olhares da maçonaria sobre a educação
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
PHILIPE HENRIQUE TEIXEIRA DO EGITO
OLHARES DA MAONARIA SOBRE A EDUCAO NO BRASIL
JOO PESSOA/PB
OUTUBRO/2011
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PHILIPE HENRIQUE TEIXEIRA DO EGITO
OLHARES DA MAONARIA SOBRE A EDUCAO NO BRASIL
Trabalho apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Educao do Centro de Educao da Universidade Federal da Paraba, em cumprimento s exigncias para obteno do ttulo de Mestre em Educao.
Orientadora: Prof. Dr. Cludia Engler Cury
Joo Pessoa PB
Outubro 2011
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PHILIPE HENRIQUE TEIXEIRA DO EGITO
OLHARES DA MAONARIA SOBRE A EDUCAO NO BRASIL
Avaliado em ____/____/2011, com conceito __________________________________
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________ Prof. Dr. Cludia Engler Cury
PPGE-UFPB (Orientadora)
______________________________________________________________________ Prof. Dr. Serioja Cordeiro Mariano
PPGH-UFPB (Examinador Externo)
_____________________________________________________________________ Prof. Dr. Solange Rocha
PPGH-UFPB (Examinador Externo Suplente)
______________________________________________________________________ Prof. Dr. Mauricia Ananias
PPGE-UFPB (Examinador Interno)
______________________________________________________________________ Prof. Dr. Jean Carlo de Carvalho Costa
PPGE-UFPB (Examinador Interno Suplente)
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Dedico este trabalho a toda minha famlia, pois estando ela perto ou longe sempre foi o porto seguro em que pude me apoiar e consolidar este trabalho.
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer em primeiro lugar ao GADU, pois sem Ele nada possvel e, em seguida, aos meus familiares, pois sem eles no teria chegado to longe. Todos eles,
sem exceo, tiveram a disposio de compreender as dificuldades, de amparar nos momentos
de aflio e tambm de ajudar nos momentos em que precisei.
Aos meus amigos da vida acadmica e da pessoal, por estarem ao meu lado em todos os
momentos, sendo leitores, crticos e dando toda a ajuda possvel a essa dissertao. Em
especial a minha tia Jacy Caju por ter feito a reviso do meu trabalho.
De uma maneira muito especial minha orientadora Prof Dr Cludia Engler Cury, pela
pacincia em explorar junto comigo um assunto to novo, a dedicao por fazer as diversas
leituras nos meus textos e o carinho com que ela acompanhou o desenvolvimento do meu
trabalho.
Agradeo ao projeto REUNI Reestruturao Universitria por ter concedido a bolsa
de Mestrado, sem a qual este trabalho no poderia ter sido realizado.
Sou grato, em particular, ao Maom Arnaud Paiva, pela bondade e presteza com que me
atendeu nas minhas caminhadas dirias at o arquivo da Loja Manica Padre Azevedo. Ao
Gro-Mestre do Grande Oriente do Brasil Paraba: Sr. Aderaldo Pereira de Oliveira, por ser
um grande incentivador do meu trabalho e das pesquisas sobre a Maonaria. E tambm ao
Maom Graciano Cabral pelo exemplo de intelectual, de maom e de pai. No poderia deixar
de citar tambm o Maom e tio Getlio Valzio do Egito, por ter me convidado a fazer parte
da maonaria.
Finalizando, gostaria de agradecer a minha companheira Inae Porto, por ter me dado
sempre tanta fora nos momentos em que mais precisei. Naqueles em que a impacincia me
rondava, ela sempre me acalmava com uma frase bem colocada, corrigindo meus textos e me
ajudando com o ingls.
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RESUMO
O presente trabalho tem como objeto de estudo a temtica das interfaces entre a histria da Maonaria e suas aes e preceitos acerca da educao. Iniciamos com um breve histrico da Maonaria indicando a primeira experincia educacional que se tem notcia uma escola para meninas na Inglaterra; em seguida traamos o perfil da Maonaria no Brasil tendo como foco central as ideias sobre instruo, veiculadas pela imprensa oitocentista, e as propostas educacionais elaboradas por Rui Barbosa com as possveis articulaes com o iderio manico no Brasil. Por fim, analisamos a Escola Padre Azevedo, criada em Joo Pessoa, em 1957, como uma espcie de modelo paraibano de atuao da Maonaria na educao. A Escola fundada e mantida pela Maonaria, por entidades pblicas e por doaes de particulares foi estudada por meio da leitura das atas das sesses da Loja Manica que nos permitiram apreender as discusses engendradas dentro da Loja acerca do cotidiano escolar.
Palavras-chave: Maonaria. Educao. Escola Padre Azevedo.
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ABSTRACT
This dissertation had as its object of study the thematic of the interfaces between Freemasonry
history and its actions and precepts on education. The research began with a brief history of
the Freemasonry, which revealed its first ever known educational experience: a school for
girls in England. Then a profile of the Freemasonry was built mainly from the central ideas
about the teaching they conducted, which gained the interest of the eighteenth century media
and therefore also gained print. Another factor that contributed to constructing this profile
were the propositions made by Rui Barbosa, which were weighed against the Masonic ideal in
Brazil at the time. Finally, Padre Azevedo School was analysed. This school was founded in
Joo Pessoa in 1957, marking the presence of the Freemasonry on education in the state of
Paraba. The school founded and maintained partly by the Masonry, partly by public entities
and private donations was studied through thorough readings of the Masonic Lodges session
records that enabled discussions around the school routines yielded within the Lodge to be
gathered.
Keywords: Freemasonry, Education, Padre Azevedo School.
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SUMRIO
CAPTULO 1 ABERTURA DOS TRABALHOS ............................................................. 51.1 Maonaria e educao um novo caminho .................................................................................. 9
1.2 Breve Histria da Maonaria .................................................................................................... 10
1.3 A Royal Masonic School for Girls............................................................................................ 17
CAPTULO 2 AS PROPOSIES E AES DA MAONARIA NO BRASIL ........ 212. 1 Olhares da Maonaria sobre a Educao no Brasil nos peridicos do Oitocentos .............. 22
2.2 Rui Barbosa e a Maonaria ...................................................................................................... 34
2.3 Rui Barbosa e suas propostas educacionais ............................................................................ 36
2.3.1 As propostas de Rui Barbosa acerca da reorganizao dos graus de ensino................. 37
CAPTULO 3 - ESCOLA PADRE AZEVEDO UM MODELO PARAIBANO DE AO DA MAONARIA NA EDUCAO ...................................................................... 44
3.1 A Fundao da Loja Padre Azevedo ........................................................................................ 47
3.2 A Escola Padre Azevedo ........................................................................................................... 48
ENCERRAMENTO DOS TRABALHOS ........................................................................ 78
FONTES .................................................................................................................................. 80
REFERNCIAS ..................................................................................................................... 80
APNDICES ........................................................................................................................... 84Apndice I ......................................................................................................................................... 84
Apndice II ........................................................................................................................................ 85
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CAPTULO 1 ABERTURA DOS TRABALHOS
O presente estudo tem o objetivo de contribuir com as pesquisas na rea da histria
da educao, mais precisamente no nosso caso, sobre as interfaces entre a Maonaria e suas
concepes ou contribuies para a educao, trabalhando para entender como se deu esse
processo, quem foram seus principais atores e entender como funcionavam algumas
instituies educacionais mantidas por essa Ordem1.
Essas indagaes sobre a ligao da Maonaria com a Educao surgiram a partir de
observaes feitas ao longo da minha caminhada na Ordem, quando do meu ingresso em 03
de fevereiro de 2007. Por isso, o nome desse primeiro captulo Abertura dos trabalhos, j
que assim que sempre se inicia uma sesso manica.
Para esta pesquisa utilizamos como fontes os livros, as atas, as leis manicas e no
manicas das sesses da Loja Manica Padre Azevedo e em todos os arquivos que
estiveram disposio, como foi o caso do Arquivo do Grande Oriente do Brasil localizado
na cidade de Joo Pessoa, Paraba; do Arquivo do Grande Oriente do Estado de Pernambuco;
da Fundao Casa de Rui Barbosa; do Palcio2 do Lavradio no Rio de Janeiro; Arquivo
Nacional e Biblioteca Nacional na cidade do Rio de Janeiro e nos arquivos disponveis sobre
a Escola do Padre Azevedo na cidade de Joo Pessoa. Alm disso, foram realizadas leituras
da historiografia sobre a Maonaria e a historiografia sobre as instituies escolares sob a sua
tutela.
A pretenso de recolher todas as provas possveis de todos os fatos que poderiam ser
de interesse para a histria, a iluso de que os registros do passado poderiam descortinar e
apresentar os acontecimentos histricos no seu desenrolar original e a determinao do que
pode representar um fato de interesse para a histria, h muito, foi abandonado pelos
historiadores. O sculo XX produziu uma srie de novas perspectivas de abordagens do
passado que puseram por terra a ideia de uma histria plena, nica, esta pergunta foi sendo
substituda aos poucos pela multiplicidade de pontos de observao do passado, e ainda
conforme Le Goff (1990, p.52):
1 A Maonaria, entre os seus membros, comumente chamada de Ordem por uma questo meramente hierrquica, pois em toda sua estrutura existem sempre degraus que o maom deve subir. Assim, o termo ordem surge no sentido de ordenamento. No confundir, portanto, com as Ordens ligadas Igreja Catlica. 2 Um Palcio Manico um local onde se renem dois ou mais templos de reunio ritualstica.
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Toda a histria bem contempornea, na medida em que o passado apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, o que no s inevitvel, como legtimo. Pois que a histria durao, o passado ao mesmo tempo passado e presente. Compete ao historiador fazer um estudo "objetivo" do passado sob a sua dupla forma.
A historiografia vem realizando muitos estudos que tm acompanhado as novas
abordagens apresentadas desde 1960 sobre os mtodos da histria e as reflexes tericas
advindas de outras cincias, como alternativa para se pensar e pesquisar a histria da
educao. Estas abordagens permitiram o abandono das afirmaes exatas sobre o passado
possibilitando, cada vez mais, uma reflexo que revalida fontes, problematiza o processo de
reconstruo das memrias e tem o intuito de compreender o passado definido por Hobsbawn
(1996, p. 23); como o perodo que precede aos acontecimentos que ficou diretamente
registrado na memria de qualquer indivduo como resultado do compartilhamento de vida
com pessoas que nos superam em idade.
A expanso dos objetos historiogrficos proporcionados pela nova historiografia
permitiu aos historiadores da educao um redimensionamento da escrita da histria da
educao, de forma a inseri-la nas prticas inventadas e reinventadas pelos historiadores.
Assim podemos dizer que a produo na rea da histria da educao passou a usufruir de
dilogos/interpretaes que possibilitaram um aprofundamento terico e uma compreenso
mais crtica da histria da educao brasileira delineando, no seio da produo em histria da
educao, um perfil de pesquisa com caractersticas prprias ao ofcio do historiador.
Concomitante a essa expanso, desenharam-se no interior dos Programas de Ps-
Graduao em Educao grupos e linhas de pesquisa empenhadas em fazer apreender e
exercitar os novos mtodos da pesquisa histrica. Complementando essas redes de
intercmbio da produo em histria da educao surgiram os encontros nacionais e
internacionais que caminharam, paralelamente, para a edificao de espaos associativos
como o Grupo de Pesquisa em Histria da Educao (HISTEDBR em 1984) e a Sociedade
Brasileira de Histria da Educao (SBHE em 1999).
Esse movimento de descortinar os horizontes nas pesquisas em histria da educao
foi expresso por meio de novas temticas, novas fontes, novos enfoques, novos mtodos, que
passaram a privilegiar a reconstruo de espaos, tanto quanto formais como informais e
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desde os indivduos at os grupos ou coletividades, como tambm as prticas discursivas
partilhadas por diversos grupos sociais, os sistemas educativos, as representaes, as
apropriaes, a mediao cultural atravs das trajetrias tanto de grandes intelectuais,
quanto de intelectuais de menor notoriedade, mas que tiveram relativa importncia em seu
tempo, permitindo enxergar as tessituras que compem a micro histria, posto que
constituda e construda por mltiplas vozes de personagens e vidas, s vezes, interpretadas
como pequenas ou at mesmo insignificantescomo apontou Burke (1992).
Ao longo da pesquisa lidamos com um corpus documental muitas vezes de cunho
oficial, como foi o caso das Atas das reunies da Maonaria e dos textos elaborados por Rui
Barbosa, outras vezes de cunho promocional3 - como atas das Lojas e livros produzidos por
maons e para maons. Portanto, fez-se necessria uma leitura atenta e crtica da
documentao para que no ficssemos apenas na transcrio do material consultado, afinal o
presente objeto de estudo foi pouco explorado pelos historiadores da educao. Sendo assim,
na medida em que foi sendo coletada a documentao nos locais onde a pesquisa foi
efetivada, procuramos ento o confronto entre esses documentos e deixamos ao leitor a
possibilidade de descobrir se culminou em algo novo nas pesquisas sobre as relaes
possveis entre a Educao e a Maonaria.
Para os estudos da instituio inglesa que apresentamos brevemente mais adiante,
ainda neste captulo, utilizamos a leitura dos textos e livros que adquirimos ao visitar a
instituio. No caso da instituio paraibana, recorremos s fontes como as atas de fundao
da Escola, os arquivos mantidos pela Maonaria e livros de autores maons que trataram do
tema.
Para chegarmos s definies da temporalidade do estudo foi necessrio fazermos uma
busca por aes da Maonaria em todo o Brasil, atravs de peridicos pesquisados na
Biblioteca Nacional e chegamos s propostas para a educao elaboradas por Rui Barbosa em
1883 como um primeiro recorte temporal, e definimos o segundo recorte temporal a partir da
primeira fase da histria da Escola Padre Azevedo, fundada em 1958, e conseguimos
localizar a documentao at o ano de 1964. Depois daquele ano o conjunto documental sofre
uma interrupo em virtude da deciso radical de um maom que resolve incinerar os
documentos. Desta forma, decidimos utilizar o ano de 1964 como marco temporal final de 3 Promocional porque se trata de panfletos e folhetos produzidos pela maonaria.
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nossa pesquisa, embora saibamos que a Escola fica sob a custdia mais direta da Maonaria
at os anos de 1969 conforme veremos no terceiro captulo da dissertao.
E como tratamos em grande parte do trabalho com documentos provenientes
exclusivamente manicos, tentamos nos isentar e olhar de forma mais crtica, pois como
vemos em Le Goff (2008, p. 525) ... o que sobrevive no o conjunto daquilo que existiu no
passado, mas uma escolha efetuada pelas foras que operaram no desenvolvimento temporal,
e que inclusive os documentos da Loja Padre Azevedo tem uma abrupta interrupo, baseada
em uma dessas escolhas.
Por isso analisamos os documentos nas perspectivas de Le Goff (2008; pp535- 536)
como documento monumento, vejamos:
O documento no qualquer coisa que fica por conta do passado, um
produto da sociedade que o fabricou segundo relaes de foras que a
detinham o poder. S a anlise do documento enquanto monumento permite
memria coletiva recuper-lo e ao historiador us-lo cientificamente, isto
, com pleno conhecimento de causa.
Compartilhamos com a perspectiva de Carvalho (s/d, p.3) que afirma as seguintes
concepes sobre a relao entre as instituies escolares, sociedade e cultura escolar:
A educao tem como finalidade promover mudanas desejveis e estveis nos indivduos; mudanas que favoream o desenvolvimento integral do Homem e da sociedade. Ora, no havendo educao que no esteja imersa na cultura e, particularmente, no momento histrico em que se situa no se podem conceber experincias pedaggicas e metodologias organizativas, promotoras dessas modificaes, de modo desculturalizado. A escola , sem dvida, uma instituio cultural e so as prprias reformas educativas que reflectem as ideologias impressas no contexto social e poltico macro. Est-se, portanto, a falar de uma dimenso cultural e ideolgica da educao enquanto base e transmissor estrutural da reproduo social.
Em nosso estudo procuramos tambm atentar para a definio colocada por
Magalhes (2007, p.70):
A relao entre as instituies educativas e a comunidade envolvente estrutura-se numa abordagem que integre e cruze os planos macro, meso ou micro-histrico, atravs de uma dialctica de convergncia/divergncia e de
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uma reconceptualizao dos planos espcio-temporais: o nacional/universal, o regional, o local. neste redimensionamento que relevam as abordagens de tipo meso, pela sua representatividade no que se refere s mltiplas dimenses da relao educativa e instituio como totalidade, em permanente desenvolvimento.
Portanto, entendendo a afirmao acima pretendemos dar uma perpectiva meso ao
nosso trabalho, j que foi a melhor maneira apresentada de trabalhar melhor o objetdo
preterido.
Passemos, nesse ponto do estudo, a tratar das questes relativas configurao da
Maonaria e sua relao com a Educao.
1.1 Maonaria e educao um novo caminho
Esse estudo tem uma preocupao central: as instituies mantidas ou apoiadas pela
Maonaria e o iderio manico, presente na documentao consultada, sobre educao. O
intuito no o de ir buscar as origens manicas e muito menos sua ritualstica, mas sim
objetiva pesquisar a atuao de Lojas4 Manicas como apoiadoras da educao, trazendo
diferentes exemplos dessas aes.
Por isso entendemos como um novo caminho para a Histria da Educao, j que
trabalhos dedicados exclusivamente ao estudo das relaes entre maonaria e educao, so
poucos. Os que pudemos observar ao longo da pesquisa, foram trabalhos que analisaram de
forma pontual essa questo.
Para poder entender essa Ordem interessante que possamos usar a viso dada por
Mansur Barata (1999) que procura compreender as aes da Maonaria como uma rede de
sociabilidade, mas levando tambm em conta as reflexes de Carmem Moraes (2006) que a
considera como uma organizao poltica, que participa ativamente na instalao do
movimento republicano no final do sculo XIX. Abrangendo essas duas vises podemos
apreender os dois principais caminhos que a Maonaria segue fora dos seus Templos, qual
seja: o debate poltico e social.
4 Na Maonaria se d o nome de Loja ao conjunto de maons ali reunidos. Esse nome deriva do ingls Lodge que significa: Alojamento, hospedagem, pavilho. Tal Alojamento era o lugar reservado para os Cavaleiros Templrios no Templo do Rei Salomo. Os ingleses adotaram essa nomenclatura para a maonaria moderna.
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Foi na Inglaterra que a Maonaria moderna nasceu e chega at hoje com a
permanncia da primeira Grande Loja Unida de Londres, fundada em 1717, que pela primeira
vez na histria agregava e padronizava os adeptos das prticas manicas. Ficando sob a
incumbncia do Maom James Anderson redigir a constituio dessa agremiao de Lojas.
Em 1788, j com um nmero bem maior de Lojas sob sua tutela, a Grande Loja funda uma
das suas obras de caridade: a Royal Masonic School for Girls - uma escola que considerada
como uma das mais antigas, seno a mais antiga, instituio escolar mantida pela Maonaria
no mundo. Estudando, portanto, a origem da Maonaria na Inglaterra chegamos at essa
escola e investigando sua data de fundao e a durao dos seus trabalhos, surgiu o interesse
de inseri-la na pesquisa como um exemplo dessa atuao primordial da Maonaria no mbito
educacional.
Entretanto, o nosso objetivo principal o estudo da Escola Padre Azevedo que foi
escolhida por ter ligao com a Loja Manica de mesmo nome. Foi fundada em 1957, sendo
inaugurada em 1958 segundo deliberao do quadro daquela oficina5 e funciona at hoje.
Inicialmente, a Escola mantinha um relacionamento mais estreito com a Maonaria, j
que seus primeiros diretores eram os venerveis6 do Padre Azevedo, hoje em dia esta Loja
apenas cede seu espao para o funcionamento da referida Escola e tem responsabilidade
apenas pelas questes infraestruturais.
Apesar do objetivo da pesquisa no ser o de discutir os segredos ou a ritualstica
manica, julgamos necessrio trazer ao leitor algumas explicaes referentes ao universo de
criao da Maonaria com o objetivo de deixar mais claras nossas referncias e colocaes
posteriores no texto.
1.2 Breve Histria da Maonaria
Iniciando as explicaes sobre Maonaria precisamos entender que existem as
maonarias que se consideram regulares e irregulares, e as irregulares que so as obedincias
que no seguem os preceitos elencados pela Grande Loja Unida da Inglaterra, que seria o
Vaticano da Maonaria, por mais que alguns ainda no sejam reconhecidos por ela.
5 Oficina outro meio de se referir a Loja Manica. 6 Venervel o presidente da Loja, a pessoa que comanda todas as reunies.
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No Brasil, a Maonaria regular est dividida em trs obedincias: o Grande Oriente do
Brasil que uma entidade federativa e representaes dela existem em todos os Estados
brasileiros, mas obedecendo a uma hierarquia federal com sede em Braslia; A Confederao
da Maonaria Simblica do Brasil (CMSB), que agrega todas as Grandes Lojas do Brasil e,
diferente do Grande Oriente, no possui uma entidade federal, pois as suas entidades
estaduais so independentes, so apenas confederados e, por fim, a Confederao Manica
do Brasil (COMAB) que agrega os membros dos Grandes Orientes Independentes e tambm
confederados.
Essas trs obedincias reconhecem como ritos que podem ser praticados o: Rito
Escocs Antigo e Aceito, Rito Adonhiramita, Rito Schrder, Rito Brasileiro, Rito Moderno ou
Francs, Rito York, Rito de Emulao. Todos esses ritos possuem em comum os trs
primeiros graus da Maonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre7. Estes so os chamados
graus simblicos. A partir do quarto grau so os denominados graus filosficos que variam
um pouco de rito para rito. Nos Ritos Escocs Antigo e Aceito, Adonhiramita e Brasileiro
existem trinta graus filosficos; o Rito de York tem dez graus filosficos; o Rito Moderno
tem seis graus filosficos; o Rito de Emulao tem sete graus filosficos e no Rito Schrder
no existem graus filosficos. No entraremos nas nuances sobre cada Rito, pois no esse o
objetivo deste estudo, mas apenas informar quais os praticados no Brasil pelas Lojas
regulares.
Desde a antiguidade, os construtores que detinham conhecimentos especiais8
constituam uma espcie de camada de elite em meio s demais profisses. Formavam como
que colgios sacerdotais. Na idade Mdia, os construtores de catedrais e palcios eram
beneficiados, por parte das autoridades eclesisticas e seculares, com inmeros privilgios tais
como: franquias, isenes, tribunais especiais. Da a denominao francesa de franc-maon,
a inglesa de freemason ambas traduzidas como pedreiro-livre. A arquitetura constitua
ento a Arte Real, cujos segredos eram transmitidos somente queles que se mostrassem
dignos de conhec-los.
7 Essa hierarquia bsica em todos os ritos manicos. 8 Esses construtores ou pedreiros detinham conhecimentos que no eram acessveis a todos, j que o conhecimento era basicamente oral e passado de mestre para aprendiz. Da, a ideia da Maonaria em dividir nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.
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Entretanto, apesar de algumas pesquisas colocarem marcos no surgimento da ordem
podemos observar algumas delas por meio dos escritos do Maom Santos (1975, p.15): (...)
A origem hidu ou bramanicos; A de Crotona; dos Essnios e por fim dos Romanos. Por isso
no temos ao certo a sua origem, mas tratamos do seu inicio a partir da sua formalizao na
Inglaterra.
Por essa razo podemos dizer que os passos iniciais da Maonaria so obscuros, bem
como parte de sua histria, j que suas origens se perdem em um passado cheio de mitos e
lendas, alguns deles retomam o tempo do rei Salomo e outros se referem a Ado apontado,
em algumas verses, como o primeiro maom. Num ponto, porm, os estudiosos parecem
concordar quanto filiao direta da FrancoMaonaria moderna (a Maonaria especulativa9)
antiga Maonaria de ofcio (a Maonaria operativa10) que se d na idade mdia. Sobre a
origem da Maonaria olhemos, primeiramente, o estudo de Zide C. Moreira11 que se apia
nas origens medievais da instituio. Segundo ele, nesse perodo, surgiram as universidades,
as companhias de comrcio e as corporaes de ofcio, sociedades fechadas que reuniam
trabalhadores especializados.
Ainda sobre a origem da Maonaria temos um estudo semelhante ao de Zide C.
Moreira, no entanto, mais detalhado, feito por Sabrina Juillet12. A autora assinala a Esccia
como sendo o bero da Maonaria Especulativa (aberta participao de outros segmentos
da sociedade) e que de l passaria, posteriormente, para a Frana.
Baseando-se nos Old Charges13, que so os documentos mais antigos que fazem
referncia s Lojas e aos Regulamentos, Deveres, Segredos e Usos da Fraternidade, os mais
conhecidos so: Manuscrito de Halliwell ou Poema Regius (sc. XIV), Manuscrito de Cooke
(sc. XV), Manuscrito de William Watson (sc. XV), Manuscrito de Tew (sc. XVI).
Segundo Wagner Veneziani Costa14 no poema Regius a primeira meno conhecida da
palavra - Franco-Maom e confirmado por Jean Palou (1964, p.33) que afirmou: o mais
9 Maonaria especulativa a que temos hoje que voltada para o ensino filosfico. 10 Maonaria operativa era a formada pelos maons de fato, os pedreiros. 11 Professor aposentado na Universidade Federal Fluminense, mestre maom instalado, grau 33, membro da Academia Manica de Cincias, Artes e Letras do Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro. 12 Professora e especialista em documentos anglo escoceses do sculo XVII. 13 Old Charges = Antigos deveres 14 No artigo Grande Loja de Mestres Maons da Marca do Grande Oriente do Brasil GOB
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antigo texto o Regius, manuscrito real que como seu nome indica est sob a guarda do
Museu Britnico de Londres, o referido documento Regius - dataria dos anos 1388-1445.
A fim de se proteger das perseguies os pensadores, alquimistas da Idade Mdia e da
modernidade, combatidos pelos espritos menos esclarecidos segundo se remetiam s
pessoas ligadas a Igreja, estes perseguidos buscaram refgio entre os pedreiros livres, capazes
de proteg-los pelos privilgios que tinham com membros da elite Catlica.
Os primeiros maons especulativos foram alguns desses homens de saber aceitos
nas corporaes, que no compartilhavam do mesmo ofcio de pedreiro daqueles que os
tinham acolhido, entretanto foram eles que acrescentaram ensinamentos msticos, alguns
desses oriundos dos ensinamentos Rosa Cruz que segundo Jos Carlos de Almeida Filho
(2000, p.13), Anderson15, sem dvida alguma, era um profundo estudioso da Bblia e
conhecedor dos mistrios das sociedades iniciticas, at mesmo porque era rosicruciano,
como alguns autores manicos atribuem. Com essa vinculao entre James Anderson e os
Rosacruzes perceptvel o novo estgio da Maonaria no mais vinculada aos canteiros de
obras. Da, a denominao de Maons Aceitos em contraposio a Maons Antigos, os
construtores.
Surgindo a partir do ingresso desses pensadores, essa nova Maonaria dos Aceitos
ou dos Especulativos teve uma ligao com os conhecimentos filosficos que muitos dos
considerados pensadores iluministas traziam para essas corporaes. Por isso muitos foram
iniciados na Maonaria como, no caso dos Estados Unidos, com Benjamin Franklin16, George
Washington e Thomas Jefferson e vrios outros maons que os acompanharam na luta pela
libertao do julgo ingls. Tambm na Frana alguns lderes da Revoluo de 1789 foram
iniciados na Maonaria como Jean Paul Marat e La Fayette, Revoluo Francesa que abre o
sculo XVIII ao racionalismo.
Essa ligao da Maonaria com o movimento iluminista traz no seu encalo um elo
estreito entre a Maonaria e o ensino. Nos primeiros anos da Maonaria moderna isso no
ser uma bandeira defendida, mas com o passar do tempo e o amadurecimento e
15 James Anderson, o Pastor que redigiu a constituio que define a maonaria especulativa ou moderna. 16 Foi Venervel Mestre da Loja Les Neuf Soeurs durante o seu perodo como diplomata na Frana. Esta Loja era
a mesma frequentada por Voltaire.
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fortalecimento dos seus ideais surge, no final do sculo XVIII, alguns atos da Maonaria
ligados educao. Veremos mais frente, no decorrer do presente trabalho, que essa
preocupao com a instruo cresce ao longo do sculo XIX tanto na Europa, quanto no
Brasil e se solidifica no sculo XX.
Essa preocupao com a educao cresce proporcionalmente popularizao da
Maonaria, a qual engrossava as suas fileiras e que, por consequncia, trazia pessoas ligadas
instruo e que viam nessa instituio uma maneira de concretizar seus projetos.
Todavia, com isso cresceu a procura dos homens interessados em ingressar na
Maonaria, mas nem todos que eram indicados a ingressar podiam ser aceitos, faziam-se
sindicncias sobre os interessados e apenas alguns eram admitidos. Aps serem aprovados
nessa pesquisa prvia eram submetidos a uma srie de provas que constituam a iniciao
ritualstica. Os iniciados juravam guardar segredo dos ritos e respeitar as regras estabelecidas
pelos maons operativos j que nas suas Lojas era onde passavam o conhecimento adquirido
do ofcio de pedreiro.
No sc. XVI aumentou consideravelmente o nmero de maons aceitos, fazendo com
que o nmero de lojas tambm crescesse. Primitivamente havia na hierarquia manica
apenas os graus de aprendiz e companheiro. O grau de mestre era somente o encarregado da
direo de uma construo e era sempre o mais antigo entre os companheiros, mas em 1664,
foi criado o grau de mestre, por Elias Ashmole17, formando assim a base definitiva da
hierarquia manica.
Posteriormente, a Maonaria tomou grande impulso na Inglaterra quando se operou
grande transformao orientada por James Anderson, presbtero londrino, diplomado em
filosofia, e Desagulliers, de origem francesa, gro mestre ingls, eleito em 1719. A partir de
ento passou a Maonaria a desenvolver tendncias para instituio filantrpica e filosfica,
exaurindo seus ltimos componentes operacionais.
17 Algumas correntes manicas apontam Elias Ashmole como o criador dos rituais dos trs graus da Maonaria,
pois no perodo anterior a ele os ensinamentos eram passados apenas oralmente. Ele foi iniciado em 1646 (perodo que predominava ainda a maonaria operativa, mas com o ingresso j de alguns aceitos).
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Em 1723 foi aprovado o Livro das Constituies Manicas, revisto por James
Anderson. Sendo chamado de Constituio de Anderson, tornou-se em pouco tempo a Carta
da maior parte das lojas. Propagava uma doutrina, sobretudo humanitria, desta espiritualista,
aberta a todos os cristos, qualquer que fosse a sua seita, e leal aos poderes pblicos.
Esta origem, ligada aos construtores da era medieval, explica o porqu da simbologia
manica estar toda ela relacionada ao tema construo. Seus smbolos mais conhecidos, at
mesmo pelo observador mais desatento, so os instrumentos do pedreiro: o esquadro, o
compasso, o prumo, a rgua e o nvel. Todo maom est imbudo no propsito da construo -
do templo da virtude e da verdade, construo de si mesmo, de seu carter e de sua
personalidade e construo de um mundo melhor.
Antes de passarmos primeira experincia manica com a educao, apresentamos
duas imagens (figuras 1 e 2) do mais conhecido smbolo manico: o olho que tudo v. Em
nosso entendimento possvel pensarmos o olho que tudo v como uma espcie de
metfora das aes manicas no mbito educacional. Por ser esse smbolo manico ligado
luz e ao conhecimento, por isso fica acima da cabea do Venervel Mestre18 para que ele
possa dirigir a Loja, preferencialmente, com luz e com sabedoria a fim de levar o
conhecimento para as pessoas que normalmente no tinham muitos recursos financeiros.
Seguem as duas imagens do smbolo manico ao qual nos referimos.
18 Presidente da Loja.
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Figura 1: o olho que tudo v. Fonte:http://filhosdehiran.blogspot.com19
Figura 2: o olho que tudo v. Fonte: http://filhosdehiran.blogspot.com20
Como pudemos acompanhar na breve histria que traamos sobre as origens da
Maonaria, percebemos que ela esteve envolvida, desde o incio, em revolues21. Entretanto,
no s no campo poltico que a Maonaria lanou seus princpios, a educao outro
objetivo que caminha paralelamente a essa instituio. Como vimos anteriormente, na
Inglaterra que a Maonaria toma a formatao que se conhece atualmente, ou seja, de uma
associao no mais de pedreiros operativos, mas sim especulativos22 preocupados com o
crescimento filosfico e espiritual e, talvez tenha sido por isso que foi naquele pas que
19 Acessado em 25/07/2011
20 Acessado em 25/07/2011 21RevoluoAmericana,RevoluoFrancesa,IndependnciasSulAmericanas,ProclamaodaRepblica,soalgunsexemplosdemovimentosrevolucionriosemqueamaonariaseenvolveu,nemsempredeformamajoritria.
22Especulativossoosmaonsquenosomaisdeofcio,osquenotrabalhamcomopedreiros.
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nasceu a preocupao em dar uma espcie de suporte educacional s famlias manicas
desvalidas.
1.3 A Royal Masonic School for Girls23.
Desta forma, consideramos importante apresentar a Escola que foi fundada no ano de
1788, na Inglaterra, uma instituio criada para abrigar filhas rfs de maons. J que aquela
nao se encontrava envolta em conflitos internos e externos e os maons procuravam um
meio de construir uma instituio caridosa para as filhas dos maons que passavam por
dificuldades ou cuja morte tivesse feito suas famlias passarem por necessidades24 Cowburn
(2001, p. 11).
A Escola em questo tem uma caracterstica que a difere das escolas mantidas pela
Maonaria no Brasil como veremos no ltimo captulo da dissertao, j que ela era mantida
no s por uma Loja, mas por um grupo de Lojas exemplificado no seguinte trecho:
As seguintes lojas foram mencionadas na Ata do Conselho escolhido, os quais haviam prometido seu apoio: Loja Somerset House, Bath, N 4 Loja Royal Cumberland , Bath, N 41 Loja Regularidade, N 91
Loja Amor Fraternal, N 56 Loja Amizade, N 6 Loja Prudncia, N 75 Loja Real , N 201 Loja Britnica, N 33 Loja Moira, N 92 Loja Unio de So James, n 180 Loja Nove Musas, N 41825 Loja Amizade Rural, N 435 Loja dos Peregrinos, N 238 Loja Harmonia, N 23526. (HANDFIELD, 1966; p.18) [Traduo do
Autor]
23 Consideramos importante mostrar ao leitor que as aes no se concentravam em apenas um nico pas. Assim, temos os seguintes exemplos: Royal Masonic School for Boys. Inglaterra Reino Unido (1798); Masonic Home and School of Texas Independent School. Texas - EUA (1913); Masonic Female Orphan School. Dublin Irlanda (1792); Escuela Nacional Masnica . Havana Cuba (1917 - incerto); Escuela "Blas Cuevas". Valparaiso Chile (1871). To somente colhemos o exemplo dessa escola inglesa para ilustrar um tipo de ao ocorrida fora do pas. 24 establishing a charitable institution for the daughters of Masons Who had fallen on hard times or whose death had rendered hardship for their families 25 Antes da agregao das Lojas United Grand Lodge of England a Loja Nine Muses tinha o nmero 235. 26 The following Lodges are mentioned in the Minutes of the Select Committee Who had promiser their support:
Somerset House Lodge, Bath, N4; Royal Cumberland Lodge, Bath, N 41; Lodge of Regularity, N 91; Lodge of Brotherly Love, N 56; Lodge of Friendship, N 6; Lodge of Prudence, N 75; The Royal Lodge, N 201; The Britannic Lodge, N 33; The Moira Lodge, N 92; St. James Union Lodge, n 180; Lodge of Nine
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Essa pode ter sido uma das condies que fizeram com que a Royal Masonic School
for Girls funcionasse ininterruptamente desde a sua fundao at os dias atuais, hoje ela ainda
conta com o apoio da Maonaria inglesa, mas por aceitar um pblico no ligado Maonaria,
a escola cobra taxas e assim pode se manter no dependendo apenas das Lojas manicas,
como ocorria no comeo da sua existncia.
Sobre a questo da aceitao apenas de crianas que tinham algum vnculo familiar na
Maonaria havia um regulamento de ingresso na escola que, entre outros, trazia os seguintes
pontos:
1- Da qualificao do Requerente A Corte Trimestral, no dia 04 de Outubro, estabeleceu que (em ordem decrescente - nota do tradutor) Na inscrio das crianas, preferncia ser dada aos rfos cujos pais, no momento do falecimento, foram registrados como maons e membros de uma loja. Depois desses, vm s crianas cujos pais so membros de um loja no momento da entrega da petio, mas NENHUMA ser aceita se no filhos de maons registrados As crianas para a admisso teriam que ter entre 5 e 10 anos de idade.27 2 Da forma de petio como os primeiros requerentes falharam em trazer as credenciais necessrias, as instrues que seguem foram impressas e distribudas. Qualquer pessoa inscrevendo para admisso de uma criana deve, durante o exame diante do Conselho, portar os seguintes itens: (a) A petio do pai ou da me; ou se rfo, de um amigo, deve ser endereada para os Consignatrios, o Conselho e aos Governadores (Governador escolar aquele responsvel por elevar o padro da escola atravs de seus trs papeis principais que so planejar uma direo estratgica, assegurando responsabilidade, superviso e avaliao da performance da escola. Eles correspondem maior fora voluntria do pas). da Escola Manica Royal Cumberland, definindo a profisso e residncia do requerente, o qual deve conter o nmero de membros na famlia e os particulares relativos criana, uma vez que estes podem instigar comiseraes a favor do OBJETO. Ainda, a petio deve ser assinada por aquele que recomenda a admisso da criana. (b) Um certificado assinado pelo Venervel Mestre e Vigilantes da Loja onde o pai se tornou maom ou qualquer loja na qual ele teria sido um membro. (c) Um certificado da Secretaria confirmando o registro do pai.
Muses N 41826; Lodge of Rural Friendship, N 435; The Pilgrims Lodge, N 238; The Lodge of Harmony, N 235
27 1. Qualification of Applicant. The Quarterly Court on October 4th laid down that In admission of children preference be given to orphans whose fathers at the time of their decease were registered freemasons and members of a lodge. After these a preference be given to such children whose fathers are members of a lodge at the time of presenting their petition but that NONE be admitted but the children of registered masons Children for admission were to be between 5 na 10 years of age.
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(d) Um registro da idade da criana da Parquia onde ela nasceu.283 Da finalidade da Instituio (a) Proteger a prole feminina dos maons indigentes dos perigos e infortnios aos quais suas situaes aflitas as expem. (b) Treinar as mentes das jovens meninas para a diligncia, a virtude e para os deveres sociais e religiosos. (c) Qualificar as crianas para ocupar uma posio til, porm no servil, na vida [...]29 4 Do Regime Domstico ou Interno30. (HANDFIELD, 1966, p.20-21) [Traduo do Autor].
Notamos nesses aspectos o quo intrnseca Maonaria era essa Escola e, nesse
ponto, em que o sistema ingls se diferencia do brasileiro, j que Este sistema inteiramente
insatisfatrio, durou at 191631 [Traduo do Autor] (HANDFIELD, 1966, p.31), ou seja,
comeam a entrar pessoas que no estavam ligadas diretamente Maonaria somente no
inicio do sculo XX.
Este apenas um dos pontos de interseco entre a Maonaria e a Educao, e
sabemos que no s na Inglaterra, mas em todo mundo existem outros exemplos que no
sero abordados nesse trabalho, por fugir ao foco principal do presente estudo, j que o nosso
foco ser a Escola Padre Azevedo como trataremos no terceiro captulo.
28 2. Form of Petition. As the earliest applicants failed to bring the necessery credentials, the following instrutions were printed and distributed. Any person applying for admission of a child must, at the examinations before the committee, produce the following particulars: (a) A petition From a parent or if an orphan from a friend, which petition must be addressed to the Trustees, Committee and Governors of Royal Cumberland Free Mason School, setting forth the occupation and residence of the one Who petitions with the number in family and such particulars relative to the child as may be tought necessary to excite commiseration to the OBJECT, and the petition must be signed by the subscriber who recommends the child for admission. (b) A certificate signed by the Master and Wardens of the Lodge for the time being, where the father was made a mason or any lodge of which He had been a member. (c) A certificate from the Grand Secretary of the father having been registered. (d) A register of the childs age from the Parish where she was Born. [...] [Traduo do autor]. 29 Purpose of the Institution. (a) To preserve the Female offspring of indigent Freemasons from the dangers and misfortunes to which their distressed situation may expose them. (b) To train Young female minds destitute of parental care and attention to Industry, virtue and social and religious duties. (c) To qualify the children to occupy a useful, though not a menial, station in life.29 [...] 30 4. Domestic or Internal Government. 31 This system, wholly unsatisfactory, was continued until 1916.
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No captulo seguinte vamos tratar das relaes entre a Maonaria e a Educao no
Brasil, e veremos atravs de peridicos ligados maonaria, como se desenrolaram na
segunda metade do sculo XIX e incio do sculo XX essas aes da Ordem Manica.
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CAPTULO 2 AS PROPOSIES E AES DA MAONARIA NO BRASIL
A histria da Maonaria no Brasil um tanto controversa com relao s suas origens,
semelhantemente como vimos sobre os seus primrdios na Europa. Em vrios movimentos
emancipatrios surgidos no nosso pas, desde o final do sculo XVIII, percebe-se um iderio
manico, aquele mesmo surgido na Europa no inicio do mesmo sculo e que foi difundido
principalmente aps o movimento revolucionrio francs.
Possivelmente, pessoas que faziam parte das camadas mais abastadas da sociedade
brasileira tiveram contato com maons na Europa ou at fossem iniciados na Ordem naquele
continente, mas so somente indcios porque no temos certeza sobre os possveis elos de
iniciao de brasileiros no exterior.
Uma das maiores controvrsias a de que o Arepago de Itamb,32 fundado em 1796,
teria sido a primeira Loja Manica do Brasil. Mas hoje so poucos os que defendem essa
tese j que pelo que se sabe os que faziam parte desse conjunto no eram necessariamente
maons. Alguns deles tinham uma ligao com a Maonaria, como o caso de Arruda
Cmara, que foi iniciado na Grande Loja de Paris, mas exceto ele, no existe outra ligao
identificada at o momento pelos pesquisadores. Podemos inferir que como o Arepago foi
um local para as reunies secretas que culminaram com a revoluo de 1817 e que seus
frequentadores utilizavam nomes fictcios, possivelmente por isso a confuso com a
Maonaria.
Oficialmente, o primeiro Templo Manico Brasileiro foi erguido no ano de 1802 na
Bahia e pertencia Loja Virtude e Razo; o segundo Templo foi edificado no Rio de Janeiro
no ano de 1803 para as Lojas Reunio, Constncia e Filantropia - todas elas vinculadas ao
Grande Oriente Lusitano. Porm, com o inicio dos movimentos contrrios ao domnio
portugus no Brasil, essas lojas rompem com a obedincia portuguesa e passam a se vincular
ao Grande Oriente da Frana.
32 Um Arepago um local de reunio mantido por maons, entretanto para fazer parte desse crculo no era necessrio que fosse um iniciado, qualquer um que fosse convidado poderia fazer parte das reunies. Segundo CABRAL (2008, p. 104): Atribui-se a Manuel Arruda da Cmara, como j dissemos, a criao do Arepago de Itamb, centro de formao democrtica, de propaganda poltica e de idias republicanas.
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2. 1 Olhares da Maonaria sobre a Educao no Brasil nos peridicos do Oitocentos
As aes na educao realizadas pela Maonaria no Brasil comeam a aparecer a
partir da segunda metade do sculo XIX, pois como a Maonaria havia se estabelecido
formalmente no ano de 1822, a Ordem teve tempo para se estabelecer e se fortalecer para
engendrar novas campanhas que no ficariam apenas no campo poltico, mas que abarcariam
pontualmente tambm a educao.
Em jornais manicos e boletins oficiais da Ordem pesquisados a partir do ano de
1875, percebemos uma gama de atuaes nesse sentido, mas ao contrrio do que acontecia no
caso ingls (que tinha um carter assistencialista), percebemos que no Brasil a preocupao
com uma instruo pblica e universal e no apenas uma educao direcionada s famlias
manicas.
Localizamos uma pequena amostragem de informaes que tinham relao com a
Maonaria e Educao existentes na Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro). O volume de
peridicos relativos Maonaria era muito grande e o tempo para a pesquisa no nos permitiu
explor-lo em sua totalidade. De qualquer maneira, destacaremos alguns aspectos das leituras
que fizemos dos seguintes documentos: o Boletim do Grande Oriente do Brasil, entre os anos
de 1875 at 187933; o folhetim A Famlia Manica, entre os anos de 1875 e 1881 (um jornal
vinculado Maonaria do Rio de Janeiro), como tambm outras publicaes como um
nmero do Jornal Fraternidade, da cidade de Fortaleza (Cear) do ano de 1875, o Jornal A
Accia, da cidade de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), dois nmeros do ano de 1876; como
tambm outro Jornal denominado Fraternidade, de Penedo (Alagoas), do ano de 1903.
O primeiro exemplar pesquisado do Boletim do Grande Oriente do Brasil que trouxe
notcia sobre educao o seguinte:
GOYTACAZ.
Esta off digna em todos os seus actos dos maiores encomios, acaba de tornar uma resoluo verdadeiramente caritativa e humanitaria.
Sciente do quanto pde e do que vale, e mister a instruco, esse po da alma, fez um donativo de 200$000 Sociedade Propagadora da Instruco34.
33 Trata-se de uma publicao mensal que d conta das aes da Maonaria em todo o pas. O Boletim o jornal
oficial do Grande Oriente do Brasil. 34 A Sociedade Propagadora da Instruco foi fundada em 1873, em So Paulo, e posteriormente passou a se
chamar Liceu de Artes e Ofcios de So Paulo.
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Seus OObr porm, no querendo que de seus cofres sahisse uma s migalha, permitta-se-me a expresso, do po da viva, do orpho e do necessitado, abriro sua bolsa e concorrrero com a citada quantia afim de que mais magnanima fosse a resoluo tomada pela Aug Loj que lhes deu a Luz35.
Percebemos pelo ato da Loja Goytacaz que existia uma preocupao de alguns setores
mais progressistas da Maonaria preocupados com o que chamam de po da alma, que a
instruco do povo. Possivelmente influenciados pelas teorias positivistas do sculo XIX, j
que os maons brasileiros seguindo a tradio da Maonaria portuguesa, iniciavam
geralmente pessoas ligadas elite poltica, intelectual, artstica, ou seja, pessoas que estavam
nas vanguardas brasileiras.
Entretanto, observamos em uma das aes das lojas manicas algo semelhante ao que
acontecia no exemplo da escola inglesa, a qual nos referimos no primeiro captulo:
AUG LOJ DISCRIO Tendo esta Aug Off36 resolvido sustentar um certo nmero de meninos, prodigalisando-lhes a necessaria educao; resolveu nessa occasio dividir em tres classes os seus beneficiados sendo a 1 destinada aos filhos dos Membros do seu Quadro; a 2 aos filhos orphos de Mestres Maons e a 3 finalmente aos filhos de Mestres Maons em geral. Acontecendo porm que desse numero existo para serem preenchidas quatro vagas, o Ilustrssimo Ir Ven37 da citada Off offerece esses lugares aos meninos que delles quizerem usufruir, visto como trata-se a par do beneficio prodigalisado, de garantir o seu futuro dando lhe o maior dos bens a instruco38.
A Loja Discrio tinha como prioridade atender os seus necessitados, sob a ordem que
se segue, dando prioridade aos que faziam parte do seu quadro ativo, aos rfos filhos de um
Mestre Maom da mesma Loja e depois aos filhos de qualquer Mestre. No caso de no serem
preenchidas as quatro vagas oferecidas, o Venervel tinha a autoridade de destinar essa vaga a
qualquer criana que necessitasse.
Esse caso semelhante ao caso ingls, pois percebemos a presena do assistencialismo
entre os membros da Maonaria. A deciso de acolher crianas ligadas de alguma forma s 35 ltima Hora, Boletim do Grande Oriente do Brasil, Rio de Janeiro, p. 492, N 6 ,4 Anno, Junho 1875. 36 Aug Off Significa Augusta Oficina. 37 Ir Ven Significa Irmo Venervel. 38 ltima Hora, Boletim do Grande Oriente do Brasil, Rio de Janeiro, p. 691, N 9 ,4 Anno, Setembro 1875.
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famlias manicas pode ter sido reflexo da Guerra contra o Paraguai que encerrar em 1870 e
que deve ter deixado muitos filhos de maons rfos. Ento, apesar de ter apenas quatro
vagas, ainda era uma forma de amenizar a situao da famlia desvalida. Caso semelhante o
leitor ver no captulo seguinte quando tratarmos do Padre Azevedo que, aps a morte do seu
pai que era maom , teve a sua educao mantida pela Ordem Manica.
No ano de 1876 localizamos uma proposta de Constituio Manica que circulou
entre as Lojas do Grande Oriente do Brasil e, dentre os vrios artigos desse documento,
destacamos o seguinte:
Projecto de Consist Maon (...) Art. 9 - O Gr Or do Brazil garante aos seus associados em particular e em geral humanidade: 1 Proteo e auxlio 2 Socorro e proteco aos filhos, viuvas e pais dos MMa quando em necessidade; 3 Instruco do Povo 4 Fundao de escolas para ilustrao da mocidade (...)39
Nesse projeto Constitucional percebemos que surge essa preocupao legal com a
educao, no apenas dos maons e seus familiares, mas a ideia de difundir a instruo para o
povo em gera, como forma de ilustrar a mocidade. E essas ideias iro permear as pontuais
aes da Maonaria na educao, desde o sculo XIX at a atualidade.
interessante que alguns dos responsveis pelo Grande Oriente do Brasil prezavam
pela ilustrao dos seus membros. Observamos em um discurso escrito pelo recm empossado
Grande Secretrio Geral da Ordem, o Maom Angelo Bitancourt, que no Boletim de
Fevereiro de 1878 clama aos irmos a doao de livros para a fundao de uma biblioteca
afim de educar o povo para torn-lo forte no exercicio de seus direitos40 .
Como nesse perodo a Ordem estava fortemente ligada aos debates polticos, tais como
o fim da escravido e ideias republicanas, era um meio de fortalecer intelectualmente os 39 Boletim do Grande Oriente do Brasil, Rio de Janeiro, N 3 ,5 Anno, Setembro 1876 Como essa foi uma
edio especial apenas com a proposta constitucional, o Boletim no veio dividido em sees e no contava com numerao de pgina.
40BITANCOURT, Angelo; A todos os Maons. Boletim do Grande Oriente do Brasil, Rio de Janeiro, p. 80, N 2, 7 Anno, Fevereiro 1878.
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maons, pois com esse incentivo os membros seriam uteis Ma e ptria que tanto necessita de homens illustrados41.
J que, segundo o mesmo Angelo Bitancourt (1875), a Maonaria em todos os
tempos foi a defensora da liberdade do cidado, de sua conscincia e da instruo popular, a
instruo e a educao estavam sempre ligadas s ideias de liberdade do povo e por isso que
percebemos essas aes da Maonaria, j que como diz a sua Constituio, ela deve instruir e
ilustrar o povo. Mas no a funo da Ordem substituir o Estado em sua funo de educar o
povo, mas sim auxili-lo quando necessrio.
Os maons que andavam pelo Brasil durante o sculo XIX, sempre que voltavam ao
Rio de Janeiro, levavam informaes sobre as Lojas que tinham visitado. Entre esses relatos
encontramos o seguinte:
SO JOO DA BOA-VISTA (S. PAULO) Acabamos de receber por intermedio do nosso Ill Ir 3242 Manoel Antonio Julio Teixeira da Nobrega, a grata noticia de ter a Aug Loj Deus, Patria e Liberdade ao Oriente43 de S. Baptista da Boa Vista (S. Paulo) fundado uma aula nocturna, a qual freqentada por 52 alumnos, todos pessoas pobres, a quem se lhe ministra gratuitamente o po do espirito. Graas aos esforos do Resp e Ill Ir Dr. Augusto Ribeiro Loyola a pouco filiado na citada Aug Loj deve-se to caridosa fundao. [...]44
Por esse relato percebe-se que em alguns momentos a atuao de um homem, como no
caso o Dr. Augusto Ribeiro Loyola, que aps sua filiao fundou em conjunto com a sua
Loja, uma aula noturna, com o objetivo exclusivo de atender a populao carente da cidade de
So Joo da Boa Vista/SP. Vemos esse relato em uma cidade interiorana, onde grande parte
da populao vivia no campo e, ainda assim, a Maonaria conseguiu montar essa aula.
Embora no explicitamente descrito no documento, mas que provavelmente era aula de
primeiras letras.
41 Idem. 42 Ill Ir significa Ilustrssimo Irmo, e o nmero subsequente o grau manico, no caso 32. 43 Oriente significa cidade. 44 ltima Hora, Boletim do Grande Oriente do Brasil, Rio de Janeiro, p.523, N12 ,7 Anno, Dezembro de 1878.
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interessante a forma como alguns maons se preocupam com essa instruo pblica,
como podemos acompanhar por meio do discurso de Godoy (1879, p.41) que mostraremos
aqui em partes e que se encontrar na integra como anexo, vejamos:
Quando as portas do augusto templo do saber se abrem de par em par para dar entrada infancia desvalida e rida de conhecimentos sociaes, quando se funda uma escola no centro desta Babel-social onde as idas formigam em busca de uma realidade que, assemelha-se um mytho, quando finalmente o po do espirito vai ser distribudo as crianas, pequeninos homens, que mais tarde deveram occupar lugares proeminentes em o nosso paiz; ns, que somos adeptos do progresso, do pensamento liberrimo e da confraternidade, no devemos ficar impassiveis quaes antigas estatuas talhadas no marmore.[...]45
Todo o discurso tem momentos bem interessantes, mas recortamos essa parte inicial
da fala, pois ela traz essa ligao anteriormente citada entre a Maonaria e o progresso. O
autor afirma que os maons, como pensadores progressistas, devem trabalhar para a
distribuio do alimento espiritual - que a forma como eles sempre se referem educao.
Esse discurso foi proferido durante a inaugurao de uma aula noturna que era
ministrada pela Senhora Dona Maria Gabriella Dantas, que prestava seus servios
gratuitamente. Essa turma funcionava na cidade de Guaratinguet/SP e era mantida pela Loja
Manica Asylo da Beneficencia.
Outro Jornal que foi pesquisado na Biblioteca Nacional e que no era um boletim
oficial, mas era um rgo ligado Maonaria do Rio de Janeiro chamava-se A Famlia
Manica. Tratava-se de um jornal quinzenal e que circulava pela cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de ter ligao com a Maonaria Fluminense, as suas informaes no se restringiam
ao que acontecia no Rio de Janeiro, pois o Boletim trazia informaes que se consideravam
pertinentes para a Maonaria como os temas da: a civilizao e a humanidade. Destacamos
algumas notcias escritas sobre educao que veicularam nos fascculos disponveis entre os
anos de 1875 e 1883 (ltimo ano desse peridico micro-filmado pela Biblioteca Nacional):
Movimento Manico A Loja Trabalho e Honra, da cidade da Campanha da Princeza; em Minas-Geraes, offereceu a quantia de 120$000 aos meninos
45 GODOY, Joo; Aula Nocturna, Boletim do Grande Oriente do Brasil, Rio de Janeiro, p.41, N 2, 8 Anno,
Setembro de 1879
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pobres, que, em virtude do ultimo regulamento da instruco publica naquella provncia so forados a freqentarem as aulas do ensino primario46.
Podemos entender que com a incluso dessa obrigatoriedade de instruo pblica,
muitas crianas das classes menos favorecidas no tinham as condies mnimas para se
manterem regularmente nessas aulas. A Maonaria atravs de doaes como a acima citada,
ajudaria a minimizar essa discrepncia.
No se pode afirmar apenas com esse pequeno recorte de jornal, mas provavelmente
existiria nas ruas uma gama de crianas negras que estavam crescendo marginalizadas, j que
em 1871 havia sido promulgada a lei do ventre livre, e essa era uma forma de minimizar a
ociosidade e tambm uma maneira de preparar minimamente as crianas, pois pelo menos o
comrcio, por mais nfimo que fosse, precisaria de pessoas com uma educao bsica.
A mesma notcia veiculada no Boletim do Grande Oriente do Brasil teve tambm um
destaque no jornal:
Movimento Manico (...) A Loja Goytacaz, de Campos, deliberou subvencionar a sociedade Propagadora da Instruco com 200$000 annuaes, e os membros presentes resolvero quotizar-se para no sobrecarregar o cofre da Loja.47
Essa divulgao era interessante para a Maonaria. O Boletim era um peridico de
circulao interna da Ordem. Entretanto, tal notcia ser veiculada em um jornal como esse em
que as pessoas que teriam acesso no eram apenas quelas que eram ligadas Maonaria,
apresentava ponto positivo ao movimento da educao.
Nas duas seguintes noticias veremos que a Maonaria era atacada por algumas
camadas sociais, como coloquei anteriormente, a Igreja Catlica e as pessoas que estavam
mais ligadas a ela e que, segundo os maons, cometiam calnia na forma em que se dirigiam a
sua Ordem, vejamos:
Eschola Nocturna Pessoa que viajou pelo municpio de Nova-Friburgo e visitou a eschola nocturna fundada e sustentada pela Loja Isis, daquella cidade, informa-nos de que Ella freqentada por cerca de cincoenta adultos.
46 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Sexta-feira 16 de Abril de 1875, p.2, N23 Anno IV. 47 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Domingo 18 de Julho de 1875, p. 2 , N36 Anno IV.
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bello de ver-se o modo por que a Maonaria promove o bem social em quanto os seus adversrios empenho-se em guerreal-a pela Calumnia e pela intriga48.
Como tambm:
Fastos da Maonaria A Loja Caridade e Silencio, ao Val de Corumb, provncia de Mato-Grosso, deu ha dias liberdade a um escravo de dez annos, quotisando-se para esse caridoso fim todos os irmos do quadro. Os infelizes presos so tambm sustentados pela mesma Loja, que h muito tempo sustenta uma eschola naquella Villa. E os abutres de sotina no cesso de calumniar a nossa pia associao, elles que pretentem inutilmente entravar a marcha da civilisao e eternisar a ignorancia mentindo constantemente s sublimes doutrinas do nosso Divino mestre.49
Um peridico como esse seria interessante para promover e divulgar as aes da
Maonaria que desde o sculo XVIII era perseguida pela Igreja Catlica, forte aliada do
Estado Catlico Brasileiro ao longo do sculo XIX. Vrios documentos foram propagados por
papas catlicos que condenavam a Maonaria como relatados a seguir: em 24 de abril de
1738, o papa Clemente XII, encclica, IN EMINENT (o primeiro documento em que um Papa
condena abertamente a Maonaria). Depois deste se seguiram: Benedicto XIV, Providas, em
18 de maio de1751; Pio VII, Ecclesiam a Jesu Christo, em 13 de setembro de 1821; Leo XII,
Quo Graviora, em 13 de maro de 1825; Pio VIII, Traditi Humilitati, em 24 de maio de 1829;
Gregrio XVI, Mirari Vos, encclica, em 15 de agosto de 1832; Pio IX, Qui Pluribus,
encclica, em 9 de novembro de 1846; Leo XIII, Humanum Genus, encclica, em 20 de abril
de 1884; Leo XIII, Dall Alto Dell Apostlico, Seggio com a encclica, em 15 de outubro de
1890.
Pela quantidade de documentos contrrios Maonaria que elencamos anteriormente,
podemos perceber que a relao entre a Maonaria e a Igreja Catlica no era amistosa. Todos
os documentos citados fazem referncia a Maonaria. Os nicos que no tocam diretamente
no tema so: a encclica de Pio IX, mas que fala de correntes progressistas que esto entrando
no corpo da Igreja, e a encclica de Gregrio XVI que condena o indiferentismo religioso e
que no basta ser reto e honesto.
48 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Domingo 3 de Outubro de 1875, p.1, N47 Anno IV. 49 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Domingo 5 de Dezembro de 1875, p.2, N56 Anno IV.
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Por essas acusaes feitas Maonaria pela Igreja Catlica e divulgadas pelos papas,
uma boa parte da populao tinha receio quanto a esta instituio. Por causa disso, seus
membros achavam que fazendo a divulgao dos seus bons atos, como no caso da
educao, poderiam contribuir para mudar a imagem negativa que se tentava construir com
relao Maonaria.
Nos dois conjuntos de notcias que elencamos anteriormente pudemos perceber que,
em uma das vezes, uma Loja Manica da cidade mantinha uma escola noturna com o intuito
de alfabetizar os adultos e vimos a exaltao que o responsvel pela matria trata a Maonaria
quando diz que ela promove o bem social. No caso das matrias do Jornal A Famlia
Manica pudemos acompanhar as campanhas engendradas pela Ordem Manica pela
libertao dos escravos, e no s a liberdade, mas a preocupao em garantir aos libertos
alguma instruo. Entretanto, vale salientar que os custos polticos e sociais de perseguio
aos membros da Maonaria para a manuteno de atitudes como essas eram altos.
Veremos mais adiante como as pretenses educacionais da Maonaria culminaram nas
reformas educacionais de Rui Barbosa, como alguns iderios manicos, como nacionalismo,
cientificismo e positivismo esto colocados nessas propostas.
O Jornal A Famlia Manica traz em sua primeira edio do ano de 1876 o resultado
das aprovaes da escola noturna mantida pela Loja Isis referida por ns anteriormente:
(...) encerrou as suas aulas do anno passado no dia 7 de dezembro procedendo-se a exames dos alumnos que a frequento desde a sua creao a 7 de Setembro ultimo. Os numerosos assistentes a esse acto ficaro sorprehendidos do notvel adiantamento produzido, graas aos systema de ensino adoptado pelo digno e modesto professor. (...).50
Na matria anterior vimos que a escola mantinha cinquenta alunos e, infelizmente, na
matria que divulgava os exames realizados, no se tem notcia do nmero de alunos
aprovados, apenas refere-se ao adiantamento. Todavia, apesar da notcia no trazer o
nmero de alunos existentes no final das aulas, percebemos que havia a preocupao em fazer
esses aprendentes progredirem na educao.
Foi recorrente, na pesquisa que realizamos, que quando um jornal promove matrias
sobre a educao agrega a palavra progresso, indicando que a educao seria um dos meios de
50 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Domingo 2 de Janeiro de 1876, p.2, N59 Anno V.
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fazer a sociedade brasileira evoluir - termo esse que aparece de forma constante no
pensamento positivista do sculo XIX. Acompanhemos por meio do trecho do jornal:
Aula Nocturna Na cidade de Victoria continua a funcionar a aula nocturna mantida pela Loja Manica Unio e Progresso dirigida pelos irmos Lellis Horta e Alexandrino Paiva Avante obreiros do progresso!51
Na matria acima vemos mais especificamente os maons dirigindo as aulas, tanto que
so chamados pelo responsvel pela nota no jornal de obreiros do progresso. Torna-se
pertinente vermos que em alguns casos a Ordem no cedia apenas espaos fsicos, ou mesmo
despendia quantias em dinheiro para a instruo, mas os seus prprios obreiros encampavam
essa luta pelo que eles chamavam de po da alma.
Apesar da educao no ser uma poltica manica nacional vimos, atravs desses
relatos transcritos para o Jornal A Famlia Manica, que as aes em prol da instruo iam
se espalhando ao longo do Brasil e ao longo do tempo. Podemos observar mais uma nota
presente no referido jornal:
Instruco Gratuita Em Campinas reabriro-se a 9 do corrente as aulas a escola nocturna, sustentada pela Loja Maonica Independncia52.
Dentre as publicaes obtidas pela pesquisa que realizamos na Biblioteca Nacional, no
Rio de Janeiro, encontramos uma que trata da visita do Maom (e Gro-Mestre do Grande
Oriente Unido do Brasil O Grande Oriente dos Beneditinos) e, poca, Deputado Geral
Joaquim Saldanha Marinho, que tambm respondia pelo pseudnimo de Ganganelli, nas
provncias do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nessa sua visita foi ovacionado
pelos maons locais que atravs da Loja Modstia remeteram uma prancha53 ao jornal:
Que nos membros da comisso abraava os irmos da Loja Modestia, abrao que, ao transmitir-lhes, pedia que lhes tivessem ver que muito se achava penhorado pela prova de amizade que lhe demosntravo;
51 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Sexta-Feira 25 de Maro de 1881, p.3, N135 Anno VIII. 52 Noticiario. A Famlia Manica, Rio de Janeiro, Segunda-Feira 23 de Janeiro de 1882, p.3, N144 Anno IX. 53 A palavra prancha, na maonaria, qualquer comunicao por escrito: uma carta, um informativo por
exemplo.
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Que trabalhassem pela instruco do povo, e por todos os melhoramentos sociaes, porque elles importavo o melhoramento de nacionaes e estrangeiros, realisando assim o ideal da Maonaria que em seu progresso no distingue nacionalidades, por isso que universal54.
Essa informao foi retirada do Jornal Fraternidade que circulava em Fortaleza, mas o
jornal citado havia retirado essa informao do Jornal Commercio do Paran. interessante
essa passagem, pois algo que est acontecendo no sul do pas repercute na Maonaria no outro
extremo, isso ressalta o que o orador diz no seu discurso que a Maonaria em seu progresso
no distingue nacionalidades, por isso que universal e se tratando da extenso territorial
brasileira e em um perodo em que a mobilidade no era to fcil, essa universalidade pode
at ser entendida como o nosso pas.
Vale salientar ainda outro ponto crucial do discurso, ou seja, quando ele fala do
melhoramento de nacionaes e estrageiros, pois nesse perodo havia uma forte influncia dos
italianos que comeavam a imigrar para o Brasil e que justamente se estabeleciam na regio
sul do pas. Sabemos que a Itlia um dos mais fortes pilares da Maonaria no sculo XIX.
Esse discurso de carter agregador e universal algo que permeia a Maonaria at os nossos
dias, pois como ela uma instituio de carter mundial, o maom que se identificar como tal
ser recebido em qualquer parte do mundo.
No mesmo Jornal, s que em outra seo, destaca-se a seguinte notcia:
ESCHOLA POPULAR De ordem do director encarregado da matricula fao publico que se acha aberta a matricula da Eschola Popular at o dia 15 de Maro prximo Diretor - Secretario J. Hermano Fortaleza, 18 de Fevereiro de 187555.
Claro que essa ideia de instruo cabia nos moldes defendidos por essa ordem, mas
principalmente no contexto do liberalismo e da necessidade de criao de um povo instrudo
objetivando promover o progresso da nao. Esse era o pensamento dos dirigentes manicos,
como vimos em momentos anteriores do texto.
54 Revista da Imprensa, Fraternidade, Fortaleza, 19 de Fevereiro de 1875, p.2, N 54 Anno II. 55 Ibidem, p. 4.
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Outro jornal que trouxe alguns exemplares que tratavam acerca da interseco entre a
Maonaria e educao foi o peridico manico A Accia que circulava na cidade de Porto
Alegre. Ele nos traz um projeto de reforma da Constituio do Grande Oriente do Lavradio e,
no seu artigo 9, nos remete o seguinte:
Art. 9 - O Gr Or do Brasil garante aos seus associados em particular e em geral humanidade: 1 - Proteo e auxilio 2 - Socorro e proteo aos filhos, vivas e pais dos MMa quando em necessidade; 3 - Instruco do povo 4 - Fundao de escolas para a ilustrao da humanidade56
O resumo do artigo j diz que so as garantias que o Grande Oriente do Brasil dever
dar no somente aos seus participantes, mas comunidade que venha a abranger. Os dois
primeiros pargrafos tratam exclusivamente das pessoas que tem alguma ligao com a
Ordem Manica. J os dois ltimos tratam da comunidade em geral e de como a Maonaria
deve se comportar ante a educao.
Segundo essa proposta, a Maonaria deveria ser uma das instituies propagadoras da
educao, instruindo o povo e fundando escolas para a ilustrao da humanidade, e
interessante essa ideia de trazer a luz ao povo atravs da educao, ou seja, livrar as pessoas
da escurido da ignorncia. Essa prtica de fundaes de escolas pela Maonaria j vinha de
exemplos exteriores como vimos anteriormente, e tambm ganhou corpo aqui no Brasil desde
o sculo XIX com intenes como essas e se concretizaram ao longo do sculo XX com a
estruturao, formalizao e menor perseguio Maonaria.
No mesmo Jornal em uma edio posterior, mas ainda do mesmo ano, vemos uma
resoluo de uma Loja que pretende dar um tratamento diferenciado aos professores que
pretendam ingressar na Maonaria:
Uma Resoluo importante A Loja symbolica Zur Eintracht57 resolveu em sua sesso de 14 do corrente aceitar a seguinte proposta apresentada pelas luzes da casa: A Loja Zur Eintracht resolve:
56 Interior. A Accia, Porto Alegre, 16 de Abril de 1876, p.3, N 15 Anno I. 57 A sentena Zur Eintracht, em alemo, significa Concrdia (Traduo do autor).
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Art. 1 - Aquelles professores que pela sua vida e costumes so dignos de pertencerem ordem dos Franc-maons e so propostos nessa Loja com as formalidades do rito, podem ser aceitos e iniciados independe do pagamento de jia58 e mensalidades. Art. 2 - Taes professores devem ser propostos na forma de costume por um irmo, que sirva de fiador e a Loja, alm das syndicancias do costume, nomeara uma comisso especial que relatar em sesso sobre a vida, os costumes e as habilitaes profissionais do individuo, depois de especial syndicancia. (...) A medida que acaba de adptar a Loja Zur Eintracht de grande alcance e inegvel magnitude. Sendo o melhor, seno o nico meio de que dispe a Maonaria para diffundir a luz em todas as camadas do povo, a instruco popular, inegvel a convenincia que ha em chamar-se ao gremio da nossa Jubl Ord59 o maior numero possvel de instructores da mocidade60.
Essa Loja havia sido fundada no ano de 1874, na cidade de Porto Alegre, e poca da
promulgao dessa resoluo era muito jovem ainda, mas j tomava uma atitude importante: a
de facilitar a entrada de professores no seu quadro com iseno do pagamento das jias e de
mensalidades. Essa foi a maneira encontrada pela Loja de poder ter em seus quadros pessoas
que se importavam com a instruo e aqueles que faziam parte da Loja viam a importncia de
ver os professores junto com eles e, consequentemente, queriam o maior nmero possvel de
instrutores da mocidade.
Samos de um Jornal do Rio Grande do Sul e veremos agora uma nota em um Jornal
de Alagoas:
ESCOLA NOCTURNA COTINGUIBA Sob esta epigraphe lemos no Momento do visinho Estado de Sergipe: Vae prestando relevantissimos servios pobreza desta terra a aula gratuita sob a direco do professor Manoel Dario de Oliveira, aberta no salo da Loja Cotinguiba, no dia 1 do corrente. A matricula de alumnos, que so na sua maioria pobres mas honestos trabalhadores, ascende ao numero de noventa. Eis o que comprehender a verdadeira misso da Santa Caridade: esbater com a luz calma e suavissima da instruco as trevas da ingorancia. (...)61
58 Jia o valor que proposto para poder ser iniciado, algo como uma matrcula. 59 Jub Ord significa Jubilosa Ordem. 60 Noticiario. A Accia, Porto Alegre, 18 de Junho de 1876, p.3, N 54 Anno I. 61 Resenha. Jornal A Luz, Alagoas - Penedo, 22 de Janeiro de 1903, p.2, N 9 Anno II.
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Nesse recorte podemos mais uma vez, apreender uma Escola mantida com ajuda da
Maonaria que cede os seus espaos para que pudessem ser ministradas aulas gratuitas para os
pobres. Segundo o relato, cerca de noventa alunos estavam matriculados nas aulas, nmero
esse que pode ser visto como uma quantidade considervel para ser mantida por uma Loja.
No sabemos at que ponto acontecia essa ajuda, ou seja, se ficava apenas em ceder o espao
fsico, ou se materiais necessrios para manter a educao eram mantidos tambm pela Loja,
ou se aconteciam parcerias com o Estado Provincial, mas perceptvel que os maons viam
essa propagao da instruo como uma misso e, no caso de Alagoas, como uma Santa
Caridade.
2.2 Rui Barbosa62 e a Maonaria
Torna-se interessante que, ao abordarmos esse tema de Educao e Maonaria,
possamos ver que existiam maons que se destacavam em aes nacionais em prol da
educao, no levando o nome da Maonaria propriamente nos seus discursos sobre a
educao, mas em conexo com o iderio manico. Este foi o caso de Rui Barbosa que
embora no possamos afirmar que unicamente por ser maom engendrou a defesa pela
educao no Brasil, mas que como intelectual ele o fez e, por ser maom, pode ser tomado
como um exemplo de advogado da educao.
Rui Barbosa ingressou na Ordem Manica atravs da Loja Amrica no dia 1 de
Julho de 1869. A Loja ainda estava no incio da sua caminhada manica, j que tinha sido
fundada em 9 de novembro de 1868 e regularizada em 7 de julho de 1869. Para ser iniciado
na Maonaria ele teve que ter a sua idade alterada, pois no ano da sua iniciao ele tinha
apenas 20 anos e as leis manicas limitam a idade mnima de 21 anos. Mas era uma prtica
comum quando queriam que algum especfico pertencesse ao quadro da Ordem. Na mesma
Loja tambm foram iniciados homens de renome tanto na educao quanto na poltica. Entre
eles esto: Joaquim Nabuco, Luis Gama, Amrico Brasiliense e Pedro Toledo. Essa loja era
jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil da Rua dos Beneditinos, na poca liderado por
Joaquim Saldanha Marinho. Esse corpo manico havia sido criado aps uma dissidncia
com o Grande Oriente do Brasil que se situava na Rua do Lavradio, n 97, no Rio de Janeiro,
cujo nome foi adotado para que houvesse essa diferenciao entre as duas Lojas. Essa
62 Na bibliografia analisada, em alguns momentos, o nome do autor estudado aparece de forma diferente,
algumas vezes como Ruy e outras como Rui. Preferimos adotar a ltima grafia.
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potncia ficou independente at 1883, quando foi reincorporada pelo Grande Oriente do
Brasil, e consequentemente, a Loja Amrica tambm passou sua obedincia.
O convite de ingresso Maonaria havia sido feita a Rui Barbosa pelo seu ento
professor da Faculdade de Direito e sobrinho de Jos Bonifcio de Andrada e Silva, o
Venervel Mestre da Loja (Presidente), Antnio Carlos de Ribeiro Andrada. Este percebia em
Rui Barbosa um homem muito inteligente e que poderia engrandecer muito os quadros da
jovem Loja, j que ela tinha sido fundada apenas um ano antes da sua iniciao, em 1868.
Aps ingressar na Maonaria e ter recebido o grau de mestre, Rui Barbosa se torna o
Orador da Loja (o guarda das Leis) e entra em ferozes embates com o Venervel e professor
acerca de temas como a abolio da escravido e questes relacionadas educao.
interessante notar que em todo o discurso de mudanas na educao brasileira, Rui Barbosa
faz lembrar, nas entrelinhas, um dos mais importantes princpios da Maonaria que o de se
combater a ignorncia bem como os princpios positivistas e nacionalistas do final do sculo
XIX. De acordo com esses princpios, ele escreve um projeto de Lei Manico e o expe na
assemblia dos maons da Loja para que fosse debatida. Quando aprovada, ela foi levada para
o Gro-Mestrado do Grande Oriente do Brasil da Rua dos Beneditinos que, na poca, era
liderado por Joaquim Saldanha Machado. A lei dizia que:
Todas as Lojas Manicas ficavam obrigadas a se empenharem na propagao dos princpios da emancipao dos escravos e na educao do povo. Em seus oramentos, 1/5 seria destinado ao alforriamento de crianas escravas. Ningum poderia receber iniciao Manica sem antes declarar, por escrito e perante testemunhas idneas, que libertaria todas as crianas do sexo feminino que, da em diante, lhe pudessem provir de escrava sua. Aqueles que j eram iniciados seriam obrigados a lavrar igual compromisso, a partir da promulgao da lei manica63.
Essa proposta de lei nos indica a preocupao do autor com as questes abolicionistas,
seja relativo escravido fsica ou intelectual. Ainda hoje, a Maonaria abraa essas duas
causas - tanto a da educao, propondo essa educao do povo, como tambm a da luta pela
63 Retirado do site: http://www.triumphododireito.triunfo.nom.br/tbruibarbosa.htm, acessado no dia
28/07/2009. Esse projeto de Lei pode ser visto tambm em uma moldura que fica em exposio na Fundao Casa de Rui Barbosa.
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abolio de qualquer modalidade de trabalho escravo. Nessa poca, a Ordem contava com
homens nas posies mais influentes do pas, o que facilitava, em muitos casos, a outorga das
proposies enviadas que muitas vezes surgiam nas discusses dentro dos Templos
Manicos.
Observamos que a Maonaria, ao longo de sua histria em terras brasileiras enfrentou
algumas lutas em torno da educao, no somente com maons que construssem essa luta,
mas que como instituio fazia algumas aes em prol desse assunto como podemos observar
na citao de Oliveira (1995, p. 86) que transcrevemos em seguida: 25 de junho de 1834 O
Grande Oriente do Brasil resolve custear a educao de 15 meninos e 5 meninas. Aes
como essa aconteceram na histria da Maonaria durante todo o sculo XIX e perduraram at
o sculo XX, como veremos mais a frente no nosso trabalho.
2.3 Rui Barbosa e suas propostas educacionais
Quando nos debruamos sobre a histria da educao no Brasil logo percebemos que
um dos personagens mais referenciado pela historiografia do final do sculo XIX Rui
Barbosa, que se destacou como representante do campo poltico. Contudo, Rui Barbosa se
destacou tambm por suas atividades no campo do Direito e por sua luta em favor de uma
reforma educacional no Brasil. Alm disso, por ser maon, Rui Barbosa ideou projetos nos
Templos Manicos que foram postos em prtica a partir de discusses com a Assemblia da
Loja.
Rui Barbosa, como jurista, sempre lutou ao lado dos liberais com propostas, ditas por
ele, emancipacionistas. Ele foi o representante do Brasil na Segunda Conferncia de Paz de
Haia, na Holanda, substituindo Joaquim Nabuco que era, naquele momento (1906),
embaixador do Brasil em Washington. Foi nessa mesma conferncia que Rui Barbosa foi
reconhecido em escala internacional por seus conhecimentos jurdicos e sua brilhante oratria.
A partir da, ele ficou conhecido como guia de Haia segundo ZIMMERMAN (2007).
Durante boa parte do sculo XIX o Brasil era uma sociedade em grande parte dual
constituda basicamente de senhores e de escravos, mas no meio desses existiam os
trabalhadores livres que cresciam, todavia existam em um menor nmero. As atividades
econmicas durante esse perodo apenas mudaram o eixo produtor e a atividade agrcola que,
no incio do sculo, se concentrava no nordeste com a cana-de-acar e, no final do sculo
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com o aumento do preo do caf, no mercado internacional. Essa base econmica transfere-se
para o sudeste, em especial para o interior de So Paulo, centralizando no s o poder
econmico, mas tambm o poltico.
Esse modelo de sociedade deixava a camada mdia da populao sua margem, j que
essas pessoas em geral eram desprovidas de terras ou as tinham em uma quantidade muito
nfima. Diante da situao em que se encontravam, as pessoas das camadas mdias
procuravam se apropriar de atividades mais dignas, ou seja, faziam trabalho braal como
comrcio e pequenas lavouras, mas para ascender socialmente comeavam a buscar, na
instruo, uma porta para a ascenso social. Com isso, acabavam aliando-se s oligarquias
rurais visando o reconhecimento e o fortalecimento da classe mdia basicamente urbana e que
detinha em suas mos os comrcios, como tambm grande parte dos profissionais liberais.
Para entendermos essa necessidade da classe mdia precisamos perceber que no sculo
XIX a instruo pblica gratuita e universal, no Brasil, era limitada apenas ao ensino das
primeiras letras e mesmo assim, esse acesso era restrito apenas aos cidados. Com isso,
excluam-se os escravos. A partir da, cabia famlia, se essa tivesse opo, de procurar um
meio de fazer os jovens ingressarem nos cursos preparatrios para os cursos superiores que,
em geral, eram administrados pelos liceus provinciais at 1889 Segundo NASCIMENTO
(1997, p. 25), e depois estaduais. Essa era a nica forma de acesso instruo superior, por
isso facilitava as oligarquias a se manterem e a se legitimarem no poder.
nesse meio que surge Rui Barbosa64, e foi no mbito poltico que se deu a sua maior
contribuio para a educao brasileira. Era nos seus pareceres sobre a Reforma do Ensino
Lencio de Carvalho - Decreto n 7.247 de 19 de Abril de 1879 - que surgia a sua perspectiva
para a educao no Brasil uma viso educacional proposta por Rui Barbosa.
2.3.1 As propostas de Rui Barbosa acerca da reorganizao dos graus de ensino
Rui Barbosa tinha planos de mudana para a educao comeando pela diviso da
instruo em jardins de criana, escolas primrias, cursos profissionais, escolas normais,
liceus e o ensino superior. Essas suas propostas foram debatidas no campo da poltica e foi
64 Nascido em 1849 na Bahia ingressou na Faculdade de Direito de Olinda em 1864 e concluiu seus estudos na Faculdade de Direito de So Paulo em 1870.
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assim que ele conseguiu levar as discusses para o legislativo, uma vez que ele era deputado
representando a provncia da Bahia.
A fim de entender as reformas propostas pelos seus pareceres, iniciamos com os
Jardins de Criana. Rui Barbosa relatou, atravs de experincias com o modelo de Froebel,65
o qual se baseava no desenvolvimento natural das crianas, que a tarefa da educao era
ajudar o homem a conhecer a si mesmo - em se tratando dos jardins de criana, a conhecer os
brinquedos.
Apesar de perceber e de explanar sobre as experincias positivas obtidas em outros
pases, foram ferrenhas as crticas impostas a Rui. Entretanto como vemos em Nascimento
(1997, p. 8):
Mesmo assim insiste na criao dos Jardins de Crianas, acreditando que os seus frutos, com o tempo, modificariam o modo de pensar daquelas pessoas. A criao e o funcionamento de tais estabelecimentos de ensino deveriam ser assegurados atravs de recursos pblicos, sem excluir a iniciativa particular, desde que adequadamente orientada.
Essa educao deveria ser efetuada em trs anos, com as crianas entrando aos quatro
anos e saindo aos sete anos de idade. No ltimo ano do jardim de crianas deveria ser criada a
classe intermediria, que serviria de preparao para a escola de primeiras letras. Fazendo
essa modificao no ensino s crianas, conforme o autor, estas chegariam mais preparadas
para o ensino primrio.
Esse novo degrau na educao, proposto por Rui Barbosa, deveria contar com
professoras que tivessem uma preparao especial para lidar com essa faixa etria e isso
deveria estar inserido nos cursos das escolas normais. Essa foi uma barreira que Rui tentou
quebrar com o mtodo froebeliano - j que para o senso comum da poca a criana deveria
apenas brincar, logo esse mtodo adapta as brincadeiras como uma preparao para os
primeiros ensinamentos.
65Friedrich Wilhelm August Froebel (1782-1852). Pedagogo alemo. Defensor de maior liberdade na educao das crianas e criador do modelo de jardim de infncia adotado em todo o mundo.
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O mtodo de Froebel era muito bem visto, principalmente pelo modelo educacional
norte-americano, uma vez que esse sistema era muito utilizado para a educao da classe
operria dos pases onde ela foi posta em prtica e tambm para aprimorar os trabalhos
manuais to necessrios para a indstria da poca.
Rui Barbosa foi alm da viso pedaggica. Ele partiu para uma viso que articulou
educao e mundo do trabalho percebendo a criao e a fora de uma classe operria
necessria para a ascenso da burguesia nacional, pois sem mo de obra no h produo.
Podemos observar essas intenes em Boto (1999, p.5):
Acerca disso pode-se tomar Rui Barbosa como um exemplo da ilustrao liberal brasileira na rota do desenvolvimento do pas. Em seus pareceres sobre a reforma do ensino primrio, o autor apresenta nitidamente sua concepo sobre o terreno a ser cultivado. A prosperidade da nao deveria se aliar ao trabalho; e este, a seu corolrio intrnseco: a instruo popular.
Para o entendimento de Rui Barbosa, o Brasil deveria se espelhar nas experincias
positivas dos pases desenvolvidos e, a partir da, desenrolar o seu sistema de instruo
pblica rumo a um projeto de democratizao pedaggica e poltica.
O segundo degrau nessa escada educacional era a escola primria. Essa deveria ser