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OLHAR DOS DIREITOS HUMANOS À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ACOLHIMENTO INTEGRAL Wilson José Gonçalves Professor Titular Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e-mail: [email protected] Resumo: Na definição de “olhar dos Direitos Humanos”, sobretudo, no que tange a população em situação de rua é preciso uma reformulação nas políticas públicas no sentido de promover ações de acolhimento integral e de inclusão social, seja em família de origem, seja em família de trabalho e ocupação digna, por meio da educação formativa em unidades de campo e inserção em cooperativas de produção, desenvolvimento econômico e geração de renda. A tutela dos Direitos Humanos se alcança com a efetiva segurança e autonomia do ser humano, em particular, para a população de rua. O objetivo é refletir com aporte da literatura e um enfoque de “olhar dos Direitos Humanos”, a população em situação de rua, buscando um ponto efetivo da tutela jurídica nas ações concretas e eficazes para as políticas públicas direcionadas a este grupo vulnerável. A metodologia de execução foi à pesquisa bibliográfica e documental. Sendo a pesquisa documental direcionada aos documentos legais. Na pesquisa bibliográfica pautou-se nos bancos de dados oficiais. Os resultados apontam que a tutela dos Direitos Humanos direcionadas à população em situação de rua, encontra-se com grau de vulnerabilidade, cujas políticas públicas precisam de um “olhar” de acolhimento integral, e não apenas um assistencialismo paliativo e transitório. As conclusões direcionam para a necessidade de se reformular as práticas de abordagem e de acolhimento à população em situação de rua, que pelo grau de abandono ou invisibilidade, os contornos de ações de reparação social, se indica pelo acolhimento de pessoas com processo educacional e formativo, tanto humanístico, autoestima ou de sensibilidade, de formação profissional, de acompanhamento e de recolocação no contexto social. Palavras-chave: Declaração dos Direitos Humanos. Dignidade. Políticas Públicas. Efetividade. Sumário: 1 Introdução. 2 Olhar dos Direitos Humanos para a População em Situação de Rua. 3 Desacolhimento e Violação da Dignidade Humana no Fracionamento da Assistência. 4 Acolhimento Integral e Reconstrução da Dignidade Humana. 5 Conclusão. 6 Referências. 1 INTRODUÇÃO Uma das questões ainda não resolvida ou vista como mal resolvida é a dualidade para os Direitos Humanos, ou seja, no âmbito do direito tradicional ou individual, têm-se duas partes envolvidas na relação, que pode ser, autor e réu, fornecedor e consumidor, empregador e empregado etc. No plano coletivo, difuso e de integração, visualiza-se grupos determinados Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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OLHAR DOS DIREITOS HUMANOS À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ACOLHIMENTO INTEGRAL

Wilson José Gonçalves

Professor Titular Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

e-mail: [email protected]

Resumo: Na definição de “olhar dos Direitos Humanos”, sobretudo, no que tange a população em situação de rua é preciso uma reformulação nas políticas públicas no sentido de promover ações de acolhimento integral e de inclusão social, seja em família de origem, seja em família de trabalho e ocupação digna, por meio da educação formativa em unidades de campo e inserção em cooperativas de produção, desenvolvimento econômico e geração de renda. A tutela dos Direitos Humanos se alcança com a efetiva segurança e autonomia do ser humano, em particular, para a população de rua. O objetivo é refletir com aporte da literatura e um enfoque de “olhar dos Direitos Humanos”, a população em situação de rua, buscando um ponto efetivo da tutela jurídica nas ações concretas e eficazes para as políticas públicas direcionadas a este grupo vulnerável. A metodologia de execução foi à pesquisa bibliográfica e documental. Sendo a pesquisa documental direcionada aos documentos legais. Na pesquisa bibliográfica pautou-se nos bancos de dados oficiais. Os resultados apontam que a tutela dos Direitos Humanos direcionadas à população em situação de rua, encontra-se com grau de vulnerabilidade, cujas políticas públicas precisam de um “olhar” de acolhimento integral, e não apenas um assistencialismo paliativo e transitório. As conclusões direcionam para a necessidade de se reformular as práticas de abordagem e de acolhimento à população em situação de rua, que pelo grau de abandono ou invisibilidade, os contornos de ações de reparação social, se indica pelo acolhimento de pessoas com processo educacional e formativo, tanto humanístico, autoestima ou de sensibilidade, de formação profissional, de acompanhamento e de recolocação no contexto social.

Palavras-chave: Declaração dos Direitos Humanos. Dignidade. Políticas Públicas. Efetividade.

Sumário: 1 Introdução. 2 Olhar dos Direitos Humanos para a População em Situação de Rua. 3 Desacolhimento e Violação da Dignidade Humana no Fracionamento da Assistência. 4 Acolhimento Integral e Reconstrução da Dignidade Humana. 5 Conclusão. 6 Referências.

1 INTRODUÇÃO

Uma das questões ainda não resolvida ou vista como mal resolvida é a dualidade

para os Direitos Humanos, ou seja, no âmbito do direito tradicional ou individual, têm-se duas

partes envolvidas na relação, que pode ser, autor e réu, fornecedor e consumidor, empregador

e empregado etc. No plano coletivo, difuso e de integração, visualiza-se grupos determinados

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ou indeterminados. No entanto, ao se tratar de Direitos Humanos, na prática o que se verifica

é a tutela ou defesa aos grupos ou as minorias levando-se a uma falsa crença que os Direitos

Humanos são os direitos dos bandidos e das minorias, sendo que as vítimas e as maiorias não

teriam guarida dos Direitos Humanos.

Neste sentido, a ideia de definição de “olhar dos Direitos Humanos” consiste em um

enfrentamento teórico sobre esta problemática de fracionamento ou vertente unilateral do

direito, principalmente, dos Direitos Humanos.

Ainda surge uma complexidade maior, ao se dirigir no que tange a população em

situação de rua. O “olhar dos Direitos Humanos”, na perspectiva das políticas públicas de

mero assistencialismo é de reformulação para o sentido de promove ações de acolhimento

integral e de inclusão social, seja em família de origem, seja em família de trabalho e

ocupação digna, por meio da educação formativa em unidades de campo e inserção em

cooperativas de produção, desenvolvimento econômico e geração de renda.

Em se tratando de um sistema capitalista e que a condição de ser produtivo e apto na

condição de consumidor, interessa ao sistema ou que a situação conduz a uma justificativa

econômica aos envolvidos. O que é preciso repensar a verdadeira tutela dos Direitos

Humanos, no sentido de se alcançar a efetiva segurança e autonomia do ser humano, em

particular, para a população em situação de rua.

Justifica-se a pesquisa sobre “olhar dos Direitos Humanos” envolvendo população

em situação de rua, sobretudo, em razão das políticas públicas assistencialistas ou paliativas

que não contempla um acolhimento integral, mas, uma forma fracionada e tutelada de

acolhimento parcial.

Não será foco de investigação a catalogação de ações ou estratégias que decorrem de

políticas públicas assistencialistas, pontuais e de governo no enfrentamento de um ou outro

ponto. Mas, a busca da dimensão do acolhimento integral, reconhecendo a importância de se

fazer algo ou alguma coisa, porém, nota-se que o problema não é resolvido ou se resolvido

percebe-se que o foi feito com a violação de outros direitos da população em situação de rua.

O objetivo estabelecido consiste em refletir com aporte ou base na literatura e com

um enfoque de “olhar dos Direitos Humanos” sobre as condições concretas e eficazes das

políticas públicas direcionadas a população em situação de rua, como grupo extremamente

vulnerável. Seja pelas poucas condições de escolha ou de liberdade, seja, pela exclusão social

e, literalmente, a retirada de sua completa cidadania.

O Estado, por meio de suas políticas públicas, em relação à população em situação

de rua vem, efetivamente, equacionando está questão social, de modo a propiciar ações

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concretas e eficazes para este grupo vulnerável? O que pode a comunidade científica

contribuir no fomento desta discussão?

A hipótese para o problema de pesquisa indica para uma visão ou reflexão de

assistência integral e de acompanhamento continuada até a inclusão plena nos padrões de um

estatuto jurídico do patrimônio mínimo.

No desenvolvimento da investigação utilizou-se a metodologia de execução a

pesquisa bibliográfica, documental e de pesquisas eletrônicas. Sendo que a pesquisa

bibliográfica foi desenvolvida a partir dos bancos de dados oficiais, das bibliotecas digitais,

das bibliotecas físicas, entre elas, a da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E na

pesquisa documental, os relatórios, os projetos e ações assistenciais, tanto no plano federal,

estadual e municipal que se teve acesso por meio de busca na rede mundial de computadores.

Para fundamentação teórica utilizou-se como base os seguintes autores e respectivas

obras: Adriano de Cupis. Os Direitos da Personalidade; Camila Giorgetti. Moradores de

Rua: uma questão social?; Daniel Goleman & Peter Senge. O Foco Triplo – uma nova

abordagem para a educação; Daniel Sarmento. Dignidade da Pessoa Humana: conteúdo,

trajetórias e metodologia; Hannah Arendt. A Condição Humana; Luciana Dayoub Ranieri de

Almeida. Ações Afirmativas e a Concretização do Princípio da Igualdade no Direito

Brasileiro; Luiz Edson Fachin. Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo; Maria Neyara de

Oliveira Araújo. Miséria e os dias - História social da mendicância no Ceará; Robert Alexy.

Teoria dos Direitos Fundamentais; Walter Fraga Filho. Mendigos, moleques e vadios na

Bahia do século XIX; Zygmunt Bauman & Gustavo Dessal. O Retorno do Pêndulo – sobre a

psicanálise e o futuro do mundo líquido.

Com isto, os resultados apontam que a tutela dos Direitos Humanos, voltados para a

população em situação de rua, ainda, encontra-se com um grau de vulnerabilidade, sobretudo,

ao se observar ações e postura assistencialista pontual, sem o devido acompanhamento e

monitoramento deste grupo social, o que implicaria em políticas públicas com um “olhar” de

acolhimento integral, bem como um acompanhamento continuado até que os indivíduos

estejam capacitados ou incluídos dentro dos padrões da dignidade humana.

Para tanto, a solução encaminha no sentido que se aproximam as ações e políticas

públicas numa perspectiva de acolhimento integral da população em situação de rua.

E no desenvolvimento e apresentação da pesquisa estabeleceu sete tópicos, sendo: a)

uma introdução, cujo sentido é atribuir uma visão geral da pesquisa e dos resultados; b) a

definição conceitual do que se denomina de “olhar dos Direitos Humanos” e o conceito de

população em situação de rua; c) a descrição da problemática do desacolhimento e violação

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da dignidade humana no fracionamento da assistência social; d) a busca de solução no

acolhimento integral e na indicação dos parâmetros do patrimônio mínimo ou de assegurar a

condição mínima à dignidade da pessoa humana em sociedade, garantindo, pela tutela

jurídica, por meio das políticas públicas, a reconstrução da dignidade humana; e) uma síntese

conclusiva; e f) as referências consultadas.

É preciso uma nova reflexão, diante de um “mundo líquido” no qual as relações

humanas são efêmeras, líquidas e virtuais, postas em uma coletividade que precisa rever a

própria condição humana de exclusão, destacando que o equilíbrio ou pêndulo social não tiver

a inclusão como eixo, pode ocorrer um caos na ordem social irreparável. Razão de um olhar

dos Direitos Humanos, de forma efetiva e concreta no que diz respeito a população em

situação de rua, por um acolhimento integral e inclusivo.

2 OLHAR DOS DIREITOS HUMANOS PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Nada tão enigmático do que o “olhar”, expressava esta preocupação na obra de

Machado de Assis, em “Dom Casmurro”, ao se referir “Olhos de ressaca”, dando ênfase por

duas vezes nomina os capítulos que compõem o romance. E não diferente, deve o cientista

social, pensar as questões da sociedade, do direito, da economia, da administração, da

sociologia, da antropologia, da história, da epistemologia etc., com um “olhar”, não de

ressaca, mas, de reflexão. O que indica a busca conceitual ou metafórica do que seja o “olhar

dos Direitos Humanos” para as questões que envolvem a população em situação de rua, nas

cidades brasileiras.

Alexandre da Rocha Klaumann, em “Moradores de Rua - um enfoque histórico e

socioassistencial da população em situação de rua no Brasil: a realidade do Centro Pop de

Rio do Sul/SC”, registra que:

Não há documentos historiográficos que relatem fatos ou dados marcantes sobre a história dos moradores de rua no Brasil nos primórdios da sociedade brasileira. Mas podemos realizar alguns apontamentos históricos no âmbito mundial, que foi preponderante para o surgimento deste fenômeno que é a população em situação de rua em meio à sociedade brasileira. Iniciaremos abordando a mesma contextualização histórica feita por Silva (2009) o qual nos leva a observar o processo histórico onde a revolução industrial encerrou a transição entre o feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Em meio esta transição o camponês de forma súbita e repentina perde sua propriedade e passa a vender sua força de trabalho nas indústrias na cidade. Porém nem todos conseguem se adaptar a esta mudança brusca, ficando descartado da produção capitalista e por conseguinte passa a sobreviver nas ruas. Descartados estes que acabam se tornado parte do “exército industrial de reserva” nas palavras de Marx qual fica à mercê de toda injustiça, em meio a falta de posto de trabalho.

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Também cabe ressaltar a influência no mundo ocidental dos fundamentos do liberalismo do século XVIII que depois no século XIX e inicio do século XX foi denominado de neoliberalismo.

Continua, ainda o mesmo autor:

Não se esquecendo que em uma sociedade capitalista a responsabilidade do progresso e prosperidade, é individual e não coletiva ou do Estado. Parafraseando Raquel (2012), “situação de rua” é fruto da extrema pobreza e não uma opção do indivíduo, portanto, responsabilidade do poder público.

O registro da percepção ou do olhar econômico para a questão, reflete a saída do

indivíduo da propriedade privada e desprovido dos meios de produção, busca por meio de sua

força de trabalho a recolocação em outro espaço de produção. Todavia, não encontrando

mercado de trabalho, fica a mercê, no limbo do espaço público ou, literalmente, na rua.

Situando o relato acima, na realidade brasileira, pode-se inferir que do descobrimento

até a vinda da família real não se tinha a concepção de “rua”, pois, área urbana e rural era

extensão entre si. O que se tinha no feudalismo, no Brasil, era a casa grande e a senzala.

Com a libertação da escravatura, pode-se sinalizar para o primeiro grupo colocado na

“rua”. E que pelos fatores históricos tem-se o surgimento do mendigo, do mendicante, do

pedinte, do indigente, do esmoleiro, do morador de rua, do sem-teto ou sem-abrigo. Todos

tem em comum a extrema carência material, não conseguindo obter, por sua força de trabalho

ou qualificação, as condições mínimas de sobrevivência aos padrões de moradia, da

propriedade privada ou do custeio do espaço privado, fazendo uso e apropriação do espaço

público como meio e alternativa de vida. A situação de indigência material coloca ou força o

indivíduo a viver, literalmente, na rua, perambulando de um lado para o outro.

Esta condição de indigência ou mendicância é o grau mais acentuado de pobreza

material.

A perda das condições materiais, familiares, sociais, afetivas e de aceitação pessoal

do indivíduo pode se relacionar ou associar com problemas com toxico, alcoolismo,

patologias psiquiátricas, traumas, descrenças ou situações de crise econômica do Estado.

Por viver em uma sociedade capitalista, no qual tudo deve ser comprado ou vendido,

e sem a remuneração da força de trabalho, os indivíduos que não tem os meios de produção,

são forçados a recorrer para obtenção de seus rendimentos e subsídios de sobrevivência a

prática da mendicância.

Interessante observar que no Brasil a vadiagem ou mendicância passou a constituir

infração penal, ou melhor, contravenção penal, pelo Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de

1941, em seu art. 60:

Art. 60. Mendigar, por ociosidade ou cupidez: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um sexto a um terço, se a contravenção é praticada:

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a) de modo vexatório, ameaçador ou fraudulento. b) mediante simulação de moléstia ou deformidade; c) em companhia de alienado ou de menor de dezoito anos.

E tinha, entre outros fatores, como consequência:

Art. 15. São internados em colônia agrícola ou em instituto de trabalho, de reeducação ou de ensino profissional, pelo prazo mínimo de um ano: I – o condenado por vadiagem (art. 59); II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu parágrafo);

Com o advento da Lei nº 11.983, de 16 de julho de 2009, revogou o art. 60, da Lei de

Contravenções Penais, deixando de existir esta contravenção por mendicância.

Porém a situação, das pessoas em situação de rua, como abordagem de forma

“politicamente correta” para a questão dos que vivem em carência material absoluta, e

registrada em números pelas pesquisas extremamente altas e crescentes. O que levou o Estado

a aprovar o Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, cujo inteiro teor passa a registrar:

DECRETO Nº 7.053 DE 23 DE DEZEMBRO DE 2009. Institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, DECRETA: Art. 1º Fica instituída a Política Nacional para a População em Situação de Rua, a ser implementada de acordo com os princípios, diretrizes e objetivos previstos neste Decreto. Parágrafo único. Para fins deste Decreto, considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. Art. 2º A Política Nacional para a População em Situação de Rua será implementada de forma descentralizada e articulada entre a União e os demais entes federativos que a ela aderirem por meio de instrumento próprio. Parágrafo único. O instrumento de adesão definirá as atribuições e as responsabilidades a serem compartilhadas. Art. 3º Os entes da Federação que aderirem à Política Nacional para a População em Situação de Rua deverão instituir comitês gestores intersetoriais, integrados por representantes das áreas relacionadas ao atendimento da população em situação de rua, com a participação de fóruns, movimentos e entidades representativas desse segmento da população. Art. 4º O Poder Executivo Federal poderá firmar convênios com entidades públicas e privadas, sem fins lucrativos, para o desenvolvimento e a execução de projetos que beneficiem a população em situação de rua e estejam de acordo com os princípios, diretrizes e objetivos que orientam a Política Nacional para a População em Situação de Rua. Art. 5º São princípios da Política Nacional para a População em Situação de Rua, além da igualdade e equidade: I - respeito à dignidade da pessoa humana; II - direito à convivência familiar e comunitária; III - valorização e respeito à vida e à cidadania; IV - atendimento humanizado e universalizado; e V - respeito às condições sociais e diferenças de origem, raça, idade, nacionalidade, gênero, orientação sexual e religiosa, com atenção especial às pessoas com deficiência. Art. 6º São diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua: I - promoção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais; II - responsabilidade do poder público pela sua elaboração e financiamento;

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III - articulação das políticas públicas federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal; IV - integração das políticas públicas em cada nível de governo; V - integração dos esforços do poder público e da sociedade civil para sua execução; VI - participação da sociedade civil, por meio de entidades, fóruns e organizações da população em situação de rua, na elaboração, acompanhamento e monitoramento das políticas públicas; VII - incentivo e apoio à organização da população em situação de rua e à sua participação nas diversas instâncias de formulação, controle social, monitoramento e avaliação das políticas públicas; VIII - respeito às singularidades de cada território e ao aproveitamento das potencialidades e recursos locais e regionais na elaboração, desenvolvimento, acompanhamento e monitoramento das políticas públicas; IX - implantação e ampliação das ações educativas destinadas à superação do preconceito, e de capacitação dos servidores públicos para melhoria da qualidade e respeito no atendimento deste grupo populacional; e X - democratização do acesso e fruição dos espaços e serviços públicos. Art. 7º São objetivos da Política Nacional para a População em Situação de Rua: I - assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; II - garantir a formação e capacitação permanente de profissionais e gestores para atuação no desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais, transversais e intergovernamentais direcionadas às pessoas em situação de rua; III - instituir a contagem oficial da população em situação de rua; IV - produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores sociais, econômicos e culturais sobre a rede existente de cobertura de serviços públicos à população em situação de rua; V - desenvolver ações educativas permanentes que contribuam para a formação de cultura de respeito, ética e solidariedade entre a população em situação de rua e os demais grupos sociais, de modo a resguardar a observância aos direitos humanos; VI - incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conhecimentos sobre a população em situação de rua, contemplando a diversidade humana em toda a sua amplitude étnico-racial, sexual, de gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento; VII - implantar centros de defesa dos direitos humanos para a população em situação de rua; VIII - incentivar a criação, divulgação e disponibilização de canais de comunicação para o recebimento de denúncias de violência contra a população em situação de rua, bem como de sugestões para o aperfeiçoamento e melhoria das políticas públicas voltadas para este segmento; IX - proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de transferência de renda, na forma da legislação específica; X - criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Único de Saúde para qualificar a oferta de serviços; XI - adotar padrão básico de qualidade, segurança e conforto na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento temporários, de acordo com o disposto no art. 8º; XII - implementar centros de referência especializados para atendimento da população em situação de rua, no âmbito da proteção social especial do Sistema Único de Assistência Social; XIII - implementar ações de segurança alimentar e nutricional suficientes para proporcionar acesso permanente à alimentação pela população em situação de rua à alimentação, com qualidade; e XIV - disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua, com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho. Art. 8º O padrão básico de qualidade, segurança e conforto da rede de acolhimento temporário deverá observar limite de capacidade, regras de funcionamento e convivência, acessibilidade, salubridade e distribuição geográfica das unidades de acolhimento nas áreas urbanas, respeitado o direito de permanência da população em situação de rua, preferencialmente nas cidades ou nos centros urbanos. § 1º Os serviços de acolhimento temporário serão regulamentados nacionalmente pelas instâncias de pactuação e deliberação do Sistema Único de Assistência Social.

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§ 2º A estruturação e reestruturação de serviços de acolhimento devem ter como referência a necessidade de cada Município, considerando-se os dados das pesquisas de contagem da população em situação de rua. § 3º Cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social, fomentar e promover a reestruturação e a ampliação da rede de acolhimento a partir da transferência de recursos aos Municípios, Estados e Distrito Federal. § 4º A rede de acolhimento temporário existente deve ser reestruturada e ampliada para incentivar sua utilização pelas pessoas em situação de rua, inclusive pela sua articulação com programas de moradia popular promovidos pelos Governos Federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal. Art. 9º Fica instituído o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua, integrado por representantes da sociedade civil e por um representante e respectivo suplente de cada órgão a seguir descrito: I - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que o coordenará; II - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; III - Ministério da Justiça; IV - Ministério da Saúde; V - Ministério da Educação; VI - Ministério das Cidades; VII - Ministério do Trabalho e Emprego; VIII - Ministério dos Esportes; e IX - Ministério da Cultura. § 1º A sociedade civil terá nove representantes, titulares e suplentes, sendo cinco de organizações de âmbito nacional da população em situação de rua e quatro de entidades que tenham como finalidade o trabalho com a população em situação de rua. § 2º Os membros do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua serão indicados pelos titulares dos órgãos e entidades as quais representam e designados pelo Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Art. 10. O Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua terá as seguintes atribuições: I - elaborar planos de ação periódicos com o detalhamento das estratégias de implementação da Política Nacional para a População em Situação de Rua, especialmente quanto às metas, objetivos e responsabilidades, considerando as propostas elaboradas pelo Grupo de Trabalho Interministerial instituído pelo Decreto de 25 de outubro de 2006; II - acompanhar e monitorar o desenvolvimento da Política Nacional para a População em Situação de Rua; III - desenvolver, em conjunto com os órgãos federais competentes, indicadores para o monitoramento e avaliação das ações da Política Nacional para a População em Situação de Rua; IV - propor medidas que assegurem a articulação intersetorial das políticas públicas federais para o atendimento da população em situação de rua; V - propor formas e mecanismos para a divulgação da Política Nacional para a População em Situação de Rua; VI - instituir grupos de trabalho temáticos, em especial para discutir as desvantagens sociais a que a população em situação de rua foi submetida historicamente no Brasil e analisar formas para sua inclusão e compensação social; VII - acompanhar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios na implementação da Política Nacional da População em Situação de Rua, em âmbito local; VIII - organizar, periodicamente, encontros nacionais para avaliar e formular ações para a consolidação da Política Nacional para a População em Situação de Rua; e IX - deliberar sobre a forma de condução dos seus trabalhos. Art. 11. O Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua poderá convidar gestores, especialistas e representantes da população em situação de rua para participar de suas atividades.

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Art. 12. A participação no Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada. Art. 13. A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e a Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA prestarão o apoio necessário ao Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua, no âmbito de suas respectivas competências. Art. 14. A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República dará apoio técnico-administrativo e fornecerá os meios necessários à execução dos trabalhos do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua. Art. 15. A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República instituirá o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos para a População em Situação de Rua, destinado a promover e defender seus direitos, com as seguintes atribuições: I - divulgar e incentivar a criação de serviços, programas e canais de comunicação para denúncias de maus tratos e para o recebimento de sugestões para políticas voltadas à população em situação de rua, garantido o anonimato dos denunciantes; II - apoiar a criação de centros de defesa dos direitos humanos para população em situação de rua, em âmbito local; III - produzir e divulgar conhecimentos sobre o tema da população em situação de rua, contemplando a diversidade humana em toda a sua amplitude étnico-racial, sexual, de gênero e geracional nas diversas áreas; IV - divulgar indicadores sociais, econômicos e culturais sobre a população em situação de rua para subsidiar as políticas públicas; e V - pesquisar e acompanhar os processos instaurados, as decisões e as punições aplicadas aos acusados de crimes contra a população em situação de rua. Art. 16. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 23 de dezembro de 2009; 188º da Independência e 121º da República.

O Decreto estabelece as diretrizes para as políticas públicas a população em situação

de rua. O que pode se atribuir como sendo o “olhar” normativo do Estado, e por consequência

e via transversal o “olhar dos Direitos Humanos”, quando se agrega e aproxima a população

em situação de rua e os parâmetros mínimos de existência e dignidade para a pessoa humana.

O conceito legal de população em situação de rua traz a indicação, a caracterização e

as origens reconhecidas para tipificar o indivíduo.

Assim, o “olhar dos Direitos Humanos”, no âmbito brasileiro, para “o grupo

populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares

interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza

os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de

forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite

temporário ou como moradia provisória”.

Da concepção do “olhar em Direitos Humanos” e o conceito de população em

situação de rua, para discutir a problemática do desacolhimento e violação da dignidade

humana no fracionamento da assistência a este grupo vulnerável.

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3 DESACOLHIMENTO E VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA NO

FRACIONAMENTO DA ASSISTÊNCIA

A percepção ou reflexão que se faz sobre a população em situação de rua, no que

tange as políticas públicas, contradiz com a noção de acolhido socialmente, sendo visto

apenas o acolhimento institucional, que busca a humanização nas ações, em razão do

fracionamento da assistência ofertada a este grupo social ou para a população em situação de

rua.

Observa-se que tanto as diretrizes, como a efetiva realidade das ações e das políticas

públicas vão ao sentido do fracionamento da assistência, como pode se observar alguns

projetos e ações encontradas em pesquisas eletrônicas:

– Doutores de Rua. Os médicos vão até a população em situação de rua, atuando, de

forma específica na questão da saúde e prevenção;

– Entrega de cobertores. Ação de voluntários e ONG;

– Recolhimento para abrigos institucionais, ação que ocorre todas as noites;

– Distribuição de alimentos preparados, tais como sopa, almoço etc.;

– Ação social de corte de cabelo;

– Emissão de documentos pessoais;

– Retorno a cidade de origem; etc.

Ainda, têm-se ações de proteção à população de situação de rua, em buscar a tutela, a

discussão de proposta de encaminhamentos, criação de conselhos etc., sobretudo, no

envolvimento de um rol de entidade para discutir e acompanhar as políticas públicas a este

seguimento excluído de cidadania.

Nota-se que quase sempre, são ações ou políticas públicas isoladas entre si.

Atendendo uma ou outra demanda emergencial e momentânea sem uma prestação continuada

ou de um acompanhamento efetivo ou mesmo um acolhimento integral ao individuo e

familiares.

Com isto, a percepção é de exclusão da cidadania, tem-se projetado também, de igual

modo e proporção à exclusão e violação dos Direitos Humanos, na violação da dignidade da

pessoa humana.

O que se percebe é a problemática do desacolhimento, e por consequência a violação

da dignidade humana no fracionamento da assistência social sem a unidade, sem a

sequencialidade, sem a continuidade e a ruptura do amparo social.

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Com em todos os seguimentos, registra-se os “falsos” integrantes da população em

situação de rua, de igual modo, o falso mendigo, o falso “sem-teto” etc. Não se pode por tais

razões de falsidade ideológica, recuar-se na busca de uma solução ao problema da assistência

fragmentada e pontual a população em situação de rua.

Firma-se o “desacolhimento” ao se fracionar as ações ou políticas públicas. Isto pode

ser percebido, por exemplo, no discurso de acolhimento indicado na Política Nacional de

Humanização, como se observava abaixo:

O que é acolhimento? Acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), que não tem local nem hora certa para acontecer, nem um profissional específico para fazê-lo: faz parte de todos os encontros do serviço de saúde. O acolhimento é uma postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde. Acolhimento com classificação de risco A classificação de risco é um dispositivo da PNH, uma ferramenta de organização da "fila de espera" no serviço de saúde, para que aqueles usuários que precisam mais sejam atendidos com prioridade, e não por ordem de chegada. E quem precisa mais? Os usuários que têm sinais de maior gravidade, aqueles que têm maior risco de agravamento do seu quadro clínico, maior sofrimento, maior vulnerabilidade e que estão mais frágeis. E como saber quem precisa mais? A classificação de risco é feita por enfermeiros, de acordo com critérios pré-estabelecidos em conjunto com os médicos e os demais profissionais. A classificação de risco não tem como objetivo definir quem vai ser atendido ou não, mas define somente a ordem do atendimento. Todos são atendidos, mas há atenção ao grau de sofrimento físico e psíquico dos usuários e agilidade no atendimento a partir dessa análise. Como faço para que o acolhimento aconteça no serviço de saúde? É preciso que a equipe de saúde se reúna para discutir como está sendo feito o atendimento no serviço: qual o "caminho" do usuário desde que chega ao serviço de saúde, por onde entra, quem o recebe, como o recebe, quem o orienta, quem o atende, para onde ele vai depois do atendimento, enfim, todas as etapas que percorre e como é atendido em cada uma dessas etapas. Essa discussão com toda a equipe vai mostrar o que pode ser mudado para que o usuário seja melhor acolhido. Assim, a partir dessa reunião pode haver mudanças na entrada, na sala de espera, por exemplo, para que haja um profissional de saúde que acolha o usuário antes da recepção, forneça as primeiras orientações e o encaminhe para o local adequado. A recepção também pode mudar, utilizando-se a classificação de risco e também um pós-consulta, ou seja, uma orientação ao usuário depois da consulta, a partir do encaminhamento que tiver sido feito na consulta. É importante ainda ampliar a qualificação técnica dos profissionais e das equipes de saúde para proporcionar essa escuta qualificada dos usuários, com interação humanizada, cidadã e solidária da equipe, usuários, família e comunidade. As possibilidades de acolhimento são muitas e o importante é que as melhorias sejam feitas com a participação de toda a equipe que trabalha no serviço. (cf. Biblioteca Virtual em Saúde. Dicas em saúde. Acolhimento. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/167acolhimento.html>. Acesso em: 4 ago. 2017).

A similitude como ocorre na saúde, em que o acolhimento, se opera pela

classificação, como sendo técnica de acolhimento, o que deveria ser técnica de atendimento,

vez que todos tem o direito de ser atendido pelo serviço público de saúde. A falta de recursos

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e condições de trabalho, é de responsabilidade do Estado e, portanto, responsabilidade do

poder público e a incidência na violação dos Direitos Humanos do paciente.

Transpondo o conceito de acolhimento da área de saúde, pode-se observar o mesmo

fenômeno ao fracionar a assistência, as ações e as políticas públicas para a população em

situação de rua.

Assim, visualiza-se a problemática de implementação de ações e políticas públicas

efetivas e acolhedoras, o que se observa, contrário ao espírito das diretrizes estabelecido no

Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009, que prega a unidade, o acompanhamento e o

acolhimento integral, ao que se parece. O desacolhimento integral consiste na violação da

dignidade humana ao se ter o fracionamento da assistência à população em situação de rua.

4 ACOLHIMENTO INTEGRAL E RECONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA

Para um acolhimento integral, na conformidade e parâmetros do conceito legal, tem

que ocorrer na população em situação de rua o resgate ou a reconstrução da dignidade humana

com a inserção e inclusão plena que possibilita o grupo populacional heterogêneo, na parcela

do indivíduo, que tenham em comum a pobreza extrema, a ruptura dos vínculos afetivos

familiares (a distinção é que na lei diz “vínculos familiares interrompidos”, o que poderia

levar a ideia que a família inteira pode figurar em situação de rua, pela extrema pobreza) e

pela inexistência de moradia convencional regular, fazendo uso de logradouros públicos ou

áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, seja de maneira temporária ou

permanente. Incluindo unidades de acolhimento para pernoite temporário ou em moradia

provisória. Nota-se que o conceito de população em situação de rua, associado ao de

assistência integral exige um avanço e completude no sentido de subsidiar e apoiar ações

globais que reúnam os direitos sociais, o acompanhamento continuado até a inclusão plena

nos padrões de um estatuto jurídico do patrimônio mínimo.

O que se entende por estatuto jurídico do patrimônio mínimo é, o avanço proposto

por Luiz Edson Fachin, na obra “Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo”, no qual o autor

pauta-se no Código Civil brasileiro e na Constituição Federal, porém, de cunho protetivo na

relação jurídica creditícia à proteção da pessoa. O que poderia incluir no avanço com a

integração aos direitos individuais e coletivos, a noção dos direitos sociais, vez que a noção de

população em situação de rua, transcende a forma tradicional protegida pelo Código Civil

brasileiro. Neste, parte-se do pressuposto que o indivíduo recebe o direito ao nome, por meio

de documento civil, tem o direito a propriedade privada, tem espaço e dimensão erga omnes,

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ou seja, tem efeito ou vale o direito do individuo contra todos. Enquanto que os direitos

sociais têm uma abrangência e exigência de um estatuto jurídico do patrimônio mínimo

social.

A base dos direitos sociais é que a gestão, o interesse e a proteção é supra-individual,

além do indivíduo, aproximando-se do direito difuso, e são os responsáveis pela inclusão ou

exclusão do indivíduo no rol das benesses formativo da cidadania. Logo, uma ação

assistencialista pontual em direitos individuais ou restritivas ao âmbito civil patrimonial,

atende um caráter emergencial e paliativo.

É preciso rever as ações assistencialistas de longevidade e de concretude inclusiva,

neste sentido, as ações e políticas públicas para a população de situação de rua seja de

inclusão, a recomendação e a crítica, vez que o assistencialismo paliativo, não propicia o

retorno da população de rua para o âmbito privado, sobretudo, que não há espaço privado para

esta população, logo, se não equacionado ou superado esta questão de inclusão não se poderá

resolver este problema social. E seu encaminhamento é com um assistencialismo integral,

garantido, além dos direitos individuais, os direitos sociais.

O assistencialismo pontual, fracionário ou paliativo, tem a função emergencial, mas,

não de natureza permanente. Ou seja, somente com ações e políticas públicas globais que

abarque os direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, ao trabalho, a moradia, o

transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,

ter-se-á uma efetiva assistência. Pois, ações isoladas ou assistencialismo paliativo, pode e

atende as necessidades emergenciais, mas, não as definitivas de maneira a deslocar a

população em situação de rua, para o ingresso na sociedade. Uma assistência a saúde, por

melhor que for, se não houver moradia, o paciente voltará a ficar doente em decorrência de

sua situação em que se encontra. O mesmo, pode se afirmar da alimentação, ou prato de sopa,

sem o direito social ao trabalho, pouco resolve, vez que a comida ou o alimento acaba e não

se tem reposição ou a doação continuada. Segue igual os demais direitos sociais, um sem o

outro, nada ou quase nada resolve para efetivamente se ter um enfrentamento da questão

discutida.

As ações e políticas públicas devem garantir ou contemplar os direitos sociais para a

população em situação de rua. No caso do Estado, propor ações e políticas públicas,

assistencialista, paliativa ou fracionada, a questão problema de se efetivamente, equacionar a

questão social, de modo a propiciar ações concretas e eficazes para este grupo vulnerável?

Bem como questionar o que pode a comunidade científica contribuir no fomento desta

discussão?

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O encaminhamento da questão indica para a reflexão, com aporte da literatura e com

enfoque de “olhar dos Direitos Humanos”, no sentido de uma assistência integral e de

acompanhamento continuado até a efetiva inclusão plena nos padrões de cidadania.

Literalmente, o Estado não pode atribuir uma assistência social momentânea e logo

em seguida, deixar o individuo a mercê e a deriva. O acolhimento integral, não pode ser uma

acolhimento humanista, que apenas prioriza atendimento, por exemplo, no hospital,

mas,atender a todos de forma completa e plena. Ou ainda, ofertar saúde, sem ofertar moradia.

O amparo é momentâneo e a vida é continuada. E a população em situação de rua, precisa

uma reflexão maior por parte da comunidade, dita como científica, para uma conscientização

de um “olhar dos Direitos Humanos”, a população em situação de rua.

5 CONCLUSÃO

Nas derradeiras palavras a busca para se equacionar a questão da população em

situação de rua, sobretudo, que as práticas, ações e políticas públicas vêm em sentido

contrário, no que se espera de resultados para a diminuição ou erradicação desta situação de

extrema pobreza. O que sinaliza para um reverso no qual se observa a necessidade de se

reformular as práticas de abordagem e de acolhimento à população em situação de rua, que

pelo grau de abandono ou invisibilidade, os contornos de ações de reparação social, se indica

pelo acolhimento de pessoas com processo educacional e formativo, tanto humanístico,

autoestima ou de sensibilidade, de formação profissional, de acompanhamento e de

recolocação no contexto social.

As atuais políticas para o segmento vêm se demonstrando ineficaz, vez que são

fragmentadas, pontuais e emergências, o que não ataca ou busca resolver a questão em sua

origem ou totalidade. Na origem, a questão reproduz os reflexos da desestruturação familiar e

dos valores sociais. Na totalidade, implica em considerar a reversão do problema da

população em situação de rua, recolocando em situação de moradia, emprego, saúde e,

sobretudo, educação.

Ao que resta para a comunidade científica é refletir com ações e práticas que possam

fomentar as novas políticas públicas em equacionar a questão social da população em situação

de rua, principalmente, em adotar um novo modelo de assistencialismo integral e de

acompanhamento continuado até a inclusão plena aos padrões de um estatuto jurídico do

patrimônio mínimo.

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Para tanto, é preciso observar que a assistência integral exige ações e políticas

públicas que engloba, simultaneamente, todos os direitos sociais, ou seja, direitos sociais a

educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,

além de incluir, a projeção aos direitos de cidadania e aos Direitos Humanos. A personalidade

só se edifica, na cidadania, com acesso as benesses da cidade e da tecnologia, bem com, a

dignidade da pessoa humana, por meio do respeito, da liberdade, da igualdade e da

fraternidade, que no seu conjunto leva e conduz a todos, nas diretrizes e encaminhamento dos

Direitos Humanos, o que reflete a integralidade do ser humano no contexto social. É que a

tensão social e a individual encontre um equilíbrio e permita alavancar o desenvolvimento e

crescimento tanto da sociedade, como dos indivíduos em relação aos Direitos Humanos.

Com isto, a condição de indigência ou mendicância, como acentuado grau de

pobreza material, passa a ser superado, inclusive o material refletindo no espiritual, no

afetivo, no cuidado e no respeito.

Nota-se que a perda das condições materiais, familiares, sociais, afetivas e de

aceitação pessoal do indivíduo pode se relacionar ou associar com problemas com toxico,

alcoolismo, patologias psiquiátricas, traumas, descrenças ou situações de crise econômica do

Estado. Mas, sobretudo, as desestruturação e perda de valores.

O valor social do trabalho, a afetividade e o respeito são condições básicas e

formativa, tanto para os Direitos Humanos, como para incorporar nos quesitos e requesitos

das ações e políticas públicas de natureza integral.

O avanço social em reconhecer que o mendigar é uma situação imposta socialmente,

e não querida ou deseja pelo indivíduo, em face dos preceitos da meritocracia que por falta de

oportunidade e mesmo de condições materiais ou de relacionamento são criminalizadas, o que

com a revogação do crime de mendicância o Brasil avançou em sua legislação.

Ainda, se estabelece a critica na questão do “politicamente correto” no qual se quer

alteração social, apenas com retórica. E pouca ação. O que se percebe com a população em

situação de rua.

O avanço legislativo é um passo importante, vez que estabelece os princípios da

política nacional que pauta-se em cinco eixos ou princípios que são: I - respeito à dignidade

da pessoa humana; II - direito à convivência familiar e comunitária; III - valorização e

respeito à vida e à cidadania; IV - atendimento humanizado e universalizado; e V - respeito

às condições sociais e diferenças de origem, raça, idade, nacionalidade, gênero, orientação

sexual e religiosa, com atenção especial às pessoas com deficiência.

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No que tange as diretrizes, a legislação também se preocupou em indicar e fortalecer

ações e direcionamento que contemple: I - promoção dos direitos civis, políticos, econômicos,

sociais, culturais e ambientais; II - responsabilidade do poder público pela sua elaboração e

financiamento; III - articulação das políticas públicas federais, estaduais, municipais e do

Distrito Federal; IV - integração das políticas públicas em cada nível de governo; V -

integração dos esforços do poder público e da sociedade civil para sua execução; VI -

participação da sociedade civil, por meio de entidades, fóruns e organizações da população

em situação de rua, na elaboração, acompanhamento e monitoramento das políticas

públicas; VII - incentivo e apoio à organização da população em situação de rua e à sua

participação nas diversas instâncias de formulação, controle social, monitoramento e

avaliação das políticas públicas; VIII - respeito às singularidades de cada território e ao

aproveitamento das potencialidades e recursos locais e regionais na elaboração,

desenvolvimento, acompanhamento e monitoramento das políticas públicas; IX - implantação

e ampliação das ações educativas destinadas à superação do preconceito, e de capacitação

dos servidores públicos para melhoria da qualidade e respeito no atendimento deste grupo

populacional; e X - democratização do acesso e fruição dos espaços e serviços públicos.

Tanto os princípios e diretrizes são conduzidos e orientados por objetivos claros e

específicos indicados na legislação que são: I - assegurar o acesso amplo, simplificado e

seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação,

previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda;

II - garantir a formação e capacitação permanente de profissionais e gestores para atuação

no desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais, transversais e intergovernamentais

direcionadas às pessoas em situação de rua; III - instituir a contagem oficial da população

em situação de rua; IV - produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores sociais,

econômicos e culturais sobre a rede existente de cobertura de serviços públicos à população

em situação de rua; V - desenvolver ações educativas permanentes que contribuam para a

formação de cultura de respeito, ética e solidariedade entre a população em situação de rua

e os demais grupos sociais, de modo a resguardar a observância aos direitos humanos; VI -

incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conhecimentos sobre a população em

situação de rua, contemplando a diversidade humana em toda a sua amplitude étnico-racial,

sexual, de gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento; VII - implantar centros

de defesa dos direitos humanos para a população em situação de rua; VIII - incentivar a

criação, divulgação e disponibilização de canais de comunicação para o recebimento de

denúncias de violência contra a população em situação de rua, bem como de sugestões para

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o aperfeiçoamento e melhoria das políticas públicas voltadas para este segmento; IX -

proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos benefícios previdenciários e

assistenciais e aos programas de transferência de renda, na forma da legislação específica; X

- criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Único de

Saúde para qualificar a oferta de serviços; XI - adotar padrão básico de qualidade,

segurança e conforto na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento

temporários, de acordo com o disposto no art. 8º; XII - implementar centros de referência

especializados para atendimento da população em situação de rua, no âmbito da proteção

social especial do Sistema Único de Assistência Social; XIII - implementar ações de

segurança alimentar e nutricional suficientes para proporcionar acesso permanente à

alimentação pela população em situação de rua à alimentação, com qualidade; e XIV -

disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua,

com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho.

Para o cumprimento da legislação, esta se preocupou em subsidiar e instituir um

Comitê formativo por representantes da sociedade civil e por representantes de diversos

órgãos, como se verifica pelo art. 9º. Atribuindo funções e objetivos aos Comitês.

O que numa reflexão, ainda falta a legislação, a atuação do Estado, das ações e

políticas uma convergência de acolhimento integral e reconstrução da dignidade humana,

buscando e viabilizando o acesso aos direitos sociais, o resgate da dignidade humana, o

reencontro afetivo com as famílias e a sociedade, de modo que se tenha um novo olhar dos

Direitos Humanos à população em situação de rua. Podendo ser alcançado com uma visão

integral de um assistencialismo do Estado e apoio da sociedade no acolhimento da população

em situação de rua. Oportunidade, acesso, acompanhamento e afetividade são os eixos

formativos de composição e atuação das ações e das políticas públicas a serem integralizadas

a este segmento social.

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