umaperspetiva diferente.“Para mim não tenho dúvidaquehouve uma intervenção daMadre Teresa. Porque a certa alturaaquilo que eu senti, e isso foi muitobonito, foi que não era uma históriaminha que se estava ali a viver,porque eu tinha uma casa paravender. Com certeza que era chato,mas podia ter a minha vidaassegurada, a minha curaassegurada. Mas haviam 90 e nãosei quantas mil pessoas em Portugalque não tinham e todos os diasmorriam pessoas”, recorda. Esta história levou Pedro Castro aconhecer mais a fundo a história deMadre Teresa, que considerauma

mulher “extraordinária” e “umpresente que ganhou na sua vida”.“Faz-me lembrar a toda a hora deque o importante não sou eu e queexiste um Deus que é bom e que anossa vida foi feita para os outros(…) ela só se preocupava com osoutros, não tinha tempo sequer paraser feliz, na cabeça dela esse nãoera o problema, o caminho dela”,realça.A canonização de Madre Teresa deCalcutá está marcada para 4 desetembro, na praça de São Pedro, apartir das 10h30 (menos uma emLisboa).Para Pedro Castro, que estará nacerimónia, será “uma festa” e “umdia de céu, em que vai serreconhecida a beleza, a grandeza ea nobreza de uma mulher como aMadre Teresa”.“Estou muito contente, vou com aminha mulher, estou felicíssimo, nãoposso estar mais feliz, sei que vêmpessoas do mundo inteiro que sãodevotos da Madre Teresa e quequerem estar e viver este dia comalegria”, conclui.

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O silêncio de Deus na vida de MadreTeresa

A experiência de "deserto espiritual"ou de "silêncio de Deus" descritanas cartas de Madre Teresa deCalcutá, é um acontecimento quemarcou a vida de muitos Santos eSantas da Igreja Católica, emespecial a dos chamados "místicos".A experiência espiritual da futura foiapresentada mundialmente no livro“Mother Teresa: Come be my light”.

O padre Brian Kolodiejchuk,postulador da sua causa decanonização, explicou numaconferência em Portugal aimportância da ‘noite escura’ deMadre Teresa, à luz da dupladimensão com que se vive o amordos religiosos: em primeiro lugar, a‘esponsal’, o seu amor a Cristo, quea leva a unir-se aos seussofrimentos; e, em segundo lugar,

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o amor ‘redentor’, que leva acompartilhar a redenção, a anunciaraos outros o amor de Deus.“Madre Teresa era uma mulherapaixonada por Jesus e a provação,o sofrimento, é que não sentia queera amada por Jesus, como seestivesse a ser rejeitada. Elapensou, ela sentiu que não podiaamar Jesus como gostaria, porquetinha tomado a resolução de amarJesus como ele nunca tinha sidoamado antes. Se levarmos isso asério, é algo extraordinário.A provação foi querer amar Jesus,via-se como esposa de Jesus, e,

naturalmente, também queria sentiresse amor de Jesus, no entanto…escuridão, nada. Essa experiência éa forma de viver, paradoxalmente, asua união com Jesus. Estava tãounida a,Jesus que Ele podiapartilhar com ela os seussofrimentos mais profundos maiores:escuridão, solidão no Jardim dasOliveiras; o sentimento de abandonona cruz.(…)Quando a Madre Teresa saiu daÍndia, apercebeu-se de que a maiorpobreza no mundo de hoje não é amaterial, mas a sensação de nãoser amado, de não ser querido, denão ser cuidado. Por isso,percebemos que ela própria estavaa experimentar o mesmo, também.Ela estava não só identificada comos pobres, materialmente, ao viverde forma pobre mas tambémidentificada com os pobres,espiritualmente, ao experimentar apobreza espiritual, no seu interior”.

Padre Brian Kolodiejchuk

Escritos Privados de Madre TeresaAos Escritos Privados de Madre Teresa não interessa reconhecer ainsuficiência do dizer humano, mas afirmar a profundidade devastadora eindizível, o nomadismo infatigável, a Fé como afundamento numarealidade radicalmente outra. E é daí que brota o intransigente,desconcertante, ardente oximoro, que é a figura por excelência da Fé: asede que dessedenta, a fome que sacia, o vazio que enche de plenitude,a escuridão que brilha. Quem tem ouvidos para escutar oiça. Quem temcoração para ler, leia.

José Tolentino Mendonça

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As Irmãs de Madre Teresa de Calcutáem Chelas: um rio de misericórdia

«Tenho sede», é a palavra de Jesusque todos os dias as Missionáriasda Caridade contemplam na parededo Oratório, juntamente com aimagem do Crucifixo.Isto acontece em Calcutá, em Roma,no Iémen, em Chelas... em todo omundo.Assim começa o dia: Jesuscrucificado que olha para elas eelas que olham para Ele. Todos osdias!Na oração matutina, na celebração

da Eucaristia e na adoração doSantíssimo. Este é o motor eucarístico da vidade caridade das irmãs de MadreTeresa de Calcutá. Uma missão quenasce ao pé da Cruz, de Alguémque está para morrer e diz: «Tenhosede».Esta sede de amor sai da Casa daPaz na Avenida João Paulo II emChelas, e transforma-se num rio deternura que vai regando famílias,crianças,

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idosos do bairro, com discrição,humildade e alegria estampada norosto.Nestes últimos anos há umacumplicidade carismática crescenteentre a santidade de SãoMaximiliano Kolbe (titular daparóquia em que as irmãs estãoinseridas) e a santidade de MadreTeresa de Calcutá. Ambos são umsinal do amor misericordioso deDeus numa época marcada peloódio e pela indiferença.As irmãs nasceram com a Paróquiade São Maximiliano, quando emChelas predominavam as barracase prefabricados no final dos anos'80 e início dos anos '90 do séculopassado. Naquela época deram umgrande contributo ao serviço dosmais pobres, visitando as famílias,ajudando nas despesas para aalimentação e na assistênciaespiritual.Hoje o envolvimento dasmissionárias da caridade cresceu edesenvolveu com a vida dos bairrose da comunidade paroquial.Continua a proximidade com aspobrezas escondidas nos prédioscamarários. A atenção é sobretudoaos doentes, aos idosos sós, comuma boa e positiva ligação com ocentro social da paróquia.Dão um grande contributo nacatequese e na liturgia participandonas iniciativas paroquiais, vicariais ediocesanas. Deste modo, oferecem

um sinal eloquente que são pedrasvivas da Igreja local.Muitos jovens e adultos quer daparóquia de S. Maximiliano, quer deoutros movimentos, se tornamvoluntários, bebendo do carismadas irmãs e encontrando umtestemunho de vida cristã concreto,alegre e credível.É verdade que as Missionárias daCaridade não enchem a capa dosjornais da freguesia de Marvila e dacidade de Lisboa, porque otestemunho delas, passa pelas ruase trespassa pelos corações, sembarulho e clamor, deixando rastosde amor e de luz que é possível vernos olhos dos mais pequenos.As Missionárias da Caridade e asIrmãzinhas de Jesus, são irmãs emadres para as Igrejas de SãoMaximiliano, Sta. Clara e Sta.Beatriz: um seio demisericórdia na Unidade PastoralFranciscana de Chelas.

frei Fabrizio Bordin,franciscano e pároco em Chelas

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Madre Teresa de Calcutá, aimportância de estar próximo da«periferias»

O Papa Francisco assinou oprefácio do mais recente livrodedicado à Madre Teresa deCalcutá, com textos inéditos dafutura santa, convidando os jovensa aprender com ela a importânciade estar nas “periferias”. “[Caridade]é tornarmo-nos próximos dasperiferias dos homens e das

mulheres que encontramos todos osdias e sentir compaixão pelosúltimos no corpo e no espírito”,escreve.No livro, o Papa recorda aimportância da oração na vida dareligiosa, cujo trabalho foidistinguido com o Prémio Nobel daPaz. Francisco espera que estafigura ajude a “despertar

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consciências” para o “drama dapobreza” e leve os católicos a“entrar no coração do Evangelho,onde os pobres são os privilegiadosda misericórdia divina”.No início do prefácio, o Papa lembraque “a Igreja não é uma ONG”, algoque era dito pela própria MadreTeresa. “As ONG trabalham paraprojetos e nós trabalhamos paraAlguém. A Igreja trabalha paraCristo e para os pobres nos quaisCristo vive, nos estende a mão,invoca ajuda, pede o nosso olharmisericordioso, a nossa ternura”,precisa.

Francisco deixa uma palavra deestímulo aos jovens, que convida aser “construtores de ponte, paraeliminar a lógica das divisões, darecusa, do medo dos outros”,colocando-se “ao serviço dospobres”.O livro ‘Amemos quem não é amado’foi publicado pela EditoraMissionária Italiana (EMI).Na obra, com reflexõespronunciadas em 1973, na cidadeitaliana de Milão, Madre Teresaafirma que “a doença mais gravenão é a lepra ou a tuberculose, masa solidão”, a causa de “desordens,divisões e guerras”.

CanonizaçãoO processo para a canonização tem uma primeira etapa na Diocese emque faleceu o fiel católico. A segunda etapa tem lugar em Roma, onde seexamina toda a documentação enviada pelo bispo diocesano. Apósexame profundo da documentação efetuada pelos teólogos eespecialistas, compete ao Papa declarar a heroicidade das virtudes, aautenticidade dos milagres, a beatificação e a canonização. A tramitaçãodo processo de santidade de um católico morto com fama de santo passapor etapas bem distintas. Por norma, cinco anos após a sua morte,qualquer católico ou grupo de fiéis pode iniciar o processo, através deum postulador, constituído mediante mandato de procuração e aprovadopelo bispo local. Este período de espera de cinco anos pode serdispensado pelo Papa, em situações excecionais, como aconteceu emrelação a Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II.

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O ideal da misericórdiaO presidente da União dasMisericórdias Portuguesas está noVaticano, para participar numencontro mundial das organizaçõesdo setor e na canonização de MadreTeresa de Calcutá. Em entrevista àAgência ECCLESIA, Manuel deLemos destacou a futura santacomo “um exemplo para todos dehumildade, de serviço, depreocupação com os outros e com amisericórdia de Deus”.“O seu espirito e a sua fé levaram-na a fazer o percurso de vida quetodos nós conhecemos”, realçouaquele responsável, para quem omomento da canonização de MadreTeresa será “o climax” da sessãojubilar das Misericórdias noVaticano, a par da audiência com oPapa Francisco, marcada parasábado. “Ter um encontro com asMisericórdias Operadoras de todo omundo e no dia seguinte acanonização de alguém quepersonifica tão bem o que é o idealda misericórdia como foi a MadreTeresa”, complementa.A comitiva da União Portuguesa dasMisericórdias em Roma inclui cercade 400 representantes das váriasMisericórdias atualmenteespalhadas por todo o territórionacional.

Manuel de Lemos destaca depois avariedade de responsáveis vindosde todo o mundo, desde Itália,Brasil, China, Macau, Uruguai,Ucrânia, entre muitas outras.Todas terão oportunidade de seencontrar com o Papa, numaaudiência jubilar, que está a gerargrande expetativa. “O PapaFrancisco teve uma ideia fantásticaquando resolveu que este ano seriao Ano Jubilar da Misericórdia, tãoprecisa no mundo, e esperamos queele nos dê forças para que depoiscada um de nós consiga afirmar asua fé e o seu serviço aos queverdadeiramente necessitam”, frisouo presidente da UMP.Durante o encontro em Roma, asMisericórdias de todo o mundo vãoter oportunidade de “reforçar o seupapel no mundo” e estreitar laçospara uma missão cada vez maisefetiva.Os representantes das váriasinstituições serão ainda convidadospara uma eucaristia na Igreja deSanto António dos Portugueses, nosábado à tarde, que vai serpresidida por D. Jorge Ortiga,arcebispo de Braga e presidente daComissão Episcopal da PastoralSocial e Mobilidade Humana.

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A Missão Permanente da Santa Sé na ONU e a ‘Alliance DefendingFreedom’ (ADF, Aliança pela Defesa da Liberdade), vão promover umaexposição na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, sobre a vida eobra de Madre Teresa de Calcutá.A iniciativa insere-se no programa de atividades que visam assinalar emvários países a canonização da religiosa.A exposição sobre a fundadora das Missionárias da Caridade tem comotítulo 'A vida de Madre Teresa e o seu legado para a ONU', decorrendode 6 a 9 de setembro.No último dia, vai ter lugar uma conferência sobre a nova santa comtestemunhos e painéis sobre a vida e obra junto dos mais pobres davencedora do Prémio Nobel da Paz em 1979.

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O milagre de TeresaO padre e teólogo brasileiro JoãoCarlos Almeida apresenta no livro ‘Omilagre de Teresa’ a história domilagre atribuído à intercessão deMadre Teresa de Calcutá, a cura deMarcílio Haddad Andrino que abriucaminho à canonização da religiosa.A obra, editada em Portugal pelaPlaneta, começa por apresentar opercurso de vida da fundadora dasMissionárias da Caridade parachegar à história de MarcílioHaddad Andrino, brasileiro, que jáestava na sala de operações parauma cirurgia ao cérebro, “em estadobastante crítico”, quando acordou“completamente curado” e começoua falar com o médico.Na entrevista agora publicada, oneurocirurgião João Luís CabralJúnior recorda que o doente chegouao hospital com sinais de “confusãomental, febril e em estado pós-convulsivo”.O médico - que pela sua formação“não” acredita “em milagres” - fezuma TAC e descobriu oito“abcessos” no cérebro de MarcílioHaddad Andrino, que acabaram pororiginar hidrocefalia já depois dointernamento. No dia 9 de dezembrode 2008, enquanto o pacientebrasileiro estava quase a seroperado,

a sua esposa e família rezavamcom “ardente fé” pedindo “aintervenção” da Madre Teresa deCalcutá.A oração “muito simples” aconteceudiante da fotografia da religiosa e deuma relíquia, explica o teólogo JoãoCarlos Almeida (popularmenteconhecido como padre Joãozinho).O neurocirurgião João Luís Cabralrelembra ainda que no fim dotratamento fez uma tomografia decontrolo e “os abcessos tinhamsumido”, tendo concluído que opaciente “podia receber alta”.Marcílio Haddad Andrino vai estarhoje no Vaticano para falar aosjornalistas, em conferência deimprensa.Para escrever o livro ‘O milagre deTeresa’ ocorrido no Brasil, o padre‘Joãozinho’, da Congregação dosPadres do Sagrado Coração deJesus (Dehonianos), entrevistouainda, entre outros, osneurocirurgiões brasileiros JoséAugusto Nasser dos Santos, a quemas Missionárias da Caridadeconfiaram a documentação domilagre para ser analisada, eMarcus ViniciusSerra, bem como aMônica Mazzurana Benetti,especialista em cirurgia bariátrica,escolhidos quando a Comissão doVaticano pediu que o PromotorPúblico convidasse dois médicoslocais da Diocese de Santos.

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setembro 2016Dia 2* Braga – A Igreja Católica em Bragaassociou-se ao evento ‘NoiteBranca’, promovido pela câmaramunicipal local e encerra a ediçãode 2016 com um concerto de sinosem diversas igrejas, no centrohistórico da cidade, pelas 19h30 dodia 4 de setembro. Dia 03* Bragança - O Serviço da Pastoraldo Turismo da Diocese deBragança-Miranda desafiou os fiéisa ligarem as quatro ‘Portas daMisericórdia’ da diocese à PortaSanta da Catedral na iniciativa ‘Aoencontro da Porta Santa’.A iniciativa insere-se no Jubileu daMisericórdia e assinala oencerramento do Ano diocesano daSantidade. 221 pessoas vãoparticipar em quatro modalidades –a pé; bicicleta – BTT; carros antigose motas. * Vaticano – O Papa Francisco vaireceber uma delegação da Uniãodas Misericórdias Portuguesas queestá a participar no Jubileu dosVoluntários e Trabalhadores daMisericórdia e vai assistir àcanonização de Madre Teresa deCalcutá, no dia seguinte.

Dia 04* Vaticano – Papa Francisco presideà cerimónia de canonização daMadre Teresa de Calcutá na Praçade São Pedro, a partir das 10h30 deRoma (menos uma hora em Lisboa). Dia 05* Fátima - A Pastoral Penitenciáriaem Portugal vai promover asua peregrinação nacional sob otema ‘Estive preso e fostes visitar-me’ ao Santuário de Fátima que,“pela primeira vez”, vai incluir “umgrupo de reclusos, ex-reclusos,familiares, voluntários e assistentesespirituais e religiosos” de algumasdioceses de Portugal. * Lisboa – José Vera Jardim vaitomar posse como presidente daComissão de Liberdade Religiosa,com a ocasião a ser assinalada como colóquio ‘Pluralismo Religioso eCidadania’, no auditório 2 daFundação Calouste Gulbenkian,entre as 14h00 e as 17h00.A Conferência Episcopal Portuguesadesignou como representantes daIgreja Católica na comissão o padreManuel Saturino Gomes, auditor

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do Tribunal da Rota Romana noVaticano, e o teólogo AlfredoTeixeira, da Universidade CatólicaPortuguesa. * Lisboa - O cardeal-patriarca deLisboa, D. Manuel Clemente, vaiabençoar o espaço ‘FamíliascomVida’ às 19h00 do dia 05 desetembro, um projeto da CáritasDiocesana de Lisboa e da PastoralFamiliar do Patriarcado, em Carnide(Rua Manuela Porto, n.º 12D). * Itália: Peregrinação da Diocese doFunchal a Roma e Assis presididapor D. António Carrilho até ao dia 9de setembro. Dia 06* Fátima - O Santuário mariano vai receber o Congresso MariológicoMariano Internacional 2016, com otema 'Acontecimento Fátima cemanos depois. História, mensagem eatualidade', no Centro Paulo VI atédia 11 de setembro.O encontro vai ser presidido peloenviado especial do PapaFrancisco, o cardeal português D.José Saraiva Martins, prefeitoemérito da Congregação para asCausas dos Santos.

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- Está em marcha, até ao próximo domingo, a 1.ª Festado Livro no Palácio de Belém, com o patrocínio dopresidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelode Sousa. Um evento com marca católica através dapresença da Paulinas Editora e de autores como ospadres José Tolentino Mendonça e Joaquim Carreiradas Neves. - A Cáritas Portuguesa vai realizar este sábado edomingo (03 e 04 de setembro) uma recolha dematerial escolar novo, para ajudar alunos maisdesfavorecidos. Uma iniciativa que decorrerá emvárias superfícies comerciais do país, com oapoio do Instituto de Apoio à Criança e daAssociação Karingana wa Karingana. - A Paróquia de São Julião da Barra, em Lisboa,promove entre 05 e 10 de setembro um ‘MusicalCamp’, um campo de férias lúdico e cultural parajovens que culminará na apresentação de um musicalcristão, este ano centrado na figura bíblica de Rute.Os concertos decorrem nos dias 09 e 10 de setembropelas 21h00, na Igreja Paroquial de Outurela; e noAuditório Eunice Muñoz de Oeiras. - O Mosteiro de São João de Tarouca, emLamego, vai acolher um concerto de cantocisterciense, no dia 10 de setembro pelas 22h00.A Direção Regional do Norte, promotora doevento, destaca a oportunidade de apreciar um“evento inovador” no ambiente sonoro e visualda oração dos monges de Cister.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 13h30Domingo, 4 de setembro,13h25 - Santa Teresa deCalcutá Segunda-feira, dia 5, 15h00 - Entrevista a Eugénio Fonsecasobre Madre Teresa. Terça-feira, dia 26, 15h00 - Informação e entrevista aFrei Fabrizio Bordin sobreMissionárias da Caridade emChelas. Quarta-feira, dia 27, 15h00 - Informação e entrevistaa Orlando Azevedo sobre prestação de serviçoseclesiais. Quinta-feira, dia 28, 15h00 -Informação e entrevistaa Catarina António sobre voluntariado. Sexta-feira, 12h40 - Análise à liturgia de domingo. Antena 1Domingo, dia 4 de setembro - 06h00 - Canonizaçãoda Madre Teresa de Calcutá Segunda a sexta-feira, 5 a 9 de setembro - 22h45- Destinos a visitar: Serra de Serpa, diocese de Beja;Mosteiro de Balsamão, diocese de Bragança -Miranda; Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra,diocese de Lisboa; Mosteiro de Singeverga, diocesedo Porto; Convento de Cristo em Tomar, diocese deSantarém

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Ano C – 23.º Domingo do TempoComum ComoseguimosJesus hoje?

A liturgia deste 23.º domingo do tempo comumconvida-nos a tomar consciência de quanto é exigenteo caminho do Reino de Deus. Optar pelo Reino não éescolher um caminho de facilidade, mas sim aceitarpercorrer um caminho de renúncia e de dom da vida.Jesus é demasiado duro, as suas exigências sãodemasiado radicais: “Se alguém vem ter comigo, semMe preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aosirmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode sermeu discípulo… Quem de entre vós não renunciar atodos os seus bens, não pode ser meu discípulo».Sem contar com este convite ao sofrimento: “Quemnão toma a sua cruz para Me seguir, não pode sermeu discípulo”.Parece que Jesus quer desencorajar quem quer serseu discípulo. É preciso compreender que Lucasescreve o seu Evangelho num contexto deperseguições. Alguns cristãos preferiam morrer arenegar a sua fé. Outros, talvez os mais numerosos,escolhiam colocar, pelo menos momentaneamente, asua fé entre parêntesis para salvar os seus bens, asua família e a sua própria vida.São Lucas quis, não tanto condenar estas fraquezasna fé, mas sobretudo dar um forte encorajamentoàqueles que se mantinham firmes na fé, até à morte.Eram esses, os mártires, que tinham razão em seguirJesus até no mistério da sua morte na cruz.O que nos podem estas palavras dizer hoje? O nossomundo é duro em tantos domínios. Por exemplo, osentido do casamento e da família, o valor da palavradada para ser fiel ao marido e à esposa não sãoreferências maiores da nossa cultura. Não é fácil hoje,numa sociedade descristianizada, assumir e promovervalores cristãos, fazer referência ao Evangelho,

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afirmar-se como crente em Jesus.Muitíssimos distanciaram-se deDeus, da fé cristã.A Palavra de Deus de hoje é-nosservida para nos despertar e, aomesmo tempo, para nos encorajar.Aqueles que, apesar de tudo econtra tudo, continuam a dar umlugar importante na sua vida aJesus têm razão. O Evangelho dehoje é um convite urgente amantermo-nos na nossa fé, por maisque isso custe!Como seguimos Jesus? À maneirade um líder político? de uma estrelada canção? de um ídolo do futebol?

Tornar-se discípulo de Jesus hoje éuma questão de preferênciaabsoluta, num caminho que passapela cruz. Cruz levada com plenoamor e fecundo sentido de viver emCristo! Como diz a canção do meuconfrade Padre Zezinho: «no peitolevo uma cruz, no meu coração oque disse Jesus!»Que assim seja, sempre e nestereinício de ano letivo e pastoral, nasnossas vidas, comunidades efamílias!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Cuidar da natureza,nova obra de misericórdia

O Papa afirmou que o cuidado como Ambiente deve ser visto peloscristãos como uma “nova obra demisericórdia”, que se une as 14tradicionais, para defender a “vidahumana na sua totalidade”. “Tomo aliberdade de propor umcomplemento aos dois elencos desete obras de misericórdia[corporais e espirituais],

acrescentando a cada um o cuidadoda casa comum”, escreve, numamensagem divulgada no Vaticano nodia 1 de setembro.O texto assinala a celebraçãoecuménica do Dia Mundial deOração pelo Cuidado da Criação,uma iniciativa lançada pelo Papa em2015, na Igreja Católica,associando-se a

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outras Igrejas e Comunidadescristãs.Francisco precisa que, como obrade misericórdia espiritual, o cuidadoda casa comum requer “a gratacontemplação do mundo”. Comoobra de misericórdia corporal, ocuidado da casa comum requer os“simples gestos quotidianos” quepermitem quebrar “a lógica daviolência, da exploração, doegoísmo”.O Papa recorda ainda a celebraçãodo Jubileu da Misericórdia, o anosanto extraordinário que decorre até20 de novembro, propondo que oscatólicos saibam reconhecer “ospecados contra a criação” quecometeram, para que seja possível“dar passos concretos no caminhoda conversão ecológica”.“Arrependamo-nos do mal que

estamos a fazer à nossa casacomum”, apela.A mensagem de Francisco sublinhaa necessidade de um “sério examede consciência” neste campoecológico. “Habitados por talarrependimento, podemos confessaros nossos pecados contra o Criador,contra a criação, contra os nossosirmãos e irmãs”, realça.O pontífice argentino espera queeste processo leve a um “propósitofirme de mudar de vida”, que setraduza “em atitudes ecomportamento concretos maisrespeitadores da criação”.A mensagem conclui-se com umaoração ao “Deus dos pobres”,rezando pelos “abandonados eesquecidos desta terra”.

Serviço da Pastoral do Turismo da Diocese de Bragança-Miranda

A Missão Permanente da Santa Sé na ONU e a ‘Alliance DefendingFreedom’ (ADF, Aliança pela Defesa da Liberdade), vão promover umaexposição na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, sobre a vida eobra de Madre Teresa de Calcutá.A iniciativa insere-se no programa de atividades que visam assinalar emvários países a canonização da religiosa.A exposição sobre a fundadora das Missionárias da Caridade tem comotítulo 'A vida de Madre Teresa e o seu legado para a ONU', decorrendode 6 a 9 de setembro.No último dia, vai ter lugar uma conferência sobre a nova santa comtestemunhos e painéis sobre a vida e obra junto dos mais pobres davencedora do Prémio Nobel da Paz em 1979.

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Nigéria: quando o ódio está à solta nas ruas…

Vidas ameaçadasEm muitos lugares da Nigéria, osCristãos são uma comunidadeameaçada. Além do terrorismoislamita do Boko Haram, que temtrazido a morte e a destruição aonorte do país, há ainda muitoódio e intolerância à solta. Hádias, por causa de uma falsaacusação de blasfémia, umafamília inteira foi queimada vivaem sua casa. Tudo aconteceu no dia 22 deAgosto. Foram raras as notícias quecorreram mundo sobre esteepisódio de invulgar violência.Porém, ali em Talata Mafara, noEstado de Zamfara, na NigériaSetentrional, ninguém consegueesconder o horror dos gritosdaquelas oito pessoas, todas damesma família, queimadas vivas emsua casa por causa de uma falsaacusação de basfémia. Horas antes,um rapaz, jovem estudante doensino politécnico, foi acusado porum colega, muçulmano, de terinjuriado o profeta Maomé numadiscussão. Bastou isso para quetudo se precipitasse de formadramática. A discussão entre os doisdegenerou num tumulto queenvolveu quase toda a escola.

Fugir para a mortePressentindo o perigo, o jovemestudante fugiu, correndo para suacasa. Julgando estar a salvo, nãoimaginou, nem por um instante, queestava, isso sim, a condenar à mortetoda a sua família. Num instante, amultidão deixou a escola e correupara junto da casa do estudanteuniversitário, deitando fogo àhabitação. Os que presenciaram oataque não conseguem esconder ohorror dos gritos dos que estavam aser queimados vivos. Asautoridades, como acontece tantasvezes na Nigéria, chegaram tardedemais. A Igreja depressa condenoumais este episódio de extremaviolência contra a comunidadecristã, acusando as forças da ordemde serem “incapazes de perseguir eprender quem ataca os Cristãos”. Medo entre os CristãosComo se não bastasse a violênciaterrorista da responsabilidade doBoko Haram no norte da Nigéria,onde este grupo islamita pretendeinstaurar um “califado”, os Cristãosnigerianos têm

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também de conviver com acomplacência criminosa dasautoridades que não garantem aordem e segurança das populações.O ataque criminoso que vitimou oitopessoas da mesma família emTalata Mafara demonstra bem comoé pouco valiosa a vida dos cristãosem certas regiões da Nigéria.Recentemente, D. CharlesHammawa, Bispo na Diocese deJalingo, reconheceu, emdeclarações à Fundação AIS, quehá “definitivamente, muito medo deperseguição entre os Cristãos, oque

faz com que alguns comprometamou escondam a sua fé”. Por issomesmo, acrescenta este prelado,todos “aqueles que permaneceminabaláveis merecem o nosso apoioincondicional”. Imagine-se, agora, acoragem que é preciso ter para oscristãos que vivem em Talata Mafaracontinuarem a assumir publicamentea sua fé depois do públicoassassinato de uma família,queimada viva em sua casa, nopassado dia 22 de Agosto…

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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De Calcutá e do resto do Mundo

Tony Neves Espiritano

Há vidas que se transformam com opçõesradicais. A da Madre Teresa de Calcutá é umadelas. Todos conhecemos, mais ou menos, o seupercurso de vida. Albanesa, Religiosa de umaCongregação bem colocada no mundo daEducação, estava num grande Colégio quandosentiu o apelo interior a deixar tudo e partir paraonde o grito dos mais pobres chamasse por ela.E assim chegou às periferias miseráveis deCalcutá, nesta Índia de contrastes enormes.Dali a ser notada, foi um pequeno passo. AquelaIrmã vestida de azul e branco chamava a atençãode todos: dos pobres que acolhia e apoiava; dasautoridades locais que se sentiam interpeladascom a sua Missão; dos jornalistas do mundointeiro que viam naquela freira o rosto de umasanta.Como a vocação se espalha por contágio, forammuitas as mulheres que se foram juntando áMadre Teresa e assim, de dia para dia, crescia onúmero das Irmãs da Caridade, nome que MadreTeresa deu á Congregação que fez nascer emCalcutá.Porque pobres e abandonados há-os por todo olado, a Congregação foi estendendo a suaMissão ao resto do mundo. Hoje são muitas asIrmãs e muitos os países onde trabalham. Aopção inicial mantém-se: um estilo de vida muitosimples, longos tempos de oração, partilha devida com os mais pobres, dedicação absoluta aquem não conta para as nossas sociedades queexcluem mais do que integram.Muitos jornalistas iam, de propósito, a Calcutápara fazer reportagens e obter entrevistas deMadre

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Teresa. Há peças de jornalismo quesão fantásticas. Recordo apenasuma delas: depois de percorrer, comMadre Teresa, ruas e espaços deacolhimento aos pobres, umjornalista diz-lhe: ‘Por nenhumdinheiro do mundo eu fazia umatrabalho destes!’. Resposta rápida:‘Eu também não!’.O que fez correr Madre Teresapelos caminhos de Calcutá e portodas as sarjetas humanas domundo foi o Mandamento do Amor,tão bem expresso na parábola doBom Samaritano. O mundo inteiro

precisa de grandes referências e elaé sinal claro de opção pelos maispequeninos e pobres, aqueles quenão têm vez nem voz, que nem têmlugar nas estatísticas. Mas sãopessoas e, por isso, tão dignascomo todas as outras.No altar, Teresa será de Calcutá edo mundo inteiro. Será um grito pormais justiça, paz, fraternidade. OPapa Francisco, que tanto fala deuma Igreja em saída para asperiferias e margens, deve ter umorgulho enorme em canonizar estaSanta.

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Page 38: Opinião - agencia.ecclesia.pt fileA canonização de Madre Teresa de Calcutá é o reconhecimento oficial, por parte da Igreja, de uma certeza que desde cedo se implantou no coração

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