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Olhos de Ver e Ouvidos de Ouvir Sérgio Biagi Gregório SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Visão Geral. 4. Olhos: 4.1. Descrição e Localização dos Olhos; 4.2. Observação e Auto-observação; 4.3. Os Olhos na Simbologia e na Filosofia. 5. Ouvidos: 5.1. Órgão da Audição e do Equilíbrio; 5.2. Ouvir versus Escutar; 5.3. Ouvindo a própria Consciência. 6. Ver, Ouvir e Doutrina Espírita: 6.1. Ouviremos Decerto; 6.2. Ouçamos; 6.3. A Recompensa de Ouvir e Ver Corretamente. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é refletir sobre o nosso modo de ver e de ouvir no sentido de edificar o homem novo apregoado pelo Evangelho. 2. CONCEITO Olho. Anatomia. Cada um dos dois glóbulos situados na parte anterior da cabeça que constituem o órgão da visão humana e animal. Fig. Atenção, cuidado, vigilância. Agudeza de espírito; sagacidade, penetração, perspicácia. Ouvido. Aquele dos cinco sentidos pelo qual se percebem os sons; audição. (Dicionário Aurélio) 3. VISÃO GERAL Na Parábola do Semeador, Jesus se reporta aos olhos e aos ouvidos nos seguintes termos: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: por que lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, disse-lhes: porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado. Porque àquele que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaias que diz: ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17) Que tipo de análise podemos fazer a respeito deste texto e, mais especificamente, sobre a frase “quem tem olhos de ver, veja; quem tem ouvidos de ouvir, ouça”? Este é o nosso trabalho. Quando dizemos nosso, queremos expressar que tanto o expositor como o público devem estar inteiros no tema, tentando vê-lo seriamente e na sua profundidade. 4. OLHOS 4.1. DESCRIÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS OLHOS

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Olhos de Ver e Ouvidos de Ouvir Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Visão Geral. 4. Olhos: 4.1. Descrição e Localização dos Olhos; 4.2. Observação e Auto-observação; 4.3. Os Olhos na Simbologia e na Filosofia. 5. Ouvidos: 5.1. Órgão da Audição e do Equilíbrio; 5.2. Ouvir versus Escutar; 5.3. Ouvindo a própria Consciência. 6. Ver, Ouvir e Doutrina Espírita: 6.1. Ouviremos Decerto; 6.2. Ouçamos; 6.3. A Recompensa de Ouvir e Ver Corretamente. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre o nosso modo de ver e de ouvir no sentido de edificar o homem novo apregoado pelo Evangelho.

2. CONCEITO

Olho. Anatomia. Cada um dos dois glóbulos situados na parte anterior da cabeça que constituem o órgão da visão humana e animal. Fig. Atenção, cuidado, vigilância. Agudeza de espírito; sagacidade, penetração, perspicácia.

Ouvido. Aquele dos cinco sentidos pelo qual se percebem os sons; audição. (Dicionário Aurélio)

3. VISÃO GERAL

Na Parábola do Semeador, Jesus se reporta aos olhos e aos ouvidos nos seguintes termos: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: por que lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, disse-lhes: porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado. Porque àquele que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaias que diz: ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17)

Que tipo de análise podemos fazer a respeito deste texto e, mais especificamente, sobre a frase “quem tem olhos de ver, veja; quem tem ouvidos de ouvir, ouça”? Este é o nosso trabalho. Quando dizemos nosso, queremos expressar que tanto o expositor como o público devem estar inteiros no tema, tentando vê-lo seriamente e na sua profundidade.

4. OLHOS

4.1. DESCRIÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS OLHOS

O olho é um dos dispositivos mais engenhosos da natureza. Em princípio, poderíamos comparar o olho a uma câmara fotográfica. A objetiva da câmara equivale à córnea; as pálpebras encarregam-se de mantê-la limpa, clara e livre de tudo que possa turvá-la. Ambos os olhos se movimentam coordenadamente para que o olhar possa seguir o objeto observado. (Enciclopédia Combi)

Os olhos estão situados na parte superior do corpo, isto é, na cabeça, para que possam melhor perceber as coisas que nos rodeiam. A capacidade de visão abarca um ângulo aproximado de 180 graus. Quer dizer, vemos somente para frente. Se quisermos ver o que está atrás de nós, temos de nos virar. Contudo, se os nossos olhos estivessem situados tanto na frente quanto atrás da cabeça, a nossa visão alcançaria um ângulo de 360 graus, de alcance infinitamente maior.

4.2. OBSERVAÇÃO E AUTO-OBSERVAÇÃO

À pergunta: como se comportam os olhos durante a leitura, responderíamos que eles deslizam sobre o papel. Há evidências empíricas, no entanto, que contrariam tal afirmação. Segundo esses experimentadores, auxiliados pela tecnologia, pela máquina, os olhos não se movem suavemente, mas aos saltos. Os saltos são tão rápidos, que se tornam imperceptíveis à nossa observação. Contudo, depois dessas explicações, é possível que venhamos a perceber os saltos dos olhos. A observação transforma-se em auto-observação.

4.3. OS OLHOS NA SIMBOLOGIA E NA FILOSOFIA

Na simbologia, o olho, órgão da percepção visual, é, de modo natural e quase universal, o símbolo da percepção intelectual. É preciso considerar, sucessivamente, o olho físico, na sua função de recepção da luz; o olho frontal – terceiro olho de Xiva; enfim o olho do coração. Todos os três recebem luz espiritual. (Dicionário de Símbolos)

Na Filosofia, o olho também denota visão. Observe o Mito da Caverna de Platão. Nessa alegoria, Platão coloca os homens voltados para o fundo da caverna, de modo que enxergassem as suas próprias sombras. Um deles, denominado filosofo, vira-se e sai da caverna em busca da luz. A luz adquirida chama-se visão, que melhor traduzida significa conhecimento. Ao captar um novo conhecimento, ele se sente na obrigação de transmitir aos que lá ficaram. Volta até eles, e como não consegue ser entendido, cria o mito. O filósofo, amante da verdade é obrigado a mentir, para se fazer obedecer.

5. OUVIDOS

5.1. ÓRGÃO DA AUDIÇÃO E DO EQUILÍBRIO

O ouvido dos animais superiores comporta dois sistemas sensoriais diferentes: órgão de equilíbrio e órgão de audição. O sentido de equilíbrio envia informações ao cérebro sobre a situação do corpo e sobre os movimentos que realiza. Os órgãos de equilíbrio aproveitam tanto a força da gravidade quanto a inércia. Na inércia, há a tendência de conservar o estado de movimento ou de repouso conforme os corpos se acham em um ou outro estado. O sentido de audição distingue de onde procedem os diferentes sons e determina a sua intensidade e tonalidade. (Enciclopédia Combi)

5.2. OUVIR VERSUS ESCUTAR

Ouvir é um fenômeno fisiológico; escutar é um ato psicológico. Os mecanismos da audição podem ser explicados recorrendo-se à acústica e à fisiologia do ouvido. Mas a escuta depende de um objetivo, que se fundamenta no interesse e no conhecimento prévio do assunto a ser averiguado. Por isso, podemos ouvir sem escutar. Basta que não prestemos atenção ao que nos estão transmitindo.

Será que sabemos escutar? Quando alguém nos endereça algumas palavras, ouvimo-lo com atenção? Olhamos nos seus olhos? Ou desviamos o nosso olhar para lugares distantes?

Lembremo-nos de que ouvir é renunciar. De acordo com Ralph Nichols e Leonard Stevens “Através da História, inumeráveis vezes, ouvir tem sido a única maneira de aprender”. Assim sendo, ouvir é a mais alta forma de altruísmo, em tudo quanto essa palavra signifique de amor e atenção ao próximo. Talvez por essa razão, a maioria das pessoas ouve tão mal, ou simplesmente não ouve.

Como estamos sempre mais propensos a falar do que a ouvir, habituamo-nos a interromper, a qualquer pretexto, as pessoas que estão falando. Interromper constitui violação do principal objetivo da comunicação humana na audição: fazer com que o outro fale. Observações e comentários podem ser guardados até o final da exposição, quando sempre haverá tempo para dirimir dúvidas.

O "Journal of Communication" publicou um artigo de Donald E. Laird com resultados de uma pesquisa realizada entre as alunas do Stephens College, objetivando um levantamento dos períodos de tempo dedicados às quatro habilidades fundamentais da Comunicação humana. Os resultados foram os seguintes: ouvir (42%); falar (25%); ler (15%); escrever (18%). (Penteado, 1964, p. 283-288)

5.3. OUVINDO A PRÓPRIA CONSCIÊNCIA

Temos o hábito de fazer silêncio ao nosso derredor? Escutamos o que a nossa consciência tem a nos dizer? Reservamos algum tempo para esse solilóquio, ou estamos sempre a tagarelar com os outros? Permitimos que os Espíritos superiores limpem os nossos ouvidos de toda a maldade e de todo o pensamento sombrio, ou nos chafurdamos no desespero e na fossa?

O conselho de Santo Agostinho, na pergunta 919 e 919A de O Livro dos Espíritos, é muito oportuno. Comentando sobre o “Conhece-te a ti mesmo”, ele dizia que toda a noite passava em revista o seu dia: interrogava a sua consciência, para verificar se não tinha faltado com algum dever para com o seu semelhante.

6. VER, OUVIR E DOUTRINA ESPÍRITA

6.1. OUVIREMOS DECERTO

Se nos encontramos realmente empenhados na execução do próprio bem, ouviremos, decerto, as provocações do mal em todos os instantes de testemunho.

Para vencê-las, devemos: 1) buscar a luz onde a luz se encontre; 2) desculpar toda a ofensa; 3) eleger a fraternidade como bandeira; 4) conjugar o verbo servir onde estivermos; 5) começar o trabalho de redenção em nós mesmos; 6) orar por quem nos fere ou calunie; 7) amar os próprios adversários; 8) ajudar sem exigência.

Contudo, para o exercício de semelhante apostolado, não passaremos sobre a Terra sem o assédio da incompreensão e do escárnio, porque o próprio Cristo foi por eles visado, através daqueles que, em lhe rodeando o madeiro de sacrifício, lhe gritavam, zombeteiros e irônicos: “Salva-te a ti mesmo e desce da cruz”. (Xavier, 1986, cap. 26)

6.2. OUÇAMOS

Em cada situação do caminho, é possível registrar o chamamento celeste: no templo familiar, ante o companheiro desconhecido, à frente do adversário, ao pé do enfermo, à face do ignorante e junto à criança.

Nas menores experiências, no trabalho ou no lazer, no lar ou na via pública, eis que nos convida ao exercício incessante do bem.

Assinalando, pois, a norma cristã, como inspiração para todas as lides cotidianas, ouçamos a palavra do Senhor em todos os ângulos do caminho, procurando segui-lo com invariável fidelidade, hoje e sempre. (Xavier, s.d.p., cap. 153)

6.3. A RECOMPENSA DE OUVIR E VER CORRETAMENTE

Quando o homem se coloca na posição de ver e ouvir sem preconceito, ele começa a perceber as coisas de um modo global. Transcende a fragmentação dos conceitos e já não pensa mais como crente e não crente, como comunista e não comunista, como espírita e não espírita. Começa a ver as coisas como elas são na realidade, pois o conhecimento da verdade o libertará do erro. Conscientiza-se de que todos somos irmãos em Cristo e não há necessidade de estigmatizar o budista, o protestante e o ateu. Também não precisa ir à procura de um guru, de um mestre ou de um herói, pois tudo está nele em estado latente.

7. CONCLUSÃO

Á medida que vamos aguçando o nosso olhar e a nossa audição, sob a direção do Evangelho, vamos também nos libertando de nossos erros. Tornamo-nos uma pessoa nova, um ser preocupado exclusivamente em colocar em prática os ensinamentos trazidos por Jesus.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CHEVALIER, J., GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998. ENCICLOPÉDIA COMBI VISUAL. Barcelona: Ediciones Danae, 1974. FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, [s. d. p.] PENTEADO, J. R. W. A Técnica da Comunicação Humana. São Paulo, Pioneira, 1964. XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, [s.d.p.] XAVIER, F. C. Palavras da Vida Eterna, pelo Espírito Emmanuel. 8. ed., Uberaba: CEC, 1986.

São Paulo, agosto de 2003