olhar iconográfico

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Olhar Olhar Iconográfico Iconográfico “ Representação do Negro no “ Representação do Negro no Livro Didático de História Livro Didático de História”

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Uma leitura crítica de como os autores do livro didático da disciplina de História se apropriam das imagens, que ilustram o livro, omitindo o conteúdo da mesma. E com frequência omitem o referencial da imagem.

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Page 1: Olhar iconográfico

Olhar IconográficoOlhar Iconográfico“ Representação do Negro no Livro “ Representação do Negro no Livro

Didático de HistóriaDidático de História”

Page 2: Olhar iconográfico

1 - Representação da 1 - Representação da SubmissãoSubmissão

Page 3: Olhar iconográfico

Separação de família africana antes do embarque no navio negreiro. V.3, pag. 6

Page 4: Olhar iconográfico

Fuga de mãe e filhos durante aprisionamento de

escravos. V.3, pag. 10

Page 5: Olhar iconográfico

Caravana de escravos pelo interior da África. V.3, pag. 13

Page 6: Olhar iconográfico

Feitor castigando escravo, em uma gravura de Debret. V.2 pag. 141

Page 7: Olhar iconográfico

Mutilação e execução de escravo como punição por delito cometido. V. 3, pag. 4

Page 8: Olhar iconográfico

Venda de escravos em mercado sulista. V. 4, pag. 33

Page 9: Olhar iconográfico

Grande fazendeiro recebendo visitantes. V.3, pag. 188

Page 10: Olhar iconográfico

Mestiça dirigindo-se à casa de parentes com suas escravas. V. 3, pag. 197

Page 11: Olhar iconográfico

Família pobre dentro de casa, grande gravura

de Debret. V. 3, pag. 111.

Page 12: Olhar iconográfico

2- Representação do2- Representação do Trabalho Trabalho

Page 13: Olhar iconográfico

Mulher rica indo à missa em cadeirinha carregada por escravos. V.3, pag. 196

Page 14: Olhar iconográfico

Negro de ganho nas ruas do Rio de Janeiro. V.4, pag. 43

Page 15: Olhar iconográfico

Negro liberto estabelecido, trabalhando em seu açougue de carne de porco. V.4, pag. 44

Page 16: Olhar iconográfico

Padeiro trabalhando com o auxílio de empregados. V.3, pag. 190

Page 17: Olhar iconográfico

Escravos mineradores retratados por Rugendas.V. 3, pag. 110

Page 18: Olhar iconográfico

Reunião de escravos em frente à senzala, antes da partida para o cafezal. V. 3, pag. 7

Page 19: Olhar iconográfico

Camponês da África contemporânea (Sudão).

V. 4, pag. 150

Page 20: Olhar iconográfico

Mulher trabalhando na agricultura. V.4, pag. 155

Page 21: Olhar iconográfico

Operários africanos do século XX. V.4, pag. 156

Page 22: Olhar iconográfico

2.1 – Imagem tendenciosa2.1 – Imagem tendenciosa“Sou feliz, apesar do sofrimento”“Sou feliz, apesar do sofrimento”

Page 23: Olhar iconográfico

Negros de ganho em momento de diversão em rua do Rio de Janeiro. V. 4, pag. 49

Page 24: Olhar iconográfico

Ilustração representando festa popular em Recife. V. 3, pag. 63

Page 25: Olhar iconográfico

Assimilação da contracultura. V.4, pag. 168

Page 26: Olhar iconográfico

Pobreza e subdesenvolvimento na África contemporânea. V.4, pag. 152

Page 27: Olhar iconográfico

3 - Representação da 3 - Representação da AutonomiaAutonomia

Page 28: Olhar iconográfico

Estatueta de bronze representando mulher rica do império Mali. V.2, pag. 35

Page 29: Olhar iconográfico

Colchete do século XVI com imagem de um rei africano. V.3, pag. 7

Page 30: Olhar iconográfico

Enterro de rei negro, pintado por Debret no século XIX. V.3, pag. 196

Page 31: Olhar iconográfico

Ilustração de cena da batalha de Guararapes. V.3, pag. 61

Page 32: Olhar iconográfico

Jomo Kenyatta, líder da independência do Quênia e seu presidente, 1964-1978. V. 4, pag. 151

Page 33: Olhar iconográfico

Henry Stanley, aventureiro e pesquisador que

peercorreu a África no final do século XIX. V. 4, p. 55.

Page 34: Olhar iconográfico

Olhar iconográfico: representação do negro no livro didático de história.

Para análise de estudo, tomei como parâmetro o livro de TOLEDO, Eliete et DREGUER, Ricardo. História: cotidiano e mentalidades. São Paulo, Atual, 1995. V. 2, 3 e 4.

Realmente, a mentalidade encontrada é contundente, muitas vezes, equivocada e carente de referências. Para estruturar a análise iconográfica das imagens, dividi o estudo em três grandes blocos:

1 – Representação da submissão,

2 – Representação do trabalho e

3 – representação da autonomia.

Page 35: Olhar iconográfico

Foi observado que o autor na maioria das vezes se apropriou indevidamente do uso das imagens, sem fazer referencial sobre a origem, data e autor das obras e local de preservação das mesmas. Parece que o mesmo possui um acervo particular das imagens que lhe dão o direito de usá-las como bem entende. Em relação a imagem e conteúdo existe na maioria das vezes um distanciamento vertiginoso, as imagens aparecem como forma de ocultar a verdade não escrita, o conteúdo, até porque o autor não faz nenhuma referencia bibliográfica no rodapé final do texto.

Page 36: Olhar iconográfico

1 – Representação da submissão: o ser humano da raça negra aparece apanhando, fugindo como se fosse um preguiçoso, flagelo humano da fome (apesar do referencial grego dos pintores acadêmicos) a visão eurocêntrica, muitas vezes apresentando-os fortes, nutridos e com muita energia para gastar, bem vestidos. “Justificando o tratamento do seu senhor”, sabemos que na prática a realidade era cruel. Faz referência ao termo África contemporânea e apresenta um agricultor trabalhando na roça - a enxada e a lavoura são os meios da modernidade, que para um bom observador de crítica apurada vai entender como insinuação tendenciosa, mas transparece ingênua no primeiro olhar. Pois contemporaneidade nos transporta ao mundo das tecnologias de ponta, que pela imagem apresentada contradiz ao termo usado.

Page 37: Olhar iconográfico

2 – Representação do trabalho: o negro é representado como mão-de-obra inferior, trabalhador de terceira, vendedor de carne de porco, ou seja, de produtos de sobrevivência, de utilitários, mercadoria humana, força bruta sem qualificação, mentalidade de trabalho forçado nas mineradoras. O autor não representa o negro como fator primordial da economia brasileira, mão-de-obra importante na construção cultural e econômica do nosso país. 2.1 – Imagem tendenciosa: apesar de todo o sofrimento, o negro brinca, se diverte, é feliz, gosta de suas tradições e quando adere a outra cultura é discriminado, pois nasceu para ser personagem folclórica e cultuar suas origens, qualquer mudança de comportamento é vista como fora do padrão, não combina com a raça, pois mudança não é para todos.

Page 38: Olhar iconográfico

3 – Representação da autonomia: felizmente, as poucas referências iconográficas ao patrimônio cultural do negro podemos constar uma escultura de uma mulher rica negra. Pouca referência a arte e a religião dos grandes impérios africanos. Por outro lado, é colocada uma obra de arte que faz referência a um fato histórico nacional com imagem do negro, porém, sem comentário por parte do autor. As imagens aparecem ora deslocadas do contexto, ora imortaliza o preconceito estampado e explícito. Quando o negro se interessa pela pesquisa científica é titulado como aventureiro e não como estudioso.

Page 39: Olhar iconográfico

Em síntese, pude concluir que não houve por parte do autor um prévio tratamento multidisciplinar do uso das imagens, carentes de referencial historiográfico e o tamanho das imagens dão maior destaque ao sofrimento e ao trabalho banal, o negro é tratado como força bruta ou mercadoria. Pouca referência ao poder de conhecimento e poderio econômico dos grandes impérios. Apesar dos castigos e punições ainda são alegres, encontram tempo para brincadeiras e rodas de samba, ou seja, negro é feliz apesar da miséria e da exploração.

Page 40: Olhar iconográfico

Este estudo ofereceu oportunidade para aprender a aprender observar o livro didático de história como um excelente recurso didático pedagógico a serviço do professor instrumentalizado por um conhecimento multidisciplinar. Foi possível enxergar na pesquisa, imagens muitas vezes usadas sem “compromisso”, mas carregadas de exclusão que somatizam e nutrem o inconsciente coletivo, a desigualdade conformista. A aceitação impotente da transformação em virtude dos séculos de exploração, é normal, ou seja, imoral.

Professor GILSON CRUZ NUNESCampina Grande, 20 de junho de 2005.

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BERGER, John. Modos de ver: arte e comunicação. São Paulo, Martins fontes, 1972.

DONDIS, Donis A. Síntese da linguagem visual. São Paulo, Martins Fontes, 1991.

DREGUER, Ricardo et TOLEDO, Eliete. História: cotidiano e mentalidades. V. 2 – Contato entre civilizações: do século V ao XVI, 6ª Série; V. 3 – A afirmação européia: séculos XVII e XVIII, 7 ª Série; V. 4 – Da hegemonia burguesa à era das incertezas: séculos XIX e XX, 8ª Série, São Paulo, Atual, 1995.

HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo, Selo Negro, 2005.

MUNANGA, Kabengele (Org.) Arte afro-brasileira. São Paulo, Fundação Nacional de São Paulo, 2000.

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RIBON, Michel. Arte e a natureza. Campinas, Papirus, 1991.

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