olisipo : boletim do grupo "amigos de lisboa", a. 21, n.º 82, abr. 1958

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OLISIPO Boletim Trimestral do GRUPO ''AMIGOS DE LISBOA" Ano XXI N 82 ABRIL 1958

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Page 1: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

OLISIPO Boletim Trimestral do

GRUPO ''AMIGOS DE LISBOA"

Ano XXI N.º 82

ABRIL 1958

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Breves Notas sobre

a História e a Vida do Batalhão de Sapadores Bombeiros n

pelo Tenente-Coronel Luís RIBEIRO VIANA

A vlSlta dos «Amigos de Lisboa» ao quartel sede do Comando do Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa, na Avenida de D. Carlos I, constitui tradição que periodicamente se vai cumprindo, com muita honra para a unidade, que vê essa visita com enorme satisfação, dado o interesse que traduz pelo serviço de incêndios da nossa querida capital. .:h, creio eu, esta a 3.'1 visita e cuido que quem tenha tido a paciência de fazer as duas anteriores e que nos honre pela 3.ª vez, irá encontrar profundas modifi­cações e grandes melhoramentos que mostram o carinho que, à Ex.ma Câmara, têm merecido os seus bombeiros.

A ideia de, em -poucas palavras, dar a V. Ex.ªA alguns elementos sobre a história do edifício que vão visitar, do serviço que ele simboliza, como aquartelamento sede do Comando, e ainda a indicação sumária do material moderno em uso, partiu do Ex.mo Vereador, Sr. Dr. Eduardo Neves, que me indicou, para dar a tão ilustre assistência, satisfação a essa ideia . .:h esta a razão de ser da minha presença aqui, para pronunciar a resumidíssima palestra que vai seguir-se.

(*) Palc~tra proferida pelo Autor - Comandante do Batalhão de Sapadore:s Bombeiros, n.t Sede do Grupo «Amigos de Lisboa», em 14 de Dezembro de 1957.

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Todos V. Ex."' não ignoram por certo que no local onde hoje está o quartel do Comando do B. S. B., houve outrora o Mosteiro da Esperança. No princípio do século XVI havia no local uma quinta chamada «Sizana». E foi D . Isabel de Mendanha, que mandou edificar, nessa quinta, um mosteiro destinado a senhoras nobres e dedicado à Virgem da Piedade, a que deu o nome de «Nossa Senhora da Piedade da Boa Vista», pois «Boa Vista» se chamava propriamente o local em questão. Foi depois criada, uma irmandade de pilotos e mestres (o sítio foi sempre de marean­tes), com o título de Nossa Senhora da Esperança e do velho mosteiro, e da respectiva irmandade apenas resta a parte do edifício da Ig;reja, onde, reza a tradição, pregou o Padre António Vieira em 1669, o seu sermão sobre o Sacramento da Eucaristia. A igreja foi cortada pela rua que a Câmara em 1881, deliberou traçar, para ligar o Aterro com as Cortes, rua que de início se pensou chamar do Duque da Terceira, e que afinal veio a ter como nome Rua de D. Carlos, e que se inaugurou em 28 de Dezembro de 1889, no dia da aclamação daquele nosso desditoso Rei. A antiga igreja, após a construção da rua, serviu primeiro de cavalariça, e depois de posto de bombeiros, com o nome de Estação n.º 1, origem que foi do actual quartel 1, que tem o nome de «Caserna Augusto Ferreira».

Na visita poderão ainda V. Ex."" ver, no Largo da Esperança, o chafariz da Esperança, hoje considerado monumento nacional, projecto do engenheiro militar e arquitecto Carlos Mardel.

Os elementos que refiro foram recolhidos da descrição histórica da margem do Tejo, da Madre de Deus até Santos-o-Velho, a que Júlio Castilho deu o nome de «A Ribeira de Lisboa». Lá encontrarão V. Ex.ªª ampla e pormenorizada matéria de muito interesse, sobre o assunto.

Da parte que se segue foram fonte informadora os arquivos do Bata­lhão e a história dos Bombeiros Municipais que Amadeu César da Silva está publicando no «Boletim da Liga dos Bombeiros».

Como dos terrenos do antigo recolhimento surgiu o actual quartel ? Em 1889 tomou posse do cargo de Inspector-Geral, desiginação que se dava ao Comandante dos Bombeiros desde 1794, o Capitão de Engenharia Augusto Gomes Ferreira. Foi este engenheiro o autor do projecto da cons­trução do novo aquartelamento, obra de grande vulto para o tempo, com a agravante de implicar largo movimento de terras. A encosta da colina onde estava instalado o mosteiro vinha desde o alto do Quelhas até à Rua de D . Carlos, descendo mais, como pode ver-se ainda hoje, para o lado uascente desta rua. O desnível teve que ser vencido por socalcos e as

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terras suportadas por dois altos muros de suporte, o primeiro ao nível da rua e outro ao nível da actual parada de instrução, tendo sido notável o volume de terras ~aído por escavação da colina. No corpo central do edifício foram instaladas as residências do lnspector e de alguns chefes, a central telefónica e dependências, aliás muito reduzidas. para secretaria e gabinetes.

No corpo Sul onde se deu largo aproveitamento ao material das demolições do convento, designadamente no que se refere às cantarias e.lo claustro e azulejos, foram instalados depósitos de material no J .º andar e oficinas no rés-do-chão. No corpo Norte ficou sem obediência à traça geral do projecto, certamente por falta de verba, um barracão com três corpos destinados, no rés-do-chão a parque de material e cavalariças e, no l.º andar, em que era esconso o corpo central, a caserna dos aquar­telados. Este barracão, hoje transformado e aumentado com dois andares de casernas amplas e arejadas, ainda estava no estado primitivo quando em 1938 vim para os bombeiros. Das fotografias do tempo apenas se nota a diferença existente no modelo dos portões, que inicialmente eram de guilhotina.

Contava-me o chefe Hermínio, já falecido, pessoa, ao tempo, célebre pois fora ferrador na tropa altamente especializado nas cavalgaduras de maior nomeada, que as muares, das quais citava saudosamente o nome, ao ouvirem vibrar a campainha dos alarmes, que distinguiam perfeitamente de qualquer outro sinal sonoro, se aprestavam prontamente para receber os arreios suspensos, facilitando a manobra dos cocheiros e rompendo em largo galope, mal se sentiam aparelhadas.

Na parte antiga do convento, na sua ligação com a igreja da Esperança, ficava o pátio da Porca ou Porta, cujas cantarias muito danificadas ainda existiam no meu tempo. Serviam para exercício físico e eram anual­mente deslocadas de um ponto para outro, pela escola de recrutas, sendo no ano seE'uinte, recolocadas no local primitivo. As pedras iam-se partindo e acabaram gloriosamente, em brita, na laje da piscina que ocupa hoje o lugar do mosteiro. Nas escavações para esta piscina encontrámos moedas antigas que depois se extraviaram, o que verdadeiramente lamento, pois teriam hoje o seu lugar bem definido no Museu, a que só posteriormente se deu significado histórico.

Na verdade havia já, uma dependência a que se chamava Museu, que mais não era do que uma arrecadação de material antigo, disposto indis­criminadamente e sem qualquer valor como elemento histórico. Levámos

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pois a efeito profundas obras de remodelação e alguns de V. Ex.ª 5 que Já visitaram o quartel e lá voltarem agora, desde que estejam bem recor­dados, vão notar por certo profundas alterações. Assim, demolidos alguns cubículos organizaram-se quatro salas. Na primeira guardam-se os modelos de antigas viaturas, muitos d~s quais talvez não tivessem passado de mode­los, e fixaram-se nas paredes dois painéis um com sinais sonoros e outro com apetrechos telefónicos, e um velho e desactualizado avisador de incên­dios, infelizmente idêntico aos que estão ainda em uso.

Na parede oposta estão montados antigos arreios. Existe, ainda instalada e em funcionamento, a central telefónica das colónias que esta­belecia ligação entre o Comando e as casas dos bombeiros auxiliares, os c1uais podiam receber as chamadas para socorro, mas não podiam comunicar entre si. O que dá no entanto principal valor a esta primeira sala é a homenagem que se presta a dois elementos do Corpo de Bombeiros Muni­cipais que hoje ainda são falados e que por seus inventos passaram à história. Com eles pretendemos simbolizar as muitas centenas de homens que através dos tempos têm passado por aquela casa e que têm posto a a sua inteligência, o seu espírito inventivo, a sua competência técnica, ao srrviço da cidade, na adaptação e melhoria dos diferentes apetrechos, procurando resolver os problemas, que existem sempre, num serviço tão complexo e variado como é o serviço de incêndios, e em que o factor rapidez de execução teve sempre, e sempre continuará a ter, sig.nificado de maior valia. Do trabalho dessas centenas de homens, como disse, dois inventos passaram à posteridade. Um é a famosa escada Fernandes.

O mestre da oficina do Corpo, o l.º patrão n.º 14, João Fernandes inventou e construiu a escada que ficou com o seu nome, escada extensível, cuja característica mais interessante é a de ser a primeira escada rotativa que se conhece. Dizem que o engenheiro da fábrica «Magyrus» vindo muitos anos depois a Lisboa e vendo em funcionamento a escada Fernandes teria lido a ideia de tornar rotativas as suas escadas extensíveis, que já nessa altura tinham fama na Europa. Tal sucesso fez a escada Fernandes, construída em 1871, que o comércio de Lisboa, por subscrição pública, adquiriu 2.' escada, a qual foi doada ao Município em 4 de Dezembro de 1873, isto é, dois anos depois.

O outro invento é o cinto de salvados do ajudante Baptista Ribeiro. Baptista Ribeiro é um nome que ainda anda nos ouvidos da minha geração, como bombeiro pertencente à plêiade gloriosa dos fins do século passado. Tendo sido voluntário, foi encorporado nos municipais onde veio a ascender

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ao posto de Ajudante do Corpo. Foi condecorado em Junho de 1929 com o Grau de Cavaleiro da Ordem da T orre e Espada pelos altos serviços prestados à humanidade durante a sua longa vida de bombeiro. Veio a falecer pouco depois, em Setembro de 1929.

O seu cinto de salvados substituindo o lais de guia dobrado, nó feito com a espia na altura do salvamento, veio dar maior segurança e como­didade à descida do salvado, sem prejudicar a rapidez da execução. Foi estudado por forma criteriosa pois permite, com um duplo jogo de fivelas, lieiar desde a pessoa mais pesada ao indivíduo mais franzino. O cinto está ainda hoje em uso, como meio indispensável de salvamento, e todas as viaturas de socorro do Batalhão dispõem de tal aparelho. Esta forma como o invento resiste ao tempo, quando o progresso acentuado, dos nossos dias, torna velhos em poucos meses, os sistemas julgados mais avançados, mostra bem o génio inventivo do seu autor e o conhecimento perfeito que tinha dos problemas da sua profissão.

A sala que se segue poderá considerar-se o mostruário do material ligeiro usado na primeira metade do século passado.

Desse material notam-se, como mais notáveis as duas bombas vinda:> do Palácio de Queluz, cujo construtor foi Mateus António. Sempre direi que Mateus António foi nome célebre nos bombeiros. Em 1766 foi criado o lugar de Capitão das Bombas, lugar que foi preenchido pelo mestre calafate Domingos Costa. Pode considerar-se este, corno sendo o primeiro comandante dos bombeiros municipais. Manteve-se Domingos Costa, por largos anos, no cargo até que foi demitido em 1786. Substituiu-o o maqui­rnsta Mateus António da Costa, muito conhecido já como competen te fabricante de bombas. Os seus serviços foram notáveis e tanto que em 1794 o cargo passou a designar-se lnspector de Incêndios, abrangendo também a administração dos chafarizes e recebendo como remuneração anual a quantia de 600$00 réis, ordenado que se julga ser, nesse tempo, superior ao de um general! Ainda no Museu vemos documentos assinados por Mateus António, e como disse duas bombas de seu fabrico.

Na mesma sala se vêem painés com aparelhos de iluminação, trava­dores de espia de salvados, aparelhos de manobra de água, mangueiras de couro, que por volta de 1852, chegaram a Lisboa apetrechando, juntamente com escadas de ganchos e com o primeiro saco de salvação, hoje designado por «manga de salvação», a primeira bomba «Flaud».

Na terceira sala aparece o primeiro material moderno já destinado ao Museu, material das viaturas adquiridas em 1929-1930, as célebres viaturas .

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Mercedes, da grande aquisição feita aquando da criação do Batalhão de Sapadores Bombeiros, e algumas relíquias conseguidas em fogos, que só agora começámos a ter interesse em recolher por termos lugar adequado para elas. Em reportagem fotográfica se vê o que em matéria de obras e material tem evoluído o Batalhão.

A quarta sala é a sala de honra do Museu. Cada painel tem seu significado. Num deles se vê a homenagem aos

comandantes do antigo Corpo de Bombeiros Municipais. Fotografias que encontrei dispersas, ali se juntaram carinhosamente desde o engenheiro Pereira de Carvalho, nomeado lnspector em 1851 até ao Capitão Rodrigues Alves, último Comandante antes da criação do Batalhão.

Mas porque a homenagem ficaria incompleta, uma relação regista os nomes de todos quantos a história refere como tendo sido comandantes dos municipais, relação encabeçada pelos já citados Capitão das bombas, Domingos Costa e Inspector Mateus António.

Julgo oportuno referir ainda alguns nomes mais. O de maior vulto é o professor Carlos José Barreiros, figura notável

de org.anizador e de chefe, que deu extraordinário incremento aos serviços de incêndios da Capital, tornando-o, para o tempo, dos mais notáveis da Europa. Guilherme Gomes Fernandes, nome inolvidável de bombeiro, considerava-o seu Mestre, e este não será por certo dos seus menores elogios! Tal afirmação consta de fotocópia junto da fotografia de Gui­lherme Gomes Fernandes, existente no Museu.

Em vitrina própria aparece a espada, o capacete e as charlateiras do Comandante Augusto Gomes Ferreira, no cumprimento de decisão do Senado Municipal que igualmente determinou dar ao quartel n.0 1 a desig­nação de «Caserna Augusto Ferreira».

Nessa vitrina vemos também a Bandeira Nacional que a. Rainha Senhora D. Amélia ofereceu ao Corpo de Bombeiros Municipais em 1909 e o capacete do Comandante Lino da Silva, fimura destacada do Paço e grande amigo do Senhor D . Afonso. A fotografia deste Príncipe ocupa lugar à parte pois foi comandante honorário do Corpo, nomeado por carta régia em 20 de Março de 1902.

Noutro painel aparecem as fotografias e os nomes dos bombeiros condecorados com a Torre e Espada. Como figura de maior vulto desta­ca-se o patrão Bernardino António da Costa, o célebre herói do Corpo Santo e que, por ter feito o salvamento de duas senhoras em condições extraordinárias, mereceu aquele galardão. Na vitrina própria se vê a

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maqueta dos prédios em que se fez o salvado, oferecida bem como o retrato a óleo do herói, pelo filho dele, o Capitão-de-Mar-e-Guerra João Carlos da Costa, grande amigo dos bombeiros, felizmente ainda vivo.

Finalmente em terceiro painel, a homenagem que se presta aos «Mortos em Serviço», guardando nos retratos e na lista dos nomes a recordação dos seus feitos, e apontando-os como exemplo aos mais novos. E já que de todos se salientou algum, citarei o bombeiro Justino Narciso, que na canhoneira Beira, em 17 de Novembro de 1917 morreu para salvar um seu camarada caído num porão. Ao transportá-lo à coberta caiu ele por sua vez no fundo e ninguém o pôde já ir salvar.

Justino Narciso honra e justifica como poucos a gloriosa divisa dos bombeiros - «Vida por Vida».

Para terminar esta evocação histórica direi ainda que nas vitrinas centrais da sala de honra estão dispostos regulamentos, alguns datando do meado do século passado, manuais, revistas, jornais e ilustrações, tudo significando trabalho do comando ou homenag.em da opinião pública a um serviço que sempre tem honrado a cidade que serve. O documento mais curioso que existe, é a fotocópia de uma ordenação de D. João I, escrita no Porto, em 1395, e cujo original está na Torre do T ombo. Reza esse documento:

«Que porquanto por vezes se levanta fogo nessa cidade, considerando sobre isso, algum bom remédio, acordaste que era bem que os pregoeiros dessa cidade, por freguesias, om cada uma noite, depois do sinal de recolher, andem pela dita cidade apregoando que cada um guarde e ponha guarda ao fogo em suas casas. E que em caso que algum fogo se levanle, o que Deus não queira, que todos os carpinteiros e calafat:es venham áquele lugar, cada um com seu machado, para haverem de atalhar o dito fogo. E que outro sim, todas as mulheres, que ao dito fogo acud irem, tragam cada uma o seu dâ:ntarn ou pote para: acarretar água para apagar o dilto fogo. E ou.t:ro sim, por:que muitos acodem e veem a ele para roubar, aoordaoste que cem corretores que há na: dita cidaide, !cheguem aí com as suas armas, para haverem de guardar que se não fuça roubo. E maindamos que as casas que assim se derribarem para atalhar o di'to fogo e se não fazer maior dano, que esse concelho, nem nenhum outro, não seja tido fazê-los, pois se faz por prol comum.»

.b a altura de dar um salto para o presente, uma vez que temos apenas vivido no passado.

Gloriosas tradições as do Corpo de Bombeiros Municipais, mantidas em alto nível pelo Batalhão de Sapadores Bombeiros, após a sua criação.

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E agora? A protecção da cidade contra o risco de incêndios, desde há muito considerada modelar, terá acompanhado o ritmo das modernas técnicas? Esta é a pergunta que se põe à consciência do actual Comandante do Batalhão para seu sossego. A resposta é felizmente afirmativa. E mesmo largamente afirmativa. A Ex.ma Câmara, sob égide das figura~ destacadas de Salvação Barreto e Pastor de Macedo, e tendo como conselheiro de cxcepcional valor o Director dos Serviços Técnicos Engenheiro Judah Ruah, não tem fugido à satisfação das propostas apresentadas pelo actual Coman­dante. Em 1948 foi feito o plano de reapetrechamento, e com a vinda de novo material, adquirido segundo esse plano, têm sido dados progressiva­mente por findos os serviços do material adquirido de 1927 a 1930. As téc­nicas mais modernas, das quais cumpre referir o uso de nevoeiro, água pulverizada a alta pressão que, teoricamente, decuplica o poder extintor da água, são correntes em Lisboa, talvez mais do que em qualquer outra capital da Europa. Vinte viaturas e em breve mais cinco estão aptas a pôr a trabalho 50 agulhetas de nevoeiro, número que segundo julgo não é atíng.'.<lo pelo menos na Europa do lado de cá, uma vez que da Europa dos «Sputniks» nada chega até nós sobre material de incêndios. Os 5 tan­ques que em breve entrarão ao serviço, cada um com a capacidade de 3.700 a 4.000 litros têm poder equivalente a cerca de 40 viaturas do tipo dos 2 autotanques adquiridos em 1930 !

[ porque os portugueses gostam de estudos de confronto julgo opor­tuno dizer-se que, de acordo com o plano de renovação e reapetrechamento <lc material, elaborado em 1948, a Ex.ma Câmara adquiriu já, as seguintes viaturas de socorro:

8 autochefes de serviço (com bombas de alta e baixa pressão) ; 5 au't~pron.tosocorros de nevoeiro (alta pressão) ; ,

10 autoprontosocorros pesados (com bomba de alta e baixa pressão); 2 aulobombas; 7 auto-escadas mecânicas de 25 a 32 metros; 2 auloprontosocorros de emergência (neve 'Carbónica e espuma); 2 autopron.tosocorros Iigei ros de neve carbónica; 2 auto-sapadores; 2 au'tomateriais auxeliares; 2 ambu lâncias.

A este material haverá que juntar, em breve, 5 autotanques e 1 auto prontosocorro grua, desalfandegado hoje depois de muito custo, o que perfaz um total de 4S viaturas de socorro contra incêndios e outros sinis-

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tros, aqu1s1çao que, no t0tal, como se vê ultrapassa em muito a de 1930. A par deste material numerosas viaturas de transportes gerais e ainda i:.rupos de motobombas rebocáveis e transportáveis mostram bem que a Câmara de Lisboa não se tem poupado a esforços para bem dotar os seus bombeiros, que assim se sentem confiantes no poder do material de que dispõem para socorro do seu semelhante, missão a que devotadamente dedi­cam a sua vida.

De todas estas viaturas a mais recente é um modelo de técnica moderna.

Não entrou ao serviço ainda pois os problemas que afligem os bom­beiros são de todos os tempos . Este tem quase valor anedótico. Em 1734 adquiriu a Câmara, em Inglaterra 4 bombas, mas o provedor da Alfândega exigia largos direitos aduaneiros para poderem ser levantadas, e isso dificultou a sua entrada ao serviço, que só veio a fazer-se por determinação régia, com dispensa de tais direitos. Pois em 1957 também a Câmara de Lisboa adquiriu uma extraordinária viatura de socorro que desde meados de Outubro tem estado à guarda da Alfândega, furtada ao serviço a que se destina, por serem exig-.idos uns direitos aduaneiros que não correspondem à pauta benévola que, como material para o serviço de incêndios, lhe devem caber.

A viatura em causa foi acusada ·de ser uma oficina como se o facto de vir destinada ao Batalhão não excluísse logo a hipótese dela vir a ser utilizada para fins industriais! O senhor Director da Alfândega que a classificou, afirmou à minha frente que um simples aparelho de corte portátil era nitidamente industrial! Como haviam os bombeiros ingleses, na recente catástrofe ferroviária dos arredores de Londres, de cortar chaparia e os prumos de aço o que lhes permitiu 'libertar dezenas de sinistrados, se não utilizassem aparelhos de corte, o que aliás constou das reportagens do desastre. E também na catástrofe ferroviária de Noziéres-Brignon em Setembro do corrente ano, em França, eu vejo na revista «Protection Civile» n.º 41, de Novembro de 1957, fotografias com bombeiros utilizando apa­relhos de corte, para protecção e socorro à vítima. ·E vamos lá que o serviço de incêndios português não está em atraso. Já em 1930, quinze das viaturas Mercedes adquiridas pela C. M. L. traziam, no seu apetrecha­mento, aparelhos deste tipo!

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No exercte10 que amanhã apresentamos a V. Ex.ªª alguma coisa se demonstrará sobre a eficiência dos modernos meios de extinção: nevoeiro, e5puma, neve carbónica e pó seco. A viatura a que vimos aludindo fará ale:umas das numerosas habilidades para que foi construída. Todos vere­mos que pode bem com a designação de «viatura para bombeiros» e que lhe repugna a que lhe está sendo imposta de «vÍCltttra h1d11strial».

O percurso da visita ao quartel está estudado, para a tornar menos cansativa, por forma que a entrada seja feita pelo portão da Rua das Francesinhas.

A todos e em especial ao digno Secretário-Geral do Grupo, Dr. Eduardo Neves, pessoa cujas altas qualidades todos admiramos, e que me honrou presidindo a esta sessão, os meus agradecimentos, endossando eu para esse vosso ilustre dirigente as culpas de ter sido o causador da maçada a que V. Ex.ªª foram sujeitos. Pelo meu lado as minhas desculpas e os meus cumprimentos.

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O Palácio do Manteigueiro(')

por MÁRIO COSTA

NESTA ronda em que andamos, percorrendo as casas solarengas

citadinas, agora transformadas em centros de trabalho e ao serviço de empresas comerciais e industriais, secretarias do

Estado ou organismos corporativos, cabe-nos hoje transpor o cele­brado Palácio do Manteigueiro, de história múltipla, recheada de acon­tecimentos, inconstante, agitada.

Este palácio, um dos bons edifícios integrados na freguesia da Encarnação, situa-se na Rua da Horta Seca n.08 15-17-19, à esquina da Rua da Emenda (que foi Travessa do Mel), onde tem os n.08 87-89-91 e possui outro meio de comunicação na Rua das Chagas, onde um portão de ferro, com o n.0 18 (primitivamente n.0 20), abre para um extenso corredor, que liga com o jardim, nas traseiras do edifício, e que servia à criadagem e dava passagem às carruagens. A entrada principal faz-se actualmente pelo n.º 15 da já citada Rua da Horta Seca, nome que foi muito acertadamente transmitido e que denota afinidades directas com a artéria vizinha, que a toponímia citadina designou Travessa do Sequeiro das Chagas. São ambas velhas de séculos, saudosas da sua contemporânea, a desaparecida Travessa dos Gatos, que se foi com os Casebres do Loreto, to111ados célebres pelo muito que resistiram às inclemências do tempo e à acção do camartelo, que só muito tarde foi chamado a exercer o seu poder demolidor.

A edificação é de bom gosto, de sólido aspecio, deixando trans­parecer a ma1·ca da época. Ob3ervada angularmente, mostra gran-

(*) Conferência proferida no grupo «Amigos de Lisboa>, em 7 de Novembro de 1057.

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diosidade. Primitivamente de um só andar, águas-furtadas e dois pisos térreos, de janelas gradeadas, que o declive do terreno permitiu edi­ficar, correspondendo a loja e sobreloja, do lado da Rua da Emenda, tem hoje três pavimentos superiores. As cantarias que guarnecem as j hnelas de sacada do andar nobre e do que se sobrepõe, mostram-se graciosamente recortadas, e, em complemento dos ornatos da janela central, vêem-se também, esculpidas em pedra, as armas do visconde de Condeixa, coroa e brasão, este desfigurado, símbolos que se repetem no bonito lanternim, que ilumina a escada nobre, também de pedra, e bem digna de ser admirada. Igual interesse desperta o portão prin­cipal, de duas meias-portas, trabalhado em boa madeira do Brasil, e o espaçoso átrio, cujo piso está revestido de pedra mármore, em losangos pretos e brancos. Na escadaria, o pouco que se mantém fiel ao passado, faltam ag·ora os imponentes candelabros de bronze, de três luzes, que embelezavam o balcão do andar nobre, guarnecido de balaús­tres bem recortados; e também já não se vêem a passadeira grenat e os vasos de plantas decorativas, do tempo do presidente Arriaga. As duas figuras de bronze, que exteriorizam antigos guerreiros, e decoravam o átrio, estão hoje lado a lado da soleira da porta interior, que dá comunicação para a sobreloj a.

No 1.0 andar, merece especial referência a linda capela, com rica obra de talha e elegante cúpula, de um só altar, figurando no retábulo a imagem de Nossa Senhora. De quatro varandas-tribunas, que ficam ao nível do andar superior, podem-se acompanhar os ofícios religiosos. Esta dependência mantém-se num estado irrepreensível, e porque não a vimos citada em parte alguma, não sabemos se é contemporânea das fundações do palácio, ou se teria sido mandada construir pelo visconde de Condeixa. É pena que não fosse possível dar-lhe um pouco mais de largueza, para corresponder melhor à altura do zimbório, que é vistoso, rico e de caprichoso traçado.

A origem deste palácio data de 1787 e a sua construção foi entre­gue ao arquitecto Manuel Caetano de Sousa (1), por mandado de Domingos Mendes Dias, natural da povoação de Medeiros, freguesia e comarca de Montalegre, província de Trás-os-Montes, que destinou a luxuosa moradia a sua residência. Muito jovem ainda, fugiu aos pais e começou a vida em Lisboa como aguadeiro, depois foi marçano de mercearia e a seguir ao terramoto já se classificava «negociante ela praça de Lisboa». Isto diz o Abade de Miragaia (P.r Pedro Augusto F erreira), que foi o continuador de Pinho Leal no seu notável Por-

(') Eduardo de Noronha atribui a obra ao arquitecto Altronochi (Milionário A·rtista,pág.184) .

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tugal Antigo e Mode,rno, porque Tinop dá este batalhador como emi­grado no Brasil, onde se entregou ao comércio de mercearias, tornan­do-se um novo-rico, numa época anterior à consagração desse termo.

O aforlunado transmontano, que se não fora a riqueza acumulada

A fachada '[Yrincipal na fase primitiva

não passaria dum ignorado e humilde cidadão, chegou a fidalgo da Casa Real e atribui-se a origem da sua sólida posição, ao comércio de manteigas por grosso, que montou em Lisboa, daí lhe advindo o epíteto de «Manteigueiro». É outra a versão apresentada pelo Abade

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de Miragaia, que, fazendo-se eco de correntes diferentes, insinua como possíveis meios condutores do amealhamento dos grossos cabedais, <danço feliz de rede por ocasião do terramoto», contrabando ou inte-1·esses ligados à expulsão dos jesuítas.

Domingos Mendes Dias era considerado um dos maiores capita­listas do seu tempo e deixou uma fortuna que, na data do falecimento, foi avaliada em seis e meio milhões de cruzados, correspondentes a dois mil e seiscentos contos de réis. Apesar disso, até ao fim da sua vida, revelou-se um espírito tacanho, peculiar à sovinice de que deu bastas provas. Vivia com uma preta de avançada idade, que lhe pre­parava os alimentos, tudo do que havia de mais bai·ato, e mandava servir o jantar dentro duma gaveta da sua secretária, que logo fechava, se alguma visita aparecia.

Devido ao seu feitio miserável, este estranho milionário chegou a ser preso pela ronda, por se tornar suspeito, uma noite em que trarn;­portava às costas a fruta verde que apanhara do chão, numa das suas quintas dos arredores.

Contava-se que, nas longas noites de inverno, o seu prazer favorito consistia em «formar ca1·tuchos de cem peças de oiro». Jamais soube tirar do dinheiro o bom partido que ele pode dar, esse ricaço asqueroso, que faleceu nos princípios do século XIX (2), em consequência de um ataque de ladrões, à punhalada, pois que, mesmo nessa emergência, ~chando os gastos exagerados, implorou do médico que o tratava, que fosse mais comedido nos remédios . .. Da poupança surgiu a gangrena, que o levou como a qualquer pobre de Cristo.

O clínico que lhe assistiu, apresentado por Tinop como célebre e com o nome de Manuel Constantino (3), não pode ser outro senão o Dr. Manuel Constâncio (1726-1817) , tanto mais que morava ali perto, ao Loreto, no 1.0 andar dum prédio entre as Ruas do Norte e das Gáveas. Era natural das Sentieiras (Abrantes) e filho de pais pobres. Começou como barbeiro, ali perto, no Sardoal, e, em Lisboa, dedi­cando-se ao estudo, obteve a carta de sangrador, praticou cirurgia no Hospital Real de Todos-os-Santos e entrou auspiciosamente na carreira de cirurgião, após o exame em 1758. Sucedendo ao mestre francês Pedro Dufau, tomou conta da Cadeira de Anatomia da Régia Escola de Cirurgia de Lisboa, ganhando fama de professor muito sapiente,

(') Já passara a esse estado em Agosto de 1804. () Lisbo<t de outr01·a, vol. l .º, pág. 140.

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dedicado e progressivo (4). Foi cirurgião da Real Casa e Família e ainda

cirurgião da Real Câmara (1786), escudeiro e cavaleiro fidalgo (1789). De entre os seus três filhos, destacam-se o Dr. Francisco Solano

Constâncio, também médico muito distinto, escritor e político (j) ; e M:aria Margarida Constâncio, a Marília que inspfrou a Bocage um grande número de sonetos, transbordantes de paixão. O vate era fre­quentador assíduo da casa do Dr. Constâncio e amigo íntimo do filho Pedro.

Contrastando com a sua manifesta avareza, o milionário-«mantei­gueiro» vivia num ambiente de riqueza. Os interiores do palácio eram d" um «luxo asiático», expressão de que se serviu Tinop. As quatro salas (branca, vermelha, verde e amarela), com os tectos pintados por Pedro Alexandrino (1730-1810) e ricas portas de madeira do Brasil, estavam forradas de damasco, recheadas de colgaduras e de «Opulenta mobília». Os espelhos eram de boas chapas de cristal e tanto as mol­duras como os tremós estavam dourados com «peças d'ouro derretidas». ú salão de baile, como a sala de jantar, corriam ao longo da fachada virada à Rua da Horta Seca.

Transtornado por tanto luxo, e esquecendo os seus princípios, o antigo pobretão foi acometido pela mania das grandezas. E, querendo mostrar-se de origem fidalga, obteve de António de Sousa Pereira Coutinho, morgado de Vilar de Perdizes (6 ) e vizinho na sua terra de nascimento, a sua aquiescência no tratamento de primo, prometendo, em troca, legar-lhe o palácio e toda a sua fortuna.

Não esqueceu o «brasileiro» a promessa feita, que «religiosamente cumpriu», e assim, por sua morte, o palácio da Rua da Horta Seca entrou na posse do morgado, que teve como antepassado o reverendo António de Sousa, servidor dedicado dos duques D. Jaime e D. Teo­dósio, e representava a ilustre família Pereira Coutinho, que deteve em suas mãos, por muitos anos, o honroso cargo de alcaide-mor do Castelo de Piconha, erguido na freguesia de Tourém, concelho de Mon­talegre, fortaleza que, segundo se crê, foi levantada por D. Afonso III,

(') O Dr. Sebastião 1Costa Santos refere-se desenvolvidamente a esta figurQ da Ciência (A Escola de Cirurgia do Hospiwl Real ele Todos. os Santos), que também foi estudada pelos Drs. Barbosa Soeiro e Baeta Neves, e citada por Adrian Balbi (Essai Stntistique, etc.). A biografia foi publicada por um seu familiar, Augusto de Castro, em Arquivos. de Hist61·i-O, da Medicina Poi·tuguesa, Porto, 1918.

(') Autor de Anais das Ciências, das Artes e das Lettras, Necrologia (Paris, 1819).

(' ) PovoaÇ<~o e freguesia de Santo André, da província de T.rás-o~Montes, concelho e comarca de Montalegre, distrito de Vila Real.

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que lhe deu foral, confirmado por D. Manuel I. Arrazada pelos caste­lhanos no reinado de D. J oão I e por e3te reconstruída, ficou nova­mente desmantelada nas guerras da Restauração. Carlos Malheiro Dias, no seu romance «A Paixão de Maria do Céu», cita esta família, que designa por «OS senhores poderosos de Vilar de Perdizes (').

O fidalgo que se tornou herdeiro universal do «Manteigueiro», era tido como gastrónomo de primeir a ordem, e um dos seus filhos, de nome Alexandre, deu brado em Lisboa com o seu exagerado janotismo. Apresentava-se elegantemente encasacado, de chapéu alto enformado a rigor e destacava-se nos salões como aprimorado dançador.

A. escada nobre no tempo do Dr. Ma,­nuel de A?"?·uigx

Uma irmã desse gentleman, D. Maria da Graça Pereira Coutinho, consorciou-se com Santana e Vasconcelos, 2.0 visconde de Nogueiras, de seu nome completo Jacinto de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt, e que foi consul de Portugal no Peru, ministro em \Vashington, fidalgo-cavaleiro da Casa Real, deputado da Nação, comendador das Ordens de Cristo, de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e de Carlos III, de Espanha, funcionário superior do Ministério da Fazenda, jornalista e poeta de boa inspiração. Santana

(') Luq. cit., pág. 69.

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e Vasconcelos, que em política foi um acérrimo combatente contra a política de Costa Cabral, ganhou fama pela sua vida aventurosa de grande boémio, fazendo parte do grupo do marquês de Nisa, António da Cunha Sotto Mayor e outros elegantes da vida turbulenta e extra­vagante do século passado. Era dotado de um extraordinário vigor físico, grande espadachim e atirador de respeito; e porque as suas <~titudes foram muitas vezes as de autêntico «Varredor de feira», deixou uma lista quase lendária de inacreditáveis episódios. A esta curiosa figura se têm referido detalhadamente Bulhão Pato, Júlio Dantas, Pinheiro Chagas, Pinto de Carvalho, Ramalho, Palmeirim, Eduardo de Noronha, Sousa Bastos e outros mais.

* Norberto de Araújo refere-se vagamente a este palácio (8), e,

pelas averiguações de Tinop (9), se conclui que, durante algum tempo, após a morte do seu rico proprietário, os moradores do palácio não se fixaram por longo tempo, pois, em Agosto de 1804, era pedida a sua cedência para moradia temporária do conde de Caparica (1º), que sofria de febres malignas, e, seis anos mais tarde, D. Miguel Pereira Fo1·jaz (conde da Feira), na qualidade de ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros da Regência, determinava que essa casa ficasse à disposição do coronel Peacock, para que nela se pudesse estabelecer um hospital militar britânico. O citado Abade de Miragaia dá Junot como aqui instalado em 1807, o que bem pode ser confusão com outro palácio, o do Loreto, que nessa data serviu ao representante diplomá­tico da França, acreditado em Po1·tugal.

Outro morador foi o marquês de Lille, ministro plenipotenciário da França, em representação de Napoleão III, no tempo em que, no dizer de Tinop, «a contradança obedecia ao protocolo e a valsa perdia de vista o equilíbrio europeu» (11).

Esse diplomata mandou executar grandes obras no palácio, com uma decoração rica e de bom gosto, tendo marcado a inauguração de tal acontecimento com um grandioso baile, a que se seguiram outros,

r> Peregrinações em Lisboa, 1.0 13, pág. 52. (") Lisboa de outros tempos, vol. 1.0

, pág. 181. ('º) D. FranciS<:o de 'Meneses da Silveira e Castro, feito ma1'quês de Valada

pelo príncipe...,Tegente D. João. Na mesma época Ji.abitou o seu palácio, no Calhariz, que foi do herói1 da Alfarrobeira, D. Álvaro Vaz de Almada, depois dos 'Iávoras e ainda dos condes de Azambuja.

('') Lisboa ck 01ü11·01·a, vol. 3.0, pág. 75.

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não menos solenes. Mas o corolário foi a festa de estrondo oferecida em 1855, em honra do nosso rei D. Pedro V, comemorativa da sua coroação.

* Nesta casa solarenga também residiu, com sua família, o rico

negociante de origem inglesa, João Fletcher, talvez a partir de 1826, época em que o palácio se t ransformou num grande centro de reuniões, principalmente da colónia inglesa, tendo hospedado naquele ano um general que viera na divisão de Clington.

A. antig(l gctlerüi do J>(lkício

Bulhão Pato, um dos íntimos da Casa, conta que nos jantares e serões se reunia a primeira aristocracia, os mais altos titulares do país (1 2).

João Fletcher tinha como vizinho e assíduo frequentador dos seus salões, o opulento neg·ociante João Paulo Cordeiro, acérrimo miguelista e chefe duma quadrilha de caceteiros, e que a tal ponto levava o seu fanatismo político que, por cada ano de reinado de D. Miguel, metia nos dedos um anel com brilhantes. Quando se verificou a derrota da causa do filho segundo de D. João VI, aquele súbdito inglês, que era

.('º) Memórias, voL'. 3.0 , pág. 305/6.

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muito afecto ao liberalismo, salvou a vida do poderoso magnate, recolhendo-o no seu palácio.

Este rico negociante possuía igualmente casas na Ameixoeira e na Moita; e, nas suas prop1·iedades no sítio do Ginjal, onde recebia principescamente os amigos, também deu abrigo a muitos miguelistas, no intuito de os salvar da fúria política. João Fletcher teria vindo para Lisboa anos depois de 1786, na intenção de proceder ao salva­mento da carga do galeão espanhol «São Pedro de Alcântara», afun­dado em Peniche, e que do Peru, então colónia espanhola, havia sido enviado a Cadiz, «Com um carregamento no valor de 70 milhões de cruzados (28.000.000$000) em moedas, barras e baixelas de ouro e prata, além de outros objectos» (13).

João Fletcher e seu sobrinho Alfredo William Howell, empreende­dores do trabalho, acabaram por desistir, mas por cá continuaram a viver. O primeiro ocupou na sociedade um lugar de destaque, e tor­nou-se curioso em Lisboa pela sua rara e notória excentricidade. Foi ele que, no ano de 1812, apresentou na capital o primeiro landau, que mandou vir de Londres e lhe custara 400 libras esterlinas (1

•1). Bem

lançado na sociedade, acompanhava assiduamente com o marquês de Nisa e outros fidalgos boémios. Frequentava os melhores salões e deixou fama no palácio das Laranjeiras, pelas anedotas que sabia contar e a que emprestava a sua graça. Era um perfeito dandy, que não faltava nas corridas de cavalos, na ópera de S. Carlos e nos bailes das assembleias aristocráticas e outras festas mundanas. Era amigo do prof. Melo Breyner (1

;;) e foi director da Assembleia Estrangeira, que se chamara Assembleia Inglesa, já existente em 1771, e onde na noite de 24 de Julho de 1833, dia da entrada do duque da Terceira na capital, se deu um baile, em que todas as senhoras se apresentaram vestidas de azul e branco (1ª). Em 1816 apresentou à Real Junta do Comél'cio um projecto para a criação de um estabelecimento bancário em Lisboa.

João Fletcher era neto dum oficial de engenharia inglês que bata­lhou nas linhas de Torres Vedras. Sua filha, D. Constança Fletcher, consorciou-se com o tenente-general D. António José de Melo Homem (da família dos Condes de Murça), e desse casamento nasceu D. Tomás de Melo (D. Tomás José Fletcher de Melo Homem), que juntou à sua

(u) Três palftcios dos Correios na Rua de S. José, por Godofrcdo Ferreira, pág. 78.

(") I.hlboa d.e oiitros tempos, vol. l.º, pág. 143. (' ') M em6rias. vol. 1.ll.º, pág. 303. (") úisboa de outrara, vol. 2.º, pâg. 126.

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veia literária uma excentricidade buliçosa, com larga tradição boémia, que ficou reflectida na sua turbulenta biografia. Tomás de Melo não nas­ceu na casa da Horta Seca, como parecia a Bulhão Pato (11) - quando muito, viveu lá os primeiros meses de infância-, mas sim no palácio de seu avô, na vila da Moita, a 23 de Fevereiro de 1836. Deixou uma filha, D. Maria Justina Micaela Tomásia José de Jesus de Melo Homem, que era conhecida por Maria de Melo e também se destacou na capital pelas suas fantasias, trajando sempre de maneira extravagante.

* É a altura de nos referirmos à Assembleia Lisbonense, também

chamada Assembleia da Horta Seca, considerada durante os catorze anos da sua vigência, o melhor centro da plutocracia e da alta política, que constituíam a nata dos partidários da «Carta». A ideia da sua formação surgiu numa conversa de amigos, presentes a um sarau da Assembleia Recreativa (1 s), em Abril de 1836, lembrança do grande liberal Francisco José de Almeida, a quem logo se associaram José da Silva Carvalho, Rodrigo da Fonseca e outros categorizados elementos, que na assembleia geral de 17 desse mês, no salão de S. Carlos, elege­ram aquele notável estadista para vice-presidente e deram o lugar imediatamente superior ao conde de Fanobo. Foi após nova assembleia g·eral, em casa deste titular, que se resolveu alugar o palácio, consi­derado óptimo para o efeito e estabeleceu-se a quota de 9$600 réis (2 moedas). O contrato de arrendamento datou-se de 12 de Maio de 1837, o senhorio continuava a ser o morgado de Vilar de Pe1·dizes e João Fletcher, que ainda era inquilino, foi quem mostrou as casas.

Tinop dá como instalada no Palácio do Manteigueiro, em 1829, a Assembleia, Portuguesa (10), por transferência do palácio Valadares, no Largo do Carmo (2") ; mas, tomando em conta o tempo em que João Fletcher permaneceu nesse palácio (de 1826 a 1836) (21) e outra refe­rência do valioso cronista, relativamente ao Club Lisbonense, que na fundação, em 1835, aproveitou o citado edifício do Largo do Carmo, da então extinta Assembleia Portuguesa (22

), somos levado a concluir que houve inexactidão na primeira afirmativa. Em reforço desta

('') Memi6rias, vol. 3.0, pág. 305.

('8) Fnncionava no p<tlácio Rio Maior.

('") Fundada em 18.19 "' di!:{Sclv:da em 18Z2. ('º) !Jisboa de outr0 ,..a, vol. 2.º" pág. 134. C') Lisboa de outros tempos, vol. 1.0

, págs. 181-1189/190. ("') Lisboa de outJrorab vol. 2.º, pág. 11,35,

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opmiao, lemos em Eduardo de Noronha que o Club Lisbonense foi descendente da Assembleia Portuguesa (2ª). Logo, esta acabou os seus dias nas vizinhanças das ruínas do Convento fundado pelo vencedor de Aljubarrota.

Com o pretexto de dar aos salões um aspecto moderno, cometeu-se a barbaridade de arrancar ou substituir as ricas dec01·ações, como os espelhos, os damascos das paredes, os caixilhos doirados das sobre-

A escadatria do lado pos terio1· venclo-se o D1·. Manuel de Arriaga e os mais directos membro.<; da fa,... mília do antigo Chefe de Estado

portas, e os estuques dos tectos, vendendo-se aos ferros-velhos as portas de madeira do Brasil (2~).

As portas da nova Assembleia abriram-se a 15 de Agosto, e, em 21 de Novembro, fez-se a inauguração com o 1.0 baile, que decorreu

(23) Milicmtwio aa·tista, pág. 118.

(2') Lüiboo de oiitros tempos, vol. 11.º, pág. 181; Lisboa de outr01·a, vol. 2.0,

pág. 141; Milionário artista, págs. 183-185.

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entre primores de luxo e galantaria. Estavam presentes, e tornaram-se certos em todas as festas, os Fronteiras, Palmelas, Farrobos, Vilas Reis, Ficalhos, Terceiras, Braamcamps, tudo o que de mais nobre e de mais fidalgo compunha a alta sociedade da época. Muitas vezes não foi estranha a presença da rainha a Senhora D. Maria II, de D. Fer­nando, da imperatriz-duquesa viúva de D. Pedro, e das Senhoras Infan­tas. Em honra do marquês de Frontefra deram-se alguns jantares e bailes, manifestações políticas dos seus partidários e camaradas no exército, e teve especial realce o baile de 21 de Abril de 1838, em bene­fício do Asilo de Mendicidade.

Nessa época dançava-se por toda a parte. As casas nobres ou abastadas davam continuamente festas. Os condes de Farrobo, do Carvalhal e de Penafiel e o marquês de Viana, formavam em primeiro plano, escancaravam os seus salões, para que neles enh'asse a aristo­cracia, a tomar parte nos mais esplendorosos bailes, muitas vezes acompanhados de magnificentes jantares, chás de grande distinção e concertos da mais sublimada arte.

O general Pourcet de Fondeyre, que visitou o nosso país e chegou a Lisboa em 8 de Outubro de 1842, no seu livro «Lisbonne et le Por­tugal», não esqueceu referenciar a Assembleia Lisbonense, porque lá esteve em noite de recepção, como diz:

«C'était jour de grand réception à l'assemblée lisbonnaise, et il y avait bal. L'infante et la veuve de don Pedro devaient y assister avec toute la cour, les ambassadeurs, les ministres et enfin tout ce que Lisbonne contenait de fidalgos riches et influens. Les voitures roulaient, embarrassant les rues et répandant un bruit parei! à celui de deux marmites fêtées qui se heurteraient ensemble, et les commissaires du Club, bien gantés, bien tapissés de noir et bouclés comme des cherubins, venaient de s'emparnr des portes du bal.»

O ilustre visitante destacou da assistência o capitão Napier, «Un homme petit, gros, rouge et Anglais», que ostentava «Un habit de marin et une quantité de décorations», estava rodeado de «nombreux courtisants qui l'assiégerent aussitôt», e «malgré son âge, sa dignité et sa confirmation, il dansa».

«Sir » Charles Napier (1786-1860, 1.0 visconde e 1.0 conde do Cabo de S. Vicente, mais tarde conde Napier de S. Vicente), foi almirante da esquadra inglesa, almirante honorário da Armada Portuguesa, Grã­-Cruz da Torre e Espada e comandou a esquadra liberal portuguesa durante a guerra civil entre liberais e absolutistas.

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Também num baile de 1838 estivera o general egípcio Edem-Bey, acompanhado de literatos e artistas e a 28 de Abril desse ano teve lugar a primeira «reunião-filarmónica», afirmando Francisco José de Almeida que foi a Assernbleia Lisbonense que muito cont ribuiu, com essa inovação, para desenvolver no país o gosto pela música (25).

Os bailes da Assembleia deixaram um eco que perdurou por muitos ~mos, pondo na lembrança os i·equintes de raro esplendor e a suma elegância que a eles sempre presidiu. A orquestra era primorosa (26),

e nos concertos, sempre impregnados do mesmo cunho de arte e elegân­cia, e para os quais muito concorreu o conde de F arrobo, tomavam par te amadores de fama, escolhidos entre a primeira sociedade (2 ' ).

Tinop, que tinha sempre a frase própria para sintetizar todas as manifestações da sociedade, que nos deixou em apreciadíssimas cró­nicas, escreveu que estas festividades «tinham um encanto, que parecia pertencer ao domínio das fãbulas» (2&). E Júlio Dantas, que salpicou as suas narrações de sentido histórico com referências aos bailes do Manteigueiro, onde se jogava desenfriadamente, deu a notícia sensa­cional de que, nessas noites, as mães românticas, com o peito cheio de jóias, tiravam o seio para aleita r os filhos (29).

Esta agremiação, nascida sob a influência do romantismo, impor­tado de França pelos emigrados que haviam fugido ao miguelismo, não resistiria às perturbações nascidas duma política i1acional incerta e revolucionãria, que o constitucionalismo reprimia a custo. Quando, a 27 de Julho de 1851, numa almoeda que foi pasto de natural coscuvi­lhice, ecoava o pregão do leiloeiro, significativo de que findara o luxo E> o fausto vividos adentro desses salões, já a Assembleia Lisbonense perdera todo o esplendor e grandeza. As suas portas estiveram sempre fechadas aos negociantes de balcão, porque a tal se opunham os estatutos (3º).

* Este palácio também serviu de residência ao conde da Torre e foi

pertença do 1. º visconde de Condeixa (João Maria Colaço de Magalhães

("') A pontatmentos da vida d~ t4m lunne-rn obscwro, pág. 324. (") Regida por Azimont, que foi professor de dança de D. Maria II, mestre

da banda da Guarda Real da Polícia, professor da orquestra de S. Ca1·los e director de bailes. Suicidou-se com um tiro de pistola em 1860, contando 70 anos de idade (Llsboa de outrora,, vol. R·.º, pág. 114).

(") Apontamentos da vida de uon h<Jlnt.em obscm·o, pág. 324. ('") LtisV>oa de ouf:ti·c>ra, vol. 2.º, pág. 11\41. {"º) O amo1· em Po•ttugal no século XVIII, pág. 235 ; Fi{}'iiras de ontem e de

hoje, pág. 86-<1123. (*') Menunias de Bulhão Pato, vol. 3.0

, pág. 356.

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Velasques Sarmento), que nele também viveu e o havia adquirido em 1860 por trinta e tantos contos - outra informação do Abade de Miragaia. De grande distinção de maneiras, o visconde foi par do Reino, fidalgo-cavaleiro da Casa Real, por direito, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e da Rosa, cava­leiro da Torre e Espada e administrador do vínculo dos Colaços, no campo de Coimbra. Trabalhara no Rio de Janeiro, como negociante de grosso trato, e foi tido no nosso país como grande capitalista e opulento proprietário.

As paredes, se falassem, teriam muito que contar da maneira de ser, dos gestos, das atitudes, da indumentária do filho segundo deste outro proprietário, que se chamou Jerónimo Colaço de Magalhães da Gama Moniz Velasco Sarmento Alarcão Bulhões de Sande Mexia Salema, vulgarmente conhecido por Jerónimo Colaço ou Jerónimo Condeixa, e apontado em Paris por Mr. de Magellan. Foi um excên­trico elegante, galã audacioso, para quem a vida era uma eterna estroi­nice. Frequentou o Chiado com uma constância pertinaz e t inha poiso certo na pastelaria Baltresqui (31), onde foi considerado o mais saliente conversador. Das suas i·elações de amizade com Eça de Queirós, dá-nos nota o professor Melo Breyner, que apresenta ambos numa recepção em casa do conde de Daupiás, ao Calvál"io, onde compareceu também Ramalho Ortigão (3 2). Durante essa intimidade, o i·omancista de rara inspiração pôde observar bem o nosso gentil-homem, a «Coqueluche das guapas», e tanto interesse viu nessa estranha figura, que o biogra­fou elegantemente, sob o personagem de Fradique, fazendo as delícias do grande público dessa época, que tanto apreciava o estilo do feste­j ado autor.

Este simpático peralta conseguiu interessar os principais literatos do seu tempo, e, depois de Beldemónio (33), dedicou-lhe Ramalho, em homenagem póstuma, algumas palavras de saudade (34

), que acom­panhou dum r ápido perfil, no qual sobressai a maneira de trajar do elegante : sapatos de bico, calças justas, chapéus arqueados, bengala de castão de prata, anéis ingleses de enormes pedras, grande botão solitário de uma pérola preta, rodeada de brilhantes, no peito da camisa de baile.

('') Era uma das melho1'es pastelarias e situava-se no n.º 49, actual, onde hoje está o depósito das máquinas de costurn Pfaff. Viera da Rua dos Capelistas, cujo estabelecimento foi atingido pelo incêndio de 11863, que destruiu os Paços do JConcelho.

(") Merinóri.as, vol. 1.0, pág. J.t.40. Caricatura, na (pág. 1121.

(") Viagens no Chiado, pág. 1.3.1. Diá1·io Ilustrado de 8-1-1884. ("') As Farpas, vol. 3.º, págs. 103 e segs.

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Rocha Martins, num artigo jornalístico, dá conta de uma entre­vista entre Condeixa e outra figura excêntrica do mesmo tempo, o «Barata Loira», que Tinop classificou como um dos «inválidos da mandracice», e que Eça aproveitou na criação do seu «Dâmaso Salcede», entrevista em que o primeiro foi chamado a dar a sua opinião acerca de uma carruagem que o outro comprara e com a qual pensava deslum­brar os lisboetas. «Ü elegante assestou o monóculo, mirou e remirou o veículo, e, ante a expectativa ansiosa do outro, volveu serenamente:

«- Falta-lhe o número!. .. - Tratava o carro, destinado a estarrecer a capital, como uma tipóia de praça.» e:';;).

É claro que o janota não gostou da graça, mas não se perturbou, e seguiu o seu caminho na carruagem, Chiado acima. E, como aquele <le quem queria ser émulo, faleceu em Paris, em 1914.

Em um artigo de quatro páginas, bem ilustradas, com retratos de família (36), publicado em 1912, o Dr. J oão Telo de Magalhães Colaço (ª') demonstrou a semelhança da sua figura com o «Fradique», de Eça, e foi buscar ao arquivo dos alfarrábios um jornal literário de 1877 (38), em que, com certa ironia, se dá conta do regresso de Paris do escritor e do elegante, satirizando-os deste modo:

DOIS TIPOS

São chegadas a Lisboa Duas grandes personagens A que, a pobre da Gazeta, Presta as suas homenagens.

Chama-se um José Maria Outro chama-se Colaço, N'um as letras ... são mania N'outro o dandysmo ... fracasso!

('~) Arqui·i·o Nacional, n.º 170, ano 4. 0, págs. 2~8/9 . Tinop (U<;boa de outrorn.

Yol. l.º, pág. 249), Eduardo de Noronha (Revista Munici,pal, n.0 46) e Trindade Baptista (Uqn feixe de sciudc~des, pág. 78 e segs.), também se referem a esta figura.

(3'1) Ilwitrnção p01·t;u9nesa, n.º 346, de 7 de Outubro de 1912. (") Professor de Direito e sócio da Academia das Ciências de Lisboa

(189~-rn:n).

('') Gn::eta d-0 Chiado, de ~1 de Dezembro de 1876.

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Ambos vestem a capricho A nibos com agudas botas .. . Ambos se ocupam ... felizes! Em se1·em reis dos janotas.

Po1·tugal lhes grita: Salvé, Do coração vos aguardo! ... Urn lhe oferece um bom talento Outro, urn cão de S. Bernardo.

A este epigrama, respondeu Colaço, logo no dia imediato, com a seguinte caria, a que não pôde poupar um sentido acre, e que fez acompanhar de uma libra em ouro :

«Acabo de chegar de Paris como V. Ex.ªs me deram a honra de anunciar em verso, e vi portanto pela primeira vez a «Gazeta do Chiado».

Tive grande i·egozijo em ver que durante a minha ausência o País se tinha dotado com mais este elemento de pilhéria, e dese­jaria que V. Ex.ª 8 me dessem o prazer de me contar entre os seus assinantes, já que me deram a honra de me contar entre os seus assuntos : a minha única mágoa é que o mau tempo d'aqui e o bom tempo de Nice me obriguem a deixar Lisboa tão cedo sem ter ocasião de exibir as novidades mais características de Londres, Paris e Viena, em «costumes», cavalos, «pelisses», cães, chapéus, luvas, carruagens, jóias de dia e jóias de noite, librés e «bouquets» de casaca!

O País porém tem tantos tipos superiores de elegância, que eu parto tranquilo, na certeza de que, o «bom tom», o «Dandysmo», terão ainda grandes dias entre o largo de S. Roque e a rua dos Calafates.

Tomo a liberdade de pedir a V. Ex."8 que me façam dirigir o seu jornal para minha casa em Paris, 21, Place Vendôme.»

Júlio Dantas, o erudito académico, numa das três conferências que proferiu no Brasil em 1923 (39), desenhou magnificamente essa estranha figura, alinhando-a com Almeida Garrett, Paiva de Araújo, Henrique James e Ricardo Brown. Desse trabalho de alto valor literário, recor­tamos este passo, que por si só define, de forma expressiva, o quilate desse virtuose da Moda, assim retratado:

(39

) O Hetr<>Wnio, A Eleg·ârwia, O Amoi·.

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« ... foi em Paris o modelo da elegância luminosa que se compraz nas cores vivas, nos tons quentes, nos coletes cor-de-fogo, nas calças gris-verle, nas lapelas de seda floridas de grandes camé-

Jer6nimo Colaço flOX .J8 anos

lias vermelhas, - e amou com o mesmo brilho com que se ''estiu, fazendo de cada aventura uma alta comédia e sorrindo das pró­prias paixões que despertava, como se o amor fosse apenas para ele uma espuma leve de Champagne.»

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Jerónimo Colaço possuía um mail-coach, tirado a quatro cavalos, que causou assombro e sobressalto na Lisboa pacata do fim do século passado. Conhecia de cor a volta que dava diàriamente, às 4 horas da tarde, de S. Roque à Patriarcal Queimada, descendo ao Passeio Público, e da Baixa entrava no Chiado, fórum da elegância e da male­dicência citadinas. A sua presença «alvoroçava a pacatez lisboeta e acordava as nossas ruas áfonas», e as guizeiras da carruagem, em des1·espeito pela postura policial, «Obrigavam os caixeiros a correr às portas das lojas e as cabecitas femininas a assomar às janelas dos andares.» (4 0).

Como todos os gm,nds-seigneurs, Jerónimo Colaço fez vida larga em Paris, que deslumbrou com as suas gravatas, as suas jóias e as suas amantes. Também viveu no Rio de Janeiro e serviu como secre­tário de embaixada. Seguindo o exemplo do duque de Palmela, as suas camisas iam a engomar a Londres. E foi a «cidade-luz», na cama de um hotel do Boulevard Malesherbes, que o viu finar-se, aos poucos, com uma lesão cardíaca, em adiantado grau. Era o dia primeiro de Janeiro de 1884. Contava 39 anos e há uma dezena deles que os cabelos se lhe haviam embranquecido completamente. Estivera em Lisboa em fins de Novembro de 1883 e foi em Paris que quis separar-se da vida, que ele tanto amara, e da qual soubera aproveitar tudo o que de mais belo ela pode dar.

Inevitàvelmente, o espírito extravagante desse janota-fidalgo, de lugar distinto entre a sociedade dourada que lhe foi contemporânea, havia de alentar a história da casa que lhe serviu de lar, como se demonstra por este apontamento revelado ainda e sempre por Tinop:

«No seu quarLo de dormir, notava-se um catafalco, servindo de cama, enquanto ao lado, gravemente, se perfilava um esqueleto que fazia sentinela; em uma das salas, admirava-se um troféu constituído pela cabeça de um toiro (morto numa sorte oferecida por Carmona ao Condeixa), pelas cabeças dos cavalos abatidos nessa toirada, e por farpas, varas, espadas e capas de bandari­lheiro; a escada, que conduzia ao seu quarto, possuía guarnições compostas de freios e pingalins de todos os géneros; os corredores impunham tanto respeito como alêas bordadas de esfinges, que dão acesso ao templo de ísis.» (41

).

('º) Lisboa de 01.ltnn·a, voi. 1.0, pág. 252.

(") Lisboa de cmtr&1·<1, Yol. 1.º, pág. 231. Também se lê essa revelação no • Diário Ilw~trcvlo de 4-1-1884.

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* A mudança do i·egime político em Portugal também influiu na

história deste palácio, que veio a servir de moradia particular do primeiro presidente da República, a cujo magistrado, pela nova Cons­tituição, não foi, a princípio, concedido direito a residir em edifícios do Estado, nem sequer a servir-se de automóvel oficial. O preenchi­mento desse alto cargo coube, por eleição, à Assembleia Nacional Cons­tituinte, que reuniu para o efeito em 24 de Agosto de 1911 (' ~), escolhendo a figura prestigiosa do Dr. Manuel de Arriaga (Manuel José de Arriaga Brum da Silveira), de origem fidalga, descendente de reis e cavaleiros cruzados (4 3). Pobre como era, residia numa casa modesta, no 2.0 andar do n.0 35-F da Rua da Santíssima Trindade ('11

),

tendo por isso que instalar-se em nova moradia, que foi o palácio do Manteigueiro (4 5

). E assim, esse edifício, de aspecio e interiores con-

O saUio de f e<>la.<;, no tempo do Dr. Mamuel de A?•riaga

(") Também foram candidatos à presidência os Drs. Magalhães Lima, Ber­nardino MacJ.hado e Duarte Leite.

(") O 1.° Ministério constituiu-se em 3 de Setembro de 1911 e foi presidido pelo Dr. João Chagas, dele fazendo parte o general Pimenta de Castro e o capitão l)r. Sidónio Pais.

(") Passou a chamar-se Rua Garcia da Horta. O escritório de advogado era na Rua Nova do Almada, 53, 2.º Dto.

(")' Nessa época, tinha o número de polícia 39, como no tempo do Condeixa <' n.º 47.

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dignos, já tão rico de história, que acabara de servir de residência ao diplomata brasileiro José Pereira da Costa Mota, que entre nós repre­sentou o seu país de 1908 a 1911, passou a ser, nos primeiros tempos da República, o fulcro da política nacional, incerta e efervescente, como é próprio de regimes incipientes.

O Dr. Manuel de Arriaga, jurisconsulto distinto, tribuno de valor, era um poeta, um místico, um sonhador. As horas que a política lhe deixava vagas, aplicava-as no carinho dos seus netos, no cultivo das flores, que ele muito apreciava, no jardim do palácio, que tinha uma linda galeria envidraçada, que servia de estufa.

E o. novo Chefe do Estado, porque, como provou sobejamente em todos os seus actos, era um poeta, um místico, uma alma cândida e benfazej a, logo que se instalou na sua nova residência, quis inaugurá-la com a realização de actos que se ajustassem ao seu carácter e à sua sensibilidade. Convidou, primeiramente, para sua casa, os cegos, os inválidos, os velhos asilados, gesto a que o jornalista-panfletário, que era Rocha Martins, dedicou estas palavras:

«Foram esses delegados da dor, da amargura e da miséria, que encheram os lugares em volta da mesa a que o Presidente da República presidiu entre eles e à qual as gentis senhoras da sua família serviram.»

A seguir, os professo1·es primanos, os mais ignorados e abando­nados funcionários públicos, foram chamados a sentar-se à mesa do Chefe do Estado, que teve a seu lado um desses beneméritos, já cego, que se chamou Lobo de Miranda.

E, por último, coube a vez aos pequeninos beneficiado& das Can­tinas Escolares, que usufruíram a satisfação de almoçar com o pri­meiro magistrado da Nação, que, não podendo olvidar-se da sua quali­dade de avô amantíssimo, deve, por sua vez, ter sentido um grande prazer espiritual, vendo-se no convívio de tanta criança humilde, oriunda dos bairros mais pobres da capital. Às quintas-feiras recebia os seus íntimos familiares.

Rocha Martins, que nessa altu1·a dedicou um artigo especial a «Ü Dia do Presidente» (46) dizia com a sinceridade que era seu apa­nágio, ao visitar a antiga moradia do Manteigueiro:

(") llust1YLçiio Portuguesa~ n.0 306, de 8 de Janeiro de 1912. A reportagem está ilustrada com interessantes cliché:;, reproduzindo o próprio presidente, pessoas de si.la famíEta e aSJ iirincipais salas do palácio.

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«A nota dominante daquela casa é a singeleza. Não há ali o tumultuar da criadagem nem o luxo bizarro dos milionários, não há essa sumptuosidade que enche os paços régios e serve para as pompas oficiais dum culto político. A antiga morada do grande elegante (que foi Jerónimo Colaço) aparece hoje como alguma coisa de tão simples, de tão singelo nas suas decorações como de afabilidade e gentileza são as maneiras por que os seus habitantes nos recebem. O Sr. Dr. Manuel de Aniaga conserva dos seus tempos de trabalhador os hábitos modestos; o antigo advogado, alçado à chefatura da nação, continua, naquele palácio, a sua vida calma e sem alardes de sempre.

O seu dia começa bem cedo; também bem cedo o presidente da República se recolhe; a sua existência decorre entre os netos que ama e as flores que aprecia. Quase sempre estão alguns dos seus netinhos no palacete da rua da Horta Seca, pequenitos encan­tadores, todos de lindos olhos e carnes rosadas, brincando pela grande galeria onde os pombos melancólicos arrulham e as plantas de estufa reverdecem.

Quando são dez horas da noite, o Chefe do Estado vai para os seus aposentos e manhã muito cedo Já anda tratando das suas plantas, cuidando-as, analisando as folhas, tratando com esmero as avencas formosíssimas que enchem a galeria onde Jerónimo Colaço narrava aos amigos, homens de letras e homens de prazer, as últimas aventuras do príncipe de Gales, a mais recente boutade de Rochefort e as cores da moda para as gravatas decretadas solenemente no boulevard.»

O 1.° Chefe do Estado que presidiu ao regime actual, depois das suas tarefas de jardineiro-amador, almoçava pelas 11 horas, para em seguida receber os altos funcionários ou as pessoas a quem concedera a audiência solicitada. A tarde gostava de dar um passeio pelos arre­dores, apreciando a beleza da paisagem. Pedrouços, Algés, Linda-a­-Pastora, Linda-a-Velha, Carnaxide, Alferragide tinham um atractivo especial para o bondoso ancião, que amava a Natureza com todas as veras da sua alma. O Jardim da Estrela e o Jardim Zoológico consti­tuíam uma atracção dominante. Fora dos cuidados da governação do país, as lindas e variegadas flores, a música clássica e os netinhos queridos, eram o fulcro máximo da sua admiração.

Assim decorria a vida particular do nosso primeiro presidente.

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Mas, noblesse oblige. E esse paladino da República, ao menos uma vez, teve que quebrar a monotonia do seu viYer simples e modesto, abr indo festivamente os grandes salões do palacete da Rua da Horta Seca, que se iluminaram a grandes jorros, na noite de 18 de Novembro de 1911, para a recepção ao povo de Lisboa, nas pessoas dos seus mais direcios representantes, os vereadores da primeira Câmara do país, de formação republicana, eleita três anos anies e a que presidia Anselmo Br aamcamp F reire (47

). Ao banquete oficial, que era o pri­meiro do novo regime, seguiu-se uma conconida recepção que, como é natural, decorreu cheia de interesse e ent usiasmo, com a presença de

A escada nobre na act:uali<ki<le

«gentilíssimas damas, a fina flor da burocracia». A festa, norteada pelo desejo de homenagear a edilidade de Lisboa, «Como preito de gra­t idão pelo exemplo admirável de administ ração que ela tem sabido dar ao país», teve igualmente a assistência dos representan tes da Imprensa. À meia-noite franqueou-se a sala do bufete e a dança esieve animada até depois das 2 horas da madrugada.

(") Esta alta individualidade (1849-19211•), possuía grande riqueza e estava aparentado com os mais nobres. Foi par do Reino hereditário, moçcrfidalgo da Casa Real, escritor, arqueólogo e genealogista, filho do 1.0 ba1·ão de Almeirim e sobrinho de Anselmo J osé Braamcamp, que chefiou o partido progressista. Aderiu à República em 1907, após as declarações de El-Rei D. Carlos ao jornal • Le Temps, sendo acompanhado nesse gesto pelo conselheiro Augusto José da Cunha.

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A Ilustração Portuguesa (48) dedicou nessa altura uma pagma

especial à nova residência oficial do primeiro Magistrado da Nação, reproduzindo fotografias das salas de visitas e de baile e da fachada do edifício, que então não ia além do 1'.0 andar e águas-furtadas.

O presidente Arriaga pouco tempo permaneceu nesta casa, porque lhe foi consentido, afinal, ocupar um anexo do Palácio de Belém, com entrada pela Calçada da Ajuda, para onde se transferiu em Junho de 1912, e esteve bastante enfermo em Agosto do ano seguinte, indo tempos depois convalescer para a Cidadela de Cascais. A sua morada, após a renúncia à suprema magistratura da Nação, em 26 de Maio de 1915, foi na Rua de S. Francisco de Paula (Presidente Arriaga), n.0 30, 1.0

, onde faleceu a 5 de Março de 1917.

* Com a morte do visconde de Condeixa, em 1871 (28 de Maio),

o palácio ficou em nome da viscondessa, sua esposa, D. Maria Rita Ferreira dos Santos Magalhães, que o senhor D. Luís I elevou ao grau de condessa, por carta régia de 27 de Novembro de 1874. Passados três anos, o rico imóvel foi transmitido a D. Maria Ferreira das Neves, pertencendo em 1882 a J oão Ferreira Gonçalves, «negociante matri­culado no Tribunal do Comércio de Lisboa», de cuja herança, em 1894, foi inventariante e cabeça do casal, sua viúva, D. Emília Romana de Vasconcelos Gonçalves; e, em 1908, por morte desta senhora, torna­ram-se proprietários do solar da Horta Seca Arnaldo Machado Fer­nandes, sua esposa D. Adelaide Vasconcelos Barbosa Fernandes e outros.

É depois desta data, em 1920, por escritura de 5 de Novembro, lavrada nas notas do notário Tavares de Carvalho, que a Vacuum Oil Company, sociedade anónima de responsabilidade limitada, com sede em Nova Iorque, adquire esta propriedade onde estavam instalados os seus escritórios centrais, desde 1913.

Crê-se que a Vacuum Oil Company, sede de Paris, começou em 1899 a exercer a actividade em Portugal (4 9

), colocando os seus pro­dutos na mão de revendedores, o primeiro dos quais foi a firma V:J. Macieira & F.0 s , parece que a partir de 1863. Mas foi a Colonial Oil Company, com sede em Nova J érsia, que primeiro se estabeleceu em Portugal, montando o seu escritório, em 1901, na Rua Augusta, 69, 2.0

, prédio que, tempos depois, foi adquirido pelo C1·édit Franco-

('~) N.º 301, de 27 de Novembro de 1911. «'> Esoritório na Rua do Alecrim, n.º 22, e depósito na Rua Cascais, 10.

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-Portugais, para alargamento das suas instalações; e, em 1905, já a clientela se encaminhava para uma parte do andar nobre do Palácio Foz, com entrada pelo n.0 30 da Praça dos Restam·adores. Nas salas de que se compunha esse apartamento, esteYe o Ritz Club, numa época em que esse género de dive1·são encobria um desenfreado jogo de batota; depois, o Éden-Teatro aproveitou-as para seu foyer e bufete, servindo também de saída de recurso, em caso de sinistro, para o que havia uma passarela a ligar os dois edifícios; e, por último, até à data em que todo o antigo imóvel do marquês da Foz passou a constituir património do Estado, as tais salas estiveram arrendadas ao Sporting Club de Portugal (~º).

Em 1908, propôs-se à Colonial uma transacção importante, da qual resultou a sua integração na Vacuum Oil Company, que logo se apressou a procurar melhores instalações, num 2.0 andar do Largo do Chiado, com serventia pelo n.0 9 da Rua Nova da Trindade, que em velhos tempos se chamou do Secretário da Guerra (;;1). Também chegou a ocupar o 4.0 andar.

E foi de tal casa que a Vacuum Oil Company, com o negócio em franco desenvolvimento, se mudou para o palácio do M cinteigueiro, que tinha nessa altura o número de polícia 39. De então para cá, a antiga Vacuum, ainda hoje assim vulgarmente denominada, alterou por mais quatro vezes a sua firma: Socony-Vacuum Oil Company, Inc. (em 1941) , Socony-Vacuum Portuguesa, S. A. R. L. (em 1952), Socony Mobil Oil Company, Inc. (em 28 de Abril de 1955) e Mobil Oil P ortuguesa, S. A. R. L. (em 1 de Setembro de 1955).

Voltemos ao palácio do Manteigueiro, que já sabemos ser proprie­dade da Vacuum Oil Company, hoje Mobil Oil Portuguesa, e falemos das obras de ampliação que a mesma empresa mandou executar em 1925, porque a expansão dos serviços naturalmente o exigiu.

Tais obras t iveram como primeira fase a demolição completa das antigas águas-furtadas e com elas se foi o testemunho de um episódio histórico da época em que liberais e absolutistas se empenhavam em grande luta, facto esse que se deu após a vitória dos primeiros. Aí esteve escondido e coberto com velas de navios, aprestos marítimos pertencentes a J oão Fletcher, o miguelista João P aulo Cordeil'o, de

('") Na escada estava estabelecida uma bem conhecida engraxadoria, que era a de meThCl'r apresentação da Baixa.

e') Da r azão do nome que se deu a esta serventia pública e mais história da família do Secretário da Guerra, J oão Pereira da 'Cunha Fe1rraz1 dá Matos . Sequeira desenvolvida notícia (0 Ca111mo e a T1·indade, vol. 2.º, págs. 1J5 e segs.).

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quem já nos ocupámos, e de lá saiu, protegido por aquele súbdito de S. M. Britânica, com o disfarce de barbas postiças e a farda de um oficial inglês. Sempre acompanhado por seus leais amigos, Paulo Cordeiro tomou o caminho do Cais de José António Pereira, à J un­queira, embarcando a bordo de um navio aliado.

Nas mesmas águas-furtadas montou o inglês um sistema engenhoso que lhe permitia interceptar os despachos telegráficos destinados ao governo do senhor D. Miguel, servindo-se de um telegrafista que estava em permanente comunicação com outro, postado nos altos do prédio de João Trigueiros, na Rua do Moinho de Vento. E, desta forma, João Fletcher conhecia, primefro do que todos, a marcha dos acontecimentos, o que intrigava imenso João Paulo Cordeiro e os seus partidários, que nunca conheceram a artimanha, que muito útil foi à causa do senhor D. Pedro IV (52).

Essas antigas águas-furtadas tinham quatro janelas para a Rua da Horta Seca, três do lado da Rua da Emenda e a fachada posterior a.presentava características diferentes, de um bom 2.0 andar, de pé­-direito, com nove janelas abertas. São da primitiva as varandas a toda a volta da caixa da escadaria nobre, que está coberta pelo bonito lan­ternim que enumerámos ao princípio.

Na nova construção houve o propósito de respeitar a linha arqui­tectónica do edifício, tanto no interior como exteriormente. Nas pare­des empregou-se tijolo, com argamassa de cimento e areia, às janelas de sacada do 2.0 andar, deram-se grades e guarnições iguais às do andar nobre, e, ao último piso, também de pé-direito, correspondem janelas de peito, com ornatos simples, e estes feitos de betão armado, pintados com tinta especial, a imitar calcário, como se fez com as novas guarnições do 2.0 andar. O beirado antigo foi substituído por platibanda.

Estes trabalhos foram dirigidos pelo engenheiro-chefe da Vacuum, o visconde de Assentiz, que tinha como auxiliar e responsável, pela execução das obras, o engenheiro Teófilo de Sousa Leal de Faria.

Do lado poente, um anexo de alvenaria, a que foram dadas as condições necessárias para acomodar alguns serviços, substituiu em 1923 a antiga galeria-estufa, onde o Presidente Arriaga se esquecia a contemplar as suas preciosas avencas. E já a Companhia pretendeu, em 1938, renovar essa construção com dois andares, condizentes com a parte central, o que não foi autorizado pelos serviços municipais, com o fundamento de que essa realização alterava a arquitectura geral.

e» Apontmnentos da vida de uni homem, obscuro, pág. 253; Lisboa de outros tempos, vol. 1.º, pá~. 184.

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Além da escadaria nobre, toda de pedra, que vai só ao 1.0 andar, uma outra, de macacaúba, partindo da sobreloja, conduz até ao mirante. Tudo, porém, se pode fazer com maior comodidade, utili­zando o ascensor eléctrico, montado em 1953.

A antiga sala de jantar, onde reúne periõdicamente o Conselho de Administração da Vacuum, é o gabinete de trabalho do seu presi­dente. E, a que foi sala de baile, está dividida em compartimentos, mas os tabiques não atingem o tecto, não bulindo assim com os ornatos do tempo da Assembleia Lisbonense.

O jardim, para o qual se desce por duplas escadas de pedra, está a cargo de um profissional que a Vacuum tem ao serviço, e mantém-se bem cuidado e com aspecto acolhedor. Não é de todo indiferente essa mancha verdejante, aos homens que passam grande parte da sua vida numa casa de trabalho, como é a deste palácio setecentista, que ainda não dá mostras da sua longevidade. Na antiga cozinha, de abóbada forrada de azulejos policromos, são as instalações sanitárias. A velha cocheira, com entrada pela Rua da Emenda, que podia ufanar-se das belas carruagens de Jerónimo Colaço que aí se acolhiam, serve actual­mente de casa de arrecadação e já foi loja de venda ao público de candeeiros, fogareiros de pressão, lanternas, bocais e torcidas, no tempo em que a electricidade não tinha atingido tão grande expansão. Para esse negócio foi ap1·oveitada antes a loja n.0 17 da Rua da Horta Seca, e em tempos mais distantes, igual comércio se exercia na Rua do Alecrim, n.º 95. Corresponde esta casa a uma loja ao palácio situado à esquina do Largo do Barão do Quintela, onde esteve a Assembleia Estrangeira, que já tivemos ocasião de nomear.

Na frontaria principal, ladeando o portão, continuam a ver-se em saliência, dois candeeiros de bronze, iguais a outros mais, cuja exis­tência ainda se respeita em alguns dos palácios da velha aristocracia.

Ao findar a apresentação dos quadros e figuras que encheram de vida o palácio do Manteigueiro, revejo todos os factos ocorridos e sinto-me dominado pelos vultos aqui enumerados, que se me apresen­tam envoltos numa luz, de mediana transparência. Enfileira à cabeça o semítico ricaço, formando montanhas de oiro e a dar balanço ao que gastara na constl'ução do seu velho solar dos sítios do Loreto; a seguir, curvado numa vénia, mostra-se o aristocrático Condeixa, elegante, cortês, parecendo querer atravessar-nos com o olhar, através do seu monóculo, que nele era tão natural e distinto; ao lado, João Fletcher, o inglês que se tornou prestável aos «malhados» e protector dos «cor­cundas», alto, vertical, a preparar-se para contar aos amigos que o rodeiam, a última anedota que o Chiado ainda não ouvira; junto dó

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fleumático Anglo-Saxão, o seu íntimo, o munificente conde de Far­robo, como mecenas que era, despejando o oiro da sua larga cornucópia; distante, numa atitude de simpática austeridade, e ouvido por uma densa multidão entusiasta, está o primeiro Chefe do Estado i·epubli­cano, a incitar os portugueses no caminho do amor e da fraternidade humanas; e, em plano secundário, numa amálgama de vultos e sombras, mal se divisam muitos dos que frequentaram assiduamente os luxuosos salões da Rua da Horta Seca, e que, na recordação das sumptuosas festas da Assembleia Lisbonense, contemplam, absortos, a heterogénea assistência à primeira festa da República, caracterizadamente demo­crática e orientada por um novo sentido protocolar. Estranha legião essa, numa representação de castas e políticas desiguais, em que gra­vitam nobres, burgueses e plebeus; ministros de Estado, deputados e pares do Reino; juízes, conselheiros, tribunos e homens do povo; capi­talistas e banqueiros, intelectuais e ignorantes, num flagrante embate das consciências bem formadas com os malquerentes e os biltres. Multiformes nos trajos, cores dos atavios e exotismo de suas cabeleiras, mostram-se altivos uns, curvam-se outi·os em salamaleques, irradiando simpatia ou mostrando autoritarismo, arrogância, desprezo; recor­dando, quem sabe, momentos de prazer, apetites não satisfeitos, des­peitos, paixões, sentimentos feridos, amores, adultérios, deslealdades, traições, subterfúgios, atropelos, vinganças. E, pairando acima de todos, uns poucos, de alma em paz, a rezar pelos que ainda não haviam merecido a misericórdia divina.

Os espectros foram-se, guiados por um espírito angelical, todo humildade e amor e batido em cheio por uma luz resplandecente. E nós, que ultrapassámos há muito a barreira que deve. limitar este género de tortura humana, completamente desconhecida dos povos incultos, pomos o ponto final nesta história, que logo na abertura pre­venimos seria múltipla, inconstante e agitada.

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NOTAS À MARG BM

Quando do leilão dos móveis da Assembleia Lisbonense, publicou o Diário do Governo, n. º" 172 a 174, de 24 a 26 de Julho de 1851, o seguinte anúncio:

«Leilão para liquidar - Rua da, H 01·ta Seca -Assembleia Lisbonense

Por intervenção do Corretor do número Guimarães - Domingo 27 do corrente, e dias seguintes, às dez horas da manhã: consta de sofás, cadeiras, espelhos, lustres, alcatifas, serpentinas, mesas de jogo, estantes para livros, cortinas, «Consoles», otomanas, fogões, candeeiros, tabuinhas, bambinelas, toucado1·es, lavatórios, louça, vidros, pratas, mesa de jantar, aparadores, urnas, escre­vaninha, cabides figuras de gesso, relógio, secretária, plantas em vasos, uma grande porção de jornais, e outros muitos objecios, que estarão patentes no acto do leilão.»

* A sociedade V.ª Macieira & F.0

" , indicada como possível primeira Yendedora de petróleo em Lisboa, só em 1904 deixou de figurar entre os negociantes de tal produto, de cuja lista, em J 900, faziam igualmente parte : A. Riviere (Rua de S. Paulo, 9), Lima Mayer & C.ª (Rua Bela da Rainha, 59, 1.0

), Miranda & Silva (Rua dos Bacalhoeiros, 1'28-l'30) e Pedro Araújo & C.ª (Rua dos Bacalhoeiros, 58).

Aquela firma, fundada em 1851, continua estabelecida em Lisboa, na Rua da Madalena, n.º" 1'2 e 18, 1.º e é sucessora de José Gonçalves Macieira & C.ª, casa comercial a que, no início, esteve ligado o opulento negociante Henrique Gonçalves Macieira (1830-1888), visconde e conde de Macieira, que desfrutou de grande prestígio no meio bancário e no alto comércio. Foi <lirecior do Banco Lusitano, administrador da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e director das mais importantes empresas comerciais e industriais. Morava na Rua Nova dos Mártires, 30, 2 .0 (Luís Pastor de Macedo reuniu elementos muito preciosos, relacionados com a numerosa família Macieira -. Tempos que pcl$SCirarn, págs. 143 e segs.).

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A f acluula do edifício como actiuifoumte se apresenta

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A iluminação a petróleo, que a burguesia e as classes pobres começaram a usar nos meados do século xrx, e a invelllção dos motores de explosão e dos carros automóveis, no final do mesmo século, abriram um largo campo à indústria do petróleo, agora com larguíssimas perspectivas, uma vez considerado o incremento que está tomando o automobilismo no mundo inteiro, os progressos da aviação e os poderosos gastos das forças motorizadas militares, que carecem duma excessiva acumulação de reservas, precavendo-se para uma nova fata­lidade mundial.

Ontem como hoje, o petróleo e seus derivados são transportados em navios-tanques ou navios-petroleiros, sistema que data de 11866, e:: já se fala agora em supertanques. Pôs-se logo o problema da cons­trução, perto dos cais marítimos dos países importadores, de grandes depósitos para armazenagem das importantes cargas, cabendo entre nós essa primazia à Colonial Oil Company, que situou tais depósitos e oficinas próprias, junto à doca de Santo Amaro. Foram sucessivas as ampliações, constituindo uma série de reservatórios-monstros, que se mantiveram no mesmo local, até que, em Julho do ano pretérito, por indica1~ão de quem de direito, foram substituídos por outros, em Cabo Ruivo, fazendo parte de um conjunto de óptimas instalações da mesma espécie. Mas não serão desmanchados esses antigos reservatórios, porque se entendeu, nas altas esferas governamentais, não prescindir deles, por agora.

Depois da última guerra, tem-se verificado a tendência para instalar as refinarias junto das áreas de consumo, de preferência a ficarem perto dos pontos de produção, e, assim, os novos supertanques servirão igualmente para o transporte de ramas, que têm presente­mente um aumento de movimentação·.

Precisamente em 1938, ano em que se verificou uma subida verti­ginosa do consumo mundial de produtos petrolíferos, estabeleceu-se em Lisboa (Cabo Ruivo) , em terrenos adquiridos à Administração-Geral do Porto de Lisboa e Câmara Municipal de Lisboa, a primeira refinaria de petróleos em bruto, que, conforme escritura de 28 de Julho, adoptou "" designação de Sociedade Anónima Concessionária da Refinação de Petróleos em Portugal (Sacor), que agora elevou o seu capital para 500.000 contos. Do tratamento das ramas, derivam a gasolina, o petró­leo, o gasóleo e outros óleos combustíveis e de lubrificação, e tem especial aplicação o chamado «Gás-Cidla», que resolve com grande comodidade problemas domésticos e de comércio, em agregados que ficam para além da rede de distribuição do chamado gás de iluminação,· " cargo das Companhias Reunidas Gás e Electricidade.

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É de acentuar a categoria internacional desta destilaria, que po3sui um tanque de reservatório3 com a capacidade de 200.000 m3 , estando a trabalhar-se para atingir um duplo volume. E vale como precioso colaborador, neste sector da vida económica nacional, a Sociedade Por­tuguesa de Navios Tanques, Lda. (Soponata), com a sua importante frota mercante. Criada em 113 de Junho de 1947, com o capital de noventa mil contos, subscritos por cinco companhias petroleiras e três sociedade3 de navegação, possui actualmente oito navios-petroleiros, com a capacidade para 102.796 toneladas de carburantes, e estão mais supertanques em construção, no país e estrangeiro.

A «Sacor» pode já considerar-se instituição nacional. Popula­rizou-se com a sua exuberante chaminé, que se descortina de grandes distâncias, expele grandes labaredas e exala cheiros que, em certos dias, se propagam pela cidade, com grande incómodo dos seus habi­tantes. Lembra outros tempos, em que, em menores proponções, duas zonas da cidade, estavam familiarizadas com o rastro do chamusco dos cevados, no Matadouro da Cruz do Taboado, e da fumarada da queima das notas, no Banco de Portugal.

A distribuição de gasolina, em Lisboa e província, fez-se primeiro em caixas e tambores de ferro e daquelas se transferia a essência para o depósito do automóvel, com o auxílio do clássico funil. Tempos depois, a venda a granel e o abastecimento por grosso, começaram a fazer-se por meio de carros-tanques e vagõe3-cisternas, e foi então que, para a venda a retalho, se criaram uns pequenos carros, equipados com bombas manuais, usando-se o sistema rotineiro das medidas de folha. As bombas abastecedoras fixas, de processo manual, que passa­ram a haver nas principais garagens de Lisboa, só a partir de 1923 apareceram na via pública, a primeira na Avenida da Liberdade, junto da antiga Garagem Panhard-Palace, com entrada pelo n.0 87 e repre­sentada por Ricardo O'Neill. O mapa de estradas, mais antigo que se conhece, é o «Mapa para o Automobilismo», editado pela Colonial Oil Company, em 1902, na escala de 1 :1.000.000.

O petróleo encontrava-se nas carvoarias ou adquiria-se à porta, aos v~ndedores ambulantes, que o transportavam às costas, em pesadas bilhas de folha, quando tais mourej adores não tinham posses para endossar esse carrego a qualquer macho ou pachorrento burrico. Assim percorriam a cidade, e como o puro óleo de azeitona também fazia parte do negócio, atroavam os ares com o seu tradicional pregão: «Pitroline ! Azeite doce!»

O homem do vitroline era um elemento indispensável à vida de Lisboa. As bilhas, de feitio especial, amoldavam-se às costas, às quais se prendiam por meio de correia, passada a tiracolo ou sobre o ombro

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esquerdo, e dividiam-se em duas partes, uma para o azeite e outra para o petróleo. Suspenso por outra correia, também o vendilhão transpor­tava um pequeno barril com o vinagre, segurando na mão direita uma outra .Jata, de bico comprido, com uma pequena reserva de petróleo, para onde escorriam os restos que ficavam no fundo das medidas, que se acondicionavam sob a tampa. Do lado de fora ficava depen­durado o funil. A indumentária, talhada em tecido de ganga, constava de casaco curto e calças justas, com uma espécie de grevas. Comple­ta\'am o conjunto, barrete preto e botas ferradas.

O progresso trouxe a simplicidade, que introduziu neste sector um cómodo e rápido meio de abastecimento, de que quase não f lOS

apercebemos. O petróleo, em Lisboa, utiliza-se principalmente no aquecimento e vende-se nas carvoarias e em todas as drogarias; quanto a gasolina, topa-se a cada passo com a providencial bomba, inteira­mente automática, accionada electricamente, que hoje se apresenta no máximo da perfeição, marcando a quantidade desejada e o seu custo. E as estações de servitço também são à bicha . . . Duma forma prática essa maravilha resolve -quantas vezes! - casos muito sérios, que mais avultam entre os automobilistas pouco cautelosos, quando verificam, triste e melancolicamente, que o seu carro não anda, porque o depósito da gasolina está limpinho ...

Fica melhor aqui, em vez de intercalada no texto, esta divagação sob:re uma causa de alto valor internacional, que constitui hoje a aten~o de todos os Estados e serve de pomo a grandes lutas e ambiçõ1~s. Até J.á motivou um esboço de conflito armado, como desforço de uma afronta entre na.ções, e que a desgraçada época em que vivemos, consentiu que ficasse impune.

* A venda de fogões, candieiros e outros artigos <lei iluminação,

por conta da Vacuum, também se efectuou no antigo «Stand» de auto­móveis da firma Rugeroni & Rugeroni, na Praça de D. Pedro IV, n.0 8 66 a 68, que reservava para expos:Lç.ão as montras n.ºª 1 e 2 do Largo de D. João da Câmara. Esse estabelecimento foi trespassado àquela Companhia em 11927, que por sua vez o passou à Companhia dos Tele­fones, que em 1932 aí inaugurou uma sala de cabinas públicas.

* A feição cultural, desportiva e social da Vacwum está definida

num simpático organismo, o Mobil Clube, S. C. R. L., e o seu porta-voz é a Gazeta M obil C~ube. O primeiro lançou as suas bases em 11 d~ Julho de 19&9 e possui salas de jogos, bar, biblioteca, cantina e refoi-

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tório; e o interessante mensário, fundado em Abril de 1946, com uma tiragem de 1350 exemplares, é dirigido actualmente por um distinto empregado da Casa Mãe, o senhor José Martinho de Campos. São duas realizações que muito honram o organismo que lhes dá o nome e que põem em foco a têmpera do pessoal que dedicadamente lhe presta a melhor colaboraição. Vivem em comunidade a casa de recreio e a revista literária, em um prédio contíguo ao palácio, na Rua das Chag·as, n.0 20, e que ocupam todo o i·és-do-chão e o lado direito da sobreloja.

O Mobil Clube, S. C. R. L., só assim se classifica desde 10 de Abril de 11956, visto que na origem se chamou Vacwum Clube, tendo-se trans­formado em 1 de Julho de 1946 em S. C. R. L. E, a Gazela Mobil Cl!ube, alterou em Julho-Agosto de 19'56 a sua primitiva denominação, que era Gazeta Vaowwm Cltube.

São notáveis os empreendimentos já realizados pelo Mobü Cl1Abe, não só sob o aspecto desportivo, como cultural, destacando-se s,~is concertos musicais promovidos em 1957, na Casa da Imprensa, de colaboração com a Pró-Arte, e em que tomaram parte apreciados artisv tas. É de enaltecer a estreiteza de relações, sempre demonstrada, entre patrõ~s e empregados, e digno da maior apreciação e elogios, o prin­cípio adoptado pelo Conselho de Administração da antiga Vacuum, na distribuição periódica de benesses e galardões, por todo o pessoal em seni•ço acti vo.

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ACTIVIDADE C ULTURAL

no Trintestre Passado

A aciividade cultural no trimestre passado iniciou-se em 11 de Janeiro com a exposição de documentos de seguro emitidos em Lisboa no final do século XVIII e princípios do século XIX. A expo­

sição continha numerosas apólices de segur o e outros documentos afins da colecção do nosso consócio Sr. Dr. Luciano Ribeiro, dos quais os mais antigos se referem respectivamente a um seguro marítimo de 1796, da Companhia de Seguros União, e um segurn de incêndio de 1802, do segurador Barros, Rossi, Freire, Dias & C.:1 de um prédio na Praça de S. J oão Nepomuceno, em Lisboa. O Sr. Doutor Eduardo Neves expôs também uma apólice de seguro de incêndio de 1798 refe­rente a dois prédios na Rua Augusta e Rua Nova dos Correeiros, no valor de oito contos de i·éis.

Mário Costa expôs um número especial do J 01·nal de Seguros repro­duzindo a apólice colectiva das Companhias seguradoras para a casa de Camilo Castelo Branco em S. Miguel de Seide. No dia 24 o nosso consócio Sr. Dr. Luciano Ribeiro pronunciou uma conferência sobre o mesmo assunto e sobre a fundação da Casa de Seguros no século XVIII, que teve larga e selecta assistência. ;

A 23, em segunda convocação, reuniu a Assembleia Geral Ordi­nária para a eleição dos Corpos Gerentes para o triénio de 1958/ 61 e aprovar o Relatório Anual da J unta Directiva e o Parecer da Comissão de Contas.

Estes Relatórios, o Balancete e a Lista dos Corpos Gerentes eleitos, são publicados neste número.

A 26, realizou-se a visita de estudo ao Museu da Cidade, dirigida pelo Conservador-Chefe dos Museus Municipais a nossa consócia Sr.ª D. Julieta Ferrão.

A visita reuniu para cima de trezentas pessoas e foi muito apre­ciada, sobretudo pelas eruditas elucidações da directora da visita.

A 30, realizou-se a 19." sessão de Colóquios Olisiponenses em que tomaram parte os consócios Srs. Alfredo Ferreira do Nascimento, que. falou sobre Timóteo Mota Amigos de Lisboa, Eduardo Podugal, que

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se referiu à Tília do Loreto, que em 1890 ainda era uma árvore jovem, e o Sr. Mário Costa que se r eferiu a Uma diversão pelos antigos Paços Reais.

Em Fevereiro, no dia 2, em colaboração com a Liga dos Comba­tentes da Grande Guerra, realizou-se uma cerimónia a que presidiu o Sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa secretariado pelos representantes da Liga e do Grupo e alguns vereadores. Esta comemoração inaugurando a lápida colocada no prédio n.0 286 da Rua dos Fanqueiros onde o Dr. Alberto Mac-Bride nasceu, teve a pre­sença de numerosas pessoas e nela usou da palavra o Vice-P1·esidente do Grupo e o Sr. Vice-Presidente da Câmara.

O Sr. Vice-Prei;ic/enle da Câ.mwra Municipal, faktmdo na cer~mónia do desce1"rwmento da lápid<i qite assinata, o prédio onde nasceu o S1-. Dr. Albe1·to Mac-Brüle Fe·rnanclei;

A 27, realizou-se a 20.ª sessão de Colóquios Olisiponenses em que tomaram parte os consócios Srs. Mário de Sampaio Ribefro e D. Julieta Ferrão. O primeiro referiu-se a Uma inscrição sepulcral do fundador da Ermida de Nossa Senhora da Oliveira de Lisboa, Pedro Esteves. Esta comunicação será publicada no próximo número de ÜLISIPO. A segunda sob o título Descobertas... e Conquistas referindo-se e projectando em fotografia a cores as modernas construções e arranjos urbanísticos da cidade.

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Em Março as nossas actividades culturais começaram com a visita de estudo realizada em 9, às novas instalações da Escola Técnica Ele­mentar Francisco de Arruda, na Calçada da Tapada, visita que foi orientada pelo seu director Sr. Dr. Calvet de Magalhães. Esta visita reuniu numerosas pessoas que muito apreciaram as instalações e a interessante alocução do orientador da visita.

' A lcípula e-0locada, no 'J)'rédio n.• 286 cl<i Rua dos Fanqueiros

A 20, realizou-se a 21.ª sessão de Colóquios Olisiponenses em que o consócio Sr. Alfredo Ferreira do Nascimento apresentou uma foto­grafia dum quadro de azulejo pintado por Júlio de Castilho em 1899 e oriundo da Quinta de Vitória em Sacavém, e o Sr. Mário Sande Freire falou sobre Lisboa, 3, nova divisão postal da cidade.

A 28, a seguir ao acto de posse dos novos Corpos Directivos, em que usaram da palavra vários dos empossados, realizou-se uma confe­rência pelo Sr. Mário Costa, em que dissertou e comentou uma expo­sição que nessa altura foi inaugurada a propósito de «Uma quermesse de caridade na Real Tapada da A.íuda». A exposição que reuniu nume­rosas espécies, bíblio e iconográficas, medalhas e outros documentos, teve larga concorrência, tendo o orador referido e focado, especialmente, . a acção benemerente da Rainha D. Maria Pia.

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ASSEMBLEIA GENA L DE 1958

RELATÓRIO da

JUN TA DIRECTI VA

E x. m•• Consócios :

É este ano o último do t riénio ipar a que fomos eleitos, 'é po.rtanto, este não só o Relatório da actividaide do ano de 1957, como também o balanço geral da nossa acthridade.

Vão V. Ex.•• proceder à eleição dos Corpos Gerentes para novo triénio; oxalá V. Ex.•• elejam consóc:os com maior competência, o que não será difícil, mas com tão boa vontade, como nós, o que nos pe.rmitimos duvidar, porquanto no triénio ora terminado, como, aliás, nos anos antecedentes, •para alguns, pusemos toda a nossa boa vontade ao serviço do Gr1.1po onde V. Ex.•• nos deram a honra c!e nos colocar em posição directiva.

No início de 1957 existiam Faleceram durante o ano . . . Fo.ram demitidos . . . . . . . ..

F oram admitidos Readmitidos . . . . ..

20 89

61 13

1.296 sócios

109

1.187

74 - --1.261

Os sócios falecidos foram os seguintes :

N.0 154- J oão Pereira da Silva » 183 - António Ribeiro da Silva

e Sousa » 258 - Arq. •P orfí rio Pardal

Monteiro » 288 - Luís Guedes da Silva » 416-José António Pereira » 446 - Dr. J aime Moreira de

Carvalho > 905 - Maria da Purificação

Canas e Silva » 990 - E ng. J úlio A. Serzedelo

d 'Almeida » 1.046 - Dr. Francisco Lage » 1.070 - 'Bernardino AI ves Cor­

reia

113

N.º 1.236 - J oão de Almeida Pinto » 1.2158 - Valentim de Carvalho » 1.382 - J osé da Conceição Ra-

mos » 1.518 - Manuel Ladislau de Mes~

quita » 1.864 - J aime Augusto de M~

rais > 2.105 - Carlos Ferreira > 2.420 - Artur José Bernardes » 2.454 - Maria das Dores Costa

Ornelas » 2.752 - E ng. Car los Freire de

Andrade » 2.833 - Douglas S. Bucknall

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Tcdos nos merecem particular referência de sentimento pela sua falta na ajuda a manter este edifício que, a despeito dos seus 23 anos, está ainda jovem mercê do entusiasmo de todos. Há porém, entre todos, alguns que merecem l·efe­rência especi1al, como, por exemplo, António Ribeiro da Silva e Sousa, o dedicado confrade auxiliar de todas as horas, que, sucessivamente serviu em vários ca.rgos dos nossos Co11pos Directivos, particularmente na Junta Directiva, de que se afastou devido à pertinaz doença que o veio a vitimar. E ntre os restantes falecidos permi­timo-nos destacar o sócio n.0 154, J oão Pereira da Silva, o mais antigo dos falecidos este ano, que a des1r>eito da sua p1·ovecta idade, nos acompanhava sempre nas nossas actividades, e o sócio n.º 258 arq. Porfírio Pardal Monteiro membro da nossa Secção de Estudos de Estética e Urbanização.

EXERCíCIO EM 31 DE DEZEMBRO DE 1957

IB ALA N Ç 0 c o N 'I A s

Activo Passivo

Caixa ... ... ... ... ... ... ... ... ... . .. ... . .. . .. 749$90 Devedores e Credores ... ... ... ... ... ... . .. ... 17.024$90 22.159$80 Edições ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. . ... ... . .. 15.503540 Consignações c/ Alheia ... ... ... . .. .. . . .. . .. ... 71.133$77 Devedores e Credores c/ Consignações ... ... ... 5.064$00 67 .142$86 Consignações de c/ Própria ... ... . .. ... ... . .. 5.120$00 Biblioteca ... ... ... ... . .. ... ... ... . .. ... . .. . .. 4.331rns Emblemas ... ... ... .. . ... .. . ... ... ... .. . ... . .. 132$00 Fundo Variável ... ... ... . .. ... . .. ... ... ... . .. 5.169$94 .Móveis e Utensílios ... ... ... ... ... ... . .. ... . .. 15.846$50 Consigna tá rios da Feira do LivTO ... ... ... . .. 103$50 Resultados deste exei·cício ... ... .. , ... ... ... .. . 30.089$42

129.785$52 129.785$52

Segundo os livros que V. Ex ... examinaram e estão presentes verifica-se o resultado positiv0 da nossa acti<vidade financeira no valor de Esc. 30.089$42.

Foram de 289 os ofícios exipedidos pela Secretaria e entre as aquisições de vários objectos de pequeno mobiliário (bandeiras, estrndo, etc.) há a registar a aquisição dum busto de Camões de gesso.

Como ofertas recebemos do sócio n.º 607 Sr. Carlos Oésar dos Santos Gon­çalves 62 miniaturas de cha,péus regionais portugueses, colecção de alto interesse que brevemente será exposta. Além desta oferta há a registar a de fotografias e gravuras olisiponenses feitas pela S.r.• D. Berta Borges e Mário Costa.

A noslsa aictivitdade foi a seguinte:

Visitas de estudo ... Conferências na sede ... Exposições .. . . . . . . . . .. Colóquios Olisiponenses Audição musicaJ

114

1 .. .. G 5 7 1

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Referiremos uma das visitas de estudo que se realizou a Elvas e Vila Viçosa com o patrocínio sempre amável da Fundação da Casa de Bragança e outra à Rinchoa com a colabora!;ão da Câmara Municipal de Sintra.

Entre toda a cola.boração recebida permitimo-Ms destacar a dos estabele­cimentos visitados sobretudo a dos Srs:. cónegos 'Manuel Luís, na visita ao Tesouro da nossa Sé. e J osé Amai·o Teixeira na visita ao Seminário dos Olivais.

T rês visitas permitiram mostrar à população de Lisboa três das maiores realiza.ções recentes que Lisboa usufrui, a Central Leiteira, o Metropolitano e o novo material do Batalhão de Sapadores Bombeiros. Na primeira fomos recebidos pelos técnicos camarários em que avultam os nomes dos Drs. Almeida d'Eça e Sales Gomes; na segunda, fomos recebidos pessoalmente pelos Srs. Engs. D. Fran­cisco de Melo e Castro e Magalhães Lobato, respectivamente presidente do Conselho de Administração e Director-Geral das Obras do Metropolitano de Usboa, e, na última, trouxemos à nossa. sede o Comandante do Batalhão de Sapadores Bombeiros a fazer uma conferência preliminar que antecedeu a visita, feita no dia imediato, sob a direcção do seu 2. 0 <Comandante Sr. Major Cansado.

Esta visita deu origem à entrada para sócio do Grupo do Ca~itão-de-Mar­-P-Guerra Sr . J oão Carlos 1Costa, filho do heróico Bombeiro Olisiponense Bernardino Costa, nesta data o nosso sócio mais mderno e certamente o mais antigo em idade.

Das exposições, todas com o seu a-propósito, permitimo-nos destacar a de Trajos e Atavios de Outrora que mereceu ser filmada para documentário que foi exibido nos cinemas; a da Comemoração do cArchivo Pitoresco>, e a dos cAhnana­ques Lisboetas> que reuniu cerca de 500 exenwlares e que foi originada pela oferta de 78 exemplares, pela Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdha de Tavira, e oriundos da colecção do Prof. Dr. Silva Carvalho, e que teve como conse­quência a ofei-ta de quase um cento de exemplares feita pelos expositores Srs. Drs. !Carvalho !Pedrogão, Eduardo Neves, Matos Sequeira e José Bento Gueneiro.

A propósito da visita da Rainha de Inglaterra a Lisboa o Grupo associou~e à:; manifestações, tendo embandeirado e iluminado a sua fachada e conseguiu a cedência dum talhão na Avenida da Liberdade, onde os nossos sócios puderam assistir as desfile do cortejo real e onde pudemos alojaT, como convidadas, as Alunas do Asilo de Santa Catarina.

O nosso Boletim continuou a publicar-se regularmente. É escusado encarecer o concurso prestado pela digna Comissão de Contas

e pela Secção de Movimento Cultural e Propaganda. Foi convocada a Secção de Estudos de Estética e Urbanização a propósito da remodelação da Avenida da Liberdade ide que resultou um Relatório à Junta Dfrectiva que, sobre ele, elaborou n representação que veio publicada no n.0 80 de OLISIPO e dirigida à E x."'º Câmara Municipal de Lisboa.

O pessoal cump1·iu como de costume. Propomos que sejam aprovados os seguintes Yotos:

a) Sentimento pelos sócios falecidos, particularmente por aqueles que deram a sua colaboração aos nossos Corpos Direciivos.

b) Agradecimento aos nossos colaboradores nas visitas de estudo, Confe­rências, Colóquios, Exposições e outras realizações efectuadas no ano findo.

115

Page 58: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

e) Agradecimento à Ex.m• Comissão de Contas e às Secções de Movimento Cultural e Propaganda e de Estudos de Estética e Urbanização.

d) Agradecimento à Imprensa, à Emissora Nacional e outras Emissoras de radiodifusão pela sua sempre solícita e obsequiosa colaboração.

Lisboa, 31 de Dezembro de 1957.

A JUNTA DIRECTIVA

VICE-<PRESIOENTE

Gustavo de Matos Sequeitra SECRETÁRIO-GERAL E RELATOR

n outO'I· Eduwrdo Augu.sto ela Silvei Ne-ves SECRETÁRIO-GERAL ADJUNTO

Dr. Albei·to Games

TESOUR~~IRO

Hugo Raposo

VOGAIS

Coronel José Pereira Coelho Prof. Doutor Joaquirn Moreira Fontes

P1rof. Dautor Raul de Carvalho Prof. Dautor António Montefro da Costa

Page 59: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

P A REC E R

da

COMISSÃ O DE CO N TA S

Ex. mo • Consócios :

Em conformidade com o estabelecido nos nossos Estatutos - Art. 41.0 e sua a línea b) - temos a honra de vos apresentar o parecer desta •Comissão sobre as Contas de Gerência e o Relatório da J unta Directiva com referência ao ano de 1957.

E rporque acompanhámos assiduamente a acção da J unta Directiva em todas as suas actividades, pudemos verificar a dedicação e inteligência com que a mesma sempre soube conduzir os negócios a seu cargo pelo que, com muito prazer, vos propomos que aiprove:s o Relatório e as Contas que vos são apresentadcs .

E solicitamo-vos ainda que aproveis os seguintes votos de louvor :

- à J unta Directiva rpela sua inteligente actuação.

- à Secção de Movimentos Cultural e Propaganda pela eficiente cooperação prestada à J unta Directiva.

Lisboa, 14 de Janei110 de 1958.

117

A BEM DE LISBOA

Dr . José Leitão de Ba'l"l'OS

Prsidenle

Higino Nunes da S ilva Secretário

Jnflé Francisco de Oliveitra Relator

Page 60: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

N ovos Corpos Gerentes eleitos na Assembleia G eral de

23 de Janeiro último para o trienio de r 958 - r 96 I

JUNTA DIRECTIVA

Ef ectivos

Presidente V ice-Presidente Secretário Geral Secretário Geral Adjunto Tesoureiro

Vogais

S ubstitutos

Presidente Vice-Presidente Secretário Geral Secretário Geral Adjunto Tesoureiro

Vogais

Gustavo de Matos Sequeira Prof. Doutor Joaquim Moreira F ontes Doutor Eduardo Augusto da Silva Neves Doutor Alber to Gomes Hugo Raposo Coronel J osé Sardinha Pereira Coelho Doutor E ugénio Mac-Bride Fernandes Prof. Doutor Raúl de Carvalho Prof. Doutor António Monteiro da Costa

Marquês de Rio Maior Marquês de Abrantes Dr. Luciano José de Oliveira Ribeiro Mário da Conceição Cosia J oão de Sousa Lara

l Acúrcio Pe1·eira Dr . Joaquim Paço d' Arcos Dr. Manuel Vicente Moreira Alfredo Ferreira do Nascimento

118

Page 61: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

ASSEMBLEIA GERAL

Presidente V ice-President <'

Prof. Doutor Fernando Freitas Simões Eng. Ricardo E. Teixeira Duarte Teodoro Lopes Ramos 1.0 Secretário

2.0 Secretário

l~/ectivn.~

Presidente Secretá1"io Relator

Joaquim Pascoal Rodriques

<.:OMISSÃO DE CONTAS

Dr. José Leitão de Barros Higino Nunes da Silva José Francisco de Oliveira

Substitutos

Presidente Secretá1-io Relator

Francisco de Assis Oliveira Martins Eng. Diogo Sobral Luís Moita

SECÇÃO UE ESTLDOS HI TóRICOS E DEFESA DO PATHD lól't IO OLISIPONE~SE

Gustavo de Matos Sequeira Eng. João dos Santos Simões Dr. Durval Pires de Lima Dr. Jaime Lopes Dias Dr. João Couto Mário de Sampayo Ribeiro Visconde de Santarém

SECÇÃO OE ESTUDOS ECONólUICOS E SOCIAIS

Hugo Raposo Eng. Araújo Correia Ermeie Pires Dr. José Sabino Pereira Dr. Luciano José de Oliveira Ribeiro Dr. José Henrique de Azeredo Perdigão Dr. Roberto Sarmento

119

Page 62: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

SECÇÃO OE ESTUDOS DE ESTÉT ICA E URBA~IZAÇÃO

Prof. Doutor Joaquim Moreira Fontes Eng. António Emídio Abrantes Prof. Armando de Lucena Eng. D. Franci3co de Mendia Jaime Martins Barata Eng. Diogo Sobral Eng. Ricardo E. Teixeira Duarte

SECÇÃO OE MOVIl\fENTO CULTURAL E P ROPAGANDA

Doutor Eduardo Neves Alfredo F'erreira do Nascimento Hugo Raposo Eduardo Por tugal José Francisco de Oliveira Dr. José Leitão de Barros Mário da Conceição Costa

Page 63: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

LI V RO S EDIÇOES DO GRUPO E DOS SOCIOS

À VENDA NA SEDE

V1fRIA

Noite de evocação do Leão de Ouro ......... ... ............ .. . Urbanização de Lisboa ...... . .. ...... .. .... ................ .. A Cor de Lisboa .. . . . . .. . .. . . .. .. . .. . . . . .. . .. . .. . . .. .. . .. . . .. Olisipos (estão esgotados os números 11, 2, 8, 9, 10, lll, 14, 15, 17,

1118, l 9, 20, 21, 22, 24, '217, 34, e 43') .. . cada, dos que existem, Evocação do Café-Restaurante Tavares .. . . .. .. . J antar de Confraternização na Casa do Leão .. .... ........... .

A. VIEIRA DA SILVA

O Castelo de S. Jorge ............ .. .... ..... ..... .. A Ponte de Alcântara .................. .. ... . Os Paços dos Duques de Bragança em Lisboa .. . Fantasias sobre a origem do nome de Lisboa .. .

DR. ALFREDO DA CUNHA

Olisipo berço do periodismo português

ALFHEDO FERREIRA DO NASCIMENTO

Alg umas achegas para a H istória da Defesa de Lisboa Os Banhos da Rocha do Conde de ó bidos ... O Quartel de Campo lide . .. .. . .. . . .. . . . .. . O Quartel do Regimento do CondP. de Lippe

DR. ANTÓNIO QUADROS FERRO

O Enigma de Lisboa .. . . . . . . . .. . .. . . .. .. .

ANTóNIO RIBEIRO DA SILVA E SOUSA

A Igreja e o Sítio de Santo Estêvão .. . ... . .. .. . . . . . .. O Campo de Santa Clara... . . . . . . .. . .. . . .. ... Ronda e Silva de Lisboa Velha Bagatelas de tempo vário .................. .. .

AUGUSTO CASll\IIRO

Lisboa Mourisca . . . . .. .. . .. . . ..

PREÇOS

Sócio•

13$50 4$50

13$50

18$00 4$00 4$00

13$50 13$50 13$50 13$50

13$50

13$50 13$50 13$50 131$50

7$00

13$50 13.$50 9$00 9$00

18$00

Põbllco

15$00 5$00

115$00

20$00 5$00 5$00

15$00 15$00 15$00 15$00

15$00

15$00 15$00 15$00 15$00

7$50

15$00 15$00 10$0:> 10$00

20$00

Page 64: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

DR. EDUARDO NEVES

Homenagem a Matos Sequeira... . . . . . . . . . . . . . . . . .. Um Arcebispo-Primaz natural de Lisboa ... ... .. . João Alberto 'Pereira de Azevedo Neves ........ . Um desenho a pena da autoria de Júlio Castilho .. .

F. A. GARCEZ TEIXEIRA

A Irmandade de S. Lucas . . . . . . . . . . ..

P.E FRA"\CISCO LEITE FARIA

Lisboa e S. Lourenço de Brindes . . . . .. Alvoroço na Lisboa setecentista . . • . ..

FERHEIHA DE ANDRADE

Relação das casas foreil'.as... . . . . . . . .. O Senado da Câmara e a Guerra Civil ... Três Touradas no Terreiro do Paço ... Palácios Reais de Lisboa . . . . . . . . . . . . . .. Guia do Olisipo n.°' 1 a 11 ............. .

.. , ...

:> :> n.°' 12 a 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. cada cada

Visite Lisboa, 4.' ed. . ...... .. ....................... . Vinte e cinco anos na vida duma capital . . . . .. Portugal País de Turismo, 2J.º, 3.º, 4.º e 5.0 vols. Usboa das sete coliinas Lisboa vista em 5 dias . .. . . . .. . . .. .. . .. . .. .

Dll. GILBERTO MONTEIRO

Esboço histórico do Hospital de Belém D. Gilberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..

GUSTAVO DE l\IATOS SEQUEIRA

Auto de S. João ... Lisboa (Comédia)

HENRIQUE U NHARES DE LIMA

Vultos e sombras medievais

Ht:GO RAPOSO

cada

.. ... ~ ......

Primeiro circuito da Lisboa Moderna em transporte colectivo

JOÃO MONTEIRO

Estrada de Sacavém

JOAQUIM ROQUE DA FONSECA

A Urbanização de Lisboa ................ ..

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15$00 15$00 115$00 15$00

13$50 15$00

13$50 15$00 13$50 15$00

22$50 27$00 13$50 45$00 7$50 9$00

63$00 54$00

135$00 316$001 1'3$50

25$00 30$00 15$00 50$00 8$00

10$00 70$00 60$00

150$00 40$00 15$00

18$00 20$00 13$50 15$00

9.$00 18$00

45$00

10$00 20$00

E0$00

9$00 10$00

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Page 65: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

LU1S MOITA

O Metropolitano e as Sete Colinas> Olísiponenses

LUIZ PASTOR DE l\IACEDO

A Baixa Pombalina .. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .. . . . . . . . . .. .. . .. . A Rua das Canastras .. . .. . . . . . . . .. . .. . . . . . . . .. . .. . .. ...... . Críticas, Correcções e aditamentos à «Lisboa de ontem e de noje>

do Sr. Paulo Freire . .. .. . . . . . . . .. . .. . .. . . . . . .. .. . .. . Notícias e i·egistos curiosos extraídos dos livros paroquiais da

Freguesia da Sé . . . . .. Ascendentes de Camilo .. . . .. . .. .. . .. . . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. . . ..

LUiS TEIXEIRA

O «Diário de Notícias> e o Século XIX

LU1S THI~DADE

Janelas de Alfama . . . . . . . ..

DH. MA 'll EL VICENTE J\.IOREIRA

O Problema da Habitação

1\IAIUO COSTA

Da Rua Nova à Rua dos Capelistas .......................... . Festas do Casamento da Infanta D. Catarina de Bragança com

Carlos II de Inglaterra . .. . . . . .. .. . . . . . . . .. . .. . .. . .. . .. . Duas Curiosidades Lisboetas - O Balão do Arsenal e o Tiro da

Escola Politécnica O Sítio de Santo Amaro .. . .. . . . . .. . .. . .. . . . . .. . . .. .. . . .. .. .

l\lAHIO SAMPAIO RIBEIRO

A Igreja e o Convento da Graça ............................. . Do Sítio do Restelo e das suas Igrejas de St. • Maria de Belém

NORBEHTO DE AHAúJO

Pequena Monografia a S. Vicente ...

HUY DE ANDHADE

Como o artista Alfredo de Andrade encarava alguns problemas da edilícia citadina ................. . ........ ........ ..

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Page 66: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

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Page 68: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

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Page 69: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

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Page 71: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

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LUABO

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PROV ( NCIA D E M O Ç AMBIQUE

F UNDAOO em 4 de Novembro de 1918, o «Lisboa Ginásio Clube» depressa se trans· formou num allobre de atletas.

A modesta cave da rua Maria, onde se instalara a primeira sede, depressa se mostrou acanhada demais. Dois anos depois, porém, já o «Lisboa Ginásio» ocupava o edifício do antigo Teatro Borralho, para daí a mais algum tempo, num crescente

de valorização, ser forçado a ampliar estas instalações, com o aluguer do edifício anexo que dá para a rua dos Anjos. Deve-se ao «Lisboa Ginásio» a introdução entre nós da ginástica rítmica para senhoras; cabendo-lhe também importante parcela no desenvolvimento e propa· ganda da ginástica educativa feminina.

Dos sucessivos contactos com os melhores ginastas mundiais, nunca o «Lisboa Ginásio» saiu desprestigiado; e a comprová-lo estão dezenas de saraus realizados no Coliseu dos Recreios. Também em Florença, em Roterdão e Espanha, os atletas do «Lisboa Ginásio» alcançaram posições de relevo - prestigiando o nome de Portugal. Sempre admiràvelmente orientado, orgulha-se ainda o clube da sua famosa «classe maravilhall que tanto deu que falar.

Cerca de i.400 "tletas, praticando, alént da Ginástica Voleibol, Basquetebol, Atletismo, Badrninton, Luta, Box, Pesos e Alteres, Tiro ao Arco, Esgrima e Jogo do Pau, mantém presentemente o uLisboa Ginásio Clube» em constante actividade, não permitindo as suas insta· lações que este número possa ser aumentado. Todavia, atendendo à importante dívida que o Desporto Português contraiu para com esta grande colectividade, o «Lisboa Ginásio» espera ver as suas instalações valorizadas e au· mentadas dentro de pouco tempo, com a edificação de uma nova sede erguida no mesmo local onde p esente· mente se encontra instalado.

Page 72: Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 21, n.º 82, Abr. 1958

NA LISBOA DE ONTEM

E

NA LISBOA

DE HOJE

COM O, A F 1 NA L, EM QUALQUER PARTE, CONTRA A TOSSE :

BENZO-DIACOLl