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1 Ontologia, Epistemologia e Estudos Organizacionais Críticos: a contribuição de Deleuze para uma crítica organizacional pós-estruturalista Autoria: Maria Fernanda Rios Cavalcanti, Rafael Alcadipani Resumo O presente artigo tem como objetivo analisar as possíveis contribuições da Filosofia da Diferença de Gilles Deleuze para se re-pensar a ontologia nos estudos organizacionais, segundo uma perspectiva pós-estruturalista. Acreditamos que o tema é de sumária importância para este campo, uma vez que partimos do pressuposto de que a ontologia seria o fundamento que possibilitaria se conhecer uma dada realidade através da reflexão teórica, que por sua vez serviria como base para se estabelecer o posicionamento epistemológico de uma teoria e, ultimamente, fundamentar suas escolhas metodológicas. Por outro lado, acreditamos também na relevância de se tratar desta temática especificamente segundo uma perspectiva crítica pós-estruturalista, uma vez que esta vem sendo alvo de contestações no cenário crítico brasileiro, fato este que pode, caso radicalizado, colocar em perigo a liberdade de se adotar posturas críticas que fogem de uma abordagem tradicional. Para alcançar tal objetivo, primeiramente analisaremos alguns debates recentes acerca de questões epistemológicas e ontológicas ocorridos no campo dos estudos organizacionais, nesta seção sugerimos, por um lado, o perigo de um fechamento epistemológico do campo, tomando como exemplo os estudos organizacionais críticos brasileiros e, por outro, a necessidade de se preencher uma “lacuna ontológica”, mostrando indícios de que tal questão vem sendo precariamente debatida neste campo. Buscando colaborar para este debate resgataremos, posteriormente, o pensamento de Gilles Deleuze buscando pontuar as possíveis questões ontológicas que animaram sua filosofia por meio do entendimento dos principais conceitos elaborados pelo autor. Finalmente, buscaremos localizar a vertente pós- estruturalista em relação à pós-moderna nos Critical Management Studies e ao próprio estruturalismo, com o objetivo de esclarecer algumas confusões comumente feitas entre estas abordagens, para então resgatar as possíveis implicações de uma ontologia deleuziana no estabelecimento de seus pressupostos ontológicos. Concluímos que o pensamento do filósofo francês fornece subsídios para estabelecer tais pressupostos, que iriam desde a definição do conceito de organização, à definição de um modo de se conhecer a realidade, do estatuto do sujeito cognoscente e, finalmente, da definição do que significaria ser crítico dentro de uma perspectiva pós-estruturalista, buscando justificar assim sua relevância para os estudos organizacionais. 1. Introdução O modo, por vezes desajeitado, outras vezes desconcertante, por meio do qual a perspectiva pós-estruturalista é comumente tratada e utilizada no âmbito dos estudos organizacionais nos parece evidência de uma dificuldade em se categorizar tal perspectiva dentro de paradigmas existentes no mesmo. Ao sugerirmos resgatar na filosofia deleuziana contribuições para o estabelecimento de pressupostos ontológicos para uma crítica pós-estruturalista, primeiramente é preciso se ter o cuidado de esclarecer que o objetivo deste artigo não seria o de estabelecer tal categorização

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Ontologia, Epistemologia e Estudos Organizacionais Críticos: a contribuição de Deleuze para uma crítica organizacional pós-estruturalista

Autoria: Maria Fernanda Rios Cavalcanti, Rafael Alcadipani

Resumo O presente artigo tem como objetivo analisar as possíveis contribuições da Filosofia da Diferença de Gilles Deleuze para se re-pensar a ontologia nos estudos organizacionais, segundo uma perspectiva pós-estruturalista. Acreditamos que o tema é de sumária importância para este campo, uma vez que partimos do pressuposto de que a ontologia seria o fundamento que possibilitaria se conhecer uma dada realidade através da reflexão teórica, que por sua vez serviria como base para se estabelecer o posicionamento epistemológico de uma teoria e, ultimamente, fundamentar suas escolhas metodológicas. Por outro lado, acreditamos também na relevância de se tratar desta temática especificamente segundo uma perspectiva crítica pós-estruturalista, uma vez que esta vem sendo alvo de contestações no cenário crítico brasileiro, fato este que pode, caso radicalizado, colocar em perigo a liberdade de se adotar posturas críticas que fogem de uma abordagem tradicional. Para alcançar tal objetivo, primeiramente analisaremos alguns debates recentes acerca de questões epistemológicas e ontológicas ocorridos no campo dos estudos organizacionais, nesta seção sugerimos, por um lado, o perigo de um fechamento epistemológico do campo, tomando como exemplo os estudos organizacionais críticos brasileiros e, por outro, a necessidade de se preencher uma “lacuna ontológica”, mostrando indícios de que tal questão vem sendo precariamente debatida neste campo. Buscando colaborar para este debate resgataremos, posteriormente, o pensamento de Gilles Deleuze buscando pontuar as possíveis questões ontológicas que animaram sua filosofia por meio do entendimento dos principais conceitos elaborados pelo autor. Finalmente, buscaremos localizar a vertente pós-estruturalista em relação à pós-moderna nos Critical Management Studies e ao próprio estruturalismo, com o objetivo de esclarecer algumas confusões comumente feitas entre estas abordagens, para então resgatar as possíveis implicações de uma ontologia deleuziana no estabelecimento de seus pressupostos ontológicos. Concluímos que o pensamento do filósofo francês fornece subsídios para estabelecer tais pressupostos, que iriam desde a definição do conceito de organização, à definição de um modo de se conhecer a realidade, do estatuto do sujeito cognoscente e, finalmente, da definição do que significaria ser crítico dentro de uma perspectiva pós-estruturalista, buscando justificar assim sua relevância para os estudos organizacionais. 1. Introdução

O modo, por vezes desajeitado, outras vezes desconcertante, por meio do qual a

perspectiva pós-estruturalista é comumente tratada e utilizada no âmbito dos estudos organizacionais nos parece evidência de uma dificuldade em se categorizar tal perspectiva dentro de paradigmas existentes no mesmo. Ao sugerirmos resgatar na filosofia deleuziana contribuições para o estabelecimento de pressupostos ontológicos para uma crítica pós-estruturalista, primeiramente é preciso se ter o cuidado de esclarecer que o objetivo deste artigo não seria o de estabelecer tal categorização

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paradigmática, mas, antes, trazemos a questão ontológica, que é apenas parte desta categorização, para discussão objetivando contribuir para a fundamentação desta perspectiva e para sua legitimação nos estudos organizacionais críticos brasileiros, podendo, contudo, servir como embasamento para estudos futuros acerca da questão paradigmática. Vale ressaltar que observamos atualmente, neste campo, uma certa tendência, ou perigo, de fechamento entorno da crítica tradicional e do estabelecimento de prioridades epistemológicas impositivas (veja: Paula et al, 2010; Misoczky e Andrade, 2005), caso outras perspectivas não sejam devidamente defendidas e fundamentadas. A questão ontológica serviria, portanto, como contraponto a esta tendência no âmbito epistemológico, uma vez que enxergamos neste viés a possibilidade de fugir de tais imposições e, ao mesmo tempo, contribuir para a compreensão e legitimação da abordagem crítica pós-estruturalista nos estudos críticos brasileiros. Num sentido mais amplo, acreditamos na urgência de tal empreitada, para se manter viva a possibilidade de fomentar abordagens críticas múltiplas neste âmbito, afastando a possibilidade de sufocamento pré-maturo de novos olhares. Tal objetivo nos parece premente em uma realidade marcada pela complexidade das formas de controle e dominação organizacional.

Compreendemos ontologia como o fundamento por meio do qual se torna possível construir uma teoria para se conhecer uma dada realidade. Fleetwood (2005) corrobora com esta visão ao afirmar que a ontologia seria uma parte fundamental da dinâmica de construção do saber organizacional, pois seria por meio dela que estabeleceríamos a maneira como o mundo é percebido e, portanto, ela teria influência direta em como podemos conhecer este mundo (construção de uma epistemologia), como o mesmo poderia ser investigado (por meio de metodologias e técnicas), e também qual ponto de vista ou função política poderiam ser adotados. O autor, contudo, faz uma crítica direta ao que chamou de uma ambigüidade ontológica presente na vertente pós-moderna, da qual deriva a perspectiva critica pós-estruturalista (Jones, 2009). Apesar de reconhecer o mérito desta vertente em trazer para o “radar” dos estudos organizacionais a questão ontológica, Fleetwood (2005) afirma que tal ambigüidade comprometeria a teoria organizacional, afirmando que seria necessário, para tal vertente, estabelecer comprometimentos ontológicos claros para que essa não se torne perniciosa ao desenvolvimento de teorias, pesquisas e até mesmo políticas organizacionais.

Segundo Linstead e Thanem (2007), a vertente pós-moderna também foi acusada de substituir ontologia por epistemologia, o que, na nossa visão, poderia ser um reflexo da falta de clareza em relação ao rompimento com os fundamentos estruturalistas que caracteriza, justamente, o surgimento da corrente pós-estruturalista (Jones, 2009). Para Jones (2009) o pós-estruturalismo, nos estudos organizacionais, muitas vezes falhou ao deixar clara tal ruptura, abrindo precedente, portanto, para servir como alvo de diversas críticas, inclusive no que diz respeito à sua fundamentação ontológica. O autor explica que os críticos desta vertente posicionaram o pós-estruturalismo como excessivo no que diz respeito ao seu foco na linguagem e, portanto, incapaz de se estabelecer como uma teoria crítica nos estudos organizacionais, ressaltando a necessidade de se estabelecer fundamentos ontológicos para o mesmo.

Apesar de não termos como objetivo situar a crítica pós-estruturalista dentro de um paradigma, esta lacuna ontológica sugere uma possível explicação para a impossibilidade de falar-se de um paradigma onde poderíamos localizar esta abordagem. Willmott (2005) corrobora tal dificuldade ao citar exemplos de autores definidos como pós-estruturalistas e que, de acordo com o autor, não poderiam ser

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situados dentro da famosa matriz onde Burrell e Morgan (1979) definem os paradigmas da análise organizacional.

Apesar de se tratar de uma obra publicada no final da década de 70, ainda hoje estes paradigmas são utilizados como referência frequente na teorização organizacional. Hatch e Cunliffe (2006) reconhecem a grande relevância desta publicação, e afirmam que após a mesma deu-se início a uma espécie de “guerra paradigmática” neste campo. Tal guerra sugere uma preocupação crescente em relação às questões paradigmáticas, as quais, por sua vez, refletiriam uma preocupação com os pressupostos utilizados pelos teóricos organizacionais em relação ao seu objeto de estudo, que guiam e influenciam como dada realidade pode ser enxergada e estudada (Morgan, 1990). Apesar de nos posicionarmos, de antemão, fora da polêmica paradigmática acreditamos que ao estabelecer pressupostos ontológicos em prol de uma perspectiva crítica pós-estruturalista também contribuiremos para a possibilidade de utilização da mesma em qualquer estudo que busca compreender a realidade organizacional e suas nuances, os quais também não estariam restritos ao “gueto” crítico.

Acreditamos, portanto, que a questão ontológica seja relevante, por um lado, para a fundamentação de uma perspectiva crítica pós-estruturalista, que se mostra como uma necessidade urgente no campo dos estudos críticos brasileiros e, por outro lado, ao pressupor o caráter fundamental da ontologia para a construção do saber organizacional, acreditamos que isto sugere um potencial para que esta visão crítica seja desdobrada no heterogêneo, ou seja, em outras vertentes epistemológicas nos estudos organizacionais que possam também vir a se fundamentar em tal ontologia.

Para alcançar o objetivo proposto, primeiramente analisaremos alguns dos debates acerca dos estudos organizacionais e estudos críticos e seus pressupostos ontológicos e epistemológicos, dando destaque à situação epistemológica atual dos estudos organizacionais críticos brasileiros e a uma lacuna ontológica presente nestes. Em seguida trataremos de como a questão ontológica poderia ser vista à luz da filosofia deleuziana, resgatando seus principais conceitos e buscando demonstrar como estes estabelecem uma crítica e excluem pressupostos ontológicos comumente aceitos nos estudos organizacionais. Finalmente, buscaremos localizar a vertente pós-estruturalista em relação ao Critical Management Studies e definiremos alguns pressupostos ontológicos que poderiam favorecer esta vertente crítica, com base em alguns conceitos que compõem a filosofia de Gilles Deleuze. 2. Ontologia, Epistemologia e Estudos Organizacionais Críticos

A partir do pressuposto de que todas as teorias das organizações são baseadas

aspectos filosóficos da ciência e numa teoria da sociedade, Burrell e Morgan (1979), propuseram quatro paradigmas, definindo-os por meio de pressupostos ontológicos, epistemológicos, de natureza humana e, finalmente, metodológicos. Para os autores, tal empreitada seria algo fundamental na superação de algumas das maiores fontes de confusão e desentendimentos dentro das ciências sociais de sua época, posicionando, portanto, as teorias das organizações em relação ao seu contexto sociológico mais amplo. Os autores definem a ontologia como a essência do fenômeno observado, explicando que a realidade poderia ser percebida de duas formas: a primeira, seria exterior e impor-se-ia de fora para dentro à consciência; de acordo com a segunda

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maneira, a realidade seria, ao contrário, produto de uma consciência e portanto estaria sujeita a interpretações diversas. Sendo assim, para os autores, haveria uma ontologia realista (ou objetivista) que se oporia a uma ontologia nominalista (ou subjetivista). No que diz respeito à epistemologia, Burrell e Morgan (1979) a definem como a base do conhecimento, ou a maneira por meio da qual um indivíduo pode compreender uma dada realidade e comunicar este conhecimento aos demais. Os autores, então, categorizam a epistemologia em duas possíveis abordagens: a positivista e a anti-positivista.

Para Schipper (2005) as questões inerentes ao conhecimento organizacional não poderiam ser discutidas sem a introdução de temas epistemológicos, contudo, Linstead e Tahem (2007) pontuam que apesar do sucesso em se popularizar tais preocupações meta-teóricas na análise organizacional, este campo tendeu a favorecer o lado epistemológico em detrimento ao ontológico (ver também: McKinley, 2005). Chia (1996) já havia apontado tal disparidade, ao afirmar que a teoria organizacional estaria circunscrita pelos códigos que determinam a própria organização do conhecimento, que por sua vez são, contudo, fundamentados por pressupostos ontológicos relativamente não-examinados. Tais pressupostos refletiriam a dominância de uma mentalidade cientificista da organização do pensamento, que estabelece e mantém as prioridades epistemológicas do mainstream nos estudos organizacionais. Concluímos que um exame cuidadoso destas questões filosóficas é fundamental para se criar espaço teórico que venha a possibilitar tanto a compreensão das perspectivas organizacionais tradicionais como para a conceituação e introdução de novas perspectivas de análise.

No que diz respeito à produção brasileira, ao realizar uma meta-análise dos critérios de avaliação da produção científica em administração no Brasil, Bertero et al (1998), corroboram com a visão de que a produção do conhecimento organizacional estaria circunscrita ela própria numa organização prévia, e tal fato teria as seguintes implicações: a comunidade científica estaria estratificada em termos de prestígio, imagem e status, tendo isto correlação direta com a efetividade do conhecimento produzido; existiriam conotações de centro e periferia, sendo alguns centros e indivíduos claramente mais influentes do que outros; tais centros acabam definindo e estruturando o campo de conhecimento científico. Os autores, por outro lado, defendem que haveria uma dependência entre o que chamam de visão de mundo e ciência ao qual o pesquisador se afilia e a adoção de critérios para avaliação de suas contribuições teóricas. Bertero et al (1998) concluem que o fortalecimento co campo de conhecimento em administração no Brasil “[...]requer critérios mais claros e bem definidos, ainda que se respeite a diversidade e multiplicidade de abordagens[...]” (Bertero, Caldas & Wood, 1998, p. 36).

Tendo em vista esta organização prévia do conhecimento organizacional, e as demais questões que a mesma suscita, sugerimos a urgência de se examinar e fundamentar as questões filosóficas que animam as vertentes teóricas nos estudos organizacionais críticos. Para o pós-estruturalismo tal empreitada significaria não só uma contribuição direta para o fortalecimento do campo, mas também representaria uma contribuição para que trabalhos deste cunho tenham maiores chances de terem reconhecidas suas contribuições teóricas quando submetidos à avaliação. Acreditamos que esta necessidade se impõe atualmente à teoria crítica pós-estruturalista, o que se tornaria mais urgente caso se queira preservar a possibilidade de abordagens múltiplas nos estudos organizacionais críticos no Brasil, sendo a discussão de seus pressupostos ontológicos um primeiro passo para que tais questões sejam debatidas com a devida seriedade.

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Indo na contramão em relação à preservação da diversidade de abordagens, vemos emergir nos estudos organizacionais críticos brasileiros uma certa oposição ao Critical Management Studies (CMS), baseada no argumento de que seria preciso proteger uma “tradição autônoma” no mesmo contra as influências deste movimento (Paula et al 2010). Tal argumento possui dois problemas. O primeiro é considerar que o CMS é um movimento com características epistemológicas definidas, quando na verdade trata-se de um movimento político sem grandes identidades epistemológicas. O segundo problema seria sugerir a tentativa de se criar prioridades epistemológicas para os estudos críticos neste país, semelhantes às que já são constantemente impostas pelo mainstream. Ao destacar tal oposição ou “perigo”, Paula et al (2010) afirmam que o CMS estaria baseado no pós-estruturalismo, enquanto a produção crítica brasileira teria uma base epistemológica distinta, para os autores haveria nesta produção um alinhamento epistemológico com o existencialismo e fenomenologia, conforme defendido por Guerreiro Ramos, e com o marxismo heterodoxo de Mauricio Tragtenberg e da Escola de Frankfurt, e se encaixaria finalmente no paradigma humanista radical de Burrell e Morgan (1979). Primeiramente, gostaríamos de destacar que, a nosso ver, tal oposição não procede, já que, segundo Alvesson et al (2009), o CMS é pluralista em seu fundamento, sendo o pós-estruturalismo (assim como a teoria crítica, crítica realista, dentre outras vertentes) apenas uma de suas facetas. Ainda de acordo com os autores, o movimento do CMS no decorrer de sua história se beneficiou desta pluralidade, ou seja, da ausência de uma base epistemológica dominante ou totalizante no mesmo.

Parece-nos que, se há uma oposição entre o que se chamou de “uma tradição autônoma” nos estudos organizacionais brasileiros e o CMS, esta oposição poderia ser meramente atribuída a duas posturas distintas; sendo a primeira a expressão da necessidade de fechamento do campo, de estabelecer seus “leões de chácaras” baseados numa “prioridade epistemológica” nacional que, diga-se de passagem, não parece possuir nada tipicamente nacional por usar referências amplamente aceitas nas ciências sociais modernas; e uma segunda postura, aberta e pluralista, que também reconhece os riscos que corre ao abrir mão deste centro disciplinador – sendo o maior deles o de ser confundido com o mainstream, que este nega veementemente (vemos o reflexo deste perigo em críticas feitas no Brasil ao CMS, como em Misoczky e Andrade, 2005). Ao propormos trazer a ontologia para a discussão pretendemos, por um lado, fugir desta “repressão epistemológica”, além de trazer à tona questões que fundamentariam a visão pós-estruturalista enquanto crítica. A questão ontológica nos permite pensar em como as perspectivas teóricas percebem a essência da realidade o que possibilitaria mostrar novos olhares para o objeto organizacional ao permitir enxergarmos outras formas de se perceber o mundo. É com esta intenção que propomos buscar na filosofia deleuziana possíveis contribuições para tal fundamentação ontológica.

Seguindo o pensamento deleuziano, gostaríamos de colocar no cerne de nossa questão ontológica sua crítica à representação no conhecimento. De acordo com Chia (1996), a tendência de enxergar as teorias como espelhos acurados da realidade, ao invés de abstrações representacionais arbitrárias, pode ser atribuída a uma longa tradição de comprometimento com uma ontologia realista na teorização e pesquisa organizacional, por outro lado podemos perceber uma ontologia subjetivista na vertente crítica ditas tradicional, que ainda está presa na representação na medida em que esta se apóia em pressupostos como a transcendência do sujeito. Portanto, se resgatamos as duas ontologias definidas por Burrell e Morgan (1979), vemos que se o funcionalismo, por um lado, se encaixa na lógica objetivista, e a crítica tradicional, por outro, estaria

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fundamentada por uma ontologia subjetivista, ambas as quais ainda presas a tais abstrações representacionais.

Chia (1996) coloca que tal comprometimento conseqüentemente acarreta também uma preocupação epistemológica representacionista que, por sua vez, possui implicações metodológicas para o desenvolvimento de pesquisas neste campo, demonstrando a abrangência da questão. Aqui, ainda, há o perigo de se pensar o mundo como único e os fatos como dados da realidade. Ou seja, dominação, controle, racismo seriam fatos da realidade objetiva. Seria preciso pensar em uma outra ontologia para perceber que tais fatos são, na realidade construídos, e como tais poderiam ser também modificados ou transformados.

Levando em consideração esta problemática, e a relevância da mesma para a construção teórica organizacional, nos propomos a articular uma crítica pós-estruturalista buscando pistas de como poderiam ser definidos seus pressupostos ontológicos a partir da filosofia deleuziana. Segundo Schopke (2004) o grande objetivo desta filosofia foi o de, justamente, livrar o pensamento das malhas da representação, conforme o problema explicitado por Chia (1996), mais especificamente seu fim seria o de libertar a Diferença da lógica representacionista. No tópico seguinte iremos tratar do que consistiria esta libertação, explicando o que seria tal concepção de representação, e como os conceitos de Diferença e Repetição se insurgem contra ela, e a favor de uma nova imagem do pensamento que poderia servir de base para a ontologia pós-estruturalista. 3. Diferença e Repetição: Deleuze por uma Nova Imagem do Pensamento

"Não basta abrir a janela Para ver os campos e o rio.

Não é bastante não ser cego Para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.

Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela se

abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."

(Alberto Caiero)

Apesar de afirmar haver controvérsias acerca da pertinência e fertilidade de se pensar uma ontologia segundo o pensamento de Gilles Deleuze, Craia (2009a; 2009b) afirma que nenhum outro autor do século XX teria abordado com tanto vigor renovador questões que teriam sido chamadas de ontológicas em diversos momentos da tradição filosófica. De acordo com Machado (1990) a ambição de Deleuze foi realizar – com grande inspiração em Bergson – uma filosofia da multiplicidade. Segundo o autor, tal ambição o levou, em toda sua obra, a sugerir a necessidade de se constituir uma nova imagem do pensamento, tal imagem seria oposta ao pensamento dogmático, ortodoxo, metafísico, moral, racional... Ele oporia ao mesmo um pensamento “sem imagem”, que seria pluralista, heterodoxo, ético, trágico, ontológico. Este estatuto ontológico do

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pensamento se inscreveria na superação do pensar historicamente organizado na tradição em torno das figuras centrais da essência e do fundamento (Craia, 2009a). O filósofo francês trabalhou, portanto, para criar conceitos que subsidiassem pensar desta forma, sendo um dos principais deles o conceito de Diferença. Para Lins (2005), o conceito de Diferença teria, justamente, o objetivo de reconstruir desta forma a imagem que nós fazemos dos pensamentos e das idéias, que numa visão tradicional estaria ultimamente ligada a formas de representação.

Deleuze (2006b) também utiliza o conceito de Repetição para operar uma crítica à generalidade. Segundo o mesmo, essa apresentaria duas grandes ordens: uma ordem qualitativa das semelhanças e uma ordem quantitativa das equivalências. O autor argumenta que, em ambos os casos, a generalidade exprimiria um ponto de vista onde um termo qualquer poderia ser trocado ou substituído por outro. Deleuze (2006b), por outro lado, defenderia que a repetição seria uma conduta necessária e fundada em relação ao que não pode ser substituído. Deleuze (2006b) afirma que se a repetição é possível ela é mais da ordem do milagre do que da lei, e o que ela exprime seria “uma singularidade contra o geral, uma universalidade contra o particular, um notável contra o ordinário, uma instantaneidade contra a variação, uma eternidade contra a permanência” (Deleuze, 2006b, p. 21). Este argumento contesta, portanto, o pressuposto de que, em pesquisas, possamos colocar como equivalentes uns aos outros elementos, organizações, ou pessoas distintas, ao colocá-los sob uma mesma classificação ou legenda. É segundo esta visão que o filósofo francês propõe sempre extrair da repetição algo novo, extrair-lhe a diferença, para Deleuze a diferença habita a repetição, e a repetição existe para a diferença. É neste sentido que Deleuze acrescenta a dimensão intensiva a seu pensamento, que se distingue tanto da qualidade quanto da quantidade: se a Diferença habita a Repetição, então a intensidade seria a forma da diferença como razão do sensível, ou seja, a razão suficiente do fenômeno (Machado, 2009). Desta forma, já podemos ver que se sugerimos falar de uma ontologia segundo a filosofia deleuziana, a própria definição de ontologia dada por Burrell e Morgan (1979) torna-se insuficiente, uma vez que o fenômeno não possuiria uma essência a ser investigada (de forma objetivista ou subjetivista), mas sim uma razão diferencial e intensiva, não sendo nem produto de uma consciência e nem um estado de coisas previamente estabelecido e imposto.

Esclarecendo como estes conceitos desafiam a razão cientificista, Shopke (2004) explica que a ciência operaria, de um modo geral, segundo generalidades. Isso significaria dizer, por exemplo, que uma folha é equivalente a outra qualquer pode ser substituída sem grandes perdas para o investigador. A autora esclarece que o caráter diferencial, de forma ampla, não interessa à ciência, mas sim aquilo que a folha, retomando este exemplo, poderia ter de similar com as outras, o que permitiria a esta ser, portanto, identificada e classificada segundo uma generalidade. Não se pode, desta forma, confundir a repetição de Deleuze com a generalidade da ciência, uma vez que esta é, para o autor, sempre “transgressora”, indo em direção oposta às leis que impediriam qualquer coisa de retornar: Para Deleuze, “[...] só à diferença é dado o direito de retornar, a cada novo ciclo, a cada novo instante.” (Schopke, 2004, p. 36). E a diferença, por sua vez, não poderia ser substituída ou “domada” por uma generalidade qualquer.

Deleuze (2006b) seguiu as intuições de Gabriel Tarde1 para elaborar seus conceitos de Diferença e Repetição, e segundo o mesmo seria inteiramente falso reduzir a sociologia de Tarde a um psicologismo, conforme fizeram os durkheimnianos (Vargas, 2007). O que o sociólogo censuraria em Durkheim seria, justamente, tomar

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como dado o que se precisaria explicar, isto é, “a similitude de milhões de homens” (Deleuze, 2006b). Segundo Vargas (2007), ao contrário da sociologia marcadamente identitária de Durkheim, a sociologia projetada por Tarde opera na diferença infinitesimal. O autor resume que, basicamente, o que o sociólogo propõe é “substituir o grande pelo pequeno, as totalidades e as unidades pelas multidões”. Gil (2005) nos dá um exemplo interessante de como poderíamos compreender tais “diferenças infinitesimais” e como estas, mesmo não suficientes para alterar a qualidade da coisa em si, podem alterar a percepção que temos da mesma, o exemplo dado foi o de um sorriso “imperceptivelmente” hipócrita:

[...] um novo contexto criado por uma ínfima mudança de um ou dois elementos [o deslocamento provocado por um olhar penetrante, por exemplo]: mudança não suficiente para que a qualidade sorriso se altere de maneira perceptível e já bastante eficaz para fazer surgir uma diferença de contexto que perturbe (“imperceptivelmente”) a percepção do sorriso [...] (Gil, 2005, p. 25).

“O véu se rasga”, Foucault (2005) afirma que Deleuze faz com que a imagem que o pensamento havia feito de si mesmo segundo uma lógica representacionista e centrada entorno do sujeito (ontologia subjetivista) e da verdade (ontologia objetivista) seja totalmente subvertida. Acreditava-se que o pensamento era bom, uno e que afastava o erro. Mas, ao libertá-lo da soberania do sujeito, o pensamento aparece nu “[...] mau, paradoxal [...] devendo afastar incessantemente sua estupefaciente tolice; submisso, obcecado, forçado pela violência dos problemas” (FOUCAULT, 2005, p. 143). O pensamento, então subvertido, seria “gesto, salto, discordância extrema”. A filosofia da representação termina, e se inicia a da diferença: onde se pode, de fato, pensar a diferença e a repetição, não no sentido abstrato da representação, mas no sentido concreto do jogo, fazendo-as com as próprias mãos e palavras (daí sua característica pragmática):

[...] [tal pensamento] permitirá distinguir o que a representação buscava reunir; ele atuará a perpétua repetição da qual a metafísica obstinada buscava a origem. Não mais se perguntar: diferença entre o que e o quê? Diferenças delimitando que espécies e repartindo que grande unidade inicial? Não mais se perguntar: repetição do que, de qual acontecimento ou de que modelo primário? Mas pensar a semelhança, a analogia ou a identidade como tantos meios de velar a diferença e a diferença das diferenças; pensar a repetição, sem origem do que quer que seja e sem o reaparecimento da mesma coisa. (Foucault, 2005, p. 143)

Segundo Craia (2005) quando Deleuze fala de ontologia, ele estaria apontando a questão do ser, pensar a diferença por meio do Ser, ou seja, pensar diferença e ser. Por outro lado, o mundo da diferença não é nem o mundo extenso (qualitativo) nem o mundo mensurável (quantitativo), mas sim um mundo intenso e pré-sensível, daí a insuficiência das ontologias subjetivistas e objetivistas para tratar de uma realidade tomada desta forma, o que acarreta também posicionamentos epistemológicos e

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escolhas metodológicas equivocadas para tratar da realidade vista desta forma. O paradoxo deste mundo poderia ser explicado, segundo o autor, pelo fato de que a diferença não seria o dado, mas sim aquilo pelo qual o dado se dá. Além de uma crítica à metafísica, Deleuze (2006a) usa tais argumentos para apresentar uma crítica também à ciência, afirmando que se a ciência é um conhecimento real da coisa, um conhecimento que espelha a realidade, o que ela perde não seria exatamente “a coisa”, mas a diferença da coisa, ou seja, o seu ser, o que faz com que ela seja isto e não outra coisa. O autor declara novamente sua inspiração em Bergson para afirmar que qualquer empirismo, que seja digno deste nome, deve tratar o ser como diferença, e não como imutável ou indiferente (e por isso atribuível a generalidades qualitativas ou quantitativas).

Para Pal-Pelbart (2007) esta concepção ontológica da diferença seria atribuível a um “campo” virtual, das diferenças infinitesimais, prévio à gênese mesma de um sujeito e de um objeto, porém, o autor afirma que haveria muitas dificuldades em se deixar afirmar este campo na tradição filosófica, e que para compreendê-lo seria também preciso recuar para aquém do sujeito, para um campo pré-individual ou assubjetivo: “Procuramos determinar um campo transcendental impessoal e pré-individual, que não se parece com os campos empíricos correspondentes e que não se confunde, entretanto, com a profundidade indiferenciada” (Deleuze, 2007, p. 105). Para Badiou (1997) tal concepção do “virtual”, e seu duplo virtual/atual, é o principal nome do Ser. Segundo Deleuze (1997), o processo do virtual é atualizar-se: tratar-se-ia da própria existência, é a partir de sua atualização que a existência é produzida. Para Craia (2009), o virtual seria o conceito-chave para se compreender e organizar a ontologia deleuziana, na medida em que seu movimento constituiria a existência em si. Ao adotar tal visão Deleuze opera uma crítica sumária ao Eu unificador e individualizante de Kant e também à fenomenologia, que a seu ver operaria uma redução fenomenológica ao transformar o mundo em um sistema de fenômenos, fato este que abriria o campo da experiência como horizonte de uma subjetividade transcendental. Para Alliez (1996), em nome da anárquica diferença Deleuze empreendeu, assim, a exclusão de todos os princípios transcendentais (as formas de Deus, do Mundo e do Eu), fundando sua filosofia para que essa possa tratar das coisas em seu estado selvagem e insubmisso, longe de qualquer predicado antropológico. O autor chamou de uma radicalidade especulativa de sua ontologia o fator determinante para um materialismo filosófico enfim revolucionário. Segundo esta visão, o ser iguala-se ao aparecer para uma subjetividade prática, que não seria nem teórica nem psicológica, que se definiria por um movimento de subjetivação. Deleuze e Guattari (2007) listaram os quatro grandes erros que afastaram – e ainda afastam – a possibilidade de pensar desta forma que os autores chamam de imanente: de início a ilusão da transcendência; depois a ilusão dos universais; depois, ainda, a ilusão do eterno; e finalmente a ilusão da discursividade. Tais visões afastariam a possibilidade de se pensar no que há de fato, e o que haveria, segundo Deleuze (1992), seriam apenas processos: “[...] Esses processos operam em ‘multiplicidades’ concretas, sendo a multiplicidade o verdadeiro elemento onde algo se passa. São as multiplicidades que povoam o campo da imanência” (Deleuze, 1992, p. 182). Contudo, Pal-Pelbart (2003) tem o cuidado de afastar o pensamento de Deleuze do que chamou de um “júbilo/lamúria/volúpia” pós-moderno, que se apressa e se contenta em profetizar, desta forma catastrófica, “o fim do sujeito ou da história, da metafísica ou da filosofia, das metanarrativas ou da totalidade, da ideologia ou da revolução, do real ou mesmo das artes” (Pal-Pelbart, 2003, p. 181). E, no entanto, o que Deleuze anunciaria seria um outro espaço, um outro mundo no qual acreditar, onde

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caberia a experimentação a partir das forças do presente, sem qualquer princípio transcendental e, portanto, imanente, múltiplo e processual. Nenhum ódio pelo mundo, nenhum ressentimento, nenhuma negatividade, mas tampouco complacências em relação ao que haveria de intolerável no presente e, sobretudo, uma abertura extrema à multiplicidade contemporânea. Daí, também, o caráter combativo, ou crítico, de sua filosofia.

Para Deleuze (2007) a filosofia se confunde, desta forma, com a ontologia e a ontologia se confundiria com a univocidade do ser: o que não significa que haja um só e mesmo ser, mas os existentes seriam múltiplos e diferentes. Badiou (1997) afirma que, nesse sentido, toda proposição filosófica para Deleuze é a “proposição ontológica”. Seja a diferença, Alliez (1996) coloca, justamente, que esta seria a primeira proposição do pensamento deleuziano: a filosofia deve constituir-se como teoria do que fazemos, não teoria do que é. Tal filosofia coloca em seu âmago a ontologia do presente em relação ao que se faz, ou seja, as práticas do dia-a-dia. É desta forma que tal posicionamento em relação à realidade escapa de uma ontologia subjetivista, a partir da qual fala-se de múltiplas interpretações a partir do sujeito transcendente, e também da ontologia objetivista, que trata da realidade como única e impositiva. Tal ontologia do presente fundamenta-se no fato de que se pode pensar a multiplicidade da realidade por si própria, onde as próprias repetições se dão pela diferença, excluindo, portanto, instâncias transcendentais e de representação. Pal-Pelbart (2005) afirma que se levamos em consideração o pensamento ontológico de Deleuze podemos compreender por que ele ficou alheio aos debates sobre o pós-modernismo. Contudo, podemos aproximar tal pensamento do que se convencionou chamar de pensamento pós-moderno nos estudos organizacionais uma vez que, segundo Alvesson (2002), esta também teria a crítica à representação e ao conceito de identidade no cerne de suas preocupações. No tópico a seguir primeiramente buscaremos posicionar uma perspectiva pós-estruturalista em relação à pós-moderna e, posteriormente, apontaremos como o pensamento de Deleuze poderia ser aproximado (ou afastado) desta perspectiva e, consequentemente, servir de subsídio para que re-pensemos uma ontologia nos estudos organizacionais segundo tal perspectiva. 4. Suposições Ontológicas para uma Crítica Pós-estruturalista: do sujeito à prática

“Gilles, to nous manques, mais on se débrouille” Pichação feita num monumento em homenagem a Deleuze (Pal-Pelbart, 2005, p. 184)

Para Seidman (1998), o pós-estruturalismo – assim como o pensamento

deleuziano, conforme já vimos – sugere uma perspectiva crítica em relação às vertentes dominantes do pensamento ocidental. Assim como o pensamento de Deleuze, esta vertente também promoveria uma crítica sumária ao iluminismo, base da imagem do pensamento construída pela razão moderna que foi severamente criticada pelo filósofo francês, como já vimos. Contudo, na opinião do autor, algumas “esperanças sociais” do iluminismo são preservadas no pós-estruturalismo – como o pluralismo e a democracia

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– segundo uma visão social pós-moderna (Seidman, 1998). Há uma evidência, portanto, de que apesar de propor um outro olhar sobre a realidade tal vertente não pretenderia se impor como modo de pensar único, sendo que desta forma estaria fadada a cair em contradição.

Segundo Alvesson (2002), o termo pós-estruturalismo se originou no estruturalismo, entretanto, enquanto o movimento originário tirava o foco da centralidade do sujeito e focava sua atenção na busca por padrões e estruturas, argumentando que o fenômeno individual só adquire sentido em virtude de sua relação com outros fenômenos enquanto elementos de uma estrutura, o pós-estruturalismo desafia a própria idéia de estrutura, incluso a idéia de um centro fixo, uma hierarquia de sentidos e de uma fundação sólida. Contudo, o pós-estruturalismo herda algo de fundamental presente no estruturalismo: seu anti-humanismo, ou seja, sua posição crítica em relação à filosofia humanista, em especial ao existencialismo (Seidman, 1998). Ainda segundo Alvesson (2002), tanto o pós-estruturalismo quanto o pós-modernismo seriam designações que são utilizadas de maneiras diversas, o que torna impossível se estabelecer qualquer relação definitiva entre as duas vertentes.

No que diz respeito à base filosófica destas vertentes, Hassard (1996) também frisa o fato de que a abordagem pós-moderna rejeita a relação unívoca entre formas de representação e um mundo exterior objetivo, sendo que no nível analítico pós-moderno o foco estaria nas regras que se baseiam em práticas que precedem a subjetividade. Isto sugere, portanto, que há nesta vertente também uma continuidade com o estruturalismo em relação à crítica à filosofia da consciência, assim como no pós-estruturalismo. Contudo, Alvesson (2002) acredita que a melhor maneira de descrever a diferença entre o que a maioria dos autores tem em mente quanto se referem a ambos os “pós” seria a seguinte: enquanto os pós-modernistas são mais orientados para uma crítica cultural mais ampla, os pós-estruturalistas, por sua vez, enfatizariam questões de métodos e epistemologia. Hassard (1996) corrobora com tal visão, e aprofunda a relação, ao afirmar que a noção de pós-modernismo enquanto uma epistemologia refletiria o desenvolvimento de uma vertente pós-estruturalista. Desta forma, a proposta de tratar de uma ontologia segundo uma perspectiva pós-estruturalista seria, também, uma forma de escapar de críticas de que esta não levaria a questão ontológica em consideração.

De acordo com Linstead e Tahem (2007), a proposta filosófica/ontológica de Deleuze faz com que a organização, e suas múltiplas facetas, seja mais do que uma série de oposições e diferenças, fazendo com que o conceito de organização adquira uma significância ontológica e vital. Para definirmos tal significância acreditamos ser necessário, primeiramente, definir como podemos compreender tal conceito de organização segundo uma visão deleuziana, que a nosso ver estaria diretamente ligada a uma visão pragmática. Tal definição torna-se relevante também, pois, segundo Styhre (2001), a idéia de organização ainda estaria sujeita a discussões no campo dos estudos organizacionais.

Segundo Schatzki (2005), um representante da abordagem pragmática nos estudos organizacionais, as organizações seriam fenômenos sociais, compostas de práticas e ações (por um lado) e arranjos materiais que suportariam as últimas, por outro. Enxergamos na definição do autor a possibilidade de aproximar o conceito de organização ao conceito de agenciamento, conforme proposto por Deleuze e Guattari (1995a; 1995b). Seguindo o pressuposto ontológico de uma realidade imanente e livre das esferas da representação e transcendência, os autores sugerem que tal realidade seria composta apenas por práticas de toda natureza, e seriam justamente os agenciamentos os dispositivos capazes de realizar mutações e transformações nas ordens existentes.

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Assim, a organização também poderia ser vista como um agenciamento ou um conjunto dos mesmos, a partir do momento que a enxergamos como um conjunto de práticas.

Para os autores existiriam dois tipos de agenciamento: os agenciamentos maquínicos de desejo e os agenciamentos coletivos de enunciação. Para Deleuze e Guattari (1995a; 1995b) os agenciamentos não poderiam ser reduzidos a mero estado de coisas, mas neles a expressão tornar-se-ia um regime semiótico (agenciamento coletivo de enunciação) e o conteúdo um sistema pragmático de ações e paixões (agenciamento maquínico de desejo). Indo mais a fundo na definição de seu conceito de agenciamento, Deleuze e Guattari (1995b) afirmam que além de possuir um eixo horizontal (composto de conteúdo e expressão), ele possuiria também um eixo vertical composto de movimentos de territorialização e desterritorialização, responsável por colocar em movimento o primeiro. Sendo assim, além de incorporar as práticas, ações e arranjos materiais, conforme o conceito de organização enquanto fenômeno social dado por Schatzki (2005), o conceito de agenciamento de Deleuze e Guattari (1995a, 1996b) incorpora também o acontecimento, ou seja, a dimensão temporal da organização que a permite estar em constante movimento e transformação.

Guattari (1988) diz que duas atitudes (ou políticas) seriam possíveis face à forma: uma posição formalista baseada em formas transcendentes, universais, e separadas da história, e uma posição que parte de formações sociais e de agenciamentos para daí extrair componentes semióticos e possibilidades de transformação. O autor coloca que o pensamento dos agenciamentos e dos maquinismos trata de práticas de toda natureza que se situam na perspectiva de mutações e de transformações das ordens existentes, ou seja, onde tratamos de formas compõem-se e decompõem-se (em movimentos de territorialização e desterritorialização). Podemos concluir que tanto o conceito de organização, em consonância com o conceito de agenciamento, quanto a atitude que se pode tomar frente a ela defendida por Guattari (1988), podem ser aproximados de uma perspectiva pós-estruturalista uma vez que, conforme definido por Jones (2009), tal perspectiva tem como base um anti-essencialismo que também é pressuposto dos mesmos.

Ao tomar como base uma ontologia deleuziana, que toma a realidade como um conjunto de práticas, imanente e insubmissa a qualquer forma transcendental ou de representação, afastamos também a crítica pós-estruturalista de uma acusação comumente direcionada às vertentes pós-modernas nos estudos organizacionais: a de que estas, segundo Reed (1999), correriam o risco de cair numa onda de relativismo que estaria fadada ao isolacionismo. Ao contrário, ao privilegiar uma ontologia do devir (processual e pragmática), abre-se a possibilidade de problematizarmos o presente e o é feito nas organizações contemporâneas, levando em consideração não só aspectos históricos (que estão consubstanciados em suas práticas), mas também abrindo tais práticas para novas possibilidades a partir da potência de compreensão e problematização embutida em tal perspectiva. Tal perigo de estar sujeita a um isolacionismo é afastado uma vez que esta vertente levanta tanto questões epistemológicas, de cunho teórico e histórico, quanto ontológicas de ordem pragmática, abrindo caminho, justamente, para que a teoria, prática e crítica não possam mais ser tratadas separadamente, uma vez que pressupõe uma relação imanente entre estas instâncias.

Desta forma, a importância de se estabelecer pressupostos filosóficos (epistemológicos e ontológicos) para a fundamentação do pós-estruturalismo enquanto vertente crítica estaria em consonância com filosofia deleuziana também na medida em que Deleuze (2006c) afirma que esta seria imediatamente prática, conforme já vimos, e

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também crítica: o autor afirma que a filosofia, tal como ele a concebe, é inseparável de uma crítica implacável. Contudo, ressaltamos que haveria em sua concepção duas maneiras de criticar: a primeira consistiria em criticarem-se as “falsas aplicações” (a falsa moral, a falsa religião, o falso conhecimento, os falsos críticos...). Esta crítica estaria conforme a concebida por Kant e grande parte dos adeptos da teoria crítica nas organizações, da qual sairiam suposições de ideal de conhecimento, verdadeira moral, verdadeiros críticos... Por outro lado, haveria, justamente, os críticos da verdadeira moral, da verdadeira fé, dos verdadeiros críticos. Estes críticos agiriam em função da nova imagem do pensamento conforme a proposta por Deleuze, já que esta tem como objetivo afastar, justamente, a primazia de um modo de pensar engendrado historicamente a partir da razão iluminista.

Levando em consideração tal imagem gostaríamos, portanto, de desenhar algumas conclusões temporárias no que diz respeito aos pressupostos ontológicos de uma crítica pós-estruturalista por meio do resgate dos conceitos da filosofia deleuziana tratados neste trabalho:

- Repetição enquanto Diferença: A organização, segundo esta ótica, poderia ser vista como um modelo positivo e singular de ação; conforme a noção de agenciamento. Ela impõe, por outro lado, uma série de modelos em constante transformação que por sua vez dariam a possibilidade de saber, prever e projetar; - Atualização Virtual-Atual: A realidade não seria um dado a priori, mas se constituiria no movimento de atualização do virtual (diferença); - Singularidades pré-individuais: Nem o sujeito nem o social atribuem sentido a um elemento; - Filosofia enquanto ontologia e crítica: A filosofia deve ser vista como o exercício do ser, no campo teórico este seria o exercício de criação de conceitos – é, portanto, uma filosofia que extrapola a si própria. É imediatamente crítica, uma vez que tais conceitos devem servir para resolver situações locais: daí sua característica empirista, pois estes conceitos não falariam em nome de Deus nem do Eu, mas serviriam a uma coerência sempre por vir.

A crítica pensada desta forma não consistiria em dizer que as coisas não seriam

como elas são, ou seja, o tipo de crítica que denuncia a falsidade em prol de um verdadeiro ideal. Ela seria bastante concreta na medida em que consistiria em extrair evidências de modos de pensamento adquiridos sem reflexão que repousam sobre práticas que aceitamos, ou seja, sobre os agenciamentos que criamos. Gostaríamos, finalmente, para que pensemos na importância da abertura de espaço e constituição desta forma de pensar para a crítica contemporânea, de citar Foucault (2010):

É preciso se liberar da sacralização do social como única instância do real e parar de considerar como vã essa coisa essencial na vida humana e nos relacionamentos humanos, quero dizer, o pensamento. O pensamento, isso existe além e aquém dos sistemas, dos edifícios do discurso. É alguma coisa que às vezes se esconde, mas sempre anima os comportamentos cotidianos. Há sempre um pouco de pensamento, mesmo nas instituições mais bobas, há sempre pensamento, mesmo nos hábitos mais mudos (Foucault, 2010, p. 356)

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Para o autor fazer uma crítica seria, justamente, expulsar este pensamento, esforçar-se para modificá-lo, e apesar de não rogar uma suposta falsidade, demonstrar como as coisas não seriam tão evidentes quanto parecem ser; não existiria uma “crítica ideal” que se contraporia a uma “transformação real”: ela tornaria difícil os gestos mais corriqueiros, colocando-os em estado latente, e em constante transformação. Acreditamos que tais pressupostos ontológicos subsidiam, justamente, este posicionamento crítico que estaria em consonância com a perspectiva pós-estruturalista nos estudos organizacionais. Tal posicionamento estaria também em consonância com o “estilo de pensar pós-moderno” que, segundo Chia (1995) acentuaria a significância, prioridade ontológica, e análise da “micro-lógica” das práticas de organização social.

5. Considerações Finais Resumindo nossas conclusões, ao adotarmos os conceitos de Diferença e

Repetição, conforme definidos na filosofia deleuziana, estamos assumindo um pressuposto ontológico principal, o de que a realidade seria um conjunto de práticas imanentes, múltiplas e processuais. Dentro deste pressuposto o conceito de organização pode ser aproximado do conceito de agenciamento, uma vez que esta poderia ser vista como um dispositivo ou um conjunto de práticas capazes de realizar mutações na própria realidade, ela também seria singular, e em estado de constante transformação; sendo assim nem realidade como um todo ou as organizações em específico poderiam ser vistas como um dado a priori que se impõe à consciência, ou mesmo como produto de uma consciência, mas como um movimento pré-individual (e, consequentemente, também pré-social) de atualização da diferença e, portanto, não atribuível a uma generalidade qualquer; como conseqüência destes pressupostos, a crítica, uma vez que segue uma “micro-lógica”, deve ser vista como inseparável tanto das práticas mais corriqueiras quanto de um exercício de pensamento embutido nestas mesmas práticas, daí seu poder de intervenção e transformação das mesmas.

Neste artigo levantamos uma série de questões ontológicas importantes não só para a fundamentação de uma crítica pós-estruturalista, mas para os estudos organizacionais como um todo, haja vista que estas possuem implicações em todas as esferas da construção do saber organizacional. Uma crítica pensada desta forma não se restringiria ao “gueto” crítico, sendo relevante para qualquer um interessado no desenvolvimento da teoria organizacional, a partir do momento em que possibilita uma abordagem alternativa apta a acolher as singularidades e a favorecer novos olhares acerca das práticas constantemente produzidas, re-produzidas e transformadas nas organizações contemporâneas. Sugerimos para estudos futuros que esses tratem das conseqüências metodológicas de se adotar os pressupostos conforme os estabelecidos neste trabalho, conseqüências estas que, apesar de constatarmos sua existência, não foram abordadas no presente artigo. Abordar quais seriam tais conseqüências e a extensão das mesmas seria de suma importância para o desenvolvimento de pesquisas que desejam se valer desta perspectiva crítica.

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6. Notas 1 Gabriel Tarde (1843-1904) foi um sociólogo cujas idéias foram em grande parte contestadas por Durkheim, apesar de seus trabalhos terem sido traduzidos para muitas línguas os mesmos caíram em esquecimento já em meados da década de 70. Gilles Deleuze foi um dos únicos intelectuais de sua época a citar e inspirar-se em Tarde em sua obra, contudo, já na década de 90, deu-se início a um interesse renovado pelo autor (Czarniawska, 2009), Latour (2002) afirma que hoje seu pensamento re-aparece de forma instigante e ainda original. 7. Referências Bibliográficas

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