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Oliveiras  Epamig aposta no p otencial da azeitona e do pur o azeite de Minas A lenda diz que no reinado de Cécrope, primeiro governante de uma das cidades gregas mais prósperas e ricas da Antiguidade, duas divindades disputavam a preferência e a adoração do povo: Poseidon, rei dos mares, irmão do próprio Zeus, e Atenas, deusa da saedoria, padroeira das artes !teis e ornamentais" Para que a decisão fosse #usta, os outros deuses  proclamaram que a cidade seria dada como prêmio $q uele que oferecesse aos mortais o presente mais !til" %mediatamente, Poseidon fez sair das &guas o cavalo" Atenas, por sua vez, ofereceu a oliveira" 's deuses decidiram que o segundo presente era mais !til" A cidade foi concedida a Atenas, que l(e deu seu nome, e até (o#e a oliveira é con(ecida como s)molo de vitória, paz e prosperidade" A oliveira é uma das plantas mais antigas cultivadas pelo (omem" *a +acia do editerr-neo, onde tem sua origem, espal(ou.se para o resto do mundo" A &rvore c(egou ao +rasil (& muitos séculos, trazida por imigrantes europeus" Pelo seu simolismo, era muito comum encontrar oliveiras pró/imas a igre#as e capelas durante o  per)odo do +rasil Col0nia" 1uan do o pa)s começou a aprese ntar uma  pequena produção , a fam)lia real, com medo de que o prod uto da col0nia concorresse com o da metrópole portuguesa, ordenou o corte das &rvores" 2ovo crescimento da cultura só foi perceido após 3456, com o aumento das imigraç7es européias após a 8"9 uerra undial" ;oi mais ou menos nessa época que as primeiras oliveiras apareceram no <ul de inas erais, pela iniciativa de pequenos produtores da região" Apesar de certas regi7es do pa)s possu)rem as condiç7es ideais para o desenvolvimento da olivicultura = a temperatura média anual oscilando entre 3> e 88o C é a principal =, ela não possui tradição no +rasil" ?o#e, o pa)s é dependente da importação para aastecimento interno" 's azeites comprados nos supermercados, por e/emplo, vêm de fora ou utilizam matéria.prima estrangeira" A pouca oferta do produto no mercado  rasileiro tem levado v&rias ind!strias de co ndimentos a misturarem óleo de so#a no azeite vendido ao consumidor" ' rótulo de algumas composiç7es mostra que essa mistura pode apresentar até @6 de so#a" *e acordo a <ecretaria de Comércio B/terior <ece/D do inistério do *esenvolvimento, %nd!stria e Comércio B/terior, o +rasil gastou, só no ano passado, E<F G3 mil(7es com a importação de azeite de oliva e outros E<F 8G,@ mil(7es com a de azeitonas" 2ão (&  produção nacional significativa" As e/portaç7es dos dois iten s, que somaram E<F 3HH mil nesse mesmo per)odo, são apenas repasses de empresas que importam de pa)ses pró/imos e revendem no e/terior" Em pro#eto da Bmpresa de Pesquisa Agropecu&ria de inas erais BpamigD promete reverter esse quadro" Iraal(os com o cultivo e a  propagação das o liveiras estão sendo d esenvolvidos na ;azen da B/perimental de aria Luiz Eugênio Santana de Matos, pesquisador da Epamig. Mudas de diversas variedades são cultivadas e estudadas no local. Oliveiras da fazenda experimental da Epamig, boa adaptaão de variedades estrangeiras e produtividade acima da m!dia.

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Oliveiras Epamig aposta no potencial da azeitona e do puro azeite de MinasLuiz Eugnio Santana de Matos, pesquisador da Epamig.

A lenda diz que no reinado de Ccrope, primeiro governante de uma das cidades gregas mais prsperas e ricas da Antiguidade, duas divindades disputavam a preferncia e a adorao do povo: Poseidon, rei dos mares, irmo do prprio Zeus, e Atenas, deusa da sabedoria, padroeira das artes teis e ornamentais. Para que a deciso fosse justa, os outros deuses proclamaram que a cidade seria dada como prmio quele que oferecesse aos mortais o presente mais til. Imediatamente, Poseidon fez sair das guas o cavalo. Atenas, por sua vez, ofereceu a oliveira. Os deuses decidiram que o segundo presente era mais til. A cidade foi concedida a Atenas, que lhe deu seu nome, e at hoje a oliveira conhecida como smbolo de vitria, paz e prosperidade.

Mudas de diversas variedades so cultivadas e estudadas no local.

A oliveira uma das plantas mais antigas cultivadas pelo homem. Da Bacia do Mediterrneo, onde tem sua origem, espalhou-se para o resto do mundo. A rvore chegou ao Brasil h muitos sculos, trazida por imigrantes europeus. Pelo seu simbolismo, era muito comum encontrar oliveiras prximas a igrejas e capelas durante o perodo do Brasil Colnia. Quando o pas comeou a apresentar uma pequena produo, a famlia real, com medo de que o produto da colnia concorresse com o da metrpole portuguesa, ordenou o corte das rvores. Novo crescimento da cultura s foi percebido aps 1945, com o aumento das imigraes europias aps a 2. Guerra Mundial. Foi mais ou menos nessa poca que as primeiras oliveiras apareceram no Sul de Minas Gerais, pela iniciativa de pequenos produtores da regio.

Apesar de certas regies do pas possurem as condies ideais para o desenvolvimento da olivicultura a temperatura mdia anual oscilando entre 17 e 22o C a principal , ela no possui tradio no Brasil. Hoje, o pas dependente da importao para abastecimento interno. Os azeites comprados nos supermercados, por exemplo, vm de fora ou utilizam matria-prima estrangeira. A pouca oferta do produto no mercado brasileiro tem levado vrias indstrias de condimentos a misturarem leo de soja no azeite vendido ao consumidor. O rtulo de algumas composies mostra que essa mistura pode apresentar at 85% de soja.

Oliveiras da fazenda experimental da Epamig, boa adaptao de variedades estrangeiras e produtividade acima da mdia.

De acordo a Secretaria de Comrcio Exterior (Secex) do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, o Brasil gastou, s no ano passado, US$ 61 milhes com a importao de azeite de oliva e outros US$ 26,8 milhes com a de azeitonas. No h produo nacional significativa. As exportaes dos dois itens, que somaram US$ 100 mil nesse mesmo perodo, so apenas repasses de empresas que importam de pases prximos e revendem no exterior.

Um projeto da Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais (Epamig) promete reverter esse quadro. Trabalhos com o cultivo e a propagao das oliveiras esto sendo desenvolvidos na Fazenda Experimental de Maria da F, no Sul do Estado. Hoje, esse o nico centro de pesquisa brasileiro a trabalhar com a olivicultura. Alguns resultados interessantes j so percebidos, principalmente no que se refere produtividade. Pelas caractersticas da oliveira, muitos duvidavam que fosse possvel produzi-la no Brasil. No s provamos que possvel, como acreditamos que essa uma das culturas mais promissoras para o pas atualmente, destaca Luiz Eugnio Santana de Matos, engenheiro agrnomo e pesquisador da Epamig.

Mais produtivas e precocesAo lado do clima de montanhas e das belezas naturais, as oliveiras so atrao turstica em Maria da F. Trazidas por pequenos produtores da regio, elas enfeitam as ruas e praas da cidade.

O trabalho com as oliveiras ganhou novo flego com a chegada de Matos Fazenda Experimental, em 1998. At ento, as pesquisas se resumiam a um programa de cruzamento e seleo gentica de material importado da Europa. As sementes estrangeiras eram numeradas e, ento, esperava-se a planta crescer para avaliar qual clone se adaptaria melhor ao clima da regio. Um elemento que dificultava o trabalho era o tempo de espera: normalmente, a oliveira demora de dez a doze anos para chegar idade adulta e produzir frutos. Essa caracterstica foi uma das responsveis, no passado, pela desistncia de vrias pessoas interessadas em iniciar o cultivo. O tempo entre o investimento inicial e o incio da produo era impraticvel para os pequenos produtores locais.

Esse o foco do trabalho desenvolvido nos ltimos anos. A Fazenda possui cerca de 50 variedades de oliveiras provenientes de vrias partes do mundo que se comportam bem em Minas Gerais. Entre elas, esto a italiana grappolo, destinada extrao de leo de oliva, e a italiana ascolana, mais indicada para produo de azeitonas de mesa. Isso significa que o azeite brasileiro tem tudo para ser to bom quanto o portugus, um dos mais tradicionais. O desafio dos pesquisadores, assim, era fazer com que as rvores produzissem mais, em tempo menor. A resposta veio atravs da tcnica de enxertia.

Para isso, os pesquisadores colhem a fruta nem muito verde, nem muito madura, e separam o caroo. Este colocado na geladeira durante certo tempo e, depois, plantado nas sementeiras. No local, elas germinam e crescem. Quando atingem de oito a 12 centmetros, realizado o enxerto com um galho da planta adulta, da variedade que se quer produzir. Dessa forma, garante-se que a nova oliveira produza frutos com as caractersticas desejadas. As mudas assim obtidas comeam a produzir a partir do quarto ano de plantio. Cada oliveira, se bem cuidada, capaz de produzir de 80 a 100 quilos de fruto por safra.

As previses otimistas e a boa adaptao da planta tm comeado a atrair produtores locais. Joo Roberto Gonalves um deles. Ele conta que, at pouco tempo, investia na cultura da batata, como tantos outros na regio. O microclima de Maria da F era uma vantagem, mas, como ele explica, hoje possvel cultivar o tubrculo em qualquer lugar, e isso tornou a concorrncia muito grande. Por meio da Epamig, ele teve contato com olivicultura e resolveu apostar nela. Nunca estive to empolgado antes de comear um novo negcio. Acredito que temos tudo para nos tornarmos os maiores produtores do pas, competindo at mesmo com a Europa, aposta.

Segundo ele, uma outra vantagem da cultura o investimento inicial. Enquanto gastava entre 12 e 15 mil reais com a lavoura da batata, a estimativa que as oliveiras exijam apenas a metade desse valor. As rvores podem ser plantadas em terreno acidentado e, ao que tudo indica, so bastante resistentes a pragas e doenas. Gonalves tem incentivado outros produtores a conhecer a Fazenda e a conversar com Luiz Eugnio Matos. Segundo ele, a idia, agora, tentar uma linha de crdito especial junto a bancos para incentivar e fortalecer a olivicultura na regio.

Capacitao

Maria da F possui as condies ideais para o desenvolvimento da ovicultura.

A Fazenda Experimental de Maria da F tem outros projetos alm das pesquisas com a propagao das oliveiras. No local, so desenvolvidos, por exemplo, experimentos com fruticulturas de clima temperado, como pssego, figo, uva, marmelo e ameixa. Matos explica que tais estudos ainda so muito incipientes e faltam dados estatsticos. Por enquanto, nos orientamos mais pela prtica, confessa o pesquisador.

Outro destaque so os cursos de capacitao oferecidos comunidade. Esse projeto teve incio em 1997, com a criao de um Consrcio de Pesquisa e Desenvolvimento da Fruticultura da Serra da Mantiqueira. Prefeitos de 14 municpios da regio se uniram e ajudaram a viabilizar a construo de estufas e a aquisio de equipamentos. O acordo previa o auxlio financeiro desse grupo at a Fazenda tornar-se auto-suficiente. A sada encontrada para alcanar o objetivo foi a venda de mudas e a oferta de cursos de tcnicas agrcolas aos produtores rurais. Hoje, a Fazenda sustenta-se sozinha. A idia de Matos, no entanto, expandir o nmero e a variedade de treinamentos, transformando o local em um centro regional de capacitao de mo-de-obra. Com alojamentos e refeitrios para receber os agricultores, o centro poderia oferecer lies sobre enxertia, plantao, colheita, entre outros. Seria uma chance para os produtores aprenderem com a prtica, justifica.

Enquanto o projeto no sai do papel, o pesquisador se concentra na divulgao para a comunidade do potencial das oliveiras. Elas fazem parte da paisagem de Maria da F: as primeiras mudas chegaram de Portugal h cerca de 60 anos e foram usadas na arborizao da cidade. Nos meses de janeiro e fevereiro, as rvores nas praas e canteiros ficam carregadas de frutos. Os moradores, no entanto, no aproveitam os frutos e so poucos os produtores que resolvem investir na produo comercial. As mudas de oliveira que vendemos na Fazenda vo quase todas para o Rio de Janeiro, Santa Catarina e outros estados do Sul do pas.

Para Matos, inverter essa situao apenas uma questo de divulgar o potencial da cultura. Um acontecimento que ir ajudar nessa tarefa o primeiro grande ciclo de produo da Fazenda, marcado para o incio do ano que vem. Sero centenas de rvores cobertas por frutos e cerca de vinte mil mudas prontas para serem plantadas. O prximo passo, segundo o agrnomo, a produo de pequenas colees para serem testadas em outras regies do Estado.

30 ANOS DE PESQUISAS

O trabalho com as oliveiras um dos muitos projetos da Epamig que visam ao desenvolvimento tecnolgico voltado para a agricultura. Caf, algodo, hortalias e piscicultura so outros objetos de pesquisa dessa instituio, que acaba de completar 30 anos.

Criada em agosto de 1974, a Epamig incorporou os anseios da poca de crescimento e desenvolvimento da agricultura mineira, baseados na pesquisa cientfica e apoio aos produtores rurais. Pioneira no pas, estimulou a criao de empresas semelhantes em outros Estados e gerou tecnologias inovadoras, como o desenvolvimento de cultivares de gros mais produtivos e resistentes e o controle de pragas e doenas.

Atualmente, a estrutura da Epamig engloba a sede em Belo Horizonte, sete centros tecnolgicos e 21 fazendas experimentais localizadas em vrias regies do Estado. Cerca de 130 pesquisadores e mais de mil empregados trabalham nesses locais. Segundo o presidente da instituio, Baldonedo Arthur Napoleo, o objetivo, agora, levar a Epamig para toda a Minas Gerais. "O Noroeste do Estado, Pontal do Tringulo, Centro-Norte, Vale do Jequitinhonha e Vale do Rio Doce ainda carecem da presena da empresa", aponta.

A importncia da Epamig para a sociedade grande. Por um lado, ela ajuda o produtor rural ao contribuir para a sua sobrevivncia e fixao no campo por meio da evoluo das prticas agrcolas. Por outro, contribui para a melhoria da qualidade dos produtos que chegam ao consumidor. De acordo com o balano social das aes da Empresa, o retorno para a sociedade dos investimentos feitos da ordem de 34%. Ou seja, para cada R$1 aplicado, essa mesma sociedade recebeu de volta R$1,34.

PRONTAS PARA O CONSUMO

As azeitonas podem ter dois destinos, de acordo com as caractersticas de cada variedade: o consumo mesa ou a extrao do leo de oliva.

As destinadas mesa devem ser colhidas manualmente, evitando "machucaduras". Uma caracterstica dessa fruta ser imprpria para o consumo logo aps a colheita, pois, nesse estado, elas so muito amargas. O ideal submet-las a um processo de curtimento, usando soluo de hidrxido de sdio. Elas permanecem nessa soluo por um perodo de at 10 horas e, em seguida, devem ser lavadas em gua limpa por 15 a 20 dias, at se tornarem adocicadas. J para a fabricao de azeite, a colheita deve ser realizada aps a completa maturao do fruto, quando o percentual de leo maior. A extrao realizada em trs etapas. Primeiro, moendas de granito transformam as azeitonas em uma pasta densa. Essa pasta submetida a uma prensagem gradativa, que resulta em leo, gua e mucilagens. Tudo isso recolhido em tanques e, aps um dia de repouso, o material sofre decantao. O leo, concentrado na parte superior, ento recolhido, filtrado e armazenado.Curiosidades:

Azeite virgem: tambm chamado de azeite de primeira prensagem, obtido unicamente por processos mecnicos, em condies trmicas que no alterem o azeite.Azeite de oliva: azeite refinado enriquecido com azeite virgemAzeite refinado: azeite extrado no s por processos fsicos, submetido a refinamento para retirada das impurezas.Mistura: composies de outros leos vegetais desodorizados com azeite de oliva.Vanessa Fagundes